Pela estrada adentro vamos todos juntos...

June 20, 2017 | Autor: Camila Doval | Categoria: Feminismo, Literatura Infantil, Crítica literaria feminista, Literatura Infanto Juvenil
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HABILIS PRESS EDITORA ANO I | Nº 2 | 2º SEMESTRE 2015 | ERECHIM/RS

ISSN 2359-3423

BOLETIM DE LITERATURA

APRESENTAÇÃO

PREZADOS LEITORES! É imensa a satisfação de entregarmos a vocês a segunda edição do Limeriques, Boletim de Literatura Infantil e Juvenil da Habilis Press Editora. Certos de continuarmos a contribuir com a discussão de temas importantes na formação de leitores, apresentamos inicialmente, neste número, um artigo sobre o protagonismo de personagens femininos na literatura infantil e juvenil, de autoria de Camila Doval, autora de Mãos de Amanda, obra infantil publicada pela Habilis Press Editora. O escritor Robertson Frizero, dramaturgo, romancista, autor do infantojuvenil Por que o Elvis não latiu? (8INVERSO, 2011), entrevistou a Professora Doutora Vera Teixeira Aguiar para esta edição. Na área da Leitura e Formação de leitores, a Professora Vera Aguiar dispensa apresentações. Obras como Literatura – a formação do leitor: alternativas do professor e Era uma vez na escola: formando educadores para formar leitores são indispensáveis na estante de qualquer mediador de leitura que assume de fato essa função. No fechamento do número, o professor Rodrigo da Costa Araújo – que colabora conosco pela segunda vez – apresenta uma resenha da obra Traço e prosa: entrevistas com ilustradores de livros infantojuvenis, organizada por Odilon Moraes, Rona Hanning e Maurício Paraguassu (Cosac Naify, 2012). Desejamos que este segundo número de nosso boletim, pensado com esmero, mobilize saberes, provoque inquietações, sensibilize ideias. Fomentar a discussão em torno da leitura e da formação de leitores é uma responsabilidade que assumimos desde a criação deste expediente. Boa e proveitosa leitura! A Equipe

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PELA ESTRADA ADENTRO, VAMOS TODOS JUNTOS... Camila Doval1

Era uma vez o tempo em que as meninas se contentavam com o impalpável viver-feliz-para-sempre; elas querem é viver feliz para ontem, à velocidade da sua luz. De preferência, com mais foco no viver que no feliz, pois a literatura infantil tem desconstruído os finais sem graça em que a felicidade coincide com o fim da ação e privilegiado a estrada afora, em que acontecem todas as aventuras, se escondem todos os monstros, se descobrem todos os poderes. Ao contrário das princesas que dormiam boa parte das histórias, hoje menina nenhuma quer perder a diversão. Até o século XVIII, a infância não existia da forma como a conhecemos hoje, e, apesar da grata profusão dos contos folclóricos e lendas de origem indígena e africana, a literatura efetivamente produzida para crianças dedicava-se a ensiná-las a serem os adultos que a sociedade precisava que elas fossem: salvo raras exceções, uma série de manuais escolares repletos de pode-isso e não-pode-aquilo, tudo muito bem dividido entre meninos e meninas, em que a maioria dos não pode! ficava para as meninas. No Brasil, de acordo com Marisa Lajolo (1989), Monteiro Lobato foi o primeiro escritor a romper a domesticidade das personagens femininas ao criar o Sítio do Pica-pau Amarelo, que se estendia do Reino das Águas Claras ao País da Gramática, terras onde a Doutoranda em Teoria da Literatura, bolsista CNPq, autora de Mãos de Amanda (Habilis Pres Editora, 2014). 1

espevitadíssima boneca Emília não se cansa de fazer e acontecer. A partir disso, o cenário começou a mudar, e, com a revolução promovida pelos movimentos sociais dos anos 60 e 70, com destaque para o feminismo, além dos novos parâmetros estabelecidos por Lobato nos quesitos linguagem e criatividade, as mulheres da ficção passaram a representar a reconfiguração de papéis reivindicada pelas mulheres de verdade (LAJOLO, 1989, p. 23), o que se estendeu para a literatura infantil, principalmente de autoria feminina. Mas não torça o nariz ao imaginar uma escrita panfletária: a intensa transformação vivida pela sociedade naquele período propiciou, em termos literários, o surgimento de uma nova protagonista infantil, mais complexa, mais profunda, mais surpreendente e interessante, enfim... mais determinada a tomar o seu espaço na tal da estrada afora, re-criando o próprio sentido de protagonizar. E, assim, é sempre a vez... ...da fada Clara Luz se cansar de um mundo tão parado e se botar a ter umas ideias ótimas, como acabar com o Livro das Fadas, muito cheio de regras antiquadas, e ainda por cima abrir os horizontes; ...da Raquel esconder na bolsa amarela as vontades de crescer logo, de escrever e de ser menino, que, no fim das contas, são grandes e pesadas demais para uma bolsa de criança, e o único jeito é reinventá-las até que caibam na sua vida; ...da Isabel descobrir que a Bisa Bia, de quem ela tanto gosta, não gosta de menina de calça comprida, de menina assoviando, de menina que fica pensando em namoro e de muitas outras coisas que Isabel veste, faz e pensa, até que ela resolve informar a bisavó que as meninas estão inventando um jeito novo para as coisas; ...da Princesinha Medrosa, que morre de medo do escuro, da solidão e da pobreza, deixar a amizade chegar pertinho para contar que é no escuro que se dança com as estrelas, na solidão que se percebe a presença das árvores, das pedras, do céu, da terra e das galáxias e que toda riqueza tem que ser bem dividida para somar;

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ENTREVISTA

...da Bintou deixar de ficar triste com seu cabelo que só dá para fazer birotes (e não longas tranças de miçangas que soam como a chuva...), porque a avó sabe um jeito especial de mostrar que, na verdade, ela é a menina de pássaros no cabelo e que o sol a segue por onde vai; ...da Morango Sardento descobrir que não vale a pena perder tempo ficando jururu, passando calor e sentindo coceira para esconder o seu um milhão de sardas, já que no fim das contas ela é igualzinha a seu um milhão de amigos que logo, muito logo, vão crescer. Foram essas as primeiras espevitadas que saltaram da minha estante aos meus olhos; nascidas de mãos femininas ou masculinas (isso não faz diferença aqui), todas cumprem com sobra o que disse Nelly Novaes Coelho (2003, p. 123) a respeito da importância da literatura infantil na vida das crianças:

ENTREVISTA Vera Teixeira de Aguiar tem uma longa história de dedicação à literatura infantil. Doutora em Letras, Professora Titular aposentada da PUCRS, tem inúmeras publicações sobre o tema, sempre direcionando seu interesse para o estudo do lugar da literatura na vida social. Seu trabalho de pesquisa rendeu-lhe, entre outras formas de reconhecimento, uma indicação como finalista do Prêmio Jabuti, na categoria Educação. A pedido de nosso boletim, a professora Vera Aguiar concedeu uma entrevista ao escritor Robertson Frizero, que, orgulhosamente, faz questão de se declarar seu ex-aluno.

De maneira lúdica, fácil e subliminar, ela atua sobre seus pequenos leitores, levando-os a perceber e a interrogar a si mesmos e ao mundo que os rodeia, orientando seus interesses, suas aspirações, sua necessidade de autoafirmação ao lhes propor objetivos, ideais ou formas possíveis (ou desejáveis) de participação no mundo que os rodeia.

Diante da grande oferta de títulos voltados para crianças e adolescentes, quais devem ser os critérios para a escolha de livros que estimulem a leitura dos alunos?

ALMEIDA, Fernanda Lopes de. A fada que tinha ideias. São Paulo: Ática, 2003. BOJUNGA, Lygia. A bolsa amarela. Rio de Janeiro: Agir, 1992. COELHO, Nelly Novaes. O conto de fadas: símbolos mitos arquétipos. São Paulo: DCL, 2003.

MACHADO, Ana Maria. Bisa Bia, Bisa Bel. Ilustrações de Regina Yolanda. Rio de Janeiro: Salamandra, 2000. MOORE, Julianne. Morando Sardento. Ilustrações de Leuyen Pham. Tradução de Fernanda Torres. São Paulo: Cosac Naif, 2010. MORAES, Odilon. A princesinha medrosa. Ilustrações do autor. São Paulo: Cosac Naif, 2008.

Sim, é possível. Se as instituições de formação desses profissionais (hoje todas de Ensino Superior, como Letras, Biblioteconomia, Educação) não apenas falarem sobre a leitura e sobre a história ou a estrutura do texto literário, mas se dedicarem a criar situações de leitura, se os alunos forem estimulados a ler as obras, eles mesmos descobrirão o quanto elas os representam, falando do conteúdo humano de cada um de nós. E aí vai residir o prazer da leitura que, quanto mais exercitado, mais chances tem de formar leitores permanentes, que vão passar adiante a experiência.

Claro que essas mudanças têm importância. Os meios digitais estão aí e cada vez mais fazem parte da vida de todos (pelo menos em nosso contexto). A verdade é que os novos suportes que abrigam a palavra escrita em geral já estão abrigando a literária, com muitas bibliotecas digitais, muitos textos novos publicados diretamente na tela. Também comentários, grupos específicos, notícias, fanfictions e outros tantos ali estão. O que vale é aproveitarmos essas novas plataformas de leitura. Mas entendemos a resistência da escola tradicional: podemos lembrar que o papel e, depois, o texto impresso, em seus inícios, sofreram críticas pela novidade que representavam em relação aos suportes anteriores.

REFERÊNCIAS:

LAJOLO, Marisa. A voz infantil da e na literatura infantil. In: COELHO, Nelly Novaes et al. Feminino singular: a participação da mulher na literatura brasileira contemporânea. São Paulo: Edições GRD, 1989.

É possível despertar novos leitores nos cursos de formação de professores, ou seja, criar o hábito da leitura em alunos que não o adquiriram durante o Ensino Fundamental e Médio? Como se pode estimular nossos alunos e professores a tornarem-se leitores? O meio social tem uma influência nesse processo?

O meio digital levou-nos, de certa forma, a uma intensificação do intercâmbio de mensagens e do acesso à informação por meio da palavra escrita. Essas recentes mudanças tecnológicas impactaram também na formação de leitores?

Ainda mais especial é o que essas meninas de lá representam (e essa é uma palavra MUITO importante) para as meninas de cá: um mundo de possibilidades. De falar o que pensam, de ir aonde querem, de fazer o que têm vontade. De dizerem não. De serem ouvidas, de serem recebidas, de serem prestigiadas. De serem respeitadas. Meninas são capazes de muito mais do que o senso comum espera delas, e a literatura faz os vestidos cor de rosa, os fogõezinhos de plástico e os príncipes encantados, com ou sem cavalos brancos, comerem poeira. A literatura empodera. Mas esse não é o final: quanto mais plurais forem as identidades representadas na literatura, maior se torna a sua capacidade de incluir a diversidade de leitoras e leitores existentes – uma equação simples, porém ainda utópica em função de um mercado (mal) acostumado a excluir os discursos das minorias. Se eu não encerro com o esperado happy end é porque há muito a ser feito, e dessa vez a estrada é adentro das nossas próprias narrativas, em busca do que temos representado para a história da nossa sociedade.

DIOUF, Sylviane A. As tranças de Bintou. Ilustrações de Shane W. Evans. Tradução de Charles Cosac. São Paulo: Cosac Naif, 2010.

livro literário. E as dificuldades da vida adulta, sobretudo profissional, se encarregaram do resto. Portanto, investir na formação de professores leitores é o primeiro passo para a mudança.

Obrigado por nos conceder esta entrevista. Fala-se muito em formação de leitores no Brasil, e um dos aspectos que sempre me chamou a atenção no trabalho da senhora foi estender o foco dessa questão, além dos alunos-leitores, também para a formação de professores-leitores. Qual a importância desses professores-leitores no processo de desenvolvimento da leitura?

Há dois critérios fundamentais: a qualidade literária da obra e a adequação ao leitor. A literatura para crianças e jovens deve passar pelo mesmo crivo de exigência da literatura em geral. Como arte da palavra, ela precisa explorar as potencialidades da língua e criar um universo coeso, verossímil internamente, para falar da vida como ela ainda pode ser vivida. Por outro lado, é necessário que a literatura dialogue com seus leitores, coloque-se ao lado deles, compreendendo seu modo de perceber e sentir o mundo. Isso não significa facilitação, empobrecimento, ao contrário, só conhecendo os horizontes vivenciais dos leitores é possível criar desafios, descortinar novos horizontes.

Os livros paradidáticos, que aliam literatura e conteúdo disciplinar escolar, merecem um A experiência tem demonstrado que os pro- espaço nas atividades de formação de leitores?

fessores precisam gostar de ler para passar a seus alunos esse gosto. Ninguém pode convencer alguém daquilo de que não está convencido. Em nossa realidade, sabemos que, por “n” razões, há professores não-leitores. Não cabe aqui discutir as causas, porque o problema é um círculo vicioso, isto é, também eles, em tempos de escola, não foram levados ao

Depende do que eles apresentam. Na maioria das vezes, esses livros tratam a literatura como um conteúdo informativo, cobrando, em seus exercícios, respostas certas e únicas, esquecendo o caráter polissêmico da arte. Assim, só afastam os possíveis

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leitores, porque eles podem dar respostas fechadas e corretas aos problemas matemáticos, por exemplo, mas diante do texto literário precisam senti-lo, estabelecer relações com sua realidade (mesmo que ele represente o mundo magicamente) e posicionar-se diante dele, descobrindo novos significados para a sua vida.

Que pensar dos chamados livros-brinquedo, adaptados de personagens do cinema e da televisão, não raro acompanhados de outros recursos audiovisuais, de cadernos de atividades ou mesmo de brindes para estimular a compra pelos pais? Aqui também é preciso separar o joio do trigo. Os livros lúdicos, desafiadores e provocadores de interação inteligente são ótimos para os menores, porque propiciam uma atitude leitora, introduzindo-os no mundo letrado, mesmo quando não há palavras, mas uma narrativa visual ou um estado poético através de imagens. E há muitos desses livros produzidos no Brasil, por artistas nacionais.

Como algo muito positivo, que aproxima professores e alunos de livros, escritores, atividades criativas. As Feiras fazem o sistema literário se movimentar.

Há, contudo, um descontentamento por parte de alguns escritores, que são, algumas vezes, convidados para participar dessas feiras, mas não têm os seus livros à disposição nos estandes de venda ou trabalhados nas escolas. Qual a importância da presença dos autores nessas feiras? Bem, em sentido amplo, o processo de leitura literária dá-se entre os sujeitos e os textos. A presença dos autores, quando pode acontecer, é a de estímulo, debate, desmitificação dos escritores, aproximação afetiva e descobertas mútuas. Nunca cabe a quem escreve explicar sua obra, responder a “o que quer dizer com isto?”. Para os encontros com os livros à disposição, é preciso planejar, e os autores podem colaborar, lembrando dessa necessidade às organizações das Feiras.

Que tipos de atividades podem ser desenComo pesquisadora, qual é seu interesse volvidas para a leitura literária nas Anos Ini- atual sobre o tema da literatura infantil ciais do Ensino Fundamental? e juvenil? As atividades devem ser lúdicas, bem organizadas, ou seja, os professores devem planejar sua prática em sala de aula. Desenvolvi uma pesquisa com três alunos do Programa de Pós-Graduação em Letras da PUCRS sobre esse tema, e os resultados estão em um e-book, no site da editora da Universidade, intitulado “Itinerários de leitura para as séries iniciais – base de conhecimentos”. O acesso é grátis, e acho que a proposta quer responder à questão.

Sou pesquisadora do CNPq e desenvolvo um projeto sobre a literatura juvenil, inventariando obras e autores, temas e aspectos estruturais das narrativas, além de uma metodologia alternativa de leitura na escola. Ele dá continuidade àquele a que referi sobre a literatura para Anos Iniciais.

Obrigado pela entrevista! Eu é que agradeço a oportunidade de falar do

O Rio Grande do Sul vê crescer, a cada meu trabalho. Um abraço! ano, o número de Feiras do Livro em diversos municípios do estado. Boa parte das atividades desses eventos é voltada para o público infantil e juvenil. Como a senhora vê esse tipo de evento?

ARTIMANHAS DA ILUSTRAÇÃO Rodrigo da Costa Araujo1 RESENHA: MORAES, Odilon; HANNING, Rona; PARAGUASSU, Maurício (Org.). Traço e prosa: entrevistas com ilustradores de livros infantojuvenis. São Paulo: Cosac Naify. 2012. 255p. A arte da ilustração e o livro ilustrado são, sem sombra de dúvida, presentes aos olhos, delicadezas e mistérios que encantam a qualquer leitor, de qualquer idade. O Traço e a prosa: entrevistas com ilustradores de livros infantojuvenis (2012) é uma coletânea sobre artistas ilustradores organizada por Odilon Moraes, Rona Hanning e Maurício Paraguassu, da editora Cosac Naify, e que trata desse assunto, especificamente. O livro é composto de doze entrevistas com autores/ilustradores brasileiros experientes na área, e inova em acervos e fontes para pesquisadores e estudantes da área de literatura infantojuvenil, trazendo boa amostra do que vem sendo produzido no Brasil em termos de ilustração e de narrativa. Por ilustração entende-se toda imagem que acompanha um texto, manifestando-se desde um detalhado desenho técnico até uma foto, desenhos artísticos ou pinturas. O design é entendido como processo de formulação e justificativa de uma proposta capaz de levar à execução de um produto que atenda a uma necessidade humana. No livro infantil, ele envolve o conjunto dos elementos gráficos que, dispostos harmoniosamente, influenciam a recepção da narrativa e contribuem para a formação do olhar estético. 1

Rodrigo da Costa Araújo é professor de Literatura Infantojuvenil, Arte e educação e Teoria da Literatura, na FAFIMA - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Macaé, Mestre em Ciência da Arte [2008 - UFF] e Doutorando em Literatura Comparada [UFF].

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A MENINA QUE PODIA VOAR Vinícius Linné

TUA MÃO NA MINHA

Ilustração Mirella Spinelli 36 páginas - 20x23cm

Eloí Elisabete Bocheco ISBN: 978-85-60967-45-2

Na infância, tudo é possível. Inclusive voar. É sobre essa época de magia e fantasia que Catarina, uma galinha contadora de histórias, narra às frangas mais novas e aos seus pintinhos o caso da menina que podia voar. O voo, tratado pela menina com uma naturalidade imensa, de repente se depara com um obstáculo intransponível: a realidade. Como continuar voando depois que sua madrinha diz que meninas e galinhas não voam? A menina que podia voar é um livro para crianças, jovens e adultos sobre acreditar em si e nos próprios sonhos. Aborda também as consequências de ouvir mais os outros do que o próprio coração.

Ilustração Walther Moreira Santos 28 páginas - 27x21cm

ISBN: 978-85-60967-48-3

Em uma antiga brincadeira infantil, a menina Dúnia encontra um modo de elaborar a dor e o desamparo de uma grande perda. Descobre que podia continuar brincando o jogo infantil que aprendera com a mãe, que partiu. Brincaria pela mão da avó que transmitira a brincadeira à família. A personagem tira do imaginário o ponto de apoio para continuar caminhando, porque a vida e o jogo Tua mão na minha continuam, apesar de tudo.

MOJUBÁ

Walther Moreira Santos 28 páginas - 25x21,5cm

ISBN: 978-85-60967-54-4

“Mojubá” quer dizer “seja bem-vindo!”. E é com essa saudação que o livro convida o leitor para divertidos momentos com adivinhas que brincam com bichos e elementos da cultura africana. Consagrada pela cultura popular, a adivinha é um jogo lúdico de palavras que torna o aprendizado do idioma muito mais prazeroso. Primorosas ilustrações, feitas com nanquim e lápis de cor, servem de introdução visual à riquíssima arte gráfica de matriz africana.

Habilis Press Editora Ltda | Rua Torres Gonçalves, nº 528 - Centro - Erechim - RS. 99700-000 | CNPJ: 06.268.828/0001-01

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Essas linguagens também são objetos de leitura, de uma leitura-arte com traços e sintaxes próprias, diferentes da linguagem verbal, mas que podem ser ricas e capazes de instigar tanto o raciocínio quanto a imaginação. Lidos como paratextos, as ilustrações e os efeitos visuais funcionam como mais ou menos satélites visuais, portando-se como agregados, estando juntos do texto. Por estarem tão próximos, na órbita mesma dos textos, desde sempre esse fenômeno atraiu a atenção de estudiosos da literatura. A obra como um todo, além de divulgar e apresentar o trabalho dos ilustradores brasileiros, reforça que a noção de leitura – como processo gradual de decodificação, diálogo com o objeto lido, percepção crítica, interpretação e transformação – se amplia ao considerar a ilustração como signo potencial e estético. Nesse jogo de leitura e alfabetização estética, ela instiga o exercício de pensamento divergente e passível de desencadear um diálogo visual no espaço e no tempo, produzindo novos significados, em um processo autogerativo. Os entrevistados, por meio de suas produções, revelam uma identidade nacional, em matéria de imagens na literatura, na televisão e no cinema. Nesse sentido, Traço e Prosa contribui para o reconhecimento das possibilidades narrativas das ilustrações brasileiras e para uma visão mais positiva e ampla sobre a produção nacional na área. Seu suntuoso projeto editorial – até porque fala dessa prática e exercício – foi premiado pela Fundação Nacional do Livro Infantojuvenil em 2013. Na apresentação da obra, paratexto de abertura e espécie de convite, os três organizadores – Odilon Moraes, RonaHanning e Maurício Paraguassu – apresentam a proposta e o objetivo da seleção: mostrar como são, também, diversas as visões dos artistas e compartilhar suas experiências e desafios ao elaborarem as narrativas de seus livros, contribuindo, assim, de alguma forma, com o interesse dos leitores. A obra, em sua estrutura e diversidade estética, consultou várias bibliografias no assunto para o preparo das entrevistas, dos temas comuns nessa área, e que, por isso mesmo, foi organizada em três tipos de abordagem, a saber: a histórico-sociológica, a pedagógica e a formalista. O primeiro viés são estudos que fornecem elementos para entender o desenvolvimento histórico do livro ilustrado, as relações entre produção editorial e mercado, o incentivo à leitura, as mudanças das temáticas tratadas nos livros e outros fatores que sublinham as relações entre livro ilustrado e sociedade, dentro de um panorama histórico. Essa panorâmica permitiu entender o recorte temporal que orienta a obra: o grande aumento da produção literária para infância e juventude que ocorreu a partir de meados da década de 1970 e continua em expansão. O segundo viés, denominado pedagógico, exerce influência sobre o destino

de muitos livros, editoras, escritores e ilustradores, além de funções restritivas ao entendimento da leitura. De certa forma, os entrevistados possuem íntima relação com a leitura literária e, consequentemente, com as relações da criança com o livro. Muitos deles, no contato estreito com a leitura ou no trabalho pedagógico em que ela se insere, exercem o magistério ou atividades em parceria com profissionais da área. Sem dúvida nenhuma, as discussões do livro ilustrado são fortemente identificadas com o público infantil e juvenil. Por fim, o terceiro viés, que colocado sobre a rubrica de formalista, abrange os estudos que destacam a imagem como elemento constituinte do livro. Essas pesquisas encaminham questões sobre a exploração e uso das diversas linguagens presentes no livro ilustrado. Nessa miríade de discussões, a semiótica se destaca como ferramenta de leitura para as diversas abordagens. Por esse mesmo viés, considera-se a imagem como texto ou discurso visual e reforça-se que o livro ilustrado é uma somatória da palavra escrita, da imagem e do próprio objeto livro. Tais conjunções inextrincáveis e criações híbridas de signos verbais e visuais ganham força extraordinária na produção da ilustração, mais ainda a partir dos anos 1990, quando toda a produção material de linguagens da cultura começou a migrar gradativamente para o computador, munido de recursos específicos para variadas finalidades. São esses encantos e pequenos ardis e segredos do mundo dos signos – como na ilustração dos Contos de Andersen, de Eliardo França – e seus modos de significar, especificamente nos livros infantis, objeto das escolhas das entrevistas, que os organizadores enfrentaram nessa obra, conjugando para isso competências de tal ordem com experiências na área. Extremamente artísticas, as ilustrações revelam o fino poder descritivo, confundindo-se, muitas vezes, com as artes plásticas. Por isso mesmo, ao diferenciar o trabalho da ilustração e da pintura, Eliardo França (2012, p. 24) afirma em sua entrevista: É muito tênue a diferença entre pintura e ilustração, mas ela existe. A diferença fundamental é que a ilustração parte de uma ideia literária e a pintura não parte de nada, além de uma tela branca, um papel em branco. Como a música, não tem texto, não tem nada, você faz o que quiser, põe o elemento que quiser, enfim, está absolutamente livre. A diferença é na origem, muito mais do que na execução. [...] Eu acho que a ilustração deve estar ligada ao texto, mas não exatamente reproduzi-lo; não é uma tradução gráfica do texto, ela tem uma vida completa. A ilustração completa o texto e vice-versa.

Com olhos e mundos interartes, os entrevistadores vão revelando os seus “traços” e alguma “prosa” para explicar, delicadamente, as leis do diálogo entre dois universos e seus objetos: a palavra e a imagem na espacialidade da página do livro. Palavras lidas como imagem, muitas vezes, ou mesmo imagens vistas como palavras, já que ambas ganham corpo vívido, sensual e tátil da representação perceptiva da imagem. Sob esse olhar, da atenção, dos detalhes, das cores e das sutilezas, Traço e Prosa, no conjunto de suas entrevistas, encena a interatividade dos vários universos – a experiência e a prática, a leitura e a sensibilidade, a expressão e a ideia, entre universos e seus objetos – preparando, de alguma forma, a metodologia hibridizada por procedimentos semióticos, deduzindo a grande descoberta das circunstâncias originárias de um todo compreensível e harmonioso da leitura: a semiose. Ao indagá-la, explicá-la na prática da alfabetização visual, ao ilustrá-la a partir do texto, já responde em um fluxo derivado de uma rede de relações gerais significati-

vas na interação palavra e imagem para a pesquisa, agora expostas nessa coletânea. A obra situa-se nesse roçar de invenção e ensinamentos, aplicações e experiências, teoria e prática. Se, por um lado, ela é norteada por tais sentidos críticos, a revelar os ilustradores estetas, por outro, deixa marcas fortes da presença, muitas vezes controlada, dos artistas/pesquisadores que a elaboram. Estes interpõem-se e aparecem com energia, quando libertos da necessidade de perceber-se na produção do outro, de suas interferências e paixões sobre o fazer da ilustração. Mais do que uma mera obra que se propõe a apresentar a biografia e as experiências estéticas desses artistas, Traço e Prosa é uma referência para se discutir o conceito de livro ilustrado, a partir daqueles que o produzem, por meio de conversas e reflexões que reúnem trajetórias inquiridoras, poéticas e perseverantes em duas faces: a da pedagogia e a da semiose, para indagar a natureza do livro infantil ilustrado. Os entrevistados são de São Paulo:  Eva Furnari, Alcy Linares, Ricardo Azevedo e Helena Alexandrino; de Minas Gerais: Eliardo França, Nelson Cruz, Marilda Castanha e Angela Lago; e do Rio de Janeiro: Rui de Oliveira, Graça Lima, Mariana Massarari e Roger Mello. Transdisciplinar e pontual, Traço e Prosa, recorrendo a múltiplos arquivos e pesquisadores, oferta-nos delicadas pistas, como se – a partir da astúcia e fineza dos ilustradores e seus traçados – estivesse a transmitir as técnicas e as sutilezas semióticas no processo criativo da ilustração. E, assim, qual alunos atentos de boas ilustrações, treinamos, também nós, tal arte, a ponto de podermos – seguindo as experiências, os traços finos e a alfabetização estética – recompor e recolher as difíceis relações de intensidade entre o detalhe e o parcial, asselhoramo-nos  duplamente do olhar e ler. Afinal, são essas as atitudes amorosas e delicadas e os segredos do mundo dos signos, especificamente nos livros infantis, objeto da motivada escolha dessa obra: a paixão de traduzir o mundo dos textos em ilustrações. RECEBA EM CASA

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Projeto Gráfico Rafael Fernando Fontana Revisão linguísticodiscursiva Cristiano Oldoni

Tiragem - 1.000 exemplares

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