www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 |
Pela adoção da perspectiva da pertinência em pesquisas comunicacionais1 Carlos Alberto de Carvalho e Leandro Lage
1/16
Este artigo, de natureza ensaística, propõe a noção
1 Situando as questões
de pertinência como elemento balizador em pesquisas
Segundo o dicionário Houaiss, pertinência (2001,
comunicacionais. O ponto de partida é que se, há
p. 2197) é “aquilo que concerne ao assunto; o que
pouco tempo, desafios como a definição do “objeto da comunicação” pareciam indicar os principais
diz respeito a”. Um bom ponto de partida, portanto,
percalços para as pesquisas comunicacionais, hoje
para as reflexões que aqui propomos, é pensar a
é a escolha dos melhores caminhos metodológicos a trilhar que permanece em aberto. Se à primeira vista, no entanto, um titubear metodológico pode parecer negativo, visto sob outro prisma, o da riqueza e diversidade das pesquisas comunicacionais, as
pertinência como noção balizadora das pesquisas em Comunicação, isto é, como orientação para que as bases teóricas, empíricas e analíticas implicadas
questões de método aparecerão positivamente como
nas investigações mantenham coerência entre si e
o amadurecimento da área, inclusive quanto a quais
apontem para uma mesma dimensão de soluções
são seus “objetos”, afinal, múltiplos e exigindo variadas abordagens metodológicas. A noção de
possíveis para as questões propostas.
pertinência que aqui desenvolvemos deve ser entendida como parte do esforço metodológico de compreensão da comunicação e suas problemáticas,
Também no Houaiss encontramos o adjetivo
a partir de três dimensões interconectadas: teórica,
pertinente (2001, p. 2.197), que, entre seus
empírica e analítica.
significados, “é o que se refere (a alguma coisa);
Palavras-chave
concernente, respeitante; que vem a propósito;
Pertinência. Comunicação. Pesquisa. Hermenêutica.
respeitante à finalidade a que se destina; que tem relevância ou validez”. Este último significado é
Carlos Alberto de Carvalho |
[email protected]
particularmente importante para nossa discussão,
Doutor em Comunicação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFMG.
à medida que a noção de relevância ou validez tem
Leandro Lage |
[email protected]
comunicacionais, como para todos os demais,
Mestrando em Comunicação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
sido, não somente para o campo das pesquisas questão de difícil delimitação.
Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.15, n.3, set./dez. 2012.
Resumo
www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 |
Há critérios inequívocos que possam, ao mesmo
metodológicos e refinamento teórico que lhes
tempo, oferecer garantias de relevância e de
garantisse, à maneira das Ciências Naturais, a
validez para as investigações do campo da
mesma acuidade supostamente permitida por
Comunicação? Estamos diante de dimensões
critérios de definição com fundamento estatístico,
quantitativamente justificáveis, por exemplo,
mas, sobretudo, com capacidade de explicação
segundo delimitações estatísticas? Estamos diante
racional para além da presença dos pesquisadores,
do desafio de construir argumentos que deem
meros organizadores de dados que não afetam
conta de análises qualitativas asseguradoras
nem seriam afetados por suas paixões e visões
de relevância e validez? Ou estamos frente
de mundo. Enfim, uma entidade capaz de agir de
à necessidade de conjugar as dimensões
forma neutra diante de percursos e resultados.
2/16
margens de dúvida quanto à relevância e à validez
A quem tem um mínimo de contato com questões
da pesquisa proposta? Em sendo a última a
espinhosas da constituição das ciências, seus
resposta que melhor delinearia metodologicamente
métodos e engajamentos, fica clara a referência
o campo da Comunicação, quais seriam os
às suas concepções positivistas, ainda que muitas
elementos pertinentes e de pertinência que não
vezes não admitidas enquanto tal. Pelo que
deixariam dúvidas quanto a se ter adotado o
outros já realizaram de balanços históricos dessa
caminho correto?
concepção, aqui nos limitamos a indicá-la. Dentre diversos autores, Boaventura de Souza Santos
Embora sejam questões que têm merecido os
(1989) faz um apanhado lúcido dessas questões,
melhores esforços de pesquisadores já há quase
assim como indica outras possibilidades para se
um século, considerando-se aqui os anos 20
“fazer ciência” que aqui nos inspiram, em especial
do século passado como o da instituição de
uma visada hermenêutica.
um campo de pesquisas mais “genuinamente” comunicacional, as perguntas anteriores parecem,
Eis, resumidamente, um conjunto de indagações
ao contrário, levar a boas respostas, ter criado
que se manterão como pano de fundo para as
determinados impasses. Em grande medida, como
reflexões que aqui propomos, as quais, por
consequência da ansiedade em ser considerado
sua vez, não oferecem respostas de caráter
um campo científico, os investimentos de
“definitivo”, à maneira de um guia para boas
pesquisas comunicacionais muitas vezes se
práticas de pesquisas em comunicação. Primeiro,
viram na mesma armadilha de outros campos
porque propomos a noção de pertinência
das Humanidades: encontrar instrumentos
como parte de um esforço de tentar evitar
1 O artigo é parte de pesquisa financiada pela Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais e pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).
Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.15, n.3, set./dez. 2012.
quantitativas e qualitativas, de modo a não deixar
www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 |
concepções teóricas e metodológicas que possam
de romper com o empirismo ingênuo, com a ideia
sugerir algo próximo de uma panaceia para as
de que é possível alcançar o que seria a realidade
questões epistemológicas nas investigações
empírica da comunicação. A articulação dos
comunicacionais. Segundo, porque pensar em
diferentes objetos empíricos da comunicação – e
termos de pertinência é assumir o risco diante
seu amplo universo de fenômenos, que vão das
daquilo que defendemos como acerto, isto é, que
mídias jornalísticas ao cinema, da publicidade
o campo comunicacional não pode estar sujeito
às modalidades de comunicação organizacional,
a uma única diretriz metodológica ou a uma
entre outros – está sempre sujeita às perspectivas
pretensão de unidade teórica.
teóricas, a um modo de abordagem, bem como a uma dimensão institucional.2
3/16
possíveis para explicar e compreender o campo
O que definirá um “objeto” como comunicacional,
comunicacional não significa a impossibilidade de
portanto, será sua construção enquanto tal,
unidade heurística. Esta, contudo, não poderá ser
processo que não é nem aleatório nem relativista,
assegurada senão a partir de uma proposição de
mas articulado dentro daquilo que Luiz Eduardo
pesquisa com coerência interna. O que aqui nos
Soares (1994), ao trabalhar com outro campo de
anima é, assim, a ideia de que atribuir coerência
investigações, a antropologia, indica como o “rigor
seria alcançar a pertinência de métodos, teorias
da indisciplina”, título, aliás, do livro no qual critica
e resultados, desenvolvendo uma equação que
noções como o relativismo de que à primeira vista
deverá levar em conta as interconexões entre as
nossa proposição poderia ser acusada. Trabalhar
dimensões teórica, empírica e analítica, bem como
dentro da perspectiva do “rigor da indisciplina” é
suas particularidades.
reconhecer, como ponto de partida, que os métodos e as teorias de um campo de investigações nunca
O que advogamos é que os “objetos” de qualquer
estão prontos à disposição do pesquisador, como
ciência não existem em “estado puro” na
um a priori que garantiria os bons resultados
natureza ou na sociedade, mas são construtos
esperados ao final do trabalho de pesquisa. É
que adquirem significado e podem ou não ser
também, não aceitar como cânones princípios
pertinentes à medida que são articulados em
teóricos e metodológicos que, embora de largo uso,
torno da tríade teoria-empiria-análise, processo
não correspondam à complexidade da realidade que
que envolve a interação com o pesquisador –
se busca compreender. É, sobretudo, reconhecer
aspecto que retomaremos mais adiante neste
que, mesmo na suposta imutabilidade dos “objetos”
artigo. Trata-se, como argumenta Rosseti (2010),
das ciências naturais, não existe realidade estática.
2 Cf. Braga (2011a) e França (2007).
Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.15, n.3, set./dez. 2012.
Reconhecer a diversidade de métodos e teorias
www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 |
A “indisciplina” se torna, assim, uma espécie de
metodológico, verificar a pertinência das teorias
iconoclastia frente a determinadas tradições que
utilizadas, buscando desvendar os paradigmas que
tentam se manter exclusivamente em função de
lhe são subjacentes. Ao promover este movimento,
sua suposta validez precisamente porque estariam
o pesquisador em comunicação estará municiado
inscritas na ordem das coisas inquestionáveis. E
dos elementos que de fato lhe permitam identificar
o rigor é exatamente o processo de permanente
a historicidade das teorias com as quais lida.
reinvenção teórica e metodológica capaz de, reconhecendo a riqueza, a complexidade, a
Historicidade, nessa perspectiva, deixa de ser um
dinâmica e a diversidade da realidade, propor os
mero marco cronológico para situar-se no campo
caminhos adequados para sua elucidação.
mais abrangente das marcas paradigmáticas,
4/16
O percurso doravante adotado começa pela
despeito da atualidade de uma proposição em
apresentação, em separado, da articulação da
termos de calendário, é portadora de visões de
mirada da pertinência com cada instância da
mundo que há muito já não são mais capazes de
tríade teoria-empiria-análise. A separação visa tão
compreender as novas dinâmicas da realidade
somente tratar com algum grau de detalhamento
sob escrutínio. Mas, o contrário também é válido:
cada uma das dimensões, que devem ser
teorias “antigas” muitas vezes acrescentam
entendidas sempre como interconectadas. Em
frescor e novas perspectivas a análises sobre
seguida, buscar-se-á situar a ideia de pertinência
questões contemporâneas.
como um elo entre as proposições de explicação, própria das ciências naturais, e compreensão,
É comum, especialmente quando no marco
cara às humanidades, segundo a perspectiva
de certos modismos teóricos, encontrarmos
hermenêutica de P. Ricoeur (1989) e seu diálogo
tentativas de explicações que não resistem
com a epistemologia.
a um exame mais acurado de suas origens paradigmáticas, revelando-se “ultrapassadas”
2 Diversidade e historicidade das teorias
relativamente aos “objetos” que visam esclarecer. Lidar com a historicidade das teorias
Embora teorias e paradigmas não se confundam,
também oferece a possibilidade de identificar
especialmente porque as primeiras, mesmo às
paradigmas que agem no subterrâneo, tomando
vezes situando-se em problemáticas e recortes
aqui a proposição de autores que sugerem
distintos, podem portar uma mesma matriz
serem tais paradigmas muitas vezes de difícil
paradigmática, no sentido de fundamentarem-
identificação, agindo como elementos ocultos
se em visões de mundo idênticas ou muito
que “driblam” o pesquisador (Cf. SANTOS, 1989;
próximas, é sempre necessário, do ponto de vista
HAGUETTE, 1997).
Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.15, n.3, set./dez. 2012.
de um “espírito do tempo” que, às vezes a
www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 |
É preciso lembrar ainda que, no percurso
complicadores que por vezes embaçam a visão
da construção do campo de pesquisas
do pesquisador, rendido ao encantamento que
comunicacionais, (re)descobertas de importantes
aparatos crescentemente sofisticados são capazes
aportes teóricos, alguns anteriores ao início
de proporcionar, gerando confusões quanto às
do século XX, indicam que a historicidade,
dinâmicas sociais e de linguagem efetivamente
se não é mera questão cronológica, aponta
envolvidas em tais processos.
para intercâmbios teóricos de matrizes Essa diversidade de aportes teóricos traz
Comunicação, dois exemplos importantes de
algumas questões delicadas quando pensadas no
teorias cronologicamente “antigas” que ajudam
marco da pertinência. Diante de tantos caminhos
a melhor compreender os intrincados processos
teóricos possíveis, qual o mais adequado? Um
de interação e de mediação implicados nos
único aporte teórico é suficiente para lidar com
processos comunicacionais são as perspectivas
determinados “objetos”? Se adotarmos mais de
do pragmatismo (POGREBINSCHI, 2005) e do
uma perspectiva teórica para explicar um mesmo
interacionismo simbólico (HAGUETTE, 1997).
“objeto”, quais são as possibilidades de que elas se mostrem impertinentes?
À noção de historicidade, importante para evitar a tentação dos modismos teóricos e
O problema é ainda agravado pela condição
também para suprimir supostas atualizações
quase sempre dupla de inscrição dos “objetos”
das teorias que, indicadas em suas condições
comunicacionais: na dimensão dos dispositivos
de construções históricas, são às vezes forjadas
interacionais e das relações sociais aí implicadas,
como possibilidades explicativas quando não
sempre mediadas pela linguagem, que por si
mais se prestam a tal, é necessário acrescentar
só constitui problemática espinhosa. Não nos
a diversidade das teorias que podem informar
propomos, é importante repetir, dar respostas
o campo das pesquisas comunicacionais.
metodológicas a estes desafios, mas indicamos
A diversidade de aportes teóricos tem a ver
a impossibilidade de ignorá-los no percurso das
especialmente com duas condições do campo
pesquisas em comunicação. Teorias e métodos
comunicacional: a interdisciplinaridade que
necessariamente devem manter coerência entre
marcou sua constituição e a quase infinita
si. E, em acréscimo, embora seja muito tentadora
possibilidade de identificar “objetos” a partir das
a possibilidade de um “ecumenismo teórico”,
formas de comunicação em copresença e das
na maioria das vezes o que se consegue é uma
modalidades mediadas por dispositivos técnicos
claudicante tentativa de fazer dialogar perspectivas
interacionais. Neste último caso, às questões
teóricas que não se prestam a determinados
sociais são acrescidos os elementos tecnológicos,
diálogos segundo a necessária pertinência.
5/16
Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.15, n.3, set./dez. 2012.
situadas em distintas temporalidades. Em
www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 |
Quaisquer que sejam as escolhas teóricas, no
Ou então, risco não menos evidente, são
entanto, é fundamental evitar as tentações das
repetidas fórmulas teóricas que condicionam os
grandes narrativas teóricas, que supostamente
resultados antes de qualquer percurso analítico,
dariam conta, à maneira de metarrelatos, ou
transformado-o em mera formalidade.
metateorias, de todas as dimensões de uma O aspecto mais importante é admitir que as
Lyotard (1998) alertou já há algum tempo, as
teorias não podem pretender explicações
pretensões das grandes teorias, sob a convicção
definitivas da realidade e, acima de tudo,
de que explicariam a realidade em totalidade,
reconhecer a dinamicidade de toda e qualquer
não conseguiram outros resultados que não
realidade sob investigação, que, por outro lado,
a compartimentação e/ou totalitarismos
deve servir como elemento para o reconhecimento
teóricos que, além de não explicarem aquilo
da própria condição de historicidade das teorias.
que propunham, criaram riscos políticos de
Dupla historicidade, assim sendo: das teorias
deixar à margem tudo que não se conformava às
e das realidades desafiadoras das teorias que
explicações forjadas.
buscam desvendá-las. Nas palavras do filósofo Karel Kosik (1986, p. 26, grifo do autor):
Em Comunicação, ainda que talvez não identifiquemos tentativas de criar metateorias,
A teoria não é nem a verdade nem a eficácia
certos investimentos que buscam dar conta
de um modo não teórico de apropriação da
de aspectos globalizantes dos “objetos”, como
realidade; ela representa a sua compreensão
simultaneamente abranger as dimensões
explicitamente reproduzida, a qual, de retorno,
históricas, tecnológicas e de linguagens
exerce a sua influência sobre a intensidade, a
implicadas em determinada realidade sob
veracidade e análogas qualidades do modo de
escrutínio, raramente conseguem ir além de
apropriação correspondente.
descrições destes diversos aspectos, ainda que competentemente realizadas. Dificilmente
Se não nos propomos aqui a fazer um inventário
são alcançáveis explicações teóricas que
das teorias da Comunicação, a citação de
tenham capacidade heurística para descrever
Kosik visa sintetizar nossa preocupação com a
pertinentemente todos os elementos em
relação entre teoria e “objeto”, ou realidade, que
suas supostas interconexões. Em situações
julgamos adequada, à medida, inclusive, que
assim, os “objetos” são considerados peças
evita hierarquizações enganosas do tipo “a teoria
manipuláveis segundo os desígnios do
como o que efetivamente dá conta da realidade,
pesquisador, submetidos a explicações teóricas
que lhe seria inferior”, ou o inverso. Quanto
que não raro lhes são absolutamente estranhas.
aos inventários, já faz algum tempo que alguns
6/16
Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.15, n.3, set./dez. 2012.
determinada realidade. Como Jean-François
www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 |
autores têm se debruçado sobre as teorias da
próprias ciências naturais este modelo já não é
comunicação (ECO, 1976; WOLF, 1994, dentre
unânime e não suporta mais a complexificação
outros), com leituras esclarecedoras sobre a
que o desenvolvimento dos métodos e teorias
riqueza dos seus aportes teóricos, assim como das
experimentou nos últimos tempos.
limitações a que estão historicamente sujeitos. A essa primeira ruptura, entende Santos
indicação de que eles operam como espécies de
(1989) que é necessária uma segunda ruptura
visão de mundo que comandam as teorias, muitas
epistemológica, ou uma “ruptura com a ruptura”,
vezes de maneira que não detectamos (SANTOS,
de modo que o senso comum seja revalorizado
1989), e que estão também sujeitos aos fluxos
em seus aspectos de instigação para a própria
históricos, como demonstraram, no plano mais
ciência e seus métodos, mas especialmente
geral das ciências, Kuhn (1997), e especificamente
para que as ciências sociais e humanas passem
no campo da Comunicação, Quéré (1991).
agora a nortear os processos científicos. A mudança, nessa perspectiva, não pode ser
3 O empírico em suas dimensões
apenas epistemológica. O autor propõe que a
de corpora material e teórico
segunda ruptura deva ser promovida a partir de fundamentos hermenêuticos, favorecendo uma
A herança positivista mais persistente no
crítica dos próprios limites e potencialidades
campo das pesquisas Sociais e da Comunicação
dos postulados epistemológicos. Acima de tudo
certamente está no complexo de inferioridade
está a necessidade de que o humano seja o foco
frente às Ciências Naturais, empíricas em
privilegiado da nova concepção científica, a
essência, entendendo-se por isso especialmente
começar pela negação da ideia cristalizada de que
a possibilidade de definição, segundo rigores
o homem deve dominar a natureza, não por acaso,
estatísticos, de um corpus manipulável e
base primordial da definição do empírico que entre
verificável quanto aos resultados válidos ou não
nós, da Comunicação, ainda reina na prática.
a partir do controle sob a forma de reprodução de experimentos em condições laboratoriais
Se temos uma nova concepção de ciência em que
idênticas. De novo nos valendo de Santos (1989),
o empírico passa a ser visto sob outro prisma,
esse entendimento sobre o fazer científico
o da compreensão, parece-nos que no campo
esteve na própria condição de possibilidade de
dos estudos comunicacionais é necessário
estabelecimento das ciências, no que o autor
verificar quais são as condições de pertinência
chama de “primeira ruptura epistemológica”,
na definição das empirias, a partir das quais,
grosso modo, representada pela luta contra o senso
inclusive, são estabelecidos os corpora das
comum e o pensamento religioso. No entanto, nas
pesquisas. Em primeiro lugar está a condição
7/16
Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.15, n.3, set./dez. 2012.
Sobre os paradigmas, não pretendemos ir além da
www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 |
Esse procedimento meticuloso certamente tem
estatísticas e as pretensões de amostragem,
que reconhecer uma limitação das pretensões
salvo em alguns casos de pesquisas de recepção,
das pesquisas comunicacionais que, ao contrário
por exemplo, não são necessariamente as
de limitar-lhe o poder de explicação da realidade
melhores definidoras da composição empírica
investigada, aumenta-o. Nesses casos, o olhar
das pesquisas comunicacionais. Pelo viés da
perspectivado confere maior acuidade. Outro ganho
pertinência, inclusive, há mesmo uma inversão
é o inevitável reconhecimento de que explicações
da lógica: as bases quantitativas é que serão
científicas não se prestam a dar conta das antigas
dadas pelo problema de pesquisa e pela ambição
concepções de totalidade, mas apenas e tão somente
da investigação em termos da abrangência e do
de oferecer pistas provisórias sobre a realidade
recorte, seja ele definido pela extensão cronológica
investigada. Realidade essa que, a propósito, em
– por exemplo, um determinado período de
ambiente de reflexividade (GIDDENS, 1991), tem
cobertura jornalística de uma temática específica
nas próprias proposições da ciência elementos para
– seja ele definido por outro critério.
futuras transformações, também elas passíveis de investigação pelo viés das mudanças que as próprias
Uma segunda condição é que, se a lógica do fazer
pesquisas operam nos “objetos”.
científico está em processo de transformação, em que os “objetos” não deverão estar subjugados pela
Nessa perspectiva, Santos (1989) nos indica que
investigação, a empreitada tem que se reconhecer
uma das condições essenciais da segunda ruptura
mais modesta, voltada para a interação entre
epistemológica está na postura interpretativa em
pesquisador e “objeto”, como adiante retomaremos.
relação aos “objetos” a partir das interpenetrações
A desdogmatização do fazer científico passa,
entre resultados anteriormente obtidos em
segundo Santos (1989), pelo reconhecimento de
investigações científicas relativas a eles e as
que não somos capazes de descrições totalizantes
eventuais modificações que estes resultados
dos fenômenos que investigamos. Tal incapacidade
propiciaram ao “objeto” agora novamente
é fato evidente no campo das pesquisas
investigado. Ou, mesmo que a investigação seja
comunicacionais por razões diversas, que vão da
sobre algum “objeto” ainda não escrutinado, é
diversidade das suas possibilidades de constituição
impossível negligenciar as interpenetrações das
de “objetos” ao fator essencial de que tratam de
concepções científicas, culturais, ideológicas (no
produtos e processos humanos, portanto, sujeitos
sentido de visões sociais de mundo) que marcam a
a variações no fluxo histórico, portadores de uma
realidade sob investigação.
dinâmica alucinante de transformações e, em uma de suas possibilidades, mediados por dispositivos
Como se percebe, a constituição de uma empiria
interacionais de base sociotécnica.
em pesquisas comunicacionais – formada tanto
8/16
Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.15, n.3, set./dez. 2012.
primordial de entendermos que as bases
www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 |
por produtos midiáticos quanto por processos
reafirmar o reconhecimento de que metodologias
de interação sem a mediação de dispositivos
não são construídas apartadas das relações
sociotécnicos – não se dá pela perspectiva do
de pertinência com as teorias adotadas. Como
estatisticamente justificável à maneira dos
propõe Braga (2011b), há pelo menos quatro
procedimentos das ciências naturais, mas pela
níveis de utilização de pressupostos teóricos
aplicação do princípio da pertinência que leva
numa pesquisa: a) a escolha da perspectiva; b) a
em conta a razoabilidade de não pretender o
exploração dos conhecimentos já estabelecidos; c)
escrutínio de uma realidade pré-existente e em
os tensionamentos teóricos do objeto; d) por fim,
sua totalidade. Sempre sobrarão críticas quanto
revisões e complementos teóricos advindos dos
a algum aspecto não abordado na pesquisa,
resultados da pesquisa.
9/16
integrado esta ou aquela variável. Quando não a
No quadro das relações de pertinência, cada
superficialidade da análise – reduzida à descrição
um desses níveis de uso é afetado sobremaneira
frente ao gigantismo da empreitada – seria a
pela construção do corpus, assim como oferece
tônica dos avaliadores da pesquisa.
as bases para sua escolha, recorte, descrição e análise. A escolha dos pressupostos teóricos,
Há outra dimensão empírica nas investigações em
portanto, é parte do processo de constituição
Comunicação nem sempre considerada enquanto
dos corpora, constituindo a dinâmica inicial da
tal, mas que numa mirada da pertinência precisa
pesquisa (a definição do referencial de base, das
ser reposicionada. Exceto em situações mais óbvias,
teorias “estabelecidas”), do movimento analítico
como em pesquisas cujo “objeto” são as próprias
e interpretativo (o acionamento de alguns
apreensões teóricas no campo da Comunicação,
pressupostos e o descarte de outros), bem como
à maneira de um mapeamento, acostumamo-nos
do exercício conclusivo da pesquisa (que faz
a considerar o conjunto de textos teóricos a que
dialogar todos os níveis teóricos já mobilizados).
recorremos um elemento à parte da empiria. Há uma lógica nessa atitude, à medida que tomamos
4 A análise no percurso da pesquisa
as discussões teóricas como parte de um esforço de compreensão do “objeto” de pesquisa, mas não como
Incompatibilidade entre teorias, métodos e
componente do “objeto”. Segundo essa perspectiva,
análise, fragilidade, inconsistência, brevidade e
o “objeto” não contém a teoria como parte da sua
outros problemas são recorrentes como críticas
construção, mas deve ser explicado por ela.
aos exames dos “objetos” realizados em teses e dissertações da área da comunicação produzidas
Considerar o conjunto de textos teóricos como
no Brasil. As causas parecem concentradas em três
parte da empiria, como estamos sugerindo, é
frentes. O sobrepujamento das discussões teóricas
Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.15, n.3, set./dez. 2012.
que, na visão de outro pesquisador, deveria ter
www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 |
em relação às dimensões analíticas da pesquisa, a
Além dos problemas de dimensionamento, há
primeira, é certamente ainda o maior desafio que as
também os desencontros entre teoria de base e
pesquisas em comunicação têm de enfrentar. Não
a análise pretendida, gerando impertinências de
se trata, evidentemente, de uma simples inversão de
variadas ordens. Uma delas leva, além de análises
prioridade, em que o problema estaria solucionado
incapazes de refletir a riqueza do material que
pelo “privilegiamento” da análise. A questão é
o pesquisador tem à disposição, a encaixes
de pertinência, à medida que o alongamento
analíticos que forjam conexões inexistentes
excessivo das discussões teóricas costuma refletir,
com as teorias. Por exemplo, obrigando o
paradoxalmente, o pouco amadurecimento das
“objeto” a responder exatamente segundo as
potencialidades analíticas do pesquisador.
hipóteses formuladas no início da investigação,
10/16
Fatores como o tempo para a conclusão da
não maniqueístas, incapazes de desenvolver a
pesquisa sem dúvida não podem ser descartados
percepção das clivagens, porosidades e pontos
como uma das causas desse problema, diante da
obscuros dos materiais sob escrutínio que a
realidade de mestrados, doutorados e pesquisas
empreitada de pesquisa deve levar em conta.
financiadas que devem ser realizados em prazos controlados por programas de pós-graduação e
Outro fator importante está na própria
agências de fomento. O par oposto do exagerado
definição do tipo de investigação, em muitas
alongamento teórico é o tamanho excessivo do
situações cometendo-se o engano de que,
corpus. Segundo Braga (2011b, p. 22):
pela simples adoção, análises comparativas
Um equívoco que às vezes ocorre é o de um levantamento muito abrangente e diversificado dos dados mal sistematizados – sobre os quais não se sabe, depois, como trabalhar interpretativamente ou como gerar ordem no caos informativo, para poder desenvolver inferências.
garantirão maior aprofundamento e qualidade da pesquisa. Quando se propõe uma análise comparativa, a primeira visada sobre a pertinência diz das possibilidades de se comparar materiais que guardem entre si aspectos em comum. Como comparar
O desequilíbrio parece estar centrado
textos impressos e televisivos, que nas suas
mais propriamente na incapacidade de
especificidades de dispositivos apresentam,
dimensionamento da pesquisa, por exemplo,
dentre outras diferenças, problemas como as
com corpora empíricos que não podem ser
dimensões físicas do texto impresso (total
adequadamente analisados no tempo disponível
ocupado na mancha impressa) e as dimensões
ou mesmo na própria extensão do trabalho,
temporais (o tempo destinado no conjunto da
considerando os limites impostos às dissertações,
programação da TV), além, claro, de todas as
teses e outras pesquisas.
nuances de linguagem que os distinguem?
Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.15, n.3, set./dez. 2012.
prevalecendo leituras lineares, mecânicas, quando
www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 |
É bem possível estabelecer comparações entre
dados, a detecção de recorrências, por meio da
as mesmas modalidades de suporte como,
análise de conteúdo (LEAL; ANTUNES, 2011) ou
por exemplo, um telejornal matutino com um
em situações de levantamentos que antecedem
noturno, cujas propostas editoriais, públicos
abordagens qualitativas, preparando o terreno
alcançados e linguagens adotadas são distintos.
para pesquisas melhor qualificadas.
Há a possibilidade de se buscar exatamente tais É preciso, assim, estar ciente tanto dos potenciais
questionamentos do tipo “mas se isso já está
quanto das limitações do gesto metodológico
na pressuposição da comparação, o que a
adotado, não tentando fazer com que, por exemplo,
pesquisa oferece como contribuição”? Claro,
uma análise de conteúdo ofereça interpretações
pode ser pertinente uma análise comparativa da
que somente uma análise qualitativa poderia
cobertura de um mesmo tema por um jornal de
fornecer. Do mesmo modo, deve-se lembrar de
matiz sensacionalista e um jornal de referência,
que, ainda que seja somente para fins práticos, as
em busca, por exemplo, da compreensão das
quantificações e mensurações são inevitáveis para
dimensões éticas implicadas nas interações
a construção de um corpus, seja ele composto
do jornalismo com os demais atores sociais.
por um registro cinematográfico (que requererá
Os cuidados na busca da pertinência em tais
algum grau de decupagem), seja ele um conjunto
circunstâncias são, contudo, redobrados. Não se
de grupos focais (com uma quantidade X de
deve nunca partir para uma empreitada analítica
participantes), ou mesmo um corpus de textos
comparativa sob o argumento enganoso de que
jornalísticos (dentro de um intervalo temporal ou
ela expandiria a compreensão do fenômeno
segundo um número Y de edições).
investigado pelo automatismo da ampliação dos corpora e pela ilusão de que a comparação
Da parte das análises qualitativas, as
garante amplitude heurística.
impertinências mais comuns costumam estar associadas à ideia simplificadora de que elas são
Decidir por análises quantitativas ou qualitativas
meras especulações em torno do “objeto”, uma
é o terceiro desafio que nos parece importante, e
coleção de impressões subjetivistas. É já um
não pode simplesmente ser resolvido pelo caminho
lugar comum identificar em “pesquisas” sobre
aparentemente mais óbvio: o da conciliação das
influências da televisão brasileira nos anos 1970
duas, como se este gesto contivesse já a superação
e 1980, especialmente sobre as telenovelas, que
do desafio metodológico. Há possibilidades
as próprias jamais eram assistidas, restando
de excelentes pesquisas descritivas, de base
“análises” preconceituosas de quem, por trás
exclusivamente quantitativa, quando, por exemplo,
da máscara da pesquisa, destilava toda ordem
o que se pretende é a formação de um banco de
de ranços contra “um produto cultural de baixo
11/16
Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.15, n.3, set./dez. 2012.
diferenças, mas o risco será sempre enfrentar
www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 |
nível, manipulador das massas ignorantes”. A
oferecer um guia metodológico com categorias
má fé pode ser a companheira fiel em supostas
preexistentes – como o fez Thompson (1995),
análises qualitativas, mas a ingenuidade quanto à
num movimento inevitavelmente redutor daquilo
facilidade da leitura dos “objetos” também não é
que a hermenêutica propõe – do que apresentar
boa companhia.
uma linha cuja função é coser os âmbitos teórico, empírico e analítico da pesquisa em comunicação,
Como as pesquisas quantitativas enfrentaram
de modo que a tessitura da investigação resulte
fortes resistências, especialmente em um período
numa síntese produtiva da heterogeneidade de
ainda recente dos investimentos no campo dos
elementos que a compõem. E que o tecido final
estudos comunicacionais, acabou-se por criar a
deixe transpassar a imagem ou forma mais clara
ilusão da pesquisa qualitativa como a panaceia
do “objeto” em questão.
12/16
É preciso cuidado com essa postura, inclusive
A adoção da perspectiva da pertinência significa,
reconhecendo que em pesquisas qualitativas
para nós, do ponto de vista de uma epistemologia
é prudente que haja uma quantificação que
do campo, fazer dialogar as proposições de
permita melhor visualização da problemática
explicação, oriundas das ciências da natureza, e
em discussão. E o mais importante quando
de compreensão, próprias das ciências do homem.
estamos diante das análises qualitativas: elas não
Uma hermenêutica compromissada com o gesto
significam meras impressões, mas o resultado de
interpretativo diante do mundo, diria P. Ricoeur
necessária habilidade e acuidade para perceber a
(1989), não partilha nem de um dualismo, nem
complexidade do “objeto” sob investigação.
de um monismo naquilo que diz respeito a esses dois processos. Tomando tal abordagem como
Em todos esses âmbitos e movimentos no quadro
base, entendemos que as investigações do campo
analítico das pesquisas em Comunicação, a ideia
da Comunicação deveriam se dispor a explicar
de pertinência entra como elemento organizador
os fenômenos e processos comunicacionais, mas
de procedimentos, podendo evitar a subsunção dos
também empreender o esforço de compreendê-
exames às discussões teóricas, os problemas de
los em sua complexidade, fechando o que o autor
dimensionamento ou a má gestão dos tipos de análise.
apresenta como “arco hermenêutico”.
5 A propósito de uma
A compreensão de nossos “objetos” é, por um
conclusão, hermenêutica
lado, o momento não metódico que antecede e põe limites à explicação, trazendo à cena a
Propor a mirada da pertinência segundo a
intersubjetividade. A compreensão também
perspectiva hermenêutica significa menos
é, por outro lado, “inteiramente mediatizada
Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.15, n.3, set./dez. 2012.
salvadora das investigações em comunicação.
www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 |
pelo conjunto de procedimentos explicativos
empíricas e analíticas implicadas em cada
que ela precede e acompanha” (RICOEUR,
gesto de pesquisa, proporcionando a dinâmica
1989, p. 211, grifo do autor). A explicação, por
interacional na qual os objetos perdem suas
sua vez, faz avançar a compreensão usando as
aspas – até aqui utilizadas de forma a indicar
pernas da objetividade. Enquanto a primeira
certo titubeio sobre seu real significado –
mobiliza intersubjetividades, senso comum,
precisamente porque reconhecidos como sujeitos
pré-concepções, e mesmo sensações e afecções
em permanente diálogo com o pesquisador. E não
para a condução de nossas pesquisas, da escolha
meros alvos de manipulações grosseiras.
do “objeto” e eleição de teorias à observação, a segunda pesa todos esses elementos na balança
Referências
13/16
da razoabilidade e da validez. Parece-nos, então, que é somente adotando a
Verso e Reverso, v. 25, p. 62-77, 2011a.
ideia de pertinência como pedra de toque de
_____, J. L. A prática da pesquisa em comunicação
nossas pesquisas, confrontando e modelando
- abordagem metodológica como tomada de decisões.
constantemente seus diferentes âmbitos e
E-Compós, v. 14, p. 1-33, 2011b.
movimentos um ao outro, que teremos condições
ECO, U. Apocalípticos e integrados. São Paulo:
de compreender a dinâmica dos processos
Perspectiva, 1976.
comunicativos e de explicá-los sem pretensões
FRANCA, V. R. V. Teorias, objeto de estudo, dimensão
totalizantes e megalomaníacas. Nas palavras de
institucional. In: BARROS FILHO, C.; CASTRO, G.
Ricoeur (1989), que toma o paradigma da leitura para discutir a perspectiva hermenêutica como alternativa epistemológica às humanidades, “uma interpretação não deve ser apenas provável, mas mais provável que uma outra” (RICOEUR, 1989, p. 203). Isto é, se não podemos esperar desenvolver uma interpretação inconteste dos “objetos” que elegemos, deveríamos perseguir a que mais se encaixa – e que, portanto, é pertinente – às porosidades e regularidades dos processos comunicativos. A virtuosidade hermenêutica está, desse modo, na integração das dimensões teóricas,
(Org.). Comunicação: práticas de consumo. São Paulo: Saraiva, 2007, v. 1, p. 103-112. GIDDENS, A. As conseqüências da modernidade. São Paulo: Unesp, 1991. HAGUETTE, T. M. F. Metodologias qualitativas na sociologia. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. HOUAISS, A.; VILLAR, M. de S. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. KOSIK, K. Dialética do concreto. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986. KUHN, T. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1997. LEAL, B. S; ANTUNES, E. O acontecimento como conteúdo: limites e implicações de uma metodologia.
Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.15, n.3, set./dez. 2012.
BRAGA, J. L. Constituição do Campo da Comunicação.
www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 |
In: LEAL, B. S.; ANTUNES, E.; VAZ, P. B. (Org.). Jornalismo e acontecimento: percursos metodológicos. Florianópolis: Insular, 2011. v. 1, p. 17-36. LÖWY, M. Ideologia e ciência social: elementos para uma análise marxista. São Paulo: Cortez, 1985. LYOTARD, J-F. A condição pós-moderna. Rio de Janeiro: José Olympio,1998. POGREBINSCHI, T. Pragmatismo: teoria social e política. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2005.
14/16
QUÉRÉ, L. D’un modele epistemologique da la communication a un modele praxeologique. Réseaux, Chachan, França, v. 9, n.
RICOEUR, P. Do texto a acção. Ensaios de hermenêutica II. Porto: Rés, 1989. ROSSETI, R. A ruptura epistemológica com o empirismo ingênuo e inovação na pesquisa empírica em comunicação. In: BRAGA, J. L.; LOPES, M. I. V.; MARTINO, L. C. (Org.). Pesquisa empírica em Comunicação. São Paulo: Paulus, 2010, p. 27-49. SANTOS, B de S. Introdução a uma ciência pósmoderna. Rio de Janeiro: Graal, 1989. SOARES, L. E. O rigor da indisciplina: ensaios de Antropologia Interpretativa. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1994. THOMPSON, J. B. Ideologia e cultura moderna: teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995. WOLF, M. Teorias da comunicação. Lisboa: Editorial Presença, 1994.
Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.15, n.3, set./dez. 2012.
46-47, p. 69-90, 1991.
www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 |
La adopción de la perspectiva de la pertinencia en las investigaciones comunicacionales
Abstract
Resumen
This essay proposes the notion of pertinence as
Este artículo, de naturaleza ensayística,
a guiding element in communication research. If
propone la noción de pertinencia como un
not a long time ago challenges such as defining
elemento orientador para las investigaciones
the “communication object” seemed to be the main
en Comunicación. El punto de partida es el
difficulties facing communication research, today
siguiente: si hace poco tiempo desafíos tales
choosing the best methodological approaches
como la definición de “objeto de la comunicación”
remains an unresolved issue. Even if at a first glance
parecían indicar las principales dificultades para
methodological hesitation seems to be negative,
las investigaciones comunicacionales; hoy, la
looking from another point of view, that of the wealth
elección por los mejores caminos metodológicos
and diversity of communication research, method
a seguir permanece abierta. Sin embargo, si a
issues will show to be positive regarding the full
primera vista, un titubear metodológico puede
development of the area, including the questions
parecer negativo; visto desde otro prisma, el de
related the definition of the “communication objects”,
la riqueza y diversidad de las investigaciones
which are multiple, requiring different methodological
comunicacionales, los cuestionamientos sobre
approaches. The notion of pertinence developed
el método aparecerán positivamente indicando
in this paper should be understood as part of the
cierta madurez en el área, incluso en relación
methodological effort to understand communication
a cuáles son sus objetos – que son múltiples y
and its issues from three interconnected domains:
exigen variados abordajes metodológicos. La
theoretical, empirical and analytical.
noción de pertinencia que aquí desarrollamos debe ser entendida como parte del esfuerzo metodológico de comprensión de la Comunicación
Keywords
y sus problemáticas, a partir de tres dimensiones
Pertinence. Communication.
interconectadas: teórica, empírica y analítica.
Research. Hermeneutics.
Palabras claves Pertinencia. Comunicación. Investigación. Hermenéutica.
Recebido em:
Aceito em:
29 de maio de 2012
26 de outubro de 2012
15/16
Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.15, n.3, set./dez. 2012.
For the adoption of pertinence perspective in communicational researches
www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599 |
E-COMPÓS | www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599
A revista E-Compós é a publicação científica em formato eletrônico da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós). Lançada em 2004, tem como principal finalidade difundir a produção acadêmica de pesquisadores da área de Comunicação, inseridos em instituições do Brasil e do exterior.
Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação. E-compós, Brasília, v.15, n.3, set./dez. 2012. A identificação das edições, a partir de 2008, passa a ser volume anual com três números.
CONSELHO EDITORIAL
Laan Mendes Barros, Universidade Metodista de São Paulo, Brasil
Afonso Albuquerque, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Lance Strate, Fordham University, USA, Estados Unidos
Alberto Carlos Augusto Klein, Universidade Estadual de Londrina, Brasil
Lorraine Leu, University of Bristol, Grã-Bretanha
Álvaro Larangeira, Universidade Tuiuti do Paraná, Brasil
Lucia Leão, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil
André Luiz Martins Lemos, Universidade Federal da Bahia, Brasil
Malena Segura Contrera, Universidade Paulista, Brasil
Ângela Freire Prysthon, Universidade Federal de Pernambuco, Brasil
Márcio de Vasconcellos Serelle, Pontifícia Universidade Católica de Minas
Angela Cristina Salgueiro Marques, Faculdade Cásper Líbero (São Paulo), Brasil
Gerais, Brasil
Antonio Roberto Chiachiri Filho, Faculdade Cásper Líbero, Brasil
Maria Aparecida Baccega, Universidade de São Paulo e Escola Superior de
Arthur Autran Franco de Sá Neto, Universidade Federal de São Carlos, Brasil
Propaganda e Marketing, Brasil
Benjamim Picado, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Maria Ataide Malcher, Universidade Federal do Pará, Brasil
César Geraldo Guimarães, Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil
Maria das Graças Pinto Coelho, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil
Cristiane Freitas Gutfreind, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
Maria Immacolata Vassallo de Lopes, Universidade de São Paulo, Brasil
do Sul, Brasil
Maria Luiza Martins de Mendonça, Universidade Federal de Goiás, Brasil
Denilson Lopes, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Mauro de Souza Ventura, Universidade Estadual Paulista, Brasil
Eduardo Peñuela Cañizal, Universidade Paulista, Brasil
Mauro Pereira Porto, Tulane University, Estados Unidos
Eduardo Vicente, Universidade de São Paulo, Brasil
Mirna Feitoza Pereira, Universidade Federal do Amazonas, Brasil
Eneus Trindade, Universidade de São Paulo, Brasil
Nilda Aparecida Jacks, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil
Erick Felinto de Oliveira, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Osvando J. de Morais, Universidade de Sorocaba, Brasil
Florence Dravet, Universidade Católica de Brasília, Brasil
Potiguara Mendes Silveira Jr, Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil
Gelson Santana, Universidade Anhembi/Morumbi, Brasil
Renato Cordeiro Gomes, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil
Gislene da Silva, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
Robert K Logan, University of Toronto, Canadá
Guillermo Orozco Gómez, Universidad de Guadalajara
Ronaldo George Helal, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Gustavo Daudt Fischer, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Brasil
Rose Melo Rocha, Escola Superior de Propaganda e Marketing, Brasil
Hector Ospina, Universidad de Manizales, Colômbia
Rossana Reguillo, Instituto de Estudos Superiores do Ocidente, Mexico
Herom Vargas, Universidade Municipal de São Caetano do Sul, Brasil
Rousiley Celi Moreira Maia, Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil
Inês Vitorino, Universidade Federal do Ceará, Brasil
Sebastião Guilherme Albano da Costa, Universidade Federal do Rio Grande
Jay David Bolter, Georgia Institute of Technology
do Norte, Brasil
Jeder Silveira Janotti Junior, Universidade Federal de Pernambuco, Brasil
Simone Maria Andrade Pereira de Sá, Universidade Federal Fluminense, Brasil
John DH Downing, University of Texas at Austin, Estados Unidos
Tiago Quiroga Fausto Neto, Universidade de Brasília, Brasil
José Afonso da Silva Junior, Universidade Federal de Pernambuco, Brasil
Suzete Venturelli, Universidade de Brasília, Brasil
José Carlos Rodrigues, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil
Valerio Fuenzalida Fernández, Puc-Chile, Chile
José Luiz Aidar Prado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil
Veneza Mayora Ronsini, Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
Kelly Cristina de Souza Prudêncio, Universidade Federal do Paraná, Brasil.
Vera Regina Veiga França, Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil
COMISSÃO EDITORIAL Adriana Braga | Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil
COMPÓS | www.compos.org.br Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
Felipe Costa Trotta | Universidade Federal Fluminense, Brasil CONSULTORES AD HOC Ana Carolina Escosteguy, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil Bruno Campanella, Universidade Federal Fluminense, Brasil Edison Gastaldo, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Brasil
Presidente Julio Pinto Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Brasil
[email protected]
Roseli Figaro, Universidade de São Paulo, Brasil
Vice-presidente Itania Maria Mota Gomes Universidade Federal da Bahia, Brasil
EDIÇÃO DE TEXTO E RESUMOS | Susane Barros
[email protected]
Elizabeth Duarte, Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
SECRETÁRIA EXECUTIVA | Juliana Depiné EDITORAÇÃO ELETRÔNICA | Roka Estúdio TRADUÇÃO | Sieni Campos e Markus Hediger
Secretária-Geral Inês Vitorino Universidade Federal do Ceará, Brasil
[email protected]
16/16
Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.15, n.3, set./dez. 2012.
Expediente