PATRIMÔNIO INDUSTRIAL NA PARAÍBA: O CASO DE RIO TINTO

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

MARINA GOLDFARB DE OLIVEIRA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE TECNOLOGIA CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO MARINA GOLDFARB DE OLIVEIRA

PATRIMÔNIO INDUSTRIAL NA PARAÍBA: O CASO DE RIO TINTO

Monografia Apresentada como Trabalho Final de Graduação em Arquitetura e Urbanismo do Centro de Tecnologia da Universidade Federal da Paraíba. Orientadora: Profª. Dr.ª Nelci Tinem.

João Pessoa, Julho, 2011.

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MARINA GOLDFARB DE OLIVEIRA

PATRIMÔNIO INDUSTRIAL NA PARAÍBA: O CASO DE RIO TINTO

Banca Examinadora:

___________________________________________ Profª Drª Nelci Tinem Orientadora

___________________________________________ Profª Drª Maria Berthilde Moura Filha Examinadora

___________________________________________ Maria Helena Andrade Examinadora

João Pessoa, Julho, 2011.

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“Em vão me tento explicar, os muros são surdos. Sob a pele das palavras há cifras e códigos” Drummomd, em A flor e a náusea.

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Agradecimentos À minha orientadora Nelci Tinem, pelo incentivo, paciência e inúmeros ensinamentos que valem para toda trajetória acadêmica. À Guilah Naslavsky, que iniciou esse trabalho como orientadora, pela confiança e entusiasmo à pesquisa. À Amélia Panet, pelas informações e artigos cedidos. Á Anna Aline, por disponibilizar sua dissertação e o mapa de Rio Tinto em CAD. Aos funcionários do IPHAEP e do escritório da CTRT. Às pessoas que amo: Meus pais, Júlio César e Raquel, pelo amor e apoio. Juju, pelo companheirismo. Caio, por me fazer acreditar num futuro ainda melhor. Meus amigos e colegas de universidade.

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RESUMO Este trabalho apresenta um estudo sobre o patrimônio industrial da cidade de Rio Tinto, Paraíba, dando ênfase á arquitetura da fábrica Companhia de Tecidos Rio Tinto. Sua introdução contém a caracterização do objeto de estudo. Também abarca os objetivos, justificativa e metodologia usada na pesquisa. O primeiro capítulo traz conceituações de patrimônio industrial, quando surgiu tal termo, e seu reconhecimento pelo Brasil. O segundo capítulo trata do caso específico do patrimônio industrial de Rio Tinto, onde se oferece um panorama histórico da cidade de Rio Tinto (importante para entender quais às origens de sua arquitetura), apresenta suas principais características, e sua situação atual de conservação e preservação. Por fim, as considerações finais fecham o trabalho com o breve relato de tudo o que foi apreendido nesta pesquisa realizada para o Trabalho de Graduação. Palavras- chave: Patrimônio industrial; Preservação; Rio Tinto.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 1. Caracterização do objeto de estudo empírico............................................08 2. Objetivos.....................................................................................................11 3. Justificativa..................................................................................................12 4. Procedimentos Metodológicos....................................................................14 CAPÍTULO 01– CONCEITOS DE PATRIMÔNIO INDUSTRIAL 1. Conceito de Patrimônio...............................................................................17 2. Patrimônio industrial....................................................................................20 2.1 Patrimônio Industrial no Brasil...............................................................22 CAPÍTULO 02 – PATRIMÔNIO INDUSTRIAL EM RIO TINTO 1. Panorama histórico da cidade de Rio Tinto...............................................25 2. Situação atual.............................................................................................31 3. Patrimônio Industrial em Rio Tinto.............................................................34 4. A Companhia de Tecidos Rio Tinto...........................................................39 4.1 Elementos fundamentais da CTRT......................................................42 4.2 Situação de conservação e preservação atual da CTRT.....................55 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................58 REFERÊNCIAS...............................................................................................60 ANEXOS..........................................................................................................64

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INTRODUÇÃO

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1.

Caracterização do Objeto de Estudo empírico O Objeto de estudo deste trabalho corresponde à arquitetura da fábrica

Companhia de tecidos Rio Tinto, localizada em Rio Tinto, município do estado da Paraíba situado na microrregião do Litoral Norte à 52 km de João Pessoa, capital do estado.

Figura 01: Município de Rio Tinto em destaque no mapa da Paraíba e planta da cidade de Rio Tinto com a área ocupada pela Companhia de tecidos Rio Tinto em vermelho. Disponível em: Acesso em: 09/2010; Planta cadastral da CAPEPA (2005).

A construção da Companhia de tecidos Rio Tinto, iniciada em 1918, foi responsável pelo surgimento da cidade de Rio Tinto, que lhe herdou o nome. Se desenvolveu como uma vila operária auto-suficiente, com diversos equipamentos públicos e habitações para os trabalhadores.

A fábrica foi

instalada em local privilegiado, no núcleo central da cidade, próxima da Praça João Pessoa, da igreja matriz Santa Rita de Cássia e das melhores residências da cidade. O terreno em que é locada se limita com as ruas da Mangueira, Francisco Gerbasi, Rua da Lionha, Avenida Santa Elizabeth e com o Rio Vermelho.

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Seu acesso também influi na configuração urbana da cidade. Ocorre através da entrada principal da cidade, pela Rua Tenente José de França (antiga Rua do Patrício), mais larga que as demais, possui canteiro central e é ladeada por palmeiras imperiais que lhe confere uma aparência imponente. Por ela chega-se na Rua Manoel Gonçalves (antiga Rua da Mangueira) cujo fim vai dar nos portões da fábrica. Nesse trajeto se localizam os chalés dos funcionários mais qualificados, tornando possível visitar a Companhia de Tecidos Rio Tinto sem passar pelo conjunto de pequenas habitações geminadas dos operários comuns.

Figura 02: Vista aérea de Rio Tinto com o acesso à fábrica em destaque. Fonte: Acervo da Companhia de Tecidos Rio Tinto, 1963.

Figura 03: Entrada principal de Rio Tinto. Fonte: Acervo Antonio Luiz.

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O modelo de organização da vila operária de Rio Tinto vem do exemplo surgido na Europa com a Revolução Industrial. Como explica DANTAS (2009: 28), a emergência da grande indústria e o inchamento demográfico dos grandes centros ocasionaram a preocupação com a organização da vida proletária e um maior controle do operariado pelos empresários fabris. Das duas últimas décadas do século XIX até os anos quarenta do século XX, difundiu-se largamente, pelo Brasil, a prática de criação de vilas operárias em cidades e de núcleos fabris em localidades rurais. Segundo BOMFIM (2007:100), no Brasil se desenvolveu quatro modelos de vilas operárias construídas pelo setor privado industrial, que arrecadava altos lucros com os aluguéis cobrados ou descontados do salário dos seus empregados. São as Vilas Operárias de Empresa, ou Vilas Industriais; Vilas Cidadelas; Vilas Operárias Particulares (Vilas Comerciais) e as Vilas de Usinas. Rio Tinto foi erguida como uma Vila Cidadela, aquelas que tinham características de bairros muito próximos à fábrica ou pequenas cidades onde havia espaços semi-públicos, como praças e campos de futebol, e equipamentos coletivos, como Escola, Igreja, Armazéns, e em alguns casos (como no de Rio Tinto), Teatro e Cinema. A fábrica tinha fundamental importância para Rio Tinto, cuja economia dependia exclusivamente dela, seus proprietários ainda eram responsáveis por prover serviços de moradia, saúde, educação, segurança e lazer dos seus operários, o que era uma forma de manter-los sob controle. Como comenta DANTAS (2009: 59), a leitura do desenho urbano de Rio Tinto mostra como a vida desta cidade estava organizada em torno das atividades fabris. Tendo a fábrica no coração da cidade, as casas no entorno abrigavam a mão-de-obra operária necessária para que Rio Tinto chegasse à pujança industrial que ela atingiu. Desde o início de sua implantação até o final da década de 40, Rio Tinto foi totalmente construída para cumprir sua missão industrial.

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2.

OBJETIVOS Pretende-se neste trabalho, realizar um estudo da arquitetura da fábrica

Companhia de Tecidos Rio Tinto (localizada na cidade de Rio Tinto - PB), através da identificação e registro de seus elementos mais significativos que deverão ser preservados para manter a identidade desse conjunto edificado.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS 

Subsidiar as ações de tombamento do Centro Histórico de Rio Tinto pelo IPHAEP;



Auxiliar futuras ações de intervenção nesses edifícios;



Colaborar com a preservação e memória do patrimônio histórico e arquitetônico da Paraíba;



Contribuir com os estudos e a valorização do patrimônio industrial no Brasil.

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3.

JUSTIFICATIVA A pesquisa em questão se justifica pela ausência de estudos

aprofundados sobre a arquitetura da Companhia de Tecidos Rio Tinto. Esta indústria foi construída num local pouco habitado, gerando um povoamento isolado e auto-suficiente que resultou na cidade de Rio Tinto. Seu surgimento e importância na região tornam-na símbolo de forte identidade para a população local. Estas construções, apesar de seu valor tanto arquitetônico quanto histórico, até pouco tempo não possuíam nenhuma proteção junto aos órgãos de preservação atuantes no estado, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (IPHAEP) e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Em março de 2010 foi requerido ao IPHAEP o tombamento do Casarão dos Lundgrens pelos seus proprietários, quando souberam que a comunidade indígena da Aldeia Jaraguá passou a usar o edifício como escola. Ao analisar o caso, os membros do IPHAEP perceberam que era importante tombar e delimitar o centro histórico da cidade, composto pelo conjunto produzido pela citada fábrica de tecidos, abrindo o processo em julho de 2010, que está em andamento e espera ser homologado no Diário Oficial. O tardio reconhecimento por parte dos órgãos competentes da necessidade de proteger essas construções, além da falta de instrução da população, acarretaram à descaracterizações de alguns imóveis, provocadas por intervenções mal sucedidas e deterioração dos edifícios que ficaram sem uso, estando alguns edifícios já em ruínas. A valorização imobiliária de seu entorno com a instalação do Campus Universitário em suas imediações coloca as edificações abandonadas num risco ainda maior de destruição. Dessa maneira, se percebe a urgência e importância do estudo dessa arquitetura, que passa por processo de tombamento cujos estudos para o cadastramento estão ocorrendo no momento e foi reconhecida a precisão do IPHAEP1 de colaboração com pesquisas sobre o tema, que este trabalho 1

Informações cedidas pela arquiteta Darlene Karla Araújo, chefe do setor de fiscalização do IPHAEP.

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pretende contribuir. Também espera incrementar os estudos sobre o patrimônio industrial brasileiro, pois como explica VICHNEWSKI (2004:31), ainda são incipientes (assim como sua preservação), por serem considerados um bem patrimonial menor e alvo de pressões econômicas para especulação imobiliária.

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4.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Para possibilitar a realização neste trabalho foram empregadas as

etapas mencionadas a seguir. a)

Pesquisa Bibliográfica Consistiu

na

revisão

e

aprofundamento

do

referencial

teórico-

metodológico. Essa pesquisa se organizou em duas fases: - Referências gerais: primeiramente foram reunidos textos sobre o objeto de estudo deste trabalho, ou seja, a Companhia de Tecidos Rio Tinto. Em seguida, como a abordagem trata de seu patrimônio industrial, foram pesquisados os conceitos de patrimônio, patrimônio industrial, e sua preservação e reconhecimento no Brasil. Por fim, percebeu-se ser necessária uma bibliografia a cerca de teoria e história da arquitetura para compreender e auxiliar o estudo do acervo arquitetônico que se propõe, com leituras sobre a arquitetura que se desenvolveu após a Revolução industrial até o início do século XX, e principalmente, arquitetura fabril. - Trabalhos correlatos: procurou-se outros trabalhos que também realizaram registro de edificações como meio de nortear este estudo. Foram analisados em monografia e dissertações de mestrado, a metodologia adotada para desenvolvimento de tais pesquisas, o meio de registro, e a estrutura de organização textual dos trabalhos.

b)

Levantamento de Campo Corresponde à pesquisa no local que será estudado, que é a cidade de

Rio Tinto. Inicialmente, foi feito um reconhecimento do objeto de estudo, percorrendo toda a área onde se instalou a Companhia de Tecidos Rio Tinto. Foi realizado um levantamento fotográfico desse conjunto, e das principais edificações da cidade, entrevistas com antigos moradores e funcionários do escritório que a companhia ainda mantém lá. Após a definição do método de registro e da obtenção da planta baixa da fábrica, novas visitas foram feitas, com a intenção de identificar os elementos arquitetônicos que caracterizam sua arquitetura, o que levou a mais um levantamento fotográfico visando tais elementos.

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c)

Pesquisa documental Esta etapa ocorreu simultaneamente à de levantamento de campo.

Refere-se à localização de dados e documentos relativos à Companhia de Tecidos Rio Tinto. Para isso, foram visitados arquivos de instituições públicas como do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano (IHGP), do IPHAEP (foi possível ter acesso ao processo de tombamento do centro histórico de Rio Tinto), do IPHAN e do Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regional (NDIHR).

Também buscou-se informações no escritório da

Companhia de Tecidos Rio Tinto, onde foram encontradas pranchas com plantas baixas da fábrica (não foram encontrados outros desenhos dela) e de outras construções importantes da cidade.

d)

Definição do método de registro

Inicialmente foi definido o que seria registrado no objeto de estudo empírico. Sendo assim, foi escolhido que seriam os elementos arquitetônicos que qualificam e proporcionam unidade ao conjunto fabril. A primeira fase consistiu na identificação dos elementos que possuíam os atributos para serem registrados definidos na pesquisa. Os elementos identificados para o registro foram: - Cobertura - Vedação em tijolos aparentes -Aberturas e esquadrias Tais elementos foram registrados por meio de fotografias e croquis ressaltando suas principais características. e)

Interpretação e análise dos dados Após a fase de registros das características mais marcantes da

Companhia de Tecidos Rio Tinto, foram interpretados dados e informações de tudo o que foi apreendido durante a pesquisa, tirado conclusões e redigido o texto final.

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CAPÍTULO 01 CONCEITOS DE PATRIMÔNIO INDUSTRIAL

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1.

CONCEITO DE PATRIMÔNIO A palavra patrimônio tem origem vinculada ao termo grego pater, que

significa “pai” ou “paterno”. Sendo assim, passou a se relacionar com tudo aquilo que é deixado pela figura do pai e transmitido para seus filhos. Com o passar do tempo, essa palavra foi requalificada por diversos adjetivos (genético, natural, histórico, etc.) que fizeram dela um conceito nômade (CHOAY, 2006:11). Ligada à questão de herança, a expressão Patrimônio Cultural se direciona a um conjunto de bens que estão relacionados com a identidade, a cultura ou o passado de uma coletividade, como grupos familiares, associações profissionais, grupos étnicos, nações – são os lugares, as obras de arte, as edificações, as paisagens, as festas, as tradições, os modos de fazer, os sítios arqueológicos, que merecem ser preservados para as futuras gerações. A idéia atual de patrimônio vem da Europa, tendo adquirido a noção de monumento como aquilo que deve ser lembrado, no renascimento. Passa a ganhar força no século XIX, associada ao surgimento e disseminação do Estado Nacional, quando se salienta a necessidade de eleger monumentos que pudessem refutar o esquecimento do passado e expressar os fatos de natureza singular e grandiosa da Nação. No entanto sua evolução toma forte impulso e se dissemina por outros continentes ao longo do século XX, como resposta à descaracterização das cidades devida à urbanização. Um desses primeiros documentos, proposto em 1931, é a Carta de Atenas, que discute a racionalização de procedimentos em arquitetura e propõe normas e condutas de caráter internacional em relação à preservação e conservação de edificações. Com o passar do tempo, várias outras cartas patrimoniais vão sendo publicadas. A imensa devastação ocorrida na Europa em virtude da segunda guerra mundial provoca um movimento que, sob tutela da Organização das Nações Unidas, deu origem a uma série de posturas, legislações e atitudes ainda mais abrangentes e concretas para salvaguarda de bens culturais.

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Os documentos gerados inicialmente, não tinham maior grau de observância com a explicitação de detalhes para o restauro ou para outras intervenções nos monumentos. Com a evolução do pensamento e frente a avaliações de casos ocorridos, outras regulamentações e orientações foram sendo editadas, no esforço de controle das modernizações que eram introduzidas pelas intervenções, e para o equacionamento de diretrizes de resgate da memória e da cultura. Além do patrimônio material, se reconhece a importância de se preservar o patrimônio imaterial, definido pela UNESCO 2 como "as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas - junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural". A noção corrente de patrimônio cultural encontra-se na Convenção relativa à proteção do patrimônio mundial, cultural e natural, aprovada em 16 de novembro de 1972 na 17ª sessão da conferência geral da UNESCO. De acordo com a Convenção, são patrimônio cultural da humanidade: Os monumentos – Obras arquitetônicas, de escultura ou de pintura monumentais, elementos de estruturas de caráter arqueológico, inscrições, grutas e grupos de elementos com valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência; Os conjuntos – Grupos de construções isoladas ou reunidos que, em virtude da sua arquitetura, unidade ou integração na paisagem tem valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência; Os locais de interesse. – Obras do homem, ou obras conjugadas do homem e da natureza, e as zonas, incluindo os locais de interesse arqueológico, com um valor universal excepcional do ponto de vista histórico, estético, etnológico ou antropológico. Disponível

em:.

Acesso

em: 11/2010. 2

Conceituação encontrada no portal do IPHAN. Disponível em: . Acesso em: 11/2010.

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Nos últimos anos, o interesse pelo patrimônio edificado tem aumentado consideravelmente, não só pela maior consciência do seu valor histórico, mas também por outras razões como o aumento demográfico, a saturação territorial e a complexidade urbana que acarreta diversos problemas político-econômicos vinculados, por exemplo, à especulação imobiliária e à exploração do turismo. Assim, o uso do patrimônio edificado existente como fonte cultural, social e econômica tornou-se uma questão de grande valor, que extrapola a questão meramente preservacionista.

1.1

Patrimônio industrial

O debate sobre Patrimônio industrial iniciou-se na Inglaterra em meados dos anos 1950, época em que foi cunhada a expressão "arqueologia industrial", ganhando maior vigor e atraindo a atenção pública a partir do início dos anos 1960, quando importantes testemunhos da arquitetura industrial, como a Bolsa de Carvão e da Estação Euston em Londres, foram demolidos. A princípio, o interesse britânico se concentrou nos exemplares do período da Revolução Industrial, entre 1760 e 1830. A destruição dessas edificações implicou na preocupação com a preservação de monumentos e artefatos relacionados à indústria.

Figura 04: Desenho de 1837 da Estação Euston em Londres. Disponível em: . Acesso em: 11/2010.

Essas ações de preservação foram

isoladas das conferências

internacionais oficiais que geraram as Cartas Patrimoniais dedicadas à proteção dos monumentos, o que deixa evidente a lentidão em aceitar o patrimônio

industrial

como

monumento

histórico

a

ser

resguardado

(VICHNEWSKI, 2004:22). Mesmo assim, grupos de pesquisadores se empenharam em mostrar como tanto os bens materiais como imateriais

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produzidos pelas indústrias são importantes para se entender não só a dinâmica da produção material, mas também as relações históricas e sociais que se desenvolvem em torno dela. Durante a década de 1970, discussões sobre o patrimônio industrial foram incorporadas em encontros internacionais. A partir de 1973 passaram a ocorrer conferências específicas sobre o tema e em 1978, no III Congresso Internacional para a Conservação dos Monumentos Industriais (Estocolmo, Suécia) foi criado o TICCIH – The International Committee for the Conservation of the Industrial Heritage (Comissão Internacional para a Conservação do Patrimônio Industrial), organização internacional cuja finalidade é promover a cooperação internacional no campo da preservação, conservação, localização, pesquisa, documentação e valorização do patrimônio industrial. Atualmente, há nessa organização representantes e correspondentes nacionais de 54 países.3 Ainda no ano de 1978, o Comitê do Patrimônio Mundial da UNESCO inscreveu pela primeira vez em sua Lista do Patrimônio Mundial, um patrimônio industrial, a Mina de Sal Wieliczka, na Polônia. A partir daí, outros sítios têm sido sistematicamente incluídos demonstrando uma evolução na percepção ao valor cultural desses remanescentes (CAMARGO, RODRIGUES, 2010:149). Em 17 de Julho de 2003, foi aprovada a Carta de Nizhny Tagil sobre o Patrimônio Industrial pelos membros do TICCIH, que constituem a consultoria especial do ICOMOS4 para esta categoria de patrimônio. A Carta de Nizhny Tagil (2003) apresenta a seguinte definição para patrimônio industrial: O patrimônio industrial compreende os vestígios da cultura industrial que possuem valor histórico, tecnológico, social, arquitetônico ou científico. Estes vestígios englobam edifícios e maquinaria, oficinas, fábricas, minas e locais de processamento e de refinação, entrepostos e armazéns, centros de produção, transmissão e 3

Informações obtidas no site oficial do TICCIH. Disponível em: . Acesso em: 10/2010. 4 ICOMOS - International Council on Monuments and Sites (Conselho Internacional de Monumentos e Sítios), é uma organização civil internacional ligada à UNESCO, tendo como uma de suas atribuições o aconselhamento no que se refere aos bens que receberão classificação de Patrimônio Cultural da Humanidade. O ICOMOS foi criado em 1964, durante o II Congresso Internacional de Arquitetos, em Veneza, ocasião em que foi escrita a declaração internacional de princípios norteadores de todas as ações de restauro - "Carta de Veneza", da qual o Brasil é também signatário.

21 utilização de energia, meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas, assim como os locais onde se desenvolveram atividades sociais relacionadas com a indústria, tais como habitações, locais de culto ou de educação.

O conceito atual de patrimônio industrial significa mais do que o antigo prédio onde funcionava uma determinada fábrica. Como explica o professor de sociologia da USP Leonardo Mello5, uma vez que se detêm sobre máquinas, equipamentos, instalações e imóveis onde se processou a produção industrial, o patrimônio industrial é também a preservação e o tratamento de um patrimônio técnico de uma sociedade e de uma comunidade, e esse processo está sempre em transformação. Nesse sentido, o patrimônio industrial permite a transmissão de um saber técnico, estabelecendo um elo entre as formas de produzir, o que envolve homens, mulheres, máquinas e a cultura.

1.2

Patrimônio industrial no Brasil No Brasil, o interesse pelo patrimônio industrial também foi despertado

na década de 1960. Em 1964, o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) tombou os remanescentes da Real Fábrica de Ferro São João de Ipanema em Iperó, São Paulo. (VICHNEWSKI, 2004:31). No entanto, apesar do caráter pioneiro deste tombamento, não houve continuidade nas ações de preservação do patrimônio industrial, iniciativas mais sistemáticas tardaram a ocorrer, sendo a tutela oficial de bens vinculados ao processo de industrialização bastante rara. O estudo e a preservação do patrimônio industrial no Brasil ainda são incipientes. Poucas indústrias e instalações utilitárias são preservadas, principalmente por serem consideradas um bem patrimonial menor e alvo de pressões econômicas para especulação imobiliária. Alguns dos principais pesquisadores da área corroboram com a idéia da falta de preocupação com o nosso patrimônio industrial, tanto do período colonial, quanto dos séculos XIX e XX (VICHNEWSKI, 2004:31)

5

MELLO E SILVA, Leonardo. Patrimônio Industrial: Passado e Presente. Patrimônio Revista Eletrônica do Iphan, Brasilia, v. 4, 2006. Disponível em: . Acesso em: 11/2010.

22

Além da Real Fábrica de Ferro São João de Ipanema, existem outros bens referentes ao patrimônio industrial tombados pelo IPHAN, como a Fábrica de Ferro Patriótica, que foi tombada em 1938 incorporada ao Conjunto Arquitetônico e Paisagístico de Ouro Preto, Minas Gerais; a Fábrica de Vinho Tito Silva, em João Pessoa, Paraíba, cujo tombamento em 1984 representou uma inovação nessa área, pois não só o monumento, a maquinaria e o equipamento foram preservados, como também a técnica industrial; e a Fábrica Santa Amélia, de São Luís, Maranhão, tombada em julho de1987. Atualmente a produção de estudos sobre o patrimônio industrial vem aumentando. São artigos da história da industrialização, da arquitetura industrial, de vilas operárias, das relações sociais da indústria, sobre a preservação de todo um complexo inserido no universo fabril, como estações ferroviárias, portos marítimos, mineração, engenhos, fábricas e outros. Devido a esse crescente interesse se formou em 15 de março de 2003 o Comitê Brasileiro de Preservação do Patrimônio Industrial, composto por diversos profissionais das áreas de sociologia, história, arquitetura e outras. No ano seguinte o Comitê filiou-se ao TICCIH, passando a ter uma ação mais contundente para o estudo e preservação de nosso patrimônio industrial, além de reunir, em todo o país, trabalhos importantes e passar a se inteirar melhor das ações preservacionistas de outros países.

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CAPÍTULO 02 PATRIMÔNIO INDUSTRIAL EM RIO TINTO

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1

Panorama histórico da cidade de rio tinto Rio Tinto teve sua formação devido à instalação de uma indústria têxtil

em sua localidade, a Companhia de Tecidos Rio Tinto (CTRT), que foi concebida como uma maneira de expandir os empreendimentos da Companhia de Tecidos Paulista, localizada em Pernambuco, na cidade de Paulista. A Companhia de Tecidos Paulista6 foi fundada pelo comerciante e industrial sueco Herman Theodor Lundgren (Figura 02). Este chegou ao Brasil em meado do século XIX, aonde veio a residir em Recife, Pernambuco. Neste estado fundou uma fábrica de pólvora, a Pernambuco Powder Factory, comercializou cera de carnaúba, couro, produziu açúcar, e rumou para a indústria têxtil ao comprar a antiga fábrica de tecidos de Paulista. Após sua morte, em 1907, seus filhos passaram a administrar os negócios (PANET et al, 2002:25).

Figura 05: Herman Theodor Lundgren com a esposa e seus cinco filhos. Disponível em: . Acesso em: 09/2010.

A concepção da fábrica que originou Rio Tinto ocorreu a partir de 1917, quando Artur de Góis à mando de Frederico João Lundgren, um dos filhos de Herman Theodor Lundgren, chega à Mamanguape com o objetivo de comprar terras para implantação da fábrica. Também especulou a instalação da fábrica 6

De acordo com Miriam Panet (1994:24) ao saber de uma indústria de tecidos situada no município de Paulista, Pernambuco, que estava em péssimas condições financeiras, Herman Lundgren a compra (1924) e esta passa a ser a maior da região.

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têxtil em Macaíba, Rio Grande do Norte, mas a proposta do governador paraibano Camilo de Holanda de isenção do Imposto Estadual em vinte cinco anos fez com que Góis retornasse à Paraíba e comprasse por vinte e três Contos de Réis 660 km² de terras pertencentes ao antigo Engenho da Preguiça de propriedade de Alberto César de Albuquerque (FERNANDES, 1971: 26). As terras adquiridas ficavam a seis quilômetros de distância do núcleo da cidade de Mamanguape, cujas terras faziam parte. A escolha dessa área foi incompreendida pelos seus habitantes, pois se tratava de um local alagadiço (era somente doze metros acima do nível do mar e próximo aos rios Mamanguape, Rio Gelo e Rio Tinto) e empestado de mosquitos, entretanto possuía várias vantagens para instalação da fábrica que devem ter sido previstas pelos compradores. Entre os benefícios de sua localização podemos citar seus portos naturais que facilitavam o comércio para o exterior e outras partes do país, a vegetação nativa que forneceria lenha para o funcionamento das caldeiras da fábrica, além da isenção de impostos que, entretanto, obrigava a Companhia a fornecer serviços de saúde, educação e segurança a seus empregados. Além de tais vantagens da área onde a fábrica se instalou, acrescenta-se sua distância de outros núcleos urbanos, permitindo que dominasse o território e seus proprietários exercessem o controle que desejavam sobre os operários. Inicialmente o nome previsto para substituir o do Engenho da Preguiça era Nova Descoberta, mas ao trazerem um médico de Recife para analisar a qualidade da água do reservatório que abastecia o local, se surpreenderam com a coloração avermelhada da água e foram conferir sua situação indo até o rio fornecedor, como relata FERNANDES (1971:35): “Para lá se botaram. Assombro geral! Nem mesmo o Coronel Frederico quiz (sic) acreditar no que viu: pois as águas nascentes das cabeceiras do rio que chamava Vermelho, e tornou-se mais tarde Rio Tinto, eram quase da côr (sic) de sangue!”. Por isso, Frederico Lundgren decide trocar o nome de Nova Descoberta por Rio Tinto, permanecendo o local com esta denominação até hoje.

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A implantação da indústria se inicia em 1918, após um ano de prazo concedido ao antigo proprietário do local Alberto César de Albuquerque, para que se mudasse para outro local, período que coincide com o fim da Primeira Guerra Mundial. Primeiramente foram realizados os serviços de aterramentos, e também ocorreram atividades de desmatamento, drenagens e plantação de eucaliptos. Com a construção da Olaria Rio Tinto, que produzia tijolos e telhas, vão construindo as edificações da cidade que atenderia à indústria.

Figura 06: Antiga Olaria que produzia tijolos e telhas . Acesso em: 24/03/2011.

de

Rio

Tinto.

Disponível

em:

Segundo Rodrigues (2008), em 1922 a vila operária teria 2000 casas, das quais 700 já estavam prontas. A maioria eram casas geminadas de porta e janela aos moldes coloniais. Entre estas, PANET (2002:43) identifica a presença de oito tipologias diferentes, de acordo com suas plantas, fachadas e implantação. Além das casas geminadas dos operários, foram construídos chalés, para moradia dos funcionários mais importantes e graduados, que eram maiores e possuíam jardins e as mansões dos Lundgren, como o famoso “Palacete”.

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Figura 07: Diferentes tipos de habitações operárias encontradas em Rio Tinto. Fonte: PANET, 2009.

Também foram construídos equipamentos comunitários, como escolas, igreja, cinema, clubes recreativos, armazéns, delegacia, hospital, padaria. Possuía ainda um porto, serraria, oficina mecânica, fundição, usina termo elétrica e ferrovia privada. Em 24 de outubro de 1924 foi inaugurado o conjunto habitacional para os operários, e a fábrica teve sua inauguração em 27 de dezembro do mesmo ano (RODRIGUES, 2008).

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Rio Tinto vai se desenvolvendo juntamente com o progresso da fábrica, em 1948, tinha 2613 casas, uma população em torno de 19000 pessoas, a terceira maior da Paraíba, e uma das maiores arrecadações tributárias do interior nordestino (CORREIA, 2009).

Figura 08: Vista aérea de Rio Tinto no início da década de 1940. Fonte: Acervo da Companhia de Tecidos Rio Tinto.

Devido à sua grande influência, a Companhia conseguia interferir na política da região. Em 1955 foi eleito como prefeito de Mamanguape Francisco Gerbási, um dos diretores da fábrica. Estando no poder, deu início ao processo de emancipação da cidade de Rio Tinto, que em 1956 tornou-se independente de Mamanguape, embora já funcionasse de maneira autônoma. O período mais próspero da Companhia de Tecidos Rio Tinto foi durante o início dos anos 1960, fase de grande volume de exportações para a Europa e os Estados Unidos. Nessa época também foram surgindo na cidade movimentos populares progressistas, os operários passam a se organizar em sindicatos e lutar em busca de melhores condições de trabalho, ao mesmo tempo em que ocorriam demissões provocadas pela modernização das máquinas da fábrica, que necessitavam de menos funcionários para operá-las. Entre 1963 e 1964, mais de 2000 pessoas foram demitidas com a desativação de uma das tecelagens.

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Figura 09: Chegada de novas máquinas para a fábrica. Fonte: Acervo Antonio Luiz, década de 1960.

As máquinas novas conviviam com as antigas, promovendo uma desigualdade tecnológica entre os setores, fato que contribuiu para a queda de qualidade e prejudicou a produtividade geral da fábrica, que passava a se desvalorizar na concorrência com as fábricas do Sul do país. Aos poucos à Fábrica de Tecidos Rio Tinto vai sendo desativada, e encerra definitivamente suas atividades em 1983. O fechamento de antigas fábricas foi um fato decorrente nas últimas décadas do século XX. Como explica Graciela María Viñuales7, com a renovação geral a partir da computação, ocorreu uma nova mudança que abarcou todos os aspectos da produção, do transporte, do abastecimento e até mesmo o dos produtos, cuja demanda está em contínua revisão. Esta situação deu lugar a um novo panorama industrial que deixou obsoletas muitas instalações tanto nas periferias urbanas quanto em zonas rurais e vilas de antigas empresas. Mas as instalações não desapareceram, por todos os lados restam relíquias do que foi a atividade manufatureira e seus serviços e infraestrutura. Essas relíquias são as que nos apresentam com suas vilas, vias, postes, cabos, chaminés, sinais e todo tipo de edifícios e escombros de resíduos que formaram uma nova paisagem, como foi no caso de Rio Tinto. Atualmente, as posses da Companhia na cidade são administradas por um pequeno escritório local, e provém do recebimento do aluguel de 80% das casas de Rio Tinto, empregando, para tanto, em torno de 70 pessoas.

7

VIÑUALES, Graciela María. Olhares sobre o patrimônio industrial. Arquitextos, São Paulo, 08.091, Vitruvius, dez, 2007. Disponível em: . Acesso em: 09/2010.

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2.

Situação atual

A cidade de Rio Tinto ainda abriga todas as suas instalações da fábrica de tecidos e muitos dos edifícios coletivos com pouquíssimas alterações apesar do estado de conservação precário em que muitas se encontram, e seu desenho urbano original. Tal permanência de suas feições originais ocorreu devido à estagnação da cidade após o fechamento da fábrica em 1983, visto que o fato de basear sua economia em função da atividade industrial, onde até as habitações dos moradores pertenciam ao mesmo proprietário, não gerava necessidade de crescimento urbano e expansão em outros setores de atividades. Com o fim da fábrica, Rio Tinto precisa procurar novas alternativas econômicas. DANTAS (2009: 65) cita o comércio local como umas das novas atividades de interesse que tem maior desenvolvimento, embora não se desenvolvesse anteriormente, conforme é explicado a seguir: “Como o empregador sabia que seu maior rendimento estava no tecido produzido em sua indústria e não no consumo de seu operariado, os gêneros eram fornecidos à população com preços módicos [...] O comércio não precisava crescer”. (DANTAS, 2009:55)

Outras alternativas que surgiram para o desenvolvimento econômico do município foram a pequena indústria local

e a atividade agro-industrial,

assentada nas terras que os Lundgren venderam depois da falência de sua indústria. A maioria se destinava as destilarias de álcool, pois a cultura a cana de açúcar era favorecida pelos incentivos do Programa Nacional do Álcool (PROALCOOL), instituído em 1975, como alternativa a crise energética causada pela alta dos preços do petróleo no mercado externo (DANTAS, 2009: 67). Em 2006, Rio Tinto inicia um novo momento de desenvolvimento, com a instalação do Campus IV da Universidade Federal da Paraíba, o Centro de Ciências Aplicadas e Educação – CCAE, instituído através da Resolução nº 05/2006 de 17 de março de 2006. Este Campus conta com os seguintes cursos de graduação: Ecologia, Antropologia e Culturas Indígenas, Design, Ciências da Computação (licenciatura), Sistemas de Informação e Licenciatura em

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Matemática, e ainda abriga o Programa de Pós-Graduação em Antropologia (PPGA) e o curso de extensão em Ecodesing. Está localizado em uma área originalmente vazia dentro dos limites da Companhia de Tecidos Rio Tinto. Para este empreendimento estão sendo construídas novas edificações, ocupando também um antigo armazém de algodão, que passou a abrigar o bloco C de salas de aulas. Seu projeto (figura 10) prevê a construção de um novo portal de acesso exclusivo (no momento o aceso ao Campus se dá pela entrada da fábrica, como se vê na figura 11), blocos de aula, blocos de ambiente dos professores, bloco de vivência, centro administrativo, centro multimídia, centros acadêmicos, laboratórios, restaurante, blocos de residência, quadra poliesportiva e campo.

Figura 10: Planta do projeto do Campus IV da UFPB. Disponível em: . Acesso em: 05/2011.

Figura 11: Entrada da antiga Companhia de Tecidos Rio Tinto, onde atualmente funciona o Campus IV da UFPB. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2011.

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A inserção de um setor da Universidade Federal da Paraíba na cidade de Rio Tinto alimenta novas atividades geradoras de renda. Surge a oportunidade da população obter formação superior sem precisar ir até outros municípios, contendo dessa maneira o deslocamento de jovens em busca de tal chance de continuar os estudos, e ainda atraindo pessoas de outros municípios vizinhos e até da capital João Pessoa, não só como estudantes, mas também para as atividades de docência, e outros serviços imprescindíveis ao funcionamento do Campus. Além disso, a chegada de pessoas de outros lugares criou a necessidade de implantação de hospedagens, novas moradias, restaurantes, lanchonetes, copiadoras, papelarias, lan-houses, ou seja, uma gama de atividades subsidiárias à iniciativa educacional, muitas da quais eram antes inexpressivas. Essa nova vocação da cidade acarreta seu crescimento e alterações urbanas e arquitetônicas como demonstra DANTAS (2009: 75): “Com essa nova população na cidade, já são marcantes as alterações de uso em algumas das moradias existentes e a construção de outras, que passaram a oferecer hospedagem e alimentação aos estudantes”. Rio Tinto passa por um período de recuperação econômica após a decadência gerada pelo fechamento da fábrica, e o estabelecimento do Campus IV da UFPB contribui para o soerguimento do município. Entretanto, a inserção desse empreendimento nos terrenos da antiga fábrica, invés de ter sido uma boa oportunidade para a revitalização do espaço e restauro dos vários galpões desocupados, que poderiam ser utilizados como salas de aula, etc., utilizou-se de somente dois edifícios, sendo um deles (antigo escritório da CTRT) de uso temporário e que foi interditado em setembro de 2010 por desabamento de parte do telhado8, e o único usado atualmente (antigo armazém de algodão, ver figura 12), passou por algumas intervenções, como novas divisões internas, criações de mezaninos para aproveitar o grande pédireito e inserção de caixas de ar condicionado que descaracterizam sua feição original.

8

Informações noticiadas no site PORTAL CORREIO. Disponível em: . Acesso em: 11/2010.

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Figura 12: Antigo armazém de algodão, onde atualmente funciona um bloco de salas de aula do Campus IV da UFPB. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2011.

Enquanto há uma enorme área ociosa em grande parte da extensão ocupada pela antiga fábrica, a universidade, ao invés de contribuir para a preservação desse patrimônio, constrói novas edificações adotando uma estética que remete aos antigos galpões fabris, por serem volumes retangulares revestidos com cerâmica que possui aspecto de tijolo aparente com telhado de duas águas. Contudo, estes não possuem expressão autêntica, resultando em pastiches. Além disso, estas novas edificações são separadas por um muro baixo com gradil, que contribui ainda mais para a segregação do espaço e o abandono das construções tão importantes para a identidade e história da cidade, e até mesmo do estado em que se inserem.

3.

Patrimônio Industrial em Rio Tinto

A maioria do conjunto arquitetônico da vila industrial original de Rio Tinto foi construído entre a década de 1920 e 1940. Suas construções fabris e de uso coletivo são maioria em tijolos vermelhos aparentes, que proporcionam grande unidade formal entre elas. Além das edificações coletivas e da fábrica, também foram usados tijolos aparentes em alguns chalés dos funcionários mais importantes e no casarão onde residiam os Lundgren (conhecido como Palacete dos Lundgren), demonstrando uma hierarquia em relação às edificações dos operários, que eram pintadas com cal. A arquitetura de tais construções não se diferenciam somente pelo uso dos tijolos à vista. Enquanto as casas operárias se assemelham com as da

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arquitetura colonial brasileira (geminadas, porta e janela e telhado de duas águas, as construções de uso coletivo possuem características da arquitetura européia, resultando em construções bem diversas das de outras cidades da Paraíba (ver figuras 13 e 14).

Figura 13: Habitações dos operários. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2010. Figura 14: Exemplo de edificação de uso coletivo, a delegacia pública. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2010.

Entre os equipamentos de uso coletivo de Rio Tinto, se destacam por sua arquitetura a Igreja Santa Rita de Cássia, o Cinema Órion e o antigo Clube Regina. A Igreja Santa Rita de Cássia (Figuras 15 e 16) teve sua construção iniciada em 1923, mas só no início da década de 1940 que foi expandida e tomou as feições definitivas. Simétrica, possui uma alta torre que avança e marca a entrada, e janelas pontiagudas estreitas e compridas, que acentuam a verticalidade da construção. Apresenta uma cuidadosa decoração em tijolos cerâmicos em alto relevo, inclusive duas figuras que segundo moradores representam símbolos nazistas9, e também tijolos dispostos em forma de espiral, tanto no seu exterior, quanto no interior. Foi implantada em local de destaque da cidade, em frente à praça central.

9

O Jornal do Commercio (Recife, 20.11.2000) trouxe uma matéria intitulada “Lembranças do nazismo na Paraíba” que se refere à esses adornos em tijolo na igreja Santa Rita de Cássia. Disponível em: < http://www2.uol.com.br/JC/_2000/2011/cp2011_1.htm>. Acesso em: 11/2010.

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Figuras 15 e 16: Igreja Santa Rita de Cássia, fachada principal e interior. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2010.

Figuras 17 e 18: detalhes com tijolos em alto relevo na Igreja Santa Rita de Cássia. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2010.

O Cinema Órion (Figuras 19 e 20), inaugurado em 1944, ainda está em bom estado de conservação e é utilizado como casa de shows e festas, tendo sido removidas suas antigas cadeiras de concreto com assento e encosto em madeira para este uso atual . Sua coberta sustentada por tesouras de concreto que vencem um vão com cerca de 36 metros, era inovadora na região.

Figura 19: Cinema Órion, fachada. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2010. Figura 20: Cinema Órion, interior. Disponível em: . Acesso em 09/2010.

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Figura 21: Planta do Cinema Órion. Fonte: Cedida pela Companhia de Tecidos Rio Tinto. Figura 22: Detalhes em tijolo na platibanda Cinema Órion. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2010.

Esse era um dos poucos cinemas do interior do nordeste, e contava com 2300 lugares, em seus 2000 m². Sua fachada é constituída por um grande frontão triangular que foge às proporções clássicas, marquises, frisos e detalhes em tijolos, aberturas retangulares não simétricas e elementos escalonados. A edificação pertencente ao antigo clube Regina (Figura 23) abriga o Centro de Referência da Assistência Social. Seus elementos de destaque, além do trabalho com tijolos aparentes que aparece nos outros edifícios públicos, são as platibandas curvas e elementos vazados que formam grafismos interessantes.

Figura 23: Antigo Clube Regina, com detalhe dos elementos vazados. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2010.

Os Galpões das oficinas de manutenção e fundição (Figura 24) também têm arquitetura peculiar para a região. Ao contrário das edificações citadas anteriormente, estas não deixam os tijolos aparentes, são rebocadas e pintadas com cal. Sua estrutura interna é em concreto armado e sua fachada

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apresenta ornamentos geométricos em baixo relevo, aberturas retangulares encimadas por óculos. Sua fachada lembra a fachada principal do edifício da Escola de Artes Aplicadas de Weimar (1904), projeto de Henry van de Velde, pela platibanda curva, presença de óculo e aberturas quadradas com semelhante espaçamento entre elas.

Figura 24: Galpões das oficinas de manutenção e fundição e a Escola de Artes Aplicadas de Weimar. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2010. Disponível em:. Acesso em: 11/2010.

Em relação à conservação dos edifícios públicos de Rio Tinto, estes apresentam, em sua maioria, um bom estado de conservação, visto que continuam sendo ativamente frenquentados pela população, embora em alguns casos, tenham adquirido um novo uso, diferente do original, que acarretou em alterações em sua arquitetura, com ocorreu com o barracão (local onde os operários compravam alimentos e produtos que precisavam), hoje uma agência do Banco do Brasil. Como exceção, o edifício onde funcionava o SENAI está em arruinamento, assim como os galpões das oficinas de manutenção e fundição.

Figura 25: Exemplo de edificação que teve seu uso alterado e passou por modificações arquitetônicas: o antigo barracão, hoje agência do Banco do Brasil. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2011. Figura 26: Edifício onde funcionava o SENAI, em estado de ruína. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2011.

39

4.

A Companhia de Tecidos Rio Tinto A Companhia de Tecidos Rio Tinto, como relatado no inicio deste

capítulo, foi construída a partir de 1918, tendo sido inaugurada em dezembro de 1924 (RODRIGUES, 2008). Suas edificações fabris são construídas em tijolo aparente vermelho, assim como as demais edificações públicas e de maior importância da cidade. São compostas pelo depósito de algodão, fiação, tecelagem,

acabamento,

escritórios,

casa

de

força,

almoxarifados,

descaroçador e prensa de algodão, beneficiamento de algodão, depósitos de resíduos, reservatório de água e chaminés, num total de 64.209 m².

Figura 27: Vista aérea da Fábrica de Tecidos Rio Tinto ainda em funcionamento. Disponível em: . Acesso em: 11/2010.

De acordo com o estudo O Contexto Internacional para Sítios Têxteis10, desenvolvido pelo TICCIH, o galpão de tecelagem é muitas vezes considerado o protótipo da fábrica típica moderna, com tudo arranjado para facilitar o trabalho e a fiscalização. Desse modo também foi desenvolvida a arquitetura da fábrica em estudo, em grandes galpões, baseada na funcionalidade e 10

Este estudo comparativo foi elaborado pela Seção Especial de Interesse Têxtil da Comissão Internacional para a Conservação do Patrimônio Industrial (TICCIH). Disponível em: . Acesso em: 05/2011.

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economia como em outras fábricas do período. Seus galpões possuem planta retangular com grandes vãos livres, pé-direito alto e são todos térreos, provavelmente pela economia, e para aproveitar a grande área disponível para construção em seu terreno. De acordo com os padrões de arquitetura industrial que ocorrem no Brasil descritos por Hardman e Leonardi (1982:134), esta fábrica do Grupo Lundgren segue o padrão de arquitetura Britânica Manchesteriana, que é encontrada na indústrias construídas no início do século XX. Neste padrão aparecia a fachada típica de tijolos cerâmicos aparentes, estrutura sóbria e pesada e simetria de planos. A implantação das edificações que compõe a Companhia de Tecidos Rio Tinto no interior do seu lote não parece ter sido orientada por preocupações quanto à insolação ou ventilação que recebem, visto que no sentido sudeste, que recebe maior ventilação, foram construídos galpões que abrigam a parte de produção de energia, como geradores e caldeiras, que não ocupam tantos funcionários como na parte de fiação, por exemplo.

Figura 28: Planta da fábrica mostrado sentido da ventilação (setas azuis) e onde o sol nasce (amarelo) e se põe (laranja). Fonte: Acervo da CTRT (1981), editado pela pesquisadora, 2011.

Seu lote tem formato irregular, e possui somente um acesso, que se dá pela Rua da Mangueira. A partir deste portão principal, a fábrica foi estruturada em dois setores com diferente organização espacial entre si, sutilmente

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separados através da inserção de canteiros, que seguem um caminho reto da entrada até o fim do terreno (figura 29).

Figura 29: Planta da fábrica, com destaque para seus diferentes setores. Fonte: Acervo da CTRT (1981), editado pela pesquisadora, 2011.

Á esquerda da entrada (realçado em vermelho na figura 29) se localizavam a parte administrativa da fábrica, com o escritório geral, o antigo escritório e o almoxarifado, e também eram exercidas atividades secundárias á produção têxtil com a presença da oficina mecânica, oficina elétrica, serraria, departamento de segurança, departamento de combate ao incêndio, depósito geral, depósito de peças da tecelagem, e depósito de motores. Ainda se encontravam aí três armazéns de algodão. Essas atividades citadas estão reunidas em três compridos galpões retangulares, dispostos paralelamente à Rua da Mangueira e entre si. Diferentes destes, dois dos armazéns de algodão possuem planta em U, ocupando um pedaço mais quadrangular que retangular, assim como o antigo escritório, que fica nos fundos do terreno. Antes do antigo escritório, foi instalado um desses armazéns de algodão, um armazém com planta em U quase em sua frente, e o outro armazém de algodão, tem planta retangular, está implantado paralelo à Rua da Mangueira, só que invés de junto aos outros três grandes galpões, fica no limite nordeste do terreno deixando uma grande área vazia entre eles (destacada em laranja na figura 29), que deu lugar as edificações do Campus universitário.

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Do lado direito do portão de acesso foi onde foram construídos os galpões destinados a atividade de produção têxtil propriamente dita. Podiam-se encontrar galpões de diferentes tipos de tecelagem, de fiação, de preparação dos fios, de beneficiamento do algodão, de branqueamento, de inspeção dos panos, de embalagens, setor de engomadeiras, laboratório têxtil, tinturaria, entre outros ambientes necessários á fabricação de tecidos. Ainda nesse setor ficava a produção de energia da fábrica, com três grandes chaminés, geradores e caldeiras, e também reservatórios de água e um grande tanque para tingir os tecidos. Entre os galpões de tecelagem e de fiação se localiza um pátio (marcado em roxo na figura 29) com frondosas árvores, que ajudam a amenizar o clima e tornar o ambiente mais agradável. Este pátio atualmente está dividido por um muro. Percebe-se que este setor é mais denso que o anterior, com suas edificações bem agrupadas e próximas umas das outras.

4.1

Elementos fundamentais da arquitetura da CTRT

Neste trabalho procurou-se identificar os elementos que mais se destacam na arquitetura da Companhia de Tecidos Rio Tinto, e lhe diferencia das demais, ou seja, características recorrentes, que qualificam e oferecem caráter de identidade ao conjunto edificado fabril, e dessa maneira, são aquelas que devem ser preservadas quando tais construções forem passar por futuras intervenções. Muitas dessas características são comuns a outros conjuntos industriais surgidos no mesmo período pelo Brasil, como veremos a seguir, entretanto, devido á área em que se instalam, materiais de construção disponíveis, tecnologia local, entre outros motivos, cada caso guarda suas especificidades as quais procura-se ressaltar. Os elementos da arquitetura da Companhia de Tecidos Rio Tinto que irão ser estudados detalhadamente são: as coberturas, a vedação em tijolo aparente e as aberturas e esquadrias.

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 Coberturas FOTO ANTIGA GERAL As coberturas das edificações fabris da Companhia de Tecidos Rio Tinto são bastante expressivas e atuam como componente importante na expressão estética de todo o conjunto. Foram construídas sobre um alto pé-direito, e suas águas são bastante inclinadas o que faz com que chamem mais atenção.

Figura 30: Galpões de fiação. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2011.

De maneira geral, são de duas águas com lanternim, elemento recorrente em galpões fabris utilizado para se obter a iluminação e ventilação adequadas. Os lanternins aparecem de duas maneiras: com o vazio deixado pela elevação do telhado preenchido por elementos vazados em concreto prémoldado ou com essa elevação um pouco mais baixa e com o vazio exposto, se vendo só a estrutura de sustentação em madeira. Lanternim em concreto pré-moldado

44 Lanternim com estrutura em madeira

Figura 31: Diferentes tipos de lanternim encontrados na fábrica. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2011.

Os beirais são encontrados em vários galpões, como nos de fiação e de tecelagem. Ainda mais freqüentes são os alpendres, presentes em galpões de fiação, tecelagem, na serraria, e nos armazéns de algodão com planta em U. Para uma região de clima quente como Rio Tinto, estes componentes funcionam como uma boa alternativa contra a ação direta e constante do sol sobre o interior dos edifícios, e também para proteger as paredes da chuva.

Figura 32: Vista aérea (década de 1960) de armazéns de algodão com Alpendre. Fonte: Acervo da CTRT Figura 33: Galpão de tecelagem com beirais. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2010. Alpendre com estrutura em madeira e telhas canal. Mão francesa em ferro

Figura 34: Alpendre sustentado por estrutura de madeira, mão francesa e pilares metálicos (serraria). Fonte: Acervo da pesquisadora, 2011.

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Figura 35: Alpendre na antiga garagem e no setor de segurança. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2011. Lanternim Estrutura em concreto Estrutura em madeira

Figura 36: Alpendre na antiga garagem. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2011.

Alguns galpões possuem frontões diferenciados que apresentam arremate em concreto que por vezes aparece com forma bulbosa junto da cumeeira, como no galpão onde ficava o escritório. Lanternim Arremate do frontão em concreto Arremate do frontão em forma bulbosa Alpendre

Figura 37: Galpões onde funcionavam (da esquerda para a direita) escritório, depósito e almoxarifado. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2011.

Os galpões que abrigavam as atividades de preparação e as engomadeiras se diferenciam dos demais por possuir frontões semicirculares, que nos dão a idéia de falsas abóbadas.

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Lanternim Frontão semicircular

Figura 38: Galpão de engomadeiras. Fonte: pesquisadora, 2011.

preparação e Acervo da

Presume-se, pela verificação dessas telhas estarem mais desgastadas que as outras e por encontrar montes de telhas antigas entulhados, que no entelhamento original das coberturas das construções fabris foram usados quatro tipos de telhas diferentes: - Telha canal Eram fabricadas pela própria olaria dos Lundgren tendo por fôrma (de início) as pernas dos operários (DANTAS, 2009 apud FERNANDES, 2002). Podem ser encontradas em galpões por toda a fábrica de tecidos.

Figura 39: Croqui de telhas canal. Disponível em: . Acesso em: 06/2011. Figura 40: Telhas canal antigas da fábrica de tecidos. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2011.

Figura 41: Telhado com telha canal no antigo armazém de algodão. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2011.

- Telha francesa Atualmente foi quase toda substituída por telha de amianto. A telha francesa utilizada na Companhia de Tecidos Rio Tinto vinha da Fábrica de

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Cerâmica São João, localizada em Pernambuco. Esta fábrica pertencia ao pai do famoso ceramista Brennand, e foi desativada em 1945.

Figura 42: Croqui de telha francesa. Disponível em: . Acesso em: 06/2011.

Figura 43: Telhas francesas em alpendre do setor de tecelagem. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2011. Figura 44: Telhas francesas da produzidas pela Cerâmica São João da Várzea, encontradas entulhadas em galpão abandonado. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2011.

- Telha germânica As telhas germânicas são planas e suportam uma maior inclinação. Não foi encontrado outros registros de sua utilização em outras edificações da Paraíba construídas o início do século XX. Figura 45: Croqui de telha germânica. Disponível em: . Acesso em: 06/2011.

Figura 46 e 47: Telhas germânicas em galpão de tecelagem, com detalhe aproximando; e telhas germânicas entulhadas na fábrica. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2011.

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- Telha de vidro Possuem o mesmo formato das telhas germânicas, eram usadas para trazer uma maior iluminação natural para o interior dos edifícios. Atualmente foram substituídas por telhas de policarbonato. Não se conhece outras edificações construídas pela região nessa época que fizeram uso desse tipo de telha, assim, deve ter sido importada de outros lugares.

Figuras 48 e 49: Telhas de vidro entulhadas no chão de edificação fabril; interior de galpão com iluminação com telhas de policarbonato. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2011.

Em relação á estrutura de sustentação da cobertura, podem ser encontradas na Companhia de Tecidos Rio Tinto estruturas em três materiais diferentes: em madeira (mais comum pela Paraíba na época em que foi construída a indústria), estrutura metálica, e em concreto pré-fabricado, que representava uma grande inovação tecnológica para a região.

Tesouras em madeira

Figuras 50 e 51: Galpões com estrutura de coberta em madeira, mostrando dois tipos de arranjo das tesouras diferentes. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2011.

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As tesouras em madeiras são as mais usadas nos galpões fabris, estas possuem uma grande expressão visual, devido aos grandes vãos que tem que sustentar e ao alto pé-direito.

Figura 52: Foto da década de 1960, mostrando galpão com estrutura de coberta metálica. Fonte: Acervo Antonio Luis. Figura 53: Galpão com estrutura metálica. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2011.

A estrutura de cobertura em concreto pré-fabricado impressiona. Já foi moldada com elevação para lanternim. Lanternim

Figura 54: Telhado com tesouras em concreto. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2011.

Lanternim

Figura 55: Detalhe do telhado com estrutura em concreto. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2011.

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Vedação em tijolos aparente As vedações das edificações fabris foram construídas em tijolos

cerâmicos fabricados pela Olaria Rio Tinto, dos mesmos proprietários da fábrica. Estes tijolos foram deixados expostos, sem reboco, e a maneira em que são combinados proporcionam aos edifícios uma textura interessante, além da coloração avermelhada.

Figura 56: Galpão da CTRT, em tijolo cerâmico aparente. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2011.

Os tijolos foram dispostos alternando uma linha de tijolos de uma vez com outra sobreposta de meia-vez (invertido). Tal composição deixa a construção mais firme, além de ser interessante esteticamente.

Figura 57 e 58: Galpão da CTRT, em tijolo cerâmico aparente, com detalhe aproximado da imagem, onde se verifica a composição dos tijolos. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2011.

Se destacam na marcação das portas, janelas e óculos. Nos óculos o tijolo aparece entorno das aberturas no sentido invertido, na vertical, funcionando dessa maneira como uma verga. Também sobressaem como colunas adossadas as paredes, reforçando a estrutura. No galpão onde fica o

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almoxarifado existe uma parede em que os tijolos estão afastados uns dos outros, se comportando como elementos vazados, semelhante à cobogós. Figura 59: Galpão da CTRT, com óculo. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2011.

Figura 60: Nestes Galpões, além dos óculos, destaca-se o uso do tijolo formando friso, colunas adossadas com capitel e frontão triangular. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2011.

Por vezes os tijolos foram colocados salientes do restante da parede somente com função decorativa, com frisos e formando grafismos em alto relevo, o que demonstra uma preocupação estético-formal.

Figura 61: Neste Galpão da CTRT percebe-se a composição de tijolos formando grafismos. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2011.

A maneira em que o tijolo cerâmico é trabalhado lembra a que o arquiteto holandês Henrik Petrus Berlage emprega em suas obras. Influenciado

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pelo racionalismo estrutural proposto por Viollet-le-Duc, Berlage defende a primazia dos espaços e o uso dos tijolos expostos em seus escritos “Ante todo, la pared debe ser mostrada desnuda com toda su pristina belleza, y todo lo que se fije em ella debe ser eliminado como estorbo” (FRAMPTON, 1983:71). Invés de cobrir a parede e enfeitá-la com ornamentos diversos, Berlage deixava com os tijolos expostos, cuja textura e configuração ressaltando os elementos utilitários e reforçando a estrutura resultava no efeito decorativo de suas construções. 

Aberturas e esquadrias As aberturas são de formato retangular, as janelas, na maioria das

vezes, são ritmadas com mesma altura e distancia entre si, mas isto nem sempre ocorre.

Figuras 62 e 63: Galpões da CTRT com janelas ritmadas, com mesma altura e espaçamento. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2011.

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Figura 64: Galpões da CTRT com janelas ritmadas, com mesma altura e espaçamento. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2011.

Figuras 65, 66 e 67: Diversos Galpões da CTRT, com destaque para suas aberturas, posicionadas de acordo com a atividade a ser exercida em cada um. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2011.

A altura e tamanho das janelas são determinados pela função que se exerce no interior da edificação em que está presente. Também encontramos aberturas em forma de óculos em vários galpões.

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Figuras 68 e 69: Galpões da CTRT, que possuem óculos. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2011.

As janelas apresentam vidraças com caixilhos em ferro com linhas só quadriculadas ou quadriculadas e diagonais. Em alguns galpões, são fechadas com uma tela de ferro fixa.

Figura 70: Diferentes tipos de janelas encontradas nos Galpões da CTRT. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2011.

As portas em sua maior parte são feitas em chapa de ferro ou somente gradil de ferro, mas também podem ser encontradas em madeira, geralmente pintada.

55

Figura 70: Alguns tipos de portas encontradas nos Galpões da CTRT. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2011.

4.2

Situação de conservação e preservação atual da CTRT Das construções do núcleo original de Rio Tinto são justamente as

instalações da fábrica que estão mais degradas. Alguns galpões por estarem abandonados, já estão em processo de ruínas, sem a coberta, ou grande parte dela e com a estrutura comprometida. Mesmo os edifícios que estão sendo utilizados são alugados a diferentes empreendimentos, o que dificulta a manutenção de um tratamento uniforme bem como a conservação dos mesmos, já que não existe interesse dos locatários de despender maiores gastos com propriedades que não lhes pertencem. De modo geral, as antigas edificações fabris apresentam os seguintes danos em relação ao estado de conservação e preservação: 

Cobertura: o entelhamento das edificações está bastante degradado, a

maioria dos galpões não apresenta mais as telhas cerâmicas originais em todo o telhado. Em muitos galpões foram completamente substituídas por telhas de amianto, em outros pode-se encontrar a telha de amianto em partes do telhado junto com telhas cerâmicas, e também telhas metálicas e de policarbonato intercaladas para propiciar iluminação,alguns ainda mantêm as telhas originais, porém estando bastante danificadas. As cobertas que possuem estrutura de sustentação em madeira são as que mais sofrem, devido ao desgaste natural e aos cupins, que chegam a destruir as tesouras.

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Figuras 71 e 72: Galpões da CTRT com coberta degradada. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2011.



Aberturas: vários galpões vedaram com tijolos algumas janelas e portas

originais, e abriram outras em locais diferentes, resultando, em alguns casos, na interrupção do ritmo e linearidade que a composição de cheios e vazios de sua arquitetura apresentava. Em relação às esquadrias originais, maior parte em ferro e vidro, quando não foram removidas e substituídas por outras, estão enferrujadas e com as vidraças quebradas.

Figura 73: Galpão com aberturas vedadas. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2011.

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Vedação em tijolos cerâmicos: se encontram bem preservadas,

mantendo-se os tijolos à vista no exterior e rebocados e pintados de branco no interior, como originalmente, entretanto, nas edificações abandonadas, a conservação está deficiente, os tijolos estão desgastados e assim como a argamassa das juntas entre eles.

Figura 74: Galpão em ruínas com alvenaria de tijolos danificada. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2011.



Espacialidade: A organização espacial original da fábrica têxtil teve

algumas alterações devido à inserção de muros que repartem seu terreno – um extenso muro construído com a intenção de segregar os galpões alugados, e os muros e gradis que separam o Campus VI da UFPB do restante do empreendimento fabril. Além dos muros, as novas edificações construídas para a universidade alteram a antiga percepção de espaço, densificando uma área originalmente vazia. Quanto à espacialidade interna dos galpões (grandes vãos livres), se mantém integra em sua maioria, tendo as principais alterações ocorridas naqueles que sofreram intervenções para o uso da UFPB.

Figuras 75 e 76: Interior do Galpão da CTRT, que sofreu intervenção para abrigar salas de aula (à esquerda) e novos edifícios do Campus VI da UFPB. Fonte: Acervo da pesquisadora, 2011.

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Percebemos que deve haver uma maior atenção á esse patrimônio tão importante, não só como registro de arquitetura, mas do início da industrialização da Paraíba e como monumento de identidade para a cidade de Rio Tinto.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a finalização desta pesquisa, foi compreendido que as instalações fabris da Companhia de Tecidos Rio Tinto tem sua composição atreladas ao seu aporte tecnológico, e às funções que seriam desenvolvidas em seu interior, determinando o tamanho dos galpões, por exemplo, e a quantidade de aberturas. Sua arquitetura é baseada na funcionalidade e economia como em outras fábricas construídas no início do século XX, como por exemplo, as edificações das Fábricas Matarazzo do interior de São Paulo. Uma das características mais marcante, onde reside o diferencial da arquitetura de Rio Tinto é a expressão construtiva do tijolo cerâmico deixado aparente, que é usado como material de vedação e trabalhado de maneira estrutural. O arranjo dos tijolos revela um cuidadoso trabalho de estereotomia, e uma preocupação estética em seu projeto além das decisões de ordem funcional. As coberturas também são muito importantes na percepção geral do conjunto edificado fabril, aparecem de diversas formas, incorporaram novas tecnologias ainda pouco usadas na região na época de sua construção, como as tesouras em concreto pré-fabricado, e caracterizam os volumes dos edifícios com pés-direitos altos e águas bem inclinadas. A presença freqüente dos alpendres nos galpões cria espaços de transição e sombra, deixando os ambientes mais agradáveis. Essa maneira em que são usados os tijolos expostos e de como se apresenta as coberturas podem ter sido herdado pelos vários funcionários estrangeiros que foram contratados pela fábrica (cerca de oitenta famílias vieram da Alemanha), como o construtor alemão Guilherme Jacob que ocupou o cargo de Chefe de Obras da Companhia de Tecidos Rio Tinto (FERNANDES, 1971:89). Identificou-se que atualmente, o patrimônio arquitetônico da Companhia de Tecidos Rio Tinto está bastante degradado. Alguns edifícios já estão em processo de arruinamento, onde na maior parte dos casos a cobertura é a parte mais danificada da construção, por vezes, já totalmente destruída.

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Seus

edifícios

também

sofreram

várias

intervenções,

que

descaracterizaram suas feições originais, por meio de vedação de aberturas, o que compromete a percepção dos cheios e vazios, uso de outras telhas, novas esquadrias, inserção de caixas de ar condicionado, e implantações de novas construções alterando a organização espacial original, entre outras. Espera-se que com o decreto de tombamento desse conjunto fabril que está em processo, as intervenções futuras passem a ser melhor estudadas, regulamentadas e monitoradas, e que promovam projetos de restauração e revitalização, para que haja realmente uma efetiva preservação desse conjunto de edificações fabris que possuem características únicas no estado da Paraíba e até na região, representando um marco na industrialização do estado, que serve como documento desse processo histórico industrial, do trabalho operário, da arquitetura que era produzida, e como símbolo para a população que fortalece a identidade da cidade de Rio Tinto.

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ANEXOS

- Planta baixa e corte da Igreja Santa Rita de Cássia

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