Palanques virtuais: o uso de websites pelos partidos políticos brasileiros

June 20, 2017 | Autor: Antonio Barros | Categoria: Ciencia Politica, Internet e Política, Sociologia Política, Partidos Politicos
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38.o. Encontro Anual da Anpocs GT04 - Ciberpolítica, ciberativismo e cibercultura

Palanques virtuais: o uso de websites pelos partidos políticos brasileiros Malena Rehbein Rodrigues (Cefor-CD) Antonio Teixeira de Barros (Cefor-CD) Cristiane Brum Bernardes (Cefor-CD)

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Palanques virtuais: o uso de websites pelos partidos políticos brasileiros Malena Rehbein Rodrigues (Cefor-CD) Antonio Teixeira de Barros (Cefor-CD) Cristiane Brum Bernardes (Cefor-CD) RESUMO: Analisa como os partidos políticos brasileiros usam a internet para se comunicar com seus públicos eleitorais. O levantamento foi realizado no período de fevereiro a abril de 2014, com o objetivo de identificar as principais estratégias utilizadas pelos 32 partidos registrados na Justiça Eleitoral. O estudo revela o predomínio de recursos para a divulgação e promoção da imagem pública dos partidos; e ênfase à atuação e opinião das elites partidárias. Tais estratégias são utilizadas para a publicidade das legendas, a fim de reforçar a propaganda política dirigida ao público. A visibilidade, portanto, é a principal característica observada. O uso comum de certos padrões e formatos reitera a importância da web na atualidade e de como ela se impõe aos produtores de conteúdos virtuais, incluindo os partidos políticos. Observamos, contudo, que a lógica do diálogo e da interação ainda não tem espaço nos websites dos partidos. Palavras-chave: Partidos políticos e internet; Estratégias de comunicação partidária; Visibilidade política; Internet e política informacional. 1 INTRODUÇÃO O artigo analisa como os partidos políticos brasileiros usam a internet para se comunicar com seus públicos eleitorais. O propósito é identificar: (a) as principais estratégias discursivas; (b) de informação política; (c) e de interação com os eleitores. Observar as estratégias virtuais das siglas pode nos dizer muito acerca do seu modelo de funcionamento no Brasil, uma vez que operam de forma cartelizada (MAIR, 2009), ou seja, com extrema dependência de recursos públicos, e atuam de modo pragmático e com pouca base ideológica (NICOLAU, 2010). O escopo analítico parte do pressuposto de que os partidos representam a pluralidade ideológica da sociedade, ainda que o Brasil não tenha a tradição dos partidos ideológicos europeus. De qualquer forma, as análises de Mainwaring et al. (2000) e Rodrigues (2002) demonstram que as legendas brasileiras podem ser classificadas em conservadoras, de centro e de esquerda, seja por sua composição social, pela percepção de políticos e eleitores ou por seu alcance eleitoral. Por outro lado, como destaca Baquero (2000), os traços comuns aos partidos na América Latina originaram-se no caudilhismo dessas sociedades, conferindo às agremiações políticas da região as características do personalismo, clientelismo, proliferação de facções e um caráter instável. No Brasil, o sistema eleitoral que estimula o multipartidarismo também pode ser identificado como outro fator a conferir instabilidade ao cenário, a depender da relação que se estabelece nas coalizões de governo. 2   

Apesar de tais ressalvas, os partidos oferecem, no âmbito do sistema de representação democrático liberal, as possibilidades de adesão política, funcionando a partir de diferentes formas de recrutamento em distintas bases socioprofissionais, de acordo com sua localização no espectro político. Para Leôncio Rodrigues são exemplos dessas diferenças a alta proporção de empresários nos partidos de direita, enquanto a mesma categoria é quase inexistente na esquerda, e o número muito mais elevado de trabalhadores manuais nas bancadas dos partidos de esquerda (RODRIGUES, 2002, p.64). As diversas possibilidades de representações partidárias reforçam o pressuposto de ambiguidade da política. Por um lado, a filiação partidária constitui uma atividade inclusiva. Por outro, permanece como uma atividade particularista por definição (PEIRANO, 2011). Os partidos representam essa ambiguidade, ao mesmo tempo em que o domínio da política é substancializada nos partidos (BEZERRA, 1999). As diferentes agremiações correspondem às distintas visões e divisões do mercado político, tanto em expressões programáticas quanto em participação em poder no governo, e por isso os partidos são considerados indispensáveis à ordem democrática moderna. Embora haja redefinições frequentes, frutos das dinâmicas políticas, as legendas ainda conservam algumas características, objetivos e funções que lhes são peculiares na esfera de pertinência da mediação política. Como destaca Rodrigues, Conjugando os dados sobre a volatilidade eleitoral com os de outras pesquisas – influência das organizações partidárias locais nos resultados eleitorais, trocas de legenda, tipos de coligações, disciplina das bancadas nas votações na CD, perfis ideológicos no Congresso e nas assembleias legislativas, etc. – parece ser mais correto trabalhar com a hipótese de que o sistema partidário brasileiro está em processo de estruturação e não com a de que se trata de um sistema em desestruturação ou intrinsecamente incapaz de organização (RODRIGUES, 2002, p.48).

Para alcançar seus objetivos – com destaque para a busca contínua de confiança dos eleitores e, consequentemente, legitimidade na disputa política

uma das estratégias

desenvolvidas contemporaneamente pelas siglas é a comunicação digital com seus públicos por meio de seus websites, a fim de reforçar sua atuação no plano institucional, na arena eleitoral e na esfera legislativa, já que a identificação partidária e a estabilidade nas preferências partidárias não são fortes no Brasil (PEREIRA, 2014, VEIGA, 2007). Braga, França e Nicolás (2009) já fizeram estudo de mapeamento geral dos recursos informativos utilizados nos sites partidários, para avaliar o grau de uso da internet dos 27 partidos cadastrados no TSE, em 2008, no plano da visibilidade política. Os autores buscavam diagnosticar a navegabilidade, dados estatísticos sobre as agremiações, estrutura decisória, recrutamento, documentação, deliberação, eleições, e comunicação e mídia. A proposta não era elaborar hipóteses explicativas, mas sim fazer um diagnóstico explorativo do uso de internet. 3   

Neste sentido, o presente artigo apresenta uma espécie de recorte avaliativo, com enfoque sobretudo na observação de estratégias que se sobressaem no uso da internet, tais como estratégias discursivas, informativas e de interação; accountability; transparência, política internacional e uso das redes sociais e enquetes. 2 METODOLOGIA DO ESTUDO O levantamento foi realizado no período de fevereiro a abril de 2014 a fevereiro de 2014. Para tanto foram consideradas as informações oficiais disponíveis no portal da Justiça Eleitoral, complementadas com informações disponíveis nos websites dos próprios partidos. A metodologia para a análise consistiu em duas etapas. A primeira foi o mapeamento das estratégias individuais de cada website, com a anotação dos dados em uma ficha própria. A segunda teve como parâmetro a comparação das estratégias e a identificação daquelas que predominam no conjunto dos sites das 32 legendas. Quanto à morfologia dos websites, a análise exploratória nos permitiu observar o predomínio e a convergência de dez estratégias discursivas comuns aos 32 partidos, as quais servirão de base para o estudo: 1 - Divulgação e promoção da imagem pública dos partidos - conteúdos que reforçam a história, a memória, os feitos, a atuação do partido e a opinião de seus expoentes. 2 - Eventos e atividades partidárias – divulgação do calendário de eventos de interesse dos partidos, além de convite aos eleitores e estímulo à participação dos filiados. 3 - Atuação e opinião política das elites dos partidos - destaque para as lideranças, figuras emblemáticas da legenda e aqueles que exercem cargos de relevância política no Executivo, no Congresso Nacional e nas instâncias estaduais e regionais. 4 – Política internacional - inserção partidária no debate sobre temas de repercussão internacional 5 - Accountability e transparência - prestação de contas e dados abertos, especialmente em relação ao Fundo Partidário. 6 - Interação com os filiados e participação cidadã - uso de ferramentas de interatividade e participação política, tais como e-mail, redes sociais, enquetes e fóruns de discussão. 7 - Advocacy de públicos – captação da atenção de públicos específicos: juventude, mulheres, negros, etc. e ênfase em informações políticas de interesse desses segmentos eleitorais. 8 - Relação com a mídia – oferta de ferramentas e adoção de estratégias para a inserção de conteúdos de interesse dos partidos na agenda da mídia privada, como forma de conferir visibilidade às ações, posições e questões de interesse das legendas.

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9 - Espaço do candidato - orientações formais e legais para interessados em apresentar candidaturas pelo partido nos diferentes pleitos, sejam municipais, estaduais, federais. 10 - Educação e formação política - uso de estratégias de EAD, cursos e conteúdos de formação política e educação para a democracia e a cidadania. Os websites examinados, e os respectivos partidos, constam no Quadro 1. QUADRO 1 - PARTIDOS POLÍTICOS REGISTRADOS NO TSE 1

Sigla PMDB

Registro 30.6.1981

Website http://pmdb.org.br/

PTB

Legenda Partido do Movimento Democrático Brasileiro Partido Trabalhista Brasileiro

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3.11.1981

http://www.ptb.org.br/

3 4 5 6 7 8

PDT PT DEM PCdoB PSB PSDB

Partido Democrático Trabalhista Partido dos Trabalhadores Democratas Partido Comunista do Brasil Partido Socialista Brasileiro Partido da Social Democracia Brasileira

10.11.1981 11.2.1982 11.9.1986 23.6.1988 1°.7.1988 24.8.1989

http://www.pdt.org.br/ http://www.pt.org.br/ http://www.dem.org.br/ http://www.pcdob.org.br/ http://www.psb40.org.br/ http://www.psdb.org.br/

9 10 11 12 13 14 15 16 17

PTC PSC PMN PRP PPS PV PTdoB PP PSTU

22.2.1990 29.3.1990 25.10.1990 29.10.1991 19.3.1992 30.9.1993 11.10.1994 16.11.1995 19.12.1995

http://www.ptc36nacional.com.br/ http://www.psc.org.br/ http://pmn.org.br/ http://www.prp.org.br/ http://portal.pps.org.br/ http://pv.org.br/ http://www.ptdob.org.br/home/ http://www.pp.org.br/ http://www.pstu.org.br/

9.5.1996 28.3.1995

http://pcb.org.br/portal/ http://prtb.org.br/

20.3.1997 5.8.1997 30.9.1997 2.10.1997 2.6.1998 25.8.2005 15.9.2005 19.12.2006 27.9.2011 4.10.2011 19.6.2012 24.9.2013

http://phs.org.br/ http://www.psdc.org.br/ http://www.pco.org.br/ http://www.ptn.org.br/2013/ http://www.psl.org.br/ http://www.prb10.org.br/ http://www.psol50.org.br/ http://www.partidodarepublica.org.br/ http://www.psd.org.br/ http://partidopatrialivre.org.br/ http://www.pen51.org.br/ http://http//www.pros.org.br/

24.9.2013

http://www.solidariedade.org.br/

Partido Trabalhista Cristão Partido Social Cristão Partido da Mobilização Nacional Partido Republicano Progressista Partido Popular Socialista Partido Verde Partido Trabahista do Brasil Partido Progressista Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado 18 PCB Partido Comunista Brasileiro 19 PRTB Partido Renovador Trabalhista Brasileiro 20 PHS Partido Humanista da Solidariedade 21 PSDC Partido Social Democrata Cristão 22 PCO Partido da Causa Operária 23 PTN Partido Trabalhista Nacional 24 PSL Partido Social Liberal 25 PRB Partido Republicano Brasileiro 26 PSOL Partido Socialismo e Liberdade 27 PR Partido da República 28 PSD Partido Social Democrático 29 PPL Partido Pátria Livre 30 PEN Partido Ecológico Nacional 31 PROS Partido Republicano da Ordem Nacional 32 SDD Solidariedade Fonte: http://www.tse.jus.br/partidos/partidos-politicos

Assim como Braga, França e Nicolás, este estudo também se baseia em metodologia de Norris (2003), baseando-se primordialmente na presença ou ausência dos critérios mecionados. 5   

Antes da apresentação e discussão dos resultados, fazemos uma breve contextualização teórica, a partir da relação entre os três temas que permeiam a análise: partidos, internet e democracia. 3 PARTIDOS NAS DEMOCRACIAS CONTEMPORÂNEAS Muitas análises enfatizam a crise da mediação política nas sociedades contemporâneas, representada, em boa parte, pela crise dos próprios partidos. Segundo Panebianco (1990), as legendas de massa caracterizadas por Duverger (1987) foram superados pelos partidos eleitorais profissionais na Europa no final do século passado. Entre as consequências desse processo, o autor cita a desideologização das agremiações, sua abertura para grupos econômicos, a perda do peso político dos militantes e a profissionalização da organização, no sentido proposto por Weber de especialização técnica e divisão de tarefas. Em outros termos, ocorre uma burocratização dos partidos que acometeria qualquer tipo de organização política, algo já mencionado por Michels (1982) ao tratar da Lei de Ferro das Oligarquias. Nas palavras de Miguel (2014), o dilema trazido por Michels seria próprio de qualquer movimento de massas: “a busca de ampliação da eficácia de sua ação exige uma profissionalização que leva, por sua vez, à independentização da direção em relação à base” (MIGUEL, 2014, p.143 – grifo no original). De certa forma, prossegue o autor, ocorreria um “esgotamento da solidariedade” dos líderes para com sua classe de origem (MIGUEL, 2014, p.144). Contudo, segundo o argumento de Miguel, Michels não parece valorizar o fato de que, no sistema representativo, a massa dos militantes não precisa obedecer cegamente aos chefes, sendo também árbitro da disputa interna pelo poder que se trava dentro das agremiações. É interessante perceber que muitas análises do sistema político brasileiro enfatizam uma “baixa institucionalização partidária no Brasil”, ou uma diminuição da importância dos partidos políticos (MAINWARING, 2001; MAIA, 2006). Algo que, conforme Baquero (2000) ou Manin (2005), não é privilégio ou exclusividade do Brasil, mas uma característica das democracias representativas atuais. Na Europa, por exemplo, a identificação partidária tradicional ou ideológica estaria dando lugar à “competição de caráter gerencial-administrativo da coisa pública” (BAQUERO, 2000, p.37). Os fatores de declínio dos partidos nas democracias contemporâneas são sumarizados pelos autores e relacionados à “passagem de economias industriais para economias de serviços e a concomitante erosão de meios sociais tradicionais, níveis crescentes de aquisição educacional e o papel dos meios de comunicação de massa” (MANIN, 2013, p.116). Além de estarem conectados ao surgimento de novos movimentos sociais, à institucionalização de grupos de interesses ou ao monopólio do processo legislativo pelo Executivo, no caso da América Latina, entre outras razões (BAQUERO, 2000, p.157-158). 6   

O pressuposto dos autores é que, se a mediação entre sistema político e sociedade não é mais realizada pelos partidos políticos, a sociedade passaria a procurar novas formas de organização e reivindicação das suas demandas. Tal situação foi um dos assuntos mais debatidos entre junho e julho de 2013 no Brasil, a partir das manifestações de rua que tomaram conta do país nesses meses. As pesquisas realizadas nas últimas décadas no Brasil revelam um declínio na confiança do público em relação aos partidos (MOISÉS, 2005; MENEGUELLO, 2000) e também no nível de filiação ou estabilidade nas preferências partidárias (PEREIRA, 2014). Dessa forma, outras instituições sociais passariam a ocupar o lugar de mediadoras entre sociedade e Estado (MAIA, 2006), como a imprensa, que é apontada como mais confiável do que partidos ou Parlamento1. Se o sistema partidário brasileiro é pouco institucionalizado junto à sociedade brasileira (MAINWARING, 2001) e os partidos influem no comportamento legislativo de forma pouco ideológica, , exatamente porque se transformaram em partidos eleitorais de massas ou catch-all (REIS, 1988, p.300), é natural que surjam outras formas de representação, sejam eleitorais ou não-eleitorais. Sobre essas diferentes formas de representação, Leonardo Avritzer (2007) afirma que é preciso desenvolver sistemas nos quais elas se articulem, permitindo a convivência de três distintas formas de autorização ou legitimação do representante: agente, advogado e partícipe (2007, p. 456). Manin também aponta o aumento da participação não institucionalizada, isto é, que se dá por outras estratégias que não o voto e a filiação partidária, como uma tendência nas sociedades contemporâneas. Para ele, os partidos deixaram de ser sujeitos políticos com identidades definidas e passaram a ser apenas instrumentos dos eleitores, empregados a cada eleição, dependendo das circunstâncias políticas percebidas (MANIN, 2013, p.124). Apesar das redefinições frequentes, frutos das crises e metamorfoses da democracia (URBINATI, 2013a), os partidos políticos ainda conservam algumas características e funções que lhes são peculiares na esfera de pertinência da mediação política e das configurações associativas (WEBER, 1999). Segundo Manin, apesar de perderem força em várias áreas, os partidos continuam dominando a política parlamentar e as campanhas eleitorais em todos os países (Manin, 2013). Mesmo com a pluralidade de funções, interesses e desenhos institucionais, há um elemento que define por essência um partido político, ou seja, seu caráter de associação (WEBER, 1999; OPPO, 2000), uma das causas de afirmação de seu poder. É por essa razão que, nos termos weberianos, o partido é antes de tudo uma associação no seio da comunidade política, independentemente de seus fins ou objetivos, dotada, por isso, de potencial de criação de capital social e político. Nesse ponto, é preciso, como afirma Reis, ter em mente a complexa articulação                                                              1

Só para citar uma delas, pesquisa DataFolha de dezembro de 2012 (http://search.folha.com.br/search?q=partido&site=datafolha&sr=26&skin=datafolha) aponta a imprensa com 75% de confiança, contra 43%, para o Congresso Nacional, e 37% para os partidos políticos.

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entre identidade e instrumentalidade exercida pelos partidos, isto é, a relação paradoxal que eles executam ao combinarem valores e interesses no processo político (REIS, 1988, p.304). A natureza da associação realizada pelos partidos está intrinsecamente relacionada a uma formação que luta pela dominação, ou seja, o objetivo é assegurar um campo de exercício de influência e poder, seja pelos recursos econômicos obtidos, pela influência social ou pelo poder de palavra. Nesse último quesito situam-se as estratégias de publicidade política, entendidas como uma forma de propaganda das legendas a fim de consolidar seu poder discursivo e simbólico, nos termos de Bourdieu (1989). Funcionam como revitalizadores da mediação entre os cidadãos e as instituições partidárias. Desse ponto de vista, os partidos servem como mediadores entre a sociedade e o Estado, uma vez que organizam os termos da competição eleitoral. Contudo, no caso de não conseguirem canalizar as demandas sociais de forma efetiva, os partidos podem se tornar elitistas e acabar sem identidade com a massa dos eleitores, como alertava Michels. Analisados pragmaticamente, os partidos são instituições que têm as seguintes funções: 1) do ponto de vista do eleitorado, simplificam as escolhas dos cidadãos, mobilizando-os para participar; 2) do ponto de vista organizacional, ajudam a recrutar líderes, treinando-os também; 3) do ponto de vista governamental, participam da criação de maiorias, organizam o governo, principalmente no Legislativo, e organizam a oposição (DALTON E WATTEMBERG, 2000). Os objetivos podem ser a busca de votos (para cargos), posições sobre políticas ou cargos no poder. Na América Latina, o processo político que gerou as atuais legendas teve como principais características “o personalismo, a proliferação de facções, o clientelismo e o caráter instável dos sistemas políticos” (BAQUERO, 2000, p.56). Por isso, os partidos se converteram em organizações voltadas para a conquista do poder com a prevalência do caráter personalista e “escassas posturas ideológicas”, nas palavras de Baquero (2000, p.56). Manin argumenta, contudo, que a personalização pela qual passam os partidos não é exclusividade latinoamericana, pois as legendas contemporâneas fazem campanhas centradas no candidatos e nas personalidades deles e dos líderes (2013, p.117). Para ele, as siglas conseguiram se adaptar à tendência impulsionada pelos meios de comunicação de massa e, ainda que as eleições tenham se tornado personalizadas, continuam partidárias (MANIN, 2013, p.118). 4 PAPEL DA INTERNET NA POLÍTICA Com o avanço das tecnologias midiáticas, das quais a internet faz parte e constitui o mais importante avanço dos últimos 20 anos, a política passou a ser um fenômeno de penetração difusa nas diversas esferas da sociedade, ou seja, consegue atingir o cidadão mesmo fora do 8   

âmbito político no sentido estrito, pois a mídia contribui para a inserção ampliada dos temas políticos nas relações sociais. Seu elevado potencial de sedução, calcado na lógica do poder simbólico (BOURDIEU, 1989), em muito contribui(u) para a reconfiguração dos fluxos e circuitos de informação nas sociedades metropolitanas. A esfera da visibilidade pública 2 e suas consequências nas dinâmicas sociais de discutibilidade coletiva (GOMES, 2011) reforçam o poder simbólico da mediatização da política. Além disso, grande parte do conhecimento e da experiência dos públicos no que se refere a assuntos de relevância social, política, econômica e cultural passa necessariamente pelo enquadramento dos media, que se tornaram fonte primordial de informação. “Os media traduzem e formam as percepções que as pessoas não experimentam diretamente” (SCHMIDT, 2003, p.69). Trata-se da gramática da esfera da visibilidade mediática. Essa abordagem coaduna-se com um dos pressupostos de Manin (1995; 2013), ao propor o conceito de audience democracy ou democracia do público. Para o autor, com o avanço da mediatização e suas interferências nos jogos de composição política, a democracia de audiência enfraqueceu a hegemonia dos partidos, reforçando o voto personalista (já que abre-se a possibilidade de comunicação direta com o público), além de reduzir a importância do parlamento como órgão de mediação política e fórum de debates. Os media passam a assumir cada vez mais esse papel. E “o eleitorado se apresenta, antes de tudo, como um público que reage aos termos propostos no palco da política” (Manin, 1995, p. 29). Em decorrência disso, os partidos, as instituições legislativas e os próprios parlamentares passaram a recorrer aos mecanismos mediáticos tanto para as campanhas eleitorais como para manter o vínculo eleitoral e prestar contas aos eleitores. Segundo essa perspectiva, os eleitores seriam expostos a opiniões conflitantes por fontes de mídia, de maneira que o debate se expressaria por meio do próprio povo. Em consequência, surge um novo protagonista no governo representativo, o eleitor flutuante, e um novo fórum, os meios de comunicação de massa (MANIN, 1995, p. 33). Dessa forma, os meios de comunicação de massa substituem os partidos nas funções de disseminação de informações e socialização política (BAQUERO, 2000, p.24). Castells (2000) identifica esse movimento como uma transição de uma esfera pública política até então ancorada nas instituições políticas para um novo modelo que se organiza em torno do poder simbólico dos sistemas e redes articulados pelos media. Esse movimento, segundo a análise mais recente de Bernard Manin (2013), resulta em várias consequências para a análise dos partidos políticos na atualidade e sua inserção no contexto da audience democracy. De forma sucinta, podemos resumir essas consequências em                                                              2

A discussão faz parte da crítica ao conceito de esfera pública, na qual são consideradas duas dimensões analiticamente estruturantes (a visibilidade e a discutibilidade). A primeira se refere ao poder dos media de conferir publicidade a certos temas, enquanto a segunda diz respeito à troca de razões públicas, ou seja, ao debate coletivo, à discussão desencadeada pela publicidade (Lycarião, 2010).

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quatro fatores, a partir das observações do autor: (a) declínio do vínculo partidário autodeclarado; (b) erosão da fidelidade partidária; (c) redução da participação política vinculada a atividades partidárias em contraposição ao aumento do engajamento por vias não institucionais; (c) crescente enfraquecimento da identificação partidária e emergência dos “eleitores flutuantes”, que a cada eleição votam em um partido diferente. Na mesma linha de pensamento, Urbinati (2013a; 2013b) reitera que as redefinições e crises do sistema político partidário surgem em decorrência da consolidação da democracia do público e do plebiscito da audiência. Além dos media convencionais, a autora destaca o papel da internet nesse processo, tornando-se um “suporte sem precedentes para a democracia de audiência” (2013a, p.10), o que reforça a lógica da democracia plebiscitária: O novo plebiscitarismo é o da audience, o aglomerado indistinto de indivíduos que compõe o público, um ator não coletivo que vive no espaço privado da domesticidade e, quando é agente sondado de opinião, atua como receptor ou espectador de um espetáculo encenado por técnicos de comunicação midiática e recitado por personagens políticos” (URBINATI, 2013b, p.86).

Nessa nova configuração societal, a internet teria a capacidade de superar o déficit democrático dos tradicionais meios de comunicação de massa, fato apontado por vários autores (GOMES, 2008, p.304). Especificamente, as vantagens da internet em relação aos veículos de mídia convencionais seriam: 1) superação dos limites de tempo e espaço para a participação política; 2) extensão e qualidade do estoque de informação online; 3) comodidade, conforto, conveniência e cust); 4) facilidade e extensão do acesso; 5) sem filtros nem controles; 6) interatividade e interação; 7) oportunidade para vozes minoritárias ou excluídas (GOMES, 2008, p.307-312). Apesar disso, Manin e Urbinati são enfáticos ao afirmar que os partidos continuam a exercer funções relevantes nos regimes democráticos. Tal concepção é resumida da seguinte forma: Mas a erosão das fidelidades partidárias duradouras não implica a obsolescência dos partidos políticos. Como observação preliminar, devemos notar um fato bastante óbvio, mas importante. Os fiéis a um partido não estão à beira da extinção. Eles podem ser menores em número do que eram no passado, mas ainda formam uma massa significativa que deve ser levada em consideração. Além disso, um exame mais detido revela duas áreas em que os partidos não perderam força e continuam a ser atores centrais: política parlamentar e campanhas eleitorais (MANIN, 2013, p.117).

A tendência dominante em ambos os casos (política parlamentar e campanhas eleitorais) é de reforço nos instrumentos e suportes eletrônicos típicos da democracia do público. A internet, portanto, constitui uma ferramenta indispensável para a atuação dos partidos. Afinal, no contexto de uma sociedade de multirredes (BAUMAN, 2000), os partidos (e todas as demais instituições políticas) deparam-se com a lógica da inevitabilidade digital (RAMOS, 2014), 10   

resultante do processo de encolhimento do mundo (HARVEY, 1992) e de constituição de novos modos do fazer político. A internet renovou o campo político, com um novo tipo de copresença, por meio da atuação online dos atores3. Ressalta-se nesse aspecto, a capacidade de agência do usuário de internet, com sua múltipla atuação (espectador, ator e operador). Os partidos tiveram que aderir, portanto, à política de signos para criar e representar modos de pertencimento do cidadão (RIBEIRO, 2000). No regime de visibilidade da democracia de público, a política informacional (Castells, 2003) torna-se cada vez mais imperativa. Afinal, a geração, o processamento e a transmissão de informações e imagens tornaram-se as fontes fundamentais de produtividade de poder. Por isso, os partidos políticos tendem cada vez mais a recorrer a estratégias de sedução política pela internet, cujos websites são o foco da divulgação, uma espécie de “palanque virtual” ou de outdoor na esfera virtual, a partir do qual partem as demais lógicas de atuação em outras plataformas digitais, como as redes sociais. Isso explica ainda porque os partidos “investem progressivamente em estratégias de promoção da personalidade e de democracia de contato”. Além disso, “aderem aos recursos midiáticos para captar a atenção pública” (LIPOVETSKY, 2013, p.50-51). Os suportes digitais utilizados pelas legendas devem ser analisados à luz das transformações políticas mais amplas apontadas por Urbinati (2013a). No caso brasileiro, são oportunas as observações de Carreirão (2012), no que se refere a um balanço das tendências recentes dos partidos políticos brasileiros,4 especialmente no que diz respeito ao papel do sistema partidário no mercado eleitoral, na arena legislativa e na esfera governamental. Trata-se de uma reflexão ancorada nas ideias de Key (1964) acerca das três principais funções exercidas das legendas: sua atuação na arena eleitoral, sua atuação institucional e sua relação com os governos.5 As estratégias dos websites apontadas acima se relacionam com todas essas funções, uma vez que tanto dialogam com o eleitorado, como afirmam sua identidade institucional e também procuram atuar como mediadores entre a sociedade e as instituições governamentais do Poder Executivo (VEIGA, 2007). Portanto, avaliar as estratégias partidárias, objetivo deste artigo, é adentrar nas formas de apropriação da internet para cumprimento das funções e objetivos partidários acima elencados, dentro do contexto de uma democracia de público.                                                              3

A tentativa de criação do Partido Rede Sustentabilidade é um exemplo de apropriação da linguagem e das possibilidades digitais, contrapondo-se à lógica partidária tradicional que vem sendo desmerecida nos ambientes virtuais. 4 Não é objetivo deste artigo apresentar um estado da arte acerca dos estudos sobre partidos políticos, uma vez que já existe farta bibliografia que engloba o tema. Além dos autores citados na nota 3, para mais detalhes, ver Carreirão, 2012. 5 Para um detalhamento dessas funções, ver Veiga, 2007.

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No que diz respeito especificamente aos partidos e sua atuação na internet, alguns trabalhos relevantes já foram publicados no Brasil sobre o uso que fazem do mundo virtual, apresentando também uma boa sistematização das teorias otimistas e pessimistas sobre o potencial da internet, com foco nos partidos. De maneira geral, eles tomam como base a conhecida dicotomia entre uso de forma “normalizada” – segundo a qual novas tecnologias não conseguem transformar as relações tradicionais entre partidos e sociedade) - ou “equalizada” segundo a qual há possibilidade de alteração de padrões tradicionais de competição política, por exemplo (BRAGA, FRANÇA e NICOLÁS, 2009; ALBUQUERQUE e MARTINS, 2010). Neste sentido, o presente artigo não pretende continuar neste caminho, já que Braga, França e Martins já chegaram a algumas conclusões a esse respeito, ao afirmarem que a tese da normalização não se verifica estritamente (p. 193). Os estudos de Gibson (2000; 2003) já apontam para um uso da internet com mais ganhos informativos e de visibilidade para os partidos. Uma espécie de uso adicional de canal de comunicação direta, como salienta Blanchard (2006). Este é o panorama esperado também aqui, com expectativas adicionais de percepção de estratégias em relação aos itens mecionados, de maneira a poder avaliar melhor segundo as características do partido no Brasil (em seu artigo, Blanchard faz estudo avaliativo também considerando Gibson, mas sobre partidos franceses).

5 ANÁLISE DOS DADOS Antes de apresentarmos os dados específicos sobre as estratégias dos partidos, traçamos algumas observações gerais sobre a morfologia e o conteúdo dos websites dos 32 partidos registrados no TSE. O objetivo é situar as estratégias específicas de usabilidade política no contexto mais amplo do desenho e dos formatos dos websites, visto que os sites refletem a política como um domínio complexo de atividades, as quais envolvem simultaneamente a escolha individual e os grandes eventos e rituais coletivos (PEIRANO, 2011). 5.1 Panorama das estratégias dos websites dos partidos No Quadro 2, observa-se um mapa das estratégias comuns adotadas pelas legendas e o percentual de adesão. Chamam atenção as que registram 100%, ou seja, contam com a totalidade dos partidos. São elas: Divulgação e promoção da imagem do partido; Eventos, atividades e agenda do partido; Ênfase à opinião política das elites partidárias; Accountability e transparência; Interação com filiados e participação cidadã; Relação com a mídia. Trata-se de uma concertação estratégica a serviço da publicidade das legendas e da promoção da visibilidade política.

12   

QUADRO 2: MAPA DAS ESTRATÉGIAS Estratégias 1 Divulgação e promoção da imagem do partido 2 Eventos, atividades e agenda do partido 3 Ênfase à opinião política das elites partidárias 4 Política Internacional 5 Accountability e transparência 6 Interação com filiados e participação cidadã 7 Advocacy de públicos 8 Relação com a mídia 9 Espaço do candidato 10 Educação e formação política Fonte: Elaboração dos autores.

N 32 32 32 04 32 32 29 32 27 28

% 100 100 100 12,5 100 100 90,6 100 84,4 87,5

O levantamento mostra o quanto as estratégias são similares, com predomínio de nove das dez aqui examinadas. A exceção recai sobre o item 4, política internacional. Os partidos que a utilizam são os seguintes: PCdoB, PCB, PCO, PPL, ou seja, todos de esquerda e três deles herdeiros do Partido Comunista Brasileiro original, fundado na década de 20, cujos sites apresentam as seguintes informações:

links para organizações políticas internacionais de

esquerda; noticiário internacional seletivo, direcionado para causas esquerdistas e um deles que apresenta uma secretaria de relações internacionais, o PPL. Quanto aos demais tópicos, cabe destacar as legendas que deixam de adotar algumas estratégias. Os partidos que não registram o item educação e formação política são os seguintes: PPL, SDD, PRP e PSOL. Os que não registram o item Espaço do candidato são: PCdoB, PEN, PROS, SDD e PCO. Uma explicação possível é que se trata de legendas de menor porte e de menor projeção nacional, o que certamente não justificaria o investimento de recursos em tais estratégias, já que há tanto partidos de direita quanto de esquerda. Afinal, o porte do partido é um dos fatores para o uso da internet, conforme ressalta o estudo de Jackson (2007), uma vez que o uso mais sofisticado de estratégias de mídia depende do volume de recursos mobilizados pela sigla. O Quadro 3, por sua vez, apresenta uma síntese das estratégias utilizadas pelos partidos e em que consistem. O propósito é situá-las em um cenário mais amplo, a partir de sete categorias analíticas: visibilidade, discutibilidade, participação e interação, advocacy, militância e formação política. Já foi ressaltada primazia da visibilidade, quando citado o trabalho de Gibson (2000; 2003), mas vale a pena abordar os demais focos. Quadro 3 – Resumo das estratégias utilizadas nos websites dos partidos 1 2

Estratégias Divulgação e promoção da imagem do partido Eventos, atividades e agenda do partido

Em que consistem Conteúdos próprios em vários formatos (texto, imagem, vídeo, áudio) sobre a história, a atuação, a memória e os feitos do partido.

13   

3

Ênfase à opinião política das elites partidárias

Compilação de material opinativo (entrevistas, artigos, debates) com a autoria ou protagonismo das lideranças do partido e sua função de articulação política. Ênfase a informações sobre os integrantes do partido que exercem cargos-chave na estrutura de poder no âmbito do Executivo nacional, estadual ou municipal, além de funções de destaque no parlamento e demais instituições. Reitera o pressuposto do parlamentar como intermediário burocrático.

4 5

Inserção partidária no debate sobre temas de repercussão internacional Prestação de constas, dados abertos, captação da percepção dos filiados e do cidadão de modo geral.

7

Política Internacional Accountability e transparência Interação com filiados e participação cidadã Advocacy de públicos

8

Relação com a mídia

9

Espaço do candidato

1 0

Educação e formação política

6

Tentativa de se tornar porta-voz de discursos e ideias de grupos que compartilham de uma certa identidade comum, como mulheres, jovens e negros. Estratégias para manter e alimentar o relacionamento com a mídia, com o objetivo de inserção de conteúdos de interesse dos partidos na agenda da mídia privada, como forma de conferir visibilidade às ações e posições das legendas no nível da mediatização ampla. Orientações formais e legais para interessados em apresentar candidaturas pelo partido nos diferentes pleitos (municipais, estaduais, federais) Uso de estratégias de educação à distância, com recurso tecnológicos, tais como cursos e conteúdos de formação política e educação para a democracia e a cidadania.

Fonte: Elaboração dos autores.

Das dez estratégias mapeadas, sete estão diretamente relacionadas à política de visibilidade das legendas, o que significa que 70% do esforço investido pelos partidos em seus websites se dirigem para a conquista de visibilidade. Apenas três se diferenciam desse foco: advocacy de públicos, interação com o eleitorado e educação política. Cabe ressaltar ainda que até mesmo algumas estratégias que à primeira vista parecem distintas, desembocam nos trilhos da publicidade e da visibilidade. São vários os exemplos, como no caso do item 3, em que a ênfase à opinião política da elites partidárias exerce várias funções nos websites. Ao mesmo tempo em que favorecem a discutibilidade, a opinião, a influência política e a persuasão, também promovem a publicidade e a visibilidade das propostas da legenda e de seus líderes. O mesmo ocorre com as estratégias de advocacy de públicos (item 7) e a formação política (item 10). Ao abraçar determinadas causas e divulgar conteúdos educativos, as legendas não deixam de promover publicidade e visibilidade. Ao contrário, buscam alavancar credibilidade e confiança, a fim de agendarem suas opiniões em outras áreas, pela tática de priorização de temas, uma ferramenta mediática. Cabe destacar ainda a ênfase na visibilidade das elites partidárias, de forma personalizada (BAQUERO, 2000), o que reitera o conceito de democracia do público (audience democracy), cunhado por Bernard Manin (1995), para descrever as transformações identificadas nos atuais regimes representativos. Nesse estágio das democracias representativas a escolha eleitoral passa 14   

a ser personalizada, isto é, “cada vez mais os eleitores tendem a votar em uma pessoa, e não em um partido” (1995, p.25). 5.2 Convergências e similaridades Em primeiro lugar destacamos que a observação e o monitoramento dos formatos e conteúdos revela que há um padrão similar de website adotado por todos os partidos. Isso se explica certamente pelo fato de que os websites são desenhados e elaborados por empresas especializadas, que adotam padrões similares, consagrados pelos grandes partidos6, confirmando estudos anteriores de Blanchard (2006) e Gibson (2000; 2003) Sobre as semelhanças e padrões comuns nos websites, é oportuno mencionar as observações de Manuel Castells (2013). O autor analisa tal fenômeno como uma consequência da própria lógica da sociedade em rede e da galáxia da internet. Assim, o uso generalizado de certos padrões e formatos constitui a prova da importância da internet e de como ela impõe sua lógica aos produtores de conteúdos virtuais, bem como a necessidade de se adequar à gramática da comunicação para usufruir de seus potenciais. Antes dele, outros autores já haviam chamado a atenção para a adaptação do discurso político ao ambiente midiático, inclusive, com a incorporação de estratégias comuns aos dois campos (CHARAUDEAU, 2007; GOMES, 2004). Um ambiente informacional que compartilha certos códigos, modos operacionais e padrões visuais facilita a captação da atenção dos públicos e pode promover maior adesão e engajamento. Tudo isso se enquadra no debate sobre a internet como resultado de um processo de produção social de um novo modo de produção informacional (LASH, 2005). Como os sistemas tecnológicos são socialmente produzidos (FIGUEIREDO, 1999), a produção social é estruturada culturalmente (CASTELLS, 2003). Além disso, esse efeito de consonância e convergência de formato pode ser explicado pela própria concorrência entre os partidos, reproduzindo inclusive uma concorrência que ocorre na esfera mediática também e que faz com que os conteúdos reproduzidos sejam os mesmos. A competição conduz a padrões similares, com algumas marcas identitárias, conforme o perfil do partido, como a ênfase a conteúdos informativos. A concorrência leva os partidos a adotarem estratégias focadas em articular conexões com os mesmos públicos do mercado eleitoral, a exemplo da ênfase na juventude ou no público feminino, por exemplo. Da mesma forma, observamos as marcas identitárias, como no caso dos partidos trabalhistas, que priorizam estratégias de conexão com o operariado. A esse respeito cabe salientar as observações de Veiga                                                              6

A título de curiosidade, é interessante observar que a diretriz estratégica comum não necessariamente se replica em outras esferas dos mesmos partidos. Um exemplo são os sites partidários na Câmara dos Deputados, que seguem, de maneira geral, estratégias diferentes das esferas nacionais, em função de necessidades específicas do mundo parlamentar (tamanho da bancada, competição intrapartidária, etc).

15   

(2007) acerca do desafio recente dos partidos brasileiros no que refere a manter vínculos identitários com o eleitorado. 5.3 Estratégias de educação política Em sua análise do desenvolvimento histórico dos partidos políticos na América Latina, Baquero (2000) ressalta que o caráter imediatista das legendas faz com que elas não desempenhem a função política mais benéfica para sua própria institucionalização: a educação política. Assim, alvos de uma desconfiança estrutural e histórica, os partidos não contam com opiniões favoráveis por parte da população. Segundo o autor, é impossível a construção de relações recíprocas fundadas na confiança em um ambiente no qual o clientelismo e o oportunismo institucionalizaram-se (BAQUERO, 2000, p.69). Para Reis, há outra questão importante a ser analisada no contexto brasileiro: (...) a enorme e inequívoca deficiência manifestada pelos eleitores em questão no que diz respeito ao aspecto cognitivo – ou ao envolvimento intelectual com o processo político, e ao correspondente grau de clareza na percepção dos interesses em jogo – acarreta que a identidade envolvida na síndrome populista deva ser vista como uma espécie de matéria prima sociológica toscamente trabalhada do ponto de vista políticos (REIS, 1988, p.311 – grifos no original).

Em relação ao tema da educação política, o Quadro 4 mostra que 28 partidos adotam projetos e estratégias permanentes nessa área, o que corresponde a 87,5% do total de siglas. Esse dado mostra o peso e a relevância desse item no mapeamento realizado. O fato de que apenas quatro partidos não usam algum recurso de educação política mostra que se trata de uma tendência dominante, o que justifica o foco específico nesse viés. É oportuno ressaltar que a Lei dos Partidos Políticos (Lei Federal 9.096/1995) estabelece que as legendas devem aplicar 20% dos recursos oriundos do Fundo Partidário para atividades de educação política, além de manutenção de institutos de pesquisa e doutrinação. As iniciativas, portanto, são estimuladas pela própria legislação em vigor. Outro aspecto relevante a ser considerado é o desafio dos partidos frente à cultura política de desconfiança popular. Afinal, como legitimar tais conteúdos educativos em um cenário de ceticismo e falta de confiança da população? (DANTAS, 2014). Quadro 4 - Partidos que adotam estratégias de educação e formação política

1

Sigla PMDB

Legenda Partido do Movimento Democrático Brasileiro

Educação Sim

2 3

PTB PDT

Partido Trabalhista Brasileiro Partido Democrático Trabalhista

Sim Sim

4

PT

Partido dos Trabalhadores

Sim

16   

5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32

DEM PCdoB PSB PSDB PTC PSC PMN PRP PPS PV PTdoB PP PSTU PCB PRTB PHS PSDC PCO PTN PSL PRB PSOL PR PSD PPL PEN PROS SDD

Democratas Partido Comunista do Brasil Partido Socialista Brasileiro Partido da Social Democracia Brasileira Partido Trabalhista Cristão Partido Social Cristão Partido da Mobilização Nacional Partido Republicano Progressista Partido Popular Socialista Partido Verde Partido Trabalhista do Brasil Partido Progressista Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado Partido Comunista Brasileiro Partido Renovador Trabalhista Brasileiro Partido Humanista da Solidariedade Partido Social Democrata Cristão Partido da Causa Operária Partido Trabalhista Nacional Partido Social Liberal Partido Republicano Brasileiro Partido Socialismo e Liberdade Partido da República Partido Social Democrático Partido Pátria Livre Partido Ecológico Nacional Partido Republicano da Ordem Nacional Solidariedade

Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Não Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Não Sim Sim Não Sim Sim Não

Fonte: Elaboração dos autores

Os partidos utilizam uma variedade de estratégias para a formação política, embora priorizem a formação jovem e a formação ampla, conforme descrito no Quadro 5. A categoria da formação ampla consiste na oferta de conteúdos nos websites voltados para temas abrangentes relacionados à política, sem vínculo direto com a identidade partidária. Enquadram-se nessa categoria conteúdos e cursos oferecidos sobre temas como democracia, sistema eleitoral, cidadania, direitos sociais, coletivos e civis. Esse quesito figura em segundo lugar em número de partidos que o utilizam, com adesão de 13 das 32 siglas e mostra o interesse delas em focar na política no sentido mais amplo do termo. De forma complementar a essa categoria destaca-se a terceira do ranking, a EAD (educação à distância), que contempla especificamente a oferta de cursos online, com tutoria e emissão de certificado por uma entidade conveniada. Dos 32 partidos, sete utilizam-se desse recurso, o que mostra que ainda se trata de uma modalidade secundária de educação política, apesar do potencial da web. Os sete partidos são: PMDB, DEM, PSDB, PPS, PP, PRB e PSD. Interessante notar, que o partido de maior tradição ideológica no Brasil, o PT, não está entre os sete, embora seja uma das siglas a mais investir em estratégias de comunicação por meio de novas tecnologias7.                                                              7

Braga, França e Nicolás (2009) argumentam que o PT, apesar de investir fortemente em ações de formação cultural e informativa de seus militantes, não se equipara a partidos mais tradicionais e com viés marxista de esquerda.

17   

A formação jovem configura-se como a estratégia mais adotada pelos partidos no ranking, com adesão de 24 das 32 legendas. Trata-se de uma categoria com conteúdos voltados especificamente para os jovens eleitores e inclui informações sobre políticas públicas para a juventude, modos de participação dos jovens na política e como os partidos atuam na promoção da cidadania juvenil. A prevalência dessa estratégia mostra que os partidos estão decididos a investir na renovação de seus quadros e estimular a participação e o ingresso da juventude na política. A oferta de conteúdos relacionados à história política e ao pensamento político clássico aparece na sequência do ranking, com quatro registros, seguida da educação ambiental, com três. A educação ambiental fica restrita aos partidos considerados de orientação “verde”, ou seja, PV e PEN, com exceção do PMDB, que inclui a temática, embora não seja considerado um partido ecológico. Na categoria “outros” destacam-se divulgação de estudos científicos, videoteca virtual para download, com documentários e vídeos políticos, além de conteúdos sobre educação para a sociedade multicultural. QUADRO 5 - Estratégias de educação política adotadas pelos partidos Educação

História Política /Pensamento clássico

Outros

Índice de Educação IE

1

1

0

0,83 

1

0

0

0

0,50 

1

1

0

0

0

0,50 

1

1

1

0

0

0

0,50 

PRB

1

1

1

0

0

0

0,50 

PSD

1

1

1

0

0

0

0,50 

PDT

1

1

0

0

0

0

0,33 

PT

1

1

0

0

0

0

0,33 

PCdoB

1

1

0

0

0

0

0,33 

PSB

0

1

0

0

1

0

0,33 

PMN

1

1

0

0

0

0

0,33 

PV

0

0

0

1

0

1

0,33 

PTdoB

1

1

0

0

0

0

0,33 

PSTU

0

1

0

0

0

1

0,33 

PCB

1

1

0

0

0

0

0,33 

PSDC

0

1

0

0

0

1

0,33 

PROS

0

1

0

0

0

1

0,33 

PHS

x

1

0

0

0

0

0,20 

PTB

0

1

0

0

0

0

0,17 

PTC

0

1

0

0

0

0

0,17 

Formação Ampla

Formação Jovem

EAD

PMDB

1

1

1

DEM

1

1

PSDB

1

PPS

Sigla

Ambiental

18   

PSC

0

1

0

0

0

0

0,17 

PP

0

0

1

0

0

0

0,17 

PRTB

0

1

0

0

0

0

0,17 

PCO

0

1

0

0

0

0

0,17 

PTN

0

1

0

0

0

0

0,17 

PSL

0

1

0

0

0

0

0,17 

PR

0

0

0

0

0

1

0,17 

PEN

0

0

0

1

0

0

0,17 

PRP

0

0

0

0

0

0

‐ 

PSOL

0

0

0

0

0

0

‐ 

PPL

0

0

0

0

0

0

‐ 

SDD  0 0 Fonte: Elaboração dos autores

0

0

0

0

‐ 

A oferta dos cursos de formação política, em termos gerais, segue lógicas comuns, com poucas diferenciações. Eis uma síntese das tendências específicas. A primeira compreende amplo investimento em formação política básica, cujos principais atores são PMDB, PT, PSD, PCB e PPS. A segunda abrange estratégias vinculadas ao perfil partidário: educação socioambiental (PV, PEN, PPS e PMDB); formação marxista (PCB e PCdoB); militância negra e feminina (PT); participação cidadã nos conselhos de políticas públicas setoriais (PMDB, PT, PSDB, DEM e PPS). Neste caso, trata-se de partidos com grande número de vereadores eleitos e com forte inserção de gestores públicos nas esferas municipais e estaduais, indicados pelos diretórios locais e regionais. Além disso, conforme destacamos acima, sete partidos (PMDB, DEM, PSDB, PPS, PP, PRB e PSD) oferecem cursos regulares na modalidade EAD, com carga horária de 15 a 75 horas. Destacam-se cursos para filiados, candidatos, prefeitos e vereadores, gestores públicos, agentes comunitários, jovens militantes, mulheres, etc. Quando analisamos o Índice de Educação dos partidos, que varia de 0 a 1, conforme mostra o Quadro 5, fica clara uma certa homogenia estratégica por espectro partidário (direita e esquerda, basicamente). O PMDB, partido que vem compondo a base do governo há pelo menos duas décadas, é disparado o que mais investe em educação (0,83) e o único que pode ser classificado como Centro, confirmando estudo de Braga, França e Nicolás (2009, p. 205), que aponta o partido citado como aquele com melhor grau de atividades de formação política, em razão de “investir fortemente em atividades de formação política para seus incontáveis vereadores em cidades do interior do país e também ao trabalho de desenvolvimento pela Fundação Pedroso Horta, entidade de formação política vinculada ao partido”. Ou seja, os dados sugerem uma convergência da utilização da Educação Política no site com a estratégia partidária de avançar sobre as eleições locais, sem estratégia eleitoral clara de 19   

buscar a chefia de Executivo Federal, investindo em visibilidade de forma mais ampla. Obviamente, uma resposta mais precisa demandaria análise de conteúdo mais detalhada das ferramentas. É interessante notar ainda que o segundo grupo, com índice de 0,50, é composto majoritariamente por partidos de direita ou centro-direita (como DEM, PSDB e PSD). O grande grupo que vem a seguir, com índice de 0,33, engloba grandes partidos de esquerda (como PT, PDT, PSB, PCdoB E PCB) e alguns partidos pequenos e/ou “nanicos” de direita, centro-direita ou esquerda (como PMN, PV, PTdoB, PSTU). Em suma, a grande direita ou centro-direita parece se preocupar mais em investir nas ferramentas de educação por meio de seus websites do que os grandes partidos de esquerda, o que contradiz a suposição inicial de que partidos de esquerda, por terem a marca de uma maior ideologização da sociedade, naturalmente se preocupassem mais com esse item. Os últimos colocados, com exceção do PP, são pequenos ou “nanicos”, de direita ou centro-direita. O PSOL, pequeno partido considerado de matiz opinativo-ideológica de esquerda não investe nada nesta área. O investimento dos partidos de direita em estratégias de Educação Política por meio de seus websites parece comprovar a tese de Mainwaring et al. (2000) sobre a modernização dos partidos conservadores do Brasil nas últimas décadas. Por outro lado, os dados estariam de acordo com o argumento dos autores de que os pequenos municípios das áreas mais pobres são mais conservadores, isto é, tendem a votar nos candidatos dos partidos de direita. Assim, para expandir o número de eleitores, essas siglas precisariam apostar no público das grandes cidades mais desenvolvidas, que usualmente não votaria nelas. A internet, desse modo, seria uma estratégia acertada para atrair um público que, pela análise de Mainwaring et al. (2000), estaria mais predisposto a votar na esquerda do que nos conservadores. De maneira geral, a análise revela que as estratégias de educação política estão associadas à defesa da grandeza cívica dos partidos (BOLTANSKI, 2000), fortalecimento da identidade partidária, ampliação dos quadros dirigentes, da militância e dos simpatizantes. O objetivo parece ser o de fazer os cidadãos conhecerem e reconhecerem a identidade partidária, por meio da sugestão de uma imagem mais social e moderna, o que tem a ver também com visibilidade. Trata-se de algo similar ao modo pelo qual se formam as almas (CARVALHO, 1990), cujo princípio operatório se dá pela atuação dos símbolos e da doutrina dos partidos. 5.4 Estratégias de advocacy Conforme ressalta Manin (2013), os partidos escolhem quais segmentos de público disponíveis eles querem atingir. Em outros termos, cada legenda constrói seu “público-alvo” em busca de apoio eleitoral. O autor prossegue afirmando que depois de avaliar os interesses 20   

específicos de cada segmento eleitoral, os líderes partidários precisam escolher quais seriam mais adequados, de acordo com tradição, restrições, histórico e reputação da legenda (MANIN, 2013, p.120). De certa forma, Manin aponta para a realidade partidária algo que outros pesquisadores já perceberam na produção massiva: a segmentação dos públicos (WOLTON, 2006 ). Para atingir aos seus públicos, os partidos adotam a estratégia de advocacy, que consiste, basicamente, na representação específica das demandas e interesses de certos segmentos sociais que constroem uma identidade própria. Apenas três dos 32 partidos não utilizam estratégias específicas de advocacy. Trata-se de dois partidos de pequeno porte: PCdoB e PRP e de uma legenda criada em 2012, o PSD. As três legendas apresentam websites com desenho muito similar, que exercem mais a função de mural informativo ou de outdoor para divulgar notícias, arregimentar militantes e oferecer um canal de contato, o e-mail institucional. No caso da coincidência entre os 29 que recorrem a tal estratégia, a explicação mais plausível é a necessidade dos partidos eleitorais de massa de dirigirem suas mensagens a públicos específicos, ao invés de se dirigirem à totalidade dos cidadãos ou mesmo, no caso da esquerda, aos trabalhadores de forma geral. Também não é possível deixar de notar que própria concorrência entre as legendas pode ser um fator de estímulo. Quadro 6 – Núcleos de Advocacy 1

Partidos PMDB

2 3

PTB PDT

4 5 6 7

PT DEM PCdoB PSB

8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24

PSDB PTC PSC PMN PRP PPS PV PTdoB PP PSTU PCB PRTB PHS PSDC PCO PTN PSL

Núcleos de Advocacy PMDB Mulher, PMDB Sindical, PMDB Afro, PMDB Juventude, PMDB Socioambiental, PMDB Tradicionalista PTB Mulher, PTB Juventude Movimento Negro, Movimento da Mulher, Juventude Socialista, Movimento Sindical, Movimento dos Aposentados Juventude do PT, Mulheres, Meio Ambiente e Desenvolvimento, Movimentos Populares, Sindical Juventude DEM, Mulher DEM Sem registro Mulheres Socialistas, Sindicalismo Socialista, Juventude Socialista, LGBT Socialista, Negritude Socialista, Movimento Popular Socialista PSDB Mulher, PSDB Sindical, Juventude Social Democrata PTC Jovem, PTC Mulher PSC Jovem, PSC Mulher PMN Jovem, PMN Mulher Sem registro Coordenação de Mulheres do PPS, Juventude Popular Socialista PV Juventude, PV Mulheres PTdoB Mulher, PTdoB Movimento Jovem Juventude Progressista, Mulher Progressista PSTU Juventude, PSTU Cultura, PSTU Movimento Social, PSTU Luta contra as opressões Sindical, Juventude, Cultura PRTB Mulher, PRTB Jovem PHS Mulher, Juventude 31 PSDC Jovem, PSDC Mulher Juventude, Negros, Mulheres, Sindical, Cultura Mulher, Jovem PSL Mulher, PSL Jovem

21   

25 26 27 28 29 30 31 32

PRB PSOL PR PSD PPL PEN PROS SDD

PRB Mulher, PRB Jovem, PRB Verde Movimentos Sociais PR Mulher Sem registro Sindical, Mulher PEN Mulher, PEN Jovem PROS Mulher, PROS Jovem Mulher, Jovens, Negro, Índio, Meio Ambiente, Minorias, Movimento Sindical, Aposentados e Pensionistas

Fonte: Elaboração dos autores

Mulheres e jovens são os dois principais focos das estratégias de advocacy dos partidos, conforme mostram os Quadro 6 e 7. Tal opção explica-se, em parte, porque são dois segmentos que concentram grandes quantitativos de eleitores. As mulheres representam 51,90% do eleitorado, com 72,8 milhões de eleitoras; enquanto os homens totalizam 47,10% ou 67,3 milhões de votantes. Os jovens, por sua vez, representam 17,64% do eleitorado brasileiro, ou seja, 24,8 milhões, conforme dados das eleições de 20128. De qualquer forma, a necessidade de construir identidades partidárias pode encontrar respaldo nesses grupos, por conta de uma pauta comum de reinvindicações que seja mais fácil de desenhar do que seria em relação a outros grupos. Por exemplo, a questão da saúde materna e do aborto são pontos específicos em políticas públicas voltadas às mulheres, assim como as questões da educação superior, da meia-entrada e da redução da maioridade penal podem ser voltadas aos jovens. Essas questões “identitárias”, por assim dizer, podem ser mais fáceis de aglutinar do que, no extremo oposto, políticas voltadas aos homens, uma vez que as identidades dos eleitores do sexo masculino com mais de 25 anos de idade são mais fragmentárias. Os demais núcleos, como movimentos sociais, negros, índios e aposentados se justificam pelo perfil partidário, além da identidade de cada legenda. Porém, em relação à questão racial, especificamente, Mainwaring et al. (2000) ressaltam que o tema foi historicamente pouco politizado pelos partidos no país. Para eles, também a questão de gênero recebeu pouca atenção dos partidos, mas a atual centralidade do ponto pode refletir uma mudança recente na realidade brasileira, ocorrida já no século XXI9. Os partidos não politizaram as questões raciais e de gênero, e os movimentos sociais que o fizeram não tiveram muito impacto na política partidária, parcialmente porque procuraram de modo deliberado manter sua autonomia em relação aos partidos. A esquerda tem politizado as questões de distribuição e de classe social, mas a fragmentação dentro das próprias classes torna difícil para a esquerda galvanizar o apoio de grupos muito heterogêneos internos aos setores populares (MAINWARING et al., 2000, p.83).                                                              8

Informações disponíveis em: http://www.tse.jus.br/eleicoes/estatisticas/estatisticas-eleicoes-2012 Não dispomos de dados a esse respeito e tampouco é objetivo deste trabalho fazer uma análise histórica sobre o desenvolvimento dos partidos brasileiros, mas outro fator que pode ter provocado essa mudança em relação à época em que Mainwaring et al. analisam é a entrada do PT no Executivo Federal em 2003. Muito analistas apontam o PT como o primeiro partido brasileiro a ter a maior parte de seus militantes e filiados integrantes de movimentos sociais, o que poderia ter estimulado as outras siglas a investirem nesses públicos segmentados.

9

22   

A esse respeito, cabe ainda lembrar o argumento de Veiga (2007) de que a identidade partidária é uma espécie de capital relevante para a disputa no mercado eleitoral. Trata-se de um elemento que funciona como uma âncora política. Desse modo, a identidade partidária é entendida como uma associação psicológica que os cidadãos constroem com um partido político, com base em suas percepções, valores e comportamentos. Quadro 7 – Núcleos de Advocacy – Ranking Núcleos 1 Mulheres 2 Juventude 3 Sindical 4 Negro/Afro 5 Movimentos populares / sociais 6 Ambiente 7 Cultura 8 Aposentados e Pensionistas 9 Indígenas Fonte: Elaboração dos autores

N 27 24 06 04 04 03 03 02 01

% 84,4 75,0 18,6 12,5 12,5 9,30 9,30 6,20 3,10

É importante ressaltar que a advocacy é considerada uma modalidade de representação política (AVRITZER, 2007) 10 . Um dos aspectos mais relevantes para o caso em estudo é a análise do autor acerca de como os próprios partidos e representantes políticos podem exercer um tipo de representação que também leva em conta dimensões de advocacy. Trata-se de situações em que a representação abraça alguma forma de ativismo e incorpora em seu discurso a defesa, o patrocínio e o apoio de causas coletivas, em sintonia com a militância. Certamente constitui uma estratégia das legendas para arregimentar eleitores, em um contexto eleitoral caracterizado pela erosão das fidelidades partidárias e o aumento de eleitores flutuantes ou desvinculados (Manin, 2013), o que vai ao encontro do potencial individual e coletivo proporcionado principalmente pelas mídias sociais. Tal cenário, conforme o mesmo autor, “reforçou a necessidade de dinamismo na mobilização de eleitores” (p.120). É certo que cada partido “retém uma base nuclear de eleitores fieis”, porém, à medida que esse núcleo encolhe, cada legenda “precisa buscar o apoio de eleitores em outro lugar”, atuando de forma proativa, a fim de tentar ampliar sua base eleitoral. Para isso, servem-se de dados de pesquisas de opinião, grupos focais e outros instrumentos de sondagem e monitoramento da opinião dos eleitores. Em suma, “os partidos raciocinam em termos de grupos de eleitores (como jovens, mães que trabalham, e assim por diante, e não em termos de eleitores individuais” (Manin, 2013, p.120).                                                              Para o autor, existem três tipos de representação: a eleitoral, no qual a autorização se dá por meio do voto; a advocacia, que pressupõe a identificação do representante com a condição (social, econômica, cultural, etc.) do representado; e a representação da sociedade civil, em que a autorização dos atores com experiência no tema é condição essencial para sua escolha (Avritzer, 2007, p.458).

10

23   

5.5 Estratégias de contato, interação e participação Em uma primeira avaliação geral das estratégias de contato, interação e participação pelos sites dos partidos, percebe-se, no Quadro 8, que há um bom uso de recursos tecnológicos para deixar a informação mais interessante, acessível e atualizada (vide os 100% que todos os partidos obtiveram em uso de recursos multimídia, como vídeos e áudios, e no investimento em atualização de conteúdo). Percebe-se que todas as siglas também desejam ter um ponto de contato e/ou acesso com o cidadão, já que a totalidade possui algum meio de contato como email, por exemplo. O percentual já cai muito (para 21,9%) quando a questão é o uso de ferramentas de sondagem, como enquetes, ou seja, há, ainda que baixo, o interesse em ter um termômetro da sociedade em relação a temas considerados importantes pelos partidos que adotam o instrumento. Entretanto, o percentual cai para 0 quando são considerados os recursos para debates, de maneira que se entende não haver interesse em dialogar em vias contínuas com a sociedade, ou seja, ter um debate temático contínuo com a sociedade. No mapeamente detalhado sobre comunicação e mídia que fizeram em 2008, Braga, França e Nicolás (2009, p. 201), já apontavam um percentual mais baixo nos itens que possibilitam maior interatividade dos cidadãos com, o que reforça aqui (o que também foi observado no artigo dos três autores citados) o uso das ferramentas mais como um aspecto de comunicação preferencialmente unidirecional de lideranças para militantes. Apesar disso, 87,5% possuem alguma mídia social, o lócus para o debate e o diálogo. A suspeita aqui é de que os partidos ainda usem as mídias sociais tal como a maioria dos parlamentares e dos próprios parlamentos (Norris, 2001), para visibilidade e publicidade de seus atos, assim como nos sites. Ou seja, as ferramentas são diferentes, mas a lógica usada parece ser a mesma de ferramentas mais tradicionais da internet, como os websites oficiais. Quadro 8 - Recursos de multimídia, interação e atualização Ferramentas utilizadas Recursos de multimídia Meios de contato e interação Ferramentas de participação Instrumentos de sondagem e percepção de opinião pública Recursos de debate Atualização semanal

N 32 32 28 07 0 32

% 100 100 87,5 21,9 0 100

Fonte: Elaboração dos autores

No que diz respeito à interação – ainda que unidirecional - com os filiados, que não necessariamente significa debate de ideias ou propostas, observamos que 100% dos partidos possuem e-mail para contato. Um total de 53,13% (17) possui boletim eletrônico, com 24   

informações customizadas que podem ser recebidas por assinantes. Apenas 21,88% (7) contabilizam enquetes, ou seja, parece haver um baixo interesse em sondar a opinião do cidadão. O percentual sobe muito, para 87,5% (28), quando são contabilizadas as mídias sociais, sugerindo a avaliação anterior em relação ao uso deslocado da lógica de debate promovida por essas ferramentas. De qualquer modo, há uma clara percepção dos partidos de que a sociedade está presente nessas mídias e de que é preciso participar delas, ainda que de forma intuitiva. Novamente, contudo, pode estar operando aqui sob a perspectiva competitiva entre as siglas, isto é, a necessidade de adotar todas as ferramentas já usadas pelos demais competidores eleitorais. Interessante ressaltar que só há quatro partidos que contemplam as quatro possibilidades de interação: PSDB, PSC, PRB e PEN. Todos de direita ou de centro-direita. No Quadro 9, que considera a formação de um índice de 0 a 1 composto especificamente pelas quatro variáveis mencionadas, somente essas quatro siglas aparecem com valor máximo. Os que possuem índice de 0,75 são tanto de direita, esquerda ou centro, de maneira que não há como avaliar uma atuação por espectro partidário, No meio do caminho, com 0,5, estão grandes partidos como PMDB - que, apesar de ser o partido que mais investe em educação, não é tão forte no quesito interação/participação – e outros de médio e pequeno porte, como PP, PSD e PR. Quadro 9 - Interação com filiados e participação cidadã

Partidos

e-mail

Boletim enquetes eletrônico

Redes sociais

Índice de Interação II

PMDB

1

0

0

1

0,5 

PSDB

1

1

1

1



PSC

1

1

1

1



PMN

1

1

1



PRB

1

1

1

1



PEN

1

1

1

1



PTB

1

1

1

0

0,75 

PDT

1

1

0

1

0,75 

PT

1

1

0

1

0,75 

DEM

1

0

1

1

0,75 

PPS

1

1

1

0

0,75 

PV

1

1

0

1

0,75 

PTdoB

1

1

0

1

0,75 

PSTU

1

1

0

1

0,75 

PHS

1

1

0

1

0,75 

PSDC

1

1

0

1

0,75 

PTN

1

1

0

1

0,75 

PSOL

1

1

0

1

0,75 

SDD 

1

1

0

1

0,75  25 

 

PCdoB

1

0

0

1

0,5 

PSB

1

0

0

1

0,5 

PP

1

0

0

1

0,5 

PCB

1

0

0

1

0,5 

PRTB

1

0

0

1

0,5 

PCO

1

0

0

1

0,5 

PSL

1

0

0

1

0,5 

PR

1

0

0

1

0,5 

PSD

1

0

0

1

0,5 

PPL

1

0

0

1

0,5 

PROS

1

0

0

1

0,5 

PTC

1

0

0

0

0,25 

PRP

1

0

0

0

0,25 

TOTAL

32

17

7

28

Fonte: elaboração dos autores

Quanto ao uso de mídias sociais, observamos que 87,5% (28) dos sites dos partidos têm link para alguma rede social, como mostra o Quadro 10. Dentre elas11, a mais popular é o Twitter, que está presente em 96,43% (27) dos sites. Em seguida, vêm o Facebook, com 89,23% (25); Youtube, com 60,71% (17); e Flickr, com 17,86%. As demais têm todas menos de 16%. Corroborando as análises acima, vemos que um grande número de partidos participa de alguma rede social, sobretudo das mais populares, como Twitter e Facebook. O Twitter se caracteriza pela rapidez e facilidade de propagação de opiniões, principalmente não pessoais, talvez daí sua leve preponderância sobre o Facebook e grande diferença em relação às outras. O uso de redes mais atuais, focadas e imagem e som, como Flickr, Instagram e Soundcloud, ainda não parece fazer parte da realidade dos partidos. Quadro 10 – Uso de mídias sociais

Partidos

Youtube

Twitter

Facebook

RSS Feed

Orkut Instagram

PMDB

1

1

1

1

1

0

PT

1

1

1

1

0

PSDB

0

1

1

1

PMN

1

1

1

PV

1

1

PSD

1

PSC

1

Linkedin

 Índice de Redes Sociais IRS 

Soundcloud

Google+

Flickr

0

0

0

1

0

0,55 

1

0

1

0

0

0

0,55 

0

0

1

0

1

0

0

0,45 

1

0

1

0

0

0

0

0

0,45 

1

1

0

0

0

0

0

1

0

0,45 

1

1

1

0

0

0

0

0

1

0

0,45 

1

0

0

0

0

1

0

0,38 

                                                             11

Foram consideradas mídias sociais para esta pesquisa: Youtube; Twitter; Facebook; RSS; Feed; Orkut; Instagram; soundcloud; Google +; Flickr; Linkedin.

26   

PDT

0

1

1

0

1

0

0

0

0

0

1

0,36 

DEM

0

1

1

0

0

0

0

0

1

1

0

0,36 

PHS

1

1

1

0

0

0

0

0

0

1

0

0,36 

PCO

0

1

1

1

0

1

0

0

0

0

0

0,36 

PRB

1

1

1

1

0

0

0

0

0

0

0

0,36 

PPL

0

1

1

1

0

0

0

0

1

0

0

0,36 

PEN

1

1

1

0

0

0

0

0

0

1

0

0,36 

PROS

1

1

1

0

0

0

0

0

1

0

0

0,36 

SDD 

1

1

1

0

0

0

0

0

0

1

0

0,36 

PTdoB

0

1

1

0

0

0

0

0

0

1

PP

1

1

0

0

0

0

0

0

0

1

0

0,27 

PSTU

1

1

1

0

0

0

0

0

0

0

0

0,27 

PSDC

1

1

1

0

0

0

0

0

0

0

0

0,27 

PTN

1

1

1

0

0

0

0

0

0

0

0

0,27 

PR

1

1

1

0

0

0

0

0

0

0

0

0,27 

PCdoB

0

1

0

1

0

0

0

0

0

0

0,20 

PSB

0

1

1

0

0

0

0

0

0

0

0

0,18 

PCB

0

1

1

0

0

0

0

0

0

0

0

0,18 

PRTB

0

0

1

0

0

0

0

0

1

0

0

0,18 

PSL

0

1

1

0

0

0

0

0

0

0

0

0,18 

PSOL

0

1

1

0

0

0

0

0

0

0

0

0,18 

PTB

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0,00 

PTC

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0,00 

PRP

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0,00 

PPS

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0,00 

TOTAL

17

27

25

10

2

3

1

1

5

10

1

0,30 

Fonte: elaboração dos autores

Considerando um índice de participação em redes sociais (IRS), meramente quantitativo, observamos que as maiores bancadas na Câmara dos Deputados, do PMDB e do PT, são as que mais investem em redes sociais diferentes (cada um deles está em 6 redes diferentes). No restante, não há diferenças muito grandes, mesmo em relação ao espectro ideológico. Os quatro partidos que não possuem rede alguma são; PTB, PTC, PRP e PPS. Entretanto, não podemos avaliar se isso reflete alguma posição negativa em propiciar um diálogo com a sociedade. De maneira geral, pode-se dizer que os partidos investem mais em canais tradicionais de contato, como e-mail, e também bastante em mídias sociais, mas isso não significa investir não necessariamente em debate, Não foram observadas diferenças relevantes por espectro partidário. Finalmente, é interessante comparar os dados obtidos neste estudo com informações sobre o uso das ferramentas digitais pelos parlamentares que compõem estes partidos, segundo

27   

pesquisa Medialogue 2014 12 . Foram analisados os seguintes partidos: DEM, PCdoB, PDT, PMDB, PP, PPS, PR, PRB, PROS, PSB, PSC, PSD, PSDB, PT, PTB, PV e SDD. Individualmente, o índice de resposta de e-mails (embora todos tenham a ferramenta, assim como os seus sites) é baixo, o que reduz obviamente o grau de interatividade por essa ferramenta. O partido com maior índice é o PV, com 36% de respostas aos e-mails enviados pela empresa de pesquisa. Em seguida, vêm PCdoB e PPS (ambos com 33%) e PSB (31%). O restante tem percentual inferior a 26%. Os que têm as menores taxas de resposta são os deputados do PRB (8%), SDD (6%) e PTB (4%). A mesma pesquisa também avaliou o nível de interatividade de deputados e senadores do partidos pelo número de seguidores no Twitter e no Facebook de cada um de seus parlamentares (média de cada bancada). O que mais se sobressai no Twitter é o PSB, com 38.942 seguidores em média. Seguido pelo PDT, com 20.212 e pelo PSC, com 19.323. O PSDB tem 10.655. Todos os outros partidos estão abaixo disso. No Facebook, o PSC também se destaca, com 19.082 seguidores em média. Quando avaliado o grau de interatividade (percentual de parlamentares do partido que publicam opiniões dos eleitores em seus sites, em mural ou enquetes), o PSC é novamente o campeão, com 38%, seguido pelo PV (27%), PPS (22%) e PROS (21%). Imaginase que isso aconteça porque o partido é ligado a movimentos religiosos, de fundo moral, que formam comunidades independentes da esfera política e bastante ativas na esfera digital. . Conforme ressalta Baquero, os líderes partidários podem estar alinhados à teoria das elites, segundo a qual o cidadão é incapaz e inábil politicamente, devendo ser guiado pelos políticos para tomar as melhores decisões. Para consubstanciar esta argumentação, a teoria das elites considera que uma participação política crescente seria desaconselhável. Essa corrente de pensamento argumenta que um sistema democrático estável depende da apatia e da incompetência geral do eleitorado (BAQUERO, 2000, p.87).

5.6 Uso de enquetes nos websites dos partidos Dos 32 partidos, apenas sete utilizam o recurso de enquetes nos websites. São eles: PTB, DEM, PSDB, PSC, PPS, PRB e PEN. O PTB destaca-se como a legenda que registra o maior número de enquetes e o único que disponibiliza um banco de sondagens já feitas, desde o ano de 2005 até o momento. O site oferece para consulta o resultado de 60 enquetes, ou seja, uma média de sete por ano. Os modos de utilização e as lógicas de uso dessa ferramenta são muito variados, ou seja, não se observa um padrão comum entre as legendas. Diante de tal constatação, apresentaremos algumas observações, a partir das informações coletadas durante o levantamento, organizadas em sete itens, por ordem de relevância:                                                              12

Para detalhes da pesquisa, ver: http://www.medialogue.com.br/politico-2-0-2014/

28   

1) As enquetes versam predominantemente sobre a avaliação da condução das políticas públicas pelo Poder Executivo, a exemplo de temas como valor do salário mínimo, rendimento da caderneta de poupança, cobrança de impostos e realização de obras públicas, ou seja, temas de apelo público, capazes de conferir visibilidade às plataformas dos governos administrados por essas legendas. 2) Outro assunto dominante diz respeito à coleta de opiniões da população sobre os trabalhos legislativos, tais como as prioridades para o Congresso Nacional no início de cada ano ou semestre, agenda de votações, avaliação de decisões tomadas pelos parlamentares, debates a respeito do teor específico de determinadas proposições (o que o cidadão pensa sobre o projeto que descriminaliza o uso da maconha e a prática do aborto, por exemplo). 3) Consultas à população sobre questões eleitorais aparecem em terceiro lugar, com abordagens relacionadas ao debate sobre eventuais alterações na legislação, uso de lista fechada, financiamento de campanhas e perguntas diretas sobre a preferência do eleitor a respeito dos principais candidatos à presidência da República ou candidatos apoiados por determinados líderes políticos (“Você votaria em um candidato apoiado ou indicado por Lula?”). 4) Uso das enquetes para afirmar ou reforçar discursos de oposição, tendência registrada especialmente pelos principais partidos que antagonizam com o governo do PT, a exemplo do PSDB: “Você acredita na versão oficial do governo para o apagão?”; “De quem é a culpa pelo aumento da inflação?”; “Por que Dilma foge dos debates?”; “Como você julga a absolvição do senador Renan Calheiros e a ação do PT no episódio?”. 5) Outra tendência registrada são perguntas que contemplam questões em evidência no momento de realização da enquete, a exemplo do atraso nas obras para a Copa do Mundo e as Olimpíadas. 6) Há ainda algumas consultas que são focadas em questões relativas à identidade partidária, a exemplo de uma enquete realizada pelo PEN sobre sustentabilidade, que avalia o grau de adesão dos cidadãos ao debate e às práticas relacionadas ao tema. 7) Por fim, destacam-se enquetes variadas, esparsas e pulverizadas que avaliam desde a eficácia de uma nova legislação, como a Lei Seca, o conteúdo oferecido pelos sites dos partidos e declarações públicas de autoridades. Em suma, o levantamento mostra que o uso de enquetes ainda é limitado pelos partidos, mas aponta para a necessidade de futuros aprofundamentos, uma vez que se trata de uma ferramenta de fácil manejo e relevante para as legendas auscultarem segmentos da opinião pública. Apesar de não apresentarem valor estatístico no sentido estrito do termo, tal mecanismo 29   

pode servir de termômetro para avaliação de eventuais tendências de clima de opinião no ambiente político e eleitoral. 6 CONCLUSÕES As estratégias dos websites apontadas acima se relacionam com as principais funções dos partidos registradas pela literatura (KEY, 1964; VEIGA, 2007, entre outros), uma vez que tanto dialogam com o eleitorado, como afirmam sua identidade institucional e também procuram atuar como mediadores entre a sociedade e as instituições governamentais do Poder Executivo. Em todas elas a publicidade e visibilidade são fundamentais. Talvez por isso haja um investimento prioritários dos websites das legendas em estratégias relacionadas a esse foco, conforme foi demonstrado ao longo da análise. Ao lado da divulgação dos feitos e opiniões dos principais líderes das legendas, exemplo do personalismo como característica da política brasileira, a visibilidade vem reforçar o pragmatismo da atuação partidária (BAQUERO, 2000; NICOLAU, 2010), em forma de cartel (MAIR, 2009), em detrimento da via discursiva dialógica, que poderíamos imaginar mais ligada a um sistema político de tradição ideológica partidária. Somente quatro partidos contemplam as quatro possibilidades de interação (e-mail, boletim eletrônico, enquete e redes sociais). Todos de direita ou centro-direita. E, embora todos possibilitem acesso via e-mail, não se pode garantir que os mesmos são respondidos. Pesquisa que avalia o perfil individual dos parlamentares que compõem as bancadas mostra que a maior taxa de resposta não chega a 40% (MEDIALOGUE, 2014). Portanto, ainda que haja disponibilização, assim como há com as redes sociais, o potencial interativo das ferramentas digitais parece não ser aproveitado. Desta forma, pode-se sugerir, como conclui Blanchard (2006, p. 12), que “a pesquisa e o desenvolvimento de interações com os cidadãos numa perspectiva deliberativa não são, com e nos websites, a prioridade dos partidos”. O levantamento mostra ainda que existe uma configuração comum dos websites estudados, o que se explica provavelmente pelo uso estratégico das ferramentas da web e pela própria lógica da internet (CASTELLS, 2013), além da concorrência entre as legendas, conforme já foi abordado acima. Tal configuração, contudo, ao mesmo tempo que facilita as estratégias de visibilidade, advocacy e interação, por exemplo, também pode acarretar perdas para a identidade dos partidos. Afinal, a lógica que rege a organização é marcada pela distinção, ou seja, cada legenda tenta apresentar-se à sociedade a partir de suas particularidades e não das semelhanças com as demais. Quanto às estratégias de visibilidade e publicidade, o que se observa é uma tentativa de amenizar os possíveis efeitos negativos da lógica da audience democracy, com vistas ao fortalecimento do poder de inserção social das ideias e fundamentos doutrinários dos partidos. 30   

Em outras palavras, trata-se de um movimento com o propósito de aumentar o poder de influência dos partidos na vida social e política (PASQUALINO, 2000), com base na coesão política entre seus dirigentes e signatários por meio das atividades de divulgação e propaganda. REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, A; MARTINS, A. F.. Apontamentos para um modelo de análise de partidos na web. Trabalho apresentado ao grupo de trabalho “Comunicação e política”, do XIX Encontro da Compós, na PUC-RJ, junho de 2010. disponível em http://compos.com.pucrio.br/media/gt3_afonso_de_albuquerque_adriana_figueirola_martins.pdf. Acessado em 18 de junho de 2014. AVRITZER, L. Sociedade civil, instituições participativas e representação: da autorização à legitimidade da ação. Dados, vol.50, n.3, 2007, p.443-464. BARDI, L.; MAIR, P. Os parâmetros dos sistemas partidários. Revista Brasileira de Ciência Política, v.2, n. 4, p.227-256.

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