PALEOAMBIENTES FINI-TERCIÁRIOS E QUATERNÁRIOS NO LITORAL DA REGIÃO DO PORTO

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Dinamica y Evolució de Medios Cuaternarios: 359 -373. 1996.

Editores: A. PéreAlberii, P. Mariini W. Chesworih & A. MarüneCoriizas

PALEOAMBIENTES FINI-TERCIARIOS E QUATERNARIOS NO LITORAL DA REGIÃ DO PORTO

Instituto de Geografia - Faculdade de Letras. Universidade do Porto, PORTUGAL RESUMO Um dos traçocomuns a quase todo o litoral portuguê e a existênci de uma faixa aplanada, designada, entre nos, como "plataforma litoral", situada a altitudes variadas e limitada, para o interior, por um rebordo, geralmente em contraste nÃ-tid com a referida area aplanada. Durante muito tempo a plataforma litoral foi interpretada como um testemunho passivo das variaç'e eustaticas, que teriam originado uma escadaria de "nÃ-veis"designados por critérioaltimetricos. O rebordo que a limita para o interior seria, iogicamente, uma arriba fóssil Todavia, um estudo detalhado dos depósito da plataforma litoral na regiã do Porto veio provar que muitos desses depositos tê caracterÃ-sticafluviais. Os depositos marinhos sã relativamente raros e limitam-se a ocupar a parte exterior da plataforma, desenvolvendo-se a altitudes inferiores a 40m. Os depósito do sector mais alto da plataforma apresentam dois coniuntos de facles, aue c o r r e s ~ o n o e aparentemente, ~. a d-as fases0 ferentes na evolL;ao ao reevo. Jma primeira fase, ame-v afranq^iana, cofresponoeria a conoç6e ooslatcas A segi-noa fase corresponder a a i-ma crise tectónic e climatica correlativa da formaçÃdas rafias. Existem provas de uma movimentaçÃtectonica recente, jà que os depósito mais altos da plataforma estã afectados por diversos acidentes, geralmente de tipo compressivo. Palavras chave: Plataforma litoral, relevo marginal, planÃ-ci litoral, leques aluviais, rafias, neotectonica ABSTRACT LateTertiary and Quaternary palaeoenvironments in t h e littoral region o f P o r t o Along Portuguese linoral there is a platform generally bordered by a relief that was considered as a fossil cliff. The deposits lying upon this platform should be marine ferrasses. However, we find out that these deposits are of a fluvial nature. The marine deposits stand only under 40m high. The higher and older deposits may be split into two groups: 1 - Correlative of a wet tropical climate, prior to Vilafranquian times; 2 - Vilafranquian and post-Vilafranquian fluvial deposits, correlative of a climate andlor tectonic crisis. However, even lhe post-Vilafranquiandeposits are tectoniclay disturbed, as the borderline of two Hercynian structural zones (Porto-Tomar fault) pass nearby. Key words: Littoral platform, alluvial fan, neotectonics.

INTRODUÇAO CONCEITO DE PLATAFORMA LITORAL O mapa da Fig. 1.1 representa os traçogerais d a topografia d a faixa litoral a volta d a cidade do Porto (Portugal). A figura foi construÃ-d a partir d e mapas com a equidistancia das curvas d e nÃ-ved e 25m. Verifica-se que existe uma áre aplanada que vai desde a linha d e costa ai6 uma altitude de 75m (a norte do Rio Donda) o u d e 100-125m ( a sul daquele rio). A partir das altitudes referidas, ergue-se u m relevo geralmente estrei-

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to e alinhado, preferencialmente na direcçÃNNW-SSE. Este relevo foi por nó designado como "relevo marginal" (ARAUJO 1991). Esta area aplanada foi designada por RIBEIRO (1987, p.125) como "planura litoral" e definida como "uma plataforma de abrasãpliocenica ou quaternaria antiga, que umas vezes morre de encontro a uma arriba fóssi e outras se estende por uma apianaçà subaerea". Actualmente, a designaçà mais corrente à a de "plataforma litoral" (BRUM FERREIRA 1978, RIBEIROet ai. 1987). A existênci de uma plataforma ao longo da faixa litoral, descendo para o mar atravé de degraus mais ou menos sensÃ-vei e limitada por um rebordo interior, geralmente nÃ-tid e muitas vezes com carácte rectilÃ-neonã à um fenómen circunscrito a regiã do Porto. Pelo contrário trata-se de uma das caracterÃ-sticamais marcantes do litoral portuguê e pode o b s e ~ a r - ~com e , maior ou menor nitidez, praticamente em todo o seu perÃ-metroNo trabalho acima referido (RIBEIRO et ai. 1987), DAVEAU (p.264) caracteriza a plataforma litoral portuguesa, afirmando:

- "Igualmente difÃ-cide determinar à a idade desta larga faixa litoral aplanada, ou rasa. Ela e, com certeza, forma poligenica, de modelado varias vezes retocado por agentes aiternadamente marinhos e subaereoy. Curiosamente, a ideia de uma intervençÃdos agentes subaérona elaboraçà das "rasas" aproxima-se da opiniâ desenvolvida, muito antes, por HERNANDEZ PACHECO (1950) sobre a origem das rasas cantábricas

O mapa da Fig. 1.2 representa uma sÃ-ntesda geologia da area. Trata-se de uma áre quase inteiramente talhada em rochas do maciç HespéricoO mapa mostra uma certa heterogeneidade litológicamas també estrutural, jà que entram em contacto duas das zonas do Maciç Hespéricoa zona Centro-Ibérica em que predominam xistos, granitos e alguns quartzitos de idade essencialmente paleozóica e a zona de Ossa-Morena, representada pelo Precâmbric polimetamórficoEntre as duas zonas existe uma falha importante, que se inicia 3km a sul da foz do Douro, a falha Porto-Tomar. Esta falha teria correspondido a uma zona de sutura muito antiga, do final do Precâmbricoe terà tido uma históri complexa, com movimentaçÃdurante o Quaternario (CABRAL 1994). A sul de Espinho começ a desenvolver-se a Orla Ocidental meso-cenozóica A comparaçÃentre os mapas corográfic e geológic permite mostrar que a plataforma litoral suporta abundantes depósitos considerados nas cartas geológica portuguesas como "Plio-Plistocénicos"Estes depósito sã conhecidos e estudados sobretudo desde os anos quarenta. Todavia, a respectiva interpretaçÃtem variado ao longo do tempo

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As explicaçõsurgidas nos anos quarenta (RIBEIROet a/. 1943, TEIXEIRA 1949) eram as mais óbvias um aplanamento próxim do litoral sà poderia ficar a dever-se a acçÃmarinha. Tratar-se-ia de depósito de praias antigas, escalonadas segundo as aititudes "clássicas definidas para o litoral mediterrânicoTratando-se de praias antigas, o relevo que as limitava para o interior seria uma arriba fóssie o respectivo escalonamento teria uma origem puramente eustática Ainda hà ecos dessa perspectiva em trabalhos relativamente recentes (TEIXEIRA 1979, FERREIRA 1981). A autoridade cientÃ-fic dos autores que defendiam esta soluçà ajudou a persistência durante longos anos, destas ideias. A pariir dos anos oitenta, sobretudo, houve um requestionar de muitas ideias tidas como assentes (CARVALHO 1981, FERREIRA 1983, ARAUJO 1991). Se os depósito da plataforma litoral fossem marinhos, o relevo marginal corresponderia, por sua vez, a uma arriba fóssil As sucessivas plataformas de erosio marinha, representando nÃ-veieustáticos deveriam reproduzir o nÃ-vedo mar que as originou, e desenvolver-se-iamde forma regular, sempre A mesma altitude. Esta ideia, corolári de um eustatismo estrito, era expressa por TEIXEIRA(1979):

- "Deste modo, pode concluir-se pela estabilidade da faixa litoral, n20 houve acçõimpoiiantes de desnivelamento teciónic posterioK Este facto 6 confirmado (...) pela continuidade dos njveis quaternarios desde o Minho ao Algawe."

Fig. 2. Desenvoivimenfoaitim6tnco do topo do relevo marginal e do patamar mais aito da plataforma litoral.

Como vimos, mesmo uma anális apressada do mapa da Fig. 1.1 mostra que a altitude a que o relevo marginal arranca nã e sempre a mesma. Esse facto pode ser comprovado na Fig. 2. Nesta figura, pode notar-se que hà um contraste entre o desenvolvimento do relevo marginal a norie e a sul do Douro. Alé de mais alto a sul do Douro, o relevo marginal mostra uma tendênci para a subida, que acompanha uma tendênci id6ntica relativamente ao topo da plataforma litoral. A norte do rio Leçao topo da plataforma litoral parece mais baixo, mas o relevo marginal, com um desenvolvimento menos regular, continua a culminar acima dos 200m. A passagem dos cursos de águ mais importantes corresponde a um aparente abaixamento das diversas superfÃ-cieso que faz supor que estes rios se organizaram em área tendencialmente deprimidas. O topo da plataforma litoral està longe de corresponder a superfÃ-ciregular que os trabalhos de TEIXEIRA pressupunham. Ora, se se admitir que se trata de uma superfÃcie de erosã marinha, como era postulado atà aos anos oitenta, deduz-se que essa superfÃ-cifoi deformada, posteriormente a sua elaboraçã

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Fig. 3. Relaqao entre altitude e o arredondamento med~odas arejas ((500(m) nos deposffos Ã-lu vials e marinhos f6sseis.

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O estudo sedimentológic (granuiometria e morÃ-oscopiade cerca de 300 amostras de depósito permitiu identificar a sua origem provável A principal novidade, reiativamente as ideias anteriormente existentes, 6 o predomÃ-nidos depbsitos que, quer peio tipo de estratificaçãquer peio imperÃ-eit rolamento dos grão de areia, foram ciassificados como fluviais fósseis Eles correspondem a 28% da totalidade das amostras1.

A principal dificuldade que encontrámo tem a ver, justamente, com a separaçà entre depósito marinhos e fluviais, Utilizámosessencialmente, uma combinaçÃde critériogranulométrico(melhor calibragem dos depositos marinhos, a existênci de um alongamento no sector das particulas grosseiras, no caso dos depósito fluviais fósseis e morfoscópico (essencialmente o RM = arredondamento médidos grão de areia2). A Fig. 3 mostra a relaçÃentre a aititude e o arredondamento médidos depósi tos fluviais e marinhos fósseis Verifica-se que os depósito identificados como fluviais se estendem a partir dos 150m ai6 50m e apresentam RM entre 0,2 (valor de arredondamento dos grão subangulosos) e 0,4 (arredondados). Os depósito identificados como marinhos aparecem abaixo dos 40m e apresentam um RM substanciaimente superior (0,3 a 0,6). Parece haver, assim, uma clara separaçÃentre os depósito marinhos e fluviais. Em anteriores trabalhos, dedicámo-no sobretudo ao estudo dos depositos marinhos. Faremos, agora, uma anális dos resultados que obtivemos relativamente aos depó sitos fluviais.

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Fig. 4. Distribuçados dep6sitos fluviais em altitude.

A Fig. 4 representa a distribuiçÃaltimétricdas amostras de depósito fluviais. Verifica-se que hà um numero muito significativo de amostras, cuja altitude foi genericamente descrita como 120m (precisã possÃ-vecom um mapa de escala 1:25.000 e com a equidistânci de 10ml). A pariir dai, aparecem depósito a altitudes muito variadas3, terminando num limite inferior de 50m. Esta distribuiçÃcorresponde a algo de substantivo. Com efeito, junto ao relevo marginal, a cota superior a lOOm, encontramos depósito que aparecem em manchas relativamente extensas. Pensamos que estes depósito formam um conjunto com uma ceria unidade, apesar da diferenciaçÃexistente entre os diferentes cortes. O melhor exemplo correspondia ao corie da Rasa de Baixo, que foi visÃ-venuma exploraçÃde caulino hoje desactivada. Existe ainda, na regiã do Carregal, um corie com caracterlsticas idhticas, em que sã visÃ-veias 3 unidades que consideramos para esta fase. Os outros cories que conhecemos parecem incompletos, com falta de uma ou duas das unidades abaixo referidas. Atendendo a possibilidade de variafles laterais de facies (SOARES 1993) parecenos preferÃ-vefalar de fases de evoluçÃdo relevo, com possÃ-vesignificado paleoclimá tico e (ou) tectónicoque corresponderiam a cada uma das unidades encontradas. As primeiras 3 fases formariam um conjunto e corresponderiam aos depositos situados acima dos 100m. Os depósito situados, grosso modo, abaixo dos 100m estariam divididos em 2 conjuntos.

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5 representa a corrselacã entre a altitu freauênci de a1rão grosseialtos (fase I) hà u m a fraca correliqã negativa ros. verifica--se q"e, nos dep6sitos ;ais entre a altitude e a frequênci de elementos grosseiros presentes nas amostras estudadas. Isto e: quanto mais altos, mais finos sã o s depositas. Pelo contrario, o s dep6sitos da fase 11, quanto mais altos sã mais grosseiros se apresentam. Uma cartografia sinlbtica dos

dep6sitos est6 apresentada n a Fig. 6

A: A n t e r i m e n t e A defonnaçÃd ~ a &FUS: I@O de uma unidade @tia (I-B), em c o n d i w s de h x a eneraa talvez num ambiente de planÃ-ci litoral

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B: Fase de movimenta& Iect6~ca A s unidades I-A e I-B e d d me w m w a m - x a p e m e& s~tuaç& de abngotea6n1cn Ocorrem l d m e n t e f e n h e n o s de cncouraçament (fase I-C)

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Fig. 6,Esboç de local~zaç8 das manchas de dep6sitos 'pilo-plistocenos". Fontes: Cartas geologicas de escala 1:50.000 (folhas 9.C- 13-A e 136).

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Nessas 300 amostras incluem.se fomaç6ef6sseis e actuais de oflgem fluvial, maflnha, &llca, sol[. fluxiva e lagunar. O arredondamento medi0 (RM) 6 deflnido pela seguinte f6muia (cf. G. Soares de Cawalho, 1966):

R M = Z m

C. Nova fase de movimentacãteaónic (mais intensa?). A s falha aue soequem o relevo mqinal'&to m t i v & A -ap &s Ped~asN & : fia S U s p e w &cima do dep6eito da U. Numa situe0 regressiv* em clima w m c h u v a a p s m à ³ j i c a formam-se leques aluviais (fase 11-A)

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'r = a~eoondamenlom6dio de caoa classe de ameaonoemenlo;

= n.imer0 oe graos 20 caoa classe de arredondamemo; h = njmem total de oraos obsewados em ceda amostra Z(rxn) = somal6rlo dÕpmdu1 do nomero de graos pelo arr6dondamento m6dio de cada olasse. -, Os vaiores do RM podem oscllar, leoflcamente, entre 0.1 [amostra consüluldapenas por gdos muno . anguiosos) e 0.85 (amostra constitulda excluslvameme por gMos mu(10 redondos). 3 Como 6 evidente, o tmlamenln de dlversas amostms denlm dp cada com l h a h e x l s t 6 n c l a ' ~ e ~ ~ repeddas, que se traduz pela exlst8nola de d~ersos"palamar& ddenles na figura. , , , , , ,. 0

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Fig. 8.Exemplos de depósito das distintas fases. 1.Aspecto de conjunto do dep6sito da Rasa. E de notar a inciinaçada respectiva base, pedeitamente regular, para leste. 2. O depdsito da Rasa: notar os biocos da base (granito podre) e o contraste entre a unidade I-E (fina) e /-C (mais grosseira) 3. Eioco de couraçdas Pedras Negras. A espessum ronda os 40 cm e 6 extremamente resistente. 4. O depósit do Padrãda Ldgua, dto em elementos angulosos.

Passamos a caracterizar os depósito correspondentes a cada uma das fases consideradas (cf. Fig. 7).

Fase I-A

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Fig. 6,Conhhuacidn S. O dao6sito da Pedrinha. Notar a dimencâdos blocos. 6,A base da unguae //-A na area de Guipiharinhos.nolar o seu camcter irregular. 7. A faloa do Gnãod;reccão N 7G4'E. Dendor 43"N. Afecta um d9~osilodo li00 11. 8. A falha do Juncal: dir&çÃN 3C"k pendor 7G4' E. Afecta um depósit do.tipo 11-A

Fase I-B, Ter-se-ia seguido uma fase biostátic em que os blocos granÃ-ticoda base seriam sobre~ostosDor uma unidade DelÃ-ticacinza-esverdeada. Esta unidade ~oderiaestar lima quinte e húmido responsávei pela profund.a alteraçÃdo bec-mck e dos blocos da base do depbsito. IgumaS das análise realizadas nesta unidade, a caulinite apresenta uma crismulto boa, o que poderia ser devido a respectiva neoformaçÃnas referidas

Corresponde a parte inferior dos cortes. Esta unidade 6 constituÃ-dpor granito totalmente apodrecidos, depositados em condiçõpropÃ-cia ao tran elementos muito grosseiros, Estes blocos assentam sobre uma supedÃ-ci ped aplanada e com um pendor nÃ-tid para este (Fig. a), como jà tinha sido notado por RIBEIROet a/.(1943). As condiçõclimAticas teriam permitido uma certa conservaçÃdos feldqjatos dos . . blocos granÃ-ticoscaulinizados in situ. Gj..

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uiro sintoma da passagem para uma situaçà resistdtica seria a tendancia

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para o encouraçamentoque se encontra em alguns destes depósito (Pedras Negras, Gandra, Aldeia Nova e Medas, cf. Fig. 6). O fenómen de encouraçamentpressupõ a existênci de um clima com contrastes estacionais, com uma estaçÃbastante húmid e outra seca, ou, atécom tendênci árid (DEMANGEOT 1976). Nã encontrámo fenómeno de encouraçamentigualmente intenso nos depósi tos situados a altitudes inferiores. Pensamos, por isso, que terà existido uma únic fase climátic (I-C) que levou a um forte encouraçament dos dep6sitos, a que se seguiu a fase 11-A, com a formaçÃde crostas ligeiras. Por isso, o encouraçamentfuncionou com um "marcado? para a identificaçÃdas formaçõmais antigas. A unidade I-C à relativamente grosseira, por vezes muito rica em calhauzinhos de quarizo bem rolados. Encontra-se, localmente, encouraçadae assenta, quer sobre as unidades anteriores, quer sobre o bed-rock.

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dependênci que parece haver entre a existênci destes depósito e a proximidade do Douro faz pensar numa variaçà radical das condiçõgeomoriológicas o sistema de leques aluviais deixa de funcionar e começ a organizar-se a drenagem nossa contemporãneaE legÃ-timopor isso, supor que eles podem, eventualmente, representar o primeiro terraç do Douro, subsequente a desorganizaçÃda drenagem correlativa do episódi dos leques aluviais. Os depósito marinhos Os depósito marinhos organizam-se em 3 nÃ-vei identificados por critériosedimentologicos e que se encontram escalonados, de modo que o nÃ-vemais antigo se situa abaixo dos 40 m, o intermédiabaixo dos 20 e o mais baixo a pariir de 10m de aititude. Existe, todavia, uma ceria variaçÃna altitude dos retalhos correspondentes a cada nÃ-vel eles parecem bascuiados para sul, ao encontro da orla ocidental Meso-Cenozóic (Fig. 9).

Isto indicia um perÃ-od de erosã das ditas unidades, eventualmente propiciado pela movimentaçà tectónica responsável por sua vez, por uma ceria discordãnci angular visÃ-veno depósit da Rasa (as unidades inferiores inclinam para leste, a unidade i-C, tem um pendor para oeste). Fase //-A Os depósito da fase 11-A aparecem numa extensa faixa que orla toda a plataforma litoral a sul do rio Leç e que atinge, pelo menos, a latitude de Espinho (por exemplo: depósit do Juncal, Fig. 8.8). Trata-se de depósito que podem ser muito grosseiros (Fig. 8.5 e Fig. 8.6), mas que, ao contrári dos depósito anteriores, nunca se apresentam encouraçadosA ferruginizaçãnestes depósito corresponde apenas a crostas ferruginosas peiiculares. O depósit da Pedrinha fica (mapa da Fig 6) jà para leste do relevo marginal, a cerca de 6km dos primeiros afloramentos quarizÃ-ticodo anticlinal de Valongo, Por isso, apresenta calibres muito malores. Mas mesmo aÃ-o calibre decresce rapidamente para o topo do depósito Na áre a ocidente do relevo marginal, encontramos diversos cories em que e visÃ-veuma acumulaçà de elementos grosseiros assentes numa base por vezes muito irregular (Fig. 8.6), a que se sobrepõe leitos de areias finas e compactas. De qualquer modo, quer os elementos grosseiros, quer os arenosos apresentam fracos Ã-ndicede rolamento. Nã nos parece, por isso, que se possa falar de depósito marinhos! Parece-nos, assim, que a melhor explicaçÃpara estes factos à a hipótes de estes depósito corresponderem a antigos leques aluviais formados a saÃ-d do "relevo marginal", que jà entã se esboçariaO clima seria semiárido o que poderia explicar as chuvas espasmódica e o fraco revestimento vegetal responsávei pelo carácte torrencial do depósito Seria, salvas as diferençaresultantes de uma situaçÃclimátic moderada pela iatitude e proximidade do mar, o equivalente a raiias do interior da PenÃ-nsule da periferia da Cordilheira Central (REBELO 1975). . . . . . Fase 11-B

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Próxim da Area vestibular do Douro pudemos observar a sobreposiçÃda unidade 11-A, por um depósit mais fino e mais bem calibrado, com fáciesfluvia aparente. A

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Distânci ?t foz do Ave (emh s ) fig

Oqias de ocorr.4ncia dos dierentes nÃ-veide depósito manbhos e a sua variarao latituduinal

Nã sendo nosso ob,ectivo d ~ s c ~ tai rquestã dos oepositos marlnnos, que temos 1991, 1993, 1994). interessa.nos, sobret~do.notar o orantratado noutros locais (ARAJJO de contraste exitente entre esses dois grupos db depósitos

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Contraste que se afirma no aspecto macroscópicona morioscopia das areias (cf.

Flg. 3), e, sobretudo, na clara separaçÃaltimétricque existe entre eles. Com efeito, os depbsitos que aparecem abaixo de 40m estã separados dos anteriores, normalmente, 'por um rebordo nÃ-tid e rigidamente alinhado. '

,Tudo se passa como se, depois da formaçÃdos depósito da fase 11, aparenteenteem fase regresssiva, tivesse havido um abatimento tectbnico do sector ocidental v

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da plataforma, segundo falhas submeridianas, grosseiramente paralelas a linha de costa actual. Esse abatimento teria permitido a invasã do mar durante os perÃ-odo interglaciários Por outro lado, teria colocado os depósito das fases pre-existentes ao alcance do mar, que os teria retrabalhado e contribuÃ-doassim, para a formaçà dos extensos depósito do mais alto nÃ-vemarinho. A confirmar a existênci dessa deformaçÃtectónic encontramos alguns casos de falhas afectando, curiosamente, os sectores ocidentais de depósito da fase li (Fig. 8.7 e Fig 8.8).

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glaciares, ou se um deles (talvez o intermédiopoderà corresponder, eventualmente, a um interestadial.

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Mais importante do que dissertar longamente sobre o assunto, serà trocar ideias e informaçõcom investigadores trabalhando noutras área geográficas Mas, uma vez que muitas das correlaçõpropostas tè algo a ver com a intuiçãfiltrada atravéda experiênci pessoal, uma discussã no terreno parece-nos ser o melhor caminho...

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CONCLUSOES. SUGEST~ESPARA UMA CRONOLOGIA RELATIVA A existênci da unidade pelÃ-tic 1-B, muito rica em partÃ-cula de mica, aponta para uma situaçà de um curso de águ com baixa energia, correndo numa planÃ-ciepossivelmente próxim do nÃ-vedo mar. Seria, assim, uma planÃ-ci litoral. A frequênci (+ de 90% de caulinite) e a respectiva cristalinidade apontam para um meio onde seria possÃvel a neoformaçÃda caulinite. O clima seria, possivelmente, do tipo tropical húmido

A unidade 1-C mostra encouraçamentolocalmente intenso. Isso poderà indicar uma tendènci para uma certa degradaçà climátic (clima tropical com uma estaçà húmid bem marcada?). A tendènci para a degradaçÃclimátic acentua-se, originando o carácte torrencial dos depósito da fase 11-A.

A esta crise climátic parecem seguir-se condiç'e mais "temperadas", responsávei pela organizaçÃda rede de drenagem que poderà ter acompanhado a deposiçà da unidade 11-B. Quais as balizas cronológica desta evoluçã Por muito interessante que esse tipo de elucubraçõ seja, lembramos sempre as ideias de CARVALHO(1981) quando sugere que, mais importante que põrótulo de tipo cronológico sempre falÃ-veisnas formaçõeserà descrevê-la com todo o cuidado. Porque as interpretaçõpassam, os factos à que perduram. Mas també à verdade que ningué resiste a um pouco de geopoesia...

Quanto aos depósito da fase 11-B, seriam jà do Quaternári antigo, correspondendo, possivelmente, a um perÃ-od interglaciar. Sobre os depósito marinhos, embora tenhamos mais algumas informaçõe ainda ignoramos, por absoluta falta de dataçõese os 3 nÃ-veicorrespondem a 3 inter-

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A unidade 1-C mostra condiçõclaramente diferentes, sobretudo em termos de calibre dos materiais. Pensamos que uma certa movimentaçÃtectónic poderà ter estado na origem dessa variaçãatendendo a discordânci angular que à visÃ-veentre as duas unidades.

Se, efectivamente o deoósit da Pedrinha for eauivalente as rahas e se elas forem vilafranquianas, entãotoda a fase l terà decorrido durante o NeogénicoNo Miocénico No Piiocénico Ambas as hipótese sã plausÃ-veis a ar ente mente, o clima do Miocénic~ o d e r i aex~licaralaumas das caracterÃ-stica dos d e D à “ ~ i tfinos 0 da fase 1-6... Nesse caso, sà a unidade 1-Cseria plioc6nica.

M. A. Araúj

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