PEDRO (PAULO E ESTEVÃO)

May 29, 2017 | Autor: Candice Gunther | Categoria: Apostle Paul and the Pauline Letters, Espiritismo, Apostolic Fathers
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ESTUDO DO LIVRO PAULO E ESTEVÃO

PEDRO Lições Evangélicas dos Apóstolos no livro Paulo e Estevão Candice Günther 02/10/2016

Estudo sobre o Apóstolo Pedro, tendo como ponto de partida as referências encontradas no livro Paulo e Estevão. Utilizamo-nos, também, da obra de Humberto de Campos e das Epístolas de Pedro, comentadas por Emmanuel, psicografia de Chico Xavier

As lições evangélicas dos Apóstolos no livro Paulo e Estevão Pedro - Parte 1

Este estudo consiste em pincelarmos dizeres e pensamentos dos Apóstolos no livro Paulo e Estevão e, a partir deles, sondarmos seu conteúdo moral, em estudo que visa o aprimoramento da alma, um caminhar mais sólido e consciente sob as luzes do Cristo. Partiremos do livro Paulo e Estevão e nos socorreremos de lições trazidas por Humberto de Campos, Cairbal Schutel, entre outros, bem como sondaremos, nesta etapa, os dizeres do próprio Pedro, que nos deixou duas epístolas no Novo Testamento. Iniciamos com Pedro, um simples pescador, nascido em berço humilde e rústico em Betsaida, tocado pelo Cristo de tal forma que segue até hoje como um dos maiores ícones do cristianismo. Para muitos um Santo, mas e para nós, espíritas, quem é Pedro? Olhar suas falas, pensamentos, dúvidas, inquietações nos parece um bom caminho para refletir e aprender a fim de que nós outros também sejamos tocados por este amor sem igual . A primeira aparição de Pedro no livro Paulo e Estevão é quando Jeziel, muito doente, é levado à Casa do Caminho. Pedro e Tiago atendem a porta e lhes é solicitado o atendimento de dois doentes. Tiago argumenta que estão lotados, que não é possível receber mais ninguém, porém, a fala de Pedro é diferente. Vejamos um trecho do livro Paulo e Estevão: “Pedro esboçou um sorriso generoso e obtemperou: — Ora, Tiago, se estivéssemos pescando, seria justo nos eximíssemos desse ou daquele dever que exorbitasse a esfera das obrigações inadiáveis de cada dia, junto da família, cuja organização vem de Deus; mas agora o Mestre nos legou o trabalho de assistência a todos os seus filhos, no sofrimento. Presentemente, nosso tempo se destina a isso; vejamos, pois, o que é possível fazer. E o bondoso Apóstolo adiantou-se para acolher os dois infelizes.” A palavra de Pedro nos remete a acolhimento, a caridade que dá de si sem reservas. E eis o primeiro momento em que se faz necessário pensarmos: e se fosse conosco? E se alguém nos viesse pedir auxilio, socorro, e soubéssemos que estamos no limite de nossa força, de nossa capacidade, o que faríamos? A atitude de Tiago é perfeitamente admissível, afinal, como acolher se não há condições para bem atender? Eis um pensamento da razão. Pedro, porém, vai além, confia e tem fé de que haverá algo a ser feito. Eis um pensamento do coração. Perceber esta distinção nos permite sondarmos o nosso mundo interior para constatarmos por onde estamos transitando, eis que é necessário um equilíbrio entre estas duas forças notáveis que regem as nossas vidas: a razão e os sentimentos. Sem dúvida, precisamos dos dois para vivermos, há momentos, porém, em que precisaremos deixar o coração comandar, como Pedro o

fez. Não obstante a carência material, ele teve fé e confiança que algo poderia ser feito pelos desassistidos. Mas será que Pedro sempre foi assim generoso? Ou teria sido um ensinamento do Cristo para o seu espírito? No livro Luz Acima de Humberto de Campos, na lição 36, temos uma história similar, em que Pedro é procurado para assistir a uma pessoa. Uma mulher infeliz procura auxílio e vai até Pedro. Vejamos a lição em sua íntegra: “Logo depois de se estabelecerem os apóstolos em Jerusalém, em seguida às revelações do Pentecostes, ia o serviço de assistência social maravilhosamente organizado, não obstante as perseguições que se esboçavam, quando a casa acolhedora, dirigida por Simão Pedro, foi procurada por infeliz mulher. Trazia consigo todos os estigmas das pecadoras. Fora lapidada e exibia manchas sanguinolentas na roupa em frangalhos. Pronunciava palavras torpes. Revelava-se semilouca e doente. As senhoras do reduto cristão retraíram-se, alarmadas. E o próprio Pedro, que recebera preciosas lições do Senhor, vacilou quanto à atitude que lhe seria adequada. Como haver-se nas circunstâncias? Destinava-se aquele abrigo ao recolhimento de criaturas desventuradas; entretanto, como classificar a triste posição daquela mulher que, naturalmente, buscara o vaso da angústia nos excessivos gozos da vida? Não estaria a sofredora resgatando os próprios débitos? Se bebera com loucura na taça dos prazeres, não lhe caberia o fel da aflição? Dispunha-se a rogar-lhe que se afastasse do asilo, quando recordou a necessidade de orar. Se o caso era omisso nas disposições que regiam o instituto fraterno, tornava-se imperioso consultar a inspiração do Messias. O Mestre lhe ditaria o recurso. Buscar-lhe-ia, por isso, o conselho na prece ardente. Enquanto a infortunada aguardava resposta, sob o apupo de pequena multidão que lhe contemplava as feridas, o apostolo buscou a solidão do santuário doméstico, e exorou a proteção do Amigo Divino, que fora crucificado. Em breves instantes viu Jesus, nimbado de claridade resplandecente, não longe de suas mãos, que se estenderam suplicantes: - Mestre - rogou Pedro, atacando diretamente o assunto, como quem sabia da brevidade daqueles momentos inesquecíveis -, temos à entrada uma pecadora reconhecidamente entregue ao mal! Ajuda-me, inspira-me!... que farei?!... O Salvador entreabriu os lábios sublimes e falou: - Pedro, eu não vim curar os sãos... O discípulo entendeu a referência, mas, ponderando a grave responsabilidade de quem administra, acentuou: - Senhor, estamos agora sem tua orientação direta e visível. Recebê-la-emos neste lar, para que? A fim de julgá-la? Com o mesmo olhar sereno, Jesus replicou: - Nesse mister permanecem na Terra numerosos juizes. - Para fazer-lhe sentir a extensão dos erros? - indagou Simão, em lágrimas. - Não, Pedro - tornou o Mestre -, para dar-lhe conhecimento da penúria em que vive, conta nossa irmã, nas vias públicas, milhares de bocas que amaldiçoam e outras tantas mãos que apedrejam.

- Para conferir-lhe a noção do padecimento em que se mergulhou por si mesma? - Também não. Em tarefa ingrata como essa, vivem aqueles que a exploram, dando-lhe fome e sede, pranto e aflição... - Para dizer-lhe das penas que a esperam neste e no “outro mundo”? - Ainda não. Nesse labor terrível respiram os espíritos acusadores, que não hesitam na condenação em nome do Pai, olvidando as próprias faltas... O ex-pescador de Cafarnaum, então, chorou, súplice, porque no íntimo desejava conformar-se com os ditames da justiça, exemplificando, simultaneamente, com o amor que o Cristo lhe havia legado. Arquejava, soluçante, ignorando como prosseguir nas indagações, mas Jesus dele se acercou, iluminado e benevolente... Enxugou-lhe as lagrimas que corriam abundantes e esclareceu: - Pedro, para ferir e amaldiçoar, sentenciar e punir, a cidade e o campo estão cheios de maus servidores. Nosso ministério ultrapassa a própria justiça. O Evangelho, para ser realizado, reclama o concurso de quem ampara e educa, edifica e salva, consola e renuncia, ama e perdoa... Abre acesso à nossa irmã transviada e auxilia-a no reerguimento. Não a precipites em despenhadeiros mais fundos... Arranca-a da morte e traze-a para a vida... Não te esqueças de que somos portadores da Boa Nova da Salvação!... Logo após, entrou em silêncio, diluindo-se-lhe a figura irradiante na claridade evanescente da hora vespertina... O apóstolo levantou-se, deu alguns passos, atravessou extensa fileira de irmãos espantados, abriu, de manso, a porta e dirigiu-se à mulher, acolhedor: - Entre, a casa é sua! - Quem sois? - interrogou a infeliz, assombrada. -Eu? - falou Pedro, com os olhos empapuçados de chorar. E concluiu: - Sou seu irmão.” Quando Pedro refreou seu primeiro impulso, que seria negar o acolhimento à mulher infeliz, e buscou o Mestre para iluminar seu coração, trouxe-nos uma lição magnífica e muito importante. Cristo nos lembra que somos irmãos e que se abraçamos o ideal cristão é preciso que saibamos que estamos no mundo para amparar e educar, edificar e salvar, consolar e renunciar, amar e perdoar...nas palavras do próprio Mestre. Talvez, não fosse este dia em que é procurado por esta mulher e aprende algo tão significativo, tivesse negado hospedagem a Jeziel. Conseguimos perceber o encadeamento dos fatos? Imaginemos por um instante, Pedro negando a hospedagem a Estevão...ele seria abandonado a própria sorte e, considerando a estado em que estava, provavelmente desencarnaria. Ocorrendo isto, Paulo não romperia com Abigail e a estrada de Damasco jamais existiria...nem Paulo, nem suas cartas... É certo que o Cristo nos busca de muitas formas e não desistiria de Jeziel ou mesmo de Paulo, mas é interessante andarmos um pouco pelo mundo das conjecturas para percebermos que existem sutilezas que nos passam desapercebidas.

A ação de Deus em nossas vidas é permeada de um amor tão profundo, silencioso, humilde que não raro deixamos de percebê-lo. Quem iria pensar que todo este mundo de conhecimento trazido por Paulo através de suas cartas, poderia não existir, não fosse uma mulher infeliz que ensinou a Pedro a amá-la como irmã? A lição é profunda e o texto de Humberto de Campos é um campo fértil para revermos pensamentos e ações diante dos infortunados. As pequenas ações do nosso cotidiano são muitas vezes desprezadas e colocadas em segundo plano, mas é justamente nestes pequenos atos de acolhimento e fraternidade que Deus nos ensina sobre o amor dEle para com suas criaturas. O exemplo do estudo é da caridade material, que é importante e necessária, ainda hoje. Mas não fiquemos adstritos a ela, eis que o momento é oportuno para que façamos considerações mais profundas. Apenas para exemplificar, estamos aptos a considerar os políticos corruptos como Pedro aprendeu a considerar aquela mulher infeliz? Nossas palavras e pensamentos são de amparo e fraternidade? Em algum momento doamos o nosso tempo para orarmos por eles? E aquele irmão que anda em desengano, usando a palavra para ferir e caluniar, conseguimos vê-lo como doente da alma e o acolhemos em nossos corações como um irmão necessitado? Saberemos nos deixar envolver pelas lições do Cristo para também a TODOS chamarmos de irmãos? Certamente, ainda temos grande dificuldade em amarmos com tamanha abnegação, mas sabermos que ela existe pode nos auxiliar e nos inspirar a assumirmos o firme compromisso de tentar. O caminho do amor nunca foi tentado pela humanidade como uma solução para os problemas que a afligem. Ainda caminhamos pela desdita, pela vingança, pela desforra. Quando, porém, tentaremos colocar em prática esta proposta que nos foi feito há 2000 anos? Pedro nos mostra que há um passo fundamental para alcançar este ensinamento, colocarse em prece, buscar inspiração do alto, rogar as luzes de Jesus para que tenhamos o correto entendimento das ações que devemos realizar. A apóstolo do Cristo nos deixou duas epístolas, I e II Pedro. Na primeira encontramos uma lição que se coaduna com o nosso estudo, Pedro nos conclama a nos amarmos ardentemente e com o coração puro, a lição é comentada por Emmanuel e é com ela que encerramos nosso estudo de hoje. Livro Vinha de Luz, lição 90:

De coração puro “Amai-vos ardentemente uns aos outros com um coração puro.” - (I Pedro, 1:22.) Espíritos levianos, em todas as ocasiões, deram preferência às interpretações maliciosas dos textos sagrados.

O “amai-vos uns aos outros” não escapou ao sistema depreciativo. A esfera superior, entretanto, sempre observa a ironia à conta de ignorância ou infantilidade espiritual das criaturas humanas. A sublime exortação constitui poderosa síntese das teorias de fraternidade. O entendimento e a aplicação do “amai-vos” é a meta luminosa das lutas na Terra. E a quantos experimentam dificuldade para interpretar a recomendação divina temos o providencial apontamento de Pedro, quando se reporta ao coração puro. Conhecem os homens alguns raios do amor que não passam de réstias fugidias, a luzirem através das muralhas dos interesses egoísticos, porque a maioria das aproximações de criaturas, na Crosta da Terra, inspiram-se em móveis obscuros e mesquinhos, no terreno dos prazeres fáceis ou das associações que se dirigem para o lucro imediatista. O amor a que se refere o Evangelho é antes a divina disposição de servir com alegria, na execução da Vontade do Pai, em qualquer região onde permaneçamos. Muita gente afirma que ama, contudo, logo que surjam circunstâncias contra os seus caprichos, passa a detestar. Gestos que aparentavam dedicação convertem-se em atitudes do interesse inferior. Relativamente ao assunto, porém, o apóstolo fornece a nota dominante da lição. Amemo-nos uns aos outros, ardentemente, mas guardemos o coração elevado e puro. Que possamos refletir e buscar, ardentemente, este amor maior, permitindo que ele nos conduza e no impulsione. Abraços fraternos. Campo Grande-MS, 19 de junho de 2016. Candice Günther.

As lições evangélicas dos Apóstolos no livro Paulo e Estevão Pedro - Parte 2

“E qualquer que entre vós quiser ser o primeiro seja vosso servo.” — Jesus

Comecemos o estudo com um trecho do livro Paulo e Estevão: “Desde que viera do Tiberíades para Jerusalém, Simão transformara-se em célula central de grande movimento humanitarista. Os filósofos do mundo sempre pontificaram de cátedras confortáveis, mas nunca desceram ao plano da ação pessoal, ao lado dos mais infortunados da sorte. Jesus renovara, com exemplos divinos, todo o sistema de pregação da virtude. Chamando a si os aflitos e os enfermos, inaugurara no mundo a fórmula da verdadeira benemerência social. As primeiras organizações de assistência ergueram-se com o esforço dos apóstolos, ao influxo amoroso das lições do Mestre. Era por esse motivo que a residência de Pedro, doação de vários amigos do “Caminho”, regurgitava de enfermos e desvalidos sem esperança. Eram velhos a exibirem úlceras asquerosas, procedentes de Cesaréia; loucos que chegavam das regiões mais longínquas, conduzidos por parentes ansiosos de alívio; crianças paralíticas, da Iduméia, nos braços maternais, todos atraídos pela fama do profeta nazareno, que ressuscitava os próprios mortos e sabia restituir tranquilidade aos corações mais infortunados do mundo. Natural era que nem todos se curassem, o que obrigava o velho pescador a agasalhar consigo todos os necessitados, com carinho de um pai.” Eis uma informação preciosa que Emmanuel nos traz: Pedro como célula central, como um líder de um grande movimento humanitarista. Existem alguns trechos do Evangelho, em especial no livro de Atos dos Apóstolos, escrito por Lucas, que nos permitem a certificação desta liderança, mas não apenas isto, nos auxilia a entender como era o próprio movimento humanitarista a que Emmanuel se refere. Olhar a postura de Pedro diante dos diversos problemas que ocorriam também é um caminho de grande valia para todo aquele que exerça tarefas na seara do Cristo. Isto é algo importante para nós, hoje, uma vez que o movimento espírita busca o cristianismo redivivo é justamente nestes exemplos de liderança, de eleição de prioridades e de enfrentamento de adversidades, que assinalam caminhos dos quais não podemos nos afastar, seja como líderes ou como partícipes do movimento. Vejamos, assim, um primeiro trecho em que Pedro aparece exercendo esta liderança, agindo como célula central. Observamos, desde já, que nosso intuito não será interpretar o texto

bíblico, mas observar em específico a questão da liderança, como ela é exercida e o que podemos aprender com a atuação de Pedro. Atos 1:15-26 “Substituição de Judas — 15Naqueles dias, Pedro levantou-se no meio dos irmãos — o número das pessoas reunidas era de mais ou menos cento e vinte — e disse: 16"Irmãos,era preciso que se cumprisse a Escritura em que, por boca de Davi, o Espírito Santo havia de antemão falado a respeito de Judas, que se tornou o guia daqueles que prenderam a Jesus. 17Ele era contado entre os nossos e recebera sua parte neste ministério. 18Ora, este homem adquiriu um terreno com o salário da iniqüidade e, caindo de cabeça para baixo, arrebentou pelo meio, derramandose todas as suas entranhas. 19O fato foi tão conhecido de todos os habitantes de Jerusalém que esse terreno foi denominado, na língua deles, Hacéldama, isto é, 'Campo do Sangue'. 20Pois está escrito no livro dos Salmos: Fique deserta a sua morada e não haja quem nela habite. E ainda: Um outro receba o seu encargo. 21É necessário, pois, que, dentre estes homens que nos acompanharam todo o tempo em que o Senhor Jesus viveu em nosso meio, 22a começar do batismo de João até o dia em que dentre nós foi arrebatado, um destes se torne conosco testemunha da sua ressurreição". 23Apresentaram então dois: José, chamado Barsabás e cognominado Justo, e Matias. 24E fizeram esta oração: "Tu, Senhor, que conheces o coração de todos, mostra-nos qual destes dois escolheste 25para ocupar o lugar que Judas abandonou, no ministério do apostolado, para dirigir-se ao lugar que era o seu". 26Lançaram sortes sobre eles, e a sorte veio a cair em Matias, que foi então contado entre os doze apóstolos.” (Biblia de Jerusalém) Pedro levanta-se no meio dos irmãos e fala sobre Judas, explica a todos o que aconteceu, fala da postura de Judas e do que aconteceu com ele, das consequências de suas ações. Certamente, a atitude de Judas trouxe-lhes grande sofrimento, ele era um dos doze, alguém com quem conviviam e a quem amavam. Mas ele optou por outro caminho e, arrependido, suicidouse. Pedro é muito claro e objetivo ao falar de Judas. Não vemos lamentações, julgamentos ou conjecturas. Ele relata o fato e segue em frente, chamando a todos para escolher um substituto, cumprindo os desígnios de Deus. Ainda hoje é muito comum a desistência de pessoas dos trabalhos na seara do Cristo. Optam por outros caminhos e precisamos respeitar isto. Assim como Judas escolheu um caminho, cada um de nós é livre para fazê-lo e arcar com as consequências disto. A grande questão é que o trabalho precisa prosseguir, pois há um objetivo maior a ser buscado. Pedro justifica a substituição afirmando que este novo membro seria, com eles, testemunha da ressurreição do Cristo. Este era o objetivo do trabalho, ser testemunha de que a vida prossegue, de que a morte não é o fim, ser testemunha que o Cristo, espírito de luz que habitou entre nós, ressuscitou. E para que nos recordemos do significado da palavra ressurreição a luz da doutrina espírita, recordemos um trecho do livro dos Médiuns:

“Venho, eu, vosso Salvador e vosso juiz; venho, como outrora, aos filhos transviados de Israel; venho trazer a verdade e dissipar as trevas. Escutai-me. O Espiritismo, como outrora a minha palavra, tem que lembrar aos materialistas que acima deles reina a imutável verdade: o Deus bom, o Deus grande, que faz germinar a planta e que levanta as ondas. Revelei a Doutrina Divina; como o ceifeiro, atei em feixes o bem esparso na Humanidade e disse: Vinde a mim, vós todos que sofreis! Mas, ingratos, os homens se desviaram do caminho reto e largo que conduz ao reino de meu Pai e se perderam nas ásperas veredas da impiedade. Meu Pai não quer aniquilar a raça humana; quer, não mais por meio de profetas, não mais por meio de apóstolos, porém, que, ajudando-vos uns aos outros, mortos e vivos, isto é, mortos segundo a carne, porquanto a morte não existe, vos socorrais e que a voz dos que já não existem ainda se faça ouvir, clamando-vos: Orai e crede! por isso que a morte é a ressurreição, e a vida - a prova escolhida, durante a qual, cultivadas, as vossas virtudes têm que crescer e desenvolver-se como o cedro. Crede nas vozes que vos respondem: são as próprias almas dos que evocais. Só muito raramente me comunico. Meus amigos, os que hão assistido à minha vida e à minha morte são os intérpretes divinos das vontades de meu Pai. (...)” O Livro dos Médiuns » Segunda parte - Das manifestações espíritas » Capítulo XXXI - Dissertações espíritas » Acerca do Espiritismo » Acerca do Espiritismo

Primeiro foram os profetas, depois os apóstolos, liderados por Pedro, eis agora que o Cristo nos convida: “Meu Pai não quer aniquilar a raça humana; quer, não mais por meio de profetas, não mais por meio de apóstolos, porém, que, ajudando-vos uns aos outros, mortos e vivos, isto é, mortos segundo a carne, porquanto a morte não existe, vos socorrais e que a voz dos que já não existem ainda se faça ouvir...” Sigamos em frente, pincelando outro trecho em que nos é apresentado um ato que demonstra a liderança de Pedro. Atos 2:14-17 (Bíblia de Jerusalém) “14Pedro, então, de pé, junto com os Onze, levantou a voz e assim lhes falou: "Homens da Judéia e todos vós, habitantes de Jerusalém, tomai conhecimento disto e prestai ouvidos às minhas palavras. 15Estes homens não estão embriagados, como pensais, pois esta é apenas a terceira hora do dia. 16O que está acontecendo é o que foi dito por intermédio do profeta:17Sucederá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda carne. Vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões e vossos velhos sonharão.” Pedro esclarece à multidão o que aconteceu no dia de Pentecostes. A palavra esclarecimento é importante. Vemos na liderança de Pedro uma pessoa que usa a palavra com clareza, explica os fatos, leva o entendimento ao povo e está no meio deles, por isso sabe de suas angústias e de seus temores. É preciso que mantenhamos este foco na doutrina espírita, de sermos claros, de levarmos entendimento às pessoas, mas, sobretudo, de nos mantermos conectados com os anseios dos que

buscam uma palavra, eis que acima de tudo a doutrina deve ser consoladora. Esclarecer e consolar, dois verbos que não devem ser esquecidos. Vamos a um último trecho, não obstante existirem muitos outros que demonstram a liderança de Pedro e que teremos a oportunidade de ver mais a frente. Atos 4:8-10 (Bíblia de Jerusalém) “8Então Pedro, repleto do Espírito Santo, lhes disse: "Chefes do povo e anciãos! 9Uma vez que hoje somos interrogados judicialmente a respeito do benefício feito a um enfermo e de que maneira ele foi curado, 10seja manifesto a todos vós e a todo o povo de Israel: é em nome de Jesus Cristo, o Nazareu, aquele a quem vós crucificastes, mas a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, é por seu nome e por nenhum outro que este homem se apresenta curado, diante de vós. Pedro e João haviam sido presos por divulgarem a Boa Nova e também pela cura de um homem. Diante do Sinédrio, Pedro, altamente inspirado, usa da palavra para esclarecer, fala da cura e fala que é o Cristo que realizou a cura por meio deles. Outro exemplo de grande valia, Pedro se diz partícipe de algo maior, o trabalho é do Cristo, é dele a obra, nós somos os obreiros, co-autores pela vontade e misericórdia divina. Saber-se partícipe e não autor nos permite uma perspectiva mais adequada, livrando-nos do orgulho e da vaidade. E Pedro sabia o seu papel e mantinha-se humilde. Valorosa lição ele nos oferece! Passeamos por alguns trechos e a figura de Pedro se agiganta, nos mostrando um homem que permitiu-se transformar pelo Cristo e que dedicou-se a divulgar sua doutrina de amor, para tanto oferecendo a própria vida. Muitos pensam no seu sacrifício final, mas ele foi apenas o coroamento de uma vida dedicada e repleta de sacrifícios. Há, ainda, um último ponto que eu gostaria de considerar, eis que chamou-me a atenção a frase de Emmanuel, no livro Paulo e Estevão: “(...) Natural era que nem todos se curassem, o que obrigava o velho pescador a agasalhar consigo todos os necessitados, com carinho de um pai.” A casa de Pedro estava repleta de pessoas que careciam de amparo e auxílio. Sua vida era cuidar dos enfermos e doentes. E este mesmo líder que descobrimos acima, que esclarece, que informa, que se levanta diante do Sinédrio, este mesmo líder, diante dos fracos e oprimidos assume a postura de um pai amoroso, que com desvelado carinho a todos acolhe. Foi o Mestre Jesus quem lhe ensinou a ser assim, um líder que agia, mas também um pai que amava e isto só foi possível porque Pedro soube ouvir e acolher os ensinamentos, com a postura humilde de quem se reconhece carecedor do auxílio divino.

No livro Luz Acima, de Humberto de Campos (Irmão X) encontramos um trecho que demonstra o que acima dissemos: “ – Senhor – interrogou Simão, precavido –, temos boa vontade, mas somos também fracos pecadores. E se cairmos na estrada? e se, muitas vezes, ouvirmos as sugestões do mal, despertando, depois, nas teias do remorso? – Pedro – retrucou o Divino Amigo -, levantar e prosseguir é o remédio, - No entanto – teimou o pescador – e se a nossa queda for tão desastrosa que impossibilite o reerguimento imediato? – Rearticularemos os braços desconjuntados, remendaremos o coração em frangalhos e louvaremos o Pai pelas proveitosas lições que houvermos recolhido, seguindo adiante...”

Eis o caminho de um trabalhador do Cristo: levantar e prosseguir. Pedro cometeu equívocos ao longo da jornada, mas sempre prosseguiu, não tinha a intenção de ser perfeito e bom, nem de brilhar diante dos que lhe cercavam. Foi humano, mas no melhor sentido da palavra. Foi humano, consciente de sua imperfeição e submisso a vontade de Deus para a sua vida. Quando em dúvida, colocava-se em prece, rogando que Jesus lhe mostrasse o caminho. Para, então, finalizarmos estas reflexões que buscam a identidade espiritual de Pedro, encerramos este estudo com as palavras do próprio Pedro, nos convidando a sermos “pedras vivas” ele convida a cada um de nós a exercermos o nosso papel na seara do Cristo, buscando a construção de um mundo melhor, a começar em nós mesmos. Observem a cadência dos verbos usados e perceberão um caminho evolutivo apontado por Pedro. I Pedro – Cap. 2:1-5 (Bíblia de Jerusalém) “1Portanto, rejeitando toda maldade, toda mentira, todas as formas de hipocrisia e de inveja e toda maledicência, 2desejai, como crianças recém-nascidas, o leite não adulterado da palavra, a fim de que por ele cresçais para a salvação, 3já que provastes que o Senhor é bondoso. O novo sacerdócio — 4Chegai-vos a ele, a pedra viva, rejeitada, é verdade, pelos homens, mas diante de Deus eleita e preciosa. 5Do mesmo modo, também vós, como pedras vivas, constituí-vos em um edifício espiritual, dedicai-vos a um sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus por Jesus Cristo.” Permitam-me fazer uma leitura pessoal do texto deste grande líder, que nos aconselha de forma ímpar: Rejeitando o mal, desejando o bem, crescendo no caminho evolutivo, nas provas veremos o consolo de Deus, e nos aproximaremos dele e isto nos elevará, constituindo em nós novas virtudes, para nos dedicarmos na seara do Mestre, oferecendo os frutos do nosso trabalho. Emmanuel comenta o versículo 5, livro Vinha de Luz, lição 133.

“Cada homem é uma casa espiritual que deve estar, por deliberação e esforço do morador, em contínua modificação para melhor. Valendo-nos do símbolo, recordamos que existem casas ao abandono, caminhando para a ruína, e outras que se revelam sufocadas pela hera entrelaçada ou transformadas em redutos de seres traiçoeiros e venenosos da sombra; aparecem, de quando em quando, edificações relaxadas, cujos inquilinos jamais se animam a remover o lixo desprezível e observam-se as moradias fantasiosas, que ostentam fachada soberba com indisfarçável desorganização interior, tanto quanto as que se encontram penhoradas por hipotecas de grande vulto, sendo justo acrescentar que são raras as residências completamente livres, em constante renovação para melhor. O aprendiz do Evangelho precisa, pois, refletir nas palavras de Simão Pedro, porque a lição de Jesus não deve ser tomada apenas como carícia embaladora e, sim, por material de construção e reconstrução da reforma integral da casa íntima. Muita vez, é imprescindível que os alicerces de nosso santuário interior sejam abalados e renovados. Cristo não é somente uma figuração filosófica ou religiosa nos altiplanos do pensamento universal. É também o restaurador da casa espiritual dos homens. O cristão sem reforma interna dispõe apenas das plantas do serviço. O discípulo sincero, porém, é o trabalhador devotado que atinge a luz do Senhor, não em benefício de Jesus, mas, sobretudo, em favor de si mesmo.” Que possamos permanecer na doce paz de Jesus, permitindo que ele realize a obra de Deus em nós. Abraços fraternos. Campo Grande – MS, 26.06.2016. Candice Günther

As lições evangélicas dos Apóstolos no livro Paulo e Estevão Pedro – Parte 03

“Tamanho o movimento de necessitados de toda sorte, que há muito Simão não mais podia entregar-se a outro mister, no concernente à pregação da Boa Nova do Reino. A dilatação desses misteres vinculara o antigo discípulo aos maiores núcleos do judaísmo dominante. Obrigado a valer-se do socorro dos elementos mais notáveis da cidade, Pedro sentia-se cada vez mais escravo dos seus amigos benfeitores e dos seus pobres beneficiados, acorridos de toda parte, em grau de recurso supremo ao seu espírito de discípulo abnegado e sincero.” Trecho do livro Paulo e Estevão

Emmanuel nos informa que primeiro movimento do cristianismo encontrava sérias dificuldades: se por um lado os necessitados eram muitos e disto vinha o fato de necessitarem de recursos financeiros, uma das fontes destes recursos, núcleos do judaismo dominante, gerava constantemente conflitos entre os Irmãos do Caminho e o Sinédrio.

Pedro percebia isto e Emmanuel usa uma palavra muito forte para expressar este sentimento: “sentia-se escravo”. Escravo é alguém que não dispõe da própria liberdade, não dispõe do direito universal de ir e vir. Pedro sentia-se escravo não apenas dos seus amigos benfeitores, mas também dos seus pobres beneficiados. Mas será apenas este o significado que podemos extrair do uso desta palavra? Sendo Pedro um dos apóstolos mais próximos do Cristo e quem tão profundamente entendeu suas lições, haveria algo a mais que poderíamos aprender com esta situação de Pedro, da Casa do Caminho?

Sabemos que esta situação demoraria muitos anos para se resolver, eis que apenas com a intervenção de Paulo e o sério atrito com Tiago, é que se decidira angariar fundos para que a Igreja do Caminho de Jerusalém fosse auto-suficiente, podendo, assim, desvincular-se desta classe dominante que ditava as regras e impunha condutas.

Primeiramente, há que se observar que a rejeição dos judeus à boa nova apresentada pelo Cristo já vinha desde os tempos em que Jesus caminhava com seus discípulos e podemos observar que Pedro aprendeu algo importante naqueles tempos sobre a forma de proceder diante destes obstáculos.

Vejamos alguns trechos da lição do livro Boa Nova, intitulada O Perdão:

“As primeiras peregrinações do Cristo e de seus discípulos, em torno do lago, haviam alcançado inolvidáveis triunfos. Eram doentes atribulados que agradeciam o alívio buscado ansiosamente; trabalhadores humildes que se enchiam de santas consolações ante as promessas divinas da Boa Nova. Aquelas atividades, entretanto, começaram a despertar a reação dos judeus rigoristas, que viam em Jesus um perigoso revolucionário. O amor que o profeta nazareno pregava vinha quebrar antigos princípios da lei judaica. (...) Foi assim que a viagem do Mestre a Nazaré redundou numa excursão de grandes dificuldades, provocando de sua parte as observações quase amargas que se encontram no Evangelho, com respeito ao berço daqueles que o deveriam guardar no santuário do coração. Não foram poucos os adversários de suas idéias renovadoras que o procederam na cidade minúscula, buscando neutralizar-lhe ação por meio de falsas notícias e desmoralizá-lo, alimentando com informações mal alinhavadas de alguns nazarenos. Jesus sentiu de perto a delicadeza da situação que o lhe criara com a primeira investida dos inimigos gramitos de sua doutrina; mas, aproveitou todas as oportunidades para as melhores lições na esfera do ensinamento. No entanto, o mesmo não aconteceu a seus discípulos. Filipe e Simão Pedro chegaram a questionar seriamente com alguns senhores da região, trocando palavras ásperas, em torno das edificações do Messias. As gargalhadas irônicas, as apreciações menos dignas lhes acendiam no ânimo propósitos impulsivos de defesas apaixonadas. Não faltavam os que viam no Senhor um servo ativo do espírito do mal, um inimigo de Moisés, um assecla de principes desconhecidos, ou de traidores ao poder político de Ântipas. Tamanhas foram as discussões em Nazaré, que os seus reflexos nocivos se faziam sentir fortemente sobre toda a comunidade dos discípulos. Pedro e André advogavam a causa do Mestre com expressões incisivas e sinceras. Tiago aborrecia-se com a análise dos companheiros. Levi protestava, expressando o desejo de instituir debates públicos, de maneira a evidenciar-se a superioridade dos ensinos do Messias, em confronto com os velhos textos. Jesus compreendeu os acontecimentos e, calmamente, ordenou a retirada, afastando-se da cidade com tranqüilo sorriso. Não obstante a determinação e apesar do regresso a Cafarnaum, a maioria dos apóstolos prosseguiu em discussão estranhando que o Mestre nada fizesse, reagindo contra as envenenadas insinuações a seu respeito.

Daí a alguns dias, obedecendo às circunstâncias ocorrentes naquela situação, Pedro e Filipe procuraram avistar-se com o Senhor, ansiosos pela claridade dos seus ensinos. Mestre, chamaram-vos servo de Satanás e reagimos prontamente! dizia Pedro, com sinceridade ingênua. Observávamos que por vós mesmo nunca oporíeis a contradita ajuntava Filipe, convicto de haver prestado excelente serviço ao Mestre bem-amado e por isso revidamos aos ataques com a maior força de nossas expressões. Não obstante o calor daquelas afirmativas, Jesus meditava com uma doce placidez no olhar profundo, enquanto os interlocutores o contemplavam, ansiando pela sua palavra de franqueza e de amor. Afinal, saindo de suas reflexões silenciosas, o Mestre interrogou: Acaso poderemos colher uvas nos espinheiros? De modo algum me empenharia em Nazaré numa contradita estéril aos meus opositores. Contudo, procurei ensinar que a melhor réplica é sempre a do nosso próprio trabalho, do esforço útil que nos seja possível. Nesse particular, não deixei de operar na minha esfera de ação, de modo a produzir resultados a nossa excursão à cidade vizinha, tornando-a proveitosa, sem desdenhar as palavras construtivas no instante oportuno. De que serviriam as longas discussões públicas, inçadas de doestos e zombarias? Ao termo de todas elas, teríamos apenas menores probabilidades para o triunfo glorioso do amor e maiores motivos para a separatividade e odiosas dissensões. Só devemos dizer aquilo que o coração pode testemunhar mediante atos sinceros, porque, de outra forma, as afirmações são simples ruído sonoro de uma caixa vazia.”

Pedro aprendera com o Mestre que quando o conflito se instala é preciso serenidade para que o amor prevaleça. Assim, aquele Pedro de outrora, que se inflamava em defesa do Cristo, hoje, transitava num campo muito mais difícil que era lidar com as adversidades de forma amorosa, pacífica e paciente.

No livro de Atos dos Apóstolos encontramos diversos relatos de pessoas que vendiam suas propriedades, doavam seus bens e aderiam ao movimento cristão do primeiro século, assim, poderíamos pensar que Pedro vinculara-se ao judaismo dominante não apenas por questões financeiras, ainda que estas fossem as principais. Este vínculo, inclusive, decorria de sua própria condição de judeu, não apenas eles, como quase todos os apóstolos e o próprio Cristo.

A questão que queremos observar e que a lição do livro Boa Nova nos auxilia a perceber, é que Pedro nunca abandonou os judeus porque estes também estavam sendo evangelizados. Não mais por sua palavra, por suas pregações, mas por seu exemplo de amor e fé.

Os que ouviram e creram, já estavam com ele. A questão é que existiam aqueles que ouviram e ainda sim recusaram a palavra do Mestre, e a estes Pedro ofereceu o testemunho sincero de um coração dedicado ao Cristo, vivendo assim, as palavras que aprendera com o Cristo quando ainda estavam em Cafarnaum: “Só devemos dizer aquilo que o coração pode testemunhar mediante atos sinceros, porque, de outra forma, as afirmações são simples ruído sonoro de uma caixa vazia.”

A lição é deveras preciosa para nós outros que buscamos as trilhas do cristianismo e a revivecência de seus princípios e condutas. Aos corações mais duros e fechados ao amor do Cristo, a palavra será, por vezes, algo que não ecoa, que não adentra e seremos chamados a uma conduta silenciosa e paciente para que o amor possa entrar. Será o tempo, então, e não mais a voz, o condutor do amor do Cristo ao coração enrijecido pelos milênios no desengano. Estamos aptos a esta vivência? Saberemos abdicar de nossa liberdade para que o outro sinta um pouco do amor do Cristo? A palavra alcança multidões, mas quando o Pai precisa do caminho amoroso para alcançar um filho perdido, ele silencia e busca um coração apto a “testemunhar mediante atos sinceros”.

Quando Lucas relata no livro Atos dos Apóstolos os primeiros tempos do cristianismo no coração dos homens, ele nos dá a dimensão de como era o trabalho de Pedro e dos demais apóstolos e irmãos que aderiram a boa nova. Atos 5 – Bíblia de Jerusalém:

“12Pelas mãos dos apóstolos faziam-se numerosos sinais e prodígios no meio do povo. . . Costumavam estar, todos juntos, de comum acordo, no pórtico de Salomão, 13e nenhum dos outros ousava juntar-se a eles, embora o povo os engrandecesse. 14Mais e mais aderiam ao Senhor, pela fé, multidões de homens e de mulheres. 15. . . a ponto de levarem os doentes até para as ruas, colocando-os sobre leitos e em macas, para que, ao passar Pedro, ao menos sua sombra encobrisse algum deles. 16Também das cidades vizinhas de Jerusalém acorria a multidão, trazendo enfermos e atormentados por espíritos impuros, os quais eram todos curados.”

Quando confrontamos a informação do livro Paulo e Estevão com este trecho do Atos dos Apóstolos, de Lucas, percebemos que Pedro mantinha-se conectado a Jesus, exercendo suas tarefas da melhor forma que conseguia. A carência de atendimento, porém, era tão grande que Emmanuel nos alerta para o mundo interior de Pedro. Não obstante as dificuldades e o cansaço, o amor de Pedro era tão profundo e tão vinculado ao do Cristo Jesus que os doentes e enfermos satisfaziam-se até mesmo com sua sombra. Pedro, assim, era uma carta viva representando os mais altos ideais cristãos na Terra, atendendo aos humildes e sofredores e resignando-se ante as reiteradas investidas do Sinédrio contra a boa nova.

Retornamos, assim, a palavra utilizada por Emmanuel, que sintetiza o que ora Pedro sentia: escravidão. Palavra dura, mas que nos remete a reflexões muito mais profundas.

E é Paulo quem nos dá a oportunidade de avançarmos no entendimento deste sentimento de Pedro, I Corintios 7:22: “Pois aquele que era escravo quando chamado no Senhor, é um liberto do Senhor. Da mesma forma, aquele que era livre quando foi chamado, é um escravo de Cristo.”

Pedro, acima de tudo, tornara-se escravo do Cristo, servindo-o da melhor forma que encontrara. E o Cristo, sabendo-o necessitado de auxílio lhe envia um dos seus. A narrativa que ora estudamos acontece justamente quando Jeziel, nosso amado Estevão, chega a casa do caminho.

E assim é a vida, não é mesmo? Por vezes realizamos tarefas silenciosas que pedem de nós sacrifícios e quando nos achamos no limite das forças, eis que chega a ajuda. Jeziel veio para ajudar Pedro e a Casa do Caminho, assim, também nós outros, tenhamos a certeza de que quando necessário, Cristo proverá a ajuda que necessitamos para seguir em frente nas lutas de quem adentrou na seara cristã.

Importante, porém, que aprendamos a lutar com as ferramentas que Pedro tão bem nos ensina, usando a palavra quando necessário, mas acima de tudo, testemunhando mediante atos sinceros, a fim de que não sejamos ruídos sonoros de uma caixa vazia.

Pedro amava a fraternidade no seu melhor e mais profundo sentido e colocou isto em sua carta, I Pedro 2:17. A lição é comentada por Emmanuel no livro Segue-me, e é com ela que finalizamos nossas singelas reflexões.

DE MÃOS NO BEM

"Honrai a todos. Amai a Fraternidade". - (I Pedro, 2:17)

Sabemos que o Cristo espera por nos, acima de tudo, ao lado de nossos irmãos na Terra. Onde surgem dificuldades e provas, ei-lo aí aguardando-nos a intervenção para que o concurso fraterno se faca sentir de pronto. Muitas vezes porém, diante do companheiro teimoso e rude, exclamamos, desalentados: - "já fiz tudo", "agora não posso mais". Entretanto Jesus não age para conosco em semelhantes limitações. Todos os dias somos amparados com segurança e tolerados com largueza. Estejamos, pois, dispostos a ofertar mãos cheias de trabalho no templo do amor fraterno. Cada momento é o ensejo de ajudar aos nossos irmãos de luta, por amor ao Mestre que nos sustenta. Decerto não somos convidados a favorecer os abusos que nos visitam em forma de apelos a caridade, mas, ainda ai, podemos auxiliar, com o silencio e com a prece, as vitimas da delinqüência para que se desvencilhem das trevas em que se afligem, encorajando-as com o nosso testemunho de paciência e boa vontade. Permaneçamos, assim, de almas voltadas para o bem positivo e incessante. Em nos levantando, cada dia, reparemos as dores e as inquietações que nos cercam e ofereçamos mãos cheias de serviço ao Senhor, na pessoa dos outros, guardando a certeza de que, assim procedendo, recolheremos dos outros o socorro espontâneo as nossas necessidades.

Jesus nos conduza e nos fortaleça para que o exemplo de Pedro cale fundo em nossos corações e promova a mudança íntima que tanto necessitamos.

Sigamos em sua amor e com sua fé.

Abraços fraternos.

Campo Grande – MS, 03.07.2016.

Candice Günther

As lições evangélicas do Apóstolos no livro Paulo e Estevão Pedro – Parte 04

“Mormente Simão, passava longas horas entretido em ouvi-lo, anotando-lhe os conceitos profundos, embora filhos da exaltação febril.” Trecho do livro Paulo e Estevão. Jeziel delirava em febre e ao seu lado um homem, desconhecido, ouvia a sua voz com interesse e dedicação, descobrindo no jovem rapaz uma profundidade e uma sabedoria ímpar. Pedro nos ensina algo muito profundo com sua postura. Ele era o líder dos apóstolos, seja por sua idade ou sua proximidade com o Mestre Jesus, Simão era o alicerce de todo o primeiro movimento dos cristãos. Jesus lhe confiou esta responsabilidade. Não obstante as inúmeras tarefas e responsabilidades, vemos Pedro interessado em ouvir, aprender. Quem é este homem que o Cristo escolheu para liderar os primeiros dias do movimento cristão? Quem é esta pessoa que exerce a liderança com humildade, demonstrando através do trabalho e dedicação um coração que aprendeu a amar? Pedro era um líder servidor. Recordemos, então, em que momento de sua vivência com Jesus ele aprendeu a assim agir, desde já sondando nossos próprios sentimentos a fim de que também nós outros aprendamos com Pedro e com Jesus. No Evangelho de João, capítulo 13 vemos uma narrativa que nos mostra o aprendizado de Pedro: “Antes do dia da festa da Páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo ao Pai; como tinha amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim. 2 Acabada a ceia, como já o diabo tinha posto no coração de Judas, filho de Simão Iscariotes, a determinação de o entregar, 3 Sabendo que o Pai tudo lhe dera nas mãos, e que de Deus viera, e para Deus iria; 4 Levantou-se da ceia, depôs suas vestes, e pegando numa toalha, cingiu-se. 5 Depois colocou água numa bacia e começou a lavar os pés aos discípulos, e limpar-lhos com a toalha com que estava cingido. 6 Vindo então até Simão Pedro, este lhe disse: Senhor, lavas-me os pés a mim? 7 Respondeu-lhe Jesus: O que eu faço, não o compreendes agora, mas sabê-lo-ás depois. 8 Disse-lhe Pedro: Não me lavarás jamais os pés. Respondeu-lhe Jesus: Se eu não te lavar, não terás parte comigo.

9 Disse-lhe Simão Pedro: Senhor, não somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça. 10 Disse-lhe Jesus: Aquele que já tenha se lavado, não tem necessidade de lavar senão os pés, e no mais todo ele está limpo. E vós outros estais limpos, mas não todos. 11 Porque ele sabia qual era o que o havia de entregar, por isso disse: Não estais todos limpos. 12 Depois de lhes lavar os pés, vestiu suas roupas e assentou-se novamente; e disse-lhes: Sabeis o que vos fiz? 13 Vós me chamais mestre e Senhor, e dizeis bem: Porque o sou. 14 Se eu, sendo vosso Senhor e Mestre, vos lavei os pés, deveis vós também lavar-vos os pés uns aos outros; 15 Porque eu vos dei o exemplo, para que como eu fiz, assim fazei vós também. 16 Em verdade, em verdade vos digo: Não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado é maior do que aquele que o enviou.

Quando Jesus lavou os pés de Pedro ele entendeu uma lição magnífica que apenas o Evangelho nos traz e que apenas Jesus vivenciou: o amor vivido em sua plenitude. Disse a Pedro: “Se eu não te lavar, não terás parte comigo.” Jesus era o Mestre, no entanto, fez humilde e lavou os pés dos seus discípulos, mostrando-lhes que o amor importa em servir. E Emmanuel nos ensina que até hoje o Mestre permanece lavando os nossos pés: “...o Cristo continua lavando os pés de todos os seguidores sinceros de sua doutrina de amor e perdão. O homem costuma viver desinteressado de todas as suas obrigações superiores, muitas vezes aplaudindo o crime e a inconsciência. Todavia, ao contacto de Jesus e de seus ensinamentos sublimes, sente que pisará sobre novas bases, enquanto que suas apreciações fundamentais da existência são muito diversas. Alguém proporciona leveza aos seus pés espirituais para que marche de modo diferente nas sendas evolutivas. Tudo se renova e a criatura compreende que não fora essa intervenção maravilhosa e não poderia participar do banquete da vida real.” (Caminho, Verdade e Vida, lição 5) Adentram em nossas vidas pessoas que necessitam de nosso cuidado, carinho e dedicação, as vezes será um familiar necessitado, outras um amigo ou um companheiro de trabalho. Sejam quem for, recordemos que será um convite do Mestre para que aprendamos a servir-lhe, oportunizando-nos a vivência da lição de que o amor nunca caminha desacompanhado do serviço e da humildade. Seremos convidados a ouvir-lhes durante longas horas, a cuidar-lhe a saúde, a esquecermo-nos de nós para dar um pouco ao outro, e neste momento entenderemos a leveza da vivência cristã.

Para muitos, porém, os atos de cuidado para com o outro ainda são um fardo, não obstante cumprirmos a obrigação, raramente o cuidador sente-se leve e feliz em realizar a tarefa. O amor ao trabalho é algo que se adquire através do entendimento desta lição. Pedro o alcançou e alegrava-se em cuidar de todos. Há uma conversa entre Narcisa e André Luiz, no livro Os Mensageiros que nos auxilia a entendermos com maior profundidade o gesto de Pedro para com Jeziel, mais que isso, auxilianos a entendermos a nossa dificuldade em vivermos de igual modo. Vejamos: “– André, meu amigo, você vem fazendo a renovação mental. Em tais períodos, extremas dificuldades espirituais nos assaltam o coração. Lembre-se da meditação no Evangelho de Jesus. Sei que você experimenta intraduzível alegria ao contato da harmonia universal, após o abandono de suas criações caprichosas, mas reconheço que, ao lado das rosas do júbilo, defrontando os novos caminhos que se descerram para sua esperança, há espinhos de tédio nas margens das velhas estradas inferiores que você vai deixando para trás. Seu coração é uma taça iluminada aos raios do alvorecer divino, mas vazia dos sentimentos do mundo, que a encheram por séculos consecutivos. (...)– Encha sua taça nas águas eternas daquele que é o Doador Divino. Além disso, André, todos nós somos portadores da planta do Cristo, na terra do coração. Em períodos como o que você atravessa, há mais facilidade para nos desenvolvermos com êxito, se soubermos aproveitar as oportunidades. Enquanto o espírito do homem se engolfa apenas em cálculos e raciocínios, o Evangelho de Jesus não lhe parece mais que repositório de ensinamentos comuns; mas, quando se lhe despertam os sentimentos superiores, verifica que as lições do Mestre têm vida própria e revelam expressões desconhecidas da sua inteligência, à medida que se esforça na edificação de si mesmo, como instrumento do Pai. Quando crescemos para o Senhor, seus ensinos crescem igualmente aos nossos olhos. Vamos fazer o bem, meu caro! Encha seu cálice com o bálsamo do amor divino. Já que você pressente os raios da alvorada nova, caminhe confiante para o dia!...”

Pedro encheu o seu coração com o bálsamo do amor divino, soube fazer do conhecimento que o Mestre lhe havia conferido ao longo dos anos de convivência uma oportunidade de renovar-se, descobrindo, assim, que cada instante da vida, cada pessoa que passa por nós, cada ação ou pensamento que fazemos é oportunidade de enchermos nosso cálice com o bálsamo do amor divino. Há muita inquietação no mundo e muitas vezes caminhamos em desalinho com esta proposta amorosa da Jesus, mas eis que o convite se renova a cada dia, a cada instante. Quando sentimos o Cristo lavando nossos pés, aprendemos que cada coração que cruza o nosso caminho é um convite de serviço amoroso, fraterno. Em nossos lares, encontraremos formas, gestos para que todos se sintam amados, nas tarefas cotidianas, faremos tudo com tal zelo e dedicação que o bom trabalho será realizado, ainda que não reconhecido, e assim, aprendendo nas pequeninas coisas a fazermos o nosso melhor, aos poucos Jesus nos confiará outras tarefas no seu reino de amor e paz.

Lembremos de Pedro, de sua dedicação amorosa e silenciosa a um rapaz desconhecido...naqueles dias em que lhe dedicava longas horas ante o estado febril, ele não sabia que estava em seus braços o primeiro mártir do cristianismo, o homem que levaria Saulo até o coração do Cristo e que até os dias de hoje nos ensina pela seu exemplo manso, sereno e humilde. Naqueles dias sendo acolhido na Casa do Caminho, era apenas um jovem pobre e abandonado, mas por ter sido amado como Cristo ensinou, hoje temos Estevão. Encerramos o estudo com dizeres do próprio Pedro, em sua primeira carta, ensinando-nos sobre a prática do bem, comentários de Emmanuel. Livro Caminho, Verdade e Vida, lição 60. PRÁTICA DO BEM “Porque assim é a vontade de Deus que, fazendo o bem, tapeis a boca à ignorância dos homens loucos.” (I PEDRO, 2: 15) À medida que o espírito avulta em conhecimento, mais compreende o valor do tempo e das oportunidades que a vida maior lhe proporciona, reconhecendo, por fim, a imprudência de gastar recursos preciosos em discussões estéreis e caprichosas. O apóstolo Pedro recomenda seja lembrado que é da vontade de Deus se faça o bem, impondo silêncio à ignorância e à loucura dos homens. Uma contenda pode perdurar por muitos anos, com graves desastres para as forças em litígio; todavia, basta uma expressão de renúncia para que a concórdia se estabeleça num dia. No serviço divino, é aconselhável não disputar, a não ser quando o esclarecimento e a energia traduzem caridade. Nesse caminho, a prática do bem é a bússola do ensino. Antecedendo qualquer disputa, convém dar algo de nós mesmos. Isso é útil e convincente. O bem mais humilde, é semente sagrada. Convocado a discutir, Jesus imolou-se. Por se haver transformado ele próprio em divina luz, domino-nos a treva da ignorância humana. Não parlamentou conosco. Ao invés disso, converteu-nos. Não reclamou compreensão. Entendeu a nossa loucura, localizou-nos a cegueira e amparou-nos ainda mais.”

Que Jesus nos guie e auxilie para que nos dedidequemos aos corações que cruzam a nossa estrada, amando-os e servindo-os. Abraços Fraternos.

Campo Grande – MS, 10.07.2016. Candice Günther

Lições Evangélicas dos Apóstolos no livro Paulo e Estevão. Pedro – Parte 05

Intentamos, neste estudo, pincelando trechos que falam de Pedro e outros em que o próprio Pedro fala no livro Paulo e Estevão e em outros livros, ampliar o nosso conhecimento sobre este apóstolo do Cristo. Não se trata, porém, de uma busca histórica, queremos conhecer o espírito que permitiu a renovação interior, deixando-se moldar pelo exemplo do Guia Espiritual da Terra, o Cristo Jesus. Sua vivência fraterna e amorosa nos remete a verdadeira conduta cristã, que tanto almejamos e da qual o mundo tanto carece. Sigamos, assim, sondando mais um trecho do livro Paulo e Estevão onde Emmanuel nos informa um pouco mais sobre conduta de Pedro: “Afeiçoara-se a Pedro, como um filho afetuoso ao legitimo pai. Notando-lhe o carinho, de leito em leito, de necessitado a necessitado, o moço hebreu experimentava deliciosa e íntima surpresa, O ex-pescador de Cafarnaum, relativamente moço ainda, era o exemplo vivo da renúncia fraterna.” Pedro ainda era novo, como nos relata Emmanuel, no entanto, despertou em Jeziel um sentimento filial. A dedicação, o cuidado, o carinho desvelado assistindo a todos fez com que Pedro inspirasse em Jeziel não apenas admiração, respeito, mas um amor intenso, olhava Pedro como quem olha um pai legítimo. A que se deve isto? A chave, a resposta, quem nos dá é o próprio Emmanuel, ao final do texto: “era o exemplo vivo da renúncia fraterna.” Pedro aprendera que para servir na seara de Jesus era necessário aprender a renunciar. Encontramos um texto de Humberto de Campos que nos mostra quando Jesus teve uma conversa com Pedro exatamente sobre a questão da fraternidade, indicando-nos, assim, momentos em que Pedro pode fortalecer este rico aprendizado junto ao Mestre, permitindo a sua renovação interior. Livro Boa Nova: “Não constitui o amor dos pais uma lembrança da bondade permanente de Deus? Não representa o afeto dos filhos um suave perfume do coração?! Tenho dado aos meus discípulos o título de amigos, por ser o maior de todos. O Evangelho continuou o Mestre, estando o apóstolo a ouvi-lo atentamente não pode condenar os laços de família, mas coloca acima deles o laço indestrutível da paternidade de Deus. O Reino do Céu no coração deve ser o tema central de nossa vida. Tudo mais é acessório. A família, no mundo, está igualmente subordinada aos imperativos dessa edificação. Já pensaste, Pedro, no supremo sacrifício de renunciar? Todos os homens sabem conservar, são raros os que sabem privar-se. Na construção do Reino de Deus, chega um instante de separação, que é necessário se saiba suportar com sincero desprendimento. E essa separação não é apenas a que se verifica pela morte do corpo, muitas vezes proveitosa e providencial, mas também a das posições estimáveis no mundo, a da família terrestre, a do viver nas paisagens queridas, ou, então, a de uma alma bem-amada que preferiu ficar, a distância, entre as flores venenosas de um dia!... Ah! Simão, quão poucos sabem partir, por algum tempo, do lar tranqüilo, ou dos braços adorados de uma afeição, por amor ao reino que é o tabernáculo da vida eterna! Quão poucos saberão suportar a calúnia, o apodo, a indiferença, por desejarem permanecer dentro de suas

criações individuais, cerrando ouvidos à advertência do céu para que se afastem tranqüilamente!... Como são raros os que sabem ceder e partir em silêncio, por amor ao reino, esperando o instante em que Deus se pronuncia! Entretanto, Pedro, ninguém se edificará, sem conhecer essa virtude de saber renunciar com alegria, em obediência à vontade de Deus, no momento oportuno, compreendendo a sublimidade de seus desígnios. Por essa razão, os discípulos necessitam aprender a partir e a esperar onde as determinações de Deus os conduzam, porque a edificação do Reino do Céu no coração dos homens deve constituir a preocupação primeira, a aspiração mais nobre da alma, as esperanças centrais do espírito!...” Pedro possuía família, filhos, esposa, parentes, porém, aprendera com o Mestre a expandir seu sentimento para considerar a todos como irmãos, filhos do Pai Celestial, ensinandonos, assim, o verdadeiro valor da fraternidade. A lição não nos isenta das responsabilidades e compromissos assumidos no elo familiar. Tenho visto muitos dizerem que a família não os compreende e prefere o círculo de amigos, onde sente-se melhor e mais bem aceito. Certamente isto é comum, mas não é este o sentido das palavras do Cristo. Ele nos ensina que o elo familiar não deve sobrepor-se a edificação do Reino de Deus na Terra, mas jamais o afastou ou o desconsiderou como importante. Ao contrário, ele nos ensina que o mesmo amor que dirigimos aos pais, filhos e irmãos, devemos dirigir a todos que cruzem nosso caminho, percebendo, assim, o conceito de família universal. A questão que se apresenta, no entanto, é quando tivermos dificuldade em amar nossa família, quando o lar em que Deus nos colocou for por nós rejeitado ou deixado de lado. A família é o ponto de partida, a primeira etapa de aprendizado e o amor que a ela dirigimos irá expandir-se. Como, no entanto, expandir um amor se ele não existe? Isto é algo tão sério que o próprio Paulo, ao escrever a carta a Timóteo, que tinha como um filho do coração, lhe adverte:

“Mas se alguém não tem cuidado dos seus e principalmente dos da sua família, negou a fé e é pior do que o infiel.” Paulo (I Timóteo, 5:8) Emmanuel comenta o versículo no livro Fonte e Vida nos alertando para o profundo significado destes dizeres: “(...) Impelidos pelas causas do passado a reunir-nos no presente, é indispensável pagar com alegria os débitos que nos imanam a alguns corações, a fim de que venhamos a solver nossas dívidas para com a Humanidade. Inútil é a fuga dos credores que respiram conosco sob o mesmo teto, porque o tempo nos aguardará implacável, constrangendo-nos à liquidação de todos os compromissos. Temos companheiros de voz adocicada e edificante na propaganda salvacionista, que se fazem verdadeiros trovões de intolerância na atmosfera caseira, acumulando energias desequilibradas em torno das próprias tarefas. Sem dúvida, a equipe familiar no mundo nem sempre é um jardim de flores. Por vezes, é um espinheiro de preocupações e de angústias, reclamando-nos sacrifício. Contudo, embora necessitemos de

firmeza nas atitudes para temperar a afetividade que nos é própria, jamais conseguiremos sanar as feridas do nosso ambiente particular com o chicote da violência ou com o emplastro do desleixo. Consoante a advertência do Apóstolo, se nos falha o cuidado para com a própria família, estaremos negando a fé. Os parentes são obras de amor que o Pai Compassivo nos deu a realizar. Ajudemo-los, através da cooperação e do carinho, atendendo aos desígnios da verdadeira fraternidade. Somente adestrando paciência e compreensão, tolerância e bondade, na praia estreita do lar, é que nos habilitaremos a servir com vitória, no mar alto das grandes experiências. Eis, então, que vamos adentrando no mundo interior de Pedro, descortinando-lhe o seu modo de agir pensar e amar, amparado nos sublimes ensinamentos do Mestre, que um dia entrou em seu lar para curar sua própria sogra, sim, este coração cheio de amor inspirava em Jeziel sentimentos belíssimos como o de sentir-se amparado, acolhido. Podemos, ainda, levantar um último ponto em relação a esta postura de Pedro. Certa feita, ouvi de um palestrante, que infelizmente não me recordo quem foi (ficou a lição, foi-se a titularidade). Bem, o ensinamento que gravei em meu íntimo foi que a forma como nos relacionamos com as pessoas que nos cercam está diretamente relacionada com a forma como nos sentimos em relação a Deus. Assim, se me sinto amado e amparado por Deus, sou levado a difundir este sentimento e percepção também em minhas relações familiares e sociais, do contrário, se Deus é alguém distante, caminharei com dificuldades. Meimei nos ensina: “Muitos homens de ciência pretendem definir Deus para nós, mas, quando reparamos na proteção do Todo-Poderoso, dispensada aos nossos caminhos e aos nossos trabalhos na Terra, em todos os instantes da vida, somos obrigados a reconhecer que o mais belo nome que podemos dar ao Supremo Senhor é justamente aquele que Jesus nos ensinou em sua divina oração: — “Nosso Pai”.

Quando sentirmos a presença de Deus em nossas vidas como um Pai amado, seguiremos aptos para amar e fazer felizes aqueles que estão próximos de nós, sejam de nossa família ou não. Compreenderemos que a renúncia, num ato de esquecer-se de si mesmo, é em verdade a lembrança de que todos estamos aqui para nos ajudar-nos no caminho evolutivo que seguimos. O acolhimento que Jeziel recebeu na Casa do Caminho lhe falou de um Cristo novo, reconheceu o Messias não pelas palavras que eram ditas, ou pelos pergaminhos que receba, reconheceu-o no coração dos homens que esqueciam-se de si mesmos para amar e servir. É preciso assim, que nós outros, que estamos a caminho, buscando a renovação íntima e o caminho do Cristo, busquemos com maior afinco concretizar nossas relações, alicerçando-as no amor fraternal. Se o que nos mantém junto à família é apenas a obrigação sanguínea, estamos nos distanciando dos ensinos e chamados de Jesus. Precisamos de atenção, observando nossos

sentimentos seremos capazes de moldá-los e nos colocarmos diante de Deus pedindo-lhe que nos auxilie em nossa luta interior. Amar a quem nos é igual e de pensamento correlato é sempre mais fácil, mas o amor incondicional nos remete a outros patamares, como o que Pedro nos ensinou diante de Jeziel.

Novamente, iremos nos socorrer dos dizeres do próprio Pedro para encerrarmos as reflexões da semana, livro Ceifa de Luz:

DAS NASCENTES DO CORAÇÃO “Finalmente, sede todos de igual ânimo, compadecidos, fraternalmente amigos, misericordiosos, humildes.” – PEDRO. (I Pedro, 3:8.) De todos os tesouros que a Divina Providência te confiou, um deles é a piedade que podes libertar como um rio de bênçãos das nascentes do coração. Pensa nas lágrimas que já te passaram pela existência e nunca derrames fel na trilha dos semelhantes. Para isso é necessário raciocines e te enterneças, entre a luz da compreensão e o apoio da caridade. Compadecemos-nos facilmente dos irmãos tombados em necessidades materiais, cujos padecimentos nos sacodem as fibras mais íntimas, mas é preciso igualmente nos condoamos daqueles outros que se sentam diante da mesa farta arrasados de angústias, à face das provações que lhes desabam na vida. Bastas vezes, perdemos lições e oportunidades preciosas para a aquisição de valores da Espiritualidade Maior, tão-somente por fixar a observação na face de situações e pessoas. O entendimento fraternal, no entanto, é clarão da alma penetrando vida e sentimento em suas mais ignotas profundezas. A vista disso, seja a quem for, abençoa e auxilia sempre. Diante de quaisquer desequilíbrio ou entraves que te venham a surpreender na estrada terrestre, molha a tuia palavra no bálsamo da compaixão, a fim de que te desincumbas dignamente do bem que te cabe cumprir. Procedamos assim, onde estivermos, na certeza de que, em nos referindo à maioria de nós outros – os espíritos endividados da Terra -, todas as vantagens que estejamos desfrutando, à frente do próximo, não chegam até nós em função de merecimento que absolutamente não possuímos ainda, mas simplesmente em razão da misericórdia de Deus. Que este amor que Pedro nos ensina, nos guie a cada dia, renovando em nós o desejo de trilhar nossa jornada pautados neste convite do Mestre, do amor fraternal. Abraços fraternos. Campo Grande – MS, 16.07.2016.

Candice Günther.

Lições Evangélicas dos Apóstolos no livro Paulo e Estevão Pedro 06

“Paz aos homens de boa vontade; sê bendito, tu que amaste; sê feliz, pois trabalhaste pela felicidade de outrem.” Revista Espírita de 1863 - Poitiers

Pincelando mais um pequeno trecho do livro Paulo e Estevão, encontramos um momento importante do cristianismo primitivo. Pedro nos ensinará que aliando-se o bom exemplo com a palavra inteligente e oportuna, muitos corações foram trazidos para Jesus. No estudo anterior, pudemos ver que seu exemplo de renúncia sincera e fraterna tocou o coração de Jeziel, agora, porém, veremos a palavra entrando em ação. Pedro evangelizando! Observemos, todos nós que trabalhamos na seara do Cristo e que queremos compartilhar a boa nova a todos os corações. Vejamos um trecho do livro Paulo e Estevão: “Nessa manhã, as observações amáveis sucediam-se e, não obstante a justa curiosidade que lhe pairava n’alma, a respeito do interessante hóspede, Simão ainda não tinha logrado o ensejo de um intercâmbio de ideias, mais íntimo, de maneira a sondar-lhe os pensamentos, inteirando-se dos seus sentimentos e da sua origem. Ao sopro generoso da aragem matinal, sob as árvores frondosas, o Apóstolo criou ânimo e, a certa altura, depois de distrair o convalescente com alguns ditos afetuosos, buscou penetrar-lhe o mistério, cuidadosamente: — Amigo — disse com jovial sorriso —, agora que Deus te restituiu a saúde preciosa, regozijome por havermos recebido tua visita em nossa casa. Nosso júbilo é sincero, pois que, nos mínimos detalhes da tua permanência entre nós, revelaste a condição espiritual de filho legítimo dos lares organizados com Deus, pelo conhecimento que tens dos textos sagrados. E tanto me impressionei com as tuas referências a Isaías, quando deliravas com febre alta, que desejaria saber de que tribo descendes.” É interessante observar Pedro, sua postura e sua forma de tratar as pessoas. Ele cuidava de todos, vimos isto anteriormente, ocupava-se das pessoas, do trato físico, de suas doenças. Não obstante, seu agir ia além do cuidado desvelado. Ele se interessava pelo indivíduo, por sua vida, sua origem, seus sentimentos. Paremos um pouco para refletir sobre a frase: “ensejo de um intercâmbio de ideias, mais íntimo, de maneira a sondar-lhe os pensamentos, inteirando-se dos seus sentimentos e da sua origem”. Quando foi que nos interessamos assim por alguém que adentra na casa espírita da qual participamos? Quando foi que buscamos um intercâmbio de idéias com aquelas pessoas assistidas pela caridade material? A lição que Pedro exemplifica é muito profunda e oportuna, pois dela originou-se o movimento cristão que hoje o mundo abraça, porém, ao olharmos seu agir mais de perto, como

um observador que quer aprender, vemos que nos distanciamos de seu exemplo de fraternidade. Eis a oportunidade que o estudo nos dá, revermos ação, pensamentos e conduta, para nos aproximarmos do Cristo com um trabalho mais efetivo. Pedro se alegra sinceramente com a vinda de Jeziel, alegramo-nos nós também quando um novo trabalhador adentra a casa espírita da qual participamos? Alegramo-nos quando a vida nos apresenta uma nova pessoa, que requer nosso cuidado e dedicação por dias, meses ou anos? Sabemos ir além da doença para registrar o mais puro amor fraterno? São questionamentos que lanço a mim mesma e compartilho com vossos corações. Certamente ainda estamos distantes de Pedro, mas observá-lo com o olhar de aprendiz é momento importante de nossa jornada. É oportunidade bendita de reavaliar posturas, buscando um agir mais fraterno. Há uma história, trazida por Humberto de Campos (Irmào X) no livro Histórias e Anotações, de uma visita de Pedro à Terra, nos tempos atuais, buscando os corações que, como ele, também amavam o Cristo e dedicavam-se a trabalhar pela redenção do mundo. Tinha ele sede de contato fraterno, eis o que aconteceu: “Conta-se que Simão Pedro, há tempos, conseguiu chegar ao Rio de Janeiro, perfeitamente materializado. Utilizando preciosos fluidos da natureza, nos bosques floridos que marginam Petrópolis, desceu dos subúrbios para o centro, com o objetivo de verificar as realizações cristãs, entre os novos discípulos do Evangelho. Alpercatas de pobre, cabelos à nazarena, leve bastão a sustentar-lhe o corpo e singela túnica de estamenha, ia o apóstolo, de olhos vivos e doces, estranho aos automóveis e aos arranha-céus, na consoladora antevisão do encontro com os aprendizes do Senhor. Achavam-se multiplicados, pensava. Trazia, mentalmente, o endereço de muitos, de conformidade com as rogativas que subiam da Terra para o Céu. Que lhe contariam, acerca dos ideais evangélicos no mundo? Não ignorava que o Planeta continuava sob o guante infernal da guerra, entretanto, sabia que os ensinamentos do Messias avançavam salvando almas. Ante o frontispício de admirável organização católica-romana, deteve-se, emocionado. Aproximou-se. Tocou a campainha. Pretendia avistar-se com os superiores da casa, a fim de trocarem idéias. Um padre bem humorado atendeu: - Quem é o senhor? - Simão Pedro, para servi-lo. O clérigo sorriu e anotou-lhe os desejos. Findos alguns minutos, um dos diretores apareceu, em companhia de vários religiosos. Ouviram o visitante humilde, com inequívocos sinais de incredulidade e sarcasmo. Não chegaram nem mesmo a considerar-lhes palavras.

- Volte segunda-feira, com o atestado policial – declarou o orientador da instituição – e providenciarei seu ingresso no asilo. Simão tentou explicar-se. O eclesiástico, no entanto, foi claro: - Não insista. Tenho mais o que fazer. Venha segunda-feira. O psiquiatra organizará sua ficha. Sequioso de entendimento, pediu Pedro: - Tenho sede. Permita-me entrar, por obséquio. - Quê? Entrar? Não precisa disto para beber água. Na esquina próxima encontrará um café, e será atendido. Em vista da porta repentinamente cerrada, o apóstolo, algo triste, cruzou várias ruas e estacionou junto de simpática vivenda. Perguntou ao jardineiro pelo ministro da igreja reformada que a ocupava. O robusto rapaz deuse pressa em satisfazê-lo. Em momentos breves, trouxe consigo não só o pastor, mas também dois jovens presbíteros. À primeira interrogação, o visitante respondeu, esperançado: - Sou Pedro, o antigo pescador de Cafarnaum. - Entreolharam-se os presentes, espantadiços. - Debalde buscou o velho Cephas esclarecer os propósitos que alimentava. O ministro evangélico, ai invés de prestar-lhe atenção, pos-se a ouvir os rapazes tagarelas. - Penso que é portador da mania ambulatória – asseverou um deles – traz alpercatas e os pés não parecem muito distintos. - Tenho ido pregar no hospício – informou o outro e conheço alguns casos de loucura circular. O pastor dirigiu-se a Pedro e declarou, sem rebuços: - Pode retirar-se. Aqui, não posso recebê-lo. Procure o culto no domingo pela manhã. - Irmão, não me expulse assim... rogou Pedro, humilde. - Nada posso prometer-lhe – revidou o ministro, seguro de si – a congregação está longe de construir o nosso hospital de alienados. Vendo-se novamente sozinho, o ex-pescador Galileu varou largo trecho da via pública e parou à frente de nobre domicílio.

Bateu, acanhado. Ao rapazelho que atendeu, lépido, indagou pelo diretor de importante organização espiritista que ali residia. Decorridos alguns instantes, o dono da casa veio em pessoa, seguido de dois confrades. À inquirição inicial, respondeu tímido: - Sou Simão Pedro, o discípulo de Cafarnaum. Os novos amigos permutaram expressivo olhar. O missionário da Nova Revelação, que o apóstolo procurara, nominalmente, afirmou calmo: - Obsessão evidente. Creio esteja ele atuado por argucioso perseguidor invisível. - Um vidente faria aqui a necessária verificação, acentuou um dos companheiros. O outro, contudo, mostrando extensa intimidade com Richet, acrescentou, com algum pedantismo: - Tipo inabitual. Bem provável possa ser aproveitado aos estudos de criptestesia. Adiantando-se, Pedro implorou: - Irmãos, tenho sede de comunhão fraterna em torno do Cristo, Nosso Senhor. Que me dizem do trabalho evangélico, na atualidade do mundo? O principal do grupo afagou-lhe a destra que se movia suplicante e replicou: - Procure-me na sessão de sexta-feira, depois das vinte horas. Teremos doutrinação. A cousa vai melhorar, “meu velho”. E, gentilmente, deu-lhe o endereço. Fechou-se a porta e o trinco rodou, automático. Quem contou a história, disse-nos ter visto o antigo discípulo da Galiléia enxugar as lágrimas a lhe deslizarem copiosas do rosto e perguntar a esmo, fixando o céu tranquilo do crepúsculo: - Senhor, onde estará pulsando o coração de teus aprendizes?!... Em seguida, silencioso e taciturno, o velho pescador pos-se de novo, a caminho, na direção do mar...”

O que faremos ante este apelo de Pedro que se renova aos nossos corações? Estamos aptos a receber sua visita? Muitas vezes podemos nos enganar achando que basta que as pessoas conheçam a boa nova para a ela aderir e isto tem levado muitos a promover a doutrina espírita através da palavra. Aprendemos, porém, com Pedro que a palavra só tem eficácia quando acompanhada do mais fraterno comportamento ante quem quer que seja. Nossas ações sempre falarão mais alto que nossa voz. Pensemos naquele familiar que requer nosso atendimento e compreensão... é Simão Pedro que nos visita pedindo de nós amor fraterno... Pensemos naquele colega de trabalho que nos é indigesto por suas posturas e conduta... é Simão Pedro que nos visita lembrando-nos que é preciso primeiro exemplificar, abstendo-nos de julgar quem quer que seja. Pensemos naquele trabalhador voluntário que atua junto de nós na casa espírita e que lança da maledicência para com a nossa pessoa... é Simão Pedro nos lembrando que as vezes é preciso silenciar em prol do evangelho. Pensemos, ainda, em nossas falhas de conduta e em nossa incapacidade de amar... roguemos a visita de Simão Pedro para que nos lembre que também ele já falhou, duvidou e fraquejou, não obstante seguiu em frente, erguendo-se para a luta da vida, pautando-se no mais profundo amor. Pedro deixou-nos duas epístolas e selecionamos um versículo comentado por Emmanuel para encerrar nossas singelas reflexões. Livro Palavra da Vida Eterna: FRATERNALMENTE AMIGOS “Finalmente sede todos de igual sentimento, compassivos, amando os irmãos, entranhavelmente misericordiosos e afáveis.” – Pedro. (I PEDRO, 3:8.) Que a experiência te conferiu degrau diverso na interpretação da vida, pode não haver qualquer dúvida. Amadureceste o raciocínio e percebes determinados aspectos da realidade que os circunstantes ainda não conseguem assinalar. Estudaste, conquistando títulos de que, por enquanto muita gente não dispõe. Ouviste a ciência e alcançaste visões renovadoras, presentemente defesas a quantos não senhorearam oportunidades iguais às tuas. Viajaste anotando problemas que muitos dos melhores amigos estão distantes de conhecer. Sofreste, aprendendo lições, por agora inapreensíveis pelos companheiros acomodados a inocentes enganos da retaguarda. Trabalhaste e adquiriste habilitações que os próprios familiares gastarão muito tempo para atingir.

Decerto que a tua posição é inconfundível, tanto quanto o lugar do próximo é caracteristicamente individual; entretanto, seja qual seja a condição em que te encontres, podes estender os braços, unindo-te aos semelhantes, através da compreensão e do auxílio mútuo. O apóstolo não nos diz: “sede todos da mesma altura”, mas sim: “sede todos fraternalmente unidos”. Não nos exige, pois, o Evangelho venhamos a ser censores ou escravos uns dos outros, e, sim, nos exorta a que sejamos irmãos.”

Que possamos refletir sobre estas lições e este exemplo, buscando, ainda que a passos lentos, mudar nossas atitudes. A difusão do verdadeiro cristianismo depende do amor que tivermos dispostos a oferecer. Que Jesus nos envolva em sua doce paz. Abraços fraternos. Campo Grande – MS, 24.07.2015. Candice Günther

Lições Evangélicas dos Apóstolos no livro Paulo e Estevão

Pedro – Parte 07

Recordação “Agora, o cheiro áspero das flores leva-me os olhos por dentro de suas pétalas. Eram assim teus cabelos; tuas pestanas eram assim, finas e curvas. As pedras limosas, por onde a tarde ia aderindo, tinham a mesma exaltação de água secreta, de talos molhados, de pólen, de sepulcro e de ressurreição. E as borboletas sem voz dançavam assim veludosamente. Restitui-te na minha memória, por dentro das flores! Deixa virem teus olhos, como besouros de ônix, tua boca de malmequer orvalhado, e aquelas tuas mãos dos inconsoláveis mistérios, com suas estrelas e cruzes, e muitas coisas tão estranhamente escritas nas suas nervuras nítidas de folha, - e incompreensíveis, incompreensíveis.” Cecília Meireles Pedro foi um dos apóstolos que conviveu intensamente com Jesus. Levou-o a sua casa, hospedou-o, caminharam juntos por muitos lugares, porém, esta convivência tão agradável a ambos foi interrompida. Jesus foi levado à morte. É certo que sua presença continuou e continua a ser sentida por todos aqueles que o buscam, mas aquela convivência que permite a troca das coisas simples como sentar-se para uma refeição, simplesmente acabou. Então, Pedro recordava-se daqueles tempos de chorar e sorrir junto, de caminhar lado a lado e vivenciar a alegria de ter o Cristo tão perto dos olhos... Pois bem, ao observar e refletir sobre recordações de Pedro, um caminho de muito aprendizado foi se abrindo, considerações e entendimentos mais profundos sobre este grande apóstolo e sobre nós mesmos. Iniciemos com um pequeno trecho do livro Paulo e Estevão: “E Simão Pedro, olhos acesos na chama luminosa dos que se sentem felizes ao recordar um tempo venturoso, falou-lhe da exemplificação do Senhor, traçando uma perfeita biografia verbal do Mestre sublime. Em traços de forte colorido, lembrou os dias em que o hospedava no seu tugúrio à margem do Genesaré, as excursões pelas aldeias vizinhas, as viagens de barca, de Cafarnaum aos sítios marginais do lago. Era de se lhe ver a emoção intraduzível da voz, a

alegria interior com que rememorava os feitos e prédicas junto ao lago marulhoso, acariciado pelo vento, a poesia e a suavidade dos crepúsculos vespertinos. A imaginação viva do Apóstolo sabia tecer comentários judiciosos e brilhantes ao evocar um leproso curado, um cego que recuperara a vista, uma criancinha doente e prestes restabelecida.” Precisamos de uma pequena pausa agora. Pedro nos convida a recordarmo-nos de Jesus. Voltemos aos nossos encontros e desencontros desta jornada e pensemos: qual a lembrança que tenho de Jesus? Quando me senti amparado pela sua presença ou pelo seu amor? É com alegria que me recordo dos momentos que já tive com Jesus? Chamamos, dentro do espiritismo, de Jesus como o Governador da Terra, Mestre. O que Pedro nos convida, agora, é que o chamemos de amigo. Será que já vivenciamos isto? Temos alguma lembrança de Jesus conosco? Ainda que não seja uma presença física e ou até mesmo pessoal, eis que o Cristo nos assiste através de seus trabalhadores e dos seus ensinos maravilhosos. Quando em nossa jornada, nesta vida, estivemos com Jesus? Talvez nós não saibamos e sequer recordemos, mas este espírito amoroso, Filho do Deus Vivo, trabalha por nós há 4,5 bilhões de anos, desde a formação da Terra. Conhece-nos desde quando éramos apenas potencialidades do que o Pai Criador traçou para nós e trabalha por nossa jornada evolutiva intensamente a cada dia. Eis um amigo com o qual podemos contar. Pedro sentia-se amado por Jesus e recordava-se de um tempo feliz. E há algo muito importante em suas recordações que Emmanuel anotou com muita maestria: a forma como ele se recorda. Há quem lembre com uma certa nostalgia melancólica, outros com revolta e dor, outros tantos sentindo uma ausência de algo que poderia ter sido. Pedro, porém, em suas recordações tinha algo especial: “olhos acesos na chama luminosa dos que se sentem felizes ao recordar um tempo venturoso”. Ampliemos um pouco a nossa reflexão para trazer ao estudo aqueles que partiram, afetos da alma que já não se encontram fisicamente entre nós. Como são nossas recordações? Nossos olhos se acendem e nos sentimos felizes? Ou é triste a saudade que nos vem ao coração? Pedro aprendera que a saudade é apenas mais uma expressão do amor e isto lhe permitia recordar-se de Jesus sem apego, sem dor, mas com uma profunda alegria de quem se sente grato pelas experiências da vida, ainda que passageiras. Voltemos, então, no tempo e na história deste apóstolo de Jesus para verificarmos que este amor que Pedro demonstra em sua conversa com Jeziel não foi sempre assim... No livro Boa Nova, Humberto de Campos nos traz o relato dos momentos finais de Jesus com seus discípulos, do qual extraímos um pequeno trecho do diálogo de Pedro com Jesus:

“Vendo que Jesus repetia uma vez mais aquelas recomendações de despedida, Pedro, dando expansão ao seu temperamento Irrequieto, adiantou-se, indagando: Afinal, Senhor, para onde ides? O Mestre lhe lançou um olhar sereno, fazendo-lhe sentír o interesse que lhe causava a sua curiosidade e redarguiu: Ainda não te encontras preparado para seguir-me. O testemunho é de sacrifício e de extrema abnegação e somente mais tarde entrarás na posse da fortaleza indíspensável. Símão, no entanto, desejando provar por palavras aos companheiros o valor da sua dedicação, acrescentou, com certa ênfase, ao propósito de se impor à confiança do Messias: Não posso seguir-vos? Acaso, Mestre, podereis duvidar de minha coragem? Então, não sou um homem?. O Cristo sorriu e ponderou: Pedro, a tua inquietação se faz credora de novos ensinamentos. A experiência te ensinará melhores conclusões, porque, em verdade, te afirmo que esta noite o galo não cantará sem que me tenhas negado por três vezes. Julgai-me então, um espírito mau e endurecido a esse ponto? indagou o pescador, sentindo-se ofendido. Não, Pedro adiantou o Mestre, com doçura —, não te suponho ingrato ou indiferente aos meus ensinos. Mas vais aprender, ainda hoje, que o homem do mundo é mais frágil do que perverso.”

E tudo o que Jesus disse a Pedro consolidou-se. Ele realmente o negou três vezes, mas muito mais importante que isto, mais tarde, ele entrou “na posse da fortaleza indispensável” para sacrificar-se por amor. Pergunto-me, então, é possível amar sem compreender? Falo deste amor de Pedro, que era capaz de recordar-se com alegria, que inspirava-se no exemplo do amigo para melhorar-se, que sentia gratidão a Deus e buscava demonstrar isto através de uma vivência fraterna. O Pedro que recebeu Jeziel na Casa do Caminho não era mais aquele homem frágil que negara a Jesus, agora ele compreendia Jesus e isto pacificou sua alma e permitiu que ele fosse um dos maiores trabalhadores do Cristo na Terra. Como e quando isto acontecerá conosco? Compreendemos a mensagem do Cristo? A resposta é mais simples do que se imagina. Quem compreendeu a mensagem de Jesus possui uma vivência fraterna que reflete amor ao próximo e amor a Deus. Pedro precisou percorrer um caminho difícil para compreender este sublime amor. Imaginemos a dor de negar um amigo. Alguém que lhe era caro, preso, crucificado, e você correndo o risco de seguir pelo mesmo caminho. A negação de Pedro fala a nós de nossa própria humanidade, de nossa fragilidade, mas, principalmente, de nossa capacidade de seguir em frente e alçar novos voos.

Quando iniciei este estudo, passando alguns dias a refletir sobre a forma como Pedro recordava-se de Jesus, com alegria e emoção, procurei em minha vida por momentos em que havia sentido a mão de Jesus em meu caminhar. E não foram poucas as lágrimas ao recordar de momentos em que precisei deste Amigo Maior e ele se fez presente, seja através de um consolo, de uma paz que não vinha de mim, de uma mão amiga que surgiu inesperadamente e tantas outras formas que são reflexo da ação do Cristo em nossas vidas. A questão é que fiz o caminho inverso e pensei em imaginar a situação contrária. Nesta minha existência, será que Jesus teria alguma lembrança minha? Será que fui sua amiga e aliada em trabalhar por um mundo melhor, mais pacífico e amoroso? Qual a lembrança que Jesus teria de mim? Qual a lembrança que Jesus tem de nós? Percebi, então, nitidamente a diferença entre o Pedro que negara a Jesus e o Pedro que recebera Jeziel na Casa do Caminho. Este último trabalhava não mais como alguém que queria ser amigo de Jesus, ele o era, verdadeiramente, uma vez que não existe nada mais valoroso que o amor recíproco, aquele que sabe doar e sabe receber. Para finalizar este estudo, busquei nos dizeres do Pedro, em suas epístolas, algo que pudesse corroborar o que eu estava vislumbrando neste estudo, alguma palavra pessoal sua que demonstrasse o quanto ele foi capaz de mudar, por amor. Vejamos, no capítulo 4 da I Epístola de Pedro, os versículos: “7O fim de todas as coisas está próximo. Levai, pois, uma vida de autodomínio e de sobriedade, dedicada à oração.8Acima de tudo, cultivai, com todo o ardor, o amor mútuo, porque o amor cobre uma multidão de pecados.” Muitos ao se recordarem de Pedro, lembram que ele negou o Cristo, e este foi o seu pecado, não no sentido de erro, mas no correto significado da palavra “pecado”, ou seja, alguém que está errando o alvo e precisa corrigir-se. Eis, então, que ele nos ensina de que forma foi capaz de cobrir seus erros, de passar a acertar o alvo: o amor. Para seguir a Jesus basta o amor, tudo mais é acessório e muitos destes acessórios que achamos essenciais são totalmente descartáveis ou até mesmo inúteis, se não tivermos amor. No livro Pão Nosso, Emmanuel comenta uma parte do versículo oitavo e é com ele que encerramos as reflexões de hoje. Com ardente amor “Mas, sobretudo, tende ardente caridade uns para com os outros.” Pedro (I Pedro, 4:8) Não basta a virtude apregoada em favor do estabelecimento do Reino Divino entre as criaturas. Problema excessivamente debatido – solução mais demorada... Ouçamos, individualmente, o aviso apostólico e enchamo-nos de ardente caridade, uns para com os outros.

Bem falar, ensinar com acerto e crer sinceramente são fases primárias do serviço. Imprescindível trabalhar, fazer e sentir com o Cristo. Fraternidade simplesmente aconselhada a outrem constrói fachadas brilhantes que a experiência pode consumir num minuto. Urge alcançarmos a substância, a essência... Sejamos compreensivos para com os ignorantes, vigilantes para com os transviados na maldade e nas trevas, pacientes para com os enfermiços, serenos para com os irritados e, sobretudo, manifestemos a bondade para com todos aqueles que o Mestre nos confiou para os ensinamentos de cada dia. Raciocínio pronto, habilitado a agir com desenvoltura na Terra, pode constituir patrimônio valioso; entretanto, se lhe falta coração para sentir os problemas, conduzi-los e resolvê-los, no bem comum, é suscetível de converter-se facilmente em máquina de calcular. Não nos detenhamos na piedade teórica. Busquemos o amor fraterno, espontâneo, ardente e puro. A caridade celeste não somente espalha benefícios. Irradia também a divina luz.” Que tenhamos, ao deixar esta vida, belíssimas recordações com o Mestre Jesus, lembrando-nos não apenas do quanto fomos amados, mas principalmente, do quanto fomos capazes de amar. Jesus nos envolva em sua doce paz. Abraços fraternos. Campo Grande- MS, 31.07.2016. Candice Günther

Lições Evangélicas dos Apóstolos no livro Paulo e Estevão

Pedro 08

“A felicidade não é pessoal. Se a encontrássemos apenas em nós mesmos, sem poder compartilhá-la com os outros, ela seria egoísta e triste. Ela está também na comunhão de pensamentos que une os seres simpáticos. Os Espíritos felizes, atraídos uns para os outros pela similitude das ideias, dos gostos, dos sentimentos, formam vastos grupos ou famílias homogêneas, no seio das quais cada individualidade irradia suas próprias qualidades e se penetra dos eflúvios serenos e benéficos que emanam do conjunto, cujos membros tanto se dispersam para se entregarem às suas missões, quanto se reúnem num ponto qualquer do espaço para compartilhar o resultado de seus trabalhos, ou se reúnem em torno de um Espírito de ordem mais elevada, para receber conselhos e instruções.” Revista Espírita 1865

Nosso coração já foi tocado pela mensagem do Evangelho ao ponto de transformar a nossa vida? Acreditamos que o amor é o caminho da redenção da humanidade? Muitos creram que Jesus era o Filho Enviado de Deus, mas quantos o seguiram? Dentre nós, ainda hoje, muitos acreditam, mas quantos o seguem? Pedro falara a Jeziel que o Messias viera a Terra, recordava-se com alegria dos seus momentos com o Mestre, recordava-se, também, dos momentos de profunda dor. Eis o relato de um homem que vivenciou uma linda história de amor, a maior história de amor pela humanidade. Ouçamos Pedro, com atenção e deixemo-nos inspirar por este profundo amor que nos visita a cada dia e nos convida a com Ele caminhar. Trecho do livro Paulo e Estevão: “— E o Messias? Onde está o Messias? — Há mais de um ano — exclamou o Apóstolo apagando a vivacidade com a lembrança triste — foi crucificado aqui mesmo em Jerusalém, entre os ladrões. Em seguida, passou a enumerar os martírios pungentes, as dolorosas ingratidões de que o Mestre fora vítima, os ensinos derradeiros e a gloriosa ressurreição do terceiro dia. Depois, falou dos primeiros dias do apostolado, dos acontecimentos do Pentecostes e das últimas aparições do Senhor, no cenário sempre saudoso da Galiléia distante.”

Pedro anuncia a Jeziel que o Cristo fora crucificado, fala dos martírios e ingratidões e, também, anuncia-lhe a ressurreição e a continuidade do Mestre entre nós. Eis, então, o momento derradeiro na vida de Jeziel, o momento em que se apresenta uma estrada e você escolhe para qual direção irá prosseguir. Crer ou não? O Messias era o enviado de Deus? Pedro apresentou-lhe a história, mas a escolha foi dele. E o coração de Jeziel por ter “sido forjado no que havia de mais puro na primeira revelação” (palavras de um querido amigo), estava apto a receber a boa nova. Eis, então, a sua fala: “Jeziel tinha as pupilas úmidas. Aquelas revelações sensibilizavam -lhe o coração, como se houvesse conhecido o profeta de Nazaré. E, ligando o perfil deste aos textos que retinha de cor, enunciou, quase em voz alta, como se falasse consigo mesmo: — “Levantar-se-á como um arbusto verde, na ingratidão de um solo árido... Carregado de opróbrios e abandonado dos homens. Coberto de ignomínias não merecerá consideração. Será ele quem carregará o fardo pesado de nossas culpas e sofrimentos, tomando sobre si todas as nossas dores. Parecerá um homem vergado sob a cólera de Deus... Humilhado e ferido deixar-se-á conduzir como um cordeiro, mas, desde o instante em que oferecer sua vida, os interesses do Eterno hão de prosperar nas suas mãos.” Este texto que Jeziel passa a falar é uma profecia de Isaias, no capítulo 53. Trata-se de um texto que até hoje gera certa polêmica, alguns dizem que ele trata de Israel, outros o reconhecem como tratando do Messias e há também estudiosos que dizem a profecia tratar do próprio Isaias. Não houve, porém, para o coração de Jeziel qualquer dúvida ou enfrentamento com a boa nova. Pedro semeara em terreno fértil. E é belíssima a forma como Pedro evangeliza, pois, não há qualquer proselitismo em sua postura, ele não dirige a Jeziel palavras de convencimento ou mesmo argumentação ideológica. Conta-lhe fatos e deixa-lhe ver o que ia em seu coração. Pedro amava Jesus e isso transcendia em sua fala. Eis, então, que se apresenta, a nós outros que buscamos aprender com Pedro a postura de um seguidor de Jesus, duas características importantes: - a objetidade – ele apresentou os fatos, a vida, os acontecimentos que envolveram o tempo de Jesus na Terra, mesmo depois de sua ressurreição; - sentimentos - demonstrava os seus sentimentos por Jesus – toda a sua fala era temperada com alegria ou tristeza, relembrava e revivia o amigo de quem tanto sentia a ausência.

No livro Nascer e Renascer, Emmanuel nos explica com maior profundidade como era a alma de Pedro, uma alma evangelizada: “A obra maior do Evangelho, porém, é o aperfeiçoamento da criatura, quando a criatura lhe assimila os princípios de reforma e elevação. A alma ligada ao Cristo é flama renovadora atuando no chão, embora vivendo na luz do amor. Não duvides. Estende os braços à dor e diminui, quanto puderes, os gritos do sofrimento em torno de ti. Descerra os lábios e ensina a verdade simples, segundo a ideia nobre que te brilha no pensamento. Entretanto, cada hora e cada dia, busca afeiçoar o próprio espírito à prática dos ensinamentos do Cristo, nosso Mestre e Senhor. Alma restaurada é base à restauração humana. Deixa que as Mãos Sábias de Jesus te tomem o coração, aprimorando-te os impulsos e, ainda mesmo que te pareça a existência terrestre um império de tribulações, guarda a certeza de que o Cristo em nós é a obra maior a que será justo aspirarmos no campo da redenção.”

Queremos mudar o mundo, queremos mudar o vizinho, o familiar, o colega de trabalho, o amigo inconstante, mas eis chegada a hora de mudarmos a nós mesmos. O exemplo de Pedro e da transformação moral que a mensagem do Cristo lhe trouxe é algo que deve ser observado e estudado a exaustão, a fim de que nosso coração, ainda tão endurecido, compreenda que a mudança que queremos no mundo que nos cerca começa em nós e ela não é fácil. Voltemos no tempo, com o auxílio de Humberto de Campos, para relembrar a passagem narrada no livro Boa Nova em que Pedro e Felipe se desentendem com alguns moradores de um vilarejo, defendendo o Mestre com alto ânimo de contenda: “Daí a alguns dias, obedecendo às circunstâncias ocorrentes naquela situação, Pedro e Filipe procuraram avistar-se com o Senhor, ansiosos pela claridade dos seus ensinos. Mestre, chamaram-vos servo de Satanás e reagimos prontamente! dizia Pedro, com sinceridade ingênua. Observávamos que por vós mesmo nunca oporíeis a contradita ajuntava Filipe, convicto de haver prestado excelente serviço ao Mestre bem-amado e por isso revidamos aos ataques com a maior força de nossas expressões. Não obstante o calor daquelas afirmativas, Jesus meditava com uma doce placidez no olhar profundo, enquanto os interlocutores o contemplavam, ansiando pela sua palavra de franqueza e de amor. Afinal, saindo de suas reflexões silenciosas, o Mestre interrogou:

Acaso poderemos colher uvas nos espinheiros? De modo algum me empenharia em Nazaré numa contradita estéril aos meus opositores. Contudo, procurei ensinar que a melhor réplica é sempre a do nosso próprio trabalho, do esforço útil que nos seja possível. Nesse particular, não deixei de operar na minha esfera de ação, de modo a produzir resultados a nossa excursão à cidade vizinha, tornando-a proveitosa, sem desdenhar as palavras construtivas no instante oportuno. De que serviriam as longas discussões públicas, inçadas de doestos e zombarias? Ao termo de todas elas, teríamos apenas menores probabilidades para o triunfo glorioso do amor e maiores motivos para a separatividade e odiosas dissensões. Só devemos dizer aquilo que o coração pode testemunhar mediante atos sinceros, porque, de outra forma, as afirmações são simples ruído sonoro de uma caixa vazia.” Dizer aquilo que o coração pode testemunhar! Pedro aprendeu a lição e era assim que vivia, de forma tranquila e pacífica, buscava a cada dia em seu coração o amor que sentia pelo Mestre e neste profundo amor encontrava a força para seguir em frente e dar de si a quem lhe precisasse o auxílio. Vejo muitas pessoas empenhadas em levar esclarecimento aos corações e isto é um trabalho importante e necessário, eis, porém, que Pedro nos adverte, com sua vida, que é preciso viver aquilo que se fala, porque é lei de Deus, a boca fala do que o coração está cheio. Cedo ou tarde nossa postura em desacordo com o que falamos poderá servir de pedra de tropeço aos corações que buscam aproximar-se do Mestre, eis, então, a grande responsabilidade de buscarmos a cada dia aproximar a fala da conduta. Pedro aprendera com o Mestre, como nos mostra Paulo e Estevão, a viver com simplicidade e a exemplificar o que ia em seu coração. Deixou-nos duas epístolas, duas cartas que encerram seus pensamentos e demonstram a forma como entendia a mensagem do Cristo. Assim, encerramos este estudo com um pequeno trecho da primeira Carta de Pedro, comentada por Emmanuel: “Trabalhos imediatos “Apascentai o rebanho de Deus que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas espontaneamente, segundo a vontade de Deus; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto.” (I Pedro, 5:2) Naturalmente, na pauta das possibilidades justas, ninguém deverá negar amparo ou assistência aos companheiros que acenam de longe com solicitações razoáveis; entretanto, constitui-nos obrigação atender ao ensinamento de Pedro, quanto aos nossos trabalhos imediatos. Há criaturas que se entregam gostosamente à volúpia da inquietação por acontecimentos nefastos, planejados pela mente enfermiça dos outros e que, provavelmente, nunca sobrevirão. Perdem longo tempo receitando fórmulas de ação ou desferindo lamentos inúteis. A lavoura alheia e as ocorrências futuras, para serem examinadas, exigem sempre grandes qualidades de ponderação.

Além do mais, é imprescindível reconhecer que o problema difícil, ao nosso lado ou a distância de nós, tem a finalidade de enriquecer-nos a experiência própria, habilitando-nos à solução dos mais intrincados enigmas do caminho. Eis a razão pela qual a nota de Simão Pedro é profunda e oportuna, para todos os tempos e situações. Atendamos aos imperativos do serviço divino que se localiza em nossa paisagem individual, não através de constrangimento, mas pela boa vontade espontânea, fugindo cada vez mais aos nossos interesses particularistas e de ânimo firme e pronto para servir ao bem, tanto quanto nos seja possível. Às vezes, é razoável preocupar-se o homem com a situação mundial, com a regeneração das coletividades, com as posições e responsabilidades dos outros, mas não é justo esquecermo-nos daquele “rebanho de Deus que está entre nós”. Que Jesus nos auxilie para que deixemos o seu evangelho atuar em nossas vidas e corações transformando-nos em pessoas mais pacíficas e amorosas onde Deus nos colocou, em nossos lares, em nosso trabalho, na casa espírita onde trabalhamos, sejamos o exemplo de quem busca renovar-se a cada dia, melhorando-se constantemente. Que Pedro seja esta irmão maior a quem nos reunimos em prece, mostrando-nos que um coração sincero caminha com o Cristo e vai deixando moldar-se pelo Mestre, Filho do Deus Pai. Que a doce paz de Jesus nos acompanhe. Abraços fraternos. Campo Grande – MS, 07.08.2016. Candice Günther.

Lições Evangélicas dos Apóstolos no livro Paulo e Estevão

Pedro – Parte 09

“O que fica sendo o Espírito depois da sua última encarnação? "Espírito bem-aventurado; Espírito puro." Livro dos Espíritos, 170.

Não obstante o livro Paulo e Estevão ter como seus principais personagens estes mesmos que dão título ao livro, encontramos, também, valiosas referências e oportunidades de estudo de outros personagens. Estamos, assim, sondando os momentos em que Pedro aparece, fala, ensina ou até mesmo silencia, buscando assim uma visão mais aprofundada de como este apóstolo pensava, agia, sentia e acima de tudo, buscando como o Evangelho de Jesus renovou sua vida. Com este olhar temos aprendido muito, assim, vamos a um pequeno trecho, ainda do diálogo de Pedro com Jeziel, na Casa do Caminho: “Quase em lágrimas, leu o Sermão da Montanha, secundado pelas comovedoras lembranças de Pedro. Em seguida, ambos passaram a comparar os ensinamentos do Cristo com as profecias que o anunciavam. O jovem hebreu estava comovidíssimo e queria conhecer os mínimos episódios da vida do Mestre. Simão procurava satisfazê-lo, edificado e satisfeito. O generoso amigo de Jesus, tão incompreendido em Jerusalém, experimentava uma alegria orgulhosa por haver encontrado um jovem que se entusiasmava com os exemplos e ensinamentos do Mestre incomparável.” Pedro trouxe a Jeziel os escritos que tinha e Emmanuel destaca o momento em que Jeziel lê o Sermão do Monte, algo o comove a ponto de quase chorar. O mesmo rapaz que tanto sofrera, que sem nada ter feito de errado, foi julgado e sentenciado a uma provável morte, em trabalho forçado nas galeras, perdera o pai, a irmã estava em lugar ignorado e a vida tomava rumos inimagináveis e profundamente doloridos. Imaginemos quão profundas eram as dores e as incertezas que iam no coração de Jeziel, não obstante sua fé e submissão a vontade divina. Neste quadro desolador Jeziel conhece Pedro e é apresentado ao Messias e ouvir o Sermão do Monte é algo que lhe fala diretamente ao coração, como se o próprio Mestre ali estivesse. Recordemos, então, este valoroso texto que está no capítulo 05 do Evangelho de Mateus:

“5 As bem-aventuranças

— 1Vendo ele as multidões, subiu à montanha. Ao sentar-se, aproximaram-se dele os seus discípulos. 2E pôs- se a falar e os ensinava, dizendo: 3"Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus. 4Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra. 5Bemaventurados os aflitos, porque serão consolados. 6Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. 7Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. 8Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. 9Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. 10Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. "Bem-aventurados sois, quando vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por causa de mim. 12Alegrai-vos e regozijai-vos, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois foi assim que perseguiram os profetas, que vieram antes de vós. (Biblia de Jerusalém)

Um texto magnífico, reconhecido mesmo por aqueles que não são cristãos como Mahatma Gandhi que afirmou: “Se toda a literatura espiritual da humanidade perecesse, e só se salvasse o Sermão da Montanha, nada estaria perdido.” Também um grande espiritualista, JAN VAL ELLAM no livro O Testamento de Jesus contanos uma esperiência espiritual em que as bem-aventuranças são-lhe apresentadas como um TESTAMENTO de Jesus. Eurípedes Barsanulfo tornou-se espírita quando ouviu a interpretação deste texto bíblico através de médium, pessoa simples de fazenda, dando-lhe a mais bela explicação do Sermão do Monte que sua alma já encontrara, trazendo-lhe, assim, o entendimento que buscava há muito tempo. Enfim, muitos se dedicam ao estudo deste texto, encantando-se como Jeziel encantou-se, eis que trata-se de um texto profundamente consolador, que nos lembra de um Pai Justo e Misericordioso, que nos traz esperança de dias melhores e mais felizes, não obstante as lutas que nos acompanham. Mas há um detalhe muito interessante que faz este encontro de Jeziel com o Sermão do Monte ainda mais bonito e profundo. A dica está na própria narrativa de Emmanuel, quando ele diz “ambos passaram a comparar os ensinamentos do Cristo com as profecias que o anunciavam” Quais seriam estas profecias? Quiçá tivéssemos acesso a esta conversa de Pedro e Jeziel, sondando a fala de Jesus sob as luzes dos antigos profetas, com o conhecimento que eles tinham. Infelizmente, não o temos, mas isto não nos impede de buscar em outras fontes. Vejamos, então, o que encontramos. Antes, porém, quero recordar-lhes de que o profeta predileto de Jeziel era Isaias, como ele mesmo disse a Pedro, durante e depois de retornar dos fortes delírios febris. Pois bem, Isaias é um dos grandes profetas do antigo testamento e Jeziel tinha enorme apreço por seus textos justamente

por encontrar neles as linhas proféticas que diziam da vinda do Messias. Pois bem, o que descobrimos aos sondarmos os motivos de Jeziel ter se emocionado com O Sermão do Monte é que ele tem uma forte relação com o livro de Isaias. Segundo Sabine Meister, no livro “O Sermão do Monte e as Bem-Aventuranças, como compreender hoje”: “A poesia tem uma força que, apenas com palavras, consegue abrir a cortina e clarear o horizonte. É uma poesia que permite experimentar esperança. A bem-aventurança dos que choram, é muito forte, mesmo com sua linguagem simples. “Bem-aventurados os que choram porque serão consolados. Na bem-aventurança dos que choram, Cristo aparece como Consolador. Com esta pretensão, Jesus começa sua atuação pública: “O povo que andava em trevas viu grande luz e aos que viviam na região da sombra da morte resplandeceu-lhes a luz”. O que o profeta Isaías anuncia de modo figurado (Isaías 9:2) é cumprido por Jesus de Nazaré, escreve o evangelista Mateus (4.14-16). Lucas expressa-se de modo mais concreto ao relatar que Jesus, em sua primeira manifestação pública, lê no Antigo Textamento: “O espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu, para pregar boas-novas aos quebrantados, enviou-me a curar os quebrantados de coração, a proclamar libertação aos cativos, e a por em liberdade os algemados; a apregoar o ano aceitável do Senhor e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar todos os que choram” (Isaías 62.1-2). Em termos de conteúdo e até de sequência, as bem-aventuranças retomam de modo direto essa expectativa de revelação da chegada do Messias como consolador, relatada no Antigo Testamento.” Também no livro “Religiões da nossa vizinhança, História, Crença e Espiritualidade”, de , encontramos os seguintes dizeres: “Se quisermos, literariamente, enquadras as bem-aventuranças, encontraremos no profeta Isaías vários tópicos ou chichets que podem ter constituído o pressuposto veterotestamentário, o pano de fundo bíblico da Boa Nova que Jesus apresentou, segundo Mateus e Lucas, no sermão inaugural do Reino de Deus. Em Isaías (49,9-13;61,1-6) encontramos os passos principais que, cronologicamente, nos transportam ao cativeiro do povo hebraico em Babilônia, 586-538 a.C. Ali, o povo de Deus, afastado de sua terra, sem o conforto anímico que a frequência do Templo de Jerusalém lhe incutia, como que abandonado do seu próprio Deus, cativo, empobrecido, humilhado, poderia, de maneira mais sentida, apreciar os dons de liberadade, da salvação de Javé, que nunca o esqueceria nem abandonaria (Dt. 31,6; Js 1,5; Sm. 12, 22; Sl 93/94,14). Dando, então, um salto no tempo e reportando-nos à pregação de Jesus, verificaremos, de imediato, como idêntica situação se configurava; talvez, por isso, os textos de Isaías ressaltem de imediato e espontâneos no espírito de quem ouvia a pregação de Jesus, aliás, eles estavam bem vivos na consciência de Jesus. Lucas pretendeu sublinar a sua atualidade com o repetido “agora” das bemaventuranças e maldições e, principalmente, com o “hoje” através do qual Jesus aplicou à sua pessoa o texto de Is. 61,1-3: “Cumpriu-se, hoje, o que acabais de escutar.”(Lucas 4-21). Jesus aparece de fato, no seu tempo, como o profeta da Boa Nova da Salvação (evangelho). Na sua pessoa, na sua ação e pregação, Jesus inaugura o Reino de Deus. É por isso que, no começo do seu ministério, as bem-aventuranças nos transportam ao Livro das Consolações de Isaías, cap. 40-66

(...).” Vemos, assim, o quão profundo foi o encontro de Jeziel com o este magnifico Sermão de Jesus ao povo. Pedro foi muito hábil ao apresentar-lhe estes textos, havia diante dele um coração sedento do Messias e da Boa Nova e Pedro apresentou-lhe Jesus tal qual o mesmo se apresentara no Monte, ao povo, como nos conta Humberto de Campos no livro Boa Nova: “O crepúsculo descia num deslumbramento de ouro e brisas cariciosas. Ao longo de toda a encosta, acotovelava-se a turba imensa. Muitas centenas de criaturas se aglomeravam ali, a fim de ouvirem a palavra do Senhor, dentro da paisagem que se aureolava dos brilhos singulares de todo o horizonte pincelado de luz. Eram velhinhos trêmulos, lavradores simples e generosos, mulheres do povo agarradas aos filhinhos. Entre os mais fortes e sadios, viam-se cegos e crianças doentes, homens maltrapilhos, exibindo as verminas que lhes corroíam as mãos e os pés. Todos se comprimiam ofegantes. Ante os seus olhares felizes, a figura do Mestre surgiu na eminência enfeitada de verdura, onde perpassavam brandamente os ventos amigos da tarde. Deixando perceber que se dirigia aos vencidos e sofredores do mundo inteiro e como que esclarecendo espírito de Levi, que representava a aristocracia intelectual entre os seus discípulos, na sua qualidade de cobrador dos tributos populares, Jesus, pela primeira vez, pregou as bem-aventuranças celestiais. Sua voz caía como bálsamo eterno, sobre os corações desditosos. Bem-aventurados os pobres e os aflitos! Bem-aventurados os sedentos de justiça e misericórdia!... Bem-aventurados os pacíficos e os simples de coração!... Por muito tempo falou do Reino de Deus, onde o amor edificaria maravilhas perenes e sublimadas. Suas promessas pareciam dirigidas ao incomensurável futuro humano. Do alto do monte, soprava um vento leve, em deliciosas vagas de perfume. As brisas da Galiléia se haviam impregnado da virtude poderosa e indestrutível daquelas palavras e, obedecendo a uma determinação superior, iam espalhar-se entre todos os aflitos da Terra.” A lição é profunda e valorosa. Primeiramente, pensemos, como o Cristo nos foi apresentado? Reconhecemos nele o Consolador para as nossas almas ainda tão arraigadas no orgulho e no egoísmo? A doutrina espírita, tendo a proposta de resgatar o cristinismo redivivo dos primeiros tempos, está realmente levando uma mensagem de consolo aos corações que sofrem? Precisamos sentir como Jeziel sentiu, o texto bíblico há que ressoar em nossas almas para fazer-se entendido. E, como trabalhadores da doutrina espírita do Cristo, busquemos sempre a mensagem que leva paz e consolo aos corações na Terra. Não houve enfrentamento ou rejeição por parte de Jeziel quando Pedro lhe falou do Messias e se as bem-aventuranças lhe calaram fundo na alma foi porque, também ele, experimentou as dores e lutas do caminho. Ergamo-nos assim, como bem-aventurados que somos, permitindo que a mensagem do Cristo adentre em nossas vidas e ressoe em nosso viver. Jeziel encontrou em seu passado de dores e lutas a presença do Cristo Consolador, não apenas alguém no futuro, mas um amor presente em sua vida a todo instante. Ao entrelaçar as três revelações, partindo do livro Paulo e Estevão, chegando ao Evangelho de Mateus e ao livro de Isaias, no Antigo Testamento, encontramos uma perfeita harmonia entre as

verdades consoladoras que o Pai Celestial nos dirige. E os espíritos nos elucidam que ser bemaventurado é percorrer este caminho evolutivo, entrar no Reino dos Céus é atingir a perfeição. Não se trata de um lugar físico, mas de uma conquista do espírito. Jesus estava no Reino do Céus, mesmo quando viveu entre nós e veio nos dizer que todos nós entraremos no Reino do Pai. Pedro conviveu com Jesus, mas apenas após sua morte e ressurreição foi capaz de entender a grandiosidade do amor de Jesus. Tornou-se um dos que deveriam levar a mensagem do Cristo a muitos corações, como o de Jeziel, como o meu, como o seu. E com suas palavras, num trecho da sua segunda epístola encerramos o estudo de hoje: “3Pois que o seu divino poder nos deu todas as condições necessárias para a vida e para a piedade, mediante o conhecimento daquele que nos chamou pela sua própria glória e virtude. 4Por elas nos foram dadas as preciosas e grandíssimas promessas, a fim de que assim vos tornásseis participantes da natureza divina, depois de vos libertardes da corrupção que prevalece no mundo como resultado da concupiscência. 5Por isto mesmo, aplicai toda a diligência em juntar à vossa fé a virtude, à virtude o conhecimento, 6ao conhecimento o autodomínio, ao autodomínio a perseverança, à perseverança a piedade, 7à piedade o amor fraternal e ao amor fraternal a caridade. 8Com efeito, se possuirdes essas virtudes em abundância, elas não permitirão que sejais inúteis nem infrutíferos no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. 9Mas aquele que não as possui é um cego, um míope: está esquecido da purificação dos seus pecados de outrora. 10Por isto mesmo, irmãos, procurai com mais diligência consolidar a vossa vocação e eleição, pois, agindo desse modo, não tropeçareis jamais; 11antes, assim é que vos será outorgada generosa entrada no Reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.” Ouçamos as palavras de Pedro, confiando na promessa do Altíssimo de que todos seremos bem-aventurados, colhendo esperança e paz para o caminho evolutivo, com suas lutas e dores. Inspiremo-nos em Jeziel que ouviu a boa nova e permitiu que ela adentrasse em sua vida de forma magnífica, levando ao mundo o exemplo de abnegação e sacrifício como o primeiro mártir do cristianismo.

Abraços Fraternos. Campo Grande – MS, 14.08.2016. Candice Günther.

P.s.: Considerando a reencarnação como Lei Divina, também Jeziel viveu anteriormente. Pensemos, em mera suposição, este abnegado trabalhador de Jesus ter vivido entre o povo hebreu, como um profeta, talvez o que mais lhe inspirava...e se Jeziel tiver sido o próprio Isaias ou um de seus discípulos? Algo a se supor com cuidado e precaução, mas, sem dúvida, uma grande possibilidade. Talvez por este motivo, por ter sido um profeta do tempo antigo, Jeziel pronunciou uma frase ao desencarnar: “— Eis que vejo os céus abertos e o Cristo ressuscitado na grandeza de Deus!..” O povo hebreu ficou algum tempo sem profetas, considerou-se este tempo com “céus fechados”, uma vez que o povo não tinha um mensageiro direto de Deus, foi uma época rica de estudos, buscando através dele a vontade de Deus. Céus abertos, portanto, significa a experiência da presença de Deus, algo difícil de explicar com palavras. Imaginemos assim, Isaias, o profeta, retornando a Terra para vivenciar a boa nova do Cristo Jesus, faz todo sentido a frase final de sua vida, eis que completava a sua jornada. Não temos notícias de nova encarnação de Estevão, apenas sabemos que ele trabalha ativamente pela evolução da Terra.

As lições dos Apóstolos no livro Paulo e Estevão. Pedro – Parte 10

Chegamos ao décimo estudo sobre Pedro, sondando sua fala, seus aprendizados, seus sentimentos, como alguém que olha para um irmão mais velho em busca de conselho e de aconchego. E Pedro ensina, encanta, modifica... Tem algo acontecendo em meu mundo interior, algo que não sei descrever com clareza... é uma calma associada com uma certeza de que tudo está em conformidade com a Lei Divina. A primeira vez que li o livro foram alguns dias, devorei as páginas, depois li com mais calma...e depois resolvi estudá-lo. Agora, não apenas um estudo, ele se tornou uma referência, um ponto de apoio que me remete a outros caminhos, por outros livros, lugares, pessoas, sentimentos. De livro, virou professor, amigo, conselheiro...ele me apresenta um novo e grande amigo, também professor, conselheiro, irmão mais velho, Pedro!! Há uma maturidade espiritual em Pedro que, até então, eu não havia encontrado. E a obra do Chico nos permite trilhar este caminho, nos mostra quando ele aprendeu, nos mostra ele pondo em prática o ensino e desta forma, evangelizando. Mas Pedro, muito mais que um homem de palavras, era um homem de sentimentos, de caridade, de presença. Ouvir sua conversa com Jeziel, sondando frases, é um momento de descoberta, de luzes na alma. A lição de hoje fala-nos do perdão e nos vem deste homem magnífico que ouviu do Mestre a frase tão famosa quanto difícil de ser praticada: “perdoa teu irmão, não apenas sete vezes, mas setenta vezes sete.” Esta é uma lição conhecida e não vivida, ou melhor, vivida por poucos. Pedro ensinounos com sua vida, foi capaz não apenas de perdoar o seu irmão, foi muito além, perdoou a si mesmo. Vamos, então, ao trecho do livro Paulo e Estevão que nos direcionou o estudo da semana:

“— O Cristo nos trouxe a mensagem do amor — explicou Pedro —, completou a Lei de Moisés, inaugurando um novo ensinamento. A Lei Antiga é justiça, mas o Evangelho é amor. Enquanto o código do passado preceituava o “olho por olho, dente por dente”, o Messias ensinou que devemos “perdoar setenta vezes sete vezes” e que se alguém quiser tirar-nos a túnica devemos dar-lhe também a capa.” A lei antiga não estava errada, estava incompleta, havia justiça, faltava amor. Então, antes de falarmos de amor, sondemos um pouco sobre a justiça.

Kardec, quando apresentou-nos as Leis Morais, no Livro dos Espíritos, trouxe uma a uma as leis, porém, a última, associou a justiça, o amor e a caridade em uma só. Qual a razão? Retornemos à fala de Pedro e teremos a resposta: “A Lei antiga é a justiça, mas o Evangelho e amo.” E, acrescentamos nós, o lema do espiritismo deixado por Kardec é “Fora da caridade não há salvação.” Eis as três revelações trazidas na última lei moral, num encadeamento temporal, de contínuo aprendizado da humanidade. E, nesta lei, Kardec nos fala da justiça, questão 876: “No coração do homem imprimiu Deus a regra da verdadeira justiça, fazendo que cada um deseje ver respeitados os seus direitos. Na incerteza de como deva proceder com o seu semelhante, em dada circunstancia, trate o homem de saber como quereria que com ele procedessem, em circunstancia idêntica. Guia mais seguro do que a própria consciência nao lhe podia Deus haver dado.” Para nos auxiliar no entendimento desta lei divina, da Justiça, Amor e Caridade, vejamos que no livro Boa Nova, Humberto de Campos nos traz o momento em que Jesus inicia a conversa com Pedro sobre o perdão, trazendo primeiramente o conceito de justiça: “O que é indispensável é nunca perdermos de vista o nosso próprio trabalho, sabendo perdoar com verdadeira espontaneidade de coração. Se nos labores da vida um companheiro nos parece insuportável, é possível que também algumas vezes sejamos considerados assim. Temos que perdoar aos adversários, trabalhar pelo bem dos nossos inimigos, auxiliar os que zombam da nossa fé.” Se no evangelho os espíritos nos indicam o respeito aos direitos de cada um e nos aconselham a pensar como gostaríamos de ser tratados em idêntica circunstância, na obra de Humberto de Campos vemos esta regra aplicada. É justo perdoar quem é insuportável, por que muitas vezes somos insuportáveis também, e quando assim o somos, gostaríamos de ser perdoados. Assim, dar ao outro o que gostaríamos de receber nada mais é do que um exercício de justiça. Mas não apenas isso. É interessante observar que, assim como Kardec nos apresenta a justiça, o amor e a caridade unidos, quando Jesus ensina Pedro sobre o perdão, ele aborda estes dois primeiros aspectos da lei divina: a justiça e o amor. Assim, sondemos um pouco sobre o amor. Dizem os espíritos, na questão 886, do Livro dos Espíritos: “O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, pois amar o próximo é fazer-lhe todo o bem que nos seja possível e que desejáramos nos fosse feito. Tal o sentido destas palavras de Jesus: Amai-vos uns aos outros como irmãos.” Assim como Pedro o disse no livro Paulo e Estevão, os espíritos nos dizem que o amor e a caridade são um complemento da lei de justiça. Interessante, porém, é perceber que ao ensinar

a Pedro sobre o perdão, conforme relato de Humberto de Campos, Jesus usa esta lei moral, inicia falando da justiça e prossegue: “Pedro, o perdão não exclui a necessidade da vigilância, como o amor não prescinde da verdade. A paz é um patrimônio que cada coração está obrigado a defender, para bem trabalhar no serviço divino que lhe foi confiado. Se o nosso irmão se arrepende e procura o nosso auxílio fraterno, amparemo-lo com as energias que possamos despender; mas, em nenhuma circunstância cogites de saber se o teu irmão está arrependido. Esquece o mal o trabalha pelo bem. Quando ensinei que cada homem deve conciliar-se depressa com o adversário, busquei salientar que ninguém pode ir a Deus com um sentimento de odiosidade no coração. Não poderemos saber se o nosso adversário está disposto à conciliação; todavia, podemos garantir que nada se fará sem a nossa boa-vontade o pleno esquecimento dos males recebidos. Se o irmão infeliz se arrepender, estejamos sempre dispostos a ampará-lo e, a todo momento, precisamos e devemos olvidar o mal.” (Boa Nova – Humberto de Campos) E, chegamos então, ao momento em que Pedro é ensinado por Jesus sobre o perdão, tal como Pedro, agora, ensina a Jeziel: “Foi quando, então, fez Simão Pedro a sua célebre pergunta: “Senhor, quantas vezes pecará meu irmão contra mim, que lhe hei de perdoar? Será até sete vezes?” Jesus respondeu-lhe, calmamente: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete.” (Boa Nova – Humberto de Campos) Esta referência que Jesus faz a “setenta vezes sete” não é uma inovação de Jesus, mas trata-se de uma referencia à lei antiga de Moisés, encontrada em Gênesis, capítulo 4: “É que Caim é vingado sete vezes, mas Lamec, setenta e sete vezes!" A grande questão é que em Gênesis a progressão era de vingança, porém, Jesus a corrige para que ela seja de perdão.

Mas a lição sobre o perdão, não se encerra nos aspectos da justiça e do amor, Jesus não era Mestre de letras, a sua cartilha era a sua vida e o livro que nos deixou foi o seu viver. Assim, Humberto de Campos encerra a narrativa sobre este momento célebre e histórico, em que Pedro aprende sobre o perdão, falando-nos da vivência de Jesus, espelhando, assim, o desfecho desta tríade perfeita da lei moral: justiça, amor e caridade: “Daí por diante, o Mestre sempre aproveitou as menores oportunidades para ensinar a necessidade do perdão recíproco, entre os homens, na obra sublime da redenção. Acusado de feiticeiro, de servo de Satanás, de conspirador, Jesus demonstrou, em todas as ocasiões, o máximo de boa-vontade para com os espíritos mais rasteiros de seu tempo. Sem desprezar a boa palavra, no instante oportuno, trabalhou a todas as horas pela vitória do amor, com o mais alto idealismo construtivo. E no dia inesquecível do Calvário, em frente dos seus perseguidores e verdugos, revelando aos homens ser indispensável a imediata conciliação entre o espírito e a harmonia da vida, foram estas as suas últimas palavras “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem!.”

Jesus completa o ensino nos mostrando que se o amor é o mais sublime dos sentimentos, a caridade é o amor em ação. Constrói, assim, os alicerces de um mundo novo, um mundo futuro em que saberemos perdoar porque finalmente compreendemos que a justiça, o amor e a caridade precisam estar em uníssono, e só são verdadeiros quando caminham lado a lado. E por ter compreendido esta lição é que Simão Pedro fala sobre a justiça e o amor a Jeziel quando ensina sobre o perdão, não apenas sete vezes, mas setenta vezes sete. Não olvida, porém, que a caridade caminha junto com o coração que perdoa, porque é justo, porque ama, mas, também, porque “se alguém quiser tirar-nos a túnica devemos dar-lhe também a capa”. Pedro prosseguiu em sua jornada, como nos conta Maria Dolores no livro A vida conta, em trabalho árduo para colocar em prática estes valorosos ensinamentos de Jesus. A justiça, o amor e a caridade em uníssono, pela construção de um mundo melhor. Trouxe ao estudo esta poesia, porque muitas vezes achamos o perdão algo distante e difícil, mas Pedro nos ensina que o Mestre zela por nós e nos aconselhará quando sucumbirmos as tendências de vingança, tão arraigadas em nosso íntimo. Em forma de poesia, temos valorosa lição de alguém que persistiu, errou e tornou a tentar, não porque já era bom e completo, mas porque buscava em Jesus o Mestre e Amigo de todas as horas: PERDÃO E PAZ - Maria Dolores O refúgio de amor da Boa Nova, Denominado Casa do Caminho, Albergava um montão de pessoas em prova, Entremostrando, fartamente, Doença, Inquietação, cansaço, desalinho... O Sol se despedia no poente. Tudo, em Jerusalém, 'no entardecer, Requeria parada de lazer Depois do dia quente. Entretanto, na Casa do Senhor, Intensa, prosseguia, A tarefa de paz, de compreensão e amor... Enfermos sem família que os quisesse, Débeis mentais em desvalia, Mulheres desoladas, Crianças de ninguém, colhidas nas calçadas, Junto dos companheiros de Jesus, Alinhavam-se em prece, Rogando aos Céus socorro, amparo e luz... No transcurso do dia, Simão Pedro suara e trabalhara tanto, Que se acolhera, a sós, em singelo recanto, Tentando se esquivar à estafa que sentia... Mas, um dos assessores, Veio apressado pelos corredores,

E disse-lhe, através da voz tremente: – “Irmão Pedro, chegou à nossa porta Um velhinho em feridas... Geme e grita com dores incontidas. É o rabino Joaz que conheceis, Antigo fazedor de nossas leis”. Pedro aprumou-se e respondeu: Como quem se arrojara a intenso asco: – “Joaz, filho de Aquim, o terrível carrasco, Que odeia o mundo galileu”? Em seguida indagou do jovem emissário:– “Não conheces a trama do Calvário? Pois não sabes, nos textos em que estudas, Que foi ele um dos vários matadores Que aconselharam Judas A complicar o Mestre Inesquecível”? E, dando um murro à mesa, Ajuntou: “É impossível!... Aqui não entrará semelhante traidor... Que ele sofra, por lei da Natureza, Remorso e enfermidade, entre gritos de dor... Cumpro o que penso e falo, Eu mesmo irei à porta, a fim de despachá-lo”... Descia a noite devagar, A penumbra invadia o grande lar. Pedro avançava para a entrada, Mostrando na expressão a alma rude e agitada Mas, quase rente à porta, um homem sereno Nele cravou o olhar calmo e profundo... O apóstolo excitado o reconheceria Fosse onde fosse, em todo o mundo... Era Jesus, o Mestre Nazareno... Empolgado de pranto e de alegria, Simão interrompeu, atarantado, “A que vindes, Senhor? Ordenai o que for de vosso agrado”... O Cristo replicou, carregando de amor As palavras sublimes que trazia: – “Compreendo, Simão, a repulsa que sentes, Não pudeste esquecer as horas de agonia Dos nossos dias diferentes... Mas escuta, Simão: É preciso abrandar o coração... Olvidar toda ofensa é prosseguir em paz. Pedro, venho pedir-te por Joaz, Ele já não é mais o duro algoz de outrora,

É um pobre penitente que se escora Nas chagas que carrega, Um enfermo infeliz De alma cansada e cega Que a si mesmo se acusa e se maldiz... Recorda a nossa fala de outras vezes, Se Joaz te feriu a alma fraterna e boa, Pedro, escuta!... Perdoa Setenta vezes sete vezes... Não te detenhas, vai, Lembra o Infinito Amor de Nosso Pai... Cada qual pagará pelas culpas que tem Na justiça que vela sem cessar, Quanto a nós cabe sempre a tarefa do bem: Aprender e servir, compreender e amar... Auxilia-me, enfim, Faze o bem a Joaz, qual o fazes por mim”!... Dissolveu-se na sombra a divina figura; O apóstolo chorou, tocado de amargura... Depois, ganhou a porta em ritmo apressado. Um homem seminu jazia esfarrapado, Estirado na pedra à sua própria frente. O antigo pescador contemplou o doente E inquiriu sobre ele ao tristonho rapaz Que se punha a assistí-la. O moço esclareceu: – “Amigo, este é Joaz Que pede proteção ao teto deste asilo, Está mudo, febrento, desprezado... Recebei-o, por Deus, ao vosso lado Por tutelado e amigo, O rabino de outrora hoje é um triste mendigo”... Transformado, Simão, Alçou Joaz Ao nível de seu próprio coração. Depois falou para o interlocutor: – “Ide em paz, Deixai Joaz conosco, é nosso irmão, Ele pertence agora ao nosso amor, Tal qual se fez e tal qual se apresenta”... E enquanto o jovem sai como quem não se atrasa A fim de obedecer aos seus chefes hebreus, Pedro ainda aditou em voz tranquila e atenta, – “Ele será mais nosso em nossa casa, Que esta casa é de Deus”!...

Pedro, como uma homem que lutou contra seus primitivos impulsos e os venceu, torna-se um bom conselheiro. Ele nos deixou em sua segunda epístola um caminho a trilhar para que tenhamos êxito em nossa jornada: “Por isto mesmo, aplicai toda a diligência em juntar à vossa fé a virtude, à virtude o conhecimento, 6ao conhecimento o autodomínio, ao autodomínio a perseverança, à perseverança a piedade, 7à piedade o amor fraternal e ao amor fraternal a caridade.” A piedade ao amor, o amor a caridade, ou como Kardec nos apresentou: justiça, amor e caridade. Recordemos, enfim, quando chamados a perdoar que devemos ser justos (também nós erramos, senão hoje, outrora), devemos ser amorosos (amar aos outros como a nós mesmos) e devemos ser caridosos (fazer ao outro o que gostaríamos que fizessem a nós mesmos). Buscando estes três crivos, alcançaremos uma vida plena e estaremos aptos e receber inimigos de outrora em nossa casa, como Pedro recebeu Joaz, quiça também estaremos aptos a receber Jeziel. Que Jesus, nosso Mestre, e os seus bons espíritos nos auxiliem para que saibamos perceber em nosso dia a dia as oportunidades de praticar estes valorosos ensinos. Fraterno abraço. Campo Grande – MS, 20.08.2016. Candice Günther.

Lições Evangélicas dos Apóstolos no livro Paulo e Estevão Pedro – Parte 11

Do muito que temos aprendido com estes estudos dos romances de Emmanuel, há algo muito especial que Pedro tem me ensinado e é a forma como ele conversa com Jeziel, o respeito e cuidado que ele tem com a pessoa dele, com suas aptidões e preferências. Para falar do Cristo, Pedro usou do livro que Jeziel mais gostava no Antigo Testamento, Isaías, introduziu os novos conceitos que o Cristo trouxe ao mundo sem nenhuma tentativa de romper ou desmerecer quem Jeziel já era. Ele nos ensina que o Cristo veio complementar a lei de Moisés, mas, acima de tudo, demonstra isso com suas atitudes e palavras. O amor que o Cristo veio nos ensinar emana em cada gesto de Pedro, que vai sutilmente entrando na vida de Jeziel sem, no entanto, tentar impor a sua personalidade. Ele observa quem é Jeziel, o aceita como é, ama-o profundamente e entrega-lhe o que há de melhor em sua vida, a sua experiência com o Cristo. É um movimento único de alma para alma. Vejamos, assim, mais um trecho da obra Paulo e Estevão a fim de explorarmos esta perspectiva e ensinamento que Pedro nos oferece: “— Para que não te esqueças da Acaia, onde o Senhor se dignou de buscar-te para o seu ministério divino, eu te batizarei no credo novo com o nome grego de Estevão. Consolidaram-se ainda mais os laços de simpatia que os aproximavam desde o primeiro instante, e o moço jamais olvidaria aquele encontro com o Cristo, à sombra das tamareiras aureoladas de luz.”

Acaia era a provincia de onde viera Jeziel, sua capital era Corinto e Emmanuel nos dá uma bela explicação de como era a cidade naqueles tempos:

“A cidade, reedificada por Júlio César, era a mais bela jóia da velha Acaia, servindo de capital à formosa província. Não se podia encontrar, na sua intimidade, o espírito helênico em sua pureza antiga, mesmo porque, depois de um século de lamentável abandono, após a destruição operada por Múmio, restaurando-a, o grande imperador transformara Corinto em colônia importante de romanos, para onde acorrera grande número de libertos ansiosos de trabalho remunerador, ou proprietários de promissoras fortunas. A estes, associara-se vasta corrente de israelitas e considerável percentagem de filhos de outras raças que ali se aglomeravam, transformando a cidade em núcleo de convergência de todos os aventureiros do Oriente e do Ocidente. Sua cultura estava muito distante das realizações intelectuais do gosto grego mais eminente, misturando-se, em suas praças, os templos mais diversos. Obedecendo, talvez, a essa heterogeneidade de sentimentos, Corinto tornara-se famosa pelas tradições de libertinagem da grande maioria dos seus habitantes. Os romanos lá encontravam campo largo para as suas paixões, entregando-se, desvairadamente, ao venenoso perfume desse jardim de flores exóticas.

Ao lado dos aspectos soberbos e das pedrarias rutilantes, o pântano das misérias morais exalava nauseante bafio.”

E o novo nome de Jeziel, o nome como ele seria conhecido e reconhecido pelo mundo até os dias atuais, Estevão, era para lembrá-lo de sua terra natal. O que Pedro queria com tal homenagem? Corinto, como Emmanuel escreve, era uma cidade de libertinagem, onde os romanos encontravam campo para suas paixões e descaminhos. Não seria melhor esquecer esta cidade e recomeçar? Não seria justo a Jeziel deixar para trás suas dores, as injustiças sofridas? Seu novo nome lhe era dado justamente para relembrar e homenagear estes tempos e esta terra?

Simão Pedro tinha aprendido com Jesus a olhar para Corinto e suas libertinagens e incorreções com outros olhos. Não a julgava mais, reconheci-a como uma doente que carece do Cristo, que necessita de amor. Recordemos este momento na vida de Pedro em que ele recebe este ensino valoroso:

“Logo depois de se estabelecerem os apóstolos em Jerusalém, em seguida às revelações do Pentecostes, ia o serviço de assistência social maravilhosamente organizado, não obstante as perseguições que se esboçavam, quando a casa acolhedora, dirigida por Simão Pedro, foi procurada por infeliz mulher. Trazia consigo todos os estigmas das pecadoras. Fora lapidada e exibia manchas sanguinolentas na roupa em frangalhos. Pronunciava palavras torpes. Revelava-se semilouca e doente. As senhoras do reduto cristão retraíram-se, alarmadas. E o próprio Pedro, que recebera preciosas lições do Senhor, vacilou quanto à atitude que lhe seria adequada. Como haver-se nas circunstâncias? Destinava-se aquele abrigo ao recolhimento de criaturas desventuradas; entretanto, como classificar a triste posição daquela mulher que, naturalmente, buscara o vaso da angústia nos excessivos gozos da vida? Não estaria a sofredora resgatando os próprios débitos? Se bebera com loucura na taça dos prazeres, não lhe caberia o fel da aflição? Dispunha-se a rogar-lhe que se afastasse do asilo, quando recordou a necessidade de orar. Se o caso era omisso nas disposições que regiam o instituto fraterno, tornava-se imperioso consultar a inspiração do Messias. O Mestre lhe ditaria o recurso. Buscarlhe-ia, por isso, o conselho na prece ardente. Enquanto a infortunada aguardava resposta, sob o apupo de pequena multidão que lhe contemplava as feridas, o apostolo buscou a solidão do santuário doméstico, e exorou a proteção do Amigo Divino, que fora crucificado. Em breves instantes viu Jesus, nimbado de claridade resplandecente, não longe de suas mãos, que se estenderam suplicantes:

- Mestre - rogou Pedro, atacando diretamente o assunto, como quem sabia da brevidade daqueles momentos inesquecíveis -, temos à entrada uma pecadora reconhecidamente entregue ao mal! Ajuda-me, inspira-me!... que farei?!... O Salvador entreabriu os lábios sublimes e falou: - Pedro, eu não vim curar os sãos... O discípulo entendeu a referência, mas, ponderando a grave responsabilidade de quem administra, acentuou: - Senhor, estamos agora sem tua orientação direta e visível. Recebê-la-emos neste lar, para que? A fim de julgá-la? Com o mesmo olhar sereno, Jesus replicou: - Nesse mister permanecem na Terra numerosos juizes. - Para fazer-lhe sentir a extensão dos erros? - indagou Simão, em lágrimas. - Não, Pedro - tornou o Mestre -, para dar-lhe conhecimento da penúria em que vive, conta nossa irmã, nas vias públicas, milhares de bocas que amaldiçoam e outras tantas mãos que apedrejam. - Para conferir-lhe a noção do padecimento em que se mergulhou por si mesma? - Também não. Em tarefa ingrata como essa, vivem aqueles que a exploram, dando-lhe fome e sede, pranto e aflição... - Para dizer-lhe das penas que a esperam neste e no “outro mundo”? - Ainda não. Nesse labor terrível respiram os espíritos acusadores, que não hesitam na condenação em nome do Pai, olvidando as próprias faltas... O ex-pescador de Cafarnaum, então, chorou, súplice, porque no íntimo desejava conformar-se com os ditames da justiça, exemplificando, simultaneamente, com o amor que o Cristo lhe havia legado. Arquejava, soluçante, ignorando como prosseguir nas indagações, mas Jesus dele se acercou, iluminado e benevolente... Enxugou-lhe as lagrimas que corriam abundantes e esclareceu: - Pedro, para ferir e amaldiçoar, sentenciar e punir, a cidade e o campo estão cheios de maus servidores. Nosso ministério ultrapassa a própria justiça. O Evangelho, para ser realizado, reclama o concurso de quem ampara e educa, edifica e salva, consola e renuncia, ama e perdoa... Abre acesso à nossa irmã transviada e auxilia-a no reerguimento. Não a precipites em despenhadeiros mais fundos... Arranca-a da morte e traze-a para a vida... Não te esqueças de que somos portadores da Boa Nova da Salvação!...

Logo após, entrou em silêncio, diluindo-se-lhe a figura irradiante na claridade evanescente da hora vespertina... O apóstolo levantou-se, deu alguns passos, atravessou extensa fileira de irmãos espantados, abriu, de manso, a porta e dirigiu-se à mulher, acolhedor: - Entre, a casa é sua! - Quem sois? - interrogou a infeliz, assombrada. -Eu? - falou Pedro, com os olhos empapuçados de chorar. E concluiu: - Sou seu irmão.” (Livro Luz Acima)

Assim como esta mulher que fraquejara e necessitava de auxilio, de amor, amparo e carinho, Acaia, em especial, Corinto, necessitava do Cristo. A cidade receberia, anos mais a frente, uma das poesias mais lindas já escritas sobre o amor. Paulo a escreveria, relembrando de Abigail, mas a endereçando para a cidade adoecida de Estevão, que conheceria, como todos nós, o Cristo e por seu sublime amor seria curada. Relembremos a poesia de Paulo, que se encontra na Primeira Carta aos Coríntios, capítulo 13: “1Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e as dos anjos, se eu não tivesse a caridade, seria como um bronze que soa ou como um címbalo que tine.2Ainda que eu tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda a ciência, ainda que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tivesse a caridade, eu nada seria. 3Ainda que eu distribuísse todos os meus bens aos famintos, ainda que entregasse o meu corpo às chamas,se não tivesse a caridade, isso nada me adiantaria. 4A caridade é paciente, a caridade é prestativa, não é invejosa, não se ostenta, não se incha de orgulho. 5Nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. 6Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. 7Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. 8A caridade jamais passará. Quanto às profecias, desaparecerão. Quanto às línguas, cessarão. Quanto à ciência, também desaparecerá.9Pois o nosso conhecimento é limitado, e limitada é a nossa profecia. 10Mas, quando vier a perfeição, o que é limitado desaparecerá. 11Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Depois que me tornei homem, fiz desaparecer o que era próprio da criança. 12Agora vemos em espelho e de maneira confusa, mas, depois, veremos face a face. Agora o meu conhecimento é limitado, mas, depois, conhecerei como sou conhecido. 13Agora, portanto, permanecem fé, esperança, caridade, estas três coisas. A maior delas, porém, é a caridade.” (Tradução Bíblia de Jerusalém)

Ante está belíssima poesia de Paulo, ressoa em nossos ouvidos e corações a fala de Jesus a Pedro: “O Evangelho, para ser realizado, reclama o concurso de quem ampara e educa, edifica e salva, consola e renuncia, ama e perdoa...” A lembrança de Acaia no novo nome de Jeziel vai ganhando novos contornos, mas há algo ainda mais belo que podemos reter deste momento entre Pedro e Estevão. A escolha do nome grego: “O seu nome vem do grego Στέφανος (Stéphanos), o qual se traduz para aramaico como Kelil, significando coroa.” (Wikipédia)

Não obstante a escolha de Pedro ter sido um nome grego, ele tinha um significado para ambos. Tanto Pedro quanto Jeziel eram judeus e nosso questionamento, então, foi qual seria o significado da coroa para ambos. Havia algo muito profundo naquele gesto de Pedro, eis que tornou-se um momento que foi significativo para Estevão: “o moço jamais olvidaria aquele encontro com o Cristo, à sombra das tamareiras aureoladas de luz.” Encontramos no livro Antropologia do Antigo Testamento, de Hans Walter Wolf, uma referência interessante, em comentário ao livro de Gênesis, em especial ao momento da criação do homem quando Deus lhe concede um encargo em relação a criação: “Na palavra da bênção em 1.28, é ordenado ao ser humano, ainda antes do domínio dos animais, o domínio da terra em geral. De modo semelhante, no Salmo 8.6s., o sentido da coroação do ser humano é visto no fato de que ele "domine" as obras do poder criador de Deus,"? sendo "tudo posto sob os seus pés". (...) o Salmo 8 celebrou a destinação do ser humano para dominar as criaturas não humanas. Esse salmo leva à percepção última, decisiva e abrangente, salientando que a coroação do ser humano como administrador do mundo, em vista de sua pequenez e de sua miséria carente de cuidados, é tudo menos óbvia, e não se fundamenta absolutamente no ser humano mesmo (vv. 3s.). 4. O ser humano é destinado a louvar a Deus. O ser humano do Salmo 8, que descobre sua superioridade no mundo, não a pode exprimir exaltando-se a si mesmo, mas apenas louvando a de Deus (v. 5s.): “Pouco lhe deixaste faltar para ser divino, de glória e honra o coroaste. Fazes com que ele domine as obras das tuas mãos. Tudo puseste aos seus pés.” E todo o salmo está emoldurado pela antífona (v. 1,9): “Javé, nosso soberano, como é glorioso o teu nome em todo o mundo.”

Pedro, ao batizar Jeziel, agora cristão, como Estevão, leva-o novamente aos ensinamentos do livro de Gênesis, ao momento da criação, ao momento em que o ser humano é chamado por Deus para ser o seu administrador e lhe relembra do encargo, uma vez que com o Cristo, somos novas criaturas. Jesus veio ao mundo para nos lembrar de quem somos perante a criação e quem somos perante Deus. Jeziel o sabia e Pedro também, sabemos nós? Assim como Jesus é tido como o novo Adão, sendo, porém, aquele que permanece fiel e obediente a Deus, cada um de nós é chamado para retomar este caminho de comunhão com Deus. Não porque sejamos grandes, como o salmista relembra, somos pequenos e frágeis, mas o somos porque Deus nos fez assim e nEle buscaremos a força para cumprirmos o nosso papel. Pedro, em sua segunda epístola nos relembra de quem somos e para que viemos, ainda no primeiro capítulo: “Pois que o seu divino poder nos deu todas as condições necessárias para a vida e para a piedade, mediante o conhecimento daquele que nos chamou pela sua própria glória e virtude. 4Por elas nos foram dadas as preciosas e grandíssimas promessas, a fim de que assim vos tornásseis participantes da natureza divina, depois de vos libertardes da corrupção que prevalece no mundo como resultado da concupiscência.” (Tradução Bíblia de Jerusalém)

Resta-nos, assim, refletirmos sobre a nossa condição humana, a fim de que busquemos cumprir o papel que o Pai Criador nos deixou. Ao escolher o novo nome de Jeziel, Pedro não apenas o fez servidor do Cristo, mas relembrou-lhe da sua condição de filho de Deus, partícipe de sua criação. É belíssima a forma como Pedro aproxima-se de Jeziel e o leva para o Cristo, todas as suas ações ressoam um profundo amor e respeito por quem Jeziel era, nada foi esquecido. Olhou-o com tamanha profundidade que todos os seus gestos deram-lhe a dimensão de quem era o Cristo e o que ele estava realizando no coração dos homens, porque acima de tudo, Pedro amou Jeziel como Cristo o amava.

Que Jesus nos conduza e nos ensine a viver de forma tão amorosa e profunda, como ensinou a Pedro e a Estevão e que estes exemplos prossigam ressoando em nossos corações. Abraços fraternos. Campo Grande – MS, 28.08.2016. Candice Günther.

Lições Evangélicas dos Apóstolos no livro Paulo e Estevão Pedro – Parte 12

Todos os momentos em que Pedro aparece no livro Paulo e Estevão nos ofertam oportunidade de observar e refletir sobre a postura de vida de uma alma que deixou-se transformar pelo Cristo. Pedro foi um homem como poucos, pela oportunidade de convivência com Jesus, dia a dia, refeição a refeição, viagem a viagem, foi assimilando aos poucos a mensagem da boa nova. Assim, hoje, nos convida para que também nós o façamos e nos oferta a sua experiência, o seu caminhar. É certo que cada um de nós trilhará seu próprio caminho, porém, se já há luz na vida de um irmão, importa que o olhemos com mais cuidado, certamente há para nós uma rica oportunidade de percebermos o que em nós ainda carece de reforma e refazimento. O trecho que estudaremos esta semana trata de um momento muito delicado na Casa do Caminho. Estevão havia entrado em confronto com Saulo e as ameaças de prisão e medidas punitivas eram iminentes. Alguns apoiavam Estevão, outros o criticavam. Em meio a este tumulto, sondemos a postura de Pedro, eis que ainda hoje existem muitas e muitas situações de conflito, de dúvidas, de disputas dentro das casas religiosas, espíritas ou não. Vejamos um trecho do livro Paulo e Estevão: “Pedro fazia-lhe sentir a oportunidade da ocorrência, para que se revelasse a liberdade do Evangelho. E reforçava os argumentos com a lógica dos fatos. A resolução de Oséias e Samuel, entregando-se ao Cristo, era invocada para justificar o êxito espiritual do “Caminho”. Toda a cidade comentava os acontecimentos; muitos se aproximavam da igreja com sincero desejo de melhor conhecer o Cristo, e isso devia significar a vitória da causa. Tiago, no entanto, não se deixava vencer pelos mais fortes raciocínios. A discórdia tomava corpo, mas Simão e o filho de Zebedeu sobrepunham a tudo os interesses da Mensagem de Jesus.” Não obstante as ameaças dos Fariseus, Pedro via em tudo a oportunidade de esclarecimento a muitos. O Evangelho de Jesus precisava ser divulgado, conhecido, ele ansiava por isso, porém, estava envolvido com o cuidado dos doentes e necessitados da Casa do Caminho. Com a chegada de Estevão, porém, retornaram as pregações e o jovem possuía um carisma muito grande, o dom da palavra, despertando a boa nova em muitos.

Assim, vemos que se para o mundo a situação era de ameaça, se aos olhos dos homens Pedro e os homens do caminho corriam o risco de prisão e até de morte, o Apóstolo do Cristo via tudo como uma oportunidade: “para que se revelasse a liberdade do Evangelho.” Não havia mais aquele temor de outrora diante da tempestade, Pedro aprendera a confiar e agora andava sobre as águas, permitia-se ver além das circunstâncias e confiava nos desígnios de Deus. O simples fato de ver algo bom em uma experiência de dor e sofrimento já nos ressalta aos olhos e faz refletir na confiança de Pedro de que tudo que lhe acontecia era permitido por Deus, porém, precisamos refletir um pouco sobre o significado da expressão “liberdade do Evangelho”. Pensemos que nos aspecto físico, para a humanidade a liberdade se contrapõe à escravidão. E, o conceito se aplica, também, para refletirmos que o Evangelho livre se contrapõe aos nossos conceitos que escravizam, prende, impedem o movimento, cerceiam a ascensão do espírito. Percebia Pedro que o movimento judaizante queria moldar o Evangelho conforme a sua forma de ver e viver, porém, isto seria escravizá-lo aos interesses humanos. Emmanuel nos fala, no Prefácio do livro Boa Nova: “qual roteiro indelével para a concórdia dos homens, ficaria o Evangelho como o livro mais vivaz e mais formoso do mundo, constituindo a mensagem permanente do céu, entre as criaturas em trânsito pela Terra, o mapa das abençoadas altitudes espirituais, o guia do caminho, o manual do amor, da coragem e da perene alegria.” Necessário se faz que pensemos o que o evangelho representa para a nossa vida. Tem sido um guia? Um manual do amor, da coragem e da alegria? A nossa postura ante a boa nova é de liberdade? Não apenas de nós mesmos, mas do outro? Avancemos um pouco mais nas reflexões sobre a liberdade. Jesus foi o exemplo de alguém que era livre, mas acima de tudo, alguém que respeitava a liberdade dos que com ele caminhavam. Nunca houve em seus lábios palavras de condenação, mas cada gesto, cada movimento era para nos mostrar o amor que sentia pelo Pai e por nós. Vejamos um trecho do livro Lázaro Redivivo de Humberto de Campos que espelha o que tentamos demonstrar: “O próprio Jesus, segundo a venerável lição do Evangelista, permanece à porta e bate. Se alguém abrir, Ele entrará com as bênçãos divinas. Ele, o Mestre, traz a sabedoria, o amor, a luz e a revelação, mas não tem a chave, que pertence ao aprendiz, filho de Deus e herdeiro da vida eterna, como Ele próprio. Poderia, efetivamente, violentar a habitação e destruir o impedimento. Foi o Cristo, Senhor e Organizador do Planeta, quem forneceu ao usufrutuário do mundo a matéria prima para a edificação temporária em que se mantém, mas, Administrador

Consciencioso e Justo, sabe que, acima de tudo, permanece a autoridade do Pai, e espera, nos casos de rebeldia e endurecimento, que o Doador Universal se manifeste.” Oséias e Samuel adentraram no caminho da Boa Nova, rendendo-se a mensagem de Jesus trazida na pregação de Estevão, usando suas próprias chaves. Foi uma escolha pessoal, única e indelegável. E Pedro vibrava com isto, sentia que o caminho do amor estava sendo trilhado, porque pessoas estavam despertando para este caminhar com o Cristo. Pedro sabia-se um espírito vivendo uma experiência humana, porém, Tiago, como muitos de nós, percebe-se apenas como alguém humano vivendo uma experiência espiritual e por ter esta visão, o cerceamento de sua liberdade física lhe era tão difícil e dolorida. Não é apenas a prisão que nos limita, muitas vezes vemos a nossa “liberdade” limitada por uma doença, um familiar que carece de cuidados, uma condição financeira que nos limita os atos e deslocamentos, enfim, o homem, dependendo da perspectiva que adota pode sentir-se livre ou não. Um exemplo de um homem que percebeu que a liberdade estava em sua consciência, mais do que com o que faziam com o seu corpo físico foi Nelson Mandela. Preso político na Africa do Sul, por lutar contra o regime do apartheid, ficou quase 28 anos confinado. Ao sair, porém, sua postura foi de um homem livre, lutou pela aproximação de brancos e negros e não houve em seus atos, mesmo como Presidente eleito, anos depois, atitude de desforra ou vingança contra seus algozes. Sua mensagem, ainda hoje, corre as redes sociais: “Quando eu saí em direção ao portão que me levaria à liberdade, eu sabia que, se eu não deixasse minha amargura e meu ódio para trás, eu ainda estaria na prisão.” Carregamos ao longo dos milênios, nas diversas vidas que tivemos, experiências de dor, luta e sofrimento. Muitas das nossas tendências, hoje, são resquícios destas vivências de outrora e não obstante saibamos as verdades que o Cristo nos apresenta, só seremos capazes de nos libertarmos quando adentrarmos no reino de amor e perdão que Jesus veio nos ensinar. Jesus falou sobre isso, conforme nos diz Humberto de Campos no livro Boa Nova: “O discípulo do Evangelho não combate propriamente o seu irmão, como Deus nunca entra em luta com seus filhos; aquele apenas combate toda manifestação de ignorância, como o Pai que trabalha incessantemente pela vitória do seu amor, junto da humanidade inteira.” E com esta compreensão podemos avançar no texto do livro Paulo e Estevão, objeto de nosso estudo, para alcançarmos o que Emmanuel quis dizer: “A discórdia tomava corpo, mas Simão e o filho de Zebedeu sobrepunham a tudo os interesses da Mensagem de Jesus.” Quem é o filho de Zebedeu que Emmanuel aponta? Trata-se de João Evangelista. Não obstante sabermos que João tinha um irmão, também chamado Tiago. Mais a frente no livro Emmanuel nos diz que Tiago, filho de Alfeu, é quem estava contrário a postura de Estevão.

É importante esclarecer isto, porque muitas vezes quando nos arvoramos em discussões, deixamo-nos levar por nosso orgulho e interesse pessoal. Pedro e João sobrepunham a tudo os interesses da Mensagem de Jesus. O que isto representa? Como alcançarmos esta postura? Muitas vezes temos um propósito sincero em nosso coração, mas nos equivocamos em nossa conduta. Socorremo-nos, novamente, do livro Boa Nova para avançarmos nestas reflexões:

““ (...) o Evangelho traz consigo o fermento da renovação e é ainda por isso que deixarei o júbilo e a energia como as melhores armas aos meus discípulos. Exterminando o mal e cultivando o bem, a Terra será para nós um glorioso campo de batalha. Se um companheiro cair na luta, foi o mal que tombou, nunca o irmão que, para nós outros, estará sempre de pé. Não repousaremos até ao dia da vitória final. Não nos deteremos numa falsa contemplação de Deus, à margem do caminho, porque o Pai nos falará através de todas as criaturas trazidas à boa estrada; estaremos juntos na tempestade, porque aí a sua voz se manifesta com mais retumbância. Alegrar-nos-emos nos instantes transitórios da dor e da derrota, porque aí o seu coração amoroso nos dirá: “Vem, filho meu, estou nos teus sofrimentos com a luz dos meus ensinos!” Pedro permaneceu junto a Tiago, filho de Alfeu, diante da tempestade. Sentia o júbilo e a alegria de servir a Cristo, a cada leproso que assistia, a cada criança que amparava, a cada coração que abraçava. Ele não tinha a necessidade de impor a sua vontade e o seu saber, a sua maior necessidade era amar. Estamos prontos para tamanha liberdade? Amar sem condições, sem imposições, sem expectativas? Amar apenas porque se acredita que é o amor que irá vencer todas as nossas dificuldades humanas. Que armas estamos usando na condução do evangelho? Jesus acolheu Judas entre os seus mais próximos, não obstante conhecer os desenganos do seu coração. Pedro ficou junto de Tiago, filho de Alfeu, trabalhando anos lado a lado, não obstante as profundas divergências que possuíam. Não é a toa que o Chico nos deixou a frase: "No mundo a fórmula para se encontrar a felicidade, com esplendor, é uma gota de verdade, dentro de um litro de amor." Ele conviveu com muitas pessoas, nem todos concordavam com ele, com seus livros, questionavam a sua psicografia. Mas ele, humildemente, a todos respeitava, sem deixar de ser o que era. Assim como Pedro, Chico estava muito mais preocupado em amar do que estar certo. A verdade não se impõe mas é fruto de uma busca sincera e pessoal.

O próprio Kardec ao falar, no livro Viagem Espírita, da bandeira de Amor e Caridade que todo espírita deverá erguer, nos ensina: “Em torno desta bandeira, que todos os verdadeiros espíritas se congreguem, e serão fortes, porquanto a união faz a força. Reconhecei, pois, os verdadeiros defensores de vossa causa, não pelas palavras vãs, que nada custam, mas pela prática da lei de amor e caridade, pela abnegação da personalidade; o melhor soldado não é o que ergue o sabre mais alto, mas o que sacrifica corajosamente a própria vida. Encarai, pois, como fazendo causa comum com vossos inimigos todos os que tendem a lançar entre vós o fermento da discórdia, porque, voluntária ou involuntariamente, fornecem armas contra vós.” Sondemos, caríssimos amigos, nossos corações, cuidemos de nossas palavras, semeemos o bem, a alegria, cultivemos o amor, apoiando-nos, sem acusações. Deixemos que o Grande Agricultor saberá o momento das sementes brotarem em cada coração. A vida quem dá é o Pai, a cada um de nós foi conferida a tarefa de semear. Doravante, sondemos se as pessoas que nos acompanham em casa, no trabalho, na casa espírita, no círculo familiar ou social, se sentem amadas por nós. Aos mais chegados, talvez, tenhamos até a coragem de perguntar: Você se sente amado por mim? A postura de Pedro diante das discórdias de seu tempo nos ensina e nos pede reflexão. Somos o coração que ama? Lembremos do alerta de Kardec, sobre os verdadeiros espiritas: Reconhecei, pois, os verdadeiros defensores de vossa causa, não pelas palavras vãs, que nada custam, mas pela prática da lei de amor e caridade...”. Caminhando para o encerramento deste estudo, buscamos algumas palavras de Pedro, em suas epístolas, que mantivessem consonância com nossas singelas reflexões e em sua primeira epístola, Simão Pedro nos fala ao coração, vejamos um trecho do capítulo 3: “13E quem vos há de fazer mal, se sois zelosos do bem? 14Mas se sofreis por causa da justiça, bem-aventurados sois! Não tenhais medo nenhum deles, nem fiqueis conturbados; 15antes, santificai a Cristo, o Senhor, em vossos corações, estando sempre prontos a dar razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la pede; 16fazei-o, porém, com mansidão e respeito, conservando a vossa boa consciência, para que, se em alguma coisa sois difamados, sejam confundidos aqueles que ultrajam o vosso bom comportamento em Cristo, 17pois será melhor que sofrais — se esta é a vontade de Deus — por praticardes o bem do que praticando o mal.”

Emmanuel comenta a lição no livro Caminho, Verdade e Vida e é com este texto que encerramos as reflexões de hoje.

ZELO DO BEM “E qual é aquele que vos fará mal, se fordes zelosos do bem?” (I PEDRO, 3: 13) Temer os que praticam o mal é demonstrar que o bem ainda não se nos radicou na alma convenientemente. A interrogação de Pedro reveste-se de enorme sentido. Se existe sólido propósito do bem nos teus caminhos, se és cuidadoso em sua prática, quem mobilizará tamanho poder para anular as edificações de Deus? O problema reside, entretanto, na necessidade de entendimento. Somos ainda incapazes de examinar todos os aspectos de uma questão, todos os contornos de uma paisagem. O que hoje nos parece a felicidade real pode ser amanhã cruel desengano. Nossos desejos humanos modificam-se aos jorros purificadores da fonte evolutiva. Urge, pois, afeiçoarmo-nos à Lei Divina, refletir-lhe os princípios sagrados e submeter-nos aos Superiores Desígnios, trabalhando incessantemente para o bem, onde estivermos. Os melindres pessoais, as falsas necessidades, os preconceitos cristalizados, operam muita vez a cegueira do espírito. Procedem daí imensos desastres para todos os que guardam a intenção de bem fazer, dando ouvidos, porém, ao personalismo inferior. Quem cultiva a obediência ao Pai, no coração, sabe encontrar as oportunidades de construir com o seu amor. Os que alcançam, portanto, a compreensão legítima não podem temer o mal. Nunca se perdem na secura da exigência nem nos desvios do sentimentalismo. Para essas almas, que encontraram no íntimo de si próprias o prazer de servir sem indagar, os insucessos, as provas, as enfermidades e os obstáculos são simplesmente novas decisões das Forças Divinas, relativamente à tarefa que lhes dizem respeito, destinadas a conduzi-las para a vida maior.” Que Jesus nos conduza e nos dê discernimento para que cuidemos de amar aos nossos irmãos, com paciência, bondade e alegria. Fraterno abraço. Campo Grande – MS, 03.09.2016. Candice Günther.

Lições Evangélicas do Apóstolos no livro Paulo e Estevão Pedro – Parte 13

Nesta etapa estudaremos o encontro de Pedro com Gamaliel, quando o sábio dos judeus visita a Casa do Caminho. Novamente, iremos observar as ações e palavras de Pedro como aprendizes que somos, sabendo tratar-se de um professor de escol, eis que aprendeu diretamente na fonte, com o Cristo Jesus. Pedro recebeu o evangelho sem a contaminação dos homens, esteve com Jesus, presenciou suas ações, ouviu suas palavras e pode, ao longo de sua jornada, ir trabalhando dentro de si mesmo todas as impressões que o Mestre lhe causou. Assim, nós outros, que caminhamos através dos séculos em trajetória evolutiva, temos um porto seguro para ancorarmos em momentos de dúvida e refazimento. A conduta de Pedro nos remete a uma vivência cristã com maior plenitude, não obstante, viver como ele viveu, ou ao menos tentar, ainda, será algo muito incompreendido. Vejamos um trecho do livro Paulo e Estevão, capítulo 07 da primeira parte:

“Simão Pedro, profundamente respeitoso, explicou-lhe as finalidades da instituição, esclareceu-o relativamente aos feitos verificados e falou do conforto dispensado aos que se encontravam em abandono. Carinhosamente, ofereceu-lhe uma cópia, em pergaminho, de todas as anotações de Mateus sobre a personalidade do Cristo e seus gloriosos ensinamentos. Gamaliel agradecia, atencioso, ao ex-pescador, tratando-o igualmente com deferência e consideração. Dando a entender que desejava expor à sua respeitável apreciação todos os programas da igreja humilde, Simão conduziu o velho doutor da Lei a todas as dependências.” A primeira conduta de Pedro que Emmanuel nos mostra é o respeito. Simão não o recebe com arrogância ou superioridade, nem o faz com medo ou temor. Sua postura é de respeito. Quem era Gamaliel? E quais as razões de Pedro o recebê-lo de forma respeitosa? Segundo J.D. Douglas, no Dicionário Bíblico: “GAMALIEL (heb., gamh'ei, “recompensa de Deus"; gr., Gameire!) - 1. Filho de Pedazur, e príncipe dos filhos de Manassés", escolhido para ajudar Moisés a fazer o recenseamento no deserto (Nm 1.10; 2.20; 7.511,59: 10.23). Filho de Simão e neto de Hiiel, Gamaliel era doutor da lei e membro do Sinédrio. Representava a facção liberal dos fariseus, a escola de Hiiel, em

contraposição à escola de Samai, e interveio com um breve discurso bem pensado e persuasiva por ocasião do julgamento dos apóstolos (At 5.33-40), Paulo o reconheceu como seu professor (At 22.3), e era tido em tão alta estima que era chamado de "Rabá" ("nosso mestre"), um título mais elevado que "Rabi" ("meu mestre"). V. F. F. Bruce, The Book of the Acts, 1956, p. 122-126. A Mishnah (Sofa ix.15), diz: “Desde que morreu o Rabá Gamaliel, o Ancião, não houve mais reverência pela lei, e a pureza e abstinência morreram ao mesmo tempo". Conforme já poderiamos esperar de uma tal reputação entre os judeus, não há qualquer evidência. a despeito de algumas antigas sugestões (p. ex., Os_Reconhecimentos Clementinos, 1.65) que ele jamais se tenha tomado cristao. V. tb. FARISEUS.”

A Jesus chamaram de rabi, a Gamaliel de raba, aos olhos dos homens, em especial dos judeus, Gamaliel estaria acima de Jesus. Simão Pedro sabia quem o estava visitando, não obstante, teve a postura digna de alguém que sabe quem é o outro, respeita-o, mas que também sabe o seu lugar e a quem segue. Esta postura de Pedro é muito importante para que nos seja fonte de consulta e inspiração. Como agir diante de autoridades que o mundo reconhece? Como agir diante de personalidades de outras religiões? Nem acima, nem abaixo, tratemos todos com respeito. André Luiz, no livro Sinal Verde nos alerta: “Não nos esqueçamos de que a gentileza e o respeito, no trato pessoal, também significam caridade.” Sigamos em frente, eis que Pedro ainda nos tem ricos ensinamentos a oferecer. Vejamos a cadência dos verbos que Emmanuel utiliza no texto: “...explicou-lhe as finalidades da instituição, esclareceu-o relativamente aos feitos verificados e falou do conforto dispensado aos que se encontravam em abandono. Carinhosamente, ofereceu-lhe uma cópia, em pergaminho, de todas as anotações de Mateus sobre a personalidade do Cristo e seus gloriosos ensinamentos.”

Separemos os verbos que ele usa no texto: “explicar, esclarecer, falar, oferecer”. É interessante a forma como ele apresenta a Boa Nova, vimos em estudo anterior, que tratou a Estevão com profundo respeito, recorrendo ao que lhe era mais precioso, como os ensinos de Isaias e sua terra natal, para lhe fazer sentir o amor de Jesus. Esta mesma postura reconhecemos diante de Gamaliel. Sem afetação, sem desdenhar da posição social do visitante, a todos, desde o

jovem maltrapilho ou a um dos chefes do Sinédrio, a atitude era a mesma. Não há proselitismo na postura de Pedro, não há tentativa de convencer o outro que está correto e o outro errado. O respeito é saber das diferenças e permitir que elas existam, amando o outro sem reservas. Pedro mostrava ao Grande Sábio do Judaismo as instalações da Casa do Caminho, mas não era apenas isto que fazia, ele, ainda hoje, nos mostra o que é ser discípulo de Jesus. Quando o Mestre Amigo ainda estava entre nós, deixou aos discípulos instruções de como deveriam viver depois de sua partida. Não obstante o texto constar no Evangelho de Mateus, sigamos o relato de Humberto de Campos no livro Boa Nova, uma vez que temos mais detalhes e um linguagem mais acessível ao nosso tempo: “De conformidade com a narrativa de Mateus, as recomendações iniciais do Messias aclaravam as normas de ação que os discípulos deviam seguir para as realizações que lhes competiam concretizar. Amados entrou Jesus a dizer-lhes, com mansidão extrema —, não tomareis o caminho largo por onde anda toda gente, levada pelos interesses fáceis e inferiores; buscareis a estrada escabrosa e estreita dos sacrifícios pelo bem de todos. Também não penetrareis nos centros de discussões estéreis, à moda dos samaritanos, nos das contendas que nada aproveitam às edificações do verdadeiro reino nos corações com sincero esforço. Ide antes em busca das ovelhas perdidas da casa de nosso Pai que se encontram em aflição e voluntariamente desterradas de seu divino amor. Reuni convosco todos os que se encontram de coração angustiado e dizei-lhes, de minha parte, que é chegado o reino de Deus. Trabalhai em curar os enfermos, limpar os leprosos, ressuscitar os que estão mortos nas sombras do crime ou das desilusões ingratas do mundo, esclarecei todos os espíritos que se encontram em trevas, dando de graça o que de graça vos é concedido. Não exibais ouro ou prata em vossas vestimentas, porque o reino do céu reserve os mais belos tesouros para os simples. Não ajunteis o supérfluo em alforjes, túnicas ou alpercatas para o caminho, porque digno é o operário do seu sustento. Em qualquer cidade ou aldeia onde entrardes, buscai saber quem deseje aí os bens do céu, com sinceridade e devotamento a Deus, e reparti as bênçãos do Evangelho com os que sejam dignos, até que vos retireis. Quando penetrardes nalguma casa, saudai-a com amor. Se essa casa merecer as bênçãos de vossa dedicação, desça sobre ela a vossa paz; se, porém, não for digna, torne essa mesma paz aos vossos corações. Se ninguém vos receber, nem desejar ouvir as vossas instruções, retirai-vos sacudindo o pó de vossos pés, isto é, sem conservardes nenhum rancor e sem vos contaminardes da alheia iniquidade. Em verdade vos digo que dia virá em que menos rigor haverá para os grandes pecadores, do que para quantos procuram a Deus com os lábios da falsa crença, sem a sinceridade do coração. Por essa razão que vos envio como ovelhas ao antro dos lobos, recomendando-vos a simplicidade das pombas e a prudência das serpentes. Acautelai-vos, pois, dos homens, nossos irmãos, porque sereis entregues aos seus tribunais e sereis açoitados nos seus templos suntuosos, de onde está exilada a idéia de

Deus. Sereis conduzidos, como réus, à presença de governadores e reis, de tiranos e descrentes, a fim de testemunhardes a minha causa. Mas, nos dias dolorosos da humilhação, não vos dê cuidado como haveis de falar, porque minha palavra estará convosco e sereis inspirados, quanto ao que houverdes de dizer. Porque não somos nós que falamos; o espírito amoroso de Nosso Pai é que fala em todos nós. Nesses dias de sombra, em que se lutará no mundo por meu nome, o irmão entregará à morte o próprio irmão, o pai os filhos, espalhando-se nos caminhos o rastro sinistro dos lobos da iniqüidade. Os que me seguirem serão desprezados e odiados por minha causa, mas aquele que perseverar, até o fim, será salvo. Quando, pois, fordes perseguidos numa cidade, transportai-vos para outra, porque em verdade vos afirmo que jamais estareis nos caminhos humanos sem que vos acompanhe o meu pensamento. Se tendes de sofrer, considerai que também eu vim à Terra para dar o testemunho e não é o discípulo mais do que o mestre, nem o servo mais que o seu senhor. Se o adversário da luz vai reunir contra mim as tentações e as zombarias, o ridículo e a crueldade, que não fará aos meus discípulos? Todavia, sabeis que acima de tudo está o Nosso Pai e que, portanto, é preciso não temer, pois um dia toda a verdade será revelada e todo o bem triunfará. O que vos ensino em particular, difundi-o publicamente; porque o que agora escutais aos ouvidos será o objeto de vossas pregações de cima dos telhados. Trabalhai pelo reino de Deus e não temais os que matam o corpo, mas não podem aniquilar a alma; temei antes os sentimentos malignos que mergulham o corpo e a alma no inferno da consciência. Não se vendem dois passarinhos por um ceitil? Entretanto, nenhum deles cai dos seus ninhos sem a vontade do nosso Pai. Até mesmo os cabelos de nossas cabeças estão contados. Não temais, pois, porque um homem vale mais que muitos passarinhos. Empregai-vos no amor do Evangelho e qualquer de vós que me confessar, diante dos homens, eu o confessarei igualmente diante de meu Pai que está nos céus.”

Não sabemos se nos manuscritos que Gamaliel recebeu estavam estes relatos que Humberto de Campos nos traz e que constam, também, no Evangelho de Mateus. Certo é que o discípulo agia como o Mestre lhe ensinara, sabia priorizar as atividades relevantes em seu dia a dia, deixando-nos, assim, um legado de alguém que soube colocar em prática os ensinos que recebeu. Cabe a cada um de nós os questionamentos e avaliações de nossa conduta, da forma como procede a casa de oração que frequentamos a fim de que busquemos, sempre, a corrigenda necessária para nos aproximarmos da conduta cristã. O divulgador da Boa Nova faz sempre uso da palavra, porém, Pedro nos ensina que a vivência e os pequenos detalhes fazem um caminho reto ao coração que tem sede de amor e paz. Pedro não apenas fez uso dos verbos ““explicar, esclarecer, falar, oferecer”, ele legitimou-os com sua postura diante de todos:

- Explicou/esclareceu/falou quanto aos fins e objetivos da instituição, uma vez que a Casa do Caminho guiava-se pelas finalidades que o Mestre lhes instruira. (Recordemos a instruções do Mestre: “Ide antes em busca das ovelhas perdidas da casa de nosso Pai que se encontram em aflição e voluntariamente desterradas de seu divino amor. Reuni convosco todos os que se encontram de coração angustiado e dizei-lhes, de minha parte, que é chegado o reino de Deus. Trabalhai em curar os enfermos, limpar os leprosos, ressuscitar os que estão mortos nas sombras do crime ou das desilusões ingratas do mundo, esclarecei todos os espíritos que se encontram em trevas, dando de graça o que de grace vos é concedido.” HC) - E quando ofereceu algo, o fez carinhosamente, pois dava algo de si mesmo a todos que cruzavam o seu caminho. Cumprindo, também, as recomendações deixadas por Jesus, mesmo sabendo que a visita de Gamaliel era em decorrência de uma forte rejeição por parte dos fariseus em relação aos homens do caminho, seguidores de Jesus. ( “Se o adversário da luz vai reunir contra mim as tentações e as zombarias, o ridículo e a crueldade, que não fará aos meus discípulos? Todavia, sabeis que acima de tudo está o Nosso Pai e que, portanto, é preciso não temer, pois um dia toda a verdade será revelada e todo o bem triunfará.” HC) Temos um norte a seguir e o caminho que trilharemos será sempre o motivo de nossas alegrias ou dissabores, hoje ou amanhã. Semeando esclarecimento, de forma respeitosa, confiando sempre que a verdade não se impõe a ninguém, uma vez que está alicerçada no amor que o Pai Celestial tem por cada um de nós. A postura de Pedro diante de Gamaliel nos ensina como proceder diante de uma autoridade e, hoje, com tantos veículos de divulgação, esta postura se aplica, também, para as redes sociais e todas as formas de comunicação de que dispomos. A pergunta modifica-se, se antes perguntávamos: - Queremos ser cristãos? Hoje faz-se necessário que perguntemos: Estamos dispostos a agir como cristãos? Pedro deixou em sua primeira epístola, capítulo 2, um indicativo de como portar-se diante de uma autoridade. Vejamos os versículos: “13Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor, seja ao rei, como soberano, 14seja aos governadores, como enviados seus para a punição dos malfeitores e para o louvor dos que fazem o bem, 15pois esta é a vontade de Deus que, fazendo o bem, tapeis a boca à ignorância dos insensatos. 16Comportai-vos como homens livres, não usando a liberdade como cobertura para o mal, mas como servos de Deus. 17Honrai a todos, amai os irmãos, temei a Deus, tributai honra ao Rei.” Emmanuel comenta um dos versículos e é com este comentário que encerramos a lição de hoje. Livro Caminho, Verdade e Vida, lição 81: ORDENAÇÕES HUMANAS “Sujeitai-vos, pois, a toda ordenação humana, por amor do Senhor.” (I PEDRO, 2: 13)

Certos temperamentos impulsivos, aproximando-se das lições do Cristo, presumem no Evangelho um tratado de princípios destruidores da ordem existente no mundo. Há quem figure no Mestre um anarquista vigoroso, inflamado de cóleras sublimes. Jesus, porém, nunca será patrono da desordem. A novidade que transborda do Evangelho não aconselha ao espírito mais humilhado da Terra a adoção de armas contra irmãos, mas, sim, que se humilhe ainda mais, tomando a cruz, a exemplo do Salvador. Claro está que a Boa Nova não ensina a genuflexão ante a tirania insolente; entretanto, pede respeito às ordenações humanas, por amor ao Mestre Divino. Se o detentor da autoridade exige mais do que lhe compete, transforma-se num déspota que o Senhor corrigirá, através das circunstâncias que lhe expressam os desígnios, no momento oportuno. Essa certeza é mais um fator de tranquilidade para o servo cristão que, em hipótese alguma, deve quebrar o ritmo da harmonia. Não te faças, pois, indiferente às ordenações da máquina de trabalho em que te encontras. É possível que, muita vez, não te correspondam aos desejos, mas lembra-te de que Jesus é o Supremo Ordenador na Terra e não te situaria o esforço pessoal onde o teu concurso fosse desnecessário. Tens algo de sagrado a fazer onde respiras no dia de hoje. Com expressões de revolta, tua atividade será negativa. Recorda-te de semelhante verdade e submete-te às ordenações humanas por amor ao Senhor Divino.” Que possamos ouvir os conselhos de Pedro, seguindo-os em nosso dia a dia: “Honrai a todos. Amai a fraternidade. Temei a Deus. Honrai ao Rei.” Fraterno abraço. Campo Grande – MS, 11.09.2016. Candice Günther

Lições Evangélicas dos Apóstolos no livro Paulo e Estevão Pedro 14

“Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral, e pelos esforços que faz para domar as suas más inclinações.” Allan Kardec

A máxima do Codificador representa bem o que veremos no estudo de hoje, a transformação moral em um homem de bem. Sondamos os caminhos que Pedro percorreu e veremos, mais uma vez, que ele deixou-se lapidar de forma ímpar pelos ensinamentos do Cristo. Ao constatar enfermidades da alma que necessitam de cura, divimos o estudo em quatro partes: o doente, a cura, o médico e o remédio. Assim, para que o texto siga este caminho, passo a passo, inverteremos a ordem habitual, uma vez que o livro Paulo e Estevão nos apresenta a cura. Mas, antes dela, sondemos o doente. - O DOENTE (Humberto de Campos – trecho do livro Boa Nova) “O Mestre lhe lançou um olhar sereno, fazendo-lhe sentír o interesse que lhe causava a sua curiosidade e redargüiu: Ainda não te encontras preparado para seguir-me. O testemunho é de sacrifício e de extrema abnegação e somente mais tarde entrarás na posse da fortaleza indíspensável. Símão, no entanto, desejando provar por palavras aos companheiros o valor da sua dedicação, acrescentou, com certa ênfase, ao propósito de se impor à confiança do Messias: Não posso seguir-vos? Acaso, Mestre, podereis duvidar de minha coragem? Então, não sou um homem? Por vós darei a minha própria vida. O Cristo sorriu e ponderou: Pedro, a tua inquietação se faz credora de novos ensinamentos. A experiência te ensinará melhores conclusões, porque, em verdade, te afirmo que esta noite o galo não cantará sem que me tenhas negado por três vezes. Julgai-me então, um espírito mau e endurecido a esse ponto? indagou o pescador, sentindo-se ofendido Não, Pedro adiantou o Mestre, com doçura —, não te Suponho ingrato ou indiferente aos meus ensinos. Mas vais aprender, ainda hoje, que o homem do mundo é mais frágil do que perverso.

Pedro não quis acreditar nas afirmações do Messias e tão logo se verificara a sua prisão, no pressuposto de demonstrar o seu desassombro e boa disposição para a defesa do Evangelho do

atacou com a espada um dos servos do sumo sacerdote de Jerusalém, compelindo o Mestre a mais severas observações. Reino,

Consoante as afirmativas de Jesus, o colégio dos apóstolos se dispersara naquele momento de suprerna resoluções. A humildade com que o Crísto se entregava desapontara a alguns deles, que não conseguiam compreender a transcendência daquele Reino de Deus, sublimado e distante.”

Quantos de nós acreditamos amar e seguir o Mestre mas temos a mesma postura de Pedro e levantamos a espada ante as situações adversas? Se antes a luta física se fazia necessária, hoje ferimos com palavras, com assertivas desprovidas de caridade, ferimos com condutas omissivas ou mesmo ações apenas de interesse pessoal. Eis a doença, a chaga da humanidade da qual nem mesmo Pedro, nesta etapa de sua vida, percebia que carregava. Emmanuel, no livro Fonte e Vida, lição 114, nos auxilia a refletirmos sobre a conduta de levantar as espada em nossos dias, em nosso íntimo: “Sustentando a contenda com o próximo, destruidora tempestade de sentimentos nos desarvora o coração. Ideais superiores e aspirações sublimes longamente acariciados por nosso espírito, construções do presente para o futuro e plantações de luz e amor, no terreno de nossas almas, sofrem desabamento e desintegração, porque o desequilíbrio e a violência nos fazem tremer e cair nas vibrações do egoísmo absoluto que havíamos relegado à retaguarda da evolução.” Sigamos em frente, eis que temos o diagnóstico de Pedro, de todos nós. Vejamos um homem curado.

- A CURA (trecho do livro Paulo e Estevão) “— És tu Simão Pedro, antigo pescador de Cafarnaum? Perguntou Saulo com certa insolência. — Eu mesmo — respondeu com firmeza. — Estás preso! — disse o chefe da expedição num gesto de triunfo. E mandando que dois dos companheiros se adiantassem, ordenou fosse o Apóstolo algemado incontinenti. Pedro não opôs a mínima resistência.

Impressionado com o temperamento pacífico que os continuadores do Nazareno testemunhavam sempre, Saulo objetou com escárnio: — O Mestre do “Caminho” deve ter sido um alto modelo de inércia e covardia. Ainda não encontrei qualquer indício de dignidade nos seus discípulos, cujas faculdades de reação parecem mortas. Recebendo em cheio tão acerba injúria, o ex-pescador Respondeu serenamente: — Enganai-vos quando assim julgais. O discípulo do Evangelho é apenas inimigo do

mal e, na sua tarefa coloca o amor acima de todos os princípios. Além do mais, nós consideramos que todo jugo, com Jesus, é suave.”

Aquele mesmo homem que levantou uma espada quando seu Mestre e amigo fora preso, agora não opunha resistência, ao contrário, impressionava Saulo ante o temperamento pacífico do qual dava testemunho.

Quem de nós faria o mesmo? Quem de nós sofre uma injustiça e mantém o temperamento pacífico, sem revide, sem contenda? Quem de nós sofre um prejuízo financeiro e não vai requerer seus direitos, com ânimo exacerbado e muitas vezes ofensivo?

Pedro estava perdendo o que tinha de mais precioso que era a sua liberdade, num tempo em que toda a família poderia ser punida pela suposta falta do pai, naquele momento, Pedro sabia que seus filhos poderiam tornar-se escravos, já não tinha bens, mas a Casa do Caminho, que era a sua casa, poderia ser confiscada ou simplesmente fechada. A situação era gravíssima! No entanto, ele manteve-se calmo, sereno. Naquele momento não era o jugo do mundo que lhe pesava nos ombros como quando da prisão de Jesus, era o jugo de Mestre, o amor, que lhe ia na alma, e lhe era leve, suave.

Este “antes e depois” nos levam a uma profunda admiração pela pessoa de Pedro e pela sua capacidade de amoldar-se à Boa Nova. Convite a nós outros para que também assim o façamos.

Urge, então, que avancemos. Qual o médico e qual o remédio?

- O MÉDICO (trecho do livro Fonte Viva, lição 114)

“Em nosso aprendizado cristão, lembremo-nos da palavra do Senhor: —“Embainha tua espada...” Alimentando a guerra com os outros, perdemo-nos nas trevas exteriores, esquecendo o bom combate que nos cabe manter em nós mesmos. Façamos a paz com os que nos cercam, lutando contra as sombras que ainda nos perturbam a existência, para que se faça em nós o reinado da luz. De lança em riste, jamais conquistaremos o bem que desejamos.

A cruz do Mestre tem a forma de uma espada com a lâmina voltada para baixo. Recordemos, assim, que, em se sacrificando sobre uma espada simbólica, devidamente ensarilhada, é que Jesus conferiu ao homem a bênção da paz, com felicidade e renovação.”

Jesus, nosso grande médico, que veio para nos dar consciência de nossas chagas e para nos mostrar o caminho redentor, o caminho de cura, que é acima de tudo uma vida de amor para consigo e para com o próximo.

Exemplificou caminhando entre nós e vivendo nossas mazelas, dificuldades e lutas do dia a dia. Guia-nos pelo mundo com sua conduta amorosa e pagou com a própria vida quando recusou-se a amoldar-se ao que os homens queriam que ele fizesse, eis que o seu Reino não era deste mundo.

Jesus mostrou-nos que a cada um de nós cabe amar e que a justiça pertence a Deus, apenas ele é capaz de olhar o íntimo de cada um e realizar a corrigenda necessária.

A grande questão, que necessita do nosso entendimento, é que queremos fazer a justiça com nossas próprias mãos, mas ela pertence a Deus. Assim nos ensinam os espíritos na questão 764 do Livro dos Espíritos: “Disse Jesus: Quem matou com a espada, pela espada perecera.

Estas palavras não consagram a pena de talião e, assim, a morte dada ao assassino não constitui uma aplicação dessa pena? “Tomai cuidado! Muito vos tendes enganado a respeito dessas palavras, como acerca de outras. A pena de talião e a Justiça de Deus. É Deus quem a aplica. Todos vos sofreis essa pena a cada instante,pois que sois punidos naquilo em que haveis pecado, nesta existência ou em outra. Aquele que foi causa do sofrimento para seus semelhantes vira a achar-se numa condição em que sofrera o que tenha feito sofrer. Este o sentido das palavras de Jesus. Não vos disse Ele também: Perdoai aos vossos inimigos? E não vos ensinou a pedir a Deus que vos perdoe as ofensas como houverdes vos mesmos perdoado, isto é, na mesma proporção em que houverdes perdoado, compreendei-o bem?”

Pois bem, identificamos a doença, encontramos a cura e o médico, resta-nos saber: qual o remédio?

- O REMÉDIO (trecho do Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap XV, item 10, Paulo, o apóstolo) “FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO 10. Meus filhos, na máxima: Fora da caridade não há salvação, estão encerrados os destinos dos homens, na Terra e no céu; na Terra, porque à sombra desse estandarte eles viverão em paz; no céu, porque os que a houverem praticado acharão graças diante do Senhor. Essa divisa é o facho celeste, a luminosa coluna que guia o homem no deserto da vida, encaminhando-o para a Terra da Promissão. Ela brilha no céu, como auréola santa, na fronte dos eleitos, e, na Terra, se acha gravada no coração daqueles a quem Jesus dirá: Passai à direita, benditos de meu Pai. Reconhecê--los-eis pelo perfume de caridade que espalham em torno de si. Nada exprime com mais exatidão o pensamento de Jesus, nada resume tão bem os deveres do homem, como essa máxima de ordem divina. Não poderia o Espiritismo provar melhor a sua origem, do que apresentando-a como regra, por isso que é um reflexo do mais puro Cristianismo. Levando-a por guia, nunca o homem se transviará. Dedicai--vos, assim, meus amigos, a perscrutar-lhe o sentido profundo e as consequências, a descobrir-lhe, por vós mesmos, todas as aplicações. Submetei todas as vossas ações ao governo da caridade e a consciência vos responderá. Não só ela evitará que pratiqueis o mal, como também fará que pratiqueis o bem, porquanto uma virtude negativa não basta: é necessária uma virtude ativa. Para fazer-se o bem, mister sempre se torna a ação da vontade; para se não praticar o mal, basta as mais das vezes a inércia e a despreocupação.

Meus amigos, agradecei a Deus o haver permitido que pudésseis gozar a luz do Espiritismo. Não é que somente os que a possuem hajam de ser salvos; é que, ajudando-vos a compreender os ensinos do Cristo, ela vos faz melhores cristãos. Esforçai-vos, pois, para que os vossos irmãos, observando- vos, sejam induzidos a reconhecer que verdadeiro espírita e verdadeiro cristão são uma só e a mesma coisa, dado que todos quantos praticam a caridade são discípulos de Jesus, sem embargo da seita a que pertençam. – Paulo, o apóstolo. (Paris, 1860.)” O remédio de Pedro foi a Casa do Caminho, onde cuidou e auxiliou muitos, encontrando dentro de si a fortaleza moral que o Cristo lhe anunciara no dia de sua prisão. Pedro encontrou na caridade o seu remédio e nos convida a, também, fazermos uso deste santo medicamento. Interessante observamos, para finalizar, que o mesmo homem que prendeu Pedro, ainda Saulo, veio a Paris no ano de 1860 falar sobre este remédio que a muitos tem curado, não apenas a Pedro, mas a ele próprio, o algoz, que também foi curado pelo grande Médico dela fazendo-se apóstolo trilhando um caminho de caridade por onde passou. Encerramos assim este estudo rogando aos bons espíritos que nos auxiliem a identificar a doença que ainda temos, a fim de que busquemos a cura nos ensinos do Grande Médico, o Cristo Jesus, sabedores, porém, que de nada adiantará conhecermos o médico se não tomarmos o remédio que ele nos indica, eis que fora da caridade, não há salvação. Fraterno abraço. Campo Grande – MS, 18.09.2016. Candice Gunther.

Lições Evangélicas dos Apóstolos no livro Paulo e Estevão Pedro – Parte 15

“De nossa conduta depende nosso destino futuro. Não de nossa adesão a esta ou àquela seita religiosa, mas de nossa submissão a este grande preceito: AMAR A DEUS E AO PRÓXIMO... Não devemos adiar a nossa conversão. Nós próprios devemos trabalhar pela nossa salvação, não mais tarde, mas agora; não amanhã, mas hoje.” Revista Espírita - 1861

Quando aproximava-se o momento de Jesus partir para a pátria espiritual, teve com os discípulos uma última ceia, levando aos seus corações palavras que ecoariam por muito tempo em suas almas, em nossas almas, algumas seriam apenas compreendidas mais a frente, depois de sua morte. Pedro ouviu de Jesus um destes dizeres, incompreensível para a sua alma naquele instante, mas que ecoou em sua vida no decorrer dos anos. É Lucas quem nos noticia destes dizeres de Jesus, no capítulo 22, versículo 32:

“E tu, quando te converteres, confirma teus irmãos.”

Pedro caminhara com Jesus durante muito tempo e acreditava estar diante do Messias, qual a razão desta frase? Não havia o apóstolo dado demonstrações de afeto e companheirismo, acolhendo o Mestre em seu próprio lar e seguindo-o para todos os lados? E que lhe faltava? Jesus usa o verbo converter, e, creio que precisemos refletir um pouco sobre este verbo para entender o que se passava com Pedro. Emmanuel, no livro Caminho, Verdade e Vida, comenta o versículo de Lucas, nos alertando sobre a abrangência do termo “converter”: “Muitos dizem “eu creio”, mas poucos podem declarar “estou transformado”. As palavras do Mestre a Simão Pedro são muito simbólicas. Jesus proferiu-as, na véspera do Calvário, na hora grave da última reunião com os discípulos. Recomendava ao pescador de Cafarnaum confirmasse os irmãos na fé, quando se convertesse. Acresce notar que Pedro sempre foi o seu mais ativo companheiro de apostolado. O Mestre preferia sempre a sua casa singela para

exercer o divino ministério do amor. Durante três anos sucessivos, Simão presenciou acontecimentos assombrosos. Viu leprosos limpos, cegos que voltavam a ver, loucos que recuperavam a razão; deslumbrara-se com a visão do Messias transfigurado no labor, assistira à saída de Lázaro da escuridão do sepulcro, e, no entanto, ainda não estava convertido. Seriam necessários os trabalhos imensos de Jerusalém, os sacrifícios pessoais, as lutas enormes consigo mesmo, para que pudesse converter-se ao Evangelho e dar testemunho do Cristo aos seus irmãos. Não será por se maravilhar tua alma, ante as revelações espirituais, que estarás convertido e transformado para Jesus. Simão Pedro presenciou essas revelações com o próprio Messias e custou muito a obter esses títulos. Trabalhemos, portanto, por nos convertermos. Somente nessas condições, estaremos habilitados para o testemunho.”

Como, então, saber em relação a nós mesmos? É certo que muitos acreditam ser Jesus o Mestre, modelo e guia. É certo que muitos o reconhecem como o enviado de Deus para demonstrar ao mundo a plenitude humana. Mas, o que se busca saber é se a boa nova tem efetivamente transformado a nossa vida, rotineiramente, cotidianamente.

Emmanuel indica o trabalho como a forma de conversão, trabalho contínuo e árduo, dia a dia, eis que a melhoria não se dá a passos largos, nem da noite para o dia. O discípulo sincero do Cristo aprende a reconhecer suas imperfeições e a trabalhar para que sejam lapidadas.

Eis, então, que novamente o exemplo de Pedro nos ensina de forma sublime. E, após estas observações iniciais, estamos aptos a olhar alguns trechos do livro Paulo e Estevão. No estudo de hoje não usaremos um trecho em que Pedro aparece diretamente, mas, veremos que o seu exemplo ecoava e por várias vezes Paulo ouviu de outros a atuação cristã de Pedro.

Recebeu conselhos de Ananias, o irmão que lhe assistiu em Damasco, que, em nome do Cristo, restitui-lhe a visão: “Não viste Simão Pedro, em Jerusalém, rodeado de infelizes? Naturalmente, encontrarás um lar maior na Terra, onde serás chamado a exercer a fraternidade, o amor, o perdão... É preciso morrer para o mundo, para que o Cristo viva em nós... Procurado por Paulo, necessitado de auxílio, Gamaliel entregou-lhe os pergaminhos recebidos por Pedro, dizendo-lhe:

“Desse modo, por considerar a dádiva de Pedro como santificada relíquia de nobre afeição, quero depô-la em tuas mãos. Levarás contigo as páginas escritas na igreja do “Caminho”, como fiéis companheiras do teu novo trabalho.”

Saulo passou 03 anos no deserto com Áquila e Prisca e certa feita, falando sobre as dores de outrora, relembraram a dor causada pela perseguição aos cristãos, comandada por Saulo: “O próprio Simão Pedro. na véspera de partirmos, ocultamente, à noite, nos afirmou que ninguém devia odiá-lo, porque, não obstante o papel que representou na morte de Estevão, era impossível fosse o mandante de tantas medidas odiosas e perversas.”

Há uma frase de Ralph Waldo Emerson que sintetiza o que representa a conversão de um homem: “Suas atitudes falam tão alto que eu não consigo ouvir o que você diz.”

Pedro tornou-se um homem convertido, transformado, quando percebeu em si mesmo a grande seara de trabalho, buscando melhorar-se a cada dia. Não era mais a palavra a sua única ferramenta de trabalho de divulgação do evangelho, mas a sua vida, suas atitudes.

Paulo o havia humilhado, levado-o a prisão, o tinha como um qualquer, um humilde sofredor. Não obstante, quanto ele mesmo inicia a sua trajetória de renovação interior, por várias vezes ouve sobre o exemplo de Pedro. Uma vida que ecoava, servia de referência aos seus irmãos.

A palavra do Mestre, então, vai ganhando contornos e significados, eis que Pedro transformado estava auxiliando seus irmãos, mesmo quando não estava presente fisicamente. Ananias, Gamaliel, Aquila, Prisca, todos foram pessoas importantes na trajetória evolutiva de Paulo e todos citaram Pedro.

Humberto de Campos, no livro Boa Nova nos remete a este dia, em que Jesus falou a Pedro que quando ele se convertesse, auxiliaria aos seus irmãos, momentos finais antes da sua prisão, antes da negação do próprio Pedro. Gostaríamos de selecionar um trecho para nos auxiliar no entendimento do que representa a conversão:

“Amados disse Jesus, com emoção — está muito próximo o nosso último instante de trabalho em conjunto e quero reiterar-vos as minhas recomendações de amor, feitas desde o primeiro dia do apostolado. Este pão significa o do banquete do Evangelho; este vinho é o sinal do espírito renovador dos meus ensinamentos. Constituirão o símbolo de nossa comunhão perene, no sagrado idealismo do amor, com que operaremos no mundo até o último dia. Todos os que partilharem conosco, através do tempo, desse pão eterno e desse vinho sagrado da alma, terão o espírito fecundado pela luz gloriosa do Reino de Deus, que representa o objetivo santo dos nossos destinos. Ponderando a intensidade do esforço a ser empregado e aludindo às multidões espirituais que se conservam sob a sua amorosa direção, fora dos círculos da carne, nas esferas mais próximas da Terra, o Cristo acrescentou: Imenso é o trabalho da redenção, mesmo porque tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; mas o Reino nos espera com sua eternidade luminosa!...”

Infelizmente as palavras de Jesus foram e ainda são empregadas por muitos em sua literalidade e foi instituído um ritual para relembrar deste momento. Todos comemos e bebemos, isto é uma necessidade física e conduzimos o nosso viver para atender a estas necessidades. Mas não se trata apenas de uma necessidade, pensemos o quanto a refeição representa, ainda hoje, para nós. Se queremos comemorar algo, um aniversário, um casamento, uma formatura, uma data especial, nos reunimos e compartilhamos uma refeição, realizarmos um festa, onde há comida e bebida.

Comida e bebida, representadas pelo Cristo, pão e vinho. A questão que Jesus apresenta aos discípulos é que a nossa vida cotidiana, onde celebramos, onde realizamos refeições, será onde “operaremos no mundo até o último dia”. E o pão, representando o seu corpo, e o sangue, sua vida, nos remetem a um viver de sacrifício, como nos ensina Paulo na Carta aos Efésios: “Cristo nos amou e entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus.”

Muitos ainda entendem que a vida com Deus ocorre em algum templo, até mesmo casas espíritas tem assumido este papel de forma equivocada, como se algum lugar pudesse representar a comunhão com Deus.

Nós somos o templo em que Deus habita e atua e, onde quer que estejamos, estaremos partilhando o bem ou a sombra que habita em nós. Em razão disto que Jesus disse aos discípulos: “Todos os que partilharem conosco, através do tempo, desse pão eterno e desse vinho sagrado da alma, terão o espírito fecundado pela luz gloriosa do Reino de Deus, que representa o

objetivo santo dos nossos destinos.” É por isso que quando olhamos para vida de Pedro, Paulo, Estevão e tantos outros nos sentimos tocados pela presença e pelo amor divino. Quando partilham conosco as suas experiências é que nos oferecem do seu pão e do seu vinho, e pelo muito que se esforçaram por melhorar-se, eles nos fecundam de luz.

É preciso, então, que façamos a reflexão de como estamos refletindo na vida alheia. Nosso espírito irradia a luz do Reino de Deus instaurado em nosso mundo interior?

Convidando Pedro a nos fecundar com sua luz, como um irmão que entra em nossa casa para aconselhar, encerramos este estudo com um versículo de sua autoria, na sua segunda epístola, seguindo o comentário de Emmanuel, livro Vinha de Luz, lição 46:

Crescei “Antes crescei na graça e no conhecimento de Nosso Senhor e Salvador, Jesus-Cristo.” - Pedro. (II Pedro. 3:18.) A situação de destaque preocupa constantemente a idéia do homem. O próprio mendigo, esfarrapado e faminto, muita vez permanece, orgulhoso, na expectativa de realce no Céu. Habitualmente, porém, toda ansiedade, nesse particular, é propósito mal dirigido objetivando crescimento ao inverso. Não seria, propriamente, o ato de se desenvolver, mas de inchar. Nessa mesma pauta, muitos aprendizes irrequietos pleiteiam altas remunerações financeiras, favores do dinheiro fácil, elevação aos postos de autoridade, invocando a necessidade de crescer para maior eficiência no serviço do Cristo. Isto, contudo, quase sempre é pura ilusão. Materializadas as exigências, transformam-se em servidores rodeados de impedimentos. O Mestre Divino, que organizou a vida planetária ao influxo do Eterno Pai, possui suficiente poder e, para a execução de sua obra, não se demoraria à espera de que esse ou aquele dos aprendizes se convertesse em especialista em determinados negócios do mundo. O crescimento a que o Evangelho se reporta deve orientar-se na virtude cristã e no conhecimento da vontade divina.

Aprenda cada um a sua parte, na esfera de nossos deveres com Jesus. Atenda ao programa de edificação que lhe compete, ainda que se encontre sozinho ou perseguido pela incompreensão dos homens e, então, estará crescendo na graça e no discernimento para a vida imortal.”

Eis, então, que crescendo, orientando-nos na virtude cristã e no conhecimento da vontade divina, estaremos nos convertendo à Boa Nova, através do trabalho, das lutas de cada dia. Ergueremos um templo incorruptível, inalcansável pelo desgaste das coisas materiais, convertendo-nos, estaremos eternamente em comunhão com nosso Pai Celestial. Que Jesus nos auxilie para que renovemos a cada dia em nós o desejo sincero de nos melhorarmos, buscando no trabalho a melhor ferramenta para a edificação do Reino de Deus dentro de nós.

Fraterno abraço. Campo Grande – MS, 25.09.2016. Candice Günther

Lições Evangélicas dos Apóstolos no livro Paulo e Estevão Pedro – Parte 16

Ao longo dos estudos realizados tivemos a oportunidade de aprender um pouco mais sobre a rica personalidade de Pedro, reconhecendo-o como alguém que não apenas seguiu os passos do Mestre, buscando melhorar-se a cada dia, mas um exemplo que a muitos inspirou. Sua vida muito mais que a sua palavra permitiu que muitos seguissem em frente no ideal cristão, inclusive Paulo de Tarso. Chegamos, então, ao último estudo desta etapa, não porque encerramos o assunto e as possibilidades de sondar a pessoa de Pedro através do livro Paulo e Estevão, mas porque é preciso seguir em frente, sondando outros exemplos que também nos falem ao coração. Assim, as reflexões de hoje discorrem sobre um dos momentos mais relevantes do livro e da história do Cristianismo, que foi o confronto de Paulo e Tiago em relação ao tratamento que deveria ser dado aos gentios. A postura de Pedro diante do conflito nos é uma das lições mais caras desta existência e, sem dúvida, uma das mais difíceis a ser seguida. Recordemos a fala de Emmanuel sobre este dia na vida dos primeiros cristãos: “A atitude ponderada de Simão Pedro salvara a igreja nascente. Considerando os esforços de Paulo e de Tiago, no seu justo valor, evitara o escândalo e o tumulto no recinto do santuário. À custa de sua abnegação fraternal, o incidente passou quase inapercebido na história da cristandade primitiva, e nem mesmo a referência leve de Paulo na epístola aos Gálatas, a despeito da forma rígida, expressional do tempo, pode dar idéia do perigo iminente de escândalo que pairou sobre a instituição cristã, naquele dia memorável.” Eis, então, o tema de nosso estudo: uma atitude ponderada que salva. Vivemos num mundo cheio de conflitos, em todas as áreas, pessoas buscam defender seus ideais, seus pontos de vista, dentro do cristianismo e em especial, no movimento espírita, isto não é diferente. Aqui uma convicção de que se está com a verdade, ali outra convicção de que tal verdade é falsa, instaurado o ambiente para que críticas e mais críticas caminhem pelo mundo. Sim, pelo mundo! Hoje, com o avanço da tecnologia as desavenças extrapolaram as portas de uma reunião como a que Pedro participou e adentram nossos lares pelas portas da tecnologia. Existem blogs, sites, páginas do facebook especializadas em criticar!

Urge que os homens de boa vontade olhem para o exemplo de Pedro e busquem segui-lo, do contrário, estaremos fadados a repetir movimentos equivocados do passado. Recordemos este dia memorável e deixemos estes ensinos falarem ao nosso coração. Caminhemos com o livro Paulo e Estevão para compreender melhor do que se trata: “— Em Jerusalém, nossas lutas são as mesmas. De um lado a igreja cheia de necessitados, todos os dias; de outro as perseguições sem tréguas. No centro de todas as atividades, permanece Tiago com as mais ríspidas exigências. Às vezes, sou tentado a lutar para restabelecer a liberdade dos princípios do Mestre; mas, como proceder? Quando a tempestade religiosa ameaça destruir o patrimônio que conseguimos oferecer aos aflitos do mundo, o farisaísmo esbarra na observância rigorosa do companheiro e é obrigado a paralisar a ação criminosa, encetada desde muito tempo. Se trabalhar por suprimir-lhe a influência, estarei precipitando a instituição de Jerusalém no abismo da destruição pelas tormentas políticas da grande cidade. E o programa do Cristo? e os necessitados? seria justo prejudicarmos os mais desfavorecidos por causa de um ponto de vista pessoal?” Pedro relata a Paulo das dificuldades na Casa do Caminho em Jerusalém. Pedro passava uma temporada com Paulo, os dias seguem e chegam a Antioquia os representantes de Tiago, seguidores de suas convicções religiosas e da observância das regras do farisaísmo. Há uma mudança na postura de Pedro e, durante uma reunião, Paulo irá lhe advertir de forma duríssima: “— Irmãos, defendendo o nosso sentimento de unificação em Jesus, não posso disfarçar nosso desgosto em face dos últimos acontecimentos. Quero referir-me à atitude do nosso hóspede muito amado, Simão Pedro, a quem deveríamos chamar “mestre”, se esse título não coubesse de fato e de direito ao nosso Salvador. (...) — Simão tem personificado para nós um exemplo vivo. O Mestre no-lo deixou como rocha de fé imortal. No seu coração generoso temos depositado as mais vastas esperanças. Como interpretar seu procedimento, afastando-se dos irmãos incircuncisos, desde a chegada dos mensageiros de Jerusalém? Antes disso, comparecia aos nossos serões íntimos, comia do pão de nossas mesas. Se assim procuro esclarecer a questão, abertamente, não é pelo desejo de escandalizar a quem quer que seja, mas porque só acredito num Evangelho livre de todos os preconceitos errôneos do mundo, considerando que a palavra do Cristo não está algemada aos interesses inferiores do sacerdócio, de qualquer natureza.”

As palavras de Paulo estavam cheias de verdade, não há dúvida disto, porém, haviam também justificativas honestas e verdadeiras na postura de Pedro, que via na cautela e no bom senso um caminho a ser seguido. Neste ponto começamos, então, algo que nos é de fundamental entendimento. Em nosso estágio evolutivo a verdade se apresenta fragmentada e ninguém a detém em sua totalidade. Somos seres imperfeitos e, por esta razão não temos a condição moral e espiritual de compreender a verdade em sua inteira dimensão. Pedro sabia disso, aprendera com a vida que a frase de Jesus de que o homem é muito mais frágil do que mau era verdadeira, aprendera com seus próprios erros a ser indulgente com as falhas alheias, buscando a verdade sempre, mas jamais a verdade que fere e causa dor. Eis que ante as acusações de Paulo instaura-se na reunião um ânimo exaltado, alguns choram, outros o acompanham, outros o rejeitam. O que faz Simão Pedro? Emmanuel nos relata suas reflexões íntimas, um verdadeiro roteiro para quem queira aprender a deixar seu orgulho de lado para seguir Jesus: “Naqueles rápidos instantes, o Apóstolo galileu considerou a sublimidade da sua tarefa no campo de batalha espiritual, pelas vitórias do Evangelho. De um lado estava Tiago, cumprindo elevada missão junto do judaísmo; de suas atitudes conservadoras surgiam incidentes felizes para a manutenção da igreja de Jerusalém, erguida como um ponto inicial para a cristianização do mundo; de outro lado estava a figura poderosa de Paulo, o amigo desassombrado dos gentios, na execução de uma tarefa sublime; de seus atos heróicos, derivava toda uma torrente de iluminação para os povos idólatras. Qual o maior a seus olhos de companheiro que convivera com o Mestre e dele recebera as mais altas lições? Naquela hora, o ex-pescador rogou a Jesus lhe concedesse a inspiração necessária para a fiel observância dos seus deveres. Sentiu o espinho da missão cravado em pleno peito, impossibilitado de se justificar com a só intencionalidade de seus atos, a menos que provocasse maior escândalo para a instituição cristã, que mal alvorecia no mundo. De olhos úmidos, enquanto Paulo e Barnabé se debatiam, teve a impressão de ver novamente o Senhor, no dia do Calvário. Ninguém o compreendera. Nem mesmo os discípulos amados. Em seguida, pareceu vê-lo expirante na cruz do martírio. Uma força oculta conduzia-o a ponderar o madeiro com atenção. A cruz do Cristo parecia-lhe, agora, um símbolo de perfeito equilíbrio. Uma linha horizontal e uma linha vertical, justa postas, formavam figuras absolutamente retas. Sim, o instrumento do suplício enviava-lhe uma silenciosa mensagem. Era preciso ser justo, sem parcialidade ou falsa inclinação, O Mestre amara a todos, indistintamente. Repartira os bens eternos com todas as criaturas. Ao seu olhar compassivo e magnânimo, gentios e judeu s eram irmãos. Experimentava, agora, singular acuidade para examinar conscienciosamente as circunstâncias. Devia amar a Tiago pelo seu cuidado

generoso com os israelitas, bem como a Paulo de Tarso pela sua dedicação extraordinária a todos quantos não conheciam a idéia do Deus justo.” Pedro via em ambos, Tiago e Paulo, qualidades e atitudes que beneficiavam o cristianismo e Jesus colocava em suas mãos a oportunidade de conciliar ambas as energias para um mesmo caminho. Energias que naquele momento pareciam opostos e inconciliáveis, mas que através do amor de Simão Pedro poderiam caminhar lado a lado para compor o cenário do Cristianismo Primitivo. Eis, então, a resposta de Simão Pedro: “Simão Pedro levantou-se. A fisionomia estava serena, mas os olhos estavam orvalhados de lágrimas que não chegavam a correr. Valendo-se de uma pausa mais longa, ergueu a VOZ que logo apaziguou o tumulto: — Irmãos! — disse nobremente — muito tenho errado neste mundo. Não é segredo para ninguém que cheguei a negar o Mestre no instante mais doloroso do Evangelho. Tenho medido a misericórdia do Senhor pela profundidade do abismo de minhas fraquezas. Se errei entre os irmãos muito amados de Antioquia, peço perdão de minhas faltas. Submeto -me ao vosso

julgamento e rogo a todos que se submetam ao julgamento do Altíssimo. A estupefação foi geral. Compreendendo o efeito, o ex-pescador concluiu a justificativa, dizendo: — Reconhecida a extensão das minhas necessidades espirituais e recomendando-me às vossas preces, passemos, irmãos, aos comentários do Evangelho de hoje.”

A força moral que este homem teve para colocar-se de forma humilde e respeitosa, não compactuando com o conflito que se instalara, mas seguindo na seara de amor, compreensão e paz que Jesus lhe ensinara é algo que transcende a nossa compreensão. Desde que aprendi esta lição de Pedro tentei por algumas vezes, em situações bem mais simples e de menor importância, seguir o seu exemplo, silenciando e não compactuando com o ânimo de conflito. O que posso lhes ofertar de minha experiência pessoal é que é algo dificílimo, porque o nosso orgulho vem com tanta força que ao sustentarmos a postura de serenidade, deixando de nos defender, ainda que tenhamos motivo, razão ou suposta verdade, parece que se abre em nós uma ferida, uma aguda dor que conhecemos pelo nome de incompreensão. Mas o que Pedro nos ensina é que não buscava ser compreendido, ele buscava compreender, aprendera com Jesus a consolar que ser consolado e amar que ser amado. E este convite do Mestre é feito, ainda hoje, aos nossos corações.

Muitas e muitas vezes teremos razão, teremos argumentos para contrapor o que o outro está afirmando. E teremos que optar por um caminho. Pedro nos ensina a opção cristã. Não se trata de silenciar diante das adversidades do mundo, sua postura é muito mais profunda. A questão é que ele observou os dois lados, verificou que havia sinceridade em ambos os corações e que Jesus os amava igualmente. Quantos e quantos conflitos religiosos seriam evitados que adotássemos esta postura? A Ministra Veneranda, da Colonia Espiritual Nosso Lar, deixou-nos um livro belíssimo chamado Os Filhos do Grande Rei, lá ela nos diz a origem dos conflitos: “embora a beleza e a glória do educandário a que fomos conduzidos pela Bondade Celestial, por algum tempo, a fim de que possamos adquirir conhecimento e virtude, perdemos quase todo o tempo na preguiça e, orgulhosos, acreditamo-nos senhores da Criação... Quase sempre começamos em pequeninos a fugir de nossos deveres, a desprezar o trabalho, a esquecer os estudos que nos tornarão mais sábios e melhores, a oprimir a Natureza, a olvidar os direitos do próximo e, por isso, esbarramos na cegueira da descrença, nas feridas do mal, no frio do desânimo ou nas destruições da guerra...” Encerramos, assim, este estudo, com as palavras do próprio Pedro, em sua segunda epístola, capítulo 3:11-18: “Se todo este mundo está fadado a desfazer-se assim, qual não deve ser a santidade do vosso viver e da vossa piedade, enquanto esperais e apressais a vinda do Dia de Deus, no qual os céus, ardendo em chamas, se dissolverão e os elementos, consumidos pelo fogo, se fundirão? O

que nós esperamos, conforme a sua promessa, são novos céus e nova terra, onde habitará a justiça. Assim, visto que tendes esta esperança, esforçai-vos ardorosamente para que ele vos encontre em paz, vivendo uma vida sem mácula e irrepreensível. Considerai a longanimidade de nosso Senhor como a nossa salvação, conforme também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada. Isto mesmo faz ele em todas as suas cartas, ao falar nelas desse tema. É verdade que em suas cartas se encontram alguns pontos difíceis de entender, que os ignorantes e vacilantes torcem, como fazem com as demais Escrituras, para a sua própria perdição. Vós, portanto, amados, sabendo-o de antemão, precavei-vos, para não suceder que, levados pelo engano desses ímpios, venhais a cair da vossa firmeza. Crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja a glória agora e até o dia da eternidade! Amém.”

Emmanuel comenta o versículo 17 e nos relembra a lição de Simão Pedro de que acima dos enganos humanos está o trabalho que o Cristo espera que realizemos. Que o nosso tempo precioso e raro seja para a construção de um mundo melhor, lembrando que não serão nossas críticas que o farão. Livro Vinha de Luz:

Vós, portanto... “Vós, portanto, amados, sabendo isto de antemão, guardai-vos de que, pelo engano dos homens abominá-veis, sejais juntamente arrebatados e descaiais da vossa firmeza.” - Pedro. (II Pedro, 3:17.) O esclarecimento íntimo é inalienável tesouro dos discípulos sinceros do Cristo. O mundo está cheio de enganos dos homens abomináveis que invadiram os domínios da política, da ciência, da religião e ergueram criações chocantes para os espíritos menos avisados; contam-se por milhões as almas com eles arrebatadas às surpre-sas da morte e absolutamente desequilibradas nos círculos da vida espiritual. Do cume falso de suas noções individualistas precipitam-se em despenhadeiros apavorantes, onde perdem a firmeza e a luz. Grande número dos imprevidentes encontram socorro justo, porquanto desconheciam a verdadeira situação. Não se achavam devidamente informados. Os homens abomináveis ocultavam-lhes o sentido real da vida. Semelhante benemerência, contudo, não poderá atingir os aprendizes que conhecem, de antemão, a verdade. O aluno do Evangelho somente se alimentará de equívocos deploráveis, se quiser. Rodopiará, por isso mesmo, no torvelinho das sombras se nele cair voluntariamente, no capítulo da preferência individual. O ignorante alcançará justificativa. A vítima será libertada. O doente desprotegido receberá enfermagem e remédio. Mas o discípulo de Jesus, bafejado pelos benefícios do Céu todos os dias, que se rodeia de esclarecimentos e consolações, luzes e bênçãos, esse deve saber, de antemão, quanto lhe compete realizar em serviço e vigilância e, caso aceite as ilusões dos homens abomináveis, agirá sob a responsabilidade que lhe é própria, entrando na partilha das aflitivas realidades que o aguardam nos planos inferiores.” Que Jesus nos ampare e guie, ajudando-nos a discernir e a pautar as nossas vidas na sua vontade. Fraterno abraço. Campo Grande – MS, 02,10.2016. Candice Günther

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