Panorama Preliminar para o Segmento Mundial da Carne Bovina em 2017

May 24, 2017 | Autor: Osler Desouzart | Categoria: Agribusiness, Livestock
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Panorama Preliminar para o Segmento Mundial da Carne Bovina em 2017 Osler Desouzart [email protected] Comecemos pelo óbvio ululante: 2017 será melhor que 2016. Esse banho de otimismo está calcado em alguma simpatia de final de ano (pular ondas, comer lentilha ou romã, usar roupas de determinadas cores, etc e ponham etc nisso)? Lamento contradizer o imaginário, sempre mais fascinante, dizendo que está baseado na sublime ditadura dos fatos e dados, ainda que nem mesmo os dados preliminares de 2016 e os finais de 2015 estejam disponíveis no momento da elaboração deste artigo. A produção mundial de carne bovina em 2017 deverá se situar em 70,029 M.t., um crescimento de 1,33% sobre os 69,106 previstos para o ano que já se vai, tarde, aliás, na opinião fundamentada dos brasileiros. USA, Brasil, China, EU-28 e Argentina serão os cinco maiores produtores mundiais, dados que não são ao gosto da Índia que com a inclusão de bubalinos superaria os nossos vizinhos. Austrália, México, Paquistão, Turquia, Rússia e Canadá completariam o rol dos doze principais produtores mundiais. Interessante observar que desses doze países somente a EU-28, China e Rússia registrarão crescimentos inferiores à média mundial, enquanto a Austrália deverá registrar decréscimo em sua produção. A Turquia deve consolidar a posição alcançada em 2015 de décimo maior produtor mundial de carne bovina. O nosso pobre rico Brasil deverá crescer +/- 2% e alcançará o patamar de 9,7 milhões de toneladas em 2017, salvo imprevistos, tsunamis, enfermidades, políticos e outras desgraças. As exportações serão o principal vetor desse crescimento graças ao nosso Real fragilizado e ao acesso a mercados como a China, Arábia Saudita e Estados Unidos. O crescimento das importações chinesas deverá assegurar ao Brasil a liderança das exportações de carne bovina, ainda que a Índia com exportações exclusivamente de bubalinos possa registrar volumes semelhantes as 1,95 milhões de toneladas que se projeta para as exportações do país. A Austrália manterá o terceiro lugar com 1,325 a 1,350 M.t. Interessante aqui notar que Paraguai, Uruguai e México seguirão superando os volumes exportados pela Argentina, que já foi sinônimo de exportação de carne. Nada como políticas públicas populistas desastrosas para acabar com a competitividade de um país construída por tradição da atividade e empenho dos empresários que não fazem parte das “excelências” que assolam a América Latina. O Planeta China comandará a predominância asiática nas importações, ainda que os Estados Unidos guardem a liderança de maior país importador de carne bovina com volumes entre 1,21 e 1,25 M.t. Rússia seguirá como um dos principais importadores, mas com volumes símiles aos de 2016 e tendência decrescente em médio prazo. Japão, Coréia do Sul, Hong Kong e Malásia completam as forças asiáticas. O Brasil já foi o segundo maior consumidor de carne bovina até 2015, quando a conta da reeleição da presidenta fez com que fossemos rebaixados ao terceiro posto; e em 2016 fomos para a quarta posição depois de Estados Unidos, China e EU-28. E nessa posição devemos permanecer em 2017, mesmo se toda a nação usar roupa íntima amarela na passagem do ano. Quer dizer então que 2017 será “kurishi shiai”1 para o consumo doméstico brasileiro de carnes bovinas? Não será um desastre de proporções bíblicas como a eleição de certos candidatos em 2018, mas não será um ano onde o consumo do brasileiro sustentará o crescimento da nossa indústria bovina. Este, repito, será baseado

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No meio de uma negociação com um cliente japonês, quando eu ainda vendia carnes, pedi a um assistente que falava japonês que me traduzisse “jogo duro”. Daí nasceu o kurishi shiai que uso até hoje e que naturalmente não fez o menor sentido para o cliente japonês.

no mercado externo e a presença de empresas competentes deve assegurar esse desempenho, salvo chuvas e trovoadas não previsíveis, conforme referido anteriormente. Quer dizer que o brasileiro vai virar vegetariano? Muitos vão voltar ao vegetarianismo econômico, onde o arroz com feijão substituirá a carne que o consumidor não lograr pagar. Muitos espaçarão o consumo de carne e outros migrarão para carnes e produtos cárnicos mais acessíveis. Em resumo, não contem com preços altos ou possibilidade de repasse de custos ao consumidor em 2017, mas lembre-se que teremos um consumidor buscando promoções e ansioso pela oportunidade de consumir carnes, principalmente bovina. E os preços do gado bovino será que estarão nas exceções e vão subir muito como os salários dos políticos e da casta de servidores públicos? As tendências e o quadro econômico brasileiro indicariam que não. Eu se fosse produtor de gado não contaria com isso e me prepararia para aumentar minha produtividade, pois a regra hoje e sempre, é fazer mais com menos num processo de melhorias contínuas. E a pecuária intensiva não deverá contar com grãos baratos devido à voracidade asiática por matéria prima para rações. Agronegócio é uma das poucas atividades em que o Brasil se destaca e cuja competitividade é de fazer inveja à maioria de nossos concorrentes internacionais. Nossas condições naturais - extensão de terras, disponibilidade de água e clima amigável à agricultura – somam-se à tradição da atividade, empresariado rural ativo e engajado e excelente ciência. Esses fatores permitem apostar no agronegócio brasileiro. Isso não é passaporte para ineficiência, gestão inepta, uso de técnicas ultrapassadas, ignorar avanços tecnológicos e científicos, etc. O custo crescente da terra, das matérias primas, dos insumos e a concorrência não tornam gestão cada vez mais aprimorada uma opção, mas um instrumento mínimo de sobrevivência. Aquele que ainda acredita em pecuária de uma cabeça por hectare já está morto, mesmo que ainda não tenha comparecido ao próprio enterro. A pecuária bovina seguirá mudando seu caminho, numa corrida já em curso, saindo do século XVI para se engajar com a proficiência imposta pelas exigências do século XXI. Muitos ficarão pelo caminho nessa viagem e alguns nem enxergaram a necessidade de dar a partida, acreditando que água e terra são bens infinitos. Não há lugar para ineficiência e má gestão na grande maioria das atividades empresariais privadas, mas em pecuária há ainda menos espaço. Eu não temo pelo futuro da pecuária bovina brasileira, mas não será a mentalidade do passado que construirá esse futuro, do qual nem todos que nela estão hoje participarão desse futuro. Carne bovina está fadada a ser um produto caro e os cortes se tornarão itens de luxo, convivendo com produtos elaborados de carne bovina, mais acessíveis. Hoje nos grandes centros os açougues tradicionais convivem com as butiques de carnes, onde cortes específicos e muitos inovadores, provenientes de animais das raças delta ou ômega, precoces ou superprecoces capturam aqueles segmentos de consumo, presentes em todas as sociedades do mundo, onde a alimentação não representa nem 20% dos gastos domésticos. Essas butiques conviverão com os segmentos tradicionais, onde se buscará o bife ocasional, a moída mais frequente e a promoção de vendas que permitirá organizar o amado churrasco, mesmo que para tal se organize uma vaquinha com os participantes. Isso mudará se recuperarmos a economia brasileira e não elegermos Átila para a presidência em 2018? Certamente tornando o bife menos ocasional e os 400g de moída menos frequente, mas tal não ocorrerá em 2017. E mesmo que venhamos no futuro conhecer tempos de bíblicas vacas gordas, eficiência, ciência, tecnologia e boa gestão diminui mortalidade em tempos das cíclicas vacas magras. Que 2017 seja melhor que 2016 para todos vocês.

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