Pela adoção da perspectiva da pertinência em pesquisas comunicacionais

July 24, 2017 | Autor: Leandro Lage | Categoria: Comunicação, Pesquisa, Hermenêutica, Pertinência
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www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 |

Pela adoção da perspectiva da pertinência em pesquisas comunicacionais1 Carlos Alberto de Carvalho e Leandro Lage

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Este artigo, de natureza ensaística, propõe a noção

1 Situando as questões

de pertinência como elemento balizador em pesquisas

Segundo o dicionário Houaiss, pertinência (2001,

comunicacionais. O ponto de partida é que se, há

p. 2197) é “aquilo que concerne ao assunto; o que

pouco tempo, desafios como a definição do “objeto da comunicação” pareciam indicar os principais

diz respeito a”. Um bom ponto de partida, portanto,

percalços para as pesquisas comunicacionais, hoje

para as reflexões que aqui propomos, é pensar a

é a escolha dos melhores caminhos metodológicos a trilhar que permanece em aberto. Se à primeira vista, no entanto, um titubear metodológico pode parecer negativo, visto sob outro prisma, o da riqueza e diversidade das pesquisas comunicacionais, as

pertinência como noção balizadora das pesquisas em Comunicação, isto é, como orientação para que as bases teóricas, empíricas e analíticas implicadas

questões de método aparecerão positivamente como

nas investigações mantenham coerência entre si e

o amadurecimento da área, inclusive quanto a quais

apontem para uma mesma dimensão de soluções

são seus “objetos”, afinal, múltiplos e exigindo variadas abordagens metodológicas. A noção de

possíveis para as questões propostas.

pertinência que aqui desenvolvemos deve ser entendida como parte do esforço metodológico de compreensão da comunicação e suas problemáticas,

Também no Houaiss encontramos o adjetivo

a partir de três dimensões interconectadas: teórica,

pertinente (2001, p. 2.197), que, entre seus

empírica e analítica.

significados, “é o que se refere (a alguma coisa);

Palavras-chave

concernente, respeitante; que vem a propósito;

Pertinência. Comunicação. Pesquisa. Hermenêutica.

respeitante à finalidade a que se destina; que tem relevância ou validez”. Este último significado é

Carlos Alberto de Carvalho | [email protected]

particularmente importante para nossa discussão,

Doutor em Comunicação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFMG.

à medida que a noção de relevância ou validez tem

Leandro Lage | [email protected]

comunicacionais, como para todos os demais,

Mestrando em Comunicação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

sido, não somente para o campo das pesquisas questão de difícil delimitação.

Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.15, n.3, set./dez. 2012.

Resumo

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Há critérios inequívocos que possam, ao mesmo

metodológicos e refinamento teórico que lhes

tempo, oferecer garantias de relevância e de

garantisse, à maneira das Ciências Naturais, a

validez para as investigações do campo da

mesma acuidade supostamente permitida por

Comunicação? Estamos diante de dimensões

critérios de definição com fundamento estatístico,

quantitativamente justificáveis, por exemplo,

mas, sobretudo, com capacidade de explicação

segundo delimitações estatísticas? Estamos diante

racional para além da presença dos pesquisadores,

do desafio de construir argumentos que deem

meros organizadores de dados que não afetam

conta de análises qualitativas asseguradoras

nem seriam afetados por suas paixões e visões

de relevância e validez? Ou estamos frente

de mundo. Enfim, uma entidade capaz de agir de

à necessidade de conjugar as dimensões

forma neutra diante de percursos e resultados.

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margens de dúvida quanto à relevância e à validez

A quem tem um mínimo de contato com questões

da pesquisa proposta? Em sendo a última a

espinhosas da constituição das ciências, seus

resposta que melhor delinearia metodologicamente

métodos e engajamentos, fica clara a referência

o campo da Comunicação, quais seriam os

às suas concepções positivistas, ainda que muitas

elementos pertinentes e de pertinência que não

vezes não admitidas enquanto tal. Pelo que

deixariam dúvidas quanto a se ter adotado o

outros já realizaram de balanços históricos dessa

caminho correto?

concepção, aqui nos limitamos a indicá-la. Dentre diversos autores, Boaventura de Souza Santos

Embora sejam questões que têm merecido os

(1989) faz um apanhado lúcido dessas questões,

melhores esforços de pesquisadores já há quase

assim como indica outras possibilidades para se

um século, considerando-se aqui os anos 20

“fazer ciência” que aqui nos inspiram, em especial

do século passado como o da instituição de

uma visada hermenêutica.

um campo de pesquisas mais “genuinamente” comunicacional, as perguntas anteriores parecem,

Eis, resumidamente, um conjunto de indagações

ao contrário, levar a boas respostas, ter criado

que se manterão como pano de fundo para as

determinados impasses. Em grande medida, como

reflexões que aqui propomos, as quais, por

consequência da ansiedade em ser considerado

sua vez, não oferecem respostas de caráter

um campo científico, os investimentos de

“definitivo”, à maneira de um guia para boas

pesquisas comunicacionais muitas vezes se

práticas de pesquisas em comunicação. Primeiro,

viram na mesma armadilha de outros campos

porque propomos a noção de pertinência

das Humanidades: encontrar instrumentos

como parte de um esforço de tentar evitar

1 O artigo é parte de pesquisa financiada pela Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais e pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).

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quantitativas e qualitativas, de modo a não deixar

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concepções teóricas e metodológicas que possam

de romper com o empirismo ingênuo, com a ideia

sugerir algo próximo de uma panaceia para as

de que é possível alcançar o que seria a realidade

questões epistemológicas nas investigações

empírica da comunicação. A articulação dos

comunicacionais. Segundo, porque pensar em

diferentes objetos empíricos da comunicação – e

termos de pertinência é assumir o risco diante

seu amplo universo de fenômenos, que vão das

daquilo que defendemos como acerto, isto é, que

mídias jornalísticas ao cinema, da publicidade

o campo comunicacional não pode estar sujeito

às modalidades de comunicação organizacional,

a uma única diretriz metodológica ou a uma

entre outros – está sempre sujeita às perspectivas

pretensão de unidade teórica.

teóricas, a um modo de abordagem, bem como a uma dimensão institucional.2

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possíveis para explicar e compreender o campo

O que definirá um “objeto” como comunicacional,

comunicacional não significa a impossibilidade de

portanto, será sua construção enquanto tal,

unidade heurística. Esta, contudo, não poderá ser

processo que não é nem aleatório nem relativista,

assegurada senão a partir de uma proposição de

mas articulado dentro daquilo que Luiz Eduardo

pesquisa com coerência interna. O que aqui nos

Soares (1994), ao trabalhar com outro campo de

anima é, assim, a ideia de que atribuir coerência

investigações, a antropologia, indica como o “rigor

seria alcançar a pertinência de métodos, teorias

da indisciplina”, título, aliás, do livro no qual critica

e resultados, desenvolvendo uma equação que

noções como o relativismo de que à primeira vista

deverá levar em conta as interconexões entre as

nossa proposição poderia ser acusada. Trabalhar

dimensões teórica, empírica e analítica, bem como

dentro da perspectiva do “rigor da indisciplina” é

suas particularidades.

reconhecer, como ponto de partida, que os métodos e as teorias de um campo de investigações nunca

O que advogamos é que os “objetos” de qualquer

estão prontos à disposição do pesquisador, como

ciência não existem em “estado puro” na

um a priori que garantiria os bons resultados

natureza ou na sociedade, mas são construtos

esperados ao final do trabalho de pesquisa. É

que adquirem significado e podem ou não ser

também, não aceitar como cânones princípios

pertinentes à medida que são articulados em

teóricos e metodológicos que, embora de largo uso,

torno da tríade teoria-empiria-análise, processo

não correspondam à complexidade da realidade que

que envolve a interação com o pesquisador –

se busca compreender. É, sobretudo, reconhecer

aspecto que retomaremos mais adiante neste

que, mesmo na suposta imutabilidade dos “objetos”

artigo. Trata-se, como argumenta Rosseti (2010),

das ciências naturais, não existe realidade estática.

2 Cf. Braga (2011a) e França (2007).

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Reconhecer a diversidade de métodos e teorias

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A “indisciplina” se torna, assim, uma espécie de

metodológico, verificar a pertinência das teorias

iconoclastia frente a determinadas tradições que

utilizadas, buscando desvendar os paradigmas que

tentam se manter exclusivamente em função de

lhe são subjacentes. Ao promover este movimento,

sua suposta validez precisamente porque estariam

o pesquisador em comunicação estará municiado

inscritas na ordem das coisas inquestionáveis. E

dos elementos que de fato lhe permitam identificar

o rigor é exatamente o processo de permanente

a historicidade das teorias com as quais lida.

reinvenção teórica e metodológica capaz de, reconhecendo a riqueza, a complexidade, a

Historicidade, nessa perspectiva, deixa de ser um

dinâmica e a diversidade da realidade, propor os

mero marco cronológico para situar-se no campo

caminhos adequados para sua elucidação.

mais abrangente das marcas paradigmáticas,

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O percurso doravante adotado começa pela

despeito da atualidade de uma proposição em

apresentação, em separado, da articulação da

termos de calendário, é portadora de visões de

mirada da pertinência com cada instância da

mundo que há muito já não são mais capazes de

tríade teoria-empiria-análise. A separação visa tão

compreender as novas dinâmicas da realidade

somente tratar com algum grau de detalhamento

sob escrutínio. Mas, o contrário também é válido:

cada uma das dimensões, que devem ser

teorias “antigas” muitas vezes acrescentam

entendidas sempre como interconectadas. Em

frescor e novas perspectivas a análises sobre

seguida, buscar-se-á situar a ideia de pertinência

questões contemporâneas.

como um elo entre as proposições de explicação, própria das ciências naturais, e compreensão,

É comum, especialmente quando no marco

cara às humanidades, segundo a perspectiva

de certos modismos teóricos, encontrarmos

hermenêutica de P. Ricoeur (1989) e seu diálogo

tentativas de explicações que não resistem

com a epistemologia.

a um exame mais acurado de suas origens paradigmáticas, revelando-se “ultrapassadas”

2 Diversidade e historicidade das teorias

relativamente aos “objetos” que visam esclarecer. Lidar com a historicidade das teorias

Embora teorias e paradigmas não se confundam,

também oferece a possibilidade de identificar

especialmente porque as primeiras, mesmo às

paradigmas que agem no subterrâneo, tomando

vezes situando-se em problemáticas e recortes

aqui a proposição de autores que sugerem

distintos, podem portar uma mesma matriz

serem tais paradigmas muitas vezes de difícil

paradigmática, no sentido de fundamentarem-

identificação, agindo como elementos ocultos

se em visões de mundo idênticas ou muito

que “driblam” o pesquisador (Cf. SANTOS, 1989;

próximas, é sempre necessário, do ponto de vista

HAGUETTE, 1997).

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de um “espírito do tempo” que, às vezes a

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É preciso lembrar ainda que, no percurso

complicadores que por vezes embaçam a visão

da construção do campo de pesquisas

do pesquisador, rendido ao encantamento que

comunicacionais, (re)descobertas de importantes

aparatos crescentemente sofisticados são capazes

aportes teóricos, alguns anteriores ao início

de proporcionar, gerando confusões quanto às

do século XX, indicam que a historicidade,

dinâmicas sociais e de linguagem efetivamente

se não é mera questão cronológica, aponta

envolvidas em tais processos.

para intercâmbios teóricos de matrizes Essa diversidade de aportes teóricos traz

Comunicação, dois exemplos importantes de

algumas questões delicadas quando pensadas no

teorias cronologicamente “antigas” que ajudam

marco da pertinência. Diante de tantos caminhos

a melhor compreender os intrincados processos

teóricos possíveis, qual o mais adequado? Um

de interação e de mediação implicados nos

único aporte teórico é suficiente para lidar com

processos comunicacionais são as perspectivas

determinados “objetos”? Se adotarmos mais de

do pragmatismo (POGREBINSCHI, 2005) e do

uma perspectiva teórica para explicar um mesmo

interacionismo simbólico (HAGUETTE, 1997).

“objeto”, quais são as possibilidades de que elas se mostrem impertinentes?

À noção de historicidade, importante para evitar a tentação dos modismos teóricos e

O problema é ainda agravado pela condição

também para suprimir supostas atualizações

quase sempre dupla de inscrição dos “objetos”

das teorias que, indicadas em suas condições

comunicacionais: na dimensão dos dispositivos

de construções históricas, são às vezes forjadas

interacionais e das relações sociais aí implicadas,

como possibilidades explicativas quando não

sempre mediadas pela linguagem, que por si

mais se prestam a tal, é necessário acrescentar

só constitui problemática espinhosa. Não nos

a diversidade das teorias que podem informar

propomos, é importante repetir, dar respostas

o campo das pesquisas comunicacionais.

metodológicas a estes desafios, mas indicamos

A diversidade de aportes teóricos tem a ver

a impossibilidade de ignorá-los no percurso das

especialmente com duas condições do campo

pesquisas em comunicação. Teorias e métodos

comunicacional: a interdisciplinaridade que

necessariamente devem manter coerência entre

marcou sua constituição e a quase infinita

si. E, em acréscimo, embora seja muito tentadora

possibilidade de identificar “objetos” a partir das

a possibilidade de um “ecumenismo teórico”,

formas de comunicação em copresença e das

na maioria das vezes o que se consegue é uma

modalidades mediadas por dispositivos técnicos

claudicante tentativa de fazer dialogar perspectivas

interacionais. Neste último caso, às questões

teóricas que não se prestam a determinados

sociais são acrescidos os elementos tecnológicos,

diálogos segundo a necessária pertinência.

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situadas em distintas temporalidades. Em

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Quaisquer que sejam as escolhas teóricas, no

Ou então, risco não menos evidente, são

entanto, é fundamental evitar as tentações das

repetidas fórmulas teóricas que condicionam os

grandes narrativas teóricas, que supostamente

resultados antes de qualquer percurso analítico,

dariam conta, à maneira de metarrelatos, ou

transformado-o em mera formalidade.

metateorias, de todas as dimensões de uma O aspecto mais importante é admitir que as

Lyotard (1998) alertou já há algum tempo, as

teorias não podem pretender explicações

pretensões das grandes teorias, sob a convicção

definitivas da realidade e, acima de tudo,

de que explicariam a realidade em totalidade,

reconhecer a dinamicidade de toda e qualquer

não conseguiram outros resultados que não

realidade sob investigação, que, por outro lado,

a compartimentação e/ou totalitarismos

deve servir como elemento para o reconhecimento

teóricos que, além de não explicarem aquilo

da própria condição de historicidade das teorias.

que propunham, criaram riscos políticos de

Dupla historicidade, assim sendo: das teorias

deixar à margem tudo que não se conformava às

e das realidades desafiadoras das teorias que

explicações forjadas.

buscam desvendá-las. Nas palavras do filósofo Karel Kosik (1986, p. 26, grifo do autor):

Em Comunicação, ainda que talvez não identifiquemos tentativas de criar metateorias,

A teoria não é nem a verdade nem a eficácia

certos investimentos que buscam dar conta

de um modo não teórico de apropriação da

de aspectos globalizantes dos “objetos”, como

realidade; ela representa a sua compreensão

simultaneamente abranger as dimensões

explicitamente reproduzida, a qual, de retorno,

históricas, tecnológicas e de linguagens

exerce a sua influência sobre a intensidade, a

implicadas em determinada realidade sob

veracidade e análogas qualidades do modo de

escrutínio, raramente conseguem ir além de

apropriação correspondente.

descrições destes diversos aspectos, ainda que competentemente realizadas. Dificilmente

Se não nos propomos aqui a fazer um inventário

são alcançáveis explicações teóricas que

das teorias da Comunicação, a citação de

tenham capacidade heurística para descrever

Kosik visa sintetizar nossa preocupação com a

pertinentemente todos os elementos em

relação entre teoria e “objeto”, ou realidade, que

suas supostas interconexões. Em situações

julgamos adequada, à medida, inclusive, que

assim, os “objetos” são considerados peças

evita hierarquizações enganosas do tipo “a teoria

manipuláveis segundo os desígnios do

como o que efetivamente dá conta da realidade,

pesquisador, submetidos a explicações teóricas

que lhe seria inferior”, ou o inverso. Quanto

que não raro lhes são absolutamente estranhas.

aos inventários, já faz algum tempo que alguns

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determinada realidade. Como Jean-François

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autores têm se debruçado sobre as teorias da

próprias ciências naturais este modelo já não é

comunicação (ECO, 1976; WOLF, 1994, dentre

unânime e não suporta mais a complexificação

outros), com leituras esclarecedoras sobre a

que o desenvolvimento dos métodos e teorias

riqueza dos seus aportes teóricos, assim como das

experimentou nos últimos tempos.

limitações a que estão historicamente sujeitos. A essa primeira ruptura, entende Santos

indicação de que eles operam como espécies de

(1989) que é necessária uma segunda ruptura

visão de mundo que comandam as teorias, muitas

epistemológica, ou uma “ruptura com a ruptura”,

vezes de maneira que não detectamos (SANTOS,

de modo que o senso comum seja revalorizado

1989), e que estão também sujeitos aos fluxos

em seus aspectos de instigação para a própria

históricos, como demonstraram, no plano mais

ciência e seus métodos, mas especialmente

geral das ciências, Kuhn (1997), e especificamente

para que as ciências sociais e humanas passem

no campo da Comunicação, Quéré (1991).

agora a nortear os processos científicos. A mudança, nessa perspectiva, não pode ser

3 O empírico em suas dimensões

apenas epistemológica. O autor propõe que a

de corpora material e teórico

segunda ruptura deva ser promovida a partir de fundamentos hermenêuticos, favorecendo uma

A herança positivista mais persistente no

crítica dos próprios limites e potencialidades

campo das pesquisas Sociais e da Comunicação

dos postulados epistemológicos. Acima de tudo

certamente está no complexo de inferioridade

está a necessidade de que o humano seja o foco

frente às Ciências Naturais, empíricas em

privilegiado da nova concepção científica, a

essência, entendendo-se por isso especialmente

começar pela negação da ideia cristalizada de que

a possibilidade de definição, segundo rigores

o homem deve dominar a natureza, não por acaso,

estatísticos, de um corpus manipulável e

base primordial da definição do empírico que entre

verificável quanto aos resultados válidos ou não

nós, da Comunicação, ainda reina na prática.

a partir do controle sob a forma de reprodução de experimentos em condições laboratoriais

Se temos uma nova concepção de ciência em que

idênticas. De novo nos valendo de Santos (1989),

o empírico passa a ser visto sob outro prisma,

esse entendimento sobre o fazer científico

o da compreensão, parece-nos que no campo

esteve na própria condição de possibilidade de

dos estudos comunicacionais é necessário

estabelecimento das ciências, no que o autor

verificar quais são as condições de pertinência

chama de “primeira ruptura epistemológica”,

na definição das empirias, a partir das quais,

grosso modo, representada pela luta contra o senso

inclusive, são estabelecidos os corpora das

comum e o pensamento religioso. No entanto, nas

pesquisas. Em primeiro lugar está a condição

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Sobre os paradigmas, não pretendemos ir além da

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Esse procedimento meticuloso certamente tem

estatísticas e as pretensões de amostragem,

que reconhecer uma limitação das pretensões

salvo em alguns casos de pesquisas de recepção,

das pesquisas comunicacionais que, ao contrário

por exemplo, não são necessariamente as

de limitar-lhe o poder de explicação da realidade

melhores definidoras da composição empírica

investigada, aumenta-o. Nesses casos, o olhar

das pesquisas comunicacionais. Pelo viés da

perspectivado confere maior acuidade. Outro ganho

pertinência, inclusive, há mesmo uma inversão

é o inevitável reconhecimento de que explicações

da lógica: as bases quantitativas é que serão

científicas não se prestam a dar conta das antigas

dadas pelo problema de pesquisa e pela ambição

concepções de totalidade, mas apenas e tão somente

da investigação em termos da abrangência e do

de oferecer pistas provisórias sobre a realidade

recorte, seja ele definido pela extensão cronológica

investigada. Realidade essa que, a propósito, em

– por exemplo, um determinado período de

ambiente de reflexividade (GIDDENS, 1991), tem

cobertura jornalística de uma temática específica

nas próprias proposições da ciência elementos para

– seja ele definido por outro critério.

futuras transformações, também elas passíveis de investigação pelo viés das mudanças que as próprias

Uma segunda condição é que, se a lógica do fazer

pesquisas operam nos “objetos”.

científico está em processo de transformação, em que os “objetos” não deverão estar subjugados pela

Nessa perspectiva, Santos (1989) nos indica que

investigação, a empreitada tem que se reconhecer

uma das condições essenciais da segunda ruptura

mais modesta, voltada para a interação entre

epistemológica está na postura interpretativa em

pesquisador e “objeto”, como adiante retomaremos.

relação aos “objetos” a partir das interpenetrações

A desdogmatização do fazer científico passa,

entre resultados anteriormente obtidos em

segundo Santos (1989), pelo reconhecimento de

investigações científicas relativas a eles e as

que não somos capazes de descrições totalizantes

eventuais modificações que estes resultados

dos fenômenos que investigamos. Tal incapacidade

propiciaram ao “objeto” agora novamente

é fato evidente no campo das pesquisas

investigado. Ou, mesmo que a investigação seja

comunicacionais por razões diversas, que vão da

sobre algum “objeto” ainda não escrutinado, é

diversidade das suas possibilidades de constituição

impossível negligenciar as interpenetrações das

de “objetos” ao fator essencial de que tratam de

concepções científicas, culturais, ideológicas (no

produtos e processos humanos, portanto, sujeitos

sentido de visões sociais de mundo) que marcam a

a variações no fluxo histórico, portadores de uma

realidade sob investigação.

dinâmica alucinante de transformações e, em uma de suas possibilidades, mediados por dispositivos

Como se percebe, a constituição de uma empiria

interacionais de base sociotécnica.

em pesquisas comunicacionais – formada tanto

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primordial de entendermos que as bases

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por produtos midiáticos quanto por processos

reafirmar o reconhecimento de que metodologias

de interação sem a mediação de dispositivos

não são construídas apartadas das relações

sociotécnicos – não se dá pela perspectiva do

de pertinência com as teorias adotadas. Como

estatisticamente justificável à maneira dos

propõe Braga (2011b), há pelo menos quatro

procedimentos das ciências naturais, mas pela

níveis de utilização de pressupostos teóricos

aplicação do princípio da pertinência que leva

numa pesquisa: a) a escolha da perspectiva; b) a

em conta a razoabilidade de não pretender o

exploração dos conhecimentos já estabelecidos; c)

escrutínio de uma realidade pré-existente e em

os tensionamentos teóricos do objeto; d) por fim,

sua totalidade. Sempre sobrarão críticas quanto

revisões e complementos teóricos advindos dos

a algum aspecto não abordado na pesquisa,

resultados da pesquisa.

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integrado esta ou aquela variável. Quando não a

No quadro das relações de pertinência, cada

superficialidade da análise – reduzida à descrição

um desses níveis de uso é afetado sobremaneira

frente ao gigantismo da empreitada – seria a

pela construção do corpus, assim como oferece

tônica dos avaliadores da pesquisa.

as bases para sua escolha, recorte, descrição e análise. A escolha dos pressupostos teóricos,

Há outra dimensão empírica nas investigações em

portanto, é parte do processo de constituição

Comunicação nem sempre considerada enquanto

dos corpora, constituindo a dinâmica inicial da

tal, mas que numa mirada da pertinência precisa

pesquisa (a definição do referencial de base, das

ser reposicionada. Exceto em situações mais óbvias,

teorias “estabelecidas”), do movimento analítico

como em pesquisas cujo “objeto” são as próprias

e interpretativo (o acionamento de alguns

apreensões teóricas no campo da Comunicação,

pressupostos e o descarte de outros), bem como

à maneira de um mapeamento, acostumamo-nos

do exercício conclusivo da pesquisa (que faz

a considerar o conjunto de textos teóricos a que

dialogar todos os níveis teóricos já mobilizados).

recorremos um elemento à parte da empiria. Há uma lógica nessa atitude, à medida que tomamos

4 A análise no percurso da pesquisa

as discussões teóricas como parte de um esforço de compreensão do “objeto” de pesquisa, mas não como

Incompatibilidade entre teorias, métodos e

componente do “objeto”. Segundo essa perspectiva,

análise, fragilidade, inconsistência, brevidade e

o “objeto” não contém a teoria como parte da sua

outros problemas são recorrentes como críticas

construção, mas deve ser explicado por ela.

aos exames dos “objetos” realizados em teses e dissertações da área da comunicação produzidas

Considerar o conjunto de textos teóricos como

no Brasil. As causas parecem concentradas em três

parte da empiria, como estamos sugerindo, é

frentes. O sobrepujamento das discussões teóricas

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que, na visão de outro pesquisador, deveria ter

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em relação às dimensões analíticas da pesquisa, a

Além dos problemas de dimensionamento, há

primeira, é certamente ainda o maior desafio que as

também os desencontros entre teoria de base e

pesquisas em comunicação têm de enfrentar. Não

a análise pretendida, gerando impertinências de

se trata, evidentemente, de uma simples inversão de

variadas ordens. Uma delas leva, além de análises

prioridade, em que o problema estaria solucionado

incapazes de refletir a riqueza do material que

pelo “privilegiamento” da análise. A questão é

o pesquisador tem à disposição, a encaixes

de pertinência, à medida que o alongamento

analíticos que forjam conexões inexistentes

excessivo das discussões teóricas costuma refletir,

com as teorias. Por exemplo, obrigando o

paradoxalmente, o pouco amadurecimento das

“objeto” a responder exatamente segundo as

potencialidades analíticas do pesquisador.

hipóteses formuladas no início da investigação,

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Fatores como o tempo para a conclusão da

não maniqueístas, incapazes de desenvolver a

pesquisa sem dúvida não podem ser descartados

percepção das clivagens, porosidades e pontos

como uma das causas desse problema, diante da

obscuros dos materiais sob escrutínio que a

realidade de mestrados, doutorados e pesquisas

empreitada de pesquisa deve levar em conta.

financiadas que devem ser realizados em prazos controlados por programas de pós-graduação e

Outro fator importante está na própria

agências de fomento. O par oposto do exagerado

definição do tipo de investigação, em muitas

alongamento teórico é o tamanho excessivo do

situações cometendo-se o engano de que,

corpus. Segundo Braga (2011b, p. 22):

pela simples adoção, análises comparativas

Um equívoco que às vezes ocorre é o de um levantamento muito abrangente e diversificado dos dados mal sistematizados – sobre os quais não se sabe, depois, como trabalhar interpretativamente ou como gerar ordem no caos informativo, para poder desenvolver inferências.

garantirão maior aprofundamento e qualidade da pesquisa. Quando se propõe uma análise comparativa, a primeira visada sobre a pertinência diz das possibilidades de se comparar materiais que guardem entre si aspectos em comum. Como comparar

O desequilíbrio parece estar centrado

textos impressos e televisivos, que nas suas

mais propriamente na incapacidade de

especificidades de dispositivos apresentam,

dimensionamento da pesquisa, por exemplo,

dentre outras diferenças, problemas como as

com corpora empíricos que não podem ser

dimensões físicas do texto impresso (total

adequadamente analisados no tempo disponível

ocupado na mancha impressa) e as dimensões

ou mesmo na própria extensão do trabalho,

temporais (o tempo destinado no conjunto da

considerando os limites impostos às dissertações,

programação da TV), além, claro, de todas as

teses e outras pesquisas.

nuances de linguagem que os distinguem?

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prevalecendo leituras lineares, mecânicas, quando

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É bem possível estabelecer comparações entre

dados, a detecção de recorrências, por meio da

as mesmas modalidades de suporte como,

análise de conteúdo (LEAL; ANTUNES, 2011) ou

por exemplo, um telejornal matutino com um

em situações de levantamentos que antecedem

noturno, cujas propostas editoriais, públicos

abordagens qualitativas, preparando o terreno

alcançados e linguagens adotadas são distintos.

para pesquisas melhor qualificadas.

Há a possibilidade de se buscar exatamente tais É preciso, assim, estar ciente tanto dos potenciais

questionamentos do tipo “mas se isso já está

quanto das limitações do gesto metodológico

na pressuposição da comparação, o que a

adotado, não tentando fazer com que, por exemplo,

pesquisa oferece como contribuição”? Claro,

uma análise de conteúdo ofereça interpretações

pode ser pertinente uma análise comparativa da

que somente uma análise qualitativa poderia

cobertura de um mesmo tema por um jornal de

fornecer. Do mesmo modo, deve-se lembrar de

matiz sensacionalista e um jornal de referência,

que, ainda que seja somente para fins práticos, as

em busca, por exemplo, da compreensão das

quantificações e mensurações são inevitáveis para

dimensões éticas implicadas nas interações

a construção de um corpus, seja ele composto

do jornalismo com os demais atores sociais.

por um registro cinematográfico (que requererá

Os cuidados na busca da pertinência em tais

algum grau de decupagem), seja ele um conjunto

circunstâncias são, contudo, redobrados. Não se

de grupos focais (com uma quantidade X de

deve nunca partir para uma empreitada analítica

participantes), ou mesmo um corpus de textos

comparativa sob o argumento enganoso de que

jornalísticos (dentro de um intervalo temporal ou

ela expandiria a compreensão do fenômeno

segundo um número Y de edições).

investigado pelo automatismo da ampliação dos corpora e pela ilusão de que a comparação

Da parte das análises qualitativas, as

garante amplitude heurística.

impertinências mais comuns costumam estar associadas à ideia simplificadora de que elas são

Decidir por análises quantitativas ou qualitativas

meras especulações em torno do “objeto”, uma

é o terceiro desafio que nos parece importante, e

coleção de impressões subjetivistas. É já um

não pode simplesmente ser resolvido pelo caminho

lugar comum identificar em “pesquisas” sobre

aparentemente mais óbvio: o da conciliação das

influências da televisão brasileira nos anos 1970

duas, como se este gesto contivesse já a superação

e 1980, especialmente sobre as telenovelas, que

do desafio metodológico. Há possibilidades

as próprias jamais eram assistidas, restando

de excelentes pesquisas descritivas, de base

“análises” preconceituosas de quem, por trás

exclusivamente quantitativa, quando, por exemplo,

da máscara da pesquisa, destilava toda ordem

o que se pretende é a formação de um banco de

de ranços contra “um produto cultural de baixo

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diferenças, mas o risco será sempre enfrentar

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nível, manipulador das massas ignorantes”. A

oferecer um guia metodológico com categorias

má fé pode ser a companheira fiel em supostas

preexistentes – como o fez Thompson (1995),

análises qualitativas, mas a ingenuidade quanto à

num movimento inevitavelmente redutor daquilo

facilidade da leitura dos “objetos” também não é

que a hermenêutica propõe – do que apresentar

boa companhia.

uma linha cuja função é coser os âmbitos teórico, empírico e analítico da pesquisa em comunicação,

Como as pesquisas quantitativas enfrentaram

de modo que a tessitura da investigação resulte

fortes resistências, especialmente em um período

numa síntese produtiva da heterogeneidade de

ainda recente dos investimentos no campo dos

elementos que a compõem. E que o tecido final

estudos comunicacionais, acabou-se por criar a

deixe transpassar a imagem ou forma mais clara

ilusão da pesquisa qualitativa como a panaceia

do “objeto” em questão.

12/16

É preciso cuidado com essa postura, inclusive

A adoção da perspectiva da pertinência significa,

reconhecendo que em pesquisas qualitativas

para nós, do ponto de vista de uma epistemologia

é prudente que haja uma quantificação que

do campo, fazer dialogar as proposições de

permita melhor visualização da problemática

explicação, oriundas das ciências da natureza, e

em discussão. E o mais importante quando

de compreensão, próprias das ciências do homem.

estamos diante das análises qualitativas: elas não

Uma hermenêutica compromissada com o gesto

significam meras impressões, mas o resultado de

interpretativo diante do mundo, diria P. Ricoeur

necessária habilidade e acuidade para perceber a

(1989), não partilha nem de um dualismo, nem

complexidade do “objeto” sob investigação.

de um monismo naquilo que diz respeito a esses dois processos. Tomando tal abordagem como

Em todos esses âmbitos e movimentos no quadro

base, entendemos que as investigações do campo

analítico das pesquisas em Comunicação, a ideia

da Comunicação deveriam se dispor a explicar

de pertinência entra como elemento organizador

os fenômenos e processos comunicacionais, mas

de procedimentos, podendo evitar a subsunção dos

também empreender o esforço de compreendê-

exames às discussões teóricas, os problemas de

los em sua complexidade, fechando o que o autor

dimensionamento ou a má gestão dos tipos de análise.

apresenta como “arco hermenêutico”.

5 A propósito de uma

A compreensão de nossos “objetos” é, por um

conclusão, hermenêutica

lado, o momento não metódico que antecede e põe limites à explicação, trazendo à cena a

Propor a mirada da pertinência segundo a

intersubjetividade. A compreensão também

perspectiva hermenêutica significa menos

é, por outro lado, “inteiramente mediatizada

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salvadora das investigações em comunicação.

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pelo conjunto de procedimentos explicativos

empíricas e analíticas implicadas em cada

que ela precede e acompanha” (RICOEUR,

gesto de pesquisa, proporcionando a dinâmica

1989, p. 211, grifo do autor). A explicação, por

interacional na qual os objetos perdem suas

sua vez, faz avançar a compreensão usando as

aspas – até aqui utilizadas de forma a indicar

pernas da objetividade. Enquanto a primeira

certo titubeio sobre seu real significado –

mobiliza intersubjetividades, senso comum,

precisamente porque reconhecidos como sujeitos

pré-concepções, e mesmo sensações e afecções

em permanente diálogo com o pesquisador. E não

para a condução de nossas pesquisas, da escolha

meros alvos de manipulações grosseiras.

do “objeto” e eleição de teorias à observação, a segunda pesa todos esses elementos na balança

Referências

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da razoabilidade e da validez. Parece-nos, então, que é somente adotando a

Verso e Reverso, v. 25, p. 62-77, 2011a.

ideia de pertinência como pedra de toque de

_____, J. L. A prática da pesquisa em comunicação

nossas pesquisas, confrontando e modelando

- abordagem metodológica como tomada de decisões.

constantemente seus diferentes âmbitos e

E-Compós, v. 14, p. 1-33, 2011b.

movimentos um ao outro, que teremos condições

ECO, U. Apocalípticos e integrados. São Paulo:

de compreender a dinâmica dos processos

Perspectiva, 1976.

comunicativos e de explicá-los sem pretensões

FRANCA, V. R. V. Teorias, objeto de estudo, dimensão

totalizantes e megalomaníacas. Nas palavras de

institucional. In: BARROS FILHO, C.; CASTRO, G.

Ricoeur (1989), que toma o paradigma da leitura para discutir a perspectiva hermenêutica como alternativa epistemológica às humanidades, “uma interpretação não deve ser apenas provável, mas mais provável que uma outra” (RICOEUR, 1989, p. 203). Isto é, se não podemos esperar desenvolver uma interpretação inconteste dos “objetos” que elegemos, deveríamos perseguir a que mais se encaixa – e que, portanto, é pertinente – às porosidades e regularidades dos processos comunicativos. A virtuosidade hermenêutica está, desse modo, na integração das dimensões teóricas,

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La adopción de la perspectiva de la pertinencia en las investigaciones comunicacionales

Abstract

Resumen

This essay proposes the notion of pertinence as

Este artículo, de naturaleza ensayística,

a guiding element in communication research. If

propone la noción de pertinencia como un

not a long time ago challenges such as defining

elemento orientador para las investigaciones

the “communication object” seemed to be the main

en Comunicación. El punto de partida es el

difficulties facing communication research, today

siguiente: si hace poco tiempo desafíos tales

choosing the best methodological approaches

como la definición de “objeto de la comunicación”

remains an unresolved issue. Even if at a first glance

parecían indicar las principales dificultades para

methodological hesitation seems to be negative,

las investigaciones comunicacionales; hoy, la

looking from another point of view, that of the wealth

elección por los mejores caminos metodológicos

and diversity of communication research, method

a seguir permanece abierta. Sin embargo, si a

issues will show to be positive regarding the full

primera vista, un titubear metodológico puede

development of the area, including the questions

parecer negativo; visto desde otro prisma, el de

related the definition of the “communication objects”,

la riqueza y diversidad de las investigaciones

which are multiple, requiring different methodological

comunicacionales, los cuestionamientos sobre

approaches. The notion of pertinence developed

el método aparecerán positivamente indicando

in this paper should be understood as part of the

cierta madurez en el área, incluso en relación

methodological effort to understand communication

a cuáles son sus objetos – que son múltiples y

and its issues from three interconnected domains:

exigen variados abordajes metodológicos. La

theoretical, empirical and analytical.

noción de pertinencia que aquí desarrollamos debe ser entendida como parte del esfuerzo metodológico de comprensión de la Comunicación

Keywords

y sus problemáticas, a partir de tres dimensiones

Pertinence. Communication.

interconectadas: teórica, empírica y analítica.

Research. Hermeneutics.

Palabras claves Pertinencia. Comunicación. Investigación. Hermenéutica.

Recebido em:

Aceito em:

29 de maio de 2012

26 de outubro de 2012

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Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.15, n.3, set./dez. 2012.

For the adoption of pertinence perspective in communicational researches

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E-COMPÓS | www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599

A revista E-Compós é a publicação científica em formato eletrônico da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós). Lançada em 2004, tem como principal finalidade difundir a produção acadêmica de pesquisadores da área de Comunicação, inseridos em instituições do Brasil e do exterior.

Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação. E-compós, Brasília, v.15, n.3, set./dez. 2012. A identificação das edições, a partir de 2008, passa a ser volume anual com três números.

CONSELHO EDITORIAL

Laan Mendes Barros, Universidade Metodista de São Paulo, Brasil

Afonso Albuquerque, Universidade Federal Fluminense, Brasil

Lance Strate, Fordham University, USA, Estados Unidos

Alberto Carlos Augusto Klein, Universidade Estadual de Londrina, Brasil

Lorraine Leu, University of Bristol, Grã-Bretanha

Álvaro Larangeira, Universidade Tuiuti do Paraná, Brasil

Lucia Leão, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil

André Luiz Martins Lemos, Universidade Federal da Bahia, Brasil

Malena Segura Contrera, Universidade Paulista, Brasil

Ângela Freire Prysthon, Universidade Federal de Pernambuco, Brasil

Márcio de Vasconcellos Serelle, Pontifícia Universidade Católica de Minas

Angela Cristina Salgueiro Marques, Faculdade Cásper Líbero (São Paulo), Brasil

Gerais, Brasil

Antonio Roberto Chiachiri Filho, Faculdade Cásper Líbero, Brasil

Maria Aparecida Baccega, Universidade de São Paulo e Escola Superior de

Arthur Autran Franco de Sá Neto, Universidade Federal de São Carlos, Brasil

Propaganda e Marketing, Brasil

Benjamim Picado, Universidade Federal Fluminense, Brasil

Maria Ataide Malcher, Universidade Federal do Pará, Brasil

César Geraldo Guimarães, Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil

Maria das Graças Pinto Coelho, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil

Cristiane Freitas Gutfreind, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande

Maria Immacolata Vassallo de Lopes, Universidade de São Paulo, Brasil

do Sul, Brasil

Maria Luiza Martins de Mendonça, Universidade Federal de Goiás, Brasil

Denilson Lopes, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil

Mauro de Souza Ventura, Universidade Estadual Paulista, Brasil

Eduardo Peñuela Cañizal, Universidade Paulista, Brasil

Mauro Pereira Porto, Tulane University, Estados Unidos

Eduardo Vicente, Universidade de São Paulo, Brasil

Mirna Feitoza Pereira, Universidade Federal do Amazonas, Brasil

Eneus Trindade, Universidade de São Paulo, Brasil

Nilda Aparecida Jacks, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil

Erick Felinto de Oliveira, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil

Osvando J. de Morais, Universidade de Sorocaba, Brasil

Florence Dravet, Universidade Católica de Brasília, Brasil

Potiguara Mendes Silveira Jr, Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil

Gelson Santana, Universidade Anhembi/Morumbi, Brasil

Renato Cordeiro Gomes, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil

Gislene da Silva, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil

Robert K Logan, University of Toronto, Canadá

Guillermo Orozco Gómez, Universidad de Guadalajara

Ronaldo George Helal, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil

Gustavo Daudt Fischer, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Brasil

Rose Melo Rocha, Escola Superior de Propaganda e Marketing, Brasil

Hector Ospina, Universidad de Manizales, Colômbia

Rossana Reguillo, Instituto de Estudos Superiores do Ocidente, Mexico

Herom Vargas, Universidade Municipal de São Caetano do Sul, Brasil

Rousiley Celi Moreira Maia, Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil

Inês Vitorino, Universidade Federal do Ceará, Brasil

Sebastião Guilherme Albano da Costa, Universidade Federal do Rio Grande

Jay David Bolter, Georgia Institute of Technology

do Norte, Brasil

Jeder Silveira Janotti Junior, Universidade Federal de Pernambuco, Brasil

Simone Maria Andrade Pereira de Sá, Universidade Federal Fluminense, Brasil

John DH Downing, University of Texas at Austin, Estados Unidos

Tiago Quiroga Fausto Neto, Universidade de Brasília, Brasil

José Afonso da Silva Junior, Universidade Federal de Pernambuco, Brasil

Suzete Venturelli, Universidade de Brasília, Brasil

José Carlos Rodrigues, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil

Valerio Fuenzalida Fernández, Puc-Chile, Chile

José Luiz Aidar Prado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil

Veneza Mayora Ronsini, Universidade Federal de Santa Maria, Brasil

Kelly Cristina de Souza Prudêncio, Universidade Federal do Paraná, Brasil.

Vera Regina Veiga França, Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil

COMISSÃO EDITORIAL Adriana Braga | Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil

COMPÓS | www.compos.org.br Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação

Felipe Costa Trotta | Universidade Federal Fluminense, Brasil CONSULTORES AD HOC Ana Carolina Escosteguy, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil Bruno Campanella, Universidade Federal Fluminense, Brasil Edison Gastaldo, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Brasil

Presidente Julio Pinto Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Brasil [email protected]

Roseli Figaro, Universidade de São Paulo, Brasil

Vice-presidente Itania Maria Mota Gomes Universidade Federal da Bahia, Brasil

EDIÇÃO DE TEXTO E RESUMOS | Susane Barros

[email protected]

Elizabeth Duarte, Universidade Federal de Santa Maria, Brasil

SECRETÁRIA EXECUTIVA | Juliana Depiné EDITORAÇÃO ELETRÔNICA | Roka Estúdio TRADUÇÃO | Sieni Campos e Markus Hediger

Secretária-Geral Inês Vitorino Universidade Federal do Ceará, Brasil [email protected]

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