PANORAMA DA IMPRENSA NO BRASIL: RIO DE JANEIRO ENTRE 1808 À 1822

June 3, 2017 | Autor: L. Dantas | Categoria: Jornalismo, Imprensa, História do Jornalismo
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Trabalho submetido para o GT 9 – História del Periodismo, no VII Seminário Latinoamericano de Comunicación, realizado em La Paz – Bolívia.
Acadêmico do 6º semestre do Curso de Comunicação Social, habilitação em Jornalismo pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, membro do Núcleo do Estudos em Trabalho, Política e Sociedade - NETPS, do Núcleo de Estudos em Comunicação, Cultura e Sociedade – NECCSOS e do Núcleo de Pesquisa em Jornalismo – NPJOR. email: [email protected]
Apesar de todos naquela época vincularem este documento à autoria de Cairu, ele não foi assinado por ninguém, e o próprio Cairu nega ter qualquer envolvimento com a publicação.
PANORAMA DA IMPRENSA NO BRASIL: RIO DE JANEIRO ENTRE 1808 À 1822

Lucas Dantas

RESUMO: Este artigo apresenta uma analise dos jornais e revistas que circularam no Rio de janeiro, a partir da chegada da corte portuguesa ao Brasil, discorrendo sobre as características principais de cada um desses meios impressos, sobre a trajetória de cada um durante esses anos e a influência deles no processo de independência do país.
PALAVRAS CHAVE: Independência; Censura; Jornal; Tipografia; Imprensa Régia.

ABSTRACT: This article presents an analysis of newspapers and magazines circulating in Rio de Janeiro, from the arrival of the Portuguese court to Brazil, discussing the main characteristics of each of the print media, on the trajectory of each of those years and their influence on the process of independence.
KEYWORDS: Independence, Censorship, Newspapers, Typography, Royal Press.



Introdução
O presente trabalho apresenta um registro histórico da trajetória dos meios de comunicação no Brasil, em sua fase inicial, restringindo-se ao período da chegada da família real ao Rio de Janeiro até a proclamação da independência por D. Pedro I. Dentro desse contexto serão apresentados os principais jornais que circulavam pelas ruas da antiga capital, iniciando com a Imprensa Régia e seu primeiro impresso, a Gazeta do Rio de janeiro, o Correio Braziliense, de Hipólito Costa, o Revérbero, de Gonçalves ledo, entre outros de menor participação na conjuntura da época.
Todo esse processo tem inicio em Portugal, com a invasão de Napoleão ao país e a pressão inglesa sobre as cortes portuguesa. D. João VI, que era o príncipe regente do reino português, tinha sido avisado sobre o avanço das tropas francesas sobre seu território. Com a situação de país se complicando, Napoleão envia à Portugal um mensageiro, que traz consigo um contrato de rendição para ser assinado pelo príncipe regente, garantindo dessa forma a integridade do país e o recuo das tropas francesas sobre suas terras. D. João, não vendo alternativa, aceitaria a proposta. No entanto, o Reino Inglês, ciente desse possível acordo entre Napoleão e Portugal, ameaça bombardear toda Lisboa, caso as cortes lusitanas aceitassem tal contrato. Como a Inglaterra era uma grande parceira econômica de Portugal, D. João rejeita a proposta francesa, e faz um acordo com os ingleses: Fugir para a colônia do sul (o Brasil), sob escolta da esquadra inglesa e abandonar Portugal, deixando as tropas inglesas para lutar contra Junot, general do exercito francês, que chegava perto de Lisboa.
A corte portuguesa embarca para o Rio de janeiro, às pressas, deixando vários pertences para trás. Porém, D. Antônio de Araújo Azevedo, futuro Conde de Barca, trás consigo a bordo, a primeira tipografia que funcionará dentro da lei, em terras brasileiras.
Há relatos de que no Brasil, a Imprensa Régia, ou Imprensa Áulica como também era chamada, não seria a primeira a imprimir o primeiro folheto impresso no país. Segundos dados da biblioteca nacional, antes de 1808, em Minas Gerais, um pequeno folheto teria sido produzido em chapas de cobre, para comemorar a data de aniversário do governador do estado.
Apesar do ocorrido, neste artigo iremos considerar a Imprensa Régia como a principal responsável pelos primeiros documentos impressos na colônia, e também pela impressão do primeiro jornal de circulação na capital carioca, a Gazeta do Rio de Janeiro, que possuía a característica de jornal bissemanal e com um número de assinantes até suficiente para a época.
A imprensa Régia
Inaugurada com a chegada da família real ao Rio, a Imprensa Régia foi o primeira a redigir documentos impressos com consenso do governo no Brasil. Antes da vinda da família portuguesa, vários casos de tipografias ilegais na colônia tinham sido registrados.
Com a transferência da sede real, a necessidade da emissão desses documentos era latente. Inicialmente, era usada para uso exclusivo das demandas reais, na impressão de livros, cartas, lei, decretos, papéis diplomáticos. O Conde de Barca, que foi o encarregado de trazer a tipografia de Portugal para cá, também seria o responsável pelas suas impressões até 1821. Sua junta Administrativa era composta por duas pessoas do governo: O secretário de negócios estrangeiros José Bernardes Castro, e José da silva Lisboa, conhecido como Cairu, que futuramente fundaria O conciliador do Reino Unido, que além de fazer parte da administração, era Censor real.
Começa a funcionar em 1 de maio de 1808, com uma edição de 27 páginas, contendo uma relação de despachos publicados no aniversario do príncipe regente D. João. Seu ponto de venda se situava em uma loja na Rua do Rosário, que pertencia ao livreiro Manuel Jorge Silva. O conteúdo de suas edições era misto, que variava entre os informes, decretos e leis emitidos pela corte, obras literárias, como Marilia de Dirceu e artigos como o Compendio da riqueza das nações, de Adam Smith.
Durante quatro meses, a Imprensa Régia fica restrita apenas a essas publicações, até o surgimento da Gazeta do Rio de janeiro. Logo após, em 1813, lança O patriota, primeira revista a circular no Rio. Sob a direção de Manuel Ferreira, militar baiano, ex-redator da Gazeta, a revista adota um viés cultural, que agrada a D. João, no entanto, só circula por dois anos.
Uma das ultimas publicações da Imprensa Régia é o Diário do Rio de Janeiro, um jornal de periodicidade diária, como o próprio nome explica. Era um jornal sem seções, não possuía editorias e tinha foco na administração e movimentação social real.

A Gazeta do Rio de Janeiro
Fundada em 10 de setembro de 1808, a Gazeta foi o primeiro jornal impresso pela Imprensa Régia. Produzida com o objetivo de evitar possíveis atos contra o governo, vinha sempre noticiando fatos que favorecessem a corte, e às vezes, reproduzia artigos de jornais da Europa. D. Rodrigues Coutinho, futuro Conde de Linhares, era o chefe de redação e revisor do jornal. Possuía quatro paginas, sendo que algumas edições possuíam de seis a oito folhas. Iniciou com uma tiragem semanal, aos sábados, depois saíra também as quartas, e as terças, quintas e sábados, a posteriori. Os anúncios inicialmente eram grátis, e as assinaturas, maioria na capital, eram trimestrais e no valor de 1900 réis. Tinha por volta de mil assinantes espalhados entre o Rio e cidades vizinhas. A pontualidade era umas das qualidades do jornal, que com seu crescimento, iria encontrar problemas com as entregas na região, devido ao serviço de transporte.
Quando alguns acontecimentos eram de grande interesse, que não podiam esperar a próxima edição, edições extraordinárias eram publicadas, que continham apenas a noticia da capa. Entre 10 de setembro e 31 de dezembro de 1808, 19 edições extraordinárias (sempre de quatro páginas) tinham sido impressas. Elas eram numeradas a parte das edições normais, e na maioria das vezes, vinha informando sobre as tensões na Europa, principalmente sobre a situação de Portugal nas mãos dos franceses. Durante todo o período de guerra em Portugal, a Gazeta daria um foco exacerbado para os acontecimentos do outro lado do Atlântico, que disputaria lugar no jornal com as notícias locais.
Em 4 de janeiro de 1809, o jornal sofre modificações em sua diagramação. O nome do cabeçalho é alterado para apenas Gazeta, para dar espaço ao brasão real. O jornal tinha como sede o palácio do conde de Barca até 1811, quando se transfere para a Rua Borbom, porém em 1822, retorna ao endereço antigo, já com o nome de Imprensa Nacional.
Durante toda sua trajetória, a Gazeta encontra um grande adversário por assim dizer, que seria Hipólito Costa e seu Correio Braziliense. As pessoas da época que liam os jornais percebiam claramente a diferença de idéias entre eles. Enquanto a Gazeta do Rio de Janeiro fazia diversos elogios às cortes, o Correio tecia inúmeras críticas ao modo de governar que estava em vigor na colônia.
A Gazeta circula até 1821, quando D. João VI, agora coroado rei, retorna à Portugal, por pressões do deputados lusitanos, que ameaçavam destrona-lo para assumirem o poder, ocorrido que ganhou o nome de Revolução do Porto. Após isso, o jornal muda o nome para Imprensa Nacional e fica sob a chefia do Conde de Galvês.

Hipólito da Costa e o Correio Braziliense
Hipólito Costa, fundador do Correio Braziliense, fora anteriormente da fundação do jornal, amigo de pessoas ligadas ao reino, como D. Rodrigues Coutinho. Jornalista, escritor e cientista político, viajou o mundo todo. Em uma dessas viagens que Hipólito foi aos Estados unidos para estudar plantas, e teve seu primeiro contato com a maçonaria no estado da Filadélfia. Ao voltar para Portugal, já estava sendo procurado pelo tribunal do Santo Ofício, denunciado pelo próprio D. Rodrigues Coutinho, por acusações justamente de envolvimento com rituais satânicos (como era vista a maçonaria). Diante de tais circunstancia, é obrigado a fugir para a Inglaterra, onde conhecia o Conde de Sussex, um dos Grão-mestres da seita em Londres.
Apaixonado pelo Brasil, como ele próprio julgava a si, vê a criação de um jornal a melhor forma de denunciar tudo aquilo que via como inconstitucional na colônia. Entretanto, Hipólito esperava o momento certo para fazer tais denúncias e fundar seu jornal, e esse momento chega em 1808, com a chegada das cortes à colônia.
O Correio Brasiliense surge em 1 de junho de 1808, causando furor na sociedade brasileira da época. Era editado de Londres, e enviado ao Brasil pelas embarcações.
Um jornal mensal, de capa dura azul, 140 páginas e sete editorias, sendo as principais: política, comércio e artes e correspondências. Apesar de conter idéias revolucionárias em seus textos, já que o jornal era todo redigido por Hipólito, com exceção das cartas dos leitores, Hipólito se considerava apenas um opositor do antigo governo, defendendo idéias progressistas. O objetivo do jornal era segundo ele, de "lutar contra as políticas obscurantistas e despóticas". Em parte de seu primeiro editorial é possível perceber essa idéia:

"O primeiro dever do homem em sociedade é ser útil aos membros dela, e cada um deve, segundo as suas forças físicas e morais, administrar, em beneficio da mesma, os conhecimentos ou talentos que a natureza, a arte, ou a educação que lhe prestou. [...] Feliz eu, se posso transmitir a uma nação longínqua e sossegada, na língua que lhe é mais natural e conhecida, o acontecimentos desta parte do mundo, que a confusa ambição dos homens vai levando ao estado da mais perfeita barbárie. O meu único desejo será de acertar na geral opinião de todos, e para o que dedico a esta empresa todas as forças, na persuasão de que o fruto do meu trabalho tocará a meta da esperança a que me propus."

O impacto do jornal tanto no Brasil como em Portugal foi mais do que o esperado por Hipólito, tanto por parte da população, as classes mais pobres e os defensores da independência, como pelo governo português, que inicia uma série de ataque ao Correio e ao jornalista. Diversas medidas começam a ser tomadas pelos "zelosos" funcionários da coroa. Em todo o reino, exemplares do Correio são apreendidos, seus leitores perseguidos, chegando até ser decretado crime a leitura do jornal. A policia é mobilizada para conter sua circulação, mas mesmo com todas essas ações, a popularidade do Correio Braziliense só crescia, expandindo-se as outras províncias brasileiras. Em Londres, cartas dos leitores chegavam aos montes, a maioria prestando apoio às idéias defendidas pelo jornal. Com o fracasso de tais ações, a coroa lança seu jornal na Inglaterra, O Investigador Português, criado apenas para fazer críticas à Hipólito, com o objetivo de desfazer sua imagem diante do reino inglês. Além de todas essas tentativas, a corte portuguesa, o ameaçou de morte, o subornou e tentou extradita-lo para o Brasil, para julga-lo. No entanto, tudo foi em vão, pois Hipólito era protegido pela lei e pelo conde de Sussex, que tinha grande influência na sociedade inglesa.
Hipólito também era atacado pelo governo português por ser maçon. Um episódio de destaque foi um conflito entre Hipólito e o Marquês de Penalva, Censor régio, que em um de seus artigos, fazia acusações violentas aos maçons. Em resposta, o Correio publica um acontecimento envolvendo o marquês, "a sua presença na delegação de deputar solidariedade à napoleão, em nome do clero e da nobreza, e pedir-lhe um rei a Portugal". Ao ler a notícia, o marquês teria enlouquecido, e essa seria a causa de sua morte 2 meses depois.
O Correio era visto como referência para os jornais que surgiriam mais a frente, defensores também da independência, e também inspirou ações populares, como a revolução pernambucana, que apesar disso, Hipólito não a apoiara. O jornal ficou em circulação até dezembro de 1822, quando Hipólito o fecha, com a justificativa de que o dever foi cumprido.
Após a independência é nomeado pelo imperador D. Pedro I Consul geral em Londres, onde morre tempos mais tarde, em 11 de setembro de 1823.

O Conciliador, O Revérbero, O Espelho e A Malagueta
A partir de 1820, o número de jornais que corriam as ruas da capital já era bem superior a tempos atrás. Influenciados Pelo Correio Braziliense ou pela Gazeta do Rio de janeiro, será possível avaliar e distinguir claramente os conservadores e os libertários.
Começando pelos Folhetins conservadores, o que mais se destaca é O Conciliador do Reino Unido, que tem José da Silva Lisboa, o Cairu, como seu redator. Antigo censor régio, Cairu cria o jornal em um momento conturbado da história do Brasil, onde as insurreições contra a coroa aumentam. O Conciliador surge justamente para tentar conter essas ações. Em suas reportagens os elogios a coroa são frequentes, uma forma de tentar tornar a imagem das cortes mais populares. Critica o processo de separação de forma sútil, afirmando que o Brasil ainda não teria condições de se manter como um país independente. Será também o principal inimigo dos jornais da colônia, com diversos conflitos entre eles. O jornal teve sete edições e circulou até abril de 1821, contudo, seu redator não se restringiria apenas a essas publicações, logo que será o autor de A Reclamação e do Ritual Apologético, ataques contra os "libertários da colônia".
Outro que fazia parte desse bloco dos conservadores era O Espelho, fundado em 1° de outubro de 1820 por Ferreira de Araújo, ex-redator da Gazeta do Rio de Janeiro. Monarquista, ganhou o título de jornal mais polêmico e insultuoso da época, já que com seus editoriais, viria a fazer críticas e ameaças ao Revérbero e A Malagueta.
Apoiador de D. Pedro I e adepto da independência, O Revérbero Constitucional Fluminense foi um dos impressos mais importantes no processo de independência do Brasil. A frente do jornal, Gonçalves Ledo e Januário da Cunha Barbosa faziam um jornalismo desvinculado aos interesses da corte, viriam a ser o pioneiro. Fundando em 15 de setembro de 1820, teve 48 edições ordinárias e 3 extraordinárias. Era quinzenal, vindo a ser semanal posteriormente.
A Malagueta seria o último jornal a surgir no Rio no ano, em 18 de dezembro de 1821. O português Luís Augusto May, criador do jornal, ganhou o material tipográfico de um negociante português, Manuel Joaquim Portugal de Lima. Segundo Isabel Lustosa, May só viria a fundar o jornal por conta de não ter conseguido um cargo na administração real, já que era conhecido como papa-cargo.
May, que viria a ser conhecido como o Malagueta, foi o que mais se aproximou do que se chama de jornalismo "do povo para o povo", pelo fato do vocabulário popular, e por publicar a maioria das cartas enviadas pelos leitores, que geralmente, eram críticas contra D. Pedro ou contra a Coroa, sem argumentos, sendo as vezes criticas pessoais. Apesar de ser a favor da separação om Portugal, não via a figura de D. Pedro com bons olhos, logo que publicava em seu jornal, insultos contra o príncipe.
Com sua escrita popular, e sua sinceridade excessiva, sofrera ataques contínuos. O Espelho foi um dos que usaram de ironia para difamar e rebaixar a forma como May redigia suas matérias, afirmando que A Malagueta não passava de um folheto de vocábulos chulos e que construía analogias ofensivas ao comparar atos da nobreza com rituais de escravos. O Revérbero também faria críticas à May, pelo fato de que em um dos editoriais da Malagueta, este se considerava o pioneiro em lutar pela independência, logo que O Revérbero compartilhava do mesmo ideal separatista e surgira antes, em 1820. No entanto, facilmente pode se observar que o acontecido não passou de uma estratégia para vender jornais, logo que May e Ledo eram amigos, e semanas depois uma carta de retratação tinha sido publicada por May, pedindo desculpas pela garfe.

O Correio do Rio de Janeiro
O Correio do Rio de Janeiro seria o ultimo jornal a surgir anterior a independência. Tinha como seu redator Joao Soares Lisboa, e seria considerada a folha mais radical do Rio de Janeiro. Com seu estilo popular, também tentava se aproximar dos leitores através das correspondências, no entanto, as que eram publicadas eram sempre revisadas, para não conter ataques sem lógica. Grande admirador de D. Pedro, tentava dar sentido democrático a todas as ações do príncipe, e deixava a entender que este, sempre agia de acordo com os interesses do público.
Logo após o jornal entrar em circulação, Soares Lisboa ganha um inimigo conhecido, Cairu, pelo fato de que ele (Soares Lisboa) teria sido um dos idealizadores da "representação", movimento que reuniu por volta de 6 mil assinaturas, com o objetivo de se criar uma assembléia que delimitaria as ações do representantes brasileiros em Portugal. Cairu vê a ação como uma ameaça ao império, se irrita e julga o ato como inconstitucional, e publica "A Reclamação" em resposta à "Representação". No entanto, a própria sociedade se irrita com o documento redigido por Cairu, e na redação do Correio, inúmeras cartas em defesa de Lisboa e da "Representação" chegavam. Em uma dessas cartas, publicada no Correio, o leitor, que assina como "O Brasiliense", faz elogios ao jornal de Soares Lisboa e insultos sérios a Cairu:

"O senhor reclamador hipócrita e egoísta não duvidaria agora assanhar os inimigos do Brasil, os ultra europeus, soprar a discórdia, semear a anarquia, para que entre o afã dos dois litigantes, aproveitasse o terceiro, isto é, despotismo, ídolo do seu coração.
[...] Quem dissera que um jovem de 23 [referência a D. Pedro] daria lições de liberalismo a esta cáfila de presumidos togados, que pensavam achar na verdura da sua idade o mais alto [sic] para o seu despotismo!"
Muitos outros leitores escreveram para o Correio, seguindo essa mesma linha de insultos e elogios, porém, em alguns casos, eram visíveis os insultos mais graves.
Com a repercussão negativa que "A Reclamação" alcançou, Cairu, em nova tentativa lança o "Ritual Apologético", publicado entre 16 e 23 de julho de 1822. No documento, ele afirmava não ter sido o autor da "Reclamação", atacava o Correio e o Revérbero, além de reafirmar sua posição conservadora contra o desligamento da colônia com o governo português, justificando que o Brasil era incapaz de conseguir trilhar o caminho das grandes nações sem a ajuda de Portugal.
A situação foi de certa forma, benéfica para Soares Lisboa, que desfrutava agora do status de defensor da independência e do regime democrático. Status esse que assustou José Bonifácio, que tratou logo de tomar providencias para acabar com essa boa imagem de Soares Lisboa. Dois encarregados por Bonifácio para tal missão espalharam o boato de que, o verdadeiro autor da "Reclamação" seria o próprio Soares Lisboa, que teria usado o fato para promoção pessoal. Lisboa então envia uma carta para D. Pedro I pedindo que o príncipe esclareça de que lado está e o ajude a desmascarar os homens responsáveis pelas mentiras divulgadas. A carta no entanto é interceptada pelos "funcionários" de Bonifácio que a usam para abrir processo contra Lisboa de crime de injuria e atroz, onde a vítima seria o príncipe D. Pedro. Ao Saber que José Bonifácio estaria por trás de toda armação, Lisboa teria ido procura-lo em sua casa, e ao chegar, deparou-se com D. Pedro, que tinha o costume de visitar o amigo Bonifácio com frequência. Soares Lisboa explicou que estava sendo processado, e pediu a D. Pedro que redigisse uma pequena nota, informando estar de acordo com o que havia sido escrito na carta. Logo após, a carta e a nota do príncipe tinham sido publicadas. O processo nunca foi julgado.
Esses acontecimentos serviram para deixar claro as diferenças e os objetivo entre os jornais. De um lado temos o Conciliador e O Espelho, que podem ser encaixados entre o conservadores, o Correio do Rio de Janeiro e o Revérbero entre os libertários, e A Malagueta, que seria mais de interesse pessoal de May, que fecha o jornal ao receber uma proposta de José Bonifácio para ser diplomata em Londres, o que não aconteceu, devido ao fato de pessoas ligadas a Bonifácio o informarem que May seria um ser traiçoeiro.



A Independência
Em agosto de 1822, os acontecimentos em Portugal e no Brasil apontam para o fim do processo de colonização que já durava 322 anos. As cortes portuguesas, vendo que o cenário apontava para uma possível separação, começam a impor medidas sobre a colônia, no intuito de reforçar novamente os laços entre colonizador e colonizado. Dentre essas medidas estariam: Dissolução da Assembléia Constituinte que estava no Brasil, envio de representantes portugueses para governar as províncias e o regresso de D. Pedro para Portugal.
Já sabendo de todas essas medidas, D. Pedro viaja para São Paulo para resolver problemas políticos, mas antes de viajar envia para o corpo diplomático uma "carta às nações amigas", que já seria uma das provas para a proclamação da independência no mês seguinte. Em 25 de agosto chega com sua comitiva a São Paulo, e em 5 de setembro, parte em direção a vila de Santos. Enquanto D. Pedro viajava, noticias vindas do reino chegavam a capital. D. Leopoldina e José Bonifácio enviam, pelo mensageiro Paulo Bregaro, duas cartas para D. Pedro, explicando a situação critica do momento. O encontro entre o mensageiro e o príncipe aconteceu perto de Santos, na Serra do Mar, em um momento desagradável para o regente, que se encontrava com diarreia. Além de Bregaro e D. Pedro, o padre Belchior, da comitiva do príncipe, também se encontrava na hora. Ao ler as duas cartas, D. Pedro declararia ali, o total rompimento com o reino português. Logo em seguida o padre Belchior fora chamar os soldados que estavam no fim da ladeira, esses que ficariam marcados na história como os Dragões da Independência.
Ao voltar a São Paulo, D. Pedro é aclamado pelas ruas, tendo uma solenidade no teatro municipal, como a coroação dele como imperador. No dia 10 de setembro, o Correio do Rio de Janeiro publica o decreto do novo rei com as cores reais: "O verde da casa de Bragança, e o amarelo da casa de Lorena".
A bandeira, desenhada por Jean Baptiste Debret, trazia o verde da primavera, o amarelo do ouro e dentro dele 19 estrelas representando as províncias, uma influência americana.
Em 7 de outubro é aclamado "primeiro imperador e defensor perpétuo do Brasil", em uma reunião da maçonaria, a qual José Bonifácio não é convidado , mas fica sabendo da cerimonia. Bonifácio em retaliação ao fato, ameaçou a imprensa, proibindo que o acontecimento fosse divulgado.

Considerações finais
A imprensa desse período, como podemos perceber, pode ser dividida se diversas formas, tanto por épocas, como por correntes de pensamento ou interesses políticos. Passando pela Imprensa Régia, marco inicial da impressão no Brasil, a Gazeta do Rio de Janeiro, o primeiro semanal da colônia, o Correio Braziliense, com seu ilustre redator, Hipólito da Costa, que alguns julgam seu trabalho como de grande importância para o processo de independência do país. O Diário do Rio de Janeiro vem com o fim das edições extraordinárias, e O Patriota como a primeira revista em terras colonizadas. Anos após, mais perto de 1822, o "Boom" dos jornais, que defendiam diversas opiniões para todos os lados. Apesar de defenderem projetos políticos diferentes, pessoas como, Luís Augusto May, João Soares Lisboa, Gonçalves Ledo e Januário da Cunha, Ferreira de Araújo, Hipólito da Costa e José da Silva Lisboa (Cairu), deixaram seus nomes marcados na história da imprensa brasileira, e foram agentes ativos em todo esse processo de transição, ou melhor, nesse processo de amadurecimento que o Brasil passou ao longo desses 14 anos.
A Imprensa também é vista nesse momento como a voz do povo, a expressão dos interesses populares, que é o que A Malagueta e o Correio do Rio de Janeiro tentam buscar e passar em suas matérias e seus editoriais, carregado de um espirito de liberdade, que as vezes, se restringem a publicarem ataques de cunho pessoal, como é registrado entre O Espelho e O Revérbero, e novamente O Espelho, mas dessa vez contra A Malagueta.
A liberdade de imprensa sempre foi perseguida pelos "Censores Régios", que sempre veiculavam ou permitiam que se vinculassem as notícias favoráveis ao governo. José da Silva Lisboa, pode ser a melhor figura para representar essa tirania, logo que sempre combateu os ideais de libertação dos jornais brasileiros e sempre pregou a união entre Brasil e Portugal, como algo que fosse Benéfico para ambos os lados.
A coragem dos jornais, a meu ver, inspiraram D. Pedro ao gritar a independência, estes sempre lutaram por uma coisa que nunca tiveram, mostraram ao Imperador dessa nação a vontade que todos os habitantes desta tinham de serem livres, e não mais fazer parte de uma colônia ao sul de uma nação européia, mas sim de um país que apesar de toda exploração sofrida, tentava se erguer com os ideais democráticos e progressistas, criando uma identidade de legítimo brasileiro.


Referencias bibliográficas
BAHIA, Juarez. Jornal, História e Técnica: Historia da Imprensa Brasileira. 4° ed.São Paulo, Ática, 1990.
GOMES, Laurentino. 1808: Como uma rainha louca, um príncipe e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. São Paulo, Editora Planeta do Brasil, 2007.
LUSTOSA, Isabel. Insultos Impressos: A Guerra dos Jornalistas na Independência (1821-1823). São Paulo, Companhia das Letras, 2000.
WERNECK, Nelson Sodré. História da imprensa no Brasil. 4° ed. Rio de janeiro, MAUAD, 1999.



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