«Património tipográfico no Algarve: memória da escrita». Cultura Sul, n.º 73, Setembro/2014.

May 31, 2017 | Autor: P. De Jesus Palma | Categoria: Print Culture, Cultural Heritage, History of Typography, Typographical Heritage
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PALMA, Patrícia de Jesus – «Património tipográfico no Algarve: memória da escrita». Cultura Sul, n.º 73, Setembro/2014.

Património tipográfico no Algarve: memória da escrita Patrícia de Jesus Palma CHC, FCSH-UNL Bolseira da FCT A categoria património tipográfico será certamente pouco conhecida e, no entanto, desde há cinco séculos que este património está no centro do longo processo de democratização e massificação da escrita. Em Portugal, a expansão tipográfica, com alcance verdadeiramente nacional, só aconteceu ao longo do século XIX através da instalação de casas de impressão por todas as províncias, sobretudo a partir da criação dos Governos Civis (1835), que as montaram nas suas secretarias para fazer face às necessidades burocráticoadministrativas crescentes. O Algarve, depois de ter entrado para a história da tipografia nacional por aqui ter sido impresso o Pentateuco (Faro, Samuel Gacon, 30.6.1487), integrou novamente a rede de centros de produção tipográfica em 1808, por altura das invasões francesas, dando um contributo deveras importante para a restauração da independência portuguesa e espanhola. Na verdade, o primeiro periódico da actual província de Huelva, a Gazeta de Ayamonte (18.7.181013.3.1811?), criado como instrumento de combate ao órgão de propaganda francês, a Gazeta de Sevilha, foi impresso em Faro, na oficina de D. José Maria Guerrero, que então se encontrava ao serviço da Junta de Governo do Algarve. Mas, a tipografia, tendo um papel crucial neste decurso, deve ser incluída num conjunto mais vasto de espaços por onde a cultura escrita impressa se dissemina e é apropriada por uma cada vez maior diversidade de leitores, de ouvintes e de espectadores. É assim que, ao longo de Oitocentos, a par das tipografias, vemos surgir no Algarve os gabinetes de leitura, as sociedades patrióticas, as filomáticas, a emergência da imprensa periódica, as sociedades teatrais, as de recreio e de instrução, as bibliotecas populares, as lojas de venda de livros e de periódicos… Ou seja, todo um conjunto de espaços de sociabilidade, de projectos e de iniciativas que têm na promoção da palavra escrita, enquanto meio de emancipação individual, um dos seus principais objectivos e demonstram, em especial, a existência de uma rede por onde a cultura das letras se dissemina e fortalece.

Se muitos destes lugares não são recuperáveis, outros há que o são, assim como os testemunhos dos seus protagonistas. É o caso das tipografias tradicionais que ainda subsistem na região, embora, na maioria dos casos em acumulação com os novos equipamentos gráficos. Mas há ainda resistentes: é o caso da Tipografia Minerva do Comércio, no n.º 45 da rua 5 de Outubro, em Portimão, que continua a compor e a imprimir manualmente com as máquinas que, em 1926, fundaram a casa. Em todas as situações, estão à guarda de profissionais que têm nas suas mãos um saber com mais de quinhentos anos de existência. Prelos, cavaletes, tipos, máquinas de coser, de picotar e vincar, prensas para gravuras, guilhotinas, toda a maquinaria e documentação que compõem uma oficina tipográfica têm valor histórico. Um valor que deve ser preservado e promovido. Um espaço que é lugar de memórias e de memória da cultura escrita e do impresso.

Oficina Tipográfica: gravura de Jan van der Straet editada por Philip Galle, ca. 1590. © BNP P.I. 27116 P.

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