Para um Modernismo em Portugal

September 11, 2017 | Autor: João Penha Ferreira | Categoria: Arquitectura Moderna
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Contexto e cultura – apontamentos para o modernismo em Portugal  Com o fim da segunda grande guerra, o surgir de novas democracias, e uma oposição acordada  pela queda do fascismo na europa, suscita o despertar de novas reflexões culturais, o que fez  com que em Portugal na passagem da década de40 para os anos 50 se desse o início de uma  reflexão sobre o modernismo na arquitectura Portuguesa. Foi a partir do final da guerra que  uma  atmosfera  de  liberdade  marcou  uma  geração  de  jovens  para  essa  reflexão  nível  cívico  como artístico e estético. A própria sociedade Portuguesa, com o final da grande guerra sofre  uma ruptura, apesar de nos situarmos a par da guerra, havia uma consciência geral nova, onde  influenciou a cultura, a economia e a política profundamente, abalando as bases onde Oliveira  Salazar  assentava.  Acabou  por  “cair  da  cadeira”,  pois  difundia  uma  visão  que  visava  a  possibilidade de democracias mudarem a situação política no país. O estado Novo sobrevive à  guerra, mas não da mesma forma que nos anos 30, pois a economia, com uma crise global e  uma nova consciência social irão aumentar fortemente oposições ao regime vigente. Contudo  as  conveniências  dos  Aliados  Ocidentais  e  certas  medidas  tomadas  irão  permitir  uma  estabilização no regime por mais 20 anos, e para a estabilização de muitos monopólios.  A Oposição vislumbrava condições para existir um rápido derrube do estado Novo. Em Julho  de 1946, um ano após o fim da guerra, o sector intelectual do MUD |Movimento da Unidade  Democrática| organiza a 1ª EGAP |Exposição Geral de Artes Plásticas| que reunia um conjunto  de obras com um carácter estético muito ecléctico. José Augusto França na “Exposição Geral  de Artes Plásticas” aponta os “Artistas académicos e também modernistas, jovens que surgiam  em  franca  antipatia  ao  regime,  arquitectos  de  empenho  social,  formavam  um  todo,  a  vários  títulos, heterogéneo.”   As  “Gerais”  abriram  a  par  de  uma  ideologia  no  Neo‐Realismo,  uma  nova  identidade  de  um  todo,  onde  todas  as  artes  se  juntavam,  onde  a  imagem  do  homem  disperso  e  incompleto  estava  em  vias  de  se  transformar  num  todo.  “Artistas”  pendiam  nessa  nova  realidade  contemporânea, e na busca dela. Essa procura desfez as “escolas”, e essa busca uniu a pintura  e  a  fotografia,  porque  essa  realidade  existencial  era  a  mesma  e  a  procura  idêntica,  e  era  simultaneamente uma contestação política e o inicio da integração das três artes.  Este pensamento fez parte da realidade de muitos jovens arquitectos, de uma geração que viu  meios  para  os  novos  ideais  estéticos,  uma  realidade  económica  e  um  meio  social  que  justificava essa nova realidade, funcionalista, que partia movimento moderno na arquitectura.  O I Congresso Nacional da Arquitectura, cujo antecessor o CIAM, no movimento moderno na  arquitectura,  foi  fundamental  para  a  compreensão  da  produção  arquitectónica,  elaborando  um “manifesto”, anónimo, colectivo e humilde, com bases nessa ordem do neo‐realismo.  As  “Gerais”  vão  juntando  e  divulgando  o  neo‐realismo  Português,  com  uma  forte  marca  democrática, influenciadas por Mário Dionísio, e onde surge já keil do Amaral, cujo papel irá  dinamizar a classe dos Arquitectos, substancialmente essas gerações mais novas. Ao contrário  da 2ª, a 3ª EGAP em Maio de 48, simultaneamente à Magna exposição de obras públicas, fez  uma selecção do que havia de mais moderno e a “par dos modernos”, onde são expostos em  Lisboa trabalhos de Arménio Losa e Cassiano Barbosa do Porto. As “Gerais” permitiram assim  uma visão de um percurso de arquitectos com uma atitude polemica à arquitectura do Estado. 

As  sucessivas  organizações  e  instituições  de  divulgação  ao  movimento  vão  solidificando  exaltações.  O ICAT, também de 1946, (Iniciativas Culturais Arte Técnica), dinamizado também por Keil do  Amaral,  com  sede  no  atelier  de  João  Simões,  permitiu  a  reunião  e  debate  de  muitos  arquitectos desta nova geração, que irá ter um papel base para a ODAM.  O ODAM, iniciava‐se no Porto no ano de 1947, com o objectivo de divulgar os princípios e a  problemática  da  arquitectura  moderna.  Mas  pela  primeira  vez  assumidamente  moderno.  De  facto poderíamos indicar as outras organizações como o antecessor de Carlos Ramos na Escola  do Porto, Rogério de Azevedo, onde no mesmo ano e no mesmo sitio seria capaz de fazer uma  obra “à antiga portuguesa” e uma garagem “modernista”, onde esse modernista é mais uma  problemática estética do que em si o novo programa.  O  lema  “Os  nossos  edifícios  são  diferentes  dos  do  passado  porque  vivemos  num  mundo  diferente” reinava no Porto e nas exposições que vinham realizando.  Fernando Távora, discípulo de Carlos Ramos, apesar que no Norte, vinha de um meio idêntico  ao  de  Keil  do  Amaral,  ambos  de  uma  classe  distinta  daquela  que  queriam  melhorar,  porta‐ vozes de valores e cultura, problematizavam o habitar.  Nesse mesmo ano, antecedendo o ODAM, o arq. Fernando Távora publica um inovador ensaio  para o “Problema da Casa Portuguesa”. Contrabalançando com a obra de Raul Lino, “A Casa  Portuguesa”  Essa  problematização  já  não  era  nova,  na  verdade  chegava  com  20  anos  de  atraso,  a  questionação  da  habitação,  e  dos  novos  modos  de  viver,  novos  programas  e  equipamentos,  como o problema da habitação colectiva, e o uso de novas técnicas e a recriação da tecnologia  dos materiais para novos usos. Mas essa problematização antropológica e social não descurava  uma  estética  do  edifício  assente  em  pilotis,  a  planta  livre  ou  o  alçado  livre,  a  janela  em  cumprimento e com grande “finale” a cobertura em terraço.  O  MRAR  não  partia  do  ICAT  de  Keil  do  Amaral,  nem  do  ODAM  de  Fernando  Távora,  cuja  manifestação,  Nuno  Teotónio  Pereira  organizava  com  base  numa  manifestação  publica  em  1953, “Movimento de Renovação de Arte Religiosa”, Teve um papel importante na exposição  de  Arquitectura  Religiosa  Contemporânea”,  e  na  reflexão  e  divulgação  enquanto  estudante,  pós 1943, publicações de Le Corbusier, tal como sobre a “cite Radieuse” e a Carta de Atenas.  Nos primeiros trabalhos é formalmente reclamado do estilo internacional, tendo tido um papel  fundamental para a evolução da arquitectura moderna.  Em Portugal chegava novas visões para um “novo mundo”, tal como reconheceu muito depois  Keil do Amaral;   “Nunca tínhamos tido oportunidade de falar de arquitectura, de maneira que dissemos tudo o  que considerávamos importante, de uma maneira caótica, mas cheia de vida,  e de intenções  religiosas,… acreditávamos que havia um mundo novo em gestão, mais belo e equitativo e que  tínhamos um papel importante a desempenhar nele: uma função social.” 

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