Parto no Brasil: recente regulamentação da ANS aquece debate sobre procedimentos de parto normal ou cesárea, preservando a autonomia da mulher

July 28, 2017 | Autor: Karina Mattos | Categoria: Humanizaçao do Parto e nascimento, Medicalização Do Parto, Trabalho de parto e parto
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2 Painel

Março 2015

Eles disseram “Não há tempo para nada que não seja essencial. Preciso me concentrar em mim, no meu trabalho, nos meus amigos. Não vou assistir ao noticiário na televisão toda noite. Não darei mais atenção alguma à política ou ao aquecimento global”. Oliver Sacks, 81 anos, escritor e neurologista, em entrevista, diante da iminência de sua morte

“Quando alguém morre não deixa um substituto possível. Cada um deixa um vazio que não pode ser preenchido, pois é o destino – genético e neural – de cada humano ser um indivíduo único, que deve viver sua própria vida e morrer sua própria morte”. Escritor e neurologista Oliver Sacks, em outro trecho da mesma entrevista

“Sugiro que o senhor examine as observações de sua cliente a meu respeito. Repetidas vezes ela deixou implícito que sou homossexual, grande novidade...” Carta do escritor Truman Capote, falecido em 1984, ao advogado de uma escritora que o acusava de ser homossexual

“Segundo Santo Agostinho um bom exemplo é difícil de ser imitado, enquanto o mau exemplo é facílimo. Sabe-se que a Beija Flor recebeu ajuda substancial do ditador da Guiné Equatorial. A generosidade de um ditador cruel pode fazer com que Arábia Saudita e até mesmo a máfia participe da vitória de uma nova escola”. Carlos Heitor Cony, em crônica da Folha

“A laicidade é um dos atributos mais caros da imprensa. Um jornal que faz profissão de fé religiosa está abdicando de fazer bom jornalismo.” Juca Gaudério, jornalista e colaborador

“Não nutro nenhuma simpatia pelo Estado Islâmico e assemelhados. Aquilo é a barbárie em estado bruto e o mundo seria um lugar bem melhor se esses grupos fossem definitivamente derrotados.” Helio Schwartsman, editorialista da Folha

“Mestre não é quem escreve mas quem, de repente, aprende”. Guimarães Rosa, no clássico “Grande Sertão: Veredas”

“Todos concordam que o Rio é uma cidade maravilhosa, mas há “falsidade maravilhosa” quando os PM massacram pobres da Maré para que os ricos cheirem em paz no Leblon.” Jornalista Luiz Fernando Vianna, na Folha de 2-03

“Se ginga fosse malandragem, pato era malandro diplomado” Dito popular colhido pelo jornalista Tim Lopes nas favelas cariocas

“A desimportância da Academia Brasileira de Letras emudeceria até Lobão. Ninguém liga para ela, exceto os 40 auto-proclamados imortais.” Mario Sérgio Conti na Folha de 28.11

“Sapo não pula por boniteza, mas por precisão” Guimarães Rosa, escritor

Opinião 3

Março 2015

Editorial

A capa do Pio-pardo desta edição, exibindo nossa presidente na corda bamba, sob ameaças de amplos setores da burguesia nacional, notadamente empresarial, é bem um retrato da crise econômica e política em que estamos imersos. Na semana que passou coube ao ex-ministro Bresser Pereira, em entrevista à Folha, explicar que “pacto nacional-popular” deflagrado por Getúlio Vargas em 1930, que abortou no período da ditadu-

[email protected]

ra, de 1964 ate 1977, foi substituído pelo pacto democrático com Collor e FHC, somente ressurgiu no Brasil com a vitória de Lula e o advento do PT, desde 2003 até 2010. O governo Lula terminou de uma forma triunfal com crescimento de 7,4%, mas este pacto desmoronou nos dois últimos anos do governo Dilma. Desde então, na análise do ex-ministro todos se dão conta de que existe um ódio coletivo da

classe alta e dos ricos contra o partido e sua presidente. Este ódio, no seu entender tem uma explicação: o PT fez uma clara opção por um governo de centro-esquerda e continua defendendo os pobres contra os ricos. Passada a turbulência da Petrobrás, a solução para o ex-ministro seria um novo pacto que una trabalhadores, empresários do setor produtivo, burocracia pública contra os capitalistas que vivem de rendas, bem como aqueles que

administram seus negócios. Como se pode deduzir da referida análise, se somarmos a isto os assaltos sofridos pela Petrobrás por dirigentes corruptos, com a cumplicidade de empresários corruptores - desde os tempos do governo de FHC, diga-se de passagem - muita água vai rolar neste país e o pior, sem solucionar a persistente crise hídrica. Até a próxima.

Dos leitores Parque do Povo Boa noite senhor José Roberto Fernandes Castilho, muito bom o seu artigo sobre o prédio da Justiça do Trabalho e o Parque do Povo na edição de fevereiro do Pio-par-

do. Tenho a mesma opinião sobre os problemas que nosso Parque enfrenta e muitas outras pessoas também! Gostaria de saber seu posicionamento acerca da necessida-

Calendário de Eduardo Galeano

de da formação de uma associação para discutir e defender os interesses do Parque. Sou procuradora federal e, além de residir nas proximidades, frequento o Parque quase

diariamente. É muito triste assistir a degradação desse ambiente sem que sejam tomadas medidas importantes de preservação! Cordialmente , Walery Lopes

23 de março de 1982*

Por que massacramos os índios

General Efraín Rios Monit

No ano de 1982, o general Efraín Rios Monit deflagrou um golpe militar e se proclamou presidente da Guatemala. Um ano e meio depois, o presidente, que era pastor da Igreja do Verbo, com sede na Califórnia, atribuiu a si mesmo a vitória na guerra santa que exterminou 440 comunidades indígenas. Segundo ele, esta façanha não teria sido possível sem a ajuda do Espírito Santo, que dirigia seus serviços de inteligência. Seu assessor espiritual, Francisco Bianchi, assim explicou a um correspondente do The New York Times: “A guerrilha tem muitos colaboradores entre os índios. Estes índios são subversivos, não é verdade? Como acabar com a subversão? Somente acabando com os índios. Todos dirão: ‘estão massacrando inocentes’! Porém não são inocentes..”

Jornal de opinião

facebook.com/jornalpiopardo

Presidente Prudente - Ano 3 - número 28 - Fevereiro 2015 Editora Pio-pardo CNPJ 17.600.496/0001-37 Presidente Prudente/SP Telefone (18) 3223-5315 Editores: Zelmo Denari - [email protected] José Roberto Fernandes Castilho - [email protected] Edição: Cristiano Oliveira - [email protected] Diretor de Criação: Richard de Almeida - [email protected] Diagramação: Insight Propaganda - Tiragem: 5.000 exemplares Capa: Richard de Almeida Os artigos assinados não correspondem necessariamente a opinião do jornal, sendo de inteira responsabilidade de seus autores.

4 Literatura

Março 2015

“A grande cidade”: um relato Textos entram por dentro das casas e mostram realidades diversas e novidades que se difundiam pela cidade

José Roberto Fernandes Castilho [email protected]

A história começou quando eu comprei, num sebo paulistano, o livro intitulado “Scenas e quadros parizienses”, de Paul de Kock, na tradução do luso J. A. Xavier de Magalhães, sem data de edição - mas presumivelmente da segunda metade do século XIX. Achei o livro muito interessante como documento histórico único e incomparável: um parisiense descrevia a cidade pré-Haussmann e o advento das grandes transformações por que passava. O original fora publicado em 1842. Vi, desde logo, alguns problemas na tradução e fui procurar o texto francês. Descobri que, na verdade, se tratava do primeiro volume de uma obra mais extensa com pequenas crônicas acerca da vida na cidade, que tinha por volta de 1 milhão de habitantes nessa época - quando era a capital cultural do mundo. Com a prolongada greve da Unesp em 2014 (117 dias), comecei a dedicar algumas noites a comparar a versão de Xavier de Magalhães com o original, encontrando às vezes soluções interessantes e às vezes grossas omissões e mesmo interpolações (trechos criados pelo tradutor). Por puro prazer, comecei a reconstituir os textos - ou ”re-traduzir” - e logo vi que tinha em mãos um material importante para todos aqueles que se interessam pela história urbana. O livro, na verdade, se chama “A grande cidade – novo quadro de Paris – cômico, crítico e filosófico” e é ilustrado por grandes desenhistas da época como Gavarni e Victor Adam (v. desenho desta página), dentre outros. Como diz o Autor, os textos entram por dentro das casas pela porta e mostram realidades diversas (de cafés requintados até espeluncas) e novidades que se difundiam pela cidade (o banho em casa, a moda, o fumo). A partir do livro fui descobrindo outros textos do prolífico autor,

que, com pouca análise psicológica, tinha uma verve tanto cômica quanto licenciosa bem marcada. Como Sue, como Dumas, Paul de Kock foi um romancista popular, essencialmente parisiense, do começo do século XIX. Sua vasta obra, que começou a aparecer em 1812, continua a ser editada até hoje como se vê no catálogo das livrarias. Assim, na Livraria Cultura de São Paulo, por exemplo, são encontrados mais de cem títulos disponíveis, a maioria deles em inglês: há apenas um livro digital em português, sem tradutor/editora indicados, “Casa de malucos”. Esta foi, aliás, uma profecia de Júlio Verne que se realizou. Por volta de 1863, ele escreveu um livro

chamado “Paris no século XX”. Na obra é pintada uma sombria Paris de um distante 1960 quando nas livrarias não havia nem Victor Hugo, nem Balzac, os grandes autores franceses: diz o atendente que “em matéria de antigos autores com reimpressões atuais só temos Paul de Kock, um moralista do século passado; parece muito bem escrito”. Irônico na referência a “moralista”, o comentário demonstra bem a popularidade do autor – e também compositor de canções - ainda durante sua vida. Filho de um banqueiro guilhotinado pela Revolução, Charles Paul de Kock (1793-1871) é um escritor francês secundário – na classificação dos manuais de literatura - que fez

enorme sucesso tanto na França quanto no Brasil de meados do século XIX. Dizia-se que escrevia um romance novo em quinze dias; também deixou contos e crônicas bem como as memórias aparecidas em 1873. Seus folhetins eram publicados nos jornais e depois, editados em livros, tinham grande saída nas livrarias para as quais vendia diretamente os volumes. Em 1839, o primeiro folhetim publicado num jornal brasileiro, o hoje quase bicentenário Jornal do Commércio, do Rio de Janeiro, era de sua autoria (“Edmundo e sua prima”). Trata-se de um escritor ligeiro, divertido e, para os padrões de hoje, timidamente obsceno, que foi uma testemunha fiel de sua época. O livro sobre Paris ganha maior relevo porque no começo do século XIX a cidade era um cenário de diversas revoluções – políticas, tecnológicas, sociais – e de Kock as assistiu bem de perto. Com efeito, em pequenos romances e nos deliciosos textos curtos, ele divulgava ao mundo as transformações do modo de vida que via ocorrer, as novidades que vivenciava no centro do mundo. Não por acaso, a epígrafe de outra obra dele, tirada da “Escola de Mulheres”, de Molière, diz: “O mundo, querida Agnes, é uma coisa estranha”. É uma variante do original: o personagem de Molière diz “le monde” mas de Kock, não se sabe se intencionalmente ou não, diz “ce monde”, o que destaca mais o estranhamento em face da realidade. Com a reprodução de algumas ilustrações, o livro que organizei quase como um passatempo - fiz a revisão da tradução, introduzi uma centena de notas explicativas, além da introdução - sai agora em março, publicado pela editora Pillares, de São Paulo. Será lançando aqui em Prudente em data ainda indefinida. * Editor do Pio-pardo recupera livro de esquecido escritor francês do século XIX, que será lançado em Presidente Prudente.

Política 5

Março 2015

Apogeu e queda do PT Partido deverá passar por uma profunda renovação dos seus quadros e dos seus ideários

Zelmo Denari

[email protected]

Do apogeu do PT nos dispensamos fazer muitos comentários, até porque todos conhecem a trajetória de sucesso deste partido que surgiu de um sonho docemente acalentado por um sindicalista e metalúrgico nordestino chamado Luiz Inácio Lula da Silva, guindado ao cargo máximo de presidente da República desde o início do século XXI, no período de 2003 a 2010, sucedido, desde 2011, pela atual presidente, Dilma Roussef, atualmente cumprindo seu segundo mandato. Digo trajetória de sucesso, porque não há neste país ninguém - com um mínimo de descortino político, que não seja preconceituoso ou ultra-conservador – que não reconheça o avanço civilizatório do nosso país, em termos de inclusão social, depois do advento do PT. Para demonstrá-lo recordo que nos velhos tempos da exclusão social, durante os governos da ditadura militar e daqueles que a sucederam, autorizados financistas, que desfrutavam do maior prestígio, sustentavam que nosso salário mínimo nunca poderia

ultrapassar a barreira dos US$ 100, pois o país não iria suportar os encargos decorrentes do referido ajuste salarial. Pois bem, ninguém ignora que, desde que o PT é governo, convivemos com salários mínimos superiores a U$ 200 e isto demonstra que os brasileiros situados no topo da pirâmide social têm muita dificuldade de analisar o Brasil profundo, ou seja, em sua inteireza. De resto, nosso país costuma ser citado, em todo mundo, pela adoção de políticas públicas de combate à pobreza, valorização do salário mínimo e aumento da taxa de emprego. Sem contar que, apesar do “pibinho” de 0,9% em 2012, os 10% mais pobres do país tiveram um crescimento de renda em torno de 14% ao ano, muito superior aos períodos anteriores, quando o aumento da renda oscilava em torno da média de 5,4% ao ano. Resta falar sobre a ruína do PT, na atual conjuntura política, investigar suas causas e apontar alguma saída capaz de salvaguardar o processo de implantação da justiça social que ainda está em curso. Ouso afirmar que, fôssemos enumerar todos os malfeitos ocorridos na gestão administrativa deste país, em todos os setores públicos e

em todos os níveis de governo, nos últimos vinte anos, este despretensioso artigo não seria suficiente para arrolar os nomes dos respectivos envolvidos. Não posso deixar de trazer à lembrança o golpe perpetrado em 2013, por sete auditores fiscais da Prefeitura paulistana, no caso conhecido como Máfia do ISS, que subfaturava dos valores dos serviços prestados em prédios edificados em São Paulo. Com a cumplicidade dos referidos servidores públicos, as construtoras recolhiam a menor todos os impostos devidos ao município, notadamente o ISS, IPTU e ITBI. Neste caso, devemos convir que, houvesse maior rigor e tivessem sido presos os referidos auditores e os dirigentes das empreiteiras, os valores subtraídos ao município de São Paulo teriam sido devolvidos em sua quase totalidade aos cofres públicos. Por essa razão, fica a impressão de nosso país só começou a ser passado a limpo, após o advento do benefício penal de redução da pena conhecido como “delação premiada”, utilizado há várias décadas pelo governo dos EUA e que significa um indiscutível avanço no combate à corrupção, nos crimes cometidos contra a Administração Pública. No caso atual da operação Lava a Jato, mercê das informações apuradas em delações premiadas, foram detectadas propinas pagas aos deputados de quase todas as legendas, aos dirigentes dos partidos políticos, bem como, ao PT, que ultrapassam a cifra de US$ 2 bilhões e em nenhum momento político nacional tivemos conhecimento de tantas prisões envolvendo dirigentes de estatais, servidores públicos, além de diretores de empreiteiras, além dos políticos de todas as agremiações.

Por essa razão, tudo leva a crer que este avanço investigatório decorrente do advento das delações premiadas, irá repercutir em nosso processo civilizatório. O PT não se deu conta disto, foi leniente no combate sem tréguas à corrupção e, na atual conjuntura política, está colhendo o fruto de sua incúria em termos de gestão administrativa. Quer queiram ou não seus dirigentes políticos, o PT se identificou com os demais partidos, no atual cenário de deterioração econômica e escândalos de corrupção, notadamente na Petrobrás e isto explica o atual desprestígio da legenda, permitindo até que os mais reacionários acenem para o impeachment da nossa presidente Dilma Roussef, saudosos que dos velhos tempos em que este país era governado pelas elites conservadoras. Diante deste quadro, contudo, há uma luz no fim do túnel e ela prenuncia que o governo da atual presidente chegará a bom termo se o partido que lhe dá sustentação - a partir da reflexão e da auto-crítica – se convencer de que deverá passar por uma profunda renovação dos seus quadros e dos seus ideários partidários, com os olhos voltados para a reconstrução da social democracia. Vamos torcer para que isto aconteça, pois, desde os tempos do Brasil colônia, pagamos o pesado tributo de sermos conduzidos por uma elite que só tinha olhos para os interesses das classes mais abastadas, passando, depois dito, a aplaudir a política de café com leite, só superada na revolução de 30, pela atuação de Getúlio Vargas, mas chafurdando, por fim, nos braços de uma ditadura militar que tanto nos fez sofrer a partir de 1964. É preciso acreditar em dias melhores.

6 Planalto

Março 2015

A audiência com o ministro Encontro de advogados com ministro da Justiça causou um frenesi no ex-ministro do Supremo

Peres Sabino

[email protected]

Ninguém discute a excelência do Juiz Sergio Moro do Paraná em seu profícuo de desventrar a corrupção da Petrobrás, com suas possíveis ramificações. Com em relação à Policia Federal, o espetáculo de sua atuação é aferido através de contornos escassos, ou seja, só pelas noticias de jornais, não dando a certeza de ilegalidade manifesta. Mas, o que chama atenção nessas últimas semanas é o ataque contra o Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, pelo fato de ter recebido em seu gabinete advogados das empreiteiras envolvidas na “Operação Lava-Jato”. Essa audiência causou um frenesi no ex - Ministro do Supremo, Joaquim Barbosa, pois não era do seu feitio receber advogados. Infelizmente o juiz Sérgio Moro seguiu o mesmo rumo, como se tal audiência pudesse interferir no “devido processo legal”, que está, nesse caso, submetido ao campo da justiça. É verdade, ainda, que o juiz Sérgio Moro, escrevendo sobre extraordinária ação da justiça italiana, na chamada “Operação Mãos Limpas”, que investigou a corrupção mafiosa, disse que tal combate, só foi bem sucedido, porque o regime era democrático. A sua formação, pois, colide com sua declaração relativa à audiência ministerial. Essa psicose de achar que tudo é suspeito confere à moral e à ética a sua perversão. No caso

de juiz, ele é obrigado a receber, a qualquer momento, o advogado, pois, a sua indispensabilidade na distribuição da justiça está escrita na Constituição da República, e na ossatura do direito brasileiro, o advogado está na mesma linha dele, juiz, e do promotor, sendo que como profissional não lhe deve, institucionalmente, subordinação alguma. E a Lei Orgânica da Magistratura estabelece a obrigatoriedade do juiz receber a todos. Seguramente, o advogado constitui elemento da administração democrática do Poder Judiciário. É didático repetir os termos de decisão do Superior Tribunal de Justiça, no RMS nº 1275 RJ – “A advocacia é serviço público, igual aos demais prestados pelo Estado. O advogado não é mero defensor de interesses privados. Tampouco é auxiliar de Juiz, sua atividade como “particular em colaboração com o Estado” é livre de qualquer vinculo de subordinação com magistrados e

agentes do ministério público. O direito de ingresso e atendimento em repartições públicas (artigo 89, VI da Lei 4215/63) pode ser exercido em qualquer horário, desde que esteja presente qualquer servidor da repartição. A circunstância de se encontrar no recinto da repartição ou fora dele – basta para impor ao serventuário a obrigação de atender o advogado. A recusa de atendimento constituirá ato ilícito. Não pode o juiz vedar ou dificultar o atendimento do advogado, em horário reservado a expediente interno. Recurso provido”. Hoje, a mesma regência é do art. 2º § 1º, da lei nº 8.906/94 (Estatuto do Advogado) que define: “No seu ministério privado, o advogado presta serviço público e exerce função social”. A corrupção, que envolve as empreiteiras, inclui um universo de questões de iniciativa e responsabilidade do Estado brasileiro, que escapam a com-

petência de juiz, promotor, e ex-ministro aposentado. As obras, maculadas pela corrupção, devem continuar e com as mesmas empreiteiras? Quais seriam as consequências de uma paralisação compulsória? O prejuízo do Brasil será triplicado? E a declaração de inidoneidade valerá a partir de quando, e quais serão suas consequências objetivas e certas? As empreiteiras, então, deverão ser substituídas? E o mercado nacional deverá ser aberto às empreiteiras internacionais? Há condições legais para as empreiteiras terminarem as obras, cujos valores devem ser revistos? Seguramente,o Poder Executivo deve estudar e apresentar sugestões diante dessa ocorrência extraordinária, grávida de negatividade. Até porque a Administração Pública é regida por muitos princípios, entre os quais, o da legalidade. De resto, se o ato da audiência do Ministro não integrou a pauta, com deveria, ainda assim, não representa nada de grave, pois, a natureza pública da atuação do advogado explica tal omissão, já que ele pode ingressar nas repartições públicos sem pré-anúncio. Conclui-se, assim, que a audiência do Ministro da Justiça com os profissionais do Direito, cuja profissão é de interesse público, não deve assombrar o analista político. Se o fizer, ainda que se apresente como ex-ministro da Suprema Corte, estará prestando um desserviço ao Brasil, pois ninguém pode ostentar ser dono da ética dominante, pois esta não suporta patronatos.

Variedades 7

Março 2015

Caxumba e trasorelho

Nossos antepassados foram mais longe quando transformaram os sinais falados em palavras escritas

Sérgio Roxo da Fonseca [email protected]

O homem é o elemento mais importante da história do mundo. Guardamos nos nossos corpos e nos nossos espíritos células dos nossos ancestrais mais antigos. Somos herdeiros incontestes do homem da pedra. Os nossos avoengos aprenderam a falar valendo-se de sinais. Os irracionais também têm suas linguagens. Haja vista os cães que assinalam que nos querem bem, abanando a cauda, ou que nos querem mal latindo raivosamente. Os nossos antepassados foram mais longe quando transformaram os sinais falados em palavras escritas. Ou em síntese, num momento importante, os homens aprenderam a ler e a escrever, conseguindo documentar a história de suas alegrias e de suas tristezas. Daí a enorme importância das palavras faladas e escritas. O pensador Wittgenstein aban-

donou seus alunos na Inglaterra para dar aulas em escolas primárias do sul da Áustria, afirmando que seus novos alunos faziam perguntas mais inteligentes do que aquelas ouvidas em Cambridge. Por exemplo: “a terceira é gorda por que a quarta é magra”? Ou, “nos jogos olímpicos, futebol, basquete, xadrez são jogos. Por que correr, saltar e nadar não são jogos?” Resposta: quando o homem cria regras, como nas primeiras hipóteses, os esportes são jogos. Quando é a natureza que cria re-

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gras, como na segunda hipótese, não há jogo. O direito, portanto, é um jogo. O filósofo deixou lições claras e diretas: “os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo”. Ou então, para encerrar o seu primeiro livro: “a cerca daquilo de que se não pode falar, tem que se ficar em silêncio”. Portanto, quando mais ampla for a minha linguagem mais poderei falar do meu mundo que assim estará sempre crescendo.

Meu neto Tiago está com caxumba. Fui procurar a origem do vocábulo. Não encontrei nem mesmo no dicionário do genial Silveira Bueno. Mas encontrei o vocábulo usado em Portugal, onde caxumba é trasorelho. A palavra brasileira parece não ter origem conhecida enquanto a portuguesa define logo o local da doença: “atrás da orelha”, usando uma a linguagem quase matemática tão própria da terra lusitana, onde pau é pau e pedra é pedra.

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8 Cinema

Março 2015

Dos Hermanos

Filme argentino é uma verdadeira obra de arte; conta a história de dois irmãos solitários, remoendo seus pequenos problemas

Sérgio Roxo da Fonseca [email protected]

A cinematografia argentina é sempre surpreendente porque avança sobre temas não examinados antes por quase ninguém. Não só no cinema, a arte argentina é sempre surpreendente. É desnecessário lembrar os textos de Borges sobre o suicídio ou sobre as veredas que se desdobram infinitamente no interior de um jardim finito. Num outro poema Borges trata da antiga amizade travada entre o homem e a lua. Merece ser visitada e revisitada todas as noites. Chegará um dia, diz ele que era cego, que não mais será possível abrir a janela para ver “la blanca luna”. Nem haverá mais janela nenhuma para ser aberta. A solução será abrir a janela hoje mesmo antes que todas sejam definitivamente fechadas. Surpreendentemente, os argentinos lançaram um filme que tem como tema algo que ainda não conhecia. Ou seja, a difícil convivência entre dois irmãos na fase final de

suas vidas. Ela, mandona e autoritária. Ele, quieto e inquieto. Conhecemos inúmeros filmes que falam dos conflitos surgidos no relacionamento amoroso de um homem com sua mulher. De pais com seus filhos. De vizinhos com seus vizinhos. Nunca testemunhamos a preocupação de alguém sobre a solidão de dois irmãos solitários. O filme traz a novidade de examinar os conflitos aparentes e reais eclodidos entre um irmão e uma irmã, já na terceira idade, sem outros familiares. Vivem sós. Portanto, se um tiver

que dar uma bordoada em alguém, este alguém será o irmão ou a irmã. Ou será ele mesmo! O nome do filme não oculta a inspiração: “Dois Irmãos”. Trata-se de uma verdadeira obra de arte. Imperdível. Será possível contar a história de dois irmãos solitários, remoendo seus pequenos problemas, mastigando suas pequenas dores, numa época em que a memória vai se esvaindo como se o tempo caminhasse para o fim? Coisa de argentino, alguém dirá. Os argentinos adoram inspirações paradoxais. Um dos tangos mais badalados

narra a frustração de um apostador que perdeu o páreo “por una cabeza”. O compositor, Gardel, gostava de corridas de cavalo. Em “Uno” outro portenho desconsolado anda à procura do coração que perdeu e teme ser condenado a chorar pela própria morte. Os dois “hermanos” têm de aprender duramente que se não continuarem abrindo as janelas, não poderão nem ver o rio e muito menos a da vidinha que vai se escapando pelo vão dos dedos na banalização da existência.

A volta dos inonoclastas! Eustásio de Oliveira Ferraz O Estado islâmicos, quem diria, converteu-se num Estado inonoclasta, destruidor de ídolos e das obras milenares preservadas pela humanidade ao longo do tempo, em nome de uma religião fundamentalista e, por isso, doentia. É o prenúncio de uma guerra santa em pleno século XXI! As obras, elaboradas segundo o conceito da época, eram orientadas para emocionar e contemplar feitos de um povo e civilização. Essas obras plásticas urdidas por mãos extraordinárias e hábeis, alimentam o êxtase de quem as

contemplam. Será que os artistas da época buscavam a beleza em si? Ou apenas para impressionar a imaginação? Não importa, a verdade é que o patrimônio cultural de uma povo deve ser preservado a todo custo, por seu valor artístico e sua transcendência, pois nele contempla-se toda a humanidade Esses iconoclastas esquizofrênicos confundem cultura com idolatria e, por isso, mandam quebrar, despedaçar e erradicar todas obras que

consideram ofensiva à própria religião. Não são adeptos do êxtase, mas do estase emocional. Infelizmente o fato não é inédito, pois já aconteceu no Afeganistão quando os talibãs destruíram as estátuas de Buda. Na Europa idem, pois, segundo consta, há apenas oito ícones anteriores ao século VIII. Pense um pouco meus caros leitores, se a barbárie resolver destruir o Museu do Louvre ou o Hermitage! Ó tempora, ó mores, dizia Cícero aos romanos.

Março 2015

Especial 9

10 Debate

Março 2015

Parto no

Recente regulamentação da procedimentos de parto normal ou cesár mulher e ao bebê. O CADHu (Coletivo de Advogados de Direitos Humanos) organizou no último 23 de fevereiro em Para além de uma escolha meramenSão Paulo, na sede da ONG Impact Hub, te técnica, a decisão da mulher sobre seu o debate: Decidindo sobre o parto: alguprocedimento de parto traduz não apenas mas reflexões sobre a Resolução Normaindividualmente o desfecho da gravitiva n. 368 da ANS (Agência Nacional dez e início da maternidade, envolvido de Saúde). O questionamento trazido por todas as ansiedades e angústias desneste debate, diante da regulamentação sas mudanças, mas socialmente reflete da ANS seria o que de, ao regular e exiquestões muito maiores que envolvem gir a indicação pelo parto natural via autonomia médico-paciente e confiança obrigatoriedade dos documentos de carmédica. tão da gestante e partograma, e com vias No Brasil, temos experimentado nos a induzir o aumento do número de partos últimos anos um incremento cada vez normais, haveria a possibilidade de que a maior, e sem precedentes no mundo, autonomia da mulher para a decisão sona utilização do procedimento da cesábre seu parto estaria comprometida. rea, sustentado pela massiva opção pela Antônio Augusto Dall’Agnol Mocesárea eletiva – na qual a mulher opta, desto, médico de família e comunidade juntamente com a opinião do médico, no Núcleo de Atenção Básica em Mauá/ pelo procedimento da cesárea sem que se SP e mestrando da Faculdade de Medicitenha tido indicação clínica que exigisse na da USP (FMUSP) expôs o histórico e este procedimento. desenvolvimento da cesárea no mundo, e Apesar de estudos médicos indicaquestionou as cláusulas do regulamento: rem que o uso de cesarianas desnecessá“Reconhecer o processo transformador rias aumentam em 120 vezes os riscos de que a cesárea teve no mundo, e a evoproblemas respiratórios aos recém-nascilução que o procedimento representou à dos e em três vezes o risco de morte para saúde da mulher, é também reconhecer as mães (dados do Ministério da Saúde), que sua prevalência no Brasil esteja danos números não param de crescer no do mais complicações que soluções aos Brasil. Segundo dados da pesquisa Naspartos modernos.” cer no Brasil: Inquérito Nacional sobre As facilidades da cesárea, como sua Parto e Nascimento, feita pela Fundação possibilidade de agendamento e rapidez Oswaldo Cruz e o Ministério da Saúde, o (confortáveis à classe médica e aos proíndice no Bracedimentos de insil é de 52% ternação hospitalade cesáreas res), a facilidade de em comparamanejo da relação ção aos partos médico-paciente naturais, cheneste contexto e Perigo gando a 88% inclusive questões na rede privafinanceiras foram Cesarianas da, enquanto a abordadas como as desnecessárias Organização indicações que seMundial de duzem a mãe para aumentam em 120 Saúde (OMS) que o procedimento recomenda seja o adotado. Junvezes os riscos de que no máxitamente com uma problemas mo 15% dos cultura moderna partos sejam pautada pela rapirespiratórios cesarianas. dez e limpeza, asA Agência sim como a estética aos bebês e em três Nacional de do procedimento, a Saúde (ANS), cesárea acabou se o risco de morte diante da cultornando a solução para as mães tura da cesápara os transtornos rea no Brasil do parto. Neste e do número sentido, a classe médica adotou tal promassivo de utilização deste procedimencedimento como padrão, e ainda que a to, principalmente em partos vinculados paciente tenha a intenção de fazer o parto à rede de saúde suplementar (planos de normal no início da gravidez, na maioria saúde), publicou em janeiro deste ano dos casos ela acaba sendo desmotivada a uma resolução para estimular o parto realizar tal procedimento, segundo dados normal. A resolução da ANS trouxe inúda pesquisa Nascer no Brasil - Inquérimeros questionamentos nos debates da to Nacional sobre Parto e Nascimento: classe médica e da sociedade sobre sua “Ainda que um terço das mulheres quivalidade e eficácia neste processo tão desesse o parto normal, 89,9% tiveram licado de reconstrução da cultura do parseus filhos pelo método cirúrgico. Entre to normal no Brasil e resgate de seu valor as mulheres atendidas na rede pública, enquanto procedimento mais benéfico à 15% queriam a cesárea tanto no início

Karina Denari Gomes de Mattos [email protected]



quanto no fim da gestação – e 44% tiveram seus bebês dessa forma.” O incentivo da mídia não fica de lado quando o assunto é parto. Recentemente, na novela Império da Rede Globo, a personagem Maria Marta (Lilia Cabral) ao tratar do parto de sua nora fez um libelo a favor da cesariana e da confiança na posição médica, em detrimento da posição de risco que a nora insistiu em assumir quando optou pelo parto natural. Mais que uma disputa de interesses, a decisão da mulher sobre qual o tipo de parto que ela vai adotar para sua gravidez deve decorrer de uma opção autônoma e informada a respeito dos procedimentos, benefícios e riscos de cada uma dessas opções. Já posição médica deve ser pautada na ética, nos benefícios ao paciente e isenta de qualquer interesse imediato, buscando aprimorar a confiança já estabelecida. Infelizmente, vemos o massivo incentivo médico para a adoção da cesárea que, juntamente com as ocorrências constantes de violência obstétrica nas ocasiões em que o parto normal acaba sendo a opção escolhida, induzem à adoção do procedimento de cesárea sem a devida reflexão pela gestante.

Violência obs Por mais que não ocupe espaço na mídia como deveria, a violência obstétrica em consultórios e hospitais das redes pública e privada de saúde é mais constante do que possa parecer, e a desinformação a respeito das formas que a violência assume acaba sendo um fator corresponsável pela cifra negra que as mulheres nestas condições representam. Muitas parturientes não têm conhecimento dos seus direitos no pré-natal, na hora do parto e no pós-parto e constantemente sofrem com agressões físicas ou emocionais por parte dos profissionais de saúde, que gera sofrimento desde a enfermeira que pede para a mulher não gritar no parto até o momento em que o médico realiza procedimentos indesejados e sem a devida indicação, como a episiotomia (corte entre o ânus e a vagina para facilitar a saída do bebê). Neste caso específico, mesmo que a OMS (Organização Mundial da Saúde) determine critérios e cautela para a adoção do procedimento, médicos fazem a

Debate 11

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o Brasil

a ANS aquece debate sobre rea, preservando a autonomia da mulher Resolução da ANS estimula o parto normal acordo com padrão definido pelo Contando com a consulta públiMinistério da Saúde, no qual deverá ca no ano de 2014 e a colaboração constar o registro de todo o pré-nada sociedade na redação do texto, a tal. De posse desse cartão, qualquer Agência Nacional de Saúde (ANS) profissional de saúde terá conheciem janeiro de 2015 publicou uma mento de como se deu a gestação, Resolução Normativa para incentifacilitando um melhor atendimento vo de técnicas de parto normal. à mulher quando ela entrar em traEntre as principais mudanças balho de parto. O cartão deverá conimplementadas estão a redução do ter também a carta de informação à prazo de 30 para 15 dias para inforgestante, com mação sobre orientações e o percentual informações de cesarianas para que a pela operamulher tedora a pedido nha subsídios da gestante; Saúde para tomar maior clareza Planos decisões e vina definição venciar com do método devem fornecer tranquilidade de cálculo e cartão da gestante esse período o prazo retão especial, ferente aos com o registro de conforme inpercentuais; formações do e a inclusão todo o pré-natal site da ANS. na Carta de Caberá Informação ainda às operadoras a orientação à Gestante dos canais de relacionapara que os obstetras utilizem o parmento da ANS. tograma, documento gráfico onde As novas regras visam ampliar são feitos registros de tudo o que o acesso à informação pelas consuacontece durante o trabalho de parmidoras de planos de saúde, que poto. Nos casos em que houver justifiderão solicitar às operadoras os percativa clínica para a não utilização centuais de cirurgias cesáreas e de do partograma, deverá ser apresenpartos normais por estabelecimento tado um relatório médico detalhado. de saúde e por médico. Outra muO partograma passa a ser consideradança trazida pela nova resolução do parte integrante do processo para é a obrigatoriedade das operadoras pagamento do procedimento parto. fornecerem o cartão da gestante, de



stétrica no Brasil é elevada prática de maneira rotineira. A obstetriz Ana Cristina Duarte, do Gama (Grupo de Maternidade Ativa), estima que entre 80% a 90% das brasileiras são cortadas durante o parto normal. “Sabemos que há evidências de que não é mais necessário cortar as mulheres. Elas são cortadas sem o consentimento e isso é uma violência obstétrica”, comenta. Além da episiotomia, há procedimentos como a infusão intravenosa para acelerar o trabalho de parto (ocitocina sintética), a pressão sobre a barriga da parturiente para empurrar o bebê (manobra de Kristeller), o uso rotineiro de lavagem intestinal, retirada dos pelos pubianos (tricotomia) e exame de toque frequente para verificar a dilatação, que podem consubstanciar situações de violência e sofrimento para as mulheres que estão em trabalho de parto. De acordo com a pesquisa Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado, divulgada em 2010 pela Fundação Perseu Abramo, uma em cada

quatro mulheres sofre algum tipo de violência durante o parto, gerando depressão, dificuldade para cuidar do recém-nascido, problemas na sexualidade da mulher dentre outros transtornos que a violência externada nestes procedimentos de parto pode causar e que acabam por determinar a relação da mulher com a maternidade para o resto de sua vida.

12 Comportamento

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Assim falava Zaratustra... Cresce número de crianças com dificuldade de comunicação em razão do uso prolongado de tablets e celulares Américo Ribeiro Magro [email protected]

Dia desses perambulava eu pelo maior shopping de nossa cidade quando me deparei com uma cena ilustradora do espírito de nossos tempos: uma criança, de não mais de 02 anos, com o jeito malemolente de quem aprendeu há pouco a andar, estancada defronte a um desses monitores verticais que guardam os corredores do local. O que havia de novo ali para ser visto? Decerto, diriam vocês, o guri fora atraído pelas coloridas imagens da tela de propaganda. Talvez. O que mais me impressionou, porém, é que o pequeno passava o dedo indicador pelo monitor, como a teimar que ali fosse touchscreen. O que pareceria trivial para alguns é na verdade de um significado mais profundo: aquela pequena criatura não se limitara a ficar entretida com a propaganda de consumo, mas assimilara na tela a outra de menor tamanho – um desses inúmeros tablets ou smartphones que desde cedo seus pais, muito provavelmente, o fizeram ter contato. Tínhamos ali, senhores, a reprodução de um hábito, um ser em desenvolvimento, que com base em experiências anteriores, tentava adaptar-se a um ambiente novo. Chamem Charles Darwin, ao som de Strauss, por favor... Para ilustrar: recentemente, o jornalista e crítico musical André Barcinski, colunista do R7, entrevistou a fonoaudióloga carioca Maria Lúcia Novaes Menezes, que afirmou atender um número crescente de crianças com dificuldade de comunicação em razão do uso prolongado de tablets e celulares. Os eletrônicos, segundo a especialista, estão a substituir as interações entre crianças e pais, tão essenciais ao desenvolvimento da socialização. Nessa tenra fase, a expansão da linguagem pela criança depende da experiência com mundo à sua volta – como o velho dito, “aprende-se ouvindo”. Não é novidade. Basta espiar lanchonetes, lojas, supermercados e o que o valha: tem a mãe, tem o pai, tem a criança; o moleque fica entediado, começa a dar trabalho, e faz-se o quê? Dá-lhe o joguinho do celular. Uma hora, o incômodo da energia sem fim da infância; no momento seguinte, a luz azulada do monitor de LCD puxa o pequeno para um estado de torpor, como aquele assistente hipnotizado do “Gabinete do Dr. Caligari”. Bem sei que a tecnologia tem seus méritos e existem, inclusive, aplicativos que auxiliam no desenvolvimento da comunicação de crianças autistas (pesquisadores da

UFF, por exemplo, desenvolveram o programa MeaVox, que pretende facilitar a comunicação verbal dos pequenos com déficit cognitivo). Mas, atenção ao verbo: é preciso ter presente que se trata, somente, de auxílio, não de um fim, porque nada substitui a interação humana,

principalmente para os que dão seus primeiros passos neste admirável mundo novo, de si tão árduo para os que o conhecem. O remédio, como em tudo, é a prudência. Cortar o “WhatsApp” quase sempre faz bem... Mas fica a advertência, senho-

res: os pais deixam o filho em casa com o joguinho do celular e quando voltam se deparam com um HAL 9000 largado no sofá: – “Vamos brincar filho?” – “I’m sorry, Dave. I’m afraid I can’t do that” (Desculpe-me Dave. Temo não saber fazer isto)

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Literatura 13

As festas Luiz Fernando Veríssimo

A proxima-se a perigosa época das festas. O Natal e o Ano-Novo, como se sabe, despertam os melhores sentimentos das pessoas, e isto pode ter conseqüências terríveis. São conhecidos os casos de paixão, alguns até terminando em morte, que começaram em festas de fim de ano, na firma, quando o espírito de conciliação e congraçamento leva as pessoas a baixarem a guarda e aceitarem o que normalmente não aceitariam e a fazerem o que, no resto do ano, nem pensariam, ainda mais depois de beberem um pouco. Nada mais embaraçoso do que, no segundo dia do ano novo, ter de tentar desfazer algum equívoco do fim do ano anterior. — Dona Teresa, eu... — Pintinho! — Pinto. Meu nome é Pinto. — Humm. Como nós estamos mudados, hein? Na festa... — Era justamente sobre isso que eu queria lhe falar dona Teresa. Na festa. Algumas coisas foram ditas... __Só ditas não, não é, Pintinho? — Pinto. Pois é. Ditas e feitas, que... — Já sei. Vamos fingir que nada aconteceu. — Eu preferiria. — Muito bem. Só não sei o que vou dizer ao papai. — O que que tem o seu pai? — Ele está vindo de Cachoeiro para o casamento. n n n n n n n Outra coisa perigosa é a pessoa se entusiasmar no fim do ano e decidir mudar. Ser outra pessoa. Deixar velhos vícios e adotar novas atitudes, ou recuperar algumas antigas. Janeiro, ou pelo menos a sua primeira quinzena, é uma espécie de segunda-feira do ano. As ruas ficam cheias de novos virtuosos, pessoas resolvidas a serem melhores do que no ano passado. — Olhe. — O que é isso? — Aquele livro que você me emprestou. — Eu não me lembro de...

— Faz muito tempo. E, na verdade, você não emprestou. Eu peguei. Eu costumava fazer isso. Nunca mais vou fazer. — Você pode ficar com o livro. Eu... — Não! Ajude a me regenerar. Quem fazia essas coisas não era eu. Era outra pessoa. Um crápula. Decidi mudar. Este sou o eu 2006. Comecei devolvendo todos os livros que peguei dos amigos. Acabou com a minha biblioteca, mas que diabo. Me sinto bem fazendo isto. Outra coisa. Precisamos nos ver mais. Eu abandonei os amigos. Abandonei os amigos! Olhe, vou à sua casa este sábado. — Não. Ahn... — Prometo não roubar nada. — Não é isso. É que... — Já sei. Vamos combinar um jantarzinho lá em casa. A Santa e eu estamos ótimos. Fiz um juramento, na noite de ano bom. Que me regeneraria. E ela me aceitou de volta. Há dois dias que não olho para outra mulher. Dois dias inteiros! Isso era coisa do outro. — Sim. — Do crápula. — Sei... — Eu era horrível, não era? Diz a verdade. Pode dizer. Uma das coisas que eu resolvi é não bater mais em ninguém. Era ou não era? — O que é isso? — Como é que eu podia ser tão horrível, meu Deus? — Calma. Você está transtornado. Vamos tomar um chopinho. — Não! Não posso. Jurei que não botaria mais uma gota de álcool na boca. — Mas um chopinho... — Está bem. Um. Em honra da nossa amizade recuperada. E escuta... — O quê? — Deixa eu ficar com o livro mais uns dias. Ainda não tive tempo de... — Claro. Toma. — E vamos ao chope. Lá no alemão, onde tem mais mulher.

14 Comportamento

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Os casos na varanda

Pessoas navegavam naquele mundo único, simples e claro povoado de lendas, mitos, sonhos e temores

Rubens Shirassu Júnior [email protected]

Na minha infância gostava de ficar ouvindo conversas de gente grande. Bom era quando tinha visita, dos parentes, de amigos e colegas de trabalho de papai, para passar algumas horas em nossa casa. Gente de fora sempre trazia alegria e curiosidade, quebrava a rotina familiar, de dormir cedo e espantar o silêncio letárgico dos dias, das noites mornas. A sala e a varanda da casa ganham vida, as luzes eram acesas e sempre saía um agrado, que também alcançava as crianças, um saco de balas Chita, Juquinha ou Sete Belo, um pão ou bolo caseiro macio e artesanal, preparado no forno à lenha, aquele que apresentava em seus ingredientes a banha e a farinha, apalpado com todo carinho, empenho e zelo pelas mãos de mamãe ou presenteado por alguma vizinha leal ou mesmo amigos moradores de sítios nas imediações dos Parques São Mateus e São Lucas, é claro, acompanhado de um café torrado e quente em caneca branca e bule, ambos esmaltados. De vez em quando, saboreávamos um típico doce de abóbora ou mamão natural, que cozinhava numa panela de ferro. Mas a varanda virava um palco de histórias e eu era o espectador mais atento enquanto a censura admitia. Mesmo quando o assunto ficava impróprio, os detalhes picantes do acontecimento para o menino curioso, imitava estátua de jardim postando-me silencioso para ficar sabendo um pouco mais do mundo adulto. De minha parte, ficava ali, atento, de antena ligada, ouvindo os casos, muitos de arrepiar os cabelos, as almas de tropeiros, caboclos que apareciam nas porteiras, cancelas e nas picadas dos sítios, que depois traziam medo na hora de dormir. As fantásticas e mirabolantes aven-

turas dos pescadores nos rios Santo Anastácio, do Peixe, Paraná, Pardo e Paranapanema. Em razão do volume do burburinho de vozes, dos gritos de discórdia, de dúvida, sem esquecer das risadas escancaradas, como as janelas das casas dos familiares, amigos e vizinhos. Tanto o dia como a noite eram outras terras sem tempo, onde tudo era claro e se destacava pelas cores vivas, fatos se sobressaindo como marcos de referência. A curiosa sabedoria

milenar dos índios e hoje usada pelos pantaneiros: Ao chegar perto do cipó cascata, a pessoa deve pedir licença aos protetores (elementais) da mata para adentrar aquele local, precavendo de não ser encantado pelos mesmos e, consequentemente, perder-se ou girar no mesmo lugar no meio da mata ou floresta. Até certa hora, dependendo do rumo que o povo navegava naquele mundo único, simples e claro povoado

de lendas, mitos, sonhos e temores, os meus pais permitiam ficar um pouco mais da meia-noite. Depois de todas as noites passadas juntos, como se pensássemos de outro modo durante a noite, como se a mente sofresse uma transformação intangível quando o sol se escondia. Com a escuridão a mente se torna um animal diferente, adormecido, de olhos fechados, sonolento, enquanto o resto de nosso ser continuava, sem piloto ainda solicitado a respirar e agir.

O suicídio em diversos atos Em sua obra, O Mito de Sísifo, Albert Camus inicia seu discurso afirmando que “ só existe um problema filosófico realmente sério: o suicídio. Julgar se a vida vale a pena ser vivida é responder à questão fundamental da filosofia. O resto, se o mundo tem três dimensões, se o espírito tem nove ou doze categorias, aparece em segunda questão.” Em outra passagem, afirma que “ gesto como este se prepara no silêncio do coração, da mesma forma que uma grande obra. O próprio homem o ignora. Uma tarde, ele dá um tiro ou um mergulho.”Segundo Camus, o ato equivale a uma confissão. Confessar que foi ultrapassado pela vida ou que não se

tem como compreendê-la”. Em suma, basta confessar que “isso não vale a pena”, pois, naturalmente, nunca é fácil viver”. Camus torna público alguns casos de suicídio, como o do “administrador de imóveis” que se suicidou por ter perdido a filha há 5 anos; o do escritor que se suicidou para atrair a atenção para seu primeiro livro, cujo intento foi logrado, mas o livro foi considerado ruim. O filósofo faz, então, alusão à absurdidade da existência, cuja única solução seria o suicídio. No plano terreno, onde ainda me encontro, conheço casos mais prosaicos e sugestivos do que os retratados na obra de Camus. Sei de fazendeiro mato-grossense que perdeu tudo o

que tinha, bois e fazenda. Tomava um café num bar à beira da rodovia, quando foi interpelado por um credor que lhe cobrou empréstimo em dinheiro. O fazendeiro, com a característica fleuma, pediu ao credor que o aguardasse uns minutos no bar, pois iria até sua casa, apanhar dinheiro. Todos ouviram, da rua, o tiro que o vitimou. Na minha aldeia, dois queridos amigos de infância e juventude, optaram pelo enforcamento, quando adultos. Um deles, enforcou-se numa das dependências da sua casa, para se safar dos débitos e dos devedores que infernizavam sua vida. Outro, querido colega do Ginásio São Paulo, escolheu uma das árvores centenárias que enfei-

Juca Gaudério tavam as alamedas sinuosas da Praça da Estação, onde brincávamos na juventude, para se despedir da vida. Para encerrar os relatos locais dessas despedidas voluntárias que são sempre muito tristes, recordo-me com freqüência do suicídio de um velho amigo gaúcho. Empresário e fazendeiro, sofreu perdas financeiras irrecuperáveis, ainda na força da idade. Não bastasse, ficou cego nos derradeiros anos de vida. Segundo relato de amigo que sempre esteve ao seu lado, costumava dizer, aos mais íntimos, que privado da visão, a vida não valia a pena ser vivida. Acionou o gatilho acima do ouvido. Não posso dar fecho a estes

tristes relatos, sem lembrar o suicídio do médico, escritor e memorialista Pedro Nava, autor da obra fundamental Baú de Ossos, na qual surpreende, comove e diverte o leitor com suas memórias de infância. Nava cometeu suicídio desfechando um tiro nas têmporas, aos 80 anos, numa praça do largo da Glória, Rio de Janeiro, onde morava, após ter atendido em seu apartamento a um misterioso telefonema. Comenta-se que o escritor vinha sendo chantageado por um garoto de programa, fato silenciado pela imprensa da época ( V. Zuenir Ventura, “ Um suicídio mal contado” – 2005 ). Acho que Guimarães Rosa estava coberto de razão, ao dizer que “ viver é perigoso”.

Educação 15

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Uma redação primorosa Fernanda Braga de Assis [email protected]

Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador. Um substantivo masculino, com aspecto plural e alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. O artigo, era bem definido, feminino, singular. Ela era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal. Era ingênua, silábica, um pouco átona, um pouco ao contrário dele, que era um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanático por leituras e filmes ortográficos. O substantivo até gostou daquela situação; os dois, sozinhos, naquele lugar sem ninguém a ver nem ouvir. E sem perder a oportunidade, começou a insinuar-se, a perguntar, conversar. O artigo feminino deixou as reticências de lado e permitiu-lhe esse pequeno índice. De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro. Ótimo, pensou o substantivo; mais um bom motivo para provocar alguns sinônimos. Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeçou a movimentar-se. Só que em vez de descer, sobe e pára exatamente no andar do substantivo. Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela no seu aposento. Ligou o fonema e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, suave e relaxante. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela. Ficaram conversando, sentados num vocativo, quando ele recomeçou a insinuar-se. Ela foi deixando, ele foi usando o seu forte adjunto

adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo. Todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo direto. Começaram a aproximar-se, ela tremendo de vocabulário e ele sentindo o seu ditongo crescente. Abraçaram-se, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples, passaria entre os dois. Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula. Ele não perdeu o ritmo e sugeriu-lhe que ela lhe soletrasse no seu apóstrofo. É claro que ela se deixou levar por essas palavras, pois estava totalmente oxítona às vontades dele e foram para o comum de dois gêneros. Ela, totalmente voz passiva. Ele, completamente voz ativa. Entre beijos, carícias, parônimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais. Ficaram uns minutos nessa próclise e ele, com todo o seu predicativo do objeto, tomava a iniciativa. Estavam assim, na posição de primeira e segunda pessoas do

singular. Ela era um perfeito agente da passiva; ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular. Nisto a porta abriu-se repentinamente. Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo e entrou logo a dar conjunções e adjetivos aos dois, os quais se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas. Mas, ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tônica, ou melhor, subtônica, o verbo auxiliar logo diminuiu os seus advérbios e declarou a sua vontade de se tornar particípio na história. Os dois olharam-se; e viram que isso era preferível, a uma metáfora por todo o edifício. Que loucura, meu Deus! Aquilo não era nem comparativo. Era um superlativo absoluto. Foi-se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aque-

le predicativo do sujeito apontado aos seus objetos. Foi-se chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo e propondo claramente uma mesóclise-a-trois. Só que, as condições eram estas: Enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria no gerúndio do substantivo e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino. O substantivo, vendo que poderia transformar-se num artigo indefinido depois dessa situação e pensando no seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história. Agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, atirou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva. * Redação que conquistou o primeiro lugar em concurso de Letras promovido pelo professor da cadeira de Gramática, em Aveiro, Portugal.

16 Variedades

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Endereços curiosos e interessantes: Bar do Pereira João Fidélio

João Fidélio

[email protected]

Diz Manuel Bandeira que em Pasárgada tem álcool à vontade. Não é só lá. Em Presidente Prudente também tem: no bar do Pereira, tradicional boteco que fica na esquina da Cel. Marcondes com a Casemiro Dias. O proprietário, Claudemir Pereira de Assis, 49, é proprietário de 1500 litros de pinga, mas já chegou a ter mais de 2000 garrafas. O bar começou a funcionar por volta do final dos anos 1950. Ele toca o empreendimento desde 1982. Funciona todos os dias, exceto domingos, das 7h30 até as 21h. E serve pinga, pinga, pinga, além de cerveja, conhaque, vermute, etc. Não serve salgados porque, segundo o Pereira, isso atrairia o controle da temida Vigilância Sanitária. Portanto, só vende álcool mesmo, com alguns amendoins indispensáveis entre um trago e outro. A dose de pinga, servida no copo americano, custa R$ 1,00. O famoso “rabo de galo” (pinga com vermute) sai por R$ 2,00, mesmo preço do conhaque. CDB (“cu de burro”, pinga com limão e sal) ele não faz. Segundo o proprietário, pinga velha é melhor. Assim, ele tem garrafas da Caninha 51 com 15 anos de fabricação, que exibe orgulhoso. São cerca de 50 fregueses fiéis, todos com mais de 40 anos de idade, que ocupam as 3 mesas magras. Moram em diferentes pontos da cidade e chegam sozinhos, desacompanhados, normalmente na hora do almoço ou final da tarde. Há alguns que chegam a tomar 5 doses

mas a maioria fica por volta de 3 “dosinhas”, que é o copo americano com mais da metade. Não há brigas, segundo o proprietário porque ele costuma interromper qualquer excesso e suspender o fornecimento quando percebe que o freguês está ficando alterado. Quanto à cerveja, há clientes que tomam mais de 5 garrafas, até 8 ou 10, sempre sozinhos. Não há música nem mulheres. Só a lembrança da mítica Pasárgada, de uma Pérsia distante e desconhecida, país das delícias, que paira suspensa, no ar...

Serviço - Bar do Pereira fica na avenida Coronel Marcondes, 1674 (sem telefone).

Carzuilha Salve simpatia! Impeachment da Dilma! Parece tema de escola de samba, mas na verdade é o assunto mais falado por aí! Mas no fim das contas, a galera só queria fazer inpeachment via Internet mesmo, porque daí da pra procurar no Google como se escreve! E depois dos comerciais de TV terem colocado o Roberto Carlos comendo carne, agora eles colocaram a Angélica comendo salsicha. Daqui uns dias nós teremos a Thammy Gretchen fazendo propaganda de camisinhas! Ou o Belo fazendo propaganda de produto de beleza! Mas talvez mais louco que isso seja o Gugu voltando pra mesma emissora que o demitiu tempos atrás! Ou a Fátima Bernardes tentando ensinar etiqueta nos blocos de carnaval: carnaval gourmet! Vai ter Chandon e paleta mexicana em vez de cerveja barata e pinga! E claro: vamos falar de carnaval! A Beija Flor ganhou no Rio de Janeiro, homenageando a ditadura da Guiné Equatorial. Ano que vem eles já podem homenagear o estado islâmico ou a Coréia do Norte! O assunto é polêmico... Mas é que o ditador da Guiné Equatorial não sabe quem financia o carnaval carioca

Carzuilha de Carvalho [email protected]

-- aí ele ficaria enojado! Já sobre o carnaval de São Paulo... ah, quem quer saber do carnaval de lá? Só não foi mais chato que o carnaval do Nestor Cerveró: preso em Curitiba! Foi o cúmulo! HAHA! Apesar de que o carnaval na Vila Madalena esse ano deu o que falar! Só bagunça! Haddad diz que se continuar assim, ano que vem vai ter faixa exclusiva pra blocos na avenida! E tudo faltando água, claro! Carnaval

em SP: atrás do caminhão pipa só não vai quem já morreu! Os rodízios em SP já são coisa de mãe-de-santo: o Alckmin promete trazer a água de volta em 3 dias! Mas depois ela some de novo! Mas talvez a situação melhore para São Paulo: jajá poderemos utilizar o TERCEIRO volume morto da Cantareira, se precisar. Nunca vi um mesmo lugar ter tanto volume morto assim desde que vi a seleção brasileira tomar sete dos ale-

mães no Mineirão ano passado! HAHA! Ah, e eu sei que vocês estavam esperando uma piada sobre o rebaixamento da Mancha Verde no carnaval de São Paulo, mas ela já está batida demais... Enfim. Mas, tudo voltou ao normal depois do carnaval... ou mais ou menos! A greve dos caminhoneiros tá acabando com tudo! Apesar que se eu fosse caminhoneiro, faria greve mesmo: como o SBT me tira do ar o “Siga Bem Caminhoneiro”? Greve mais do que justa! E falando em TV, enquanto o BBB perde meu interesse (conseguiram banalizar o sexo num programa de TV: acordem-me quando algum participante escrever um livro), a cerimônia do Oscar 2015 foi no mínimo interessante: Boyhood, o filme que demorou 12 anos pra ser filmado, perdeu... Mas o diretor deveria ficar feliz: dá pra chamar ele pra fazer um filme sobre a transposição do rio São Francisco: o tempo de gravações vai ser o mesmo! HAHA! Mas o pior mesmo é parar pra pensar que os únicos “50 tons de cinza” que conheço são os do asfalto da Manoel Goulart! HAHA! Mas enfim, pessoal: enquanto não deu certo esse mês, a gente vai passando no próximo! Até!

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Política 17

Coluna do Torino Não resistiu a tentação Ele foi candidato a prefeito, a deputado e destacava-se como liderança jovem, sem vínculo algum com a velha política prudentina. Coloquei no passado porque desde o dia 11 de fevereiro ele está pertencendo a um seleto grupo de assessores parlamentares dos quadros da secretaria da Assembléia Legislativa de SP, com vencimento bruto fixado em R$ 5.924,74. Fabio Cesar Sato agora é assessor do deputado David Zaia (PPS). A pergunta que fica é: a pureza foi embora?

A indústria das multas Administração Pública cedeu à tentação. Desde a administração Agripino estão tentando instalar os tais “radares” em Prudente. Na primeira gestão do prefeito Tupã ele disse não, mas agora não resistiu. Estão sendo instalados radares nas avenidas Washington Luiz, Manoel Goulart, Brasil, e no Parque do Povo - tanto na 14 de Setembro como na 11 de Maio. Segundo o secretário de Assuntos Viários, Osvaldo Bosquet (foto), será multado quem passar dos 50 km. Disse ele que essa é velocidade permitida nos

centros urbanos de cidades do porte de Presidente Prudente. Quando perguntado de onde foi que ele tirou que o limite é de 50 km em área urbana das cidades, respondeu: “Foi em vários Fóruns (encontros) de secretários de trânsito. Estudos (estatísticas) mostram que a velocidade máxima não pode ultrapassar os 50 km em perímetro urbano”, o que é conversa pra boi dormir. As placas instaladas indicam os radares e o limite de velocidade, segundo o secretário. As avenidas do Parque do Povo foram

escolhidas por causa da grande concentração de pedestres e o risco de atropelamentos (não se tem notícia que tenha ocorrido até hoje). O início de funcionamento dos radares em Presidente Prudente está marcado para o mês que vem (abril). Até lá vá praticando observar o seu velocímetro. No de alguns veículos, o marcador de 50 km não é muito destacado e você poderá ser enquadrado. Além da multa, pode levar uns pontinhos na CNH. Mais uma vez a “fome” arrecadatória é que prevaleceu.

Vem pra rua... O Carnaval tem grande capacidade de mobilização do povo brasileiro. São milhões de pessoas de todas classes sociais, são crianças, jovens e idosos, sem qualquer divisão racial ou de preconceito. Em 2013, o povo saiu às ruas e praças para protestar contra os desmandos do governo federal, estadual e municipal. Agora mais uma convocação através das redes sociais (internet): entidades estão esperando o povo de novo nas ruas - e Presidente Prudente também está inserida no roteiro. Fico imaginando se essa capacidade do nosso povo em se mobilizar para o carnaval fosse voltada para cobrar das nossas autoridades um país mais justo, com mais inclusão social e afastado da corrupção endêmica que nos assalta. Que pena que isso é só fantasia, sonho quimérico e distante da nossa sofrida geração.Quem sabe num futuro distante....quem sabe.....

Alagamento no Parque do Povo não tem solução? Basta chover um pouco mais e pronto: trechos das avenidas 14 de Setembro e 11 de Maio no Parque do Povo viram um caos. Foi que aconteceu - de novo - no dia 19 de fevereiro por volta das 16 horas. O local ficou inundado, intransitável, estabelecimentos comerciais alagados, veículos quase totalmente cobertos pelas águas. A Administração Pública responde sempre com os mesmos argumentos: choveu muito, 37 mm em uma hora e meia, e não tem como fazer obras para evitar novos alagamentos porque seria preciso 15 milhões de reais e com um agravante. Segundo o prefeito Tupã, a tubulação que passa sob o Prudenshoping, para onde escoaria toda a água vinda do parque,

poderia não resistir. Segundo ele, outras alternativas poderiam ser estudadas mas não em sua gestão. Pior que a cada dia diminuem as áreas de absorção. Lanchonetes, quadras cobertas, até estacionamento do Fórum Trabalhista dentro do Parque do Povo, como estão comentando. Aqui fica uma sugestão: porque não realizar uma audiência pública ambiental com Sabesp, MP Estadual e Federal, Unesp, Toledo, Uniesp, Clubes de Serviços, Legislativo, Entidades de Classes, ONGs, entre outros segmentos da comunidade? Mas isso depende da Prefeitura tomar a iniciativa. O fato é que do jeito que está hoje, se chover, fuja do Parque do Povo.

18 Curtas

Março 2015

Pinga-fogo

Zelmo Denari

[email protected]

A dieta nas prisões

Um feito inédito

Guilherme Anitele Silva, um jovem de 17 anos, aluno do Colégio Anglo de Presidente Prudente, foi protagonista de uma façanha inédita em terras prudentinas: conseguiu ser aprovado na melhor faculdade de Medicina do país, a USP, sem freqüentar nenhum cursinho. Bastou-lhe unir inteligência, dedicação e sobretudo aquilo que Muricy exige dos seus jogadores: muito trabalho. Parabéns ao aluno e ao corpo docente do referido colégio.

Coisas da Band

Ricardo Boechat é, sem favor algum, o melhor âncora da televisão brasileira, notadamente quando se apresenta como radialista e faz inserções no Jornal da Manhã. Dá gosto ouvir os seus comentários e suas ponderações sobre todos os mais diversificados temas de interesse jornalístico. O que não dá gosto, contudo, é assistir, como um palerma, as infindáveis inserções publicitárias veiculadas pela Band durante o Jornal Nacional. Por outro lado, chega a ser revoltante, no final da programação, as inserções da vinheta da Band, feitas com o propósito de “dar um Migué” nos espectadores, pois ao invés do noticiário, os mesmos são obrigados a engolir uma nova série de anúncios publicitários. Trata-se, sobretudo, de uma prática abusiva que, por si só, está a merecer o devido corretivo, mediante pronta atuação do Ministério Público.

A travesti Aline Rocha O prefeito paulista Fernando Haddad concedeu uma bolsa de um salário mínimo mensal a cem travestis e transexuais paulistas, para que voltem a estudar. Para receber o salário as beneficiárias deverão comprovar presença nas aulas. Trata-se de iniciativa inédita na América Latina. O Brasil

é o país que mais mata travestis no mundo, quatro vezes mais do que o México. O Secretário de Direitos Humanos da Municipalidade afirmou; “queremos tratá-las como gente”. Todo apoio à corajosa iniciativa do prefeito paulista. Bom seria se todas as travestis fossem iguais à Aline...

A julgar pela reportagem da jornalista Mônica Bérgamo, a dieta dos empresários e executivos encarcerados nas dependências da Polícia Federal de Curitiba, por terem participado da Operação Lava Jato não é das melhores. Segundo relatos, trata-se da dieta dos renegados, pois “todos os dias eles servem arroz, uns quatro caroços de feijão, macarrão por cima. E frango, peixe ou carne”. Os prisioneiros comem a carne com as mãos, pois as facas de plástico não cortam. O pior, contudo, era utilizar o vaso sanitário sem qualquer privacidade, na presença dos colegas de cela. Os horrores do nosso sistema carcerário explicam porque as delações premiadas fazem tanto sucesso: ninguém quer ir para a cadeia.

Cadê o Robertinho?

OUVIDOR JÁ!

Segundo o depoimento do delator Pedro Barusco Filho, ex-gerente da Petrobrás, ele e o ex-diretor, Renato Duque, participaram de um jantar em Milão, ao lado do presidente e de um agente do Banco Cramer na Suíça. Após o jantar abriram uma conta no referido banco onde foram depositados R$ 21 milhões de propinas entre 2011 e 2013. Barusco disse, ainda, que no Banco Lombardo Odier conheceu um “brasileiro chamado Roberto”, o qual orientou que ele e Duque abrissem “contas de passagem” para ocultar capital. Eles seguiram as

No último dia 10 de janeiro, a edição do Globo News repórter relata a tragédia de uma mãe que leva seu filho para ser atendido num hospital particular, onde, iria passar por uma broncoscopia. O menino estava bem quando entrou para a sala cirúrgica, mas a mãe o recebeu morto, sem nenhuma explicação plausível. A mãe procurou um especialista na área que revelou à reportagem que a broncoscopia é um procedimento cirúrgico sem risco, com índices insignificativos de evento óbito. Os hospitais públicos e privados deste país somente irão atender adequadamente seus pacientes quando contarem com uma ouvidoria indicada por um Conselho Municipal, encarregado de registrar todas as queixas de atendimento hospitalar feitas pelos usuários dos serviços hospitalares. Um bom tema para o Ministério Público ler na cama...

instruções do expert brasileiro e depositaram US$ 6 milhões na referida conta. Tempos depois Duque disse a Barusco que “Roberto havia sumido”! Como diz o vulgo: “ladrão que rouba ladrão...”

Origem de Carlos Gardel Um curta metragem do Canal Brasil, revelou a todos aos amantes do tango a controvertida origem de Carlos Gardel, o mais famoso cantor da América Latina. “Nuestros hermanos” juram, de pés juntos, ser argentino, mas os uruguaios garantem que nasceu na cidade uruguaia de Tacuarembó, no extremo-norte daquele país. Seu pai foi um chefe político, quase um senhor feudal latino-americano, conhecido como Carlos Escayola que viveu maritalmente com três irmãs, uma delas, a mais nova, Maria Lélia, ficou grávida do coronel aos 14 anos de idade. O coronel cujas mulheres estão enterradas naquela cidade, ficou

pobre e no final de sua vida mudou-se para Montevidéu onde faleceu, sem ostentar o prestígio de outrora. Em Tacuarembó, pequena cidade situada nas proximidades da Argentina e Brasil, existe um Museu que reverencia a vida do cantor com a seguinte inscrição: “Nasci aqui em Tacuarembó, fato que, por sabido, é ocioso esclarecer”.

Uma entrevista inédita de Jango

Marta Suplicy, de malas prontas

O jornalista Foster Fulles, já falecido – filho e sobrinha de dois dos americanos mais influentes do século 20 – nos legou uma entrevista inédita do ex-presidente João Goulart, concedida em Montevidéu, três anos após o golpe militar. A entrevista foi encontrada pela Folha numa biblioteca da Universidade do Texas. Entre outras coisas, Jango revela que “não há no Brasil um sentimento contra o povo dos EUA”; “bem como, que “as pessoas da América Latina não são inclinadas ao comunismo e justiça social não é algo marxista ou comunista.” Jango atribui sua queda, bem como de outros governos latino-americanos, à influência de Lyndon Johnson, presidente após Kennedy, mas estava equivocado, pois Lindon Johnson apenas seguiu um script planejado por este último.

Em entrevista ao Estadão, Marta Suplicy, quem diria, critica a presidente Dilma Roussef e o PT. Segundo a ex-ministra da Cultura “ou o PT muda ou acaba”. Por outro lado, considera Aloysio Mercadante como “inimigo político que mente quando diz que não será candidato. Ele é candidatíssimo e está operando nesta direção desde a campanha, para barrar Lula”. Finaliza a entrevista afirmando: “Não tomei a decisão nem de sair, nem para qual partido, mas tenho portas abertas e convites de praticamente todos, exceto PSDB e DEM.” Como se pode observar, Marta, que sempre foi “dondoca”, sai dando tiros. A rigor, nunca foi PT, pois sempre esteve no PT, ao lado do ex-marido, Eduardo Suplicy, este sim, petista de carteirinha...

O alquimista Paulo Coelho Para o professor Marcos Bagno, da UnB, o escritor globalizado Paulo Coelho é o Júlio Iglesias da literatura e faz tanto sucesso, mundo afora, porque consegue mesclar senso-comum e banalidade, recoberta de espiritualidade rasa, “tudo numa linguagem anódina para não ferir o gosto de ninguém. Em Portugal, para serem melhor entendidas, suas obras passam por um processo de tradução e na verdade são reescritas do ponto de vista do vocabulário e da gramática. Como já se disse, para ser famoso basta ser medíocre.

Humor 19

Março 2015

Dercy, a impagável Antes de morrer, Dercy Gonçalves foi entrevistada por um canal de televisão. A repórter lhe perguntou qual seriam as coisas mais prazerosas da vida. Dercy pensou alguns segundos e respondeu: - Com certeza, comer e dormir... Logo em seguida, completou: - Cagar também é muito bom!

Amantes no tempo do Império

As Ordenações Filipinas vigoraram no Brasil até cerca de 1886. Seu livro V, que regia os crimes e respectivas penas, era o mais divertido. Ser amante, ou barregã, nos tempos do Império, não era tarefa fácil. A barregã surpreendida com homem casado era açoitada com “baraço e pregão” e degredada para a África, além de pagar a “quarentena” (quadragésima parte dos seus bens). O mesmo rigor não era aplicado aos religiosos, pois os frades achados fora do mosteiro com alguma barregã não poderiam ser presos, mas entregues aos seus superiores. Mas Domitila, a amante de Dom Pedro I – a famosa Marquesa de Santos – nunca foi presa, nem açoitada. Morava numa bela mansão que pode ser visitada em São Paulo, no Páteo do Colégio e foi seputada no cemitério da Consolação cujo terreno, aliás, ela doou à municipalidade. Como se depreende, todos são iguais perante a lei, mas alguns são mais iguais que outros...

Leonardo da Vinci e Mona Lisa Dizem que, para pintar seu modelo Lídia Gheraldini, Leonardo Da Vinci levou cerca de cinco anos. O marido dela não gostou e chegou a proibir que continuasse a pintar sua esposa. Felizmente não conseguiu e, assim, o famoso pintor agraciou o mundo com essa obra imperecível, conhecida como Mona Lisa. Os linguarudos, no entanto, continuam afirmando que Leonardo fartou-se de “pintar” seu modelo, no sentido literal. Desde então, ficou famosa a expressão “qui nessuno é fesso” (aqui ninguém é bobo), imortalizada pelos italianos.

Diálogo do francês com o velho tupinambá

O preço de uma consulta

Na época do “descobrimento”, os espanhóis, portugueses e franceses invadiram as costas da América, banhadas pelo oceano Pacífico para se apropriar das minas de ouro e prata e banhadas pelo oceano Atlântico, para extrair o pau-brasil que os indígenas chamavam de “arabutã”. Um francês calvinista que aqui esteve, chamado Jean de Lery, cerca de 1555, assim descreve o diálogo que teve com um velho índio tupinambá: - Por que vocês vêm de tão longe para buscar lenha em nossas terras? Onde vocês moram não existe madeira? - Existe sim, mas não usamos somente para queimar e sim para outras finalidades... - E por que vocês precisam de tanta madeira? - É que temos muitos mercadores que compram de tudo. Um só deles pode comprar toda a madeira daqui... - Mas este homem tão rico, por acaso, não morre? - Sim, morre como todos os outros... - E quando morrer quem fica com seus bens? - Os filhos e na falta destes, seus irmãos ou demais parentes... - Então vocês são loucos: atravessam o mar e sofrem muito para chegar até aqui. Trabalham muito para acumular riquezas e passar para seus filhos. Sabemos que a terra é suficiente para alimentar nossos filhos? Depois da nossa morte, será suficiente para alimentar os filhos dos nossos filhos. Por que vocês não descansam, sem maiores cuidados!

O advogado recebeu a visita do açougueiro do bairro que lhe fez a seguinte consulta: - Doutor, se um gato furtar-me 5 quilos de carne, o dono do gato é obrigado a me pagar? O advogado lhe respondeu: - O senhor tem testemunhas do fato? - Diversas e insuspeitas, doutor. - Então pode acionar o dono do gato...finalizou o advogado. - Então, doutor, sinto muito, mas o senhor me deve R$ 50 reais, pois o ladrão foi o seu gato... O advogado não gostou, mas, sem pestanejar lhe disse: - Tudo bem, pode receber a indenização de minha secretária, mediante recibo... O açougueiro agradeceu e ia saindo quando foi chamado: - Por favor, meu senhor, não se esqueça da consulta... - Mas, tenho que pagar? - Naturalmente – respondeu o advogado. - E quanto lhe devo pela consulta, doutor? - Pode deixar duzentos reais de honorários, com minha secretária...

Uma revelação surpreendente! A colunista da Folha Mercado, Ana Estela de Souza Pinto, trouxe a público um bilhete escrito no ano de 1931, encontrado numa caixinha de papelão na década de 90, do seguinte teor: “Seu esposo, triste e magoado/Como nos tempos de namorado/ Despede-se e vai para a cama/Sem a companhia da sua dama”. Os versos, em decassílabo, foram escritos por seu avô à sua avó, que não conheceu, anos antes de abandoná-la, com dois meninos. Uma das indagações mais importantes que faz a colunista é a seguinte: nos dias atuais a memória do passado se espalha nas trilhas de whatsapps, SMS, emails, tornando difícil para os historiadores do século 31 depender de documentos digitais, absolutamente perecíveis. Quem viver, dirá...

Como as portuguesas escolhem seus futuros maridos

(página extraída de jornal lusitano)

20 Humor

Casca bico

Março 2015

Richard de Almeida [email protected]

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