Para Pensar as Cartografias de Poder Geopoliticas

June 1, 2017 | Autor: Augusto Teixeira Jr. | Categoria: Geopolitics, Geopolítica Y Geoestrategia, Geopolítica, Geoestratégia E Geolpolitica
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26/07/2016

Para Pensar as Cartografias de Poder Geopolíticas | VOX MAGISTER: as relações internacionais pela voz dos pesquisadores.

Para Pensar as Cartografias de Poder Geopolíticas Publicado por Rodrigo Albuquerque30 de março de 2016

Por Augusto Teixeira Jr.*

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cartografias‑de‑poder‑geopoliticas/image004/#main)

 (h湪㕊ps://voxmagister.wordpress.com/2016/03/30/para‑pensar‑as‑cartografias‑

de‑poder‑geopoliticas/image002/#main) Apesar  de  ser  difícil  encontrar  a  disciplina  Geopolítica  no  currículo  de  cursos  de  graduação  em  Relações Internacionais  no  Brasil,  a  triade  geografia/  história/  poder  permeia  tanto  a  imaginação  do  internacionalista como  também  várias  análises  da  história  e  conjuntura  internacional.  Contudo,  o  alardeado  processo  de Globalização e a aceleração no desenvolvimento e difusão de tecnologias, civis e militares, faz parecer que o fruto da inventividade humana, seus produtos e processos, tenham subvertido o primado do espaço como componente fundamental da compreensão da realidade e do poder. Baseado  nestes  breves  apontamentos,  este  ensaio  enseja,  de  forma  simples  e  clara,  apresentar  ao internacionalista a relevância de pensar Geopolítica, de incoporar à análise a dimensão espacial à compreensão e análise do poder nacional. Afinal, a forma como vemos o mundo afeta o que vemos dele. O que vemos dele nos possibilita imaginar o que é politicamente possível.

Home https://voxmagister.wordpress.com/2016/03/30/para­pensar­as­cartografias­de­poder­geopoliticas/ 1/6 Pensar o espaço como variável do poder nacional demanda uma forma de representação didática das interações

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Pensar o espaço como variável do poder nacional demanda uma forma de representação didática das interações estruturantes entre a geografia, história e política. Enquanto que o economista utiliza gráficos cartesianos para postular  relações  entre  variávies,  o  químico  lança  mão  de  formas  geométricas  para  ilustrar  as  estruturas (sub)atômicas, o geopolítico faz o uso de mapas para melhor entender as interações estratégicas concertentes à disciplina.    Contudo,  o  mapa  não  é  apenas  uma  representação  estática  da  realidade  fisiográfica,  uma aproximação subótima do real; um mapa consiste numa cartografia de poder, a partir da qual o analista pode entender e estipular as interações estratégicas entre comunidades políticas. Talvez nenhum mapa tenha causado tanto  impacto  no  desenvolvimento  da  Geopolítica  como  aquele  no  qual  Halford  Mackinder  apresenta  a  sua Teoria do Heartland. Figura 1: O mundo segundo Halford Mackinder

Fonte: h湪㕊p://www.eurasianet.org/node/63677 (h湪㕊p://www.eurasianet.org/node/63677) Em  1904,  em  plena  capital  do  Império  Britânico,  Mackinder  apresentou  uma  interpretação  da  realidade internacional perturbadora para a época. Segundo ele, não era a Inglaterra o centro do poder global, mas sim a potência que dominasse o Heartland. A partir de sua teoria, especialmente a sua representação cartográfica, a Eurásia,  somada  à  África  como  um  super‑continente,  era  vista  como  uma  Ilha  Mundial.  Esta  interpretação estaria  na  base  da  sua  filosofia  da  história,  a  qual  orientava‑se  pelo  secular  antagonismo  entre  a  Potência Marítima e a Potência Terrestre. Mackinder entendia que as forças tectônicas que moviam a história global se expressavam pelo antagonismo entre os representates do Poder Terrestre versus o Marítimo. Entendendo que a expansão dos Estados, e concomitantemente do seu poder, era uma tendência inexorável, o confronto futuro estava posto na feição espacial da terra. Por mais que a sua tese tenha passado por revisões, o Heartland persistiu como ideia estratégica. O entendimento de uma ligação natural e histórica entre Europa e Ásia, cujo desenvolvimento histórico da primeira dar‑se‑ia subordinado à segunda, a noção do quantitativo de recursos que esse espaço do globo concentrava e a certeza das vantagens geoestratégicas desta parcela do mundo seriam  fortemente  aproveitadas  pela  União  Soviética,  fiel  representante  do  Poder  Terrestre.  Por  outro  lado,  a tese de Mackinder ajudaria a aconselhar os passos britânicos no continente, em particular a urgente necessidade de impedir, a todo custo, uma aliança entre a Alemanha e Rússia. Mais importante, a Teoria do Heartland é o ponto de partida para a Teoria do Rimland. Representante  da  escola  estadunidense  de  Geopolítica,  Nicholas  Spykman  se  insurgiu  contra  o  paradigma isolacionista  em  voga  naquele  país.  A  tese,  baseada  na  experiência  política  e  concepção  geoestratégica  do Almirante Alfred T. Mahan, afirmava que pela posição geográfica dos Estados Unidos em relação aos grandes centros  de  conflito  mundial  (Europa)  cabia  àquele  país  tecer  um  perímetro  de  segurança  no  hemisfério americano. O mapa abaixo, usado por Spykman, ajuda a entender que a percepção de distância, pode ser relativa e enganadora. https://voxmagister.wordpress.com/2016/03/30/para­pensar­as­cartografias­de­poder­geopoliticas/ Figura 2: Projeção Azimutal Centrada no Pólo Norte

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Figura 2: Projeção Azimutal Centrada no Pólo Norte

Fonte: MATTOS, Carlos de Meira. Geopolítica e Modernidade: geopolítica brasileira. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército editora. 2002 O mapa acima ajuda a falsear o argumento de que os mares seriam elementos separadores entre os continentes. Na prática, as massas de terra da América do Norte e Europa estariam mais próximas do que se imaginam. Esta conexão, vista da perspectiva do Pólo Norte, reforçava a necessidade de uma atuação ativa dos Estados Unidos nos destinos políticos da Europa para garantir a sua própria segurança. Em diálogo intelectual com Halford Mackinder, Spykman desenvolve uma resposta à tese do Heartland, a teoria do Rimland. Figura 3: O Mundo Segundo Nicholas J. Spykman

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Fonte:  h湪㕊p://www.oldenburger.us/gary/docs/TheColdWar.htm (h湪㕊p://www.oldenburger.us/gary/docs/TheColdWar.htm) Segundo  ele,  além  do  antagonismo  estrutural  entre  o  Poder  Marítimo  e  Terrestre  não  se  sustentar,  era  o controle das fímbrias marítimas – e não a posse do Heartland – a chave para o controle da política de poder entre as  grandes  potências.  Um  Poder  Marítimo  bem  estabelecido  poderia  construir  meios  de  projeção  de  força  em terra, somado a um sistema de alianças agindo de forma centrípeta para manter a potência terrestre detentora do “Coração da Terra” enclausurada na sua condição continental. Esse insight, proporcionado por Spykman antes do  término  da  Segunda  Guerra  Mundial,  seria  aproveitado  e  desenvolvido  na  Estratégia  de  Contenção desenvolvida por geopolíticos e e geoestrategistas como Kennan e Brzezinski. Com o término da Guerra Fria, a cartografia de poder ganhara novas feições, ameaças e fatores. Dentro os quais se destacou o advento das variáveis cultura, religião e crenças. O “Choque de Civilizações” daria o tom de uma nova forma de ver o mundo e a Geopolítica. Figura 4: Samuel Huntington e o Mundo Dividido em “Civilizações”

Fonte:  h湪㕊p://homepage.smc.edu/buckley_alan/ps7/clash_civilizations.htm (h湪㕊p://homepage.smc.edu/buckley_alan/ps7/clash_civilizations.htm) https://voxmagister.wordpress.com/2016/03/30/para­pensar­as­cartografias­de­poder­geopoliticas/ 4/6 A compreensão desses fatores, em particular sobre as tendências de conflito inter‑civilizacionais incidiriam na

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A compreensão desses fatores, em particular sobre as tendências de conflito inter‑civilizacionais incidiriam na compreensão  de  como  geografia,  história  e  política  na  era  da  globalização  sofrem  influências  de  fatores intersubjetivos  e  identitários.  Essa  contribuição  favoreceu  a  produção  de  uma  nova  cartografia  de  poder,  que com o advento dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 produziu o estímulo para uma nova leva de estudos e propostas na geopolítica e estratégia. Entre essas destacamos a contribuição de Thomas Barne湪㕊. Figura 5: A Geopolítica da Guerra Contra o Terrorismo por Thomas Barne〠〠

Fonte:h湪㕊p://static1.1.sqspcdn.com/static/f/577812/8159481/1282003901463/pnm.jpg? token=t4%2B29wlx8ANYlmMbcD1qrzhh7yg%3D (h湪㕊p://static1.1.sqspcdn.com/static/f/577812/8159481/1282003901463/pnm.jpg? token=t4%2B29wlx8ANYlmMbcD1qrzhh7yg%3D) Apoiado na tese de Huntington sobre civilizações, Barne湪㕊 constrói uma cartografia que separa o mundo entre um Functioning Core e uma Non‑integrated gap. Em linhas gerais, o autor argumenta que a maior parte dos problemas  de  segurança  e  ameaças  aos  países  integrantes  do  Centro,  em  especial  os  Estados  Unidos,  seriam originários da parte não‑integrada do mundo. As zonas de fronteira entre as áreas seriam os principais focos de tensão internacional. A tese de Barne湪㕊 incorpora a leitura de Huntington o peso “civilizacional” do processo de globalização.  As  linhas  no  mapa  não  são  apenas  uma  representação  do  real,  consistem  numa  compreensão  da realidade internacional e contém, em si, um plano de ação político‑militar. Ao lado da solução de força, a lógica política que a permeia aponta para a incorporação de mais partes da non‑integrated gap ao functioning core. Em síntese, expandir, ampliar e aprofundar o processo de globalização e a sua dimensão “civilizacional”. Como pudemos observar a partir deste breve retrospecto, apesar das polêmicas envolvendo o status científico e a baixa densidade de estudos de Geopolítica na academia brasileira, a disciplina tem se mantido viva e ativa na compreensão  e  planejamento  do  uso  da  força  voltada  à  intenção  estratégica  nas  relações  entre  comunidades políticas organizadas. Da Teoria do Poder Terrestre apresentada no mapa que descreve o mundo do Heartland de Mackinder  à  resposta  de  Spykman  com  a  Teoria  do  Rimland,  a  cartografia  de  poder,  acessória  ao  saber geopolítico, evoluiu para incorporar e lançar luz sobre dinâmicas atuais de poder, como a Guerra Global contra o Terrorismo e o palco atual daquilo que Kaplan chamou de a “vingança da geografia”. Dada a relevância das cartografias de poder para a compreensão e o agir da Realpolitik, urge indagar, como o fez décadas  atrás  o  professor  Leonel  Itaussu  Almeida  de  Mello  (in  memoriam),  afinal  “quem  tem  medo  de Geopolítica?”. ———‑ *  Doutor  em  Ciência  Política  pela  Universidade  Federal  de  Pernambuco  (UFPE).  Atualmente  é  professor Adjunto  do  Departamento  de  Relações  Internacionais  da  UFPB.  Líder  do  Grupo  de  Pesquisa  em  Estudos Estratégicos e Segurança Internacional (GEESI/UFPB /CNPq). Membro da Associação Brasileira de Estudos de Defesa.

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