Paisagens sonoras do blues em Salvador: Representações e considerações

June 13, 2017 | Autor: Eric Hora | Categoria: Music, Ethnomusicology, Brazil, Blues, Salvador - Bahia, Salvador
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III Encontro Regional nordeste da ABET / I Encontro Regional Norte da ABET “Formação e Diálogos Interdisciplinares na Etnomusicologia Brasileira” Salvador, 24 a 26 de outubro de 2012

Paisagens sonoras do blues em Salvador: Representações e considerações Eric Hora Fontes Pereira [email protected] PPGMUS-UFBA

Resumo: A partir de discussões sobre conceitos de paisagens sonoras, o texto a seguir propõe uma abordagem sobre estes aspectos através de canções de artistas de blues na cidade de Salvador, tema de pesquisa em andamento de Mestrado em Etnomusicologia (UFBA). Serão estabelecidas interfaces com elementos concernentes ao contexto de prática das canções, dialogando com epistemologias inerentes a processos de globalização, raça, classe, etnia, gênero e com as mediações que viabilizaram a apropriação e a ressignificação desta identidade musical, já em prática desde o fim dos anos 80 na cidade de Salvador. A abordagem pretende, desta forma, estimular novos olhares sobre outros aspectos dentro do universo do blues soteropolitano. Palavras-chave: Blues – Salvador – paisagens sonoras

Abstract: From discussions about concepts of soundscapes, the following text proposes an approach to these issues through songs of blues artists in the city of Salvador – the subject of ongoing research Masters in Ethnomusicology (UFBA). Interfaces will be established with elements concerning the practice context of the songs, dealing with epistemologies inherent in processes of globalization, race, class, ethnicity, gender and mediations that enabled the appropriation and reinterpretation of musical identity, already in place since the late '80s in Salvador. The approach is intended, thus, stimulating new perspectives on other aspects within the realm of blues in Salvador. Keywords: Blues – Salvador – soundscapes

Os sons que nos cercam sempre foram motivo de frequentes indagações entre os seres humanos, em diversas esferas. Reflexões e postulados sobre paisagens sonoras são recorrentes em estudos de áreas como a antropologia, a educação musical, a etnomusicologia, psicologia da música, comunicação, cultura, semiologia, etc. Contudo, Simone Pereira de Sá reflete sobre a negligência das pesquisas acadêmicas com relação ao som como objeto de estudo e define os Estudos de Som baseados em sua perspectiva interdisciplinar, que estabelece diálogos com campos da comunicação, da sociologia e antropologia, dos estudos culturais, da geografia urbana, da musicologia, da filosófica [sic] e da história cultural (SÁ, 2010, p. 91). Paisagem sonora, segundo a autora, diz respeito à dimensão acústica do meio ambiente, configurando-se como unidade de escala variável, podendo compreender desde uma composição musical até o espaço polifônico de uma metrópole.

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Nesse âmbito, Murray Schafer propõe uma categorização dos temas da paisagem sonora baseada em sons fundamentais (inerentes aos sons “básicos” de uma paisagem), sinais (sons destacados, ouvidos conscientemente) e marcas sonoras (sons únicos, significativos para determinado povo e seu lugar) (SCHAFER, 2001, p. 26). Simone Pereira de Sá traz considerações concernentes ao trabalho de Schafer explicitadas junto a questões inerentes aos ruídos e relações de poder, autoridade e classes envolvidas. Nesse ínterim, a autora fala, ainda, de aspectos de desenvolvimento tecnológico como resultados da mudança no entendimento da relação do som com o corpo, não como causas, tornando-se materializações das formas de escuta da modernidade (SÁ, 2010, p. 102). Desta forma, é notório que a tecnologia ressignificou a escuta musical, ampliando o âmbito das discussões com novas abordagens e, consequentemente, novos paradigmas. No que diz respeito a esta influência e às relações de poder sobre as paisagens sonoras, José Jorge de Carvalho apresenta reflexões sobre as transformações na experiência da escuta musical contemporânea, envolvendo inovações tecnológicas, execução, recepção e as subculturas. Nesse contexto, o autor problematiza o artifício das gravações e dos meios hegemônicos de veiculação e difusão de músicas, situando-os como fatores que tornam a experiência da escuta homogênea em diversos âmbitos, baseada em padrões pré-concebidos por determinadas matrizes (CARVALHO, 1999). A partir destes conceitos e considerações, pretendo estabelecer reflexões sobre paisagens sonoras referentes ao universo do blues na cidade de Salvador – tema de minha pesquisa de Mestrado em Etnomusicologia (UFBA), ainda em estágio inicial – trazendo à tona aspectos contextuais e exemplos musicais inerentes a este segmento. A perspectiva interdisciplinar destacada e ponderações sobre a escuta musical nos dias atuais se fazem imprescindíveis neste processo.

Entrando no blues de Salvador No que concerne ao blues no contexto de seu surgimento, em “Blues da lama à fama” Roberto Muggiati descreve: O negro era uma ferramenta de trabalho. Até nos raros momentos de lazer, quase tudo lhe era interditado. Não podia tocar instrumentos de percussão ou de sopro. Os brancos receavam que pudessem ser usados como um código, incitando à rebelião. Assim, a voz ficou sendo o principal – senão o único – instrumento musical do negro. Era usada nas work-songs, canções em que o feitor cadenciava o trabalho dos escravos, a batida dos martelos ou machados, o levantamento de cargas, etc. (MUGGIATI, 1995, p. 9).

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As work songs, entoadas pelos negros africanos escravizados nos algodoais do sul dos Estados Unidos, bem como o diálogo com a música dos spirituals (canções gospel norteamericanas) exerceram influência fundamental para o surgimento do blues. Não há intenção de aqui abordarmos este universo com a profundidade necessária à compreensão sobre seus diversos aspectos, o que significa que apenas trarei relatos pontuais destes marcos como forma de situar epistemologicamente as reflexões sobre paisagens sonoras no blues de Salvador. Neste sentido, é válido destacar a influência do blues sobre o jazz e o rock como fatores cruciais para sua expansão e reconhecimento mundo afora. Com os processos de globalização e os avanços nos meios de comunicação, o blues chega ao Brasil com intensidade na década de 60, porém ainda diluído no rock dos grupos da Jovem Guarda, que se tratava de um reflexo da apropriação do movimento iê-iê-iê – protagonizado pelos Beatles na Inglaterra – que atingiu em maior parte a juventude branca de classe média no país. Nos últimos anos da década de 80, então, emergem os primeiros artistas efetivamente do estilo, como André Christovam e Blues Etílicos (São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente). A respeito da apropriação desta prática no Brasil, Roberto Muggiati destaca as primeiras bandas de blues como sendo formadas por jovens brancos de classe média saturados do rock e que não conseguiam encontrar na MPB uma identificação para seus anseios e seu estilo de vida (MUGGIATI, 1995, p. 191). Em Salvador, Bahia, em 1989 surge o grupo Blues Anônimo como pioneiro do blues no estado e, a partir daí, outras iniciativas, como o surgimento do bar Atelier1, no início dos anos 90, ponto de partida para o interesse de diversos artistas e entusiastas pelo blues. O Atelier possibilitou a formação de diversos grupos que passaram a desenvolver sua música em outros espaços na cidade, escrevendo sua trajetória com releituras de clássicos do blues e do rock, trabalhos autorais, gravações, encontros de artistas, festivais, shows em geral, até os dias atuais. Para estabelecermos reflexões sobre paisagens sonoras nesse contexto, são fundamentais algumas considerações sobre seu processo de apropriação. De maneira distinta em relação às suas origens nos Estados Unidos, o blues em Salvador, desde o princípio, foi representado, em maioria, por brancos de classe média. A partir dos anos 60, ocorreu a forte disseminação do rock pelo mundo através da influência desigual dos processos de globalização e dos meios de comunicação. Estes últimos, de difícil acesso para as classes menos favorecidas, consequentemente eram privilégio da

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BALCÃO do Músico. Breve História do Atelier: Templo do Blues na Bahia nos anos 90. Disponível em: . Acesso em 03 jul. 2012.

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classe média, representada por uma minoria branca na cidade de Salvador. A juventude correspondente a essa minoria, conforme já explicitado, encontrou no rock da época – calcado em uma maciça influência do blues – a resposta para seus anseios, imbuídos pelo desejo por inovação, identificação com modelos de origem estrangeira veiculados pelos mecanismos das mídias, dentre outros fatores. Portanto, os músicos de blues de Salvador são, em maioria, brancos de classe média que se apropriaram do estilo tendo o rock como “porta de entrada”. Como meio de tornar as considerações e reflexões neste sentido mais palpáveis, cito a canção “Noites no Atelier”, de Oyama Bittencourt e Cláudio Lacerda – ambos integrantes do Talkin’ Blues, grupo muito atuante na cena blues local nos anos 90 – que somente veio a ser gravada e lançada em 2005 por Álvaro Assmar em seu álbum “Blues A La Carte”. “Noites no Atelier”2 é um tema instrumental batizado de tal maneira porque tratava-se de uma canção sem nome, concebida pelos autores no período em que tocavam semanalmente no bar homônimo. A forma da harmonia – que consiste em determinado ritmo harmônico disposto em um pequeno número de compassos – se repete em ciclos ao longo de toda a música, o que a torna propícia para improvisações diversas, sem duração delimitada, como em uma típica canção de blues. Apesar de não tratar-se de uma canção que obedece fielmente às formas tradicionais do blues, a sonoridade e o “sotaque” empregados no fraseado dos instrumentistas conferem o caráter bluesy à música. Desta forma, Álvaro Assmar sugeriu o nome da canção inspirado pela nostalgia das lembranças das jam sessions3 que embalavam as noites de blues no Atelier. A partir do modelo de classificação dos elementos da paisagem sonora proposto por Schafer, é viável a associação dos aspectos acima citados às marcas sonoras, especialmente significativas e notadas dentro do contexto dos referidos encontros no Atelier (SCHAFER, 2001). A melodia em andamento lento executada pela guitarra sobre a harmonia sem muitas tensões em seus acordes favorece um possível diálogo com o caráter nostálgico supracitado. Válido aqui destacar – a fim de evitar essencialismos nesta e nas demais análises que seguem nesta leitura – que, por excelência, estas estão invariavelmente sujeitas a processos interpretativos de escuta. Neste sentido, Robert Walser pontua que nós devemos trabalhar a todo o tempo com interpretações – nosso senso do que as coisas significam e por que elas são do jeito que são. Interpretações musicais estão sempre abertas a refinamento e contestação, mas nunca são

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BITTENCOURT, Oyama; LACERDA, Cláudio. Intérprete: ASSMAR, Álvaro. In: ASSMAR, Álvaro. Blues à la Carte. Salvador: Independente, 2005, 1 CD (ca. 56 min). Faixa 6. 3 Grupo de músicos improvisando, sem arranjos, sobre temas propostos. (HOBSBAWM, 1989, p. 368)

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arbitrárias, e não há maneira de evitar cometer interpretação (WALSER, 2003, p. 23).4

Do mesmo álbum, destaco também a canção “Fio da Navalha”5, de Álvaro Assmar. Esta – de sonoridade mais “roqueira”, escrita em português, e fiel à estrutura típica de doze compassos recorrente no blues – trata em seu texto sobre a persistência não obstante as dificuldades enfrentadas na carreira de um músico que exerce seu ofício em um segmento minoritário, fora do mainstream – nesse caso, o blues – em uma cidade como Salvador, carente de espaços receptivos à sua prática musical e patrocinadores que viabilizem a realização de eventos. Sobre este último aspecto destacado, é pertinente contextualizar a prática do blues dentro da cidade de Salvador, que tem a axé music como um dos segmentos que figuram no mainstream. O livro “As donas do canto”, de Marilda Santanna – que aborda a trajetória das estrelas/intérpretes deste gênero musical em Salvador em diversas representações – pontua que o Carnaval se constitui num dos espaços de maior disputa de patrocinadores que antes se limitavam a patrocinar – particularmente as cervejarias – camarotes institucionais, como os da Prefeitura. Atualmente, vêem-se cada vez mais outros anunciantes, a exemplo de empresas de telefonia celular, shopping centers e empresas de eletrodomésticos, dentre outros. (SANTANNA, 2009, p. 221)

A indústria do Carnaval, que já há alguns anos assume proporções que vão muito além do período restrito da festa – a exemplo dos 40 Carnavais extemporâneos contabilizados pela autora na época do artigo – é alvo preferencial dos grandes patrocinadores e goza de grande espaço nos principais veículos de mídia, em diversas esferas. O blues – provavelmente por transitar em um segmento hegemônico em termos sociais e raciais, basicamente, dado o contexto de Salvador – é frequentemente estigmatizado como “música das elites”, supostamente dotadas de maior erudição para a apreciação do gênero musical, de origem estrangeira, sendo este um dos fatores que o restringe a pequenos nichos de público e, consequentemente, não o torna correspondente às expectativas de retorno econômico dos patrocinadores em suas iniciativas. É válido ressaltar que a breve menção sobre estas questões dentro do Carnaval de Salvador se dá, aqui, no sentido de ilustrar um aspecto concernente à realidade da indústria cultural na cidade de Salvador, ainda que haja uma série de outros fatores imbricados neste 4

“we must work all the time with interpretations – our sense of what things mean and why they are the way they are. Musical interpretations are always open to refinement and contestation, but they are never arbitrary, and there is no way to avoid committing interpretation.” 5 ASSMAR, Álvaro. Blues à la Carte. Salvador: Independente, 2005, 1 CD (ca. 56 min). Faixa 3.

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processo que colocam o blues e diversos outros gêneros musicais minoritários em condições limitadas de produção e veiculação. A canção “Fio da Navalha” dialoga com esta realidade, no ato protagonizada por Álvaro Assmar e vivida de forma semelhante pela maior parte dos artistas soteropolitanos que decidem viver de blues e enfrentam dificuldades neste processo. Principal expoente do blues na Bahia, Álvaro também atua como produtor cultural de suas iniciativas, tendo por cinco anos coordenado o projeto Wednesday Blues6 na capital baiana. A realização deste só foi possível com a ação de patrocinadores que, durante o período, viabilizaram a vinda de artistas de blues de outros estados do país, apresentações em teatro, publicidade, transmissão dos eventos para rádio e televisão, dentre outros fatores. Com a perda do apoio da iniciativa privada, o Wednesday Blues encerrou suas atividades em 2003. Como último exemplo referente ao contexto do blues em Salvador, trago a canção “Crazy For So Long”7, do gaitista Luiz Rocha, que integra seu CD “Pise Fundo”, lançado em 2008. A canção também obedece a uma estrutura formal recorrente no blues, é cantada em inglês e seu texto trata de uma temática que diz respeito a relações de gênero sobre padrões heteronormativos, muito comuns no universo bluesy – frequentemente em tom de lamento por parte do eu-lírico masculino e, neste caso, relativa ao desejo do perdão mesmo após a desilusão amorosa. Como guitarrista, tive a oportunidade de participar da gravação desta faixa, realizada em estúdio, porém com todos os músicos tocando juntos, em uma performance ao vivo. Em um gênero musical como o blues, caracterizado pelas frequentes improvisações, a interação e a comunicação entre os músicos no momento da performance são fatores importantes no sentido de nortear o direcionamento dos improvisos e variações de dinâmica na música. Contudo, por tratar-se de uma gravação em estúdio, embora executada ao vivo, a influência da tecnologia envolvida no processo faz com quem a experiência desta escuta no resultado final se dê de forma diferenciada. Essa relação do som com o corpo está ligada à questão dos aparatos tecnológicos enquanto materializações desta escuta nos dias atuais (SÁ, 2010).

Reflexões finais Retomando a discussão sobre conceituações de paisagens sonoras, Denilson Lopes traz uma abordagem sobre as mesmas que as considera articuladoras de imagens e conceitos, inicialmente entendidas como objeto de conhecimento e contemplação estética, depois como 6 ASSMAR, Álvaro. Projeto Wednesday Blues 2003 – Melhores momentos. Disponível em: . Acesso em 03 jul. 2012. 7 ROCHA, Luiz. Pise Fundo. Salvador: Independente, 2008, 1 CD (ca. 55 min). Faixa 6.

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objeto de consumo, domínio da intervenção e atividade humanas (LOPES, 2006). Nesse ínterim, os processos de apropriação do blues em Salvador estão relacionados às formas de interação de seus protagonistas com as correspondentes paisagens sonoras. Novamente no que diz respeito à influência exercida pela tecnologia, a exemplo das reflexões de CARVALHO (1999) e SÁ (2010) citadas na seção inicial deste artigo, Pereira, Castanheira e Sarpa pontuam que não descartando a importância do aspecto cultural na construção de corpos e modelos de escuta, aspectos materiais dos objetos (em nosso caso [sic], de determinados sons e tecnologias) contribuem para a constituição de um modo específico de se relacionar com o mundo (PEREIRA; CASTANHEIRA; SARPA, 2010).

Os autores propõem o termo “simbiotecnoises”, cunhado com o propósito de englobar uma suposta simbiose entre aspectos biológicos e tecnológicos dentro do universo dos ruídos e destas novas vivências, ressignificando os modos de relação com as escutas. Parece-me viável enxergar o contexto das paisagens sonoras do blues em Salvador sob essa abordagem. Além disso, as sugestões de análise das canções expostas na seção anterior devem levar em consideração a experiência da escuta de gravações em CD (em estúdio, sob bases e proporções “ideais”), rigidamente distinta da de contextos que envolvam performances ao vivo, permeadas por outros tipos de representações e diálogos. Por fim, ao abordar a dimensão desses estudos sobre paisagens sonoras aplicadas ao universo das canções do blues em Salvador, busco trazer uma perspectiva que trate das vivências no contexto de prática desses artistas e seu diálogo com essas composições, de modo a ampliar o âmbito das reflexões sobre a apropriação do blues na cidade. Neste sentido, a abordagem é também uma possível contribuição às pesquisas sobre paisagens sonoras na esfera acadêmica – ainda incipientes – conforme pontua Simone Pereira de Sá em trecho já citado (SÁ, 2010). É interessante refletir sobre a dimensão cultural, afetiva e compartilhada coletivamente da escuta, indo além no sentido de explorar a dimensão acústica dos ambientes e as paisagens sonoras que nos cercam (SÁ, 2010). Espero ter alcançado êxito nesse sentido no que foi aqui proposto e desejo que esta abordagem traga novos olhares e preocupações sobre o blues de Salvador.

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Referências ASSMAR, Álvaro. Projeto Wednesday Blues 2003 – Melhores momentos. Disponível em: . Acesso em 03 jul. 2012. ______. Blues à la Carte. Salvador: Independente, 2005, 1 CD (ca. 56 min). Faixa 3. BALCÃO do Músico. Breve História do Atelier: Templo do Blues na Bahia nos anos 90. Disponível em: . Acesso em 03 jul. 2012. BITTENCOURT, Oyama; LACERDA, Cláudio. Intérprete: ASSMAR, Álvaro. In: ASSMAR, Álvaro. Blues à la Carte. Salvador: Independente, 2005, 1 CD (ca. 56 min). Faixa 6. CARVALHO, José Jorge de. Transformações da sensibilidade musical contemporânea. Horizontes Antropológicos. Porto Alegre: ano 5, n. 11 (outubro), p. 53-91, 1999. HOBSBAWM, Eric J. História social do jazz. Tradução de Angela Noronha. São Paulo: Paz e Terra, 1989. LOPES, Denilson. Paisagens da cultura, paisagens sonoras. In: JANOTTI Jr, Jeder; FREIRE FILHO, João (orgs.). Comunicação & Música Popular Massiva. Salvador: EDUFBA, 2006, p. 131-144. MUGGIATI, Roberto. Blues da lama à fama. São Paulo: Ed. 34, 1995. PEREIRA, Vinícius Andrade; CASTANHEIRA, José Cláudio; SARPA, Rafael. Simbiotecnoises: ruídos extremos na cultura do entretenimento. In: SÁ, Simone Pereira de (org.). Rumos a cultura da música: negócios, estéticas, linguagens e audibilidades. Porto Alegre: Sulina, 2010, p. 189-208. PINTO, Tiago de Oliveira. Som e música. Questões de uma Antropologia Sonora. Revista de Antropologia. São Paulo: USP, vol. 44, n.1, 2001. ROCHA, Luiz. Pise Fundo. Salvador: Independente, 2008, 1 CD (ca. 55 min). Faixa 6. SÁ, Simone Pereira de. A trilha sonora de uma história silenciosa: som, música, audibilidades e tecnologias na perspectiva dos estudos de som. In: SÁ, Simone Pereira de (org.). Rumos a cultura da música: negócios, estéticas, linguagens e audibilidades. Porto Alegre: Sulina, 2010, p. 91-110. SANTANNA, Marilda. As donas do canto: o sucesso das estrelas-intérpretes no carnaval de Salvador. Salvador: EDUFBA, 2009. SCHAFER, Murray R. A afinação do mundo: uma exploração pioneira pela história passada e pelo atual estado do mais negligenciado aspecto do nosso ambiente: a paisagem sonora. São Paulo, Editora UNESP, 2001. WALSER, Robert. Popular music analysis: ten apothegms and four instances. In: Moore, Allan F. (ed.). Analyzing Popular Music. Cambridge: Cambridge University Press, 2003, p. 16-38.

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