Papel para a vida: a contribuição da reciclagem de embalagens de papelão do Pólo Industrial de Manaus para uma economia de baixo carbono

May 31, 2017 | Autor: H. dos Santos Per... | Categoria: Low Carbon Economy
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Papel para a vida: a contribuição da reciclagem de embalagens de papelão do Pólo Industrial de Manaus para uma economia de baixo carbono 1 Henrique dos Santos Pereira INTRODUÇÃO A percepção econômica clássica de que os custos sociais advindos dos impactos ambientais decorrentes dos processos produtivos – as chamadas externalidades devam ser assumidas pela sociedade como um todo não é mais aceitável. Associados ao conceito de desenvolvimento sustentável e à problemática da mitigação das mudanças climáticas surgiram novos paradigmas, dentre estes o conceito de Economia de Baixo Carbono 2. Questão central para uma Economia de Baixo Carbono é a redução da emissão de gases de efeito estufa – GEEs através da produção e consumo eficiente de energia, do aperfeiçoamento tecnológico e institucional dos processos produtivos e de prestação de serviços e da valorização de hábitos de consumo poupadores de matéria-prima. Originalmente, é acertado indicar que todas essas questões se reportam à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, ou simplesmente Convenção do Clima, assinada por mais de 150 países durante a RIO-92. Nas últimas décadas, o aumento da reutilização de papel residual como fonte de fibras nos processos de fabricação de polpa e papel significa que o setor industrial vem passando por significativas mudanças no uso de energia e matérias-primas (BERGLUND e SÖDERHOLM, 2003; PATI et al., 2006, 2008;) . Para ABRES (2006), em sua leitura sobre a adequação da ABNT ISO/TR 14.062:2004, a embalagem descartável possui a vantagem ambiental de ter uma estrutura menos robusta, requerendo menos matéria-prima em sua composição e energia para o seu processamento – o que implica num ganho ambiental. No entanto, por ser descartada após o consumo do produto, esta embalagem deve prever formas de desmontagem e reciclagem ou reaproveitamento das matérias-primas utilizadas em sua estrutura. A Avaliação de Ciclo de Vida - ACV (em inglês, LCA – Life-cycle Assessment) de materiais e produtos tem por objetivo estudar os aspectos ambientais e os prováveis impactos durante o tempo de vida de produto desde a aquisição da matéria prima passando pela sua produção, uso e destinação final (FINNVEDEN e EKVALL, 1998). Ainda que não seja algo inteiramente novo, o interesse sobre essas abordagem aumentou desde 1990, o que resultou tanto no desenvolvimento como na harmonização de metodologias. Um “código de práticas” foi publicado assim como diversas instruções e um padrão ISO foram

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PEREIRA, H. S. Papel para a vida: a contribuição da reciclagem de embalagens de papelão do Polo Industrial de Manaus para uma economia de baixo carbono. In: Therezinha de Jesus Pinto Fraxe; Daniel Felipe de Oliveira Gentil; João Bosco Ladislau de Andrade; Michelle Andreza Pedroza da Silva. (Org.). Papel para a vida: estudo da cadeia produtiva de embalagens de papelão no polo industrial de Manaus (PIM). 1ed.Manaus: EDUA, 2011, v. 1, p. 207-224. ISBN: 9788574015941. 2 Este conceito surgiu na Inglaterra com a publicação do documento: “Our Energy Future – Creating a Low Carbon Economy”, apresentado ao parlamento britânico pelo Secretariado de Estado de Transporte e Indústria daquele país, em fevereiro de 2003. Disponível em: http://www.berr.gov.uk/files/file10719.pdf.

estabelecidos (ISO série 14.040). Uma das questões que pode ser abordada pela ACV seria aquela associada à destinação final de embalagens de papelão. A maioria dos estudos já realizados parte de uma comparação dos impactos ambientais decorrentes da incineração das embalagens descartadas para a produção de energia (principalmente para aquecimento), a reciclagem para produção de novas embalagens e a sua deposição em lixões ou aterros sanitários. A revisão realizada por Finnveden e Ekvall (1998) aponta que a energia total, o consumo de biomassa e a demanda por energia foram menores para reciclagem comparada com a incineração em todos os casos revisados. O consumo de combustíveis fósseis e a emissão de GEEs também seriam menores com o aumento da reciclagem, se esta for comparada somente com a destinação final em aterros sanitários. A biomassa, ou seja, a madeira poupada com a reciclagem das embalagens, se usada como combustível substituindo combustíveis fósseis traria vantagens adicionais à reciclagem se comparada com outras destinações das embalagens descartadas. Os resultados de uma avaliação das vantagens e desvantagens da reutilização de papel residual – neste caso, embalagens de papelão, portanto, dependerá das alternativas disponíveis de destinação desse material fibroso (EKVALL, 1999). Se a matéria-prima secundária não for utilizada para a fabricação de novas embalagens, a não reutilização das fibras residuais das embalagens descartadas poderia causar um aumento na demanda por matéria-prima virgem nas empresas produtoras de embalagem do PIM. Alem disso, se as fibras não forem recicladas para produção de novas embalagens, elas podem acabar tendo os aterros sanitários como destino final. Quando o aterro for a única alternativa de destinação do papel residual, a reciclagem significará que as emissões de metano (CH4) podem ser evitadas pela reutilização das fibras, pelo menos em curto prazo. Segundo a Associação Brasileira de Embalagens - ABRE (NOVAES, 2009), 33% do papel que circulou no País em 2004 retornou à produção através da reciclagem. Esse índice corresponde a aproximadamente 2 milhões de toneladas. A maior parte do papel destinado à reciclagem (86%) é gerada por atividades comerciais e industriais. No Brasil, as indústrias consumiram 2,8 milhões de toneladas de papel reciclado. As caixas feitas em papel ondulado são facilmente recicláveis, consumidas principalmente pelas indústrias de embalagens, responsáveis pela utilização de 64,5% das aparas recicladas. Em 2004, 79% do volume total de papel ondulado consumido no Brasil foi reciclado. Em 2007, as porcentagens no Brasil foram de: 79,5% - papelão ondulado e 38,1% - papel de escritório. A contaminação com cera, óleo, plástico e outros materiais prejudicam a reciclagem destes. Porém, como as caixas de papelão ondulado não cabem em cestas de lixo, são coletadas separadamente diminuindo o risco de contaminação do material. De acordo com divulgação da ABPO – Associação Brasileira de Papelão Ondulado (ABPO, 2007), o setor de papelão ondulado encerrou 2006 com vendas de 2.179 mil toneladas e crescimento de 1,0% em relação a 2005 (2.156 mil toneladas). Naquele ano, 70,9% do consumo total de papelão ondulado, em toneladas, veio de embalagens, seguido por 14,6% de chapas para cartonagens e 14,5% de outros segmentos. Os principais segmentos consumidores de embalagens, em toneladas, foram: alimentício (35,4%), avicultura/fruticultura (9,7%), químico e derivado – higiene e limpeza (8,8%), bebida/fumo

(6,7%), têxtil/vestuário (3,4%), farmacêutico/perfumaria (3,1%), metalurgia (2,0%) e eletro-eletrônicos (1,8%). Neste estudo, considera-se que, para as condições de Manaus, a comparação mais adequada seria aquela entre a reciclagem para a fabricação de novas embalagens de papelão e a deposição final em aterro sanitário sem outros aproveitamentos. É razoável assumir que, na região não haveria perspectiva de uso de embalagens descartadas para a produção calor (ou energia) por incineração e que a produção de energia a partir do aterro sanitário ainda é desprezível (Figura 1).

SETOR A

Matéria-prima virgem e primária (1) processamento reciclagem

SETOR B

(2) Embalagens de papelão

(3)

aterro

Figura 1 – Os ganhos ambientais da reutilização de papel residual na fabricação de embalagens de papelão pelas indústrias do pólo incentivado de Manaus. ECONOMIA DE CARBONO O carbono no ciclo de vida do papel - O papel é formado por uma teia de fibras. Estas fibras são principalmente celulose, que é um polímero de glucose - uma molécula formada por átomos carbono, hidrogênio e oxigênio. A celulose é produzida pelas plantas a partir da água e do dióxido de carbono, pelo processo da fotossíntese, e armazenada nas paredes celulares dos tecidos que formam o material lenhoso. A árvore é cortada, descascada e triturada para separar as fibras celulares da indesejada lignina 3 que corresponde à metade do peso da árvore. As fibras são clareadas para remoção de coloração e transformadas em papel mediante a suspensão em água e passagem por finas peneiras. Depois de usado, o papel é “jogado fora” em lixeiras e levados para os aterros. No aterro, o papel irá lentamente se decompor em metano. Uma vez na atmosfera, o metano tende a se decompor em dióxido de carbono e água, completando assim o ciclo. Um conjunto típico representativo do consumo de energia e das emissões de GEEs para o

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A palavra lignina vem do latim lignum, que significa madeira. É polímero complexo de unidades fenilpropanóides de natureza recalcitrante (resistência à decomposição) (SALIBA et al., 2001).

ciclo do carbono associado à vida do papel foi apresentado por Counsell e Alwood (2006) (Tabela 1). A indústria do papel e as mudanças climáticas - Segundo Pickin (2002), os gases de efeito estufa (GEEs) oriundos do sistema de produção e consumo de papel são de duas origens distintas: (i) o uso de combustíveis fósseis durante o cultivo, a colheita, o beneficiamento e o transporte de matéria-prima e (ii) fixação e emissão de gases de carbono durante o crescimento e decomposição dos materiais orgânicos utilizados na produção do papel. Para este autor, as emissões decorrentes desse sistema de produção devem ser agrupadas em oito diferentes categorias: (1) uso de combustíveis fósseis na aquisição e transporte de materiais; (2) carbono fóssil utilizado na fabricação de polpa e reciclagem; (3) carbono fóssil utilizado na fabricação do papel; (4) carbono fóssil utilizado no processamento e comercialização; (5) metano de papel residual em aterros; (6) metano e óxido nitroso de outros processos de degradação; (7) emissões evitadas pela recuperação de energia pela incineração de papel residual; e (8) balanço líquido de carbono no ciclo do material orgânico (após a dedução do carbono contabilizado nas categorias de 5 a 7). Tabela 1 – Impactos ambientais e climáticos da fabricação e consumo de papel. ESTÁGIO DEMANDA ENERGÉTICA IMPACTO CLIMÁTICO (GJ/t) (tCO2 eq./ton) Silvicultura 2 0,1 Produção de polpa 25 0,3 Produção de papel 15 1,0 Impressão 2 0,1 Aterros 1 4,7 Total 44 6,3 (% transporte)
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