Palácio Quintela: Iconologia do programa pictórico

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Manuel J. Gandra

PALÁCIO QUINTELA ICONOLOGIA

DO PROGRAMA PICTÓRICO

Mafra, 2014

Desta 1ª edição fez-se uma tiragem de 102 exemplares, todos numerados e assinados pelo autor. Capa: Diogo Gandra Impressão: ????? Maio de 2014 Manuel J. Gandra © O conteúdo da presente edição não pode ser transcrito ou reproduzido, sem a prévia autorização por escrito do autor.

www.cesdies.net E-mail: [email protected] Tel.: 963075514

ÍNDICE 5 Prólogo 11 Palácio Quintela: Cronologia 57 Palácio Quintela: Memórias 59 Circunstanciada descrição da pintura do Palácio Quintela, 1903 António Augusto Carvalho Monteiro 65 Uma Vida qualquer II. Portos, Temporal e Âncoras Maria da Graça Ataíde 73 Percurso Solitário Augusto de Ataíde

79 Palácio Quintela: Iconologia do Programa Pictórico 81 Escadaria 95 Trabalhos e Vida de Hércules 97 I Trabalho de Hércules – Morte do Leão de Nemeia 99 VII Trabalho de Hércules – Subjugação do Touro de Creta 101 Vitória de Hércules sobre o Gigante Anteu 103 Fúria de Hércules contra Licas 107 Alegorias figurando um titã e cinco deuses olímpicos 115 Os quatro Elementos 121 Cercaduras 127 Vestíbulo 137 Capela 143 Sala Romana (ou das Sabinas) 167 Sala de Jantar 175 Salão de Baile 189 Sala I – O Concílio dos Deuses 195 Sala II – Apoteose de Minerva, vestida de Palas 199 Gabinete de Vestir

211 Bibliografia

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PRÓLOGO

A história da casa para cuja revisitação conclamo os leitores é a confirmação de que existem lugares detentores de alma e com o condão de propiciarem o reconhecimento da vocação individual. Sem receio de exagerar, advogo que dos inúmeros fastos que integram a galeria dos mais relevantes que esta autêntica mansão filosofal protagonizou, nenhum é susceptível de ombrear com o programa pictórico patrocinado pelo 2.º Barão de Quintela, no ano de 1822, no âmbito da campanha de enriquecimento artístico da sua moradia, sita na então Calçada do Alecrim, n.º 70. Para a concretização de tal desiderato, Joaquim Pedro de Quintela convocaria a arte e o engenho de alguns dos mais qualificados e proficientes artistas coetâneos, designadamente: o arquitecto João Baptista Hilbrath, o estucador Félix Salla, o decorador Guiseppe Cinatti (1808-1879) e os pintores António Manuel da Fonseca (1796-1890) e Cirilo Volkmar Machado (1748-1823). Homem de multifacetados talentos, carácter cosmopolita, grande latifundiário, abastado capitalista, negociante de grosso trato da Praça comercial de Lisboa, contratador dos contratos reais do tabaco, dos diamantes, do azeite de peixe e de baleia, das fábricas de lanifícios da Covilhã e do Fundão, expoente de vasta e diversificada cultura artística e literária, grande mecenas 5

das artes, constitucional convicto, uma das personalidades mais insignes e carismáticas da Lisboa de oitocentos, Joaquim Pedro de Quintela, legou à posteridade, sob a forma de um políptico alegórico, a cabal assunção do seu dedicado empenho na ideação e concretização de um propósito político, social e estético, concomitantemente testemunho e visão prospectiva de um período conturbado da história pátria, consubstanciando a celebração da Revolução de 1820-1822 e consequente exaltação do Liberalismo. É impossível apurar qual possa haver sido o grau da intervenção do barão (atrever-me-ia a dizer, do casal Quintela) na selecção dos temas e na definição das composições que compõem o programa iconográfico em apreço, porquanto não são conhecidos, nem o contrato da empreitada, nem qualquer outra documentação reportando-se-lhe. Adivinha-se, contudo, incontornável a intervenção dos donos da casa, uma vez que a Apoteose do casal Rómulo-Hersília, central na solução adoptada, justamente visava a exaltação do casal Quintela-Lodi. O papel desempenhado por Guiseppe Cinatti, cenógrafo, decorador e arquitecto, justamente apontado como um dos mais conceituados do século XIX, presume-se fecundo, em vista da singular sofisticação das empreitadas decorativas em que participou, nomeadamente em Lisboa, na qualidade de director artístico e responsável pelo desenho dos respectivos programas e nas quais foi coadjuvado por António Manuel da Fonseca, a quem competia a realização das correspondentes pinturas. Seja como for, no particular caso do Palácio Quintela, Fonseca não deixou os seus créditos em alheias mãos, elencando categoricamente entre as suas obras, “[a Sala Romana, bem como] as demais pinturas do palácio do Ex.mo conde de Farrobo” 1.

Cf. António Manuel da Fonseca, O Quadro de Eneas: carta dirigida aos Redactores da Imprensa Portugueza, Lisboa, 1855, p. 10. Apenas O Concílio dos Deuses, da Sala Camoniana, é de outra mão, a do pintor Cirilo Volkmar Machado. 1

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Ora, a maior parte da obra pictórica correspondente à primeira fase da produção artística de Fonseca, para o período compreendido entre 1816-1825, acha-se vinculada a eventos e personalidades do Vintismo 2, testemunhando, assim, as opções político-ideológicas do pintor, adepto sincero do liberalismomonárquico, ideal que partilhava com o barão de Quintela, comitente de duas empreitadas de início de carreira - o painel transparente alusivo à Constituição, retratando Dom João VI e Dona Carlota Joaquina, destinado à Quinta das Laranjeiras (1820) 3 e a pintura parietal do Palácio Quintela (1822) – ambas, consabidamente, em prol de tal causa 4. Tais alegorias históricas e mitológicas (inspiradas na história Romana e na Mitologia greco-latina), associando os princípios políticos e os valores culturais do Liberalismo às qualidades cívicas e morais dos cidadãos da Roma Republicana, traduzem, convém recordar, a dupla finalidade da arte neoclássica – delectare e docere -, qualidades susceptíveis de serem convenientemente interpretadas pelos concidadãos e contemporâneos enquanto reflexo dos eventos históricos de que todos eram, concomitantemente, espectadores e protagonistas.

Veja-se, nomeadamente o conjunto de seis gravuras alegóricas dedicadas às Cortes Lusitanas e à Constituição Portuguesa, iconografando alguns dos mais relevantes episódios políticos ocorridos entre 24 de Agosto de 1820 e 15 de Setembro de 1821, em Lisboa e no Porto. 3 Cf. Análise do painel transparente, que mandou fazer o Barão de Quintela, pelo pintor António Manuel da Fonseca, Filho, para a iluminação do seu Palácio das Laranjeiras, para a noite do dia 22 de Outubro de 1820. Folhetim dedicado aos senhores das Juntas Provisionais do Governo e Cortes, por ocasião de um jantar de domingo. O painel visava, concomitantemente: 1. consagrar da vitória do Liberalismo (alcançada, no Porto, a 24 de Agosto de 1820 e, em Lisboa, a 15 de Setembro do mesmo ano); 2. apontar a imperiosa necessidade da Constituição; 3. solicitar o regresso a Portugal do Rei, ausente no Brasil. 4 Em Janeiro de 1823, nas vésperas da Vilafrancada, António Manuel da Fonseca pintou um retrato de Dom João VI que ofereceu à Câmara Municipal de Lisboa, o qual havia de ser solenemente inaugurado a 13 de Maio de 1823 (dia do aniversário do monarca). Cf. Descrição da pomposa inauguração da régia efígie de Sua Majestade na sala da Câmara Constitucional de Lisboa, em o faustíssimo dia 13 de Maio de 1823, Lisboa, 1823. 2

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* * * Entre 1820 e 1822, dois partidos confrontam-se em Portugal, medindo forças, num jogo arriscado, que havia de exacerbar as naturais tensões e conflituosidade de uma sociedade em célere mutação, não apenas do ponto de vista político, mas igualmente do social, do económico e do cultural e das mentalidades. Apesar de tudo, a Regeneração de 1820-1822, não obstante alguns conflitos circunstanciais, desenrolou-se de forma relativamente ordeira, tendo a paz sido preservada. De facto, o intenso e profícuo activismo político do Sinédrio motivado pelo “sentimento de abandono político”, a gestão danosa da Economia, a interferência britânica nos assuntos portugueses e “a restauração das instituições liberais em Espanha”, logrou evitar uma revolução, prevenindo motins populares e a consequente anarquia. Como corolário, os liberais haviam de concretizar os seus propósitos, i. e.: a expulsão dos ingleses e a nomeação de uma nova Regência, em funções até ao regresso de D. João VI do Brasil, respondendo, desse modo, às mais instantes expectativas dos nacionais. O retorno, em meados de 1821, de D. João e da Corte, coincidiria com o considerável agravamento do clima conspirativo e de latente traição, reeditando uma quesília que remontava à denominada Conspiração de Mafra, liderada, em 1806, pelo marquês de Ponte de Lima. Essa acção conspirativa dirigida contra o príncipe D. João e intentada por um grupo de aristocratas que visavam destituílo e substituí-lo por sua mulher, é um dos sinais precursores do movimento contra-revolucionário que ela viria a encabeçar, em 1822. A sede de poder era tão desmedido e insensato na soberana, que esta jamais ocultou a sua aversão à Revolução de 1820, não se coibindo de, sem atender aos meios, afrontar as 8

leis fundamentais da Monarquia, as quais conferiam uma proeminência absoluta aos direitos e ao bem-estar dos súbditos. Nesse contexto, em Abril de 1822, um grupo de conspiradores absolutistas seria denunciado e indiciado “de planear a dissolução das cortes, com a convocação das antigas, a deposição do rei, e sua substituição pelo infante D. Miguel, e até o provável assassinato de alguns vintistas” 5, no que ficou conhecido como a Conspiração da Rua Formosa. Em 1 de Outubro do mesmo ano, Carlota Joaquina recusou-se, terminantemente, a jurar a Constituição, perante os deputados às Cortes, os quais, confrontados com a recusa e obtida a anuência do rei, determinaram o seu exílio para Cádis, por mar, decisão que a soberana conseguiu contrariar, invocando uma doença. A evolução dos acontecimentos acabaria por favorecê-la 6. Em compensação, havia de ser desterrada para a sua quinta do Ramalhão, em Sintra. Os liberais, por seu turno, não totalmente isentos de responsabilidades no agravamento da conflitualidade (Martinhada), tinham plena consciência de que as ambições da contra-revolução, conduziriam inelutavelmente a uma guerra civil, fratricida. Enquanto liberais, tanto os proprietários do palácio, como, evidentemente, o pintor, estavam cientes de quanto tal estado de coisas ameaçava a paz e a coesão nacional. Tornavase, por isso, imprescindível apelar à conciliação e à pacificação. A arte foi, assim, convocada a desempenhar um papel, a um tempo, pedagógico e moralizante, reforçando o apelo à coexistência pacífica e à solvência diplomática dos antagonismos, a exemplo de Romanos e Sabinos, os quais, por força dos laços familiares, acabaram por atender às súplicas das Sabinas. Contudo, num tal pacto, o castigo reservado aos traidores (vítimas dos seus próprios e perniciosos actos) surge Cf. Isabel Nobre Vargues e Luís Reis Torgal – Da revolução à contra-revolução: vintismo, cartismo, absolutismo. O exílio político. p. 65. 6 Idem, p. 66. 5

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como advertência dissuasora a todos quantos questionem o supremo bem comum, i. e., a Paz conducente à consolidação do poder legitimamente instituído. Nesse sentido, o reiterado apelo à concertação entre as partes, subjacente ao programa pictórico do Palácio Quintela, denota uma clarividência política (afim da premonição), uma vez que, em 1828, seis anos volvidos, a guerra civil acabaria por deflagrar. Indubitavelmente, é no contexto político-militar de 18281834 que o ensinamento colhido no episódio do Rapto das Sabinas revela a sua extraordinária actualidade, confirmando o sentimento da imperiosa necessidade de punir exemplarmente, porém, nunca sem certa dose de clemência, os traidores e conspiradores, de resto, como havia de suceder a: 1. Dona Carlota Joaquina, desterrada, primeiramente, para a quinta do Ramalhão (1822) e definitivamente para Queluz (1824), onde acabou por morrer (ou suicidar-se), em Janeiro de 1830, abandonada por Dom Miguel e amargurada; 2. Dom Miguel, o traidor por excelência, do irmão, D. Pedro IV (que lhe confiara, como ele desejara, a Coroa de Portugal), de sua sobrinha, Dona Maria da Glória, futura Dona Maria II e, inclusivamente, de Dona Carlota Joaquina, sua mãe e estratega da contra-revolução. Duas vezes seria compulsivamente exilado: a primeira para Viena de Áustria, em consequência do golpe absolutista de Abril de 1824 (Abrilada) e, definitivamente, para Itália, em resultado da Convenção de Évora-Monte (Maio de 1834), que pôs termo a uma escusada e sanguinolenta guerra civil.

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PALÁCIO QUINTELA CRONOLOGIA

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1521 - A Câmara de Lisboa afora os terrenos do actual n. 70 da Rua do Alecrim a D. Jorge de Melo. 1648 - Os mesmos terrenos são arrematados em hasta pública por D. Afonso de Portugal, Marquês de Aguiar e 4º Conde de Vimioso, tendo permanecido quase uma centúria na posse da família.

A área de implantação do Palácio Quintela resulta da compra inicial de terrenos por Luís Rebelo Quintela e dos terrenos adjacentes por Joaquim Pedro Quintela. O lote é limitado pela Rua do Alecrim a Ocidente e pela Rua António Maria Cardoso a Oriente. A Norte o edifício confinante é a igreja da Encarnação. A Sul, na cota da Rua do Alecrim, dois prédios de rendimento mandados construir por Joaquim Pedro Quintela e na cota da Rua António Maria Cardoso também prédios de rendimento. Não é possível documentar se o mirante é contemporâneo da edificação inicial, ou se resultou da adaptação realizada por iniciativa da família Carvalho Monteiro.

1679 – D. Miguel de Portugal, 6º Conde de Vimioso restaura a antiga moradia de D. Jorge de Melo, convertendo-a num palácio digno do seu estatuto nobiliárquico. 13

1726 – A 25 de Novembro, na posse de D. Francisco de Paula de Portugal e Castro, 8º Conde de Vimioso e 2º Marquês de Valença, o palácio é reduzido a escombros por violento incêndio. 1731 - As ruínas são arrematadas pelo licenciado André Rodrigues da Costa Barros, que nunca promoveu a reconstrução do palácio. 1755 – O terramoto de 1 de Novembro destrói o que restara do edifício. 1777 - A 2 de Junho, Luís Rebelo de Quintela (? -1782), Juiz dos Feitos da Coroa e Fazenda da Casa da Suplicação e Desembargador dos Agravos do mesmo tribunal, adquire à Irmandade do Sacramento, da freguesia da Encarnação, os terrenos que ocupam a 1ª, a 2ª e parte da 3ª propriedade da Rua do Alecrim, assim como a parte da Cordoaria Nova e das Cavalariças da Casa Real sitas no interior da Cerca Fernandina, com 44,66 m de frente e 47,52 m de fundo, até à Rua do Tesouro (actual António Maria Cardoso), nas quais se acham as ruínas da moradia. 1781 - 1782 – Luís Rebelo de Quintela empreende a construção do seu palacete (1ª fase), após levantado um embargo decretado pela Câmara Municipal.

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1787 – No dia 3 de Novembro, na companhia do Marquês de Marialva, William Beckford visita o palácio, cuja estrutura interna encontra já edificada: “fomos ver uma casa enorme que Quintela, o negociante, mandou construir. Uma velha criada fanhosa veio alumiar-nos a escada, a qual é tão grande que mais parece um edifício público ou de um teatro [...]. Fazia tão escuro que mal se podiam distinguir as portas das janelas. A maior parte das salas tinha um pédireito extraordinário. Um dos átrios, desastrado e estreito octógono, não pode ter, se bem calculo menos de doze metros de altura.” 1788 – Primeira referência à propriedade nos Livros de Décima da cidade (n. 2), rendendo 200 mil réis. O terreno fronteiro ao palacete, “com frente de 213 palmos e três quartos face à rua das Duas Igrejas e de fundo pela travessa de S. José até à rua das Flores” (Silva, 1997, p. 88), ocupado por uns casebres, é adquirido por Joaquim Pedro de Quintela, o qual acorda com os proprietários confinantes conservarem-no como largo, livre de construções. Depois de terraplanado e ajardinado, é doado à Câmara de Lisboa. A obra provoca uma alteração sensível na dinâmica urbanística da artéria, conferindo à fachada do Palácio uma dignidade nunca antes alcançada. 1789 – A partir deste ano, e até o de 1806, o Palácio é avaliado em 400 mil réis. 1791 – Anexa à propriedade “hum Chão na Traveça extinta de São José, situada entre as Ruas do Alecrim e Thesouro Velho”, arrematado a 12 de Abril de 1791 e “hum Terreno no Lado Poente da Rua do Thesouro Velho, que em parte da traveça de São José” (Silva, 1997, p. 88) arrematado a 2 de Abril do mesmo ano. A aquisição destes dois terrenos, que obrigará as Obras Públicas a suprimir a Travessa de S. José, que ligava a Rua do Alecrim e a actual Rua António Maria Cardoso, permite ao futuro Barão de Quintela ampliar a área de jardim, bem como edificar dois prédios de rendimento. 1793 – Joaquim Pedro Quintela celebra o nascimento da Princesa da Beira iluminando a fachada do Palácio (Júlio de Castilho, p. 114). D. Maria I concede-lhe foro de cavaleiro fidalgo. 1796 – Os supracitados prédios de rendimento (actuais n. 38 e 44 a 54) são referidos pela primeira vez nos Livros de Décima da Cidade. Neste mesmo ano, os autos de medição e avaliação consignados no Livro IV do Morgado do Farrobo [ANTT], descrevem a propriedade como constituída por “Casas Nobres e todas as suas pertenças de 15

Pateo, Coxeiras, Cavalarice, Jardim com sua cascata e dous lagos com agoa nativa […] contadas suas pertenças interiores e exteriores, no todo em que actualmente se achão medidas, e demarcadas no valor de vinte e quatro contos de réis”. O Livro dos Arruamentos [AHTC: Décima da Cidade, Freguesia da Encarnação] informa que Joaquim Pedro Quintela habita o palácio (“ocupa o sobredito”). 1797 – D. Maria I concede ao 1º Barão de Quintela o título de Conselheiro Honorário. Integra o grupo de accionistas que intenta abrir o primeiro banco português. Nasce a filha Maria Gertrudes.

O 1º barão de Quintela e esposa com os filhos, Joaquim Pedro e Inácio (óleo de Pellegrini)

1801 – D. Maria I concede ao 1º Barão de Quintela o título de Conselheiro da Real Fazenda e de Sua Majestade. A 11 de Dezembro, nasce, no Palácio da Rua do Alecrim, o futuro 2º Barão de Quintela, também baptizado Joaquim Pedro de Quintela, ao qual seus pais educaram a preceito, facultando-lhe os melhores professores e mestres então conhecidos nas humanidades, línguas, literatura, ciências, artes (música, pintura, escultura, comédia, dança e poesia), esgrima, picaria, tiro ao alvo, etc. 16

1805 - Joaquim Pedro de Quintela, ora 1.º Barão de Quintela, amplia o palácio que se estende a outras propriedades contíguas, entretanto adquiridas. Falece-lhe a esposa, D. Maria Joaquina Xavier de Saldanha. 1807 - Referência a nova propriedade do Barão de Quintela, contígua a um dos prédios de rendimento edificados em 1796. Durante nove meses, tantos quantos dura a primeira invasão francesa, o General Junot (1771-1813) estabelece o Quartel-General, bem como a sua residência oficial no palácio Quintela. Neste ano e no seguinte o palácio é avaliado em 600 mil réis. 1808 – Os Duques de Abrantes, Junot e Laura Permon, organizam festas e bailes no Palácio Quintela, de que se destaca, mercê do seu aparato, o de dia de Reis.

CONVITE Le Gouverneur de Paris, Premier Aide de Sa Majesté l’Empereur et Roi Général en Chef des Armées combinées Française et Espagnole et de l’Armée Portugaise. Prie Monsieur […] de lui faire l’honneur de venir passer la soirée chez lui le mercredi 6 Janvier. On se reunira à 8 h. Le 3 Janvier 1808. R. S. V. P. 17

1809 – Desde este ano, e até o de 1814, o palácio está avaliado em 400 mil réis. No Compêndio Histórico lê-se a propósito da requisição do palácio por Junot: “foi buscar a casa do barão de Quintela, como a mais rica da Nação para se hospedar, apenas entrou, e logo depois foi feito Duque de Abrantes, era sem dúvida para vir a ficar Senhor dela […]”. 1815 – O palácio é avaliado em 600 mil réis. 1816 – O Palácio atinge o valor de 1000$000 réis.

Joaquim Pedro Quintela, carvão, de António Domingos Sequeira, c. 1813 [MNAA: inv 2699 Des]

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O jovem Joaquim Pedro de Quintela, pintado por Domingos António Sequeira, em 1813, num óleo sobre tela [MNAA: inv 1826P]

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1817 - A 1 de Outubro morre Joaquim Pedro de Quintela, legando ao filho e 2.º Barão de Quintela, o Palácio e demais propriedades contíguas. Desde este ano, a até o de 1821, o valor do Palácio ascende a 1200$000 réis.

Carlota Lodi, pintada por Roquemont Joaquim Pedro em duas miniaturas do MNAA: Julien-Paul Delorme (1823) e Evelyne Schlumberger Augustin (1824)

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1819 – A 19 de Maio Joaquim Pedro de Quintela casa com Mariana Carlota Lodi (1798-1867), contra a vontade de sua irmã e cunhado (4º Condes da Cunha), os quais haviam movido influências no sentido de o futuro sogro e 1º empresário do Real Teatro de S. Carlos, Francisco António Lodi, ser intimado a não receber em sua casa o jovem fidalgo, “sob pena de ser expulso do Reino no prazo de 24 horas”. O título de Barão é-lhe renovado por carta de 3 de Novembro.

Carlota Lodi e a filha Maria Joaquina (1819)

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1820 – O general Sebastião Cabreira estabelece o seu quartel-general no Palácio. 1822 - Ampliação significativa do palácio, dirigida pelo arquitecto Joannes Baptista Hilbrath. Colaboram no projecto o estucador Félix Salla, o decorador Giuseppe Cinatti (1808-1879) e os pintores António Manuel da Fonseca (1796-1890) e Cirilo Volkmar Machado (17481823). Remontará a este período a construção dos túneis que, alegadamente, conduzem ao Teatro de São Carlos e ao Cais do Sodré.

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Antonius Emmanuel á Fonseca, Pictor Lusitanus. Anno 1822 Foram restauradas estas pinturas em 1878 pelo mesmo autor, tendo a idade de 81 annos.

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A fachada principal organiza-se em três registos. Sendo o primeiro inteiramente forrado a cantaria com silhares de junta unida e cinco panos articulados por pilastras salientes perspectivadas. No pano central ligeiramente avançado, rasgam-se no primeiro registo, ladeando o portal principal, duas janelas de moldura inscrita de perfil abatido, com marcação da pedra de fecho por mísula simples. O portal de perfil em voltaperfeita, estendendo-se à altura do segundo registo, insere-se em pano de muro, de definição rectangular, forrado a cantaria de junta esquadriada, onde se adossam pilastras de fuste liso, cujos capitéis se confundem com a definição das mísulas. Nestas apoia-se a varanda do vão de sacada que sobrepuja o portal. Ao centro marca-se o fecho do arco com mísula adornada por sulcos verticalizantes, prolongando-se até ao mascarão de suporte da varanda superior. No segundo registo rasgam-se, ladeando o portal, duas janelas de peito de moldura de perfil recto simples, inscrita em moldura de perfil recto recortado. O terceiro registo, correspondente ao andar nobre, conta com três janelas de sacada, abrindo para varanda corrida de modulação recta nos extremos e ondulada ao centro, servida por guarda de ferro forjado, assente em mísulas, decoradas por sulcos paralelos que, se prolongam para o andar inferior. Neste registo, numa clara marcação axial, o vão central, de moldura de perfil recto recortado, é sobreposto por frontão semicircular perspectivado, cujo centro é decorado por voluta e grinalda e assente em mísulas decoradas com sulcos e terminando em voluta; enquanto as janelas laterais apresentam molduras de perfil recto recortado e delineado, rematadas por cornijas rectas. Sobre o terceiro registo, desenvolve-se um piso em ático - que se prolonga por todos os panos da fachada e fachada lateral - revestido a cantaria, e enquadrado superior e inferiormente por cornija, onde se rasgam pequenas janelas com moldura de perfil recto. Coroando o pano central, dispõe-se frontão triangular, ladeado por acrotérios onde assentam fogaréus, emoldurado por friso de cantaria, no centro do qual se rasga um óculo (aberto posteriormente).

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A autoria do projecto do Palácio Quintela permanece uma incógnita. Rectângulo disposto longitudinalmente, organizado em quatro níveis, com cobertura de duas águas, interrompidos por três saguões - dois dispostos longitudinalmente e um orientado transversalmente ao lado maior do rectângulo – e pela cobertura em telhado de oito águas do vestíbulo central sobrelevado em relação à restante planimetria do edifício. 25

Mariana Carlota Lodi, por Jean-Paul Delorme (1823)

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1831 – D. Miguel decreta um empréstimo recusando-se o Barão de Quintela a contribuir com a quantia exigida. 1832 – Decreto de D. Miguel, de 15 de Março, destitui Joaquim Pedro Quintela de todas as honras, privilégios e direitos, forçando-o a fugir para bordo de um navio inglês surto no Tejo para escapar à prisão. No palácio é hasteada a Bandeira inglesa para evitar que seja assaltado pelos miguelistas. O Barão contribui para a causa de D. Pedro IV com um empréstimo de 30 mil libras esterlinas, razão pela qual D. Miguel decreta a sua saída de Lisboa no prazo de 24 horas. Vê-se compelido a vender todos os seus bens imobiliários a Lord William Russell, seu amigo, refugiando-se, sob o nome suposto de Mr. Smith, em casa de Diogo Carlos Duff, outro amigo inglês. 1833 – Por decreto de D. Maria II, de 4 de Abril, o 2.º Barão de Quintela, Joaquim Pedro de Quintela é agraciado com o título de 1.º Conde de Farrobo, mercê do seu apoio incondicional à causa liberal, ao constitucionalismo e a D. Maria II. A 24 de Julho, as tropas liberais, comandadas pelo Duque da Terceira, estabelecem o seu QuartelGeneral no palácio. O dono da casa oferece um baile a D. Pedro IV e seus oficiais do exército (Carvalho, 1898, p. 97).

Joaquim Pedro Quintela, 2º barão de Quintela e 1º conde de Farrobo, (cópia de óleo, de meados do séc. XIX)

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1834 – Por carta Régia de 1 de Setembro, o Barão de Quintela tornase Par do Reino.

Joaquim Pedro Quintela, 2º barão de Quintela e 1º conde de Farrobo O retrato a óleo é cópia de um atribuído a Lawrence

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Mariana Carlota Lodi (óleo de Auguste Roquemont)

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1867 – A 23 de Julho, falece a Baronesa, D. Mariana Carlota Lodi, de cuja união houve 7 filhos: Maria Joaquina (20.11.1819-19.7.1849); Maria Carlota (1.1.1821-?); Maria Madalena (18.4.1822-1893); Joaquim Pedro (18.5.1823-28.7.1882), 2º conde de Farrobo; Mariana Hortênsia (3.5.1825-6.12.1859); Maria Palmira (9.6.1826-5.5.1876) e Francisco Jaime (28.9.1827-?), 1º visconde da Charruada. O conde de Farrobo casa em segundas núpcias com Marie Madeleine Pignault (3.12.1798-?), de quem já houvera três filhos: Júlio Maria (185524.2.1911), Maria Joaquina (1856-?) e Carlos Pedro (4.11.1866).

O 2º conde Farrobo, Joaquim Pedro Quintela e a 2ª condessa de Farrobo, D. Eugénia de Saldanha Oliveira Daun, retratada pelo pintor José Rodrigues (c. 1860). D. Eugénia era 2ª condessa de Tavarede e viúva do 1º conde desse título. O consórcio celebrou-se a 16 de Maio de 1855.

1869 – O 1º conde de Farrobo, Joaquim Pedro de Quintela falece, a 24 de Setembro, na sua residência da então Calçada do Alecrim. 30

1873 – O palácio é arrendado pelo Grémio Literário para sua sede. 1874 - Em consequência do longo processo judicial, que dura três décadas e dita a derrocada do império da casa Quintela-Farrobo, o palácio da Calçada do Alecrim é vendido em hasta pública, tendo sido adquirido pelo capitalista e comendador Francisco Augusto Mendes Monteiro (1825-1890), cognominado o "Monteiro Milhões".

Comendador Francisco Augusto Mendes Monteiro e sua esposa, Teresa Carolina de Carvalho

1876 – Augusto Mendes Monteiro promove a construção do portão dando para a Rua do Tesouro Velho (actual António Maria Cardoso), segundo projecto apresentado à Câmara, no dia 27 de Abril. Todas as portas do palácio foram substituídas por novas, encomendadas pelo comendador Mendes Monteiro, e manufacturadas com madeira e ferragens trazidas por ele do Brasil.

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António Manuel da Fonseca, Auto-retrato [MNAA] 33

1878 – António Manuel da Fonseca, à data com 81 anos, restaura as pinturas murais que realizara em 1822. 1879 – Carvalho Monteiro e a família (esposa e os filhos Pedro Augusto e Maria de Melo) regressam a Portugal, aqui se radicando definitivamente. A renovação anual do visto de residência de AACM dá-o como residente no seu Palácio da Rua do Alecrim, n. 72. Neste ano AACM adopta a nacionalidade portuguesa. Luigi Manini chega a Portugal para trabalhar como cenógrafo no Teatro de São Carlos. 1890 - Por morte do progenitor, em Novembro, o filho, António Augusto Carvalho Monteiro (27.11.1848-24.10.1920) herda o Palácio Quintela.

Do casamento (5.2.1873) de António Augusto Carvalho Monteiro com Perpétua Augusta Pereira de Melo (1855-1905), nascem dois filhos: Pedro Augusto de Melo de Carvalho Monteiro (10.11.1873) e Maria de Melo Carvalho Monteiro (7.8.1877).

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António Augusto Carvalho Monteiro reúne no Palácio a sua biblioteca e valiosas colecções de Arte (pintura, escultura, iconografia, ourivesaria, relojoaria, etc.), de Ciências Naturais (entomologia, malacologia, ornitologia, herbário, etc.), etc. A sua colecção de lepidópteros, a 2ª mais extensa do mundo, é constituída por muitos milhares de espécies, algumas colectadas pelo próprio António Augusto Carvalho Monteiro, no Palácio. Já a colecção malacológica reunia cerca de 10000 espécies. O herbário será considerado precioso e muito relevante a colecção de colibris.

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Retrato de Camões, do pintor Fernão Gomes e duas peças da Camoneana de AACM, actualmente na Biblioteca do Congresso [DCL] 36

Dois fólios da edição caligrafada a 9 cores de Os Lusíadas, contratada entre AACM e Manuel Nunes Godinho e o filho deste [DCL].

1893 – AACM adquire a Quinta da Regaleira em leilão público. AACM é Vogal da Comissão de Contas da Sociedade de Geografia de Lisboa, tornando-se sócio da Sociedade Protectora das Cozinhas Económicas de Lisboa, fundadas pela Duquesa de Palmela. 1895 – AACM encomenda um primeiro projecto destinado à Quinta da Regaleira, ao arquitecto francês Henry Lusseau, que não chega a utilizar. 1896 – Carvalho Monteiro amplia a Quinta da Regaleira, pela aquisição de novas parcelas de terreno. Encomenda o Leroy 1, só concluído em 1904, à firma relojoeira homónima de Besançon (França). 1899 – A família começa a utilizar a Quinta da Regaleira para seu alojamento, em Sintra. As obras nessa propriedade iniciam-se neste ano ou no seguinte, segundo projecto de Luigi Manini. AACM torna-se 37

sócio fundador e titular da Assistência Nacional aos Tuberculosos, fundada pela Rainha D. Amélia. No dia 15 de Abril, Maria de Melo de Carvalho Monteiro (nascida a 7.8.1877) casa com Francisco Assis Nazaré Almeida.

Maria de Melo de Carvalho Monteiro no dia do consórcio com Francisco Assis Nazaré Almeida. Deste casamento nasceram dois filhos: Maria da Nazaré Monteiro de Almeida (1905-1999) e Francisco de Carvalho de Almeida (19091924), o qual havia de falecer com 15 anos, de paralisia infantil.

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1903 - A 9 de Novembro, no largo fronteiro ao palácio é inaugurado o monumento a Eça de Queiroz, em calcário, obra escultórica de António Teixeira Lopes (1866-1942), a qual apresenta a figura do escritor acompanhado por representação alegórica da "Verdade" e se subordina à máxima: "Sobre a nudez da Verdade o manto diáfano da Fantasia".

Apreciações de António Augusto Carvalho Monteiro, suscitadas por quesito de Raul Brandão, sobre a estátua de Eça de Queirós colocada no largo fronteiro ao seu palácio da Calçada do Alecrim […] - Penso que tenho que voltar a frontaria da minha casa para o Teatro D. Amélia. Imagine que os meus netos estão sempre a perguntar quem é aquela senhora sem camisa. Já outro dia lhes disse que era D. Maria II, mas com este frio, os pequeninos educados na compaixão, não me largam para que lhes mande um cobertor. - E que impressão faz das suas janelas a barriga da Verdade? 39

- Aqui entre nós (arregalando o olho) é uma daquelas barrigas que está mesmo a glorificar a “sensação nova” (irritado). Não era mais condizente à minha camoniana transferirem o épico imortal aqui para o meu largo, e levarem aquele senhor para as proximidades do Bairro Alto? - De modo que que V. Exª, irritado, nem chega à janela? - Enquanto a Câmara não mandar pôr à roda da figura, um resguardo pintado de cinzento!

1905 - A 24 de Outubro nasce no Palácio Maria da Nazaré Monteiro de Almeida, filha da Maria de Melo de Carvalho Monteiro e de Francisco Assis Nazaré Almeida. Início da construção da capela da Quinta da Regaleira, dedicada à Santíssima Trindade. AACM torna-se sócio da Real Associação dos Arquitectos Civis e Arqueólogos Portugueses (Ilustração Portuguesa, 21 Ago.) e Mesário da Santa Casa da Misericórdia de Sintra.

1906 – Segundo factura datada deste ano, o Leroy 1 importa em 21130 francos (15000 para o mecanismo e 6130 para a decoração). A sua venda à cidade de Besançon, para integrar o Museu do Tempo, havia de render, em 1956, 2 milhões de francos. 40

1909 – O relógio LeRoy 01 (encomendado em 1896), durante várias décadas, o mais complicado do mundo (24 complicações), chega, finalmente, às mãos de Carvalho Monteiro, trazido de França por D. Manuel II. 1910 – Conclusão das obras na Quinta da Regaleira, não obstante prossigam arranjos ornamentais no interior da mansão. A República é proclamada no dia 5 de Outubro. AACM, monárquico convicto, é detido na Boa Hora (Lisboa). 1913 – AACM é indiciado como cúmplice de um atentado contra Afonso Costa. Falece a esposa, Perpétua, no dia 25 de Dezembro. Alguns arranjos em curso na Regaleira são abandonados. Luigi Manini regressa a Itália. 1915 – O Museu Instrumental Português é instalado no Palácio Quintela. O seu acervo é constituído por cerca de cinco centenas de instrumentos musicais. Os colectados por Alfredo Keil e os procedentes da colecção Lambertini (adquiridos por Carvalho Monteiro), aumentam significativamente a colecção pertencente ao dono da casa, bem assim como a diversos doadores e depositários. Caberia a Michel’Angelo Lambertini a direcção do Museu Instrumental Português até à sua aquisição pelo Conservatório Nacional, em 1931.

O empedrado dos passeios que acompanham os imóveis de que AACM era proprietário, na cidade de Lisboa (de resto, tal como na Quinta da Regaleira), apresenta-se revestido, em toda a sua extensão, por uma teoria de hexalfas, em basalto, sobre fundo branco.

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António Augusto de Carvalho Monteiro e o seu palácio da Rua do Alecrim, n. 70 (c. 1919) 42

1920 - António Augusto de Carvalho Monteiro morre na Quinta da Regaleira (Sintra), a 24 de Outubro. 1923 - Consoante as partilhas do seu património, essa propriedade passa a pertencer a seu filho, Pedro Augusto de Carvalho Monteiro, e o Palácio Quintela, cujo valor matricial é de 630 contos, a sua filha, Maria de Melo de Carvalho Monteiro. 1927 - Maria da Nazaré Monteiro de Almeida casa com D. Sebastião José de Carvalho Daun e Lorena – 8º Marquês de Pombal (19031965), 18 de Abril. Deste casamento nascem dois filhos, Francisco de Carvalho Daun e Lorena (1928-1929) e Manuel Sebastião de Almeida de Carvalho Daun e Lorena (1930). 1929 - Morre Maria de Melo Carvalho Monteiro, passando a propriedade do palácio para sua filha, Maria da Nazaré Monteiro de Almeida, então casada com o 8.º Marquês de Pombal. 1930 - Manuel Sebastião de Almeida de Carvalho Daun e Lorena, bisneto de António Carvalho Monteiro e futuro 9.º Marquês de Pombal, nasce e é baptizado no Palácio. 1934 - Maria da Nazaré Monteiro de Almeida e Sebastião José de Carvalho Daun e Lorena, 8.º Marquês de Pombal, mudam-se para o Brasil, onde vivem no Hotel Copacabana Palace, até 1938. 1936 – O capitalista açoriano Augusto Ataíde Corte-Real Soares de Albergaria (1912-1965), natural de Ponta Delgada, arrenda a zona nobre do palácio, promovendo obras de recuperação, nomeadamente nas instalações sanitárias, na Sala Camoniana e na câmara contígua à sala árabe, passando estas divisões, a constituir um salão de maior dimensão. Simultaneamente, são arrendadas quatro lojas, a três antiquários e a um encadernador. 1938 – O palácio é classificado como Imóvel de Interesse Público (DG, n. 66). 1944 - Restauro da pintura mural da Sala Romana, da Sala de Baile, da Sala de Jantar e da Escadaria, por Domingos Maria da Costa (18671954).

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1948 - A família Daun e Lorena regressa do Brasil, instalando-se na Avenida Álvares Cabral, pois o palácio ainda se acha arrendado a Augusto de Ataíde.

D. Maria da Nazaré Monteiro Almeida, 8.ª Marquesa de Pombal e o filho Manuel Sebastião, tal como figuram num dos murais da Sala de Jantar, reintegrado, em 1944, pelo pintor Domingos Maria Costa

Largo Barão de Quintela - Foto Horácio Novais, c. 1950-1959 [AFML] 44

1969 - António Gabriel de Quadros Ferro (1923-1993), filósofo, crítico literário, escritor e professor, integra a Comissão Promotora do IADE (Instituto de Arte e Decoração), na qual também participam D. Ana Maria Cabral Ferreira Lima, D. Conceição de Mello Breyner Roquette, D. Marcelle Filippina, D. Paulina Maria Roquette Ferro, Don Julio Illa, Dr. Manuel Ferreira Lima e Dr. Roberto de Roure Roquette. A Sociedade IADE é constituída a 4 de Setembro. A sua primeira sede fica instalada na Rua das Flores, n. 77, 1º. Entretanto, outros accionistas associam-se ao projecto, a saber: Álvaro Roquette, Francisco Carralero, Álvaro Pires de Castro e Manuel Sebastião Carvalho Daun e Lorena. Findo o contrato de Augusto Ataíde, uma parte do Palácio Quintela é arrendada ao IADE. Criação do curso de Design de Interiores e Equipamento Geral, segundo o modelo de Arts&Crafts anglo-saxónico e da Scuola Politecnica di Design (Milão).

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1970 - Findo o contrato de Augusto Ataíde, uma parte do Palácio Quintela é arrendada ao IADE. O Instituto de Arte e Decoração – Escola Internacional de Decoradores transfere-se da sua sede, na Rua das Flores, n. 77, 1º, para as novas instalações. Doravante, entre os professores e colaboradores do IADE contar-se-ão eminentes protagonistas e intervenientes no panorama das Artes-plásticas, em Portugal, tais como: Lima de Freitas, Manuel Lapa, Manuel Costa Martins, Manuel da Costa Cabral, Rafael Salinas Calado, Eduardo Nery, António Pedro, Egídio Álvaro, João Vieira, Keil do Amaral, Artur Rosa, Júlio Gil, Jorge Viana, Manuel Rio de Carvalho, António de Macedo, Fernando Garcia, Jorge Listopad, Artur Anselmo, Henrique Tavares e Castro, etc., bem assim como alguns designers internacionais da craveira de Bruno Munari, John David Bear, ou Claude Ternat, entre inúmeros outros.

1971 – Lima de Freitas assume o cargo de Director-Geral do IADE. O Alvará n. 4956, concedido em 26 de Janeiro pelo Ministério da Educação Nacional e pela Inspecção do Ensino Particular autoriza a criação do Curso de Decoradores e do Curso Básico de Cultura Portuguesa, destinados a 180 alunos cada. No âmbito deste último surge o Círculo de Estudos Portugueses, em cujo primeiro ciclo (todas 47

as quintas-feiras, pelas 21.30 horas, no Palácio) intervêm inúmeros nomes incontornáveis da Cultura Portuguesa: Agostinho da Silva, David Mourão Ferreira, Ary dos Santos, Natália Correia, José Gomes Ferreira, Manuel de Oliveira, Santos Simões, Eduardo Anahory, António Lopes Ribeiro, Mascarenhas Barreto, etc.

Natália Correia a e José Carlos Ary dos Santos 48

Professor Agostinho da Silva e António Lopes Ribeiro

1974 - Maria da Nazaré Monteiro de Almeida, passa a habitar a parte do Palácio não arrendada ao IADE. Após a sua morte, o edifício tornase propriedade dos 6 filhos do casal Daun e Lorena, em virtude da doação aos netos, com usufruto para seu filho, realizada pela 8.ª Marquesa de Pombal. 1982 - O IADE (Instituto de Arte, Decoração e Design) oferece Cursos de Design de Interiores e de Equipamento Geral, de Fotografia, de Cerâmica, Oficina de Desenho, Pintura e Gravura e ainda Cursilhos, de inscrição livre, com horário pós-laboral, leccionados por: António Quadros, Lima de Freitas, Orlando Vitorino, Helena Souto, Manuel Rio de Carvalho, Rafael Calado, Cecília Eiró, Manuel J. Gandra, Roxana Eminescu, etc. Início do 2º ciclo de Conferências, Colóquios e Debates do Círculo de Estudos Portugueses, subordinado a temas como A Filosofia Portuguesa do século XX e Portugal simbólico e arquetípico, no qual intervêm António Quadros, Lima de Freitas, David Mourão-Ferreira, Afonso Botelho, António Telmo, Orlando Vitorino, Pinharanda Gomes, Manuel J. Gandra, Francisco Palma Dias, Paulo Borges, etc. 1984 – Fernando Garcia inicia o ensino da Publicidade no IADE. Ernesto Mello e Castro (1932-) cria o primeiro curso de Design de Moda.

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1985 – Além da Pós-Graduação em Design Industrial / Design Visual / Design de Interiores, o IADE oferece cursos nas seguintes áreas: Fotografia Básica (Mónica de Freitas); Cerâmica (António de Vasconcelos), Oficina Livre de Desenho e Pintura (Lima de Freitas, Manuel Lapa, Carlota Emauz), Maquetismo (Marina Zeiger, José Paulo Soares), Vídeo (Jaime e Carmo Laranjeira), Audio-visuais (António Lopes Ribeiro, Jaime Laranjeira, Mónica de Freitas, J. António Lopes, Carlos Mendes). Propõe ainda Cursos e Cursilhos de Arte e Cultura leccionados por: António Quadros, Lima de Freitas, David Mourão-Ferreira, Lagoa Henriques, Helena Souto, Cecília Eiró, Maria Antonieta Vieira, Rafael Calado, Manuel Rio de Carvalho, Manuel J. Gandra, E. Melo e Castro, Duarte Nuno Simões, etc. Exposição de Fotografia Olhares, no Palácio Pombal.

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1987 – Além de diversas pós-graduações, o IADE oferece Cursos de Design de Interiores e de Equipamento Geral, de Design de Moda, de Marketing e Publicidade, de Audio-visuais, de Fotografia Básica, de Cerâmica, Oficina de Desenho e Pintura, de Maquetismo e ainda um Curso Livre (Cursilhos) de História Geral da Arte – Iconologia, Sociologia e Estética leccionados por: António Quadros, Lima de Freitas, António de Macedo, Helena Souto, Cecília Eiró, Gracinda Ribeiro, Miguel Sanches de Baena, Manuel Costa Martins, Magalhães Silva, Elizabete Cabral, Manuel Rio de Carvalho, Rafael Calado, Manuel J. Gandra, Duarte Nuno Simões, etc. 1988 – 1º Encontro Europeu de Relações Públicas, e Semana da Moda, no Palácio Pombal. Desfiles de Moda, na sede do IADE. Inauguração das instalações da Rua Capelo. O Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Krus Abecassis visita a Exposição Marketing, no Palácio Quintela.

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1989 – O IADE começa a oferecer cursos de Ensino Superior: Escolas Superiores de Design e de Marketing e Publicidade.

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1990 – A Escola Superior de Design e a Escola Superior de Marketing e Publicidade são reconhecidas pela Portaria 672/90 de 14 de Agosto, a qual determina que ambas possam iniciar os seus curricula a partir do ano lectivo de 1990-1991. 1992 – António Ferro assume a direcção do IADE. Restauro da Sala Romana e das pinturas da Escadaria pelo conservador/restaurador José Artur Pestana. 1993 - Fixação e consolidação da película cromática, limpeza, levantamento de repintes e protecção da pintura mural do átrio do palácio, realizado pela Escola Profissional de Recuperação de Património de Sintra (EPRPS). Falecimento de António Quadros, no dia 21 de Março. 1994 - Limpeza de cantarias da fachada pela EPRPS. Homenagem a António Quadros (21 de Março).

1997 - O IADE transfere as suas instalações para a Av. D. Carlos I. O Palácio Quintela torna-se sede cultural da instituição. 53

2001 – Uma réplica em bronze substitui, a 26 de Julho, a estátua de Eça de Queiroz, cujo original é recolhido no Museu da Cidade. 2003 – Colóquio Científico António Quadros – Pensamento e Obra (19 e 20 de Março). 2005 – II Encontro Internacional de Ciências do Design, sob os auspícios da UNICOM/IADE: Pride predesign: the cultural heritage and the science of Design (Lisboa, 26 a 29 Maio). Exposição Projecto’05 – Olhar Cosmológico dos alunos Finalistas do Curso de Fotografia.

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Cerimónia de entrega de Diplomas, na Sala Camoneana

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2006 – Restauro da pintura mural da Sala de Jantar por Mercês Carvalho Taquenho e Nazaré Cardoso Pinto, filhas do 9.º Marquês de Pombal. 2007 – Restauro da pintura mural da Capela pelas filhas do 9º Marquês de Pombal. Em Agosto, a Ensivest adquire o IADE, assumindo o Prof. Doutor Caetano Alves a Presidência do respectivo Conselho de Administração. Em Outubro, o Prof. Carlos Duarte assume a presidência das duas escolas universitárias do IADE.

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2008 - O Palácio Quintela acolhe o Iade Chiado Center, coordenado por Paula Naia. Exposição Chaplin in Pictures, integrada na programação de arte do Lisbon Village Festival (4 de Setembro), constituída por cerca de 300 peças do arquivo privado da família Chaplin. Pronto a Ler - Design de Livros em Espanha (1 de Julho a 10 de Agosto).

2009 – Ilda Nunes assume a direcção do Chiado Center Gallery. Curso Prático de Conservação e Restauro – Pintura Mural, com Ilda Nunes. Início de um Ciclo de Tertúlias, promovidas pelo Chiado Center Gallery. Intervenção conservacionista de Ilda Nunes na Pintura Mural do Palácio Quintela. Revolution 99-09, no âmbito da Experimentadesign, inaugurada pela Ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas. 2010 – O Palácio Quintela passa a estar vocacionado para a realização de eventos e actividades pedagógicas. O IADE adopta a designação Creative University. Exposição Beyond Kawaii (protocolo cultural 57

entre IADE e o Instituto Politécnico de Tóquio), em OutubroNovembro. Inauguração da exposição Display: Objects, Buildings and Spaces, promovida pela Experimentadesign, no Palácio Quintela (16 de Dezembro).

2011 – Inauguração da exposição Ordem de Compra: o Design e a Indústria Portuguesa na Economia actual – Exemplos de sucesso, promovida pela Experimentadesign (21 de Março). 2012 – O Palácio acolhe o projecto No School. O IADE adquire o estatuto de Instituto Universitário (Decreto-lei n. 206/2012 e Portaria n. 268/2012). 2013 – Uma brigada da Fundação Ricardo Espírito Santo realiza uma intervenção na pintura do tecto da Sala de Minerva. 2014 – Na cerimónia evocativa do dia do IADE (21 Março) é palestrante o Prof. Doutor Fernando Carvalho Rodrigues, glosando o mote Lima de Freitas: o número, a geometria e a arte.

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PALÁCIO QUINTELA MEMÓRIAS António Augusto Carvalho Monteiro Maria da Graça Ataíde Augusto de Ataíde

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[CIRCUNSTANCIADA DESCRIÇÃO DA PINTURA DO PALÁCIO QUINTELA, 1903] 7 António Augusto Carvalho Monteiro

Os trabalhos mais importantes feitos por António Manuel da Fonseca na casa da rua do Alecrim, n.º 70, em frente ao Largo do Barão de Quintela que pertenceu ao Conde de Farrobo, adquirida mais tarde por Francisco Augusto Mendes Monteiro, que foi quem mandou fazer todas as restaurações e que hoje é propriedade de seu filho, António Augusto de Carvalho Monteiro encontram-se em seis compartimentos do mesmo prédio, e são: as pinturas da escada principal, as de dois medalhões na capela, as da sala do canto-Sul sobre a mesma rua e o pátio das cavalariças, as da grande sala de jantar e as de um gabinete que olha para o grande terraço do mesmo prédio. As pinturas dos painéis grandes da escada e as da sala do centro são a fresco as demais a óleo. Eis a sua descrição: Escada O assunto principal consta de quatro dos Trabalhos de Hércules, dispostos do seguinte modo: na parede que se eleva do primeiro patamar da escada, toda de mármore, e de cada lado de uma grande janela de arco perfeito, fechada por vidros de Veneza corados, vê-se, do lado direito de quem sobe, Hércules subjugando o Touro de Creta, e da esquerda o Leão da Nemeia; e na parede do último patamar, do lado direito da Cf. Sousa Viterbo, Notícia de alguns pintores portugueses e de outros que, sendo estrangeiros, exerceram a sua arte em Portugal, s. 1, Lisboa, 1903, p. 69-73. 7

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porta da entrada para a grande sala octógona, Hércules esmagando em seus braços a Anteu, filho da Terra, e do lado esquerdo dando a morte ao gigante Caco. Por cima destes quadros, e entre as janelas laterais e grandes espelhos reproduzindo essas janelas, estão diversas alegorias pintadas a claro-escuro, assim dispostas: por sobre o Leão da Nemeia, a Terra em um carro puxado por duas serpentes, por sobre o Touro de Creta, Vénus no seu carro tirado por pombas; sobre a 1ª porta lateral, à esquerda, O Carro de Apolo puxado por dois cavalos brancos; entre essa porta e a principal O de Mercúrio tirado por dois galos; entre esta porta e a 2.ª lateral O Carro de Juno com os pavões; e em seguida O de Diana a quatro cavalos brancos. Entre as ombreiras daquelas janelas quatro figuras de Deuses mitológicos representam os quatro elementos da velha teoria filosófica, o fogo; a água; a terra e o ar (Júpiter ou Zeus, Neptuno, etc.). No centro do tecto está pintada a Apoteose de Mercúrio, que tem na mão esquerda um pomo de ouro (laranja), sobraçando com a direita o caduceu e um Cupido. A faixa, que passa por baixo das janelas, é de diversos arabescos, sendo os centros formados de meninos nús com a maça de Hércules e cornucópias. Capela No lado direito do altar e esquerdo do espectador está pintado a óleo um grande medalhão com a Cabeça de Cristo, e do lado esquerdo um outro medalhão de molduras e dimensões iguais ao anterior, representando a Cabeça da Virgem. Sala do centro, ou chamada Romana Pinturas nas paredes principais figurando dois grandes panos-de-Raz, onde se acham representadas as seguintes cenas da história da primitiva Roma: do lado direito de quem entra e na parede lateral, entre a porta-Norte e o canto da sala, grandes 62

jogos romanos, a que foram atraídos os Sabinos, e em seguida, na parede do fundo, o Rapto das Sabinas; do lado esquerdo, e ainda na parede do fundo, a Guerra entre 0s Sabinos e os Romanos, consequência daquele rapto, e em continuação, na parede lateral, entre o canto e a porta-Sul, a Paz de Lácio, firmada por acordo entre Tácio e Rómulo. As sobre-portas são assuntos, a claro-escuro, da história Romana, principalmente dos costumes dos cônsules, lictores, etc. No tecto, ao centro, encontra-se, em um grande medalhão, a Apoteose de Rómulo, tendo aos lados, na parte concava do tecto, logo por cima da sanca, dois medalhões mais pequenos, também a fresco e a claro-escuro, representando: o que fica sobre a janela principal a Alegoria da lenda da Loba amamentando Rómulo e Remo, e o que se vê por cima da porta de entrada da sala octógona Acca Laurentia, mulher do pastor Fáustulo, também conhecida por Loba, tendo aos peitos os dois gémeos citados e ao lado o pastor seu marido. Entre a janela e a porta do lado-Norte vê-se, por cima do roda-cadeiras, o retrato de António Manuel da Fonseca, muito jovem e em corpo inteiro, vestido à romana, tendo na mão direita uma folha de papel desenrolada com um projecto de pinturas, provavelmente o das pinturas a executar na sala, e com a mão esquerda como que mostrando esse mesmo plano. Por baixo da indicada folha de papel vê-se uma espécie de lápide com a seguinte inscrição em caracteres romanos: Antonius Em-/manuel a Fonce-/ca, Pictor Lusi/tanus. Anno 1822./; e em seguida, em letra aldina manuscrita, e feita muito posteriormente àquela, este dístico: Forão restauradas estas / pinturas em 1878, pelo mês-/mo autor; tendo d’idade/81 anos./; por baixo da lápide vê-se a paleta com os pincéis e o torso de uma estátua partida. Entre a janela e a porta-Sul do lado esquerdo está o retrato do arquitecto da casa, também com vestuário romano, achando-se sobre o fuste de uma coluna truncada a seguinte inscrição: Joannes / Baptista / Hilbrath, /Archite-/ctus Ro-/manus./ A faixa do roda-cadeiras é toda pintada também a fresco, representando armas, armaduras e apetrechos bélicos antigos. 63

Gabinete do lado-Sul No tecto vê-se a figura de Minerva em corpo inteiro, vestida de Palas, e sentada sobre uma nuvem, tendo na mão esquerda duas coroas de louro, e do lado direito um pequeno Cúpido que lhe apresenta o mocho da ciência pousado sobre a sua mão direita. Sala de jantar Assuntos de paisagens dos arredores de Roma e o aspecto da Basílica de S. Pedro e do Palácio do Vaticano. Do lado direito de quem entra a porta principal vê-se uma cena de trabalho de vindima, levando os homens cachos de uvas que deitam para dentro de uma dorna; e do lado esquerdo da mesma porta uma dança popular junto a umas ruínas de aqueduto. Ainda deste lado, sobre a parede lateral, entre o canto e a porta-Norte, uma camponesa ao pé de uma fome enchendo de água um cântaro, e, por baixo da bica, junto ao pequeno frontão da mesma fonte, a seguinte inscrição em letra aldina: Antº M.el da/Fon.ca Pinci./, e a seguir pela parte de baixo e em letra manuscrita comum: Reformada/pelo mesmo au-/tor em 1877./ Entre a citada porta e a primeira janela está representada a Basílica de S. Pedro com a sua grande praça e no último plano à direita o Vaticano, como que vistos por sobre o gradil de um jardim, onde estão tocando uns músicos ambulantes com um macaco, a que uma criancinha oferece um cacho de uvas. Entre a terceira janela e a porta-Sul vê-se uma mulher do campo sentada, tendo ao lado esquerdo um cabaz com uvas, de onde tirou um cacho que dá a uma criança que está encostada sobre o regaço. Entre esta porta e o canto há uma cena de idílio entre uma camponesa e um guarda campestre encostado à espingarda. As sobreportas, em número de quatro, pois uma das janelas, a fronteira à porta principal, é de sacada para uma escada que dá para o jardim, representam Leda deitada em diversas posições oferecendo néctar a Júpiter transformado em cisne branco de 64

asas levantadas, que se reproduz dois a dois em cada vão, formando como que os ornatos superiores das ombreiras das portas. No tecto, em um grande medalhão, vê-se Hebe sentada sobre o dorso de uma grande águia (Júpiter transformado), de cujo bico pende o lustre da sala. Hebe tem na mão direita uma taça oferecendo ambrósia, e ao seu encontro vem um pequeno Cúpido com um açafate de flores e frutas à cabeça. Saleta sobre o terraço Representa um boudoir, em cujas paredes se mostram seis raparigas, serviçais talvez, por entre umas colunatas encimadas de cariátides apresentando vários adornos de toilette: uma caixa com escovas para cabelo, fitas, plumas, leques, colares, jóias, etc. As sobre-portas têm pintadas sobre bambinelas a azul e branco, no estilo Império, grinaldas de rosas e emblemas amorosos, e uma pira em frente da janela. * Além destas pinturas do Fonseca, existem na mesma casa e na sala principal, chamada Sala Camoniana, as feitas a óleo por Cirilo Volkmar Machado, representando: a do tecto o Concílio dos Deuses, segundo o texto dos Lusíadas, vendo-se ao fundo do quadro e a perder-se no horizonte As naus portuguesas sob o mando de Vasco da Gama para o descobrimento do caminho marítimo das Índias; e em volta, no roda-cadeiras, vêem-se a claro-escuro três medalhões figurando assuntos camonianos: Audiência do Rei de Melinde, Desembarque em Calicute e a Ilha dos Amores.

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UMA VIDA QUALQUER II. Portos, Temporal e Âncoras 8 Maria da Graça Athayde

Um dia de Inverno de 1943, em Lisboa, (estávamos em casa do meu Pai) o Augusto [de Ataíde] chegou ao pé de mim, triunfante: “Encontrei finalmente uma casa para morarmos quando estivermos em Lisboa”. Eu muda e receosa! Ele prosseguiu: “Era uma ocasião única! Não a podia perder! Tomei de trespasse ao Sr. Nascimento, da firma Leiria e Nascimento, antiquários, a parte do palácio Quintela na Rua do Alecrim que ele habitava e utilizava como loja de antiguidades. Esta entrada, sim! É a mais grandiosa de todas as que vi!”. Imediatamente me levou à Rua do Alecrim, 70, em frente da estátua de Eça de Queirós. Instalando-se num dos grandes salões, de pinturas murais escavacadas, recomeçou pela milésima vez a «saga» da reconstrução, embelezamento, vida brilhante naquela parte do palácio, redividida... Eu conhecia a casa. Várias vezes, em solteira, fui tomar chá com a Nazareth Monteiro d'Almeida, depois Marquesa de Pombal. Lembrava uma grande festa, onde muito dancei no salão onde agora estávamos. Outra vez, ali fiz um retiro espiritual, dirigido por um jesuíta, Padre Valério Cordeiro. Vejo a dona da casa de sorriso tão simpático. Era filha dum senhor Monteiro a quem chamavam “o Monteiro dos Milhões”. Também o Pai da Nazareth, D. Francisco de Almeida, recebia sempre amavelmente as amigas da filha. 8

Lisboa, 1986, p. 111-120.

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A Nazareth era uma das raparigas mais simpáticas do meu tempo. Tinha um ar de japonezinha loira, de olhos azuis, que lhe dava muito interesse. Depois de casada, tornou-se uma mulher elegantíssima. No ano de que falo, ela estava no Brasil com o marido, Marquês de Pombal. Parte do palácio ficara alugada à firma Leiria e Nascimento. Este quis mudar-se (como a seguir fez) para a “Casa Nobre de Lázaro Leitão”, na Junqueira, e trespassou ao Augusto a parte que alugara na Rua do Alecrim, 70. Não me senti alegre, antes melancólica e assustada, depois direi porquê. Daí a dias, a ferver de entusiasmo, o Augusto veio dizerme que através do advogado dos Marqueses de Pombal, Dr. Simões Ferreira, alugara o resto da casa, comprando todos os móveis lá existentes. Foi difícil mesmo fingir que era capaz de acompanhar a alegria dele! Mas vi-o tão contente! Fingi. No dia seguinte fomos com o Dr. Simões Ferreira (ou um guarda da casa, já não sei) ver a nossa futura habitação lisboeta. Ainda sinto nos ossos o frio daquela primeira visita. Entrámos, não sei porquê, pela porta prolongada em escada de pedra, que o Augusto logo a seguir desligou da parte onde vivemos e destinou ao serviço dos andares de cima, escritórios que subarrendou, e do seu próprio. Naquele dia, seguimos por uma estreita passagem interior, escura, atapetada de vidros quebrados, estofada de teias de aranha. Desembocámos num grande quarto - que a seguir durante muitos anos foi o meu. Percorremos a capela, as salas, o sótão, copas, cozinha monumental, dispensas que pareciam preparadas para abastecer um regimento. Satisfeito, o Augusto abria portas, armários, janelas, observava o jardim entulhado de caliça, planeando restitui-lo à beleza primitiva, como aliás, a seguir fez! Eu acompanhava-o, vendo o lado negativo de tudo, mas não deixando que isso transparecesse. Algumas salas têm as paredes pintadas; a de jantar com cenas de costumes italianos; outra, a maior, envolvia-nos com 68

brutalidade artificial do século XIX, no rapto das Sabinas. Mulheres chorando, guerreiros arrastando-as, criancinhas espezinhadas, couraças, capacetes, espadas e punhais... Um – boudoir - revestia as paredes de objectos próprios para encantar mulheres ricas e frívolas: bandejas de jóias, fitas, plumas... «Viveremos aqui», dizia o Augusto «mal as obras estiverem prontas. Amanhã vou falar com o arquitecto Rebello de Andrade! As salas mais íntimas, com lambris à 1920, carregados de retratos e poeira, bem precisavam de uma transformação... Mas eu pensava noutras coisas... Lutava para não me deixar levar pela superstição. Aquele palácio, mesmo abstraindo do seu actual aspecto soturno, tinha uma tradição de desgraça... Tentei falar nisso ao Augusto, mas ele ria, e com razão: “Então tu, uma mulher tão religiosa, com uma fé esclarecida, tens o atrevimento de falar em casas assombradas? Eu sorria também, dando-lhe razão. Entretanto recordava os antigos habitantes daqueles salões: o Conde de Farrobo, um dos homens mais ricos e brilhantes de Lisboa, perdeu a fortuna, acabou pobre. O General Junot, quando esteve em Lisboa como embaixador, habitou a casa da Rua do Alecrim, 70. Ali deu festas; ali se sentiu cumulado de poder e honrarias. Mais tarde endoideceu e suicidou-se, atirando-se duma janela abaixo. Graças a Deus já em França! Dos dois senhores Monteiros “dos Milhões”, pai e filho, não conheço as infelicidades, se as tiveram. Mas os descendentes! Os pais da Nazareth, D. Francisco d'Almeida e D. Maria Monteiro, perderam o seu único filho homem, aos 15 anos, com um mal fulminante. Ficou a Nazareth, casada com o Sebastião Pombal. Também o filho então único deste casal, morreu, no chamado palácio Quintela do qual estou falando. O actual Marquês de Pombal só nasceu depois da morte do irmão. Os donos da casa deixaram-na e foram viver para o Brasil... 69

Tudo ali me parecia triste e assustador. Pensava no meu filho único, e o meu coração tornava-se de gelo. Mas logo a seguir o bom senso fazia-me ver que a superstição é uma loucura, que não há predestinação para a desgraça e a corrente de infelicidades que me vinha à memória, era obra do acaso. (Mas o «acaso» continuou, aparentemente, connosco. Deixámos aquele palácio 20 anos mais tarde completamente arruinados...) Naquela altura resignei-me. Vieram os arquitectos Rebello de Andrade; restauraram-se as pinturas das paredes, destruíram-se os lambris “arte-nova”, encomendaram-se tapetes expressamente para o chão que deviam cobrir. Instalouse uma nova rede de telefones internos. As casas de banho rebrilharam. A escadaria monumental teve uma passadeira também monumental. A grande entrada de pedra, cujos quadrados de mármore preto e branco já mal se distinguiam, sob a sujidade acumulada em muitos anos, foi lavada com soda cáustica, encerada e restituída à dignidade primitiva. O jardim sob a direcção dum arquitecto paisagista - recuperou canteiros e ruas. Tinha um pequeno lago ao meio, um nicho com uma estátua a um lado; e, ao fundo, um tanque maior com os seus lavrados... Tudo ficou bonito, limpo, cheirando a casa nova. Mas eu não tinha pressa de lá morar. O Dr. Simões Ferreira, imaginando-me talvez provinciana embasbacada, perguntou: “Então? Que tal se sente com a ideia de viver aqui? Respondi-lhe, sem sinceridade (mas como podia explicar-lhe?): “Indiferente...”. Olhou-me, desconfiado... O Augusto, de colaboração com o Sr. Nascimento, organizou um leilão do recheio da casa. Separou primeiro as peças que lhe interessava conservar (aliás poucas) e vendeu o resto. Antes do leilão o Dr. Simões Ferreira retirou um serviço de chá de loiça da Índia, e um relógio de jaspe que, segundo declarou, os Marqueses de Pombal lhe tinham dado de presente. 70

As obras continuaram. Voltámos para S. Miguel. Entrei com alegria na casa de Ponta Delgada. O meu lar era aquele". Naquele tempo, seguíamos a obra, instalados na casa do Jardim. Quando íamos a Lisboa, vigiávamos os últimos retoques da restauração na Rua do Alecrim, 70. Mas esta, como é natural, ficou pronta muito mais depressa, e habitámo-la durante um ano, 1948-49. Nessa altura casou a Letícia, minha irmã mais nova, com o Manuel Sabrosa. A festa foi lá em casa e a cerimónia, na capela que abre para o hall do primeiro andar. A Letícia estava lindíssima. A casa resplandecia. Já então começava a tomar o seu aspecto definitivo, mas o Augusto não parava de a aperfeiçoar: comprava lustres, pratas, tapetes, bibelots... A casa enchia-se e muitos dos convidados asseguravam que, juntando a imponência do palácio, ao nosso (principalmente do Augusto!) arranjo das salas, se tornara uma das «habitações» mais belas de Lisboa. Este «boato» propagou-se, e a Luísa Palmela, Viscondessa de Asseca, disse a alguém, que sentia curiosidade de ver a minha casa, pois lhe tinham dito que era a mais bonita de Lisboa, e ela sempre considerara a sua casa de Sintra a maior beleza que se pode imaginar. Logo a convidei para vir tomar chá comigo, e ela achou o interior da Rua do Alecrim decorado por nós, realmente muito bonito; mas eu concordo que a casa dela em Sintra tem mais categoria, não só por ser uma construção do século XVII (ou XVIII?), mas pelos jardins, até pela aparente simplicidade conseguida com móveis raros, quadros de valor, equilíbrio em tudo, silenciosa sinfonia sugerida com perfeição... De resto nunca cheguei a lá entrar. Sempre que me encontrava, a Luísa prometia mostrar-ma. Convidava-me para uma futura tarde de chá e conversa. Mas ela estava doente, e vi-a cada vez menos, até que morreu. Falo deste interior porque veio minuciosamente fotografado numa revista, uns anos mais tarde. 71

Tem uma classe que falta ao rico século XIX da Rua do Alecrim, 70. Cada coisa no seu lugar há muito tempo; os móveis são apenas os suficientes para conseguir uma atmosfera simultaneamente «nobre» e confortável. Lembrando a Luísa Palmela, só posso dizer que sempre a encontrei simpática e amável. Algumas pessoas a consideraram fria e por vezes indiferente. Eu não senti isso. Nunca fomos íntimas, a não ser nos Natais trabalhosos da “Ala da Rainha Santa” quando eu tinha 20 anos. Via-mo-nos pouco, mas a tal frieza e afastamento não se mostraram a mim. Quero deixar recordado um momento que me comoveu: encontrámo-nos lado a lado a comungar, na Igreja dos Mártires, numa época em que a derrocada da minha vida financeira já era conhecida de todos. A Luísa olhou-me com um meio sorriso dos seus olhos cinzentos e beijou-me sem dizer uma palavra. Não era preciso mais. Reconfortou-me. Voltando ao casamento da Letícia em 1948, vejo-a entrar na capela pelo braço do nosso Pai, abertos os dois batentes das portas de mogno e bronze, os tocheiros acesos, entre as flores que eu dispusera com a minha mão; o Padre João Filipe Nova Goa, agora cónego, a abençoar os noivos; o Manuel Sabrosa ainda tão novo! (igual ao Vittorio de Sicca), o meu filho de 7 anos, atento ao desenrolar de acontecimentos inéditos para ele! O Augusto contente de mostrar a sua casa, e ali receber amigos. A minha Madrasta, sempre bonita, comovida com a saída de casa da última filha... E eu, cansadíssima, mas feliz por ter podido contribuir com o meu esforço para o bem-estar e satisfação de todos. O dia estava óptimo, e, apesar de ser Dezembro, tiraramse retratos no jardim. Mais flores; na casa de jantar o lustre todo aceso; o "Copod'água” sobre a mesa interminável; a toalha bordada... 72

Tínhamos acabado de festejar 10 anos de casamento, e como já disse, surpreendia-me o não ver uma sombra a escurecer o céu. Exigia a continuação daquilo que aceitara, depurara, edificara como felicidade; qualquer pequeno desvio me assustava. Era perfeitamente feliz: mas depois de vivermos em Lisboa desconfiava da vida. Havia no meu coração como que um pressentimento... ...Voltámos mais uma vez para S. Miguel, onde passámos parte do ano de 1949.

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PERCURSO SOLITÁRIO 9 Augusto de Ataíde

Por volta de 1945, o meu Pai arrendou em Lisboa o palácio na Rua do Alecrim, que fica em frente do monumento ao Eça de Queiroz e cuja entrada principal tem o número setenta 10, Por causa do desnível do terreno, o rés-do-chão que abre para a Rua do Alecrim é cave do lado oposto e o andar nobre, alto para a mesma rua, dá na parte traseira, directamente para um jardim que, por sua vez, tem acesso pela Rua António Maria Cardoso. Nem de longe ocupámos toda a casa. Uma parte do rés-do-chão e do andar nobre e o jardim. Havia escritórios, antiquários, etc., que não nos diziam respeito. Durante alguns anos ainda ficávamos em Lisboa, na Rua Cecílio de Sousa, enquanto a Rua do Alecrim era arranjada e recheada com as antiguidades que o Pai ia comprando. Lá dormi pela primeira vez em 1948. Luzes, sombras, ruídos e rumores, cheiros, faziam parte do que me parecia ser “a vida própria” da casa, na qual fui penetrando. Na Rua do Alecrim e na António Maria Cardoso os eléctricos chiavam nas calhas. Certas salas vibravam discretamente por efeito das máquinas de uma oficina de lustres que havia num edifício ao lado. Um cheiro seco e desconhecido parecia vir de madeiras velhas e poeirentas aquecidas pelo Verão. À noite abriam-se todas as janelas para que as correntes de ar limpassem os calores do dia

Lisboa, 2006, p. 128-267. Pertencia à marquesa de Pombal, D. Nazaré de Almeida, casada com o oitavo marquês. Tinha-o herdado do Avô materno, Carvalho Monteiro, célebre pela gigantesca fortuna, a quem chamavam o “Monteiro dos Milhões”. O Palácio fora antes do barão de Quintela e, durante a invasão francesa, tinha lá vivido lá o sinistro Junot. 9

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e as grandes cortinas brancas esvoaçavam devagar, na penumbra, como aparições silenciosas. Penso que no Palácio da Rua do Alecrim se encontra uma das poucas e das mais espectaculares decorações “à italiana” que existem em Portugal. A grande escada de “honra” e parte das salas do andar principal estavam cobertas de frescos - da autoria do célebre pintor italianizante António Manuel da Fonseca -, que representavam cenas da mitologia e da antiguidade ou puros motivos ornamentais, alguns em trompel'oeil. Eram objecto de interminável contemplação. Os da escada mostravam trabalhos de Hércules. Nos da sala de jantar desenrolava-se uma jornada italiana: num fazia-se vinho com alegria e música; noutro saltava a tarantela; noutro ainda a colunata e a cúpula de São Pedro de Roma, entreviam-se por detrás de um grupo de figuras populares, entre as quais me atraia particularmente a do homem que trazia pela trela um macaco, vestido de casaca vermelha... Dava para a fachada a grande sala em cujas paredes decorria um tumultuoso rapto das Sabinas. Guerreiros ferozes entrematavam-se a pé e a cavalo. Ao fundo, sacerdotes sacrificavam um boi de cornos engrinaldados. As mulheres seminuas e com gestos de desespero - eram agarradas e levadas por atletas que pareciam brutais. E o pior era que crianças pequenas choravam no meio da confusão. Os detalhes da sala das Sabinas eram tantos que ao longo de meses ia descobrindo novos. Aos poucos percebi que, naquela multidão, só havia quatro caras diferentes! Todos os homens velhos tinham a mesma, tal como todos os novos, todas as mulheres e todas as crianças. O artista tinha feito economia de modelos e só pintara quatro, nas mais variadas posições. No tecto da sala de baile, um concílio dos deuses debatia os destinos do Gama que aparecia a um canto entre velas e cruzes de Cristo... No de uma, mais pequena, onde - coincidência auspiciosa - me puseram uma mesa para estudar, estavam Minerva e o mocho que passaram a seguir os árduos trabalhos da instrução primária. E em todos aqueles tectos, deuses e demiurgos tornavam o politeísmo clássico simultaneamente 76

familiar, pouco credível e mesmo um tanto carnavalesco... Havia uma porta secreta: um espelho, que parecia só decorar uma parede, deslizava para o lado e dava acesso a outra divisão. Uma grande e bela lareira de mármore branco tornava particularmente acolhedor um quarto de serão que dava para o jardim. Não cabe descrever em pormenor a silenciosa viagem do rapaz pelos grandes espaços e recantos da casa. Durou muitos anos e teve a maior importância. Foi no quadro da Rua do Alecrim que fiz o percurso de ideias e emoções que vai da infância à idade adulta. Primeiro correspondeu à descoberta, com curiosidade e, por vezes, surpresa, de ambientes: abriam-se armários e apareciam coisas inesperadas: espingardas, chapéus altos, leques, uma maqueta de um pavilhão que, depois descobri, ser o que na Tapada da Ajuda se chama do Rei D. Luís. Depois, aos poucos, transformou-se num percurso solitário, sentimental, e de infindáveis pensamentos. Como adiante direi. O jardim parecia-me pequeno em comparação com o de S. Miguel. Hoje penso que, estando no coração do Chiado, antes se devia considerar enorme. Podia andar de bicicleta e continuar as constantes actividades atléticas. O grande evento que nele ocorreu, foi o aparecimento do primeiro bulldog 11 da minha vida, que se chamava Zambo. O Pai, entendido na matéria, achou que não se tratava de um exemplar muito apurado. E sempre recordo a desilusão quando o levei à exposição dos cães no jardim zoológico... e apenas foi classificado de “segunda categoria”... Mas gostámos muito um do outro. Em frente da janela do meu quarto chamava-me para a brincadeira, com uma “voz” mansa e leve, quase de falsete, e por completo diferente do tom gutural e tonitruante com que ladrava zangado. Quando eu abria os vidros e respondia ao apelo, dava saltos e fazia piruetas de alegria. Vieram depois e durante anos

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O meu pai coleccionou bulldogs ingleses durante anos.

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outros bulldogs. Lembro muito em especial a Block, bem mais tranquila do que o Zambo, e tão meiga 12. Mas no âmbito dessas experiências boas e silenciosas estava não só a cidade, mas também a casa. Das suas janelas não havia largas paisagens para ver. Mas, mesmo assim, davam para coisas que valia a pena olhar. Sabia com rigor quando o Sol nascente punha mil faíscas em todos os vidros de um certo prédio. Ou quando o do final do dia pintava de cor de fogo aqueles andares altos. Acima de tudo, gostava das torres das igrejas do século XVIII que ali estavam próximas. Cheias de Sol, nascente, alto ou poente, brancas e elegantes, recortadas sobre o céu, destacavam-se do casaria que as envolvia. A torre da Encarnação, colada à casa, era íntima e os seus sinos marcavam o ritmo do dia e faziam parte do ambiente doméstico. Da dos Mártires viam-se só os topos e os seus chamaréus e eu ia visitála de mais perto, bem como à do Sacramento, andando nas proximidades pelo Camões, o Chiado... Mas aquela de que mais gostava, vista das janelas da fachada, era a das Chagas, talvez por a saber virada, sem entraves, para a glória do pôr-do-sol sobre a barra. Dentro de casa, luzes e sombras continuavam a articularse de mil maneiras e ofereciam, por vezes, visões de imagens e cores ocultas e desconhecidas. Um raio de poente, entrando pela janela, batia num quadro em cujas cores ninguém reparara. Ou mostrava a harmonia de um recanto, em geral sombrio. Ou mesmo só, dando na madeira do sobrado, revelava a riqueza de veios e arabescos e tons que se seguiam na tábua larga e polida até que ela se metia debaixo do tapete. De noite a aventura continuava. Lâmpadas de altos candeeiros plantados no passeio da Rua do Alecrim e que chegavam à altura das janelas, «faziam» no chão de algumas salas um falso luar azulado. Às vezes havia mesmo luar verdadeiro. E era o jogo de distinguir, entre as manchas do chão, as “falsas” das “autênticas”. Por outras janelas, felizmente, 12

Do nome do canil Blockbuster, onde tinha sido comprada nos arredores de Londres.

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o luar entrava sem mistura. E em todos os casos havia cambiantes, reflexos vagos, transparências, perspectivas na penumbra... Passei horas sem fim, banidas as luzes eléctricas, percorrendo o inesquecível cenário nocturno, pairando naquele espaço que, na infância, me começara por meter um certo medo e acabou sendo o ambiente quase perfeito para o rapaz que se fazia a si próprio companhia, respirava o silêncio como uma frescura, naquela grande paz que a noite, tornava tão palpável e sensível. Ninguém pode, nem de longe, suspeitar da importância que, nesses anos, tinha para mim esta janela secreta sobre a cidade e a casa.

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PALÁCIO QUINTELA ICONOLOGIA DO PROGRAMA PICTÓRICO Manuel J. Gandra

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ESCADARIA A entrada do Palácio Quintela configura um amplo paralelipípedo que se eleva em alçado até a altura do segundo piso, por onde se acede, lateralmente, à escadaria principal da mansão 13.

O carácter monumental desta escadaria induziu William Beckford a considerá-la mais apropriada para um edifício público! 13

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Desenvolve-se esta escadaria de aparato perpendicularmente ao eixo da entrada principal, acedendo-se a ela mediante um vão, emoldurado por arco de cantaria, rematado por uma rosa, intrigante, esculpida em alto-relevo. Tal vão, uma vez vencido, abre-se num patamar, que franqueia, de ambos os lados, o acesso a corredores, conduzindo a uma área de serviço (o da direita) e a uma escadaria secundária (o da esquerda). A caixa do primeiro lanço da escadaria de aparato é forrada de cantaria, ornada por apainelados em cujo centro se abre um óculo circular. No topo do primeiro lanço atinge-se novo patamar, onde a escadaria se divide em dois lanços paralelos, que seguem em sentido diametralmente oposto ao primeiro. São guarnecidos por guarda em ferro forjado com aplicações de metal amarelo. Atingido novo patamar, a caixa da escadaria assume a forma de um paralelepípedo coberto com tecto de caixotão e paredes forradas de cantaria, até um terço do seu pé direito, formando apainelados. Os dois terços restantes recebem painéis de pintura mural, emoldurados por frisos e cornija de cantaria.

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Na Parede Norte, um vão de perfil semicircular, com moldura em cantaria, ornada por frisos, e mísula no fecho do arco, ladeada por volutas, recebe um vitral (1ª campanha de obras do 1º Conde do Farrobo), retro-iluminado pela luz que entra pelo saguão.

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As paredes laterais, paralelas ao segundo lanço da escadaria, são rasgadas, cada uma, por duas janelas de perfil semicircular, revestidas de vidro fosco em caixilho de madeira formando quadrícula: as janelas do lado poente recebem luz indirecta proveniente das janelas das salas contíguas à fachada principal, enquanto os vãos dirigidos a leste são iluminados pela luz que penetra pelo saguão. 86

Neste patamar existem, lateralmente, duas portas em madeira exótica do Brasil, idênticas a todas as demais existentes no piso nobre do Palácio, dotadas de ferragens da iniciativa de Carvalho Monteiro pai, exibindo motivos vegetalistas, arcazes e rostos negróides. A respectiva moldura é recortada em cantaria de perfil recto e rematada por cornija delineada por friso e sobrepujada por espaldar perspectivado, onde se inserem apainelados e um florão. Na parede Sul, alinhada pelo primeiro lanço de escadas e enquadrada por moldura de cantaria delineada por friso, que se prolonga em espaldar ladeado por volutas, abre-se uma porta em arco de volta-perfeita, recebendo ao centro uma grinalda e concheado, arco esse rematado por frontão contracurvado. O conjunto é, por seu turno, enquadrado por arco de voltaperfeita em cantaria, delimitado por friso e ornado por uma mísula central.

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O tema axial da escadaria nobre do Palácio é a Apoteose de Mercúrio, em torno da qual se dispõem quatro quadros a fresco que figuram os Trabalhos de Hércules I e VII, um episódio paralelo a outra façanha do mesmo herói (ocorrida no decurso do XII Trabalho) e a fúria de Hércules contra Licas, seu companheiro de viagem e arauto na guerra contra Êurito de Eucália. Em conexão com estes quadros, observa-se uma sequência de seis alegorias a claro-escuro, figurando cinco deuses olímpicos e um titã, identificáveis pelos respectivos atributos. Nas paredes Leste e Oeste, entre as ombreiras das janelas, de ambos os lados destas, acham-se representados os quatro elementos, personificados por quatro deuses, ou divindades planetárias, da mitologia latina. De facto, quer as pinturas referentes aos Trabalhos e à vida de Hércules, quer as representações das divindades nos respectivos carros, quer a figura de Mercúrio (deus dos viandantes) evocam a noção de passagem, de jornada, de andamento, de caminho a percorrer, adequando-se justamente à função deste espaço. Não obstante, o conceito de viagem, também se encontra associado à ideia de evolução e de mudança, que só é susceptível de ser alcançada com esforço e luta perseverantes (personificados por Hércules e Marte), na regeneração do equilíbrio, paz e prosperidade (representados pelo titã Saturno e restantes olímpicos, Vénus, Juno, Apolo e, especialmente, por Mercúrio). O sentido iconológico das alegorias da Escadaria Nobre traduz, de forma geral, a glória dos justos – i. e., dos liberais – vencedores esforçados de dois monstros - o Absolutismo e os ingleses -, percorrendo um longo e árduo caminho até à Regeneração de 1820, unindo a força castrense (associada, simbolicamente, à figura do principal dos “mártires da liberdade” de 1817, o General Gomes Freire de Andrade personificada por Hércules) à eloquência dos juristas e burocratas (figurada por Mercúrio). 90

O estado calamitoso da cidade e dos habitantes de Nemeia, escravos do monstruoso leão, é compaginável com a situação vivida em Portugal antes do movimento liberal de 1820, de depressão geral e crise atingindo todos os quadrantes da vida nacional. Na verdade, Hércules, símbolo da força física e da persistência inabalável, representa, também, a glória terrena, o herói, o justo por excelência, um mártir às mãos da deusa Juno e do seu primo Euristeu, rei de Micenas, Tirinte e Midea, a quem seria infligida uma morte atroz, injusta, tal como sucedeu a Gomes Freire que, combatendo pela independência nacional, se viu acusado de conspirar contra a vida do general Beresford, da Regência e das instituições vigentes. O processo sumário, suscitado pelos governadores ingleses, determinou a sua condenação à morte, por enforcamento, sendo os seus membros mutilados e as cinzas lançadas ao mar. À semelhança de Hércules, recompensado com a imortalidade, Gomes Freire foi imortalizado pelos promotores e intervenientes do movimento revolucionário de 1820, em múltiplos elogios fúnebres, odes, monumentos erigidos à sua memória, entre outros louvores, construindo-se, dessa forma, a memória mítica do herói (in)justiçado, do benemérito da pátria, a qual se via, desse modo, vingada. No concernente à captura do Touro de Creta, o principal procriador do rei Minos, a ideia subjacente é a de controlo (da loucura imposta ao animal e consequente condução ordeira), não de aniquilação, pondo termo aos prejuízos perpetrados na ilha e às respectivas populações. Essa foi também a atitude adoptada pelos protagonistas da Regeneração de 1820, os quais, traduzindo o sentimento da generalidade da nação, agiram de molde a evitar a eclosão de uma revolução, com o correspondente cortejo de tumultos e agitação popular, com o propósito de lograr a reforma geral do Estado, com base na razão e na justiça, em detrimento do desgoverno e da anarquia. Finalmente, a fúria envenenada de Hércules contra Licas denota a noção de traição (apesar de involuntária, no caso 91

vertente), conceito que, associado ao de conspiração, perpassa a realidade política portuguesa antes, durante e após a Revolução de 1820-22 (encabeçada por Carlota Joaquina e pelo infante Dom Miguel e seus partidários absolutistas), culminando na guerra civil de 1828-1834.

Elenco iconográfico 1. Apoteose de Mercúrio (no centro da abóbada). Trabalhos e vida de Hércules 2. I Trabalho de Hércules – Morte do Leão de Nemeia. 3. VII Trabalho de Hércules – Subjugação do Touro de Creta. 4. Episódio do XII Trabalho de Hércules – Vitória sobre o gigante Anteu. 5. Fúria de Hércules contra Licas. Alegorias figurando um titã e cinco deuses olímpicos 6. Saturno num carro puxado por duas serpentes. 7. Vénus no seu carro puxado por duas pombas. 8. O Carro de Apolo puxado por dois cavalos brancos. 9. O de Mercúrio puxado por dois galos. 10. O Carro de Juno puxado por dois pavões. 11. O Carro de Marte puxado por cavalos brancos. Quatro figuras de deuses mitológicos Encarnando os quatro elementos vitais: 12. Fogo. 13. Água. 14. Terra. 15. Ar.

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Uma Apoteose de Mercúrio coroa a Escadaria Nobre, no centro da abóbada. O deus romano Mercúrio, mensageiro de Júpiter, protector dos comerciantes e dos viandantes, e personificação da eloquência e da razão, surge munido de chapéu de abas largas, provido de asas, e calçando sandálias. Mercúrio ampara com a mão esquerda, conjuntamente com o caduceu, uma figura juvenil (alma?), que pede silêncio, colocando o indicador direito sobre os lábios. Na dextra, Mercúrio exibe sobre a cabeça, um pomo de ouro (laranja), símbolo da riqueza e da prosperidade.

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Em segundo plano, à direita de Mercúrio, vislumbra-se um grupo de divindades olímpicas, atentas ao desempenho do seu mandatário entre os mortais.

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Trabalhos e vida de Hércules Convém relembrar que os Doze Trabalhos de Hércules são proezas que o herói, cognominado Alcides, executou ao serviço de seu primo Euristeu, rei de Tirinte, Micenas e Midea (Argólida), durante uma deambulação que durou 12 anos. I – Morte do Leão de Nemeia, de cuja pele passou a revestir-se, como escudo protector. II - Destruição da Hidra de Lerna, monstro detentor de 7 cabeças, que cuspia fogo. III - Captura da Corsa de Gerínia, extremamente veloz em virtude de possuir patas de bronze. IV – Caça de um gigantesco Javali selvagem que assolava o monte Erimanto. V - Limpeza num único dia das estrebarias do rei Augeas, atulhadas de estrume. VI - Extermínio das aves ferozes que habitavam o lago Estinfale e se alimentavam de carne humana. VII – Subjugação de um touro tresloucado, que amedrontava os habitantes da ilha de Creta. VIII – Extermínio das Éguas antropófagas do rei da Trácia. IX – Roubo do cinturão de ouro da rainha Hipólita, no país das amazonas. X - Captura dos bois selvagens do gigante Gerião, na ilha Eritréia. XI – Captura de Cérbero, cão detentor de três cabeças, guardião dos portões do inferno. XII - Roubo das maçãs douradas do Jardim das Hespérides, cuja custódia competia ao gigante Atlas. Na parede Norte, no primeiro patamar da escadaria, à esquerda de uma janela com vitrais, reproduzindo o brasão de 97

armas da família Quintela-Farrobo, o I Trabalho de Hércules (a luta que precede a morte do Leão de Nemeia) e, à direita dela, o VII Trabalho de Hércules (a domesticação do Touro de Creta); Na parede Sul, no segundo patamar da escadaria, ladeando a porta de acesso ao vestíbulo do primeiro andar, do lado direito, o combate que antecede o aniquilamento do Gigante Anteu (XII Trabalho de Hércules – As Maçãs de Ouro das Hespérides) e, do lado esquerdo, a fúria de Hércules contra Licas, seu arauto na guerra contra Ecália e companheiro de viagem, episódio que, praticamente, antecedeu o falecimento do herói. Estas provas são, geralmente, interpretadas como uma expiação pelo assassinato dos filhos que o herói, gerado por Alcmena e Anfitrião, tivera de Mégara (filha de Creonte, rei de Tebas). Comummente atribui-se a causa do massacre a um ataque de loucura causado por Hera (Juno, dos romanos), a qual pretendia obrigar Hércules a colocar-se ao serviço de Euristeu. Na verdade, o ciúme de Hera, esposa de Zeus, derivava da circunstância de o verdadeiro progenitor de Hércules não ser Anfitrião, mas Zeus, o qual para lograr possuir Alcmena assumira o aspecto do marido desta. Consumado o massacre, Hércules consultou a Pítia de Delfos, cujo oráculo lhe ordenou, entre outras prescrições, que, doravante, adoptasse o nome de Héracles (Hércules), isto é: “a Glória de Hera”, visto os trabalhos que se comprometia a realizar, ao longo de doze anos, ao serviço de seu primo Euristeu, se destinarem à glorificação da deusa, a qual, encolerizada pela traição de Zeus com Alcmena, havia provocado o nascimento prematuro de Euristeu e o atraso do de Hércules, garantindo ao primeiro o trono de Micenas. Em compensação pelo esforço (imerecidamente imposto a Hércules), Apolo e Atena (a Minerva dos romanos), concederlhe-iam a imortalidade 14. Cf. Pausanias, III, 17, 3; 18, 13; V, 10, 9; 25, 7; Diodoro Sículo, Biblioteca Histórica, IV, 10-27; Apolodoro, Biblioteca, II, 4, 12. 14

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I Trabalho de Hércules – Morte do Leão de Nemeia Gerado pelos monstros Ortro e Equidna e irmão da Esfinge de Tebas, o leão assolava Nemeia, sendo responsável por inúmeras devastações e mortes de humanos e animais. Os habitantes da região não haviam conseguido destruí-lo, visto a sua pele ser invulnerável a todo o género de armas. Inicialmente, Hércules alvejou-o com flechas, porém, sem qualquer resultado prático. Depois optou pela clava (maça). Tendo desferido forte pancada na cabeça da fera, conseguiu assustá-la, forçando-a a entrar na caverna de duas aberturas onde vivia, bloqueando, então, um desses acessos, encurralando-a e estrangulando-a. Segundo a tradição, uma vez morto o leão, Hércules esfolou-o, tendo para o efeito usado as garras do próprio animal (visto nem ferro, nem fogo terem qualquer efeito sobre ele), revestindo-se com a pele e adoptando a juba como elmo. No quadro alegórico que figura o combate que antecede a morte do Leão de Nemeia, observa-se Hércules empunhado a clava com a mão direita, pronto a desferir o golpe sobre a cabeça do felino, o qual se acha já imobilizado pelo herói, entre as pernas deste. O pé esquerdo de Alcides esmaga uma das patas dianteiras do leão e a mão esquerda agarra-lhe na juba, pressionando a sua cabeça contra o solo. Pressente-se a morte eminente da criatura, prestes a sufocar. No que concerne à indumentária do herói, ele reveste-se com o peplo ofertado por Minerva e não ainda com a pele do leão (o que sucederia doravante). A clava (talhada pelo próprio Hércules no tronco de uma oliveira brava) e o cinto da aljava destinado ao arco e às flechas (concedido por Apolo ou, segundo outras tradições, por Minerva) constituem os atributos do herói (não obstante, as suas armas variarem, consoante o adversário que defronta). 100

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VII Trabalho de Hércules – Subjugação do Touro de Creta A despeito de existirem distintas versões deste mito, a tradição geralmente aceite considera este touro um animal miraculoso, nascido do mar, no próprio dia em que Minos, rei de Creta, prometeu sacrificar a Poseídon (o Neptuno, dos romanos) o que quer que surgisse à tona da água. Deslumbrado com a beleza do touro, Minos misturou-o com os seus, tendo sacrificado a Poseidon um outro de menor importância. Em virtude de uma tal abominação, Poseidon castigou o rei de Creta, tresloucando o animal, o qual passou a percorrer continuamente a ilha, lançando fogo pelas narinas e destruindo tudo quanto lhe surgisse pela frente. Incumbido de capturar o animal vivo, Hércules solicitou ao rei Minos auxílio para levar a bom termo o seu empreendimento, no que não seria atendido. O herói acabaria por capturar sózinho o touro, conduzindo-o até à Grécia, onde o apresentou a Euristeu. Este consagrou o animal à deusa Hera, a qual, no entanto, não consentiu aceitar o presente, liberando o touro, que, depois de ter percorrido a Argólida, atravessou o istmo de Corinto, detendo-se na Ática. No fresco em apreço, o herói, envergando a veste confeccionada com a pele do Leão de Nemeia, agarra o bovino pelos cornos, tornando-se óbvio que este tenta resistir à força hercúlea. Junto da perna direita de Hércules encontra-se a clava, pousada verticalmente sobre o solo, exibindo ainda o cinto da aljava.

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Vitória de Hércules sobre o Gigante Anteu Episódio ocorrido no decurso do XII Trabalho de Hércules, que consistiu no roubo dos pomos, ou maçãs douradas do Jardim das Hespérides. O confronto com Anteu teve lugar na Líbia, quando o herói se dirigia para essa estância paradisíaca, sita no extremo Ocidente, junto ao monte Atlas. O adversário de Hércules foi, desta feita, um gigante, filho de Poseidon e de Geia, que tinha o costume de desafiar quem quer que encontrasse nos seus domínios, destinando os despojos dos vencidos ao templo do progenitor. O gigante Anteu era invulnerável desde que mantivesse contacto com sua mãe (isto é, com a terra). Hércules, dando-se conta dessa circunstância, soergueu-o do solo, sonegando-lhe o acesso à vitalidade que o tornava invencível. Munido dos seus atributos habituais: a clava (que se encontra sobre o solo entre os pés), o manto de pele de leão e o cinto da aljava, Hércules encontra-se iconografado no momento em que, mediante forte amplexo, impede o gigante de tocar a terra, da qual Anteu obtinha a sua força, sendo previsível a proximidade do seu colapso.

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Fúria de Hércules contra Licas Episódio que precede a morte de Alcides. Tendo empreendido uma expedição contra a cidade de Ecália (ora situada na Tessália, ora na Messénia, ora na Eubeia), o herói assassina o rei Êurito, bem assim como os filhos deste, porquanto Êurito havia recusado entregar o prémio ao vencedor do concurso de arco que instituíra, o qual consistia na concessão da mão de sua filha, Íole, ao arqueiro que conseguisse derrotá-lo, proeza alcançada por Hércules. Após tomar Íole como concubina e ter conquistado a cidade de Ecália, Hércules quis consagrar um altar a Zeus, em louvor da sua vitória sobre Êurito. Para o efeito, enviou Licas, companheiro de viagem e seu arauto nessa guerra, a Tráquis solicitar a Dejanira, esposa de Hércules, uma túnica nova. Ao ser informada por Licas, que Íole poderia suscitar no marido o esquecimento da sua existência, recordou-se de um filtro de amor (de facto, um poderoso veneno, preparado com o sangue e o esperma do centauro), oferecido por Nesso, ao morrer, tendo decidido utilizá-lo. No fito de, desse modo, recuperar o amor de Hércules, Dejanira embebeu uma túnica no filtro de Nesso, entregando-a a Licas. De nada suspeitando, Hércules envergou a túnica e preparou-se para sacrificar a Zeus. Todavia, à medida que a veste aquecia, em contacto com o seu corpo, o veneno que a impregnava começou a actuar violentamente sobre a pele do herói. A intensidade da dor terá sido tal que Hércules, enlouquecido, agarrou Licas por um pé e, fazendo-o rodopiar sobre a sua cabeça, lançou-o ao mar. Transformando-se em pedra, Licas terá dado origem às ilhas Lícades, isto é, às Ilhas das Conchas. Quanto a Hércules, a túnica aderira-lhe, completamente, ao corpo e cada vez que tentava desembaraçar-se dela arrancava pedaços de sua própria carne. Em sofrimento, havia de ser 106

transportado de barco até Tráquis. Uma vez ciente do ocorrido, Dejanira suicidar-se-ia. O herói, uma vez cumpridas as suas derradeiras disposições, subiu ao monte Eta, erigiu uma grande pira sobre a qual se preparou para a morte. Coube a Filoctetes atear o fogo. Porém, consoante uma das mais difundidas tradições, em virtude da imortalidade concedida por Apolo e Minerva, como recompensa pelo seu esforço, injustamente imposto, Hércules foi inesperadamente arrebatado ao céu, sobre uma nuvem. Na pintura alegórica, o herói não ostenta nenhum dos seus atributos característicos, à excepção da juba de leão, colocada sobre o ombro esquerdo. Nem tão pouco a túnica que enverga se acha colada ao corpo, o qual também não apresenta sinais das queimaduras, provocadas pela acção do poderoso veneno. Observa-se, tão-somente, Hércules, de semblante exasperado, agarrando Licas por um pé, prestes a arremessá-lo pelos ares. Na sua “circunstanciada descrição”, remetida a Sousa Viterbo, António Augusto Carvalho Monteiro, viu neste quadro do Palácio Quintela uma figuração da morte de Caco, episódio ocorrido no decurso do X Trabalho de Alcides (Vitória sobre Gérion). Não condiz, porém, a alegoria pintada com o mito, porquanto Caco foi ferido de morte pela clava de Hércules e não arremessado pelos ares como Licas.

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Alegorias figurando um titã e cinco deuses olímpicos

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Sobre a Morte do Leão de Nemeia, o Titã Saturno (deus do Tempo, mas também das Sementeiras e do Cultivo e Poda da Vinha, e não Geia, como alguém já sustentou), num carro puxado por duas serpentes aladas, segurando uma foice na mão direita e três espigas na esquerda.

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Sobre a Subjugação do Touro de Creta, a deusa olímpica Vénus (símbolo do Amor e da Beleza), num carro puxado por quatro pombas.

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Sobre a Vitória sobre o Gigante Anteu, a deusa olímpica capitolina Juno (tutelar do matrimónio e protectora das mulheres casadas), num carro puxado por dois pavões.

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Sobre a Fúria de Hércules contra Licas, o deus olímpico Mercúrio (mensageiro de Júpiter, deus do comércio, protector dos mercadores e dos viajantes), segurando o caduceu na mão esquerda, num carro puxado por dois galos.

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Na sobreporta, à direita de Juno, o deus olímpico Apolo (símbolo do Sol, deus da adivinhação, da beleza, da música e da poesia, que preside às artes das Musas, etc.), numa quadriga puxada por (quatro) cavalos.

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Na sobreporta, à esquerda de Mercúrio, Marte (deus da Guerra e não Diana como já foi afirmado), de elmo e escudo, empunhando a lança com a mão direita, numa biga puxada por (dois) cavalos.

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Os quatro Elementos

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Na parede Oeste: O Fogo, representado por Vulcano (deus desse elemento).

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O Ar, figurado por Júpiter (Senhor dos Deuses e deus do Céu, da luz divina, do raio e do trovão), acompanhado pela águia e segurando na mão direita alguns raios.

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Na parede Leste: A Terra, representada por Plutão (deus dos Mortos e protector da fecundidade do solo), segurando com a mão direita a madeira de cipreste, tendo a Humanidade (i. e., a Terra) a seus pés.

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A Água, figurada por Neptuno (deus do Mar), munido do seu tridente, que agarra com a mão direita, observando-se uma concha a seus pés.

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Cercaduras

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Os centros das cercaduras que se encontram sob as pinturas referentes a Hércules, são ocupados por putti com cornucópias, ou levando a clava do herói.

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VESTÍBULO Na continuidade da escadaria de aparato, o Vestíbulo do Palácio Quintela, enquanto divisão central e unificadora de todo o espaço do andar nobre da mansão (terceiro nível do edifício) e seu eixo vertical, eleva-se acima da cota da cobertura do telhado. De resto, as suas proporções e elevação originaram um comentário depreciativo a William Beckford, em 1787, porventura, também, por o modelo de vestíbulo central coberto por lanternim não constituir já uma solução comum na arquitectura áulica coetânea. Aparentemente octogonal, trata-se, com efeito, de um espaço de planta rectangular, com os cantos chanfrados. As respectivas paredes formam dois tramos sucessivos, separados por friso e cornija, servindo de arranque à cobertura sob a forma de um lanternim octogonal, em cujas faces se abrem janelas de perfil abatido, por intermédio das quais a luz natural penetra na divisão axial do palácio. A abóbada da cobertura é revestida por máscaras, festões e guirlandas de estuque, enquanto a cantaria do pavimento forma losangos de mármore branco e cinza. Dispostas em cruz, quatro portas, de perfil recto e molduras de cantaria de mármore cinza, organizam a circulação no piso nobre da moradia, conduzindo à Escadaria Nobre (Norte), à Capela (Sul), à Sala Romana (Oeste) e à Sala de Jantar (Leste). Nos ângulos em chanfro abrem-se quatro nichos semicirculares, com perfil em arco de volta-perfeita, decerto destinados a receber estátuas (Estações do Ano?), as quais não consta que tenham existido. Nos oitavos setentrional e meridional observam-se dois bustos emoldurados, eventualmente figurando os proprietários 129

e anfitriões, ambos trajando à romana: o 2º barão de Quintela (Norte), laureado, personificando Rómulo, e esposa, Mariana Carlota Lodi (Sul), com diadema cingindo-lhe o cabelo, personificando Hersília.

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Retrato de D. Mariana Carlota Lodi, trajando à romana (Sul), personificando Hersília, com diadema

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Retrato do 2º barão de Quintela, trajando à romana (Norte), personificando Rómulo, com coroa de louro 138

CAPELA Defronta a escadaria, no lado Sul do Vestíbulo do Palácio. Antes da instalação do IADE no edifício (1970), acedia-se a ela por porta que comunicava com essa espécie de átrio da moradia. Recebe luz por intermédio de janelas voltadas para o saguão. Do recheio primitivo da capela apenas subsistem duas pinturas a óleo, emolduradas por tondi e figurando as cabeças de Cristo e da Virgem, da autoria de António Manuel da Fonseca. Crê-se que o céu azul, estrelado, da abóbada remonte à campanha redecorativa de 1822, tal como as empresas fitomórficas do Patriarcado de Lisboa: Quasi oliva / Quasi palma.

Elenco iconográfico 1. Cabeça de Cristo 2. Cabeça da Virgem

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SALA ROMANA (ou das Sabinas)

Trata-se do Salão Nobre do Palácio Quintela. No que respeita à pintura parietal, justamente considerada por Sousa Viterbo a obra pictórica “mais valiosa e de mais amplas dimensões” de António Manuel da Fonseca, constitui um inequívoco tributo ao Vintismo de 1820-1822, enquanto representação e exaltação da História pátria. Ocupa por tal motivo posição destacada e axial no edifício (em contraponto ao intimismo familiar da Sala de Jantar). Com efeito, pintados, no ano de 1822, e restaurados por Fonseca, em 1878, os quadros a fresco e a claro-escuro da Sala Romana ou das Sabinas apresentam-se como a mais extensa e melhor elaborada obra de pintura histórico-mitológica realizada pelo artista. Têm como principal fonte de inspiração o Livro I, da Ab Urbe Condita, de Tito Lívio, não sendo de enjeitar a possibilidade de o pintor (e, eventualmente, o decorador Cinatti) ter compulsado duas outras obras, a despeito de as respectivas narrativas não se coadunarem com o programa iconográfico adoptado, a saber: Numa Pompílio, segundo Rei de Roma […] pelo estilo das Aventuras de Telémaco, de Monsieur de Florian (Lisboa, 1805) e O Roubo das Sabinas de Almeida Garrett (Porto, 1820). Os temas representados nos parietais, simulando tapeçarias, são fiéis ao relato de Lívio (especialmente desde I, 9, 2 até I, 13, 5), sendo observada a unidade de acção e respeitados os contextos espaço-temporais, tornando a composição clara, inteligível e fecunda de significado (expressão superlativa da doutrina da ut pictura poesis 15).

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Máxima de Horácio: “Da pintura como poesia”.

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A sua finalidade ou propósito iconográfico é a representação dos vários passos do estratagema concretizado por Rómulo e demais súbditos para lograrem mulheres, garantindo, desse modo, a continuidade do povo Romano. Rómulo encarna a figura do herói político, sábio condutor dos homens e líder incontestável, enquanto agente instituidor da Pátria. A Apoteose de Rómulo representa, assim, a consagração da pessoa e da obra do primeiro Rei de Roma, o Pai da Pátria, aludindo, igualmente, à sua deificação e consequente conversão no deus Quirino. Nesse conspecto, e tendo como referencial o horizonte político do Liberalismo Vintista de 1821-1822, ao qual se acha subjacente o conceito da res publica Romana, geratriz dos princípios do Estado e dos valores civilistas, a Apoteose de Rómulo poderá reportar-se a Dom João VI, o primeiro Monarca Constitucional português. Obstaculizando o Absolutismo, protagonizado por Carlota Joaquina e pelo Infante Dom Miguel, honrou o juramento prestado à Constituição de 1822 e soube harmonizar a sua conduta política (mais conservadora que liberal, mas, acima de tudo, condescendente) com as deliberações das Cortes, órgão supremo do sistema político Liberal. Não descarto, todavia, a assunção pelo(s) dono(s) da casa (personificando Rómulo e Hersília, como parece depreender-se dos seus retratos pintados no Vestíbulo da mansão) de tal papel providencial, A alegoria de Tarpeia (Carlota Joaquina) aponta no mesmo sentido: todo aquele que atentar contra o poder instituído, i. e., o Estado Liberal, deve ser apontado como traidor e inimigo da Pátria e, enquanto tal, rigorosamente julgado e punido em conformidade. Em Roma, a lenda deu mesmo origem, na vertente do Capitólio, a um local denominado Rocha Tarpeia onde eram castigados os perjuros e outros criminosos que atentavam contra a República. Se alguma hesitação remanescer quanto à concomitância de sentido do conteúdo pictórico desta sala com o do ambiente 146

político coevo da sua realização, recordarei que o artifício narrativo utilizado por António Manuel da Fonseca, que consistiu em inserir o próprio pintor (e, do mesmo modo, os anfitriões e o arquitecto Hilbrath) no âmago da acção, transporta, automaticamente, o objecto figurado para o tempo do artista, conferindo-lhe a actualidade desejada.

Elenco iconográfico Lenda de Rómulo e Remo 1. Apoteose de Rómulo (no centro da abóbada) 2. Lenda da Loba amamentando Rómulo e Remo (tecto) 3. Acca Larentia, acompanhada pelo cônjuge, o pastor Faustulo, e pelos dois gémeos (tecto) Os Jogos romanos a que os Sabinos são atraídos 4. O Rapto das Sabinas 5. A Guerra entre os Sabinos e os Romanos 6. A Paz do Lácio Retratos trajando à romana do arquitecto e do pintor 7. Retrato do arquitecto João Baptista Hilbrath que dirigiu as obras do Palácio 8. Auto-retrato de António Manuel da Fonseca 9. Paisagens do Lácio

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Rómulo, o herói político, o líder incontestável, sábio condutor dos homens e da Pátria, protagoniza o programa iconográfico da Sala Romana. Com efeito, a pintura a fresco que ocupa o centro da abóbada consagra a pessoa e a obra do primeiro Rei de Roma, o Pai da Pátria, aludindo, igualmente, à sua deificação e conversão no deus Quirino, ocorridas durante uma terrível tempestade, concomitante com um eclipse do Sol, conforme a versão mais difundida do mito.

Rómulo é figurado coroado, sobre as nuvens, com os braços abertos, em sinal da protecção concedida à cidade de Roma, bem como a todos os cidadãos romanos.

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Na cercadura do tecto, acima da sanca, observam-se dois medalhões a claro-escuro, claramente associados à Apoteose de Rómulo, figurando: A Loba amamentando Rómulo e Remo (medalhão a claro-escuro, sobre a janela central da parede poente)

De acordo com a versão mais difundida do mito, os gémeos Rómulo e Remo são filhos de Marte e de Reia Sílvia, cujo progenitor é Numitor, rei de Alba. A mãe deles era sacerdotisa de Vesta, tendo sido seduzida por Marte, no bosque sagrado onde fora buscar água para um sacrifício. Enquanto servidora de Vesta, Reia Sílvia achava-se obrigada a cumprir um celibato de 30 anos, período durante o qual lhe era interdito tornar-se mãe. A despeito da interdição, Reia Sílvia concebeu dois rapazes, Rómulo e Remo, os quais 150

haviam de ser abandonados, em consequência da irrefreável sede de poder de Amúlio, tio de Reia Sílvia, irmão de seu pai Numitor, filho mais velho de Proca e legítimo sucessor da dinastia dos Eneiades. Quando percebeu que Reia Sílvia estava grávida encarcerou-a e, logo que as crianças nasceram, Amúlio ordenou que fossem expostas nas margens do Tibre, para serem devoradas pelos animais selvagens. Ao invés do que era seu desejo, os meninos foram adoptados por uma loba, animal consagrado ao deus da Guerra, expressamente enviada pelo olímpico para que protegesse e alimentasse seus filhos. Acca Larentia, acompanhada pelo marido Fáustulo, amamenta os gémeos Rómulo e Remo (medalhão a claro-escuro, sobre a porta de entrada da sala)

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Ulteriormente, as crianças seriam encontradas pelo pastor Fáustulo que as conduziu para casa, entregando-as a sua mulher Acca Larentia, para que as criasse. A juventude de Rómulo e de Remo foi vivida entre pastores e salteadores. No decurso de uma acção de banditismo, Remo seria aprisionado. Rómulo, ausente durante o incidente, e informado por Fáustulo, do segredo do nascimento de ambos, entrou na cidade de Alba, à cabeça de um grupo de jovens, invadiu o palácio de Amúlio, deu-se a conhecer, assassinou o rei, libertou o irmão e, em seguida, entregou o trono ao avô, Numitor, seu legítimo ocupante. Os dois gémeos decidem, então, fundar uma cidade. Consultam os presságios para determinarem o local exacto onde erguê-la. Rómulo instala-se no Palatino e Remo no Aventino, sendo os augúrios favoráveis a Rómulo (este viu 12 abutres sobrevoando a colina do Palatino, ao passo que Remo só avistou 6 dessas aves). Rómulo traça a extrema da sua cidade, um rego aberto por uma charrua atrelada a uma junta de bois. Remo, decepcionado pelo desfavor dos deuses, zomba de tão frágil protecção, facilmente ultrapassável, saltando sobre o rego para o interior do perímetro consagrado pelo irmão. Exasperado com o sacrilégio, Rómulo, trespassa Remo com a espada, matando-o 16. Um fratricídio manchou os primórdios de Roma, futura rainha das cidades. O Império Romano, o maior do mundo Ocidental, exigiu um sacrifício ao seu primeiro Rei: a vida do próprio irmão, Remo. Uma vez Roma fundada e cercada por muralhas, edificadas “mais na esperança da população futura do que para o número de habitantes que então possuía”, Rómulo, intentando aumentar a reduzida população, decidiu criar no Capitólio, entre dois bosques sagrados, um local de asilo, “atraindo a si uma população de proveniência obscura e de 16

Títo Lívio, Ab Vrbe Condita, I, 4, 2 – I, 7, 3.

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baixa condição” 17, nomeadamente foragidos, degredados, devedores insolventes, assassinos e até escravos foragidos, “dizendo [depois] que aquela prole lhes tinha nascido da terra” 18. Desta laia de gente foi constituído o núcleo primitivo da população de Roma, a qual se revelava “suficientemente forte para se igualar na guerra a qualquer um dos povos limítrofes” 19. Porém, o estatuto entretanto alcançado corria o perigo de não durar mais de uma geração, em virtude da inexistência de mulheres. Deste passo, doravante, as cenas iconografadas na Sala Romana ou das Sabinas são minuciosamente decalcadas da narrativa de Tito Lívio.

Embaixada dos Romanos ao povo Sabino

Lívio, ob. cit., I, 4, 2 – I, 8, 4. Idem, I, 4, 2 – I, 8, 5. 19 Ibidem. 17 18

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Rómulo decide enviar embaixadores aos povos vizinhos, a fim de propor alianças político-militares e matrimoniais. Nenhum dos povos vizinhos acede a tais expedientes diplomáticos, uns desprezando os Romanos, em consequência da sua baixa condição, outros por temerem o seu crescente ascendente 20.

Os Consuais e o Rapto das Sabinas

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Ob. cit., I, 9, 2-5.

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Os jogos a que os Sabinos são atraídos Neste fresco representam-se os Consuais (jogos dedicados a Neptuno equestre), intra-muros de Roma. Observam-se as bigas e os cavalos utilizados nos jogos, a coluna encimada pela estátua de Neptuno, empunhando o tridente (seu atributo). O rei Rómulo faz o sinal, previamente combinado, que desencadeará o rapto. 155

O Rapto dos Sabinas

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Ressentidos, os Romanos tratam de organizar os Consuais, jogos solenes em honra de Neptuno Equestre, para os quais endereçam convites aos povos vizinhos. São inúmeros os que acorrem, curiosos, para conhecerem a nova cidade, entre eles “todo o povo dos Sabinos, com os filhos e esposas”. A cena decorre intramuros de Roma. Abertos os jogos e achando-se todos concentrados neles, a um sinal, previamente combinado, do rei Rómulo os jovens romanos raptam as Sabinas. Incrédulos com a traição perpetrada pelos Romanos, os Sabinos fogem, desordenadamente. Rómulo justifica às Sabinas, a razão da acção dos seus com a soberba demonstrada pelos respectivos pais, negando aos Romanos o direito de com elas se consorciarem. As Sabinas, depois de ultrapassada a repulsa inicial, cedem às palavras e aos afectos dos Romanos 21. Após três combates vitoriosos contra os Ceninenses, os Crustuminos e os Antemnates, também atraídos a Roma e traídos pelos romanos, segue-se o confronto decisivo com os Sabinos, uma vez mais, baseado num ardil traiçoeiro 22. Um dia em que a jovem Tarpeia, filha do comandante da cidadela de Roma, Espúrio Tarpeio, havia saído da cidade com o objectivo de recolher água destinada a umas cerimónias religiosas, foi abordada por Tácio, rei dos Sabinos, que lhe ofereceu ouro. Cedendo ao suborno dos Sabinos, permitiu a entrada furtiva destes na cidade. Assim que os soldados Sabinos penetraram na cidadela de Roma, a jovem Tarpeia, que aceitara ser recompensada com “aquilo que traziam nas mãos esquerdas” (os Sabinos usavam braceletes de ouro e anéis de pedras preciosas nos braços e mãos esquerdas), foi morta, esmagada pelos escudos que, com efeito, eram manobrados, pela mão e pelo braço esquerdos 23 Ob. cit., I, 9, 7-16. Idem, I, 10, 2 a I, 11, 6. 23 Ibidem, I, 11, 6-9. 21

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Traição de Tarpeia. Um soldado Sabino entrega com a mão esquerda o valor do suborno exigido pela traidora para abrir furtivamente uma das portas da cidade

Os Sabinos apoderaram-se de Roma, não obstante a resistência dos Romanos. As mulheres Sabinas, lideradas pela esposa de Rómulo, Hersília, abominando a guerra a que haviam dado origem, intervêm tentando dissuadir os beligerantes de prosseguir o confronto. Tito Lívio deixa transparecer a aplicação das Sabinas: “com os cabelos em desalinho e as vestes rasgadas, vencendo na presente desgraça o pânico próprio das mulheres, ousaram, arrojar-se entre os dardos que voavam de toda a parte e, lançando-se do flanco, separar as linhas inimigas, separar as cóleras. De um lado imploram aos pais, do outro aos maridos, que não se sujassem sacrilegamente com o sangue do sogro, com o sangue do genro, que não maculassem com o parricídio os seus rebentos, descendência deles, netos de uns, filhos de outros. Se vos desagrada o parentesco entre vós, se vos 158

desagrada o nosso casamento, voltai a vossa cólera para nós, a causa dos ferimentos e da morte para os nossos maridos, para os nossos pais. Será para nós melhor morrermos do que vivermos, viúvas ou órfãs, sem um de vós” 24.

Os Sabinos conquistam Roma e Súplica das Sabinas

As súplicas das mulheres Sabinas comovem os governantes dos dois povos, os quais, celebram um pacto que trará a Paz ao Lácio 25. 24 25

Ob- cit., I, 12, 1 a I, 13, 3. Idem, I, 13, 4-5.

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Os Sabinos conquistam Roma

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Súplica das Sabinas

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Pacto firmado entre Romanos e Sabinos, conhecido como A Paz do Lácio, tendo por fundo a Rocha Tarpeia, alusiva à traição castigada de todos quantos atentam contra o poder legitimamente instituído.

O programa decorativo da Sala Romana ou das Sabinas comporta ainda dois retratos a fresco, figurando o pintor António Manuel da Fonseca e o arquitecto João Baptista Hilbrath, ambos iconografados como cidadãos romanos.

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Auto-retrato de António Manuel da Fonseca Na parede entre a janela poente e a porta do lado Norte, observa-se o pintor, com cerca de 26 anos, representado de corpo inteiro, envergando vestes romanas, calçando sandálias, segurando com a mão direita uma folha de papel com desenhos, sobre um estirador, eventualmente, o projecto das pinturas a realizar no palácio, apontando com a mão esquerda para esse plano. No plinto onde assenta o estirador com a dita folha de papel, lê-se a seguinte inscrição: Antonius Em/manuel Fonce/ca, Pictor Lusi/tanus. Anno 1822. E a seguir, numa inscrição posterior: Forão restauradas estas / pinturas em 1878, pelo mes/mo autor, tendo d’idade/81 annos. Em baixo, junto à base, encontra-se o torso de uma estátua partida, bem como os instrumentos da arte pictórica, a paleta e os pincéis, estes sobre o pé esquerdo do artista.

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Retrato de João Baptista Hilbrath Na parede entre a janela poente e a porta do lado Sul, observa-se o arquitecto responsável pela campanha de remodelação de 1822, figurado de corpo inteiro, jovem e vestido à romana, calçando sandálias. Junto à sua perna direita, sobre parte do fuste de uma coluna truncada, a seguinte inscrição: Joannes / Baptista / Hilbrath, / Architectus Ro/manus. O arquitecto apoia a mão esquerda num esquadro, atributo distintivo do seu ofício.

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No lambrim (roda-cadeiras) que envolve toda a dependência, sob as composições principais, também pintadas a fresco, acham-se representadas as panóplias e os despojos da guerra que opôs Romanos e Sabinos.

Teoria de panóplias e despojos de guerra, no lambrim da Sala Romana

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A decoração da Sala Romana é completada com cinco pinturas de diversas paisagens do Lácio, nas paredes entre as janelas e nas sobre-janelas.

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SALA DE JANTAR Dependência voltada a nascente, oposta e simétrica à Sala Romana. Pintados por António Manuel da Fonseca, no ano de 1822 e restaurados pelo mesmo, em 1877, o propósito dos quadros parietais a fresco desta sala é constituírem uma ode à liberdade e à prosperidade ordeiras, amplamente expressas no respectivo programa iconográfico.

O pintor deixou exaradas as datas da obra original e do respectivo restauro: “Ant[óni]o M[anu]el da Fon[se]ca Pinct[ou] / Reformada pelo mesmo autor em 1877”

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Os painéis que preenchem as paredes, separados por pilastras de falso mármore, representam cenas de ócio idílico, as quais alternam com actividades campestres e rústicas.

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Coroando a abóbada, a Apoteose de Hebe, Deusa da Eterna Juventude e Escançona dos Deuses, a quem servia o néctar durante os banquetes. Nas sobreportas, voltadas aos pontos cardeais, as 4 Horas: Eunomia (disciplina), Dike (justiça) e Irene (paz), correspondentes latinas das Ores gregas: Talo, Auxo e Carpo (nascer, crescer e frutificar, respectivamente), e Hersília, esposa divinizada de Rómulo.

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Elenco iconográfico 1. Apoteose de Hebe Montada numa grande Águia, i. e., Júpiter, tem junto a si um Cupido, transportando uma cesta com frutos

As Horas ou Estaçõese Hersília divinizada 2. Eunomia (disciplina), 3. Dike (justiça) e 4. Irene (paz), correspondentes latinas das Ores gregas: Talo, Auxo e Carpo (nascer, crescer e frutificar) e 5. Hersília Cenas rústicas e vista de São Pedro de Roma 6. A Basílica de São Pedro e o Palácio do Vaticano 7. Cena de vindima 8. Cena de dança, junto a um aqueduto arruinado 9. Cena onde figura uma camponesa junto a uma fonte enchendo um cântaro 10. Cena com camponesa sentada, tirando cacho de uvas de um cabaz e entregando-o a uma criança 11. Cena idílica entre uma camponesa e um guarda campestre encostado à espingarda

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Segundo Hesíodo (Teogonia, 950-955), Hebe era filha de Júpiter e de Juno, ou apenas de Juno, consoante outras versões, após esta ter comido muita alface num banquete para a qual foi convidada por Apolo. Na Grécia, o seu culto andou, frequentemente, associado ao de Juno e ao de Hércules, tendo sido oferecida em casamento ao herói, depois da apoteose deste. No fresco da abóbada, surge iconografada como Escançona de Júpiter (a águia que monta), ostentando por esse motivo o cântaro (enocoe) de néctar, a bebida dilecta dos deuses. Útil à decifração deste conjunto é, ainda, a circunstância de, em Roma, esta divindade ter adquirido explícita conotação política, uma vez que encarnava o Estado em constante renovação.

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Montada numa grande Águia, i. e., Júpiter, tem junto a si um Cupido, transportando uma cesta com frutos. O lustre que ilumina a sala recebe-a, directamente de Júpiter, Pai dos deuses, porquanto pende do seu bico.

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Primitivamente, à imagem e semelhança das Ores gregas (Talo, Auxo e Carpo, respectivamente: nascer, crescer e frutificar), as Horas, ou Estações latinas, eram apenas três: Eunomia (disciplina, ou bom governo), Dike (justiça, ou direito) e Irene (paz), constituindo extensões dos atributos da progenitora, Témis (Justiça), a qual as concebeu de Júpiter 26. Porteiras do Olimpo e serventes de Juno, presidiam ao ciclo da vegetação, assegurando a estabilidade social. Por esclarecer fica a identidade da quarta porteira que ocupa a sobreporta nascente. É minha convicção que só uma personagem tem o perfil susceptível de se enquadrar na narrativa iconografada: Hersília, esposa de Rómulo. E isto porque, segundo Ovídio 27, Hersília partilhou a sorte gloriosa do cônjuge, Rómulo, no Olimpo, sendo divinizada como ele, justamente por intercessão de Juno, deusa protectora do casamento 28. Com efeito, tal como o fundador de Roma, que passou a denominar-se Quirino, após tornar-se divino, a Hersília foi atribuído o nome de Hora, ou Estação, ao mudar de condição. Decorre do exposto não se poder considerar consentânea, nem com o tema central, nem com a semântica do programa pictórico, globalmente entendido, a identificação iconográfica consignada na “circunstanciada descrição” da pintura parietal do Palácio Quintela, fornecida por António Augusto de Carvalho Monteiro a Sousa Viterbo, por este transcrita na Notícia de Algumas fontes clássicas referem um total de nove Horas, guardiãs da ordem natural, do ciclo anual de crescimento da vegetação e das estações do ano, a saber: Talo, Carpo, Auxo, Acme, Anatole, Dice, Diceia, Eupória e Gimnásia. Segundo outras, Clóris, deusa da Primavera, era também uma das Horas. 27 Cf. Metamorfoses XIV, 829-851. 28 Não existe unanimidade quanto a isto, entre os autores clássicos. Cf. Macróbio, Saturnalia, I, 6, 16; Plutarco, Vida de Rómulo, 14, 7-8 e 18, 6; Dionísio de Halicarnasso, Antiguidades romanas, III, 1, 1-3; Tito Lívio, Ab Urbe condita libri, I, 11; Eutrópio, Breviarium ab Urbe condita, I, 2. 26

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alguns pintores portugueses (Lisboa, 1903, p. 69-73), segundo a qual as quatro sobre-portas da Sala de Jantar, “representam Leda deitada em diversas posições, oferecendo néctar a Júpiter transformado em cisne branco de asas levantadas, que se reproduz dois a dois em cada vão, formando como que os ornatos superiores das ombreiras das portas”.

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Fresco sobre a porta Sul

Fresco sobre a porta poente (que comunica com o Vestíbulo)

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Fresco sobre a porta Norte

Hersília, fresco sobre a porta nascente, contigua ao jardim

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A Basílica de São Pedro e o Palácio do Vaticano

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Cena de vindima

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Cena de dança, junto a um aqueduto arruinado

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Camponesa junto a fonte, enchendo um cântaro No espaldar da fonte vê-se a assinatura de António Manuel da Fonseca

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Camponesa sentada, tirando cacho de uvas de um cabaz e entregando-o a uma criança D. Maria da Nazaré Monteiro Almeida, 8.ª Marquesa de Pombal e o filho Manuel Sebastião, num dos murais da Sala de Jantar, reintegrado, em 1944, pelo pintor Domingos Maria Costa

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Cena idílica entre uma camponesa e um guarda Campestre, apoiado na espingarda

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SALÃO DE BAILE No plano primitivo do Palácio, esta dependência, hoje denominada Salão de Baile, correspondia a duas: a Sala Camoniana (sala I) e o Gabinete contíguo, situado entre esta e a designada Sala Árabe (sala II), antes um quarto de dormir, onde Francisco Augusto Mendes Monteiro, pai de António Augusto Carvalho Monteiro, terá falecido, no ano de 1890. Foram as obras promovidas por Augusto Ataíde CorteReal Soares de Albergaria, na qualidade de arrendatário do imóvel, no período compreendido entre 1936 e 1949, que as transformou nas duas áreas contíguas ora existentes, no centro de cujos tectos estucados se observam duas pinturas a fresco: O Concílio dos Deuses de Cirilo Volkmar Machado e a Apoteose de Minerva, vestida de Palas, com Cupido, de António Manuel da Fonseca. Tais obras, alegadamente destinadas à recuperação do edifício, terão destruído os três medalhões a grisalho, actualmente perdidos, dos lambrins Norte, nascente e Sul, figurando outros tantos episódios de Os Lusíadas, pintados por João Thomaz da Fonseca e seu filho António Manuel da Fonseca. Nesta divisão da moradia, presume-se, tenha estado instalada a famosa Camoniana de António Augusto Carvalho Monteiro, constituída por impressos, manuscritos e iconografia, com destaque para o primeiro retrato de Camões, tirado do natural pelo pintor Fernão Gomes. Não admira, portanto, que o colecionador a considerasse a mais importante da casa (cf. Circunstanciada Descrição). A biblioteca Camoniana (os demais núcleos ocupariam outras dependências do Palácio) encontrava-se distribuída por dez estantes, saídas das mãos de marceneiros holandeses a quem haviam sido expressamente encomendadas e que 187

importaram em 600 contos (desconhecendo-se o seu paradeiro actual). Crê-se que os referidos móveis se achavam organizados em cinco blocos, (costas com costas) equidistantes das paredes e entre si, dispostos perpendicularmente às janelas que abrem para poente. Bernardino Domingos Madeira, além de secretário particular de Carvalho Monteiro, desempenhava as funções de seu bibliotecário privativo 29.

Um dos três lambris de onde desapareceram as grisailles pintadas por João Tomás da Fonseca e seu filho, António Manuel da Fonseca

cf. Maurice L. Ettinghausen, Rare Books and Royal Collectores, Nova Iorque, 1966, p. 95-99 [DCL: Z989.E88 A3]. 29

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Elenco iconográfico No Salão de Baile (Sala I): 1. O Concílio dos Deuses

(no centro da abóbada)

2. Grotesco (duplicado na abóbada, a nascente e a poente, circunscrito por moldura em estuque) No lambrim ou roda-cadeiras, três medalhões a grisalho (destruídos depois de 1936): 3. Audiência do Rei de Melinde 4. Desembarque em Calecute 5. Ilha dos Amores Nas ombreiras e bandeiras das janelas que deitam para a Rua do Alecrim: 6. Grotescos No Gabinete do lado Sul (Sala II): 7. Apoteose de Minerva, vestida de Palas, com Cupido

(no centro da abóbada)

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Grotesco duplicado na abóbada Sustentado pela serpente de bronze de Moisés, o dragão alado timbre das armas nacionais, um elefante asiático é conduzido por dois naires. Símbolo do poder dominador, o paquiderme, figura dos triunfos régios Portugueses, sustenta no dorso um vaso do qual brotam os dons de Deus, concedidos à humanidade por intermédio do monarca justo (Pai da Pátria).

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Sala I O Concílio dos Deuses Em 1923, ainda eram observáveis assuntos de Os Lusíadas, no lambrim (roda-cadeiras): três medalhões a grisalho, em cuja realização participaram João Tomás da Fonseca e seu filho, António Manuel da Fonseca. Representavam esses três medalhões: Audiência do Rei de Melinde; Desembarque em Calecute; Ilha dos Amores. No tecto da sala, pintou Cirilo Volkmar Machado, O Concílio dos Deuses, tal como descrito por Camões, no Canto I do seu poema épico. Tal pintura é pelo próprio Volkmar Machado mencionada, a p. 306, da obra póstuma: Collecção de Memorias, relativas ás vidas dos Pintores, e Escultores, Architectos, e Gravadores Portugueses, e dos Estrangeiros, que estiverão em Portugal, recolhidas, e ordenadas por Cyrillo Volkmar Machado, Pintor ao Serviço de S. Magestade, o Senhor D. João VI (Lisboa, 1823): “Em um dos tectos do Quintela figurei, entre muitas, e várias composições, o Concílio dos Deuses de Camões sobre o Império dos Portugueses na Ásia: o instante que escolhi foi o do fim do Concílio. Enquanto os outros Deuses se vão retirando Vénus de joelhos agradece ao seu Omnipotente Pai o favor que quer fazer aos Lusitanos, e recebe dele um beijo tão expressivo como o que o mesmo Jove deu no Cupido, pintado pelo insigne Rafael no Palácio de Farnese. Baco cheio de furor, apertando a barba com a mão faz uma despedida ameaçadora, e o travesso 191

filho da Deusa para mais o irritar movendo circularmente a mãozinha direita sobre a esquerda lhe diz que há-de remoer.”

Anfitrite empunhando a bandeira das Quinas

Uma das 8 estampas da obra intitulada De Portugal á India - A Viagem de Vasco da Gama - Trechos que mais se prendem com o assumpto, tirados do poema de Luiz de 192

Camões «Os Lusiadas» acompanhados de versões em hespanhol, italiano, frances, allemão e inglez e coligidos por Ernesto Moreira de Sá (Lisboa 1898), reproduz o Concílio dos Deuses, em fototípia: “Sobre nuvens, preeminente no plano superior, o poderoso Júpiter, o Padre sublime e di[g]no, que se compraz em acolher benévola e carinhosamente a lindíssima Vénus «afeiçoada à gente lusitana», - Vénus, empenhada em proteger os «fortes Portugueses» que intentam levar a cabo a conquista do Oriente, e nesse propósito secundada por Marte, o do elmo diamantino, - ao passo que o despeitado Baco, mais despeitado talvez pelo gesto motejador e travesso com que lhe faz graciosamente surriada o malicioso Cupido, mostra na fisionomia ruminar astúcias e maquinações contra os da «gente fortíssima» que na Índia ameaçam fazer-lhe imurchecer os louros por ele antigamente colhidos. Ladeando Júpiter, e mal disfarçando os altivos ciúmes que lhe causa a formosura da sua mimosa rival, aparece a figura imperial da soberaníssima Juno, entanto que à direita surge Minerva semi-atónita e, nesse mesmo sentimento de assombro, denunciando-se tacitamente vencida perante a deusa do amor. Seguem-se na parte média do painel as nobres e simpáticas personalidades de Apolo e Diana; depois, o vulto sombrio de Vulcano; depois, em continuação para o plano inferior, destacam-se Hércules com a inseparável clava, Neptuno com o seu tridente, a ingénua Anfitrite empunhando na dextra a Bandeira das Quinas, e alfim a elegância juvenil de Mercúrio “que excede em ligeireza ao vento leve e à seta bem talhada”. No plano ínfimo da composição, e ocupando o ângulo direito (omitida na fototípia), debuxou o pintor, sotoposta ao vulto amorável de Anfitrite, a figura grotesca de Tritão; no ângulo esquerdo, ao longe, em uma nesga do Oceano, avistam-se as naus do Gama vogando alterosas no desejado alcance do seu glorioso empreendimento”.

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Grotescos pintados por António Manuel da Fonseca nas ombreiras e bandeiras das janelas que abrem para a Rua do Alecrim.

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Sala II Apoteose de Minerva, vestida de Palas

No quadro a fresco destinado ao centro da abóbada da saleta contígua à Sala Camoniana (primitivamente, porventura um recanto de repouso e de reflexão), observa-se uma Apoteose da deusa Minerva vestida de Palas [o seu epíteto guerreiro], sentada sobre nuvens e ostentando os seus atributos convencionais. Filha de Júpiter (Senhor dos Deuses) e de Métis (Deusa da Sabedoria), Minerva brotou da cabeça do pai completamente armada. Identificada com a Palas Atena (dos gregos), Minerva integra a Tríade Capitolina, onde figura ao lado de Júpiter e de Juno, presidindo às artes e às letras, assim como aos ofícios domésticos, sendo apontada como divindade guerreira (a quem é creditada a invenção da quadriga e do carro de guerra) e deusa da Sageza. Regra geral, a sua iconografia apresenta-a armada com a lança, o capacete (ornado com plumas), a couraça (que lhe protege o tronco) e o escudo redondo (no qual fixara a cabeça de Medusa). À direita de Minerva, uma alma 30 exibe uma coruja, atributo da sabedoria, à qual aspira, enquanto Palas se assume como protectora e tutelar da Nação (de Portugal), uma vez que ostenta na mão esquerda duas coroas de oliveira (e não de louro, ou teixo), justamente o símbolo da paz concertada entre duas facções políticas antagónicas: os liberais e os absolutistas 31. As suas asas arredondadas, diferem das típicas de Cupido, ou até da generalidade das entidades da Hierarquia celeste, por regra triangulares. Cf. Manuel J. Gandra, O Anjo da Saudade: da hierarquia celeste e do custódio de Portugal, Mafra, 2013, p. 59-60. 31 Assevera Cândido Lusitano que “os gregos só de oliveira coroavam a Júpiter, para o representar sumamente bom e perfeito”, acrescentando que só se dava a algum humano, 30

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O Vintismo não se baseou em acções militares heróicas, mas sobretudo na sagacidade e clarividência de uns quantos dos seus dirigentes políticos. O que visavam era, enfim, a pacificação nacional sob um regime político, social, económico e cultural mais justo e fraterno, onde todos os cidadãos, quer fossem liberais, ou absolutistas, se revissem como vencedores.

Duas Coroas de oliveira empunhadas por Minerva

Nesse sentido, a Apoteose de Minerva deve ser entendida como uma proclamação em prol da desejável manutenção da Paz nacional, a qual pautada, entre 1820-1822 (e nos anos subsequentes), por tensões, conflitos e conspirações se tornou, progressivamente, mais ténue e periclitante, pressagiando o seu inevitável corolário, a guerra civil. “que sem se achar em batalhas, conseguia por obséquio a glória do triunfo”. Cf. Cândido Lusitano, Dicionário Poético, v. 1, Lisboa, 1765, p. 267-268 e 183, respectivamente.

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Intervenção recente de uma brigada do Instituto Ricardo Espírito Santo, constatou que a grega que emoldurava o fresco de Minerva, fora substituída (decerto por iniciativa de Augusto de Ataíde) por uma moldura com florões dourados

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GABINETE DE VESTIR (Saleta sobre o terraço) Na saleta sobre o terraço, observam-se, nas palavras do próprio pintor, António Manuel da Fonseca, “cenas de lavores estéticos femininos”. Já de acordo com a “circunstanciada descrição” de António Augusto Carvalho Monteiro, transcrita por Sousa Viterbo (1903), nesta saleta acha-se representado “um boudoir, em cujas paredes se mostram seis raparigas, serviçais talvez, por entre umas colunatas encimadas de cariátides apresentando vários adornos de toilette: uma caixa com escovas para o cabelo, fitas, plumas, leques, colares, jóias, etc. As sobre-portas têm pintadas sobre bambinelas a azul e branco, no estilo Império, grinaldas de rosas e emblemas amorosos e uma pira em frente da janela”. Na abóbada, esvoaçam cinco aves, levando no bico fitas coloridas, gravadas com a mensagem SAUDADE ETERNA.

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Pelo espelho “mágico” da Sala de Vestir, de facto, uma porta de correr, disfarçada, acedia-se, outrora, ao cofre forte da mansão

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VARIEDADES *Variedades, in O Progresso (25 Mar. 1855), p. 5 VITERBO, Sousa *Notícia de alguns pintores portugueses e de outros que, sendo estrangeiros, exerceram a sua arte em Portugal, s. 1, Lisboa, 1903, p. 68-77 *Notícia de alguns pintores portugueses e de outros que, sendo estrangeiros, exerceram a sua arte em Portugal, s. 3, Coimbra, 1911, p. 77-81 VITORINO, Pedro *O pintor Fonseca e o Barão de Quintela, in Feira da Ladra, t. 7, n.º 3 (1936), p. 87-88

António Augusto Carvalho Monteiro (AACM) ANÓNIMO *Uma Grande Figura que desaparece – o Dr. António Augusto de Carvalho Monteiro, in Illustração Portuguesa, s. 2, n. 768 (8 Nov. 1920) VELLOSO, Rodrigo *Galeria de Bibliofilos II. Dr. António Augusto de Carvalho Monteiro, Lisboa, 1913 [Trata-se de uma brochura inventariada com o n. 440 no The Portuguese Pamphlets – Microfilm 82/5800 MicRR: introduction and comprehensive guide to Contents, Library of Congress, 1983]

Biblioteca de AACM AMZALAK, M. B. (ed.) *Correspondência de El-Rei D. Manuel II com o Dr. Maurice L. Ettinghausen sobre os “os Livros Antigos Portugueses”, Lisboa, 1957 ANÓNIMO [?] *Uma preciosa colecção camoniana adquirida pelo município em 1980, in Revista Municipal de Lisboa, s. 2, n. 2 (1982) BORRÕES, Gualdino *Inventário da Biblioteca de D. Manuel II: manuscritos e impressos, Lisboa, 1982 CAMPBELL, Miss *Portuguese Collection: Accessions list of the portuguese Collection acquired from Maggs bros. 1928 (Coll. Od Olivaes e Penha Longa), Washington, 1929 [DCL: Z2739.U58 (Rare Book Coll.); Z2739.U58 xcopy (Hispanic Division)] CARVALHO, Joaquim de (selecção e apresentação) *Livros de D. Manuel II - Manuscritos, incunábulos, edições quinhentistas, camoniana e estudos de consulta bibliográfica, Coimbra, 1950

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ETTINGHAUSEN, Maurice L. *Rare Books and Royal Collectores, Nova Iorque, 1966, p. 95-99 [DCL: Z989.E88 A3] Além da descrição da Quinta da Regaleira, cuja aquisição teria sido proposta a Mr. Hearst (?), refere a sua participação, em 1926-1927, na aquisição da biblioteca de Carvalho Monteiro. O destinatário primitivo dela terá sido D. Manuel II, exilado em Inglaterra, em 1926, tendo andado extraviado no porto de Southampton, um dos quatro contentores da encomenda, cujo conteúdo havia de ser recuperado mediante o pagamento de uma recompensa no valor de 100 libras. Aponta ainda Bernardino Domingos Madeira como bibliotecário e secretário particular de Carvalho Monteiro. GANDRA, Manuel J. *António Augusto Carvalho Monteiro – Vida, Imaginário e Legado: Sebástica na Biblioteca do Congresso, Mafra, 2011 [relatório entregue à Fundação CulturSintra (aguarda publicação)] *António Augusto Carvalho Monteiro – Vida, Imaginário e Legado: Templarismo na Biblioteca do Congresso, Mafra, 2011 [relatório entregue à Fundação CulturSintra (aguarda publicação)] *Manuscritos da Biblioteca do Congresso com interesse para a biografia e actividade mecenática editorial e literária de António Augusto Carvalho Monteiro, Mafra, 2011 [relatório entregue à Fundação CulturSintra (aguarda publicação)] *A Colecção Portuguesa I e II da Biblioteca do Congresso: subsídios para a sua história, Mafra, 2012 *Colecção Portuguesa I e II da Biblioteca do Congresso: livros maçónicos, Mafra, 2012 *Sebástica manuscrita na Biblioteca do Congresso, Mafra, 2012 *Templarismo manuscrito na Biblioteca do Congresso, Mafra, 2012 *Formulário de todo o Cerimonial e Etiqueta que se deve praticar dentro da Varanda, no Acto da Aclamação [de Dom João VI] – DCL: P-502, (apresentação e transcrição de Manuel J. Gandra), Mafra, 2012 *O Santuário de Nossa Senhora da Luz da Ordem de Cristo, em Carnide, incluindo um manuscrito inédito da Biblioteca do Congresso (Washington), Mafra, 2013 *Templários e Templarismo na Literatura de língua Portuguesa, Mafra, 2013 *António Augusto Carvalho Monteiro: documentos da Biblioteca do Congresso com interesse para a sua biografia e actividade mecenática editorial e literária, Mafra, 2013 *Cometas em Portugal, Mafra, 2013 *Os Horóscopos de Dom Sebastião (1554-1578?): o Desejado à luz da Astrologia judiciária, Mafra, 2013 KLETSCH, Ernest (Curator Project B) Annual Report, July 1 to June 30, 1930, in Library of Congress – Annual Report 1929-1930, p. 1-2 219

LIBRARIAN OF THE CONGRESS *Report of the Librarian of Congress for the fiscal year ending June 30, 1928, Washington, 1928, p. 35 [DCL: Z733 .U57A] Refere que a colecção é constituída por 1555 volumes, 334 panfletos, 117 volumes compósitos de manuscritos e 5 “broadsides”, destacando, principalmente, os livros sobre Sebastianismo, crónicas régias e religiosas e ordens de cavalaria. *Report of the Librarian of Congress for the fiscal year ending June 30, 1930, Washington, 1930, p. 54-55 [DCL: Z733 .U57A] Regozija-se pela aquisição do núcleo principal da biblioteca de Carvalho Monteiro, constituído por um número de espécies, estimado em aproximadamente 28500 items, 14000 dos quais em língua portuguesa, 6000 na francesa e os demais em latim, espanhol, alemão, italiano e inglês. Destes a estatística anual apenas consigna 12000 volumes. *Annual report of the Librarian of Congress exhibiting the progress of the Library during the year ending June 30, 1962, Washington, 1963, p. 32 [DCL: Z733 .U57A] Em 1962, a maioria das espécies adquiridas, procedentes da biblioteca de Carvalho Monteiro aguardavam tratamento biblioteconómico. LIBRARY OF CONGRESS *Division of Accessions - Annual Report, July 1 to June 30, 1928, p. 14-15 (Portuguese Collection) *Division of Accessions 1928-1929 - Annual Report – Fiscal Year ending June 30, 1929, p. 12 (Maggs Brothers) *Report of the Division of Accessions - Fiscal Year ending June 30, 1930, p. 31-32 (Portuguese Collection) LUND, Christopher C. *A Colecção de Manuscritos Portugueses na Divisão dos Manuscritos da Biblioteca do Congresso, in Boletim de Filologia, n. 25 (1979), p. 167-172 *O Manuscrito Caligráfico único, de Os Lusíadas, feito por Manuel Nunes Godinho para o seu patrão António Augusto de Carvalho Monteiro, in Leituras de Camões, São Paulo, 1982 Conforme o guia dos Manuscritos Portugueses organizado por Christopher Lund, o calígrafo em apreço terá sido Domingos Nunes Godinho, filho de Manuel Nunes Godinho, e não este professor de Caligrafia e calígrafo real (ver DCL: P-338-354). Reporta-se ao ms. P-339-75 da Biblioteca do Congresso. LUND, Christopher C. / KAHLER, Mary Ellis *The Portuguese Manuscripts Collection of the Library of Congress – A Guide, Washington, Library of Congress, 1980 Descreve, com algumas imprecisões, 537 manuscritos portugueses do acervo da Biblioteca do Congresso, em Washington [DCL]. Um número ainda indeterminado pertenceu a António Augusto Carvalho Monteiro, tendo sido adquirido nos anos de 1927 e 1929, por intermédio de Maggs Brothers

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(Londres). Consigna manuscritos, maioritariamente relativos a matérias como História de Portugal, Sebastianismo, Ordens Militares Portuguesas, etc. PALÁCIO DO CORREO VELHO *Biblioteca de Suas Majestades El-Rei D. Carlos I e El-Rei D. Manuel II de Portugal, Lisboa, 12 a 16 de Junho [1989], Lisboa, [1989] PORTUGUESE COLLECTION *Portuguese Collection (Provisional list of the titles acquired from the *** [OPL] Collection through Maggs Bros. 1928, Washington, 1929 [DCL: Z2739.U58] PORTUGUESE PAMPHLETS *The Portuguese Pamphlets – Microfilm 82/5800 MicRR: introduction and comprehensive guide to Contents, Library of Congress, 1983 [DCL] O inventário, dos 3602 items, é precedido (p. 11-16) por uma parte (simplificada) do relatório realizado em 1961 por Américo da Costa Ramalho (The Portuguese Pamphlets) PORTUGUESE PAMPHLETS *The Portuguese Pamphlets 1610-1921 [microform]: a collection of Pamphlets published primarily in the 19th century, which was assembled for the most part by António Augusto de Carvalho Monteiro, Washington, 1983 [DCL: Microfilm 82/5800 (D) (Microform Reading Room: 75 bobinas de microfilme)] PORTUGUESE PAMPHLETS *The Portuguese Pamphlets – Microfilm 82/5800 MicRR: introduction and comprehensive guide to Contents, Library of Congress, 1983 [DCL: DP517.P67 1610 Suppl.] PORTUGUESE PAMPHLETS *The Portuguese Pamphlets: pamphlets, speeches, almanacs, offprints and broadsides in various languages, chiefly Portuguese, relating to Portugal or Portuguese affairs [1610-ca. 1925] [DCL: DP517.P67 1610 (Rare Book Coll.: 62 caixas, ca. 3100 espécies)] RAMALHO, Américo da Costa *The Portuguese Pamphlets, in The Library of Congress Quarterly Journal of current Acquisitions, v. 20, n. 3 (Jun. 1963), p. 157-162 Também reproduzido in The Portuguese Pamphlets, in The Portuguese Pamphlets – Microfilm 82/5800 MicRR: introduction and comprehensive guide to Contents, Library of Congress, 1983, p. 11-16 Transcrição parcial do relatório apresentado pelo autor, em 1961, acerca do núcleo bibliográfico e documental adquirido pela Biblioteca do Congresso, em 1927 e 1929. *Portuguese publications in the Library of Congress, in Portuguese Essays, Lisboa, 1968, p. 85-98 [DCL: DP518 .R35 1968] Primeira descrição dos manuscritos e panfletos procedentes da Biblioteca de Carvalho Monteiro, apenas cerca de 4000 espécies de um total de 28500, adquiridos pela Biblioteca do Congresso, por intermédio de Maggs Bros. 221

(Londres). O restante espólio aguardava tratamento biblioteconómico. Presta particular atenção aos panfletos relativos à Camoniana e às comemorações centenárias de Camões, Vasco da Gama e Marquês de Pombal. RUAS, João *Biblioteca de D. Manuel II – Impressos dos séculos XV e XVI, Caxias, 2002

Colecções de AACM AZEVEDO, Maria Antonieta Soares de *Ainda o Manuscrito do Duque de Lafões e o Retrato de Camões por Fernão Gomes, in Panorama, n. 42-43 (1972), p. 75-95 BOLIVAR, Ignacio *Ortópteros de Africa del Museo de Lisboa, in Jour. de Sc. Math. Phys. e Nat., s. 2, n. 1 (1889), p. 73-113 BUTLER, A.L. *Note on a Hybrid Humming-Bird, in Bulletin of the British Ornithologists’ Club, v. 47, n. 35 (1927), p. 134 *The 355th Meeting of the Club, in Bulletin of the British Ornithologists’ Club, v. 52, n. 39 (1932), p. 130-131 CARVALHO, Fernando Vaz Santos *António Augusto Carvalho Monteiro - um naturalista pioneiro (2012) DANTAS, Júlio *O Leito em Portugal através os tempos, in Illustração Portugueza, v. 11, n. 40 (26 Nov. 1906), p. 513-520 [cama dos condes de Sabugal, depois de AACM, ora no PNS, p. 515] DORNELAS, Aires *Luiz de Camões: elementos de Estudo, in Elucidário Nobiliarchico, v. 1, n. 5 (Mai. 1928), p. 152-164 FORBUSH, E. H. / Fernald, C. H. *The Gypsy Moth. Porthetria dispar (Linn.), Boston, 1896 KEIL, Alfredo *Breve noticia dos Instrumentos de musica antigos e modernos da Collecção Keil, Lisboa, 1904 LAMBERTINI, Michel’Angelo *O Museu Instrumental e as minhas relações com o Estado, Lisboa, 1913 *Primeiro nucleo d’um Museu Instrumental em Lisboa, Lisboa, 1914 LEROY, Louis *La Montre la plus Compliquée du Monde, Besançon, 19?? Monteiro, A. A. Carvalho *Une variété nouvelle de Lépidoptère, in Jour. de Sc. Math. Phys. e Nat., n. 34 (1883), p. 107-109 OLIVEIRA, Paulino de / MARSEUL, S. A. Etudes sur les insectes d’Angola qui se trouvent au Muséum National de Lisbonne, in Jour. de Sc. Math. Phys. e Nat, n. 25 (1879), p. 37-38 222

RODRIGUES, A. A. Gonçalves *Camões e a sua Vera Efígie: a propósito de um retrato desconhecido, Lisboa, 1968 SANTOS, F. Mattozo *Contribuitions pour la faune du Portugal. I. Lépidoptères Rhopalocéres, in Jour. de Sc. Math. Phys. e Nat., n. 37 (1884), p. 53-66 *Notas de Zoochorographia Portugueza. I. Lepidópteros da Serra da Estrella, in Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, v. 14, n. 2 (1895), p. 139-191 SEEBOLD, F. *Catalogue Raisonné des Lépidoptères des environs de Bilbao (Vizcaya), in Anales de la Sociedad Española de Historia Natural, s. 2, v. 7, n. 27 (1898), p. 118 TAVARES, J. S. *As Zoocecidias Portuguezas, in Annaes de Sciencias Naturaes, n. 7 (1900), p. 46

IADE ÁLVARO, Egídio *Performances rituels: interventions en Espace Urbain – Art du comportement au Portugal, Lisboa, 1979 BARBERA, Sveva *IADE: Un Legame con la Tradizione – Ties with Tradition, in Disegno Industriale, n. 6 (2003), p. 100-109 CALADO, Rita *Rafael Salinas Calado (1937/2006): ensino artístico e museologia: as práticas de um profissional, Lisboa, 2007 [dissertação de Mestrado] DOSSIER ESCOLAS *IADE – Lisboa, in Cadernos de Design, a. 1, n. 2 (Jun. 1992), p. 42-45 FERREIRA, Ana Margarida *2009: Ano Europeu da Criatividade e Inovação, in Formar – Revista dos Formadores, n. 66 (Jan.-Mar. 2009), p. 35-39 FREITAS, Lima de *A invenção da Sigla do IADE, in Idade da Imagem, n. 1 (Jan. 2001), p. 64 GOMES, J. Pinharanda *A Campanha de António Quadros pela Filosofia Portuguesa, in Nova Águia, n. 12 (2º semestre 2013), p. 8-16 IADE *IX Acontecimento de Moda, Lisboa, 1996 *X Acontecimento da Moda, Lisboa, 1997 *XI Acontecimento da Moda, Lisboa, 1998 *XII Acontecimento de Moda, Lisboa, 1999

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*Curso de Design de Interiores e de Equipamento Geral - Conceito e objectivos, Curriculum, Programas, [Lisboa], 1982 [policopiado] *Escola Portuguesa de Publicidade – Curso de Técnicos de Publicidade, Lisboa, 1984 *Curso de Design de Interiores e de Equipamento Geral – Conceitos e objectivos – Curriculum – Programas, s. l. [Lisboa], 1986 [policopiado] *Guia de Actividades Académicas – 06-’07, Lisboa, 2006 *Guia de Actividades Académicas – 07-’08, Lisboa, 2007 *Guia de Actividades Académicas – 08-’09, Lisboa, 2008 *Guia de Actividades Académicas – 09-’10, Lisboa, 2009 *Guia de Actividades Académicas – 10-’11, Lisboa, 2010 *Guia de Actividades Académicas – 11-’12, Lisboa, 2011 *Guia de Actividades Académicas – 12-’13, Lisboa, 2012 *IADE, Lisboa, Nov. 1988 *Idade da Imagem, n. 1 (Jan. 2001) [publ. até ao n. 7 (Jul. 2007)] *Normas Corpo Docente – Ano lectivo 1999/2000, Lisboa, 1999 *Normas Gerais – Ano Lectivo 1998/99, Lisboa, 1998 *Normas Gerais – Ano Lectivo 1999/2000, Lisboa, 1999 *Palavras Cruzadas – Newsletter, n. 1 (Fev.-Mar. [2007]) *Regulamento – Escola Internacional de Decoradores, Artistas Gráficos e Designers – Escola Livre de Artes Visuais – Centro de Estudos, Investigação e Documentação, s.l. [Lisboa], s. d. [198?] [policopiado] *Relatório de Actividades 2008-2009, Lisboa, 2009 *Relatório de Actividades 2009-2010, Lisboa, 2010 *Relatório de Actividades 2010-2011, Lisboa, 2011 *Wallpost, n. 1 (21 Mar. 2011) [publ. até ao n. 2 (Mai.-Jun. 2011)] *Relatório de Actividades 2011-2012, Lisboa, 2012 MATEUS, Américo *Do Design Management ao Business Design para chegar à Inteligência Criativa, in Casas e Negócios, n. 47 (dez. 2011-Jan. 2012), p. 60-61 QUADROS, António *António Quadros (1923-1993) - Documento, in Cadernos de Design, a. 2, n. 5 (1993), p. 84-86 REIS, Rosa de Lourdes Franco Bastos dos *IADE – Fotobiobibliografia, Lisboa, 2008 [dissertação de Mestrado]

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Manuel J. Gandra

Licenciado em Filosofia (Faculdade de Letras – Universidade Clássica de Lisboa). Enquanto Investigador, tem-se consagrado à investigação da História e da Geografia Míticas de Portugal (nomeadamente no que concerne às Ordens do Templo e de Cristo, ao Culto do Império do Divino Espírito Santo, ao Sebastianismo e ao Hermetismo), da iconologia da Arte portuguesa e da Circunstância Mafrense, temas sobre os quais se tem debruçado em publicações, colóquios, seminários, encontros, conferências, palestras, visitas guiadas e programas televisivos. Foi professor dos ensinos preparatório e secundário, tendo lecionado na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e no IADE. Entre 1990 e 31 de Agosto de 1999, foi Coordenador dos Serviços de Cultura da Câmara Municipal de Mafra. Actualmente, é Professor Associado na Escola Superior de Design do IADE-U. Coordenador Científico da Biblioteca António Quadros (IADE-U). Investigador do CLEPUL (Faculdade de Letras de Lisboa), Colaborador da UNIDCOM (IADEU) e das Revistas Nova-Águia e Identidades Oceânicas. Membro do Conselho Consultivo do MIL e da Associação Identidades Oceânicas 225

(IDEO, Brasil) e Director do Centro Ernesto Soares de Iconografia e Simbólica [www.cesdies.net] que fundou em 19 de Abril de 1997, com sede em Mafra e actuando no Rio de Janeiro-Brasil, mediante uma parceria institucional com o Instituto Mukharajj Brasilan. Autor de artigos, opúsculos e obras versando a História e a Geografia Míticas de Portugal, nomeadamente: Portugal: Terra lúcida, Porto do Graal (1986); Bibliografia crítica das fontes e estudos respeitantes ao Hermetismo em Portugal: Alquimia (1993); Carrilhões de Mafra (1993); Apocalipse de Esdras: ecos nas letras e na arte portuguesas (1994); Cheiros, Sabores e Comeres regionais de Mafra: tradição e modernidade (1998); Regra Primitiva da Ordem do Templo (1998); A Cerâmica Tradicional de Mafra (1999); Joaquim de Fiore, Joaquimismo e Esperança Sebástica (1999); Os Templários na Literatura (2000); O Império do Espírito Santo na Região de Tomar e dos Templários (2000); Colecção Maçónica Pisani Burnay: catálogo (2000); O Monumento de Mafra de A a Z, v. 1 (2002); A Cristofania de Ourique: mito e profecia (2002); Dicionário do Milénio Lusíada (2003); A Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra (2004); O Projecto Templário e o Evangelho Português (2006); Portugal Sobrenatural (2007); Da Face Oculta do rosto da Europa (2009), 2ª ed.; Astrologia em Portugal – Dicionário HistóricoFilosófico (2010); Iconografia e Iconologia: estudos, notas e fontes de cultura visionária (2012); Livro das Profecias de Cristóbal Colón (2013); Amuletos da Tradição Luso-Afro-Brasileira (2013); Florilégio de Tradições do Concelho de Mafra (2013); O Anjo da Saudade: da Hierarquia Celeste e do Custódio de Portugal (2013); O Projecto Templário e o Evangelho Português (2013), 2ª ed. revista e ampliada; Fernando Pessoa: Hermetismo, Iniciação, Heteronímia (2013); Mafra, do ocaso da Monarquia, ao advento da República (2013); Itinerários da Monarquia Constitucional em Mafra (2013); Hagiografia de D. Sebastião: de desejado a encoberto (2014); Cátaros para um Languedoque Português (2014); etc. Contactos: Site: www.cesdies.net Email: [email protected]

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