PANORAMA DA ERGONOMIA NOS SETORES DE PROJETO E ENGENHARIA DE EMPRESAS FABRICANTES DE MÁQUINAS E IMPLEMENTOS AGRÍCOLAS OVERVIEW OF ERGONOMICS IN THE FIELDS OF PROJECT AND ENGINEERING OF MANUFACTURER ENTERPRISES OF AGRICULTURAL MACHINERY AND IMPLEMENTS

December 30, 2017 | Autor: Daniel Ferrari | Categoria: Anthropometry, Ergonomia, Agricultural Machinery, Redesign, Ergodesign, Plantadora de mandioca
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PANORAMA DA ERGONOMIA NOS SETORES DE PROJETO E ENGENHARIA DE EMPRESAS FABRICANTES DE MÁQUINAS E IMPLEMENTOS AGRÍCOLAS

OVERVIEW OF ERGONOMICS IN THE FIELDS OF PROJECT AND ENGINEERING OF MANUFACTURER ENTERPRISES OF AGRICULTURAL MACHINERY AND IMPLEMENTS Daniel Augusto Ferrari1, Abílio Garcia dos Santos Filho2, João Eduardo Guarnetti dos Santos3 (1) Mestrando em Design, CEETEPS - FAAC – UNESP - Bauru e-mail: [email protected] (2) Livre Docente, FEB – UNESP - Bauru e-mail: [email protected] (3) Livre Docente, FEB – UNESP – Bauru e-mail: [email protected]

Palavras-chave em português (Ergonomia, Antropometria, Máquinas Agrícolas) Este estudo aborda a problemática da segurança e da ergonomia no ambiente agrícola. Relata sobre os métodos informais utilizados por empresas do setor no momento da concepção de máquinas agrícolas. Realiza uma investigação sobre o perfil profissional e acadêmico dos técnicos que atuam nestas indústrias buscando evidenciar o nível de informação sobre os temas ergonomia e antropometria. Conclui que a maioria dos profissionais de engenharia que atuam neste setor desconhece sobre os temas abordados o que pode resultar na concepção de projetos mal estruturados ergonomicamente.

Key-words in English (Ergonomics, Anthropometry, Agricultural Machinery) This study addresses the problematic of safety and ergonomics in the agricultural environment. It relates the informal methods used by companies of this sector at the moment of designing farm machinery. It also conducts an investigation into the academic and professional profile of technicians who work in those industries seeking to show the level of information on the ergonomics and anthropometry topics. It is concluded that most of engineering professionals who work in that sector are unaware about the topics covered which may result in poorly projects structured in a wrong ergonomic way.

1. Introdução O estabelecimento das primeiras intenções do governo em se implantar leis relacionadas a segurança do trabalho no país confundem-se com o crescimento da indústria brasileira esta que, por sua vez, não se obrigava a cumprir normas de segurança dentro dos ambientes fabris tornando comum a ocorrência de acidentes dos mais variados tipos. Datam da década de 1940 a consolidação das primeiras leis relativas à segurança, quando o governo vigente passaria a determinar a criação de comissões internas de

prevenção de acidentes ás empresas com mais de 100 funcionários. No final da década de 1970 consolidam-se as Leis relativas à Medicina e Segurança no Trabalho e, nesta mesma década, criam-se as primeiras Normas Regulamentadoras. Desde então o termo “segurança” passa gradualmente a ser mais debatido e comentado dentro da indústria, pelo menos em teoria. No ambiente agrícola o mesmo não acontece. Historicamente pode-se notar uma defasagem de pelo menos uma década em relação ao setor industrial.

Segundo Teixeira (2005) somente na segunda metade da década de 1960 o setor passa a sofrer os primeiros indícios de modernização que segundo o autor aconteceu devido a um conjunto de fatores, dentre eles a implantação das primeiras leis trabalhistas no campo juntamente com a disseminação do trabalho assalariado. Outro fator importante foi a mecanização no setor. Na década de 1950 o país contava com pouco mais de 8.000 tratores passando na década de 1960 para um montante de 60.000 unidades (TEIXEIRA, 2005). Junto com o vultoso crescimento vieram os acidentes. Sendo assim os fatores supracitados tiveram influencia direta para que se iniciassem os primeiros estudos e introduzissem, ainda que incipientemente, conceitos de segurança no setor agrícola do país. Apesar de relativa evolução, ainda, em pleno século XXI presencia-se a absurda situação de indiferença por parte das autoridades governamentais frente a segurança no trabalho agrícola. Nota-se, numa considerável parcela da indústria especializada de máquinas e implementos, pouca importância dada a projetos de maquinário agrícola, que não levam como prioridade a segurança e a ergonomia. Finalmente, observa-se falta de informação, irresponsabilidades de uma parcela de proprietários de terras e até de operadores das próprias máquinas, que praticam atos inseguros, estes que podem levar a acidentes com perdas irreparáveis. Segundo Corrêa & Ramos (2003), os acidentes no meio rural atingem pessoas de diferentes idades, independentemente da experiência de campo e ocorrem nas mais diversas situações. Os fatores potenciais de riscos são também os mais diversos: falta de conhecimento, falta de atenção, de consciência sobre o perigo, hábitos, métodos equivocados de trabalho, uso de equipamentos tecnicamente inadequados, estresse, uso de máquinas que não atendem os princípios ergonômicos, ausência de equipamentos de proteção individual. O mesmo autor salienta que as atividades agrícolas, diferentemente de muitas outras atividades desenvolvidas pelo ser humano, em sua grande maioria expõem o operador a condições insalubres: calor, frio, sol, poeira, ruído excessivo, vibrações de máquinas e esforço físico demasiado. Outro fator importante consiste na capacitação desses operários, segundo Alonço (2004) é notável, por parte dos trabalhadores do campo, a presença de capacitação insuficiente para

que se obtenha o máximo de rendimento dos modernos equipamentos existente no campo. O mesmo autor afirma que a capacitação para o trabalho deve estar intimamente ligada à formação em matéria de segurança. Neste sentido, técnicas e procedimentos para detectar erros operacionais revestem-se de significado e importância. Muitos destes erros operacionais podem ser resultantes de ambientes e postos de trabalho mal projetados ergonomicamente. É dentro deste cotexto que discorre este estudo, que busca em linhas gerais, investigar qual o perfil acadêmico e profissional dos técnicos que atuam em setores de projeto e engenharia de empresas fabricantes de máquinas e implementos agrícolas bem como conhecer o nível de informação sobre os temas ergonomia e antropometria e até que ponto aplicam esses conceitos em seus projetos.

2. Revisão de literatura 2.1 Segurança no trabalho agrícola A segurança do trabalho pode ser entendida como o conjunto de medidas que são adotadas visando minimizar os acidentes de trabalho, doenças ocupacionais bem como proteger a integridade e a capacidade de operacional do trabalhador. Chiavenato (1997) define segurança do trabalho como “... o conjunto de medidas técnicas, educacionais, médicas e psicológicas, empregadas para prevenir acidentes, quer eliminando a condição insegura do ambiente quer instruindo ou convencendo as pessoas da implantação de práticas preventivas” e, ainda, o mesmo autor acrescenta como sendo “... o conjunto de atividades relacionadas com a prevenção de acidentes e com a eliminação de condições inseguras de trabalho”. Além disso, baseiam suas ações em manter trabalhadores e ambiente de trabalho dentro dos limites de tolerância e de exposição aos agentes nocivos, estabelecidos pelas NR’s. Essas ações estão prioritariamente voltadas a garantir o processo produtivo, responsabilizando o trabalhador pela manutenção da sua saúde e segurança. (FCTSMA, 2000). As ações de prevenção são habitualmente baseadas nas causas dos acidentes que segundo Reis e Machado (2009) são divididas em: - Atos inseguros - que segundo Alonço (2005) consiste em uma maneira errada e/ou

descuidada de um trabalhador executar uma determinada operação. - Condições inseguras – que segundo o mesmo autor se caracteriza quando as ferramentas ou qualquer tipo de máquina apresentam defeito ou quando estiverem sem os dispositivos de segurança. - Fatores pessoais, estes não podem ser considerados nem atos inseguros nem condições inseguras por si só, mas quando atingem determinado nível podem vir a causar acidentes. Pode-se tomar como exemplo no homem a fadiga e na máquina, a obsolescência. (ALONÇO, 2005). Os custos sociais criados pela ausência da aplicação de conceitos de segurança e ergonomia em máquinas agrícolas são enormes, podendo causar diversos tipos de enfermidades profissionais dentre elas: surdez, danos a coluna vertebral, danos ao aparelho respiratório, entre outros. Além dos custos econômicos causados aos proprietários como: tempo perdido, custos médicos, destruição de bens materiais, danos ambientais, etc. (ALONÇO, 2004).

2.2 Ergonomia no trabalho agrícola Estudos e aplicações da ergonomia na agricultura são relativamente recentes em comparação a indústria, isto se dá pelo fato de que na agricultura o trabalho é classificado como uma atividade não estruturada se comparado a atividades de indústria. (IIDA, 2003) A ergonomia baseia suas ações no emprego dos conhecimentos científicos e das tecnologias disponíveis para eliminar ou reduzir, ao mínimo possível, as agressões e os riscos à saúde em todas as atividades de trabalho humano. Prioriza a qualidade de vida, o bem estar físico, mental, psíquico e social, os níveis de conforto e segurança como forma de aumentar a eficiência e os níveis de qualidade no trabalho. Por ter o homem como objetivo central no processo de trabalho e produção, não exige dele a atenção constante e a infalibilidade. (FCTSMA, 2000) Vários autores classificam a ergonomia em duas vertentes: ergonomia de correção e a ergonomia de concepção. A primeira consiste nos estudos de análise sistemática do trabalho aplicando os conhecimentos científicos de forma a corrigir um determinado posto operacional já existente. A segunda trata-se da utilização de dados já conhecidos e fundamentados cientificamente aplicados na melhoria de projetos dos mais

diversos produtos buscando aperfeiçoar, por exemplo, fatores de usabilidade. A utilização de conceitos ergonômicos sejam eles através de ações corretivas sejam através de ações conceptivas atuam como fatores de prevenção de acidentes dos mais variados tipos e também podem evitar riscos ergonômicos. Profissionais de segurança no trabalho descrevem os riscos ergonômicos como qualquer fator que possa interferir nas características psicofisiológicas do trabalhador, causando desconforto ou afetando sua saúde como, por exemplo: levantamento de peso, ritmo de trabalho excessivo, monotonia, repetitividade, postura inadequada, etc.

2.3 Antropometria no trabalho agrícola Antropometria é a ciência que estuda as medidas do corpo humano, (IIDA, 2003; GRANDJEAN, 1998). Trata das medidas físicas corporais que servem de base para a concepção ergonômica de produtos, (PANERO; ZELNIK, 1993). Segundo Minette (1996), a antropometria, é a parte da antropologia física que estuda as dimensões do corpo humano. As medidas corporais de que trata a antropometria são usadas para definir a localização dos componentes do posto de operação, de forma que indivíduos de diferentes tamanhos tenham fácil acesso e saída ao posto de operação, bem como consigam alcançar e acionar, com o mínimo esforço e de forma a manter uma postura corporal correta, todos os comandos. Dessa forma pode-se concluir que a antropometria é um ramo de estudo indissociável da ergonomia, pois ambas caminham no mesmo sentido. Liljedahl et. al. (1996), apud Fontana (2005) afirmam que a ergonomia ou fatores humanos, quando corretamente incorporados ao projeto, permitem que o operador faça uma grande quantidade de tarefas complexas com eficiência, segurança e um mínimo de fadiga.

2.4 Ergonomia e segurança versus indústria de máquinas e empresário rural Segundo Romano (2003) a indústria de máquinas e implementos agrícolas se caracteriza por uma estrutura heterogênea onde coexistem empresas de diferentes tamanhos e características. Produz uma grande variedade de produtos,

usualmente fabricados em pequenos lotes, quando comparados à indústria automobilística. Conforme salienta o mesmo autor é vigente, na maioria das empresas do setor industrial de máquinas agrícolas brasileiro, um processo de desenvolvimento de produtos informal. Este fato é mais aparente em empresas de pequeno e médio porte, que desenvolvem seus produtos baseando-se, geralmente, em adaptações de soluções já comercializadas. Ademais quando se pleiteia a necessidade de que a fabricação de máquinas agrícolas seja realizada pelos fatores ergonômicos e de segurança do homem que as opera, o fabricante tem bastante claro que isto pode significar um incremento, nada desprezível, dos custos de produção, que haverá de repercutir no preço final do produto. (ALONÇO, 2004). O mesmo autor discorre que o atributo de segurança tende de ser eclipsado por outros atributos mais atrativos para os aspectos do negócio. Até porque, as consequências resultantes da insegurança vão acontecer longe do ambiente do projeto. Por outro lado tem se a problemática dos compradores de máquinas agrícolas, que desconhecem aspectos de ergonomia e segurança. Em uma pesquisa realizada por Debiasi e Scholosser (2002) com tratores agrícolas mostra que a maioria dos usuários dá pouca importância aos elementos de ergonomia e de proteção nos tratores agrícolas. Dados da pesquisa revelam que a ergonomia e segurança não são levadas em consideração como fator de escolha no momento da aquisição do trator. Além disso, os agricultores negligenciam a manutenção de itens relacionados ao conforto e à segurança, por não serem imprescindíveis ao funcionamento da máquina. (DEBIASI; SCHLOSSER, 2002) Na maioria dos casos, quem adquire as máquinas e equipamentos agrícolas não é quem as opera ou realiza manutenção, portanto, o nível de exigência sobre aspectos de ergonomia e segurança não é incisivo. Por esta razão, acabam por dar preferências ao preço, potência disponível, versatilidade, entre outras. (ALONÇO, 2004)

2.5 Ergonomia e segurança aplicada ao projeto de máquinas e implementos agrícolas: estado da arte Em um estudo realizado por Romano (2003) sobre Pesquisa e Desenvolvimento de

Máquinas Agrícolas foi relatada notória a informalidade nos métodos de projetos de máquinas agrícolas praticada por um grande número de empresas deste segmento industrial. O autor afirma também que, em geral, as empresas não adotam e não utilizam procedimentos sistemáticos para a realização do processo de desenvolvimento de produto, sendo fácil encontrar exemplos onde as ações são realizadas apenas de acordo com a experiência dos seus responsáveis. Reis e Machado (2009) apud (Santos, 2012) afirmam que em grande parte dos projetos de máquinas e implementos agrícolas observam-se problemas de medidas antropométricas e que, na maioria das vezes, os fabricantes produzem máquinas para as mais variadas culturas e diferentes tipos de consumidores. Isto se da pela falta de conhecimento do tema por parte dos projetistas envolvidos e pelo aumento dos custos para adequação dos sistemas projetados ou até mesmo por parte dos consumidores que não exigem ou não tem conhecimento do assunto. E quando os fabricantes se utilizam de metodologias de projeto, via de regra, garantem-se apenas a funcionalidade do produto através do cumprimento da função principal da máquina. É sobre esta “função” que se configuram as soluções de projeto e, por isto mesmo, aspectos como segurança ficam em um plano secundário em relação ao cumprimento da função principal. (ALONÇO, 2004). Romano (2003) sustenta que o processo de desenvolvimento de produtos agrícolas se divide em três grandes macrofases: Planejamento, Projetação e Implementação. Em específico o estágio de projetação caracteriza-se na fase onde há grande participação de projetistas, designers e engenheiros. O mesmo autor subdivide a projetação nas seguintes subfases: projeto informacional, conceitual, preliminar e detalhado. Segundo o autor estas subfases englobam as especificações do projeto. Quanto ao Projeto Preliminar e ao Detalhado o mesmo autor explana: - Projeto preliminar: caracteriza-se em leiautes preliminares e desenhos de formas, leiautes detalhados e desenhos de formas e verificações finais. - Projeto detalhado: caracteriza-se em detalhamento do leiaute definitivo, integração da informação técnica, revisão do projeto, construção do protótipo, teste e avaliação do protótipo. É especificamente no projeto preliminar e no projeto detalhado onde se aplica efetivamente

conceitos de segurança, ergonomia e antropometria. A problemática se concentra na hipótese de que a maioria dos profissionais atuantes na área de projetos de equipamentos agrícolas desconhece ou da pouca importância aos assuntos relativos a metodologias de projeto, em específico aos aspectos ergonômicos e de segurança. Alonço (2004) alerta para a falta de acessibilidade pelos projetistas a informações sobre legislação, normas regulamentadoras e normas técnicas, entre outros, de forma rápida, concisa e dedicada à segurança. Quanto aos profissionais que atuam neste setor Romano (2003) em seu estudo verificou que a maioria é formada por engenheiros mecânicos e que grande parte dos entrevistados relatou que os cursos que realizaram não ofereciam disciplinas de projeto, sendo que as informações mais próximas a esta área eram transmitidas em disciplinas como: elementos de máquinas, mecanismos e projeto de máquinas onde são aprendidos basicamente a dimensionar componentes mecânicos. Main & Ward (1992) apud Alonço (2004) afirmam que a motivação dos profissionais de projeto em desenvolver e/ou produzir produtos mais seguros não é o problema, pois os projetistas não buscam criar produtos inseguros. O problema esta em formalizar ou explicitar métodos que possam ser parte integrante do processo de projeto.

3. Objetivo Diante das questões apresentadas na revisão bibliográfica o presente estudo teve como objetivo investigar o tipo de profissional que atua no setor de projeto e engenharia de maquinas e implementos agrícolas, sua formação acadêmica, a formação de seus superiores, sua autonomia no processo criativo dos produtos, o porte da empresa em que trabalha bem como seu autoconhecimento e o nível de aplicabilidade sobre os temas ergonomia e antropometria em seus projetos. E, finalmente, qual seria o grau de importância dado a esses fatores dentro de uma gama de determinantes a serem consideradas dentro do processo projetual.

Participaram da pesquisa empresas situadas nas regiões sul e sudeste do país onde todas fabricavam e comercializavam pelo menos um dos equipamentos listados, a seguir: adubadeira, arado, ceifadeira, colhedeira, cultivador, encanteirador, escavadeira, forrageira, grade, monitor de plantio, introdutora, niveladora, plantadeira, pulverizador, roçadeira, semeadeira, subsolador, sulcador, transbordo ou transplantadora. O contato foi realizado simultaneamente via postagem de carta simples e e-mail, com endereçamento destinado ao setor de projeto ou engenharia, contendo, no conteúdo do convite, identificação dos pesquisadores, da instituição de pesquisa e uma breve explanação sobre o experimento, convidando o profissional de projeto ou engenharia a participar do preenchimento online, através de um link, que o direcionava a um questionário. Utilizou-se dos mesmos procedimentos de abordagem para o contato via telefone, que foi adotado quando não se obtinha respostas através da carta ou e-mail. O questionário on-line foi desenvolvido com a tecnologia Google Docs que apresentava, em sua página inicial, informações sobre a pesquisa, instituição e pesquisadores bem como o termo de consentimento livre e esclarecido, dando a opção ao respondente em continuar ou abandonar o experimento. A segunda página do questionário contava com as seguintes questões: -Dados pessoais como nome, e-mail e faixa etária. -Dados da empresa como, localização, principal produto que a empresa produz e quantidade de funcionários. - Dados profissionais dos participantes como cargo, formação, área de atuação, formação do superior direto e o nível de envolvimento dentro do processo de criação dos produtos. -Finalmente questões referentes ao nível de autoconhecimento sobre “Ergonomia”, “Antropometria” e qual o nível de importância dado ao assunto dentro do contexto de projeto de produtos.

4. Materiais e Métodos 5. Resultados e Discussão Foi estabelecido contato com 88 empresas do setor agrícola fabricantes de máquinas e implementos agrícolas entre os meses de abril a novembro de 2012.

Das 88 empresas contatadas 53 profissionais aceitaram participar da pesquisa e, após análise e filtragem dos dados, consideraram-

se apenas profissionais que possuíam autonomia total ou parcial no processo de criação dos produtos. Dessa forma 35 questionários foram validados. A maior parte dos profissionais pesquisados trabalhava em empresas localizadas no estado de São Paulo totalizando 46%, seguido de 34% do Rio Grande do Sul, 11% de Santa Catarina e 9% do estado do Paraná. 40% dos respondentes declararam trabalhar em empresas com mais de 500 funcionários, seguidos de 26% trabalhando em empresas com 20 a 99 funcionários o que coincide com a afirmativa de Romano (2003) que relata sobre a heterogeneidade das empresas deste setor. O experimento demonstrou que 51% destes profissionais possuíam a idade entre 21 a 30 anos, seguido de 20% com idade entre 31 e 40 anos. Quanto a área de atuação 66% dos profissionais declararam atuar no setor de Engenharia, 14% trabalhavam na área de Pesquisa e Desenvolvimento, 6% no setor de Projeto de Produtos e 6% no Planejamento Estratégico. Apesar de, no conteúdo do questionário, ter sido permita também a participação de outros setores relacionados ao projeto de produtos nota-se, nos resultados obtidos, a forte importância dada às ciências da engenharia neste tipo de mercado. Quando questionados sobre os cargos em que atuavam 34% declararam assumir cargo operacional de “profissional especializado com curso superior”, 31% assumiam cargos de “gerencia” e 14% dos indagados formados por “profissionais com ensino médio/ profissionalizante”. 34% dos respondentes declararam serem graduados em “engenharia mecânica”, 14% formado por “projetistas técnicos” seguido de “outras graduações” como: “engenharia de produção”, “elétrica”, “agrícola”, “agronomia” obtendo juntas 35% do total. Um número menos expressivo foi formado pelos demais participantes que declararam ter a formação de “designers” e “outras formações”. A quase ausência da participação de designers ou desenhistas industriais neste setor pode ser uma das causas para a limitada importância dada aos temas “ergonomia” e mais especificamente a “antropometria” visto que, nos cursos de “design” ou “desenho industrial”, tais temas são abordados a exaustão. Quanto aos superiores diretos dos profissionais indagados, constatou-se que 29% eram formados por “engenheiros mecânicos”

seguidos por 17% de “administradores de empresas”. Em menores proporções seguiram os “engenheiros elétricos”, “de produção” e “outras modalidades”. Em especifico nesta questão dividiu-se as empresas com mais de 500 funcionários das demais, constatando que nas maiores de 500 prevaleceram os engenheiros mecânicos como a maioria dos superiores diretos ao passo que nas menores de 500 a maior parte era formada por administradores, provavelmente representada pelos próprios proprietários. Confirma-se neste dado que nas grandes empresas deste setor há, provavelmente, a presença de hierarquias estruturadas por planos de carreira e salários ao passo que nas pequenas e médias ainda se prevalece um modelo de liderança paternalista, onde todas as decisões são centradas no próprio proprietário, que administra praticamente todo o negócio. De modo a obter um panorama sobre o nível de conhecimento em relação ao assunto “ergonomia” aplicou-se uma questão utilizando escala de Likert onde as respostas variavam entre os termos: “nunca ouvi falar”, “já ouvi falar nesse termo”, “conheço muito pouco sobre esse assunto”, “tenho conhecimento satisfatório sobre esse assunto”, “tenho um bom conhecimento sobre esse assunto” e “sou especialista no assunto”. Os resultados são apresentados no gráfico 1.

Gráfico 1 – Opinião dos profissionais a respeito do próprio nível de conhecimento sobre o assunto “Ergonomia”.

Em se tratando de profissionais que trabalham em ambientes de projeto de produtos destinados diretamente a usabilidade humana considera-se que 31%, que alegaram possuir “pouco” conhecimento sobre o assunto, se consiste num valor preocupante. Este dado volta a confirmar a alegação de Romano (2003) e Alonço

(2004) sobre a provável falta de informação sobre este assunto. O experimento também questionou os participantes quanto a aplicação de conceitos de ergonomia na realização dos projetos, sugerindo as seguintes respostas: “não sou da área de engenharia ou projeto de produtos”, “não”,”algumas vezes” e “sempre”, como mostra o gráfico 2.

Gráfico 3 – Opinião dos profissionais a respeito do próprio nível de conhecimento sobre o assunto “Antropometria”. Gráfico 2 – Consideração sobre a utilização de conceitos de ergonomia em projetos de máquinas e implementos agrícolas, segundo participantes.

O gráfico 2 demonstra que 46% dos participantes alegaram utilizar conceitos ergonômicos “algumas vezes” contra 49% que afirmaram “sempre” utilizar a ergonomia como uma das regras para realização de projetos. Novamente nota-se a pouca importância dada ao tema dentro desses setores. Considerando a antropometria como estudo indissociável da ergonomia e fundamental para a elaboração de projetos ergonomicamente eficientes de maquinários agrícolas indagou-se aos profissionais o nível de autoconhecimento sobre o assunto utilizando as mesmas opções de respostas apresentadas no gráfico 1.

O gráfico 3 revela dados preocupantes pois somente 9% dos respondentes declararam possuir “bom” nível de conhecimento sobre o assunto seguido de apenas 3% que relataram ter conhecimento “satisfatório” sobre o tema. A mesma pergunta sobre a utilização de conceitos de ergonomia nos projetos foi feita para o assunto “antropometria” (gráfico 4) utilizando as mesmas opções de respostas apresentadas no gráfico 2.

Gráfico 4 – Consideração sobre a utilização de conceitos de antropometria em projetos de máquinas e implementos agrícolas, segundo entrevistados.

O gráfico 4 revela através das respostas que novamente não se nota grandes preocupações para o assunto pois mais da metade dos participantes responderam não aplicar conceitos de antropometria em seus projetos, confirmando as afirmações de Reis e Machado (2009) e Santos (2012). Buscou-se também neste estudo indagar quais seriam os fatores, em ordem de importância, que estes profissionais consideravam no momento da projetação de uma máquina agrícola. Dessa forma escolheram-se alguns itens habitualmente considerados em fases de projetos de produtos. Dentro de uma escala de 5 pontos tipo Likert elaborou-se as seguintes respostas e seus respectivos pesos: “sem importância” 1 ponto, “pouco importante” 2 pontos, “importante” 3 pontos, “muito importante” 4 pontos e “extremamente importante” 5 pontos. Os resultados estão apresentados no gráfico 5.

Gráfico 5 – Fatores a serem levados em consideração no projeto de máquinas e implementos agrícolas, segundo respondentes.

Observa-se no gráfico 5 que os profissionais das áreas de projeto e engenharia denotam grande importância a funcionalidade do produto, provavelmente influenciados pelos critérios dos compradores. Este dado confirma a tese de Alonço (2004) no que se refere a prioridade dada pelos projetistas aos aspectos de

“funcionalidade mecânica” do produto, como sendo uma das principais exigências dos compradores no momento da aquisição. Outro fator que chamou atenção foi em relação ao item “segurança”, que ficou em 2° lugar entre os fatores abordados. Este dado confirma a proposição de Main & Ward (1992) e Alonço (2004) que afirmam que os projetistas não tem a intenção de projetar equipamentos inseguros e que o problema consiste na formalização ou explicitação de métodos que possam fazer parte do processo de projetação. O fator “ergonomia” ficou em 6° lugar numa escala de importância, confirmando o desconhecimento e a irrelevância do assunto por parte dos questionados.

6. Conclusão Os resultados apenas confirmam a hipótese de que, no Brasil, não se presencia a projetos de máquinas e implementos agrícolas ergonomicamente eficientes, o que reflete na grande quantidade de estudos realizados nos últimos anos sobre o tema, em específico sobre análise ergonômica de máquinas agrícolas. A pesquisa alerta sobre o considerável número de profissionais, em especial os engenheiros mecânicos, que fazem parte do processo de criação de máquinas e equipamentos agrícolas das regiões pesquisadas, apresentando desconhecimento sobre os assuntos ergonomia e antropometria. Os dados apresentados podem contribuir para que as instituições de ensino superior possam realizar adaptações na estrutura curricular dos cursos de engenharia mecânica e agrícola, como por exemplo, a inclusão de disciplinas, regulares ou eventuais, que envolvam conhecimentos sobre “ergonomia” e mais especificamente “antropometria”, visto que são áreas de conhecimento fundamentais para o projeto e desenvolvimento de máquinas e implementos agrícolas mais eficientes ergonomicamente. As empresas do setor também podem utilizar-se dos resultados de forma a selecionarem profissionais mais capacitados sobre o assunto, visto que a ergonomia, diretamente aplicada a projetos de maquinas e implementos agrícolas, pode trazer benefícios diretos e indiretos para saúde dos operadores das máquinas, bem como maior produtividade aos compradores e rentabilidade aos fabricantes.

7. Referencias Bibliográficas ALONÇO, Airton dos Santos. Metodologia de projeto para a concepção de máquinas agrícolas seguras. 2004. 221 f. Tese (Doutorado) - Curso de Pós Graduação em Engenharia Mecânica, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2004. ALONÇO, Airton dos Santos. Noções de segurança e operação de tratores. In: REIS, A.V. dos, MACHADO, A.L.T., TILLMANN, C.A. da C., et al. Motores, tratores, combustíveis e lubrificantes. 2. ed. Pelotas: Universitária, 2005. Cap. 4, p.239-247 CHIAVENATO, Idalberto. Higiene e segurança do trabalho. In: Recursos humanos. São Paulo, cap.V, p.441- 447, 4.ed. Atlas, 1997. CORRÊA, I.M; RAMOS, H. H. Acidentes rurais. Revista Cultivar Máquinas. Pelotas: Ceres, ano 3, n. 16, p.24-25. jan./fev. 2003. DEBIASI, Henrique; SCHLOSSER, José Fernando. Acidentes com tratores. Cultivar Máquinas, Pelotas, n. , p.1-1, 2002. FONTANA, Gustavo. Avaliação ergonômica do projeto interno de cabines de forwarders e skidders. 2005. 80 f. Dissertação (Mestrado) Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2005. Fórum de Condições de Trabalho, Saúde e Meio Ambiente (FCTSMA): Ergonomia. São Bernardo do Campo: Acessoria de Ergonomia, Condições de Trabalho e Meio Ambiente, v. 5, 2000. GRANDJEAN, E. Manual de ergonomia. 4. ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul Ltda, 1998. IIDA, I. Ergonomia: Projeto e Produção. São Paulo: Edgard Blucher, 2003. MINETTE, J. L. Análise de fatores operacionais e ergonômicos na operação de corte florestal com motosserra. Viçosa, 1996, 211p. Tese (Doutorado em Ciência Florestal) – Curso de Pós-graduação em Ciência Florestal, Universidade Federal de Viçosa, 1996. PANERO, J., ZELNIK.M., Las Dimensiones Humanas en los Espacios Interiores-

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Agradecimentos A Deus pela minha existência, a meus familiares pela tolerância, a meus orientadores pela motivação, ao CEETEPS pelo afastamento e a CAPES pela bolsa.

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