Paula Rego, texto lido por ocasião do Doutoramento Honoris Causa

June 7, 2017 | Autor: Luisa Arruda | Categoria: Women and Gender Studies
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MAGNIFICO REITOR DA UNIVERSIDADE DE LISBOA, ILUSTRES MEMBROS DO CLAUSTRO
UNIVERSITÁTIO, EXMAS. AUTORIDADES, EXMAS. SENHORAS E SENHORES,

Paula Rego nasceu em Lisboa, sendo a St. Julian's School de Carcavelos a
sua primeira escola. Estudou Arte na Slade School of Art, entre 1952 e
1956. De 1957 a 63 viveu na Ericeira com o seu marido o pintor Victor
Willing e os filhos. Em 62 -63 é bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian.
Até 1975 vive entre Londres e Portugal. Seguidamente radica-se em Londres,
mantendo, até aos dias de hoje, a sua casa no Estoril.

Paula Rego está representada nas mais prestigiadas colecções: British
Council, British Museum, Colecção Berardo, Fundação Calouste Gulbenkian,
National Gallery, National Portrait Gallery, Museu da Presidência da
República, Museu de Serralves, Saatchi Gallery , Tate Modern, e,
finalmente na Casa das Histórias Paula Rego em Cascais, inaugurada em 2009.

Desde a sua primeira exposição individual em 1965 na Sociedade Nacional de
Belas Artes Lisboa, o seu trabalho tem sido exibido em galerias e museus de
todo o mundo. Enumeramos as grandes retrospectivas: Tate Gallery, Liverpool
, Serpentine Gallery, Londres em 1997; Centro Cultural de Belém, Lisboa,
1997; Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1999; Museu Serralves, Porto,
2004; Museo Nacional Rei«na Sofia, Madrid, 2007.

É imenso o interesse que a obra de Paula Rego tem despertado na
investigação e na crítica de que destacamos entre os autores portugueses
Alexandre Pomar e João Fernandes e internacionalmente John McEween,
Germaine Greer, Fiona Bradley e Ruth Rosengarten.

O Presidente Jorge Sampaio concedeu-lhe, a Grã-Cruz da Ordem de Sant'Iago
da Espada, em 2004 e em 2010 a Rainha inglesa nomeou-a Dame Commander of
the Order of the British Empire.

É Honorary Doctor pelas Universidades de St. Andrews da Escócia e de East
Anglia em Norwich, pela Rhode Island School of Design nos EUA , pelo London
Institute, pelas Universidades de Roehampton e de Oxford e ainda pelo Royal
College of Art em 2008, a que agora se junta o titulo de Doutora Honoris
Causa pela Universidade de Lisboa.

Olhando a obra de Paula Rego descobre-se o absoluto poder do desenho, nos
seus diferentes modos, como forma de expressão, como mediador da
comunicação.

Há uma dimensão física e simultaneamente uma dimensão fenomenológica
no fazer do desenho dos grandes mestres que se revela na obra de Paula
Rego.

Por detrás dos temas, estruturando as cenas e as personagens – descobrem-se
os actores do desenho.

Impera o papel como suporte de um número significativo de obras que são
montadas em tela ou alumínio, apuro técnico invisível que lhes confere um
outro estatuto, talvez o da pintura, se quisermos ou mesmo se for
necessário atribuir territórios distintos às obras de arte, na verdade hoje
sem fronteiras definidas.

Também o uso de instrumentos que riscam, a tesoura e a cola, pincéis
que foram mergulhados em águas coloridas, ou na tinta-da-china, os paus de
pastel, e sempre o gestos do desenho, o barulho de riscar, as manobras da
gravura ou da litografia, os cheiros, enfim a escrita, representam os
materiais e os actos do desenho.

Confrontar o desenho, ensaiar novas formas de desenhar, de
testar e repensar temas do desenho intemporal constitui uma marca das
diferentes fases do trabalho de Paula Rego.

O Desenho parece ressurgir transmutado de cada vez que o trabalho da
pintora se vira para uma nova série temática, como foi afirmado num
trabalho académico de Belas Artes sobre a pintora.

Não havendo hoje espaço para referir todas as fases e nuances da obra
de Paula Rego, lembramos as colagens, montagens a partir de desenhos
cortados, técnica de desenho inventada por Picasso e Braque, depois
integrada em obras de pintura e revolucionando a nossa forma de olhar. O
desenho como trabalho de fazer, desfazer, refazer, alicerce e estrutura da
obra de Paula Rego.

Deixando de cortar os desenhos, a pintora, dá vida a figuras e de
gente e animais em acção que se instalam em cada vez maiores escalas, em
escalas de muro, como na extensa série de Óperas, ou no Proles Wall.

Este célebre tema dos anos oitenta expõe a Casa das Histórias de
Cascais de Paula Rego numa revisitação justamente inaugurada ontem,
paralelamente a uma escolha de obras do Brithis Council que a artista
intitula My Choice, permitindo que surpreendamos, de outro modo, seu o
pensamento artístico.

Mais tarde a pintora mergulha numa fase de que revela a sua paixão
pelo desenho de modelo vivo, um desenho absolutamente fundador pela nova
visão das atitudes em que representa o corpo feminino e também o corpo
masculino.

O corpo feminino ganha uma monumentalidade poderosa enquanto que o
corpo masculino é visto sob a perspectiva feminina, questionando o seu
poder. Vejam-se a este propósito as séries do Crime do Padre Amaro ou o
Jardim de Crivelli.

Abandona, nesta época, a composição da superfície bidimensional para se
lançar na tridimensionalidade. Conquista o espaço, traçando linhas que
separam o plano horizontal dos planos verticais e linhas de horizonte Ao
mesmo tempo as personagens actuam em espaços paisagísticos e interiores
cada vez mais complexos, em que a construção da luz e da sombra, sobretudo
das sombras projectadas jogam um papel decisivo, como na Filha do Polícia.
Teatral ou cinematograficamente as cenas ganham outras escalas e novas
propostas artísticas.

Eleito como material exclusivo, o pastel permite elaborar os efeitos
da carnação, como na série da Mulher Cão, e efeitos dos panejamentos, dos
tecidos, das texturas dos objectos que inclui nos seus cenários que vemos
no Anjo ou na séries das Avestruzes Dançando.

Paula Rego dedica-se intensamente à gravura numa obra que remete para
a ilustração literária e para temáticas que lembram os Caprichos de Goya.
Os caprichos como lugar de absoluta liberdade de expressão e ao mesmo tempo
de grande precisão e mestria técnica.

Cumpre ainda ver na obra de Paula Rego o extenso conjunto de desenhos
avulsos de pequeno formato ou médio formato que se relacionam com as suas
Séries, desenhos de fragmentos de obras maiores, desenhos que nos surgem
como primo pensiero, lançados no papel como registo de ideias, em suma, o
conjunto de obras que reconstituem o raciocínio artístico de Paula Rego.

Os estudos executados sob a pressão ou a urgência do risco, num
trabalho intenso de pesquisa em laboratório, como diria o escultor
setecentista Joaquim Machado de Castro, representam a evolução do
pensamento plástico de Paula Rego tornado visível. O Desenho como acto de
fazer, o desenho como forma de pensamento.
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