Pequena Arqueologia do Saber em Psicanálie

June 3, 2017 | Autor: D. G. Tierro Ramos | Categoria: Gaston Bachelard, Psicología, Psicanálise, Pedagogia, Pschycology, Arqueologia Do Saber
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Pequena Arqueologia do Saber em Psicanálie David José Gonçalves T. Ramos

O tipo de dado que o estudo da psicanálise, que os textos psicanalíticos apresentam, revelam são delicadas tramas conceituais. A própria forma como a experiência clínica é apresentada depende de um conjunto de conceitos a serem comungados. Os conceitos parecem escapar, se dissolver no momento em que são fixados, dependendo de um movimento interno do cientista\psicanalista que acessa suas próprias representações inconscientes para fazer ciência. O objetivo para o estudante, para mim enquanto estudante foi organizar os conceitos desenvolvidos ao longo de um curso de especialização em Teoria Psicanalítica (UFMG) no segundo semestre de 2013, realizado no belíssimo Conservatório de música da UFMG no centro de Belo Horizonte. Foram vários professores que nos brindaram com seu extremo conhecimento, como Eduardo Gontijo, Verlaine Freitas, Fábio Belo, Cassandra França, Maria Tereza. Muito saber e muitos problemas teóricos, e na pista por ampliar meus conhecimentos percebi que deveria historicizar e transformar em um passado sólido, num feed-back funcional a partir das aulas presenciais. As dezenas de textos sugeridos e cobrados pelos professores fica fora desta pequena arqueologia, o objetivo deste pequeno artigo é apresentar um olhar-sentir das aulas, o que pode ser roubado, resgatado, agarrado do saber destes ilustres professores. Para esta organização, foi necessária uma prévia desorganização, provocada pelo fluxo das aulas, o contato com os colegas da turma, em geral analistas profissionais, e que provocou um estado de inércia ao final do curso, pela complexidade dos assuntos envolvidos. O presente texto é resultado de um esforço de organizar a trama conceitual de uma forma que responda às formas de avaliação acadêmicas, e também à imagem do aprendizado que busquei obter no curso de teoria psicanalítica. Nos dois semestres de 2013 o curso de teoria Psicanalítica me deixou a sensação constante alegria de poder aprender com grandes mestres, e ao mesmo tempo um vazio que foi o de um escapar dos conceitos! A complexidade do conjunto vivo de teorias, descrições, textos e autores parecia me escapar entre os dedos, e a sensação de esvaziar me faz pensar que o estudante também se vê diante dos dilemas e questões provocados internamente por toda a força teórica envolvida. A presente sistematização, mesmo um pouco fora dos moldes normais representa pra mim a vontade de que a trama conceitual da Psicanálise não me escape, permaneça em minha vida, íntima e profissional. Com graduação em Pedagogia e Mestrado em Filosofia, busquei a especialização em Teoria Psicanalítica da Universidade Federal de Minas Gerais com o intuito de estudar academicamente a Psicanálise, que parecia ser a ciência, a prática discursiva da ciência, a abordagem conceitual

que permeava áreas comuns de minha prática profissional pois estava presente na filosofia, na pedagogia, na antropologia, na história, nas belas artes. E busquei então estudar a Psicanálise para ter mais movimento de compreensão dessas várias áreas citadas. Resolvi registrar as aulas de uma maneira mais precisa, pois, diante de um tema tão vasto quanto a Psicanálise eu senti que precisava de referencias conceituais bem precisas pois é uma área densa. Meus primeiros contatos com a Psicanálise se deram ainda na Graduação, e no mestrado tive aulas com o professor Walter Evangelista, numa perspectiva filosófica da psicanálise. A busca do saber no espaço da sala de aula coloca o professor e o aluno em uma certa relação analítica, ou o conhecimento é uma construção independente? O final de um curso se compara, metaforicamente, ao final de uma análise? Heráclito de Éfeso se referiu a transformação constante da natureza humana quando disse sobre a ilusão do que parece imutável; um curso transforma docente e discente, e as vezes essa transformação escapa de uma sistematização, pelas outras velocidades da vida cotidiana em uma urbanidade. Com o intuito de gerar um registro mais objetivo de interessantes ideias apresentadas pelos professores do curso no segundo semestre de 2013, organizei um apequena arqueologia do saber, colhendo frase, pensamentos, silêncios, que me foram importantes para ampliar meus conhecimentos sobre a psicanálise.

Tópicos Especiais em Clínica Psicanalítica: A psicanálise da criança As aulas da Professora Cassandra me mostraram o quão complexa e delicada é a psicoterapia com crianças, e também o quão possível é uma excelência nesse trabalho quando o analista busca a criatividade, a interdisciplinaridade e cultiva a perseverança. Também localizou a importância da família no processo analítico da criança, estendendo minha visão de psicanálise para fora do consultório. Os exemplos da experiência clínica da professora foram ilustrativos dos desafios, os casos apresentados por ela, muitos difíceis, de abordagens clínicas duras e difíceis, contrastavam com a emoção e a paixão em estar ali, em estar com as crianças.

Temas Aula do dia 07/10/13 Angustia é o medo do aniquilamento; toda angustia é angustia de morte. Melanie Klein --- o psiquismo conheceu a plenitude de fato? Há angustia em nascer? As angustias do naciturno são prototípicas de todas as angustias que temos na vida? Nas situações de perda temos as impressões dessa angustia inicial (angustia castrativa) Instintos --- predeterminação do que vai satisfazer; se amalgama ao objeto. Há uma

singularidade do inatismo, um movimento em direção ao outro. A história da simbolização, da significação, na criança, entra num conflito com o objeto primordial, o seio. O grande outro, constituinte do sujeito através do olhar (o grande outro é uma multiplicidade; mãe, pai, pessoas da convivência). A fundação da subjetividade vem do grande outro. A grande mãe --- objeto fundante, fonte de experiências de gratificação. No estado de falta do ser humano ao nascer, a relação com a grande mãe é permeada de fantasias tecidas nos atos desse relacionamento. Sujeito de desejos feitos de palavras e as fantasias que acompanham os fatos que produzem as marcas psíquicas. Fundamentos teóricos que influenciam as experiências realizadas na análise: o que é mais importante na teoria deve ser mais importante na prática? Desejos implantados como enigmas Processos identificatórios; assimilação e acomodação: conteúdos já inscritos no aparelho psíquico se ligam a novas marcas. O inconsciente promove um estranho metabolismo com os restos do não-representado. A sexualidade dos pais chega até a criança e mobiliza a diferenciação necessária entre o desejo do outro e o desejo da criança. Fase do espelho; a captura do olhar. A percepção de ser um ser de desejo, para além do desejo da mãe. Lugar mortífero --- ser o desejo do desejo da mãe ... Pai --- só entra em cena se a grande mãe deixar. As crianças querem saber o que os pais fazem quando fecham as portas dos quartos. O ataque paterno, os cuidados paternos, só são sedutores porque estão opacos. Abuso sexual --- mensagem de dura tradução; o destino da tradução do abuso é o fracasso, o resíduo permanece no inconsciente. O ser humano é autoteorizante; o bebê traduz pois fora estimulado. O aporte narcísico possibilita a tradução. O enigma da morte remete o enigma da sexualidade. Quais os enigmas do sujeito ético? A sexualidade humana é precoce, mas quando começam os sentimentos de consideração pelo outro? Aula do dia 18/11/13 A criança chora! Qual lugar ocupa o mal-estar na economia psíquica da criança? Inteligência psicanalítica --- discurso contra a formação das ideias; o analista de crianças busca beber de várias fontes; analista de crianças como terapeuta sistêmico. O inconsciente da criança é parte do inconsciente dos pais (Lacan) Os fatos históricos da vida de um sujeito têm mais impacto no tempo de criança, em que o dote pulsional trabalha em meio às mensagens enigmáticas das situações do par parental. Atravessamento do inconsciente dos pais e avós; destino da trama psíquica da criança.

Clínica com Crianças --- limiar de frustrações, voracidade da criança, narrativa dos pais, (…) a clínica com crianças demanda entrevistas com os pais, pois há uma historicidade que precisa ser valorizada. Há dados que só aparecem após muitas conversas com os pais. “(...) se parte de onde?”. A aliança com os pais que são envolvidos no tratamento (conflito pais x analistas). É importante colocar os pais dentro do tratamento e levar a criança a fazer perguntas aos pais. Interjogo --- técnica de análise de grupo. O analista observa o interjogo familiar, os conflitos e as respostas à perguntas como “(...) porque eu tive de nascer filho teu?” Psiquismo dos objetos --- ninguém e nenhum objeto aceita ser trocado pelo outro. Adolescente --- imprevistos velozes. Adolescente busca tirar o analista do lugar; quando fala a um adulto que vai fazer algo, já fez parte desse algo, ... A criança e o humor, a criança e o senso de humor, a criança e as variações de humor, a criança com tumor, a criança e o rumor, a criança com amor. No nível de constituição da psique infantil há a dificuldade de pensar a alteridade. A repetição como pista para encontrar uma história. A compulsão-repetição não é só uma inimiga do processo de análise, mas é também uma pista para o que fazer na história da análise. Na análise da criança há repetição, interrupção do fluxo analítico, constante e inconstante. Trauma --- traumatismos, trauma, aquilo que está acima do aparelho psíquico suportar. O traumatismo lança um enigma insuportável, e certos conteúdos traumáticos ficam encapsulados, não representados. Segunda tópica --- o modelo do princípio do prazer é questionado. O que é o trauma dentro do princípio do prazer? O abusador sexual impõem um pacto de segredo, distinto do conteúdo mnêmico e por isso sendo reprimido enquanto povoa o abusado. O conteúdo reprimido vem do préconsciente. No movimento transferencial há formas de auxiliar o segredo do abuso. O analista ao entrar para conhecer o fenômeno ele já interfere no fenômeno. A sexualidade é endógena, ela brota da criança. Casos de Mães que deixam os filhos com os homens que abusam delas. Para onde foi a lembrança do trauma mnêmico? Apenas com novas representações o traço mnêmico chega à consciência? Há casos de mães que deixam os filhos com o abusador delas próprias mas a mãe não se lembra do que aconteceu com ela, houve um apagamento da memória. Lembranças que podem ficar encapsuladas para que o aparelho psíquico funcione podem permanecer no inconsciente ligadas às pulsões, e um fragmento, por causa de um fato, um toque, um evento podem trazer à consciência seus rastros. Que tipo de material psíquico é produzido por bebês em suas experiências sensoriais

intensas? Mãe neutra e mãe morta Grande parte do que o indivíduo sabe sobre si mesmo vem do exterior. E cada um de nós lida com as contingências de uma maneira. O mundo interior de cada um vai reagir à realidade externa de maneira singular. A intensidade traumática vai ser marcada pela singularidade do mundo de cada um. A psicanálise trabalha com o mundo interno. Há a possibilidade de uma neogênese A criança tem dificuldade de associar plenamente. A criança se prende aos ditames familiares. Uma criança não tem condições de entender, mas algumas mães não têm condição de ser mães. A clínica pode oferecer determinadas experiências que vão ajudar a criança a elaborar novos modelos de relação. A intervenção analítica é um processo de neogênese. Do falso self para o verdadeiro self; um complexo de representações se ligavam à um conjunto encapsulado de frustrações, representações fragmentadas e falhas. E os excessos de descargas energéticas que precisam ser simbolizados? Reverie --- material desorganizado que deve ser devolvido metabolizado para o bebê. Fio condutor entre os temas da experiência de vida da pessoa. Na análise o terapeuta recebe o material destrutivo e o transforma num pensamento que possa ser pensado. A qualidade afetiva do ambiente terapêutico. O trabalho do analista é buscar a qualidade emocional. Contra-transferência --- empatia, capacidade de compreender a problemática do ponto de vista do outro. Na contra-transferência há uma mistura de conteúdos do analisando e do analista. Há um retorno da emoção do analista ao paciente? O que os conteúdos do paciente vão despertar no analista? Para ter qualidade de escuta é preciso ter empatia, para entrar em comunicação. Não é possível tentar entender o outro sem empatia. Na devolução ao paciente (das interpretações?) aparece a marca conceitual. (holding x reverie (!)). o analista deixa para o cliente a impressão de que está disponível. Impulso epistemofílico Inconsciente --- conflitos inter-sistêmicos Narcisismo da criança; não aceita que havia vida antes da mesma. Na clínica há a busca de esvaziar a certeza da onipresença da criança. Construção do cliente e interpretação do analista Intervenção --- nem sempre é interpretativa; pode vir como um convite ao paciente incentivando-o a acentuar melhor o significante, a falar mais sobre o significante, produzir mais a partir daquilo que foi dito, aproximar o que é dito do que é pensado. O analista não deve contar sua história ao cliente, mas sim recolocar em jogo as mensagens da infância trazidas pelo paciente. Resolver, analisar, dissolver.

Transferência --- situação de posição de guarda do enigma (vazio do enigma) pelo analista, e de colocação do analista no lugar do afeto, por parte do analisado (?!) --- na manutenção do enigma; não responder! Indagar o que o paciente estava pensando na hora da pergunta. Intuição ou proposta teórica para lidar com o retorno do recalcado? Aula do dia 25/03/14 A psicanálise da criança existe sob a articulação de três sujeitos, forças humanas, o analista, a família e a criança. Essa prática depende do momento da criança; a criança que está de acordo reage diferente da criança que não está de acordo com a terapia. O contrato terapêutico estabelece um engate com a criança, e ele prossegue mesmo independente do pagamento por um tempo, de acordo com a situação econômica da família. A situação de análise da criança é um preparo para ruptura com os pais; ao final da análise a criança aprende a se despedir. Amnésia --- é uma etapa do fechamento do inconsciente, um conflito das fantasias em torno do princípio do prazer e o princípio da realidade, esquecimento de experiências dolorosas. Em geral dois anos é o período de tempo da análise com crianças. Há casos de início da terapia aos 6 anos de idade. Conflitos do complexo de castração. Período de latência --- o trabalho do analista nesta fase é árduo, pois muitas problematizações

ficam

suspensas,

postergamento

dos

conflitos

da

infância.

Demarcação do período de pouca produtividade da criança. Conflitos na infância; o traumatismo na clínica com crianças; a análise sofre pressão de uma dupla transferência; junto à criança, e junto aos pais, de onde surgem expectativas. Os medos na infância podem ser sintomas da angustia de castração, medos como da morte, da irreverência da mãe, identificações projetivas. Supervisão --- a análise da criança possui uma supervisão necessária. O fogo como representante simbólico da sedução. Ao perceber o final da transferência com os pais, o analista deve apresentar retrospectiva do tratamento. A família não se lembra mais como a criança estava antes da terapia (análise). Há aquilo que é apagado. A ruptura da transferência do analista com os pais incide sobre a transferência do paciente com o analista. Para apresentar aos pais provas concretas; os argumentos vêm da observação da dinâmica da criança com o analista. O ambiente analítico também é revelador aos pais do processos da criança; as relações entre as crianças e pais durante a espera no consultório em horários de seções vizinhas. Crianças desorganizadas --- precisam de mais seções e trabalhos até aparecer a demanda, que aparece quando há intensificação das consultas, pode ser produtivo em consultas geminadas. Há casos que demandam duas seções no mesmo dia.

Crianças com angustia de castração não costumam usar apontador. Há um medo de ser cortado. Aula do dia 02/12/13 Qual é o objeto da clínica com crianças? A constituição psíquica, o tempo da infância, ... A insuficiência do conceito de consciência. O inconsciente só é cognoscível pelas atividades. Condições da clínica; problemática da existência real do inconsciente. O inconsciente é um fragmento do discurso (Lacan) Inconsciente como existência ou inconsciente como resultado? Existe afeto no inconsciente? Nas situações de violência sexual contra crianças há o segredo imposto; o abusador promete contar que foi a criança que quis. No imaginário da criança ela crê que foi ela quem desejou a cena do abuso. Esses eventos traumáticos podem ficar encapsulados. Mães de crianças abusadas passam a se lembrar de cenas de abuso. A violência sexual exerce um excesso de estimulação no aparelho psíquico. Nas transferências pode ser reeditadas as chantagens recebidas durante o abuso, e as resoluções dos traços de identificação com o agressor. Busca de referências para saber se a materialidade do que a criança fala corresponde à realidade. “se conhece alguém depois de comer um quilo de sal em conjunto” Há casos em que não há abuso, mas fantasmas. A fundação das tópicas atravessa a infância; os graus de formação psíquica da criança. Conversando com a criança na análise, pode-se perceber como o aparelho psíquico se encontra constituído. Há crianças sem elementos para o recalcamento dos impulsos. Na análise com a criança deve haver muitos encontros com os pais. A análise é paga e é necessário a investigação das esferas éticas dos pais. O adulto auxilia a criança a se conter. O aparelho psíquico do analista se defende dos excessos do analisado. Deflexão

---

atitude

de

jogar

para

fora

maciçamente

a

pulsão

de

morte

desorganizadamente.

Tópicos Especiais em História das Ideias Psicanalíticas: A teoria de Jean Laplanche As aulas da professora Maria Teresa me mostraram que a teoria psicanalítica está em constante evolução e sua relação com a clínica é fundamental. O movimento de ampliação e eficiencia dos

conceitos psicanalíticos tem em Jean Laplanche um teórico entusiasmado que na leitura da obra de Freud apresenta desdobramentos para situações contenmporâneas. A forma que a professora descreveu os debates internos entre os psicanalistas importantes deixou viva as paixões envolvidas na construção desses saberes. Ao mesmo tempo, o conjunto de .conceitos envolvidos na psicanálise cresceu em volume me mostrando o quão é complicado para estudantes que estão fora da experiência clínica alcançar uma visão de conjunto, demandando um constante estudo e leitura.

Aula do dia 03/10/13 Narcisismo e Autoerotismo --- no início do indivíduo não há uma unidade como um “eu”. O aporte sexual do outro sobre o bebê provoca grande estimulação. O afastamento temporário do outro possibilita o amor por si? O autoerotismo e o narcisismo têm uma relação com o amor objetal. A partir da invasão do adulto se inicia nova ação psíquica. Tempo de constituição do psiquismo. Há inconsciente operando no psiquismo? Narcisismo --- possibilidade da criança se pensar como uma totalidade; realizar um registro egoico, no momento de uma sexualidade dispersa, polimorfa e perversa. Narcisismo perscrutação de uma imagem especular que possibilita a identificação. Há casos de psicoses no início da adolescência Psicótico --- não localiza a energia na vida fantasmática. todo investimento é feito no eu, um “eu” inflado, a libido começa a tentar fechar as portas do eu. Sintoma histérico --- momento crítico de um retorno da libido à fantasia. Simbolismo do sintoma. Ideias fragmentadas da pessoa; pessoas que ganham força pulsional e se separam das representações que o sujeito tem de si (e por isso tem de ser mandado para o inconsciente). Conflito com as representações que fazem parte do eu. A libido tem que se ligar às representações para escoar. Se não escoar ela retorna em pensamentos repetitivos, que nos casos da neurose se tornam experiências cotidianas, com sofrimento. O objetivo do aparelho psíquico é a HOMEOSTASE, o equilíbrio em lidar com o escoamento. Despersonalização Narcisismo originário (narcisismo primário), ideal narcísico reflexo ou projeção dinâmica dos pais; amor parental; os pais amam nas crianças a si mesmos. O sono e o sonho como recolhimentos narcísicos desde a origem, neles todo objeto é objeto eu. Como reconhecer no outro alguém a ser amado? Complexo de castração é uma conservação infantil das feridas. O ideal do eu x as representações insuportáveis.

Ideais parentais x ideais do grupo (a ilusão de ser amado pelo outro) Os pais, junto com os cuidados com a criança passam sua sexualidade, vinculam sem saber algo da própria sexualidade e isso excita a criança. Sintomatologia das doenças paranóicas; delírio de estar sendo notado e observado; peso das regras na sua consciência moral. Não sobra energia para investir em mais nada a não ser na própria fantasia. … o instinto é parasitado pelo sexual... A mãe é um ambiente de tradução na construção do psiquismo. Aula do dia 10/10/13 Gestos que fundam a psicanálise, ou “uma” psicanálise; há nesta ciência uma crítica incessante dos conceitos fundamentais. Abordagem do método de Laplanche para ler Freud; não buscar coerência, fazer trabalhar a obra freudiana, escutar o texto como se escuta um cliente. 1920 Freud lança além do princípio do prazer, afetado pela morte da filha sophie e pela guerra. Na época de Freud ainda era considerada normal a prática da foto de pessoas mortas, fotos pos-mortem. Progressão do conhecimento da Psicanálise --- a repercussão da prática da psicanálise leva o analista a se voltar para os fundamentos, e é o imperativo categórico da prática, uma exigência a dinâmica entre o fundamento e a prática. O sujeito dos conceitos foi se dando aos poucos (!?), na pesquisa em torno do conceito de pulsão. O tempo para a metapsicologia --- para que serve a metapsicologia? Qual o local da metapsicologia na clínica? Muitas metáforas de Freud não cabem mais. Há uma tensão no uso da linguagem da clínica para escrever a teoria. A clínica é o locus da vida nova, mesmo não tendo sentido tão aparente. Sujeitos pós-conceito, antropomorfismo da psique, pessoa dentro da pessoa. Relação entre o processo primário e a pulsão de morte (Laplanche) Quatro lugares da experiência psicanalítica: --- movimento de contato com o objeto como fundamento para a experiência analítica. A experiência psicanalítica pode ser localizada? --- há um lugar privilegiado da experiência analítica (o ato de escuta); a clínica. --- a psicanalise se dirige para o extra muros, se estende para os domínios fora da clínica. --- teoria como experiências --- história como experiência Teorização e engajamento do pesquisador; o exemplo é o Projeto de Freud, de 1895, uma abordagem biológica, filológica, mecânica e linguística. Mas no início dialogava

com certas autonomias paracientíficas. A fisiologia infantil; natureza química da libido. Mais tarde a dimensão biológica aparece como modelo e não como fundamentos, pois o biológico não possui a gênese do psiquismo humano. Processo de recalcamento --- o id é o que foi recalcado, sendo o resultante de um processo de recalcamento. A civilização exige a renuncia das pulsões. As pulsões são dados da cultura? Segundo Freud a experiência analítica estava mostrando que o comportamento mais adequado ao médico que conduzia a análise era a entregar-se com atenção uniformemente flutuante, à sua própria atividade mental inconsciente, evitar ao máximo a reflexão e a forma das expectativas conscientes. Apreender o inconsciente do paciente com o próprio inconsciente. O adulto excita o bebê e depois nega a satisfação do impulso da criança em relação a ele. Neurose de guerra --- sintomas que se iniciam a partir de traumas de guerra e podem ser sexuais. Angustia --- dois sentidos da angustia; como medo que se refere, medo interior, e também como extravasamento, invasão contra a qual o ego não consegue linkar à representações prazerosas. Síndrome do pânico … “eu sinto a dor no meu corpo, não estou mentindo sobre isso”. A síndrome do pânico imita sinais do infarto. É possível tratar na dimensão física, substituindo trabalho pelo remédio; psiquiatria biológica; naquele momento a pessoa precisa daquela doença. Para Jean Laplanche o biológico é um modelo, uma esperança e um fundamento. O corpo é o modelo para a constituição do psiquismo, pois o corpo é um lugar duplo, possui um dentro e um fora. O eu surge como a imagem de um corpo. A palavra “corpo” gera o verbo incorporar, comer, colocar para dentro um objeto externo. O biológico e o psiquismo andam juntos, o corpo já está muito habitado pela pulsão. A visão de conjunto sobre as psicoses de defesa até as patologias possuem uma história social. Para Laplanche o sexual é uma função de apoio às demais pulsões de sobrevivência. Pulsão e instinto --- Freud fala de fantasias filogênicas, herdadas, instintos animais (um certo lamarckismo em Freud). As fantasias filogenéticas são herdadas de memórias de representações, o que veio com a inscrição genética. Podemos produzir essas fantasias pois estão inscritas; sedução, castração, cena primária, ao seio materno. Darwin também foi mencionado por suas teses sobre as variações aleatórias e as mutações transmissíveis! Fantasias filogênicas também são fantasias iniciais do bebê sobre sua origem. O que é filogenético é transmitido como um modelo. Sem nunca ter visto a relação sexual de dois adultos podemos imaginar tal inscrição pelos elementos lógicos

disponíveis. O instinto é parasitado pelo sexual A mãe é uma assistente de tradução na constituição do psiquismo. Aula do dia 17/10/13 O inconsciente não conhece negação. Prescrutar o inconsciente é uma descoberta fundamental da psicanálise. A situação de sedução diante do adulto passa a fazer parte das fantasias originais. Fantasia de castração --- acontece após o recalque; encanto com as diferenças anatômicas na infância. A negação (negatividade (?!)) é um efeito da castração; o simbolo da negação já é determinado no recalcamento, as fantasias surgem a partir deste ponto, para a vivência dos conteúdos contraditórios. A castração é a organizadora do psiquismo infantil. Inconsciente --- esta no mais profundo do ser humano sem ter estado no início. O inconsciente é o domínio dos restos da linguagem. A linguagem e o linguajar do adulto é uma incógnita. O que invade a criança é opaco e inconsciente para o próprio adulto. A libido tem que se ligar às representações para escoar. Se não escoar ela retorna em pensamentos repetitivos, que nos casos da neurose se tornam experiências cotidianas, com sofrimento. O objeto do aparelho psíquico é homeostase, o equilíbrio em lidar com o escoamento. Despersonalização Narcisismo originário, ou narcisismo primário --- ideal narcísico é reflexo ou projeção das dinâmicas dos pais; os pais amam nas crianças a si mesmos. Tentativas de organização do eu consciente é um domínio do recalcamento secundário. Estado anobjetal Psicanálise como pesquisa sobre a origem do psiquismo, do descobrimento próprio e dos movimentos mentais. Essa origem não está situada cronologicamente, as fases da libido persistem pelo resto da vida. A origem do psiquismo humano não é mítica, mas um fato na história da fundação do inconsciente. … o atual do movimento originário... Analista --- psicanalista como guardião do enigma. Não sabe qual é o bem para o paciente. A situação de análise atualiza os enigmas do passado, o paciente atualiza com o analista o enigma. Psicose --- fracasso na constituição do eu, falha na implementação da metáfora paterna, complicação do édipo. Domínio maior no psiquismo de mensagens nãotraduzíveis. Sedução generalizada --- há uma realidade da sedução, e há a solução do atentado sexual onde o não factual funda o fato (Laplanche) Situação originária é antropológica; o que há de mais universal na relação original da

criança. A assimetria em relação do adulto com a criança é antropocêntrica; o adulto tem um inconsciente evoluído e o expõe à criança. Confronto da criança com o mundo do adulto, assimetria com relação ao mundo adulto. O bebê psicanalítico: desadaptado, prematuro, precoce, vive no meio adulto entre inimigos que não podem identificar (teoria da sedução generalizada) Carta 52 de Freud A análise como um processo que não tem fim. Há muita resistência e repetição. Há momentos tensos entre a terapia e o cliente, e há reações terapêuticas negativas. O trabalho do analista é interpretar a transferência. Teoria da sedução generalizada; Laplanche (1964-1967) Eixo da factualidade --- ação e atividade sobre o outro, sedução infantil, cenas da experiência sexual prematura, sedução precoce e sedução originária. Holding --- laços de relação da mãe com a criança; sedução (Laplanche) e contenção (Winnicott). Aula do dia 24/10/13 Situação antropológica fundamental --- na teoria cognitivo-comportamental é a constituição psíquica. Há teorias de constituição psíquica do consciente e inconsciente. A criança perante o adulto, o adulto perante a criança. Originário --- o adulto informa a criança a respeito do que é original (arquê). O originário pode ser um comportamento inato? Alessandra Piotelli --- estudos sobre o psiquismo do feto, ultrassonografia e observações pós-parto, funcionamento psíquico intrauterino, percepções do outro e de si. Teorias do arquê x teorias da gênese --- certos aspectos do desenvolvimento genético não tem relação com acontecimentos de origem, com circunstâncias da concepção. O que é propriamente o psiquismo? Como se dá a constituição do psiquismo? Algo dos genes assegura a vida psíquica do feto desde o útero. As projeções da mãe grávida, diferença entre o que vem da mãe e o que vem do bebê. As buscas dos conceitos que descrevem as evidências do psiquismo uterino. Há fenômenos mentais inerentes à existência do feto (percepção e reação a estímulos). Há uma ontologia da estrutura cerebral que determine uma autorreferência previa? Registros mnêmicos --- memória dos registros depende da capacidade de autorreferência? Esta memória esta no sujeito, seriam traços de personalidade inatos? Imitação precoce --- iniciativas que atribuímos ao bebê, como sorriso. A criança que ri para o adulto pode ser um movimento involuntário. Experiência com bebês de poucas horas não revela sempre ações voluntárias. O comportamento do bebê pode ser um desdobramento da ação dos neurônios espelhos no nível biológico? Como se forma no pensamento aquilo que é independente da vontade?

Há diferença entre memória

fisiológica e marca psíquica, e há um caminho que vai do registro corporal em direção à experiência subjetiva. Realismo do inconsciente e constituição psíquica --- como são os movimentos inaugurais do psiquismo? Para Lacan o psiquismo tem origem em estruturas preexistentes; a criança já nasce imersa num contexto da linguagem, e a linguagem preexiste ao sujeito. Melanie Klein --- o inconsciente está presente desde o início, são mensagens filogenéticas carregadas e disponíveis como herança ao bebê, assegurando o funcionamento psíquico. (Lacan e Bleichmar) quais os momentos reais de estruturação do sujeito psíquico? Predisposição do bebê em interagir com o objeto. O espaço está repleto de objetos comprometidos com a sexualidade infantil dos adultos. Autismo --- deficit cognitivo que impede a sexualidade do adulto invadir. O sexual surge como fantasia masoquista e autoerótica. A fantasia autoerótica é uma primeira tradução da invasão sedutora originária. Pulsão sexual de morte --- sexualidade que não se refere à vida, proximidade com o mortífero. Quais as funções do outro junto ao “eu” fragmentado? São as razões da análise. Quais s condições humanas iniciais? Trauma --- intrusão, passividade, …, que ficam como traumáticas, quebradas. Experiências sem 'sujeito' adquirem uma existência traumática possibilitando e exigindo uma solução. Instância de auto-representação da criança --- o eu é uma instância fálica, e uma tensão permanente se instala entre a memória da invasão e a realidade. O bebê está predisposto para achar algo em algum lugar sem saber o que é. A mãe coloca o seio no lugar certo onde o bebê pode criá-lo, uma criatividade decisiva para o bebê. O bebê possui capacidades inatas de criar ilusões; introjeção e projeção; incorporação vs excreção. Ipsocentrismo e condição alternativas do psiquismo --- adulto com inconsciente diante de uma criança; a criança é desprovida de condições de lidar com o outro. Antropologia sexual de Laplanche --- crítica ao narcisismo e autoerotismo --- instinto e pulsão --- teoria do apoio e relação com sedução generalizada Relação do narcisismo e autoerotismo --- o eu é formado no recalque, o eu não é dado, é constituído por uma ação psíquica. O objeto sedutor,que inocula a sexualidade sem saber que está inoculando. O que unifica o corpo é o Holding, que são os eventos da paciência, atenção e acolhimento de um ser humano. Casos de esquizofrenia

catatônica como estados do corpo despedaçado em que cada estímulo é captado como dissociativo. Recalque original --- para que haja trauma é necessário uma situação de passividade. Eu --- instância precária que lida com a frustração. Tudo que é egoico é fálico? O eu é uma instância de unificação, existindo em um espaço de dominação, combate para resolver as instâncias pulsionais. Os ataques pulsionais dos elementos traumáticos resultados da invasão sexual são inflados internamente; atacantes internos Sexualização da fantasia --- emoção pelo outro que deixa de ser impessoal. Recalque secundário --- vários recalcamentos vão acontecendo, circunstâncias do ambiente e circunstâncias do corpo. O recalque secundário é um processo de simbolização permanente. Antropologia sexual --- a descoberta anatômica do sexo é um processo filogênico? Nas culturas a necessidade de elaboração dessa descoberta é universal em todos os infantes. O masoquismo originário é uma expressão do início da sexualidade. Há estados mentais (num repertório de estados mentais) acessíveis por introspecção e disponíveis em formas inatas? O bebê reconhece estados mentais dos outros ou os seus próprios? Daniel Stern, Humberto Maturana, Antônio Damásio, Daniel Dennet O sistema nervoso de alguém é captado pelo sistema nervoso do outro (neurônios espelhos). Há uma produção de formas de estar com o outro, na interação funcional; o cérebro aprendiz imita o funcionamento do cérebro especular. Os modelos de mente que as várias culturas fornecem aos indivíduos também são capturados pelo sistema nervoso do outro, e essas estratégias oferecem sucesso adaptativo. O self do bebê é um regulador, um self nuclear. O psiquismo se constrói de dentro pra fora. A psicanalise como uma reflexão sobre a pessoa do outro no psiquismo. Interacionistas --- o self tem uma disposição inata à percepções de estímulos externos, circuitos neurais preestabelecidos, um self invisível. O bebê é capaz de diferenciar suas reações das reações de um adulto? Há uma criatividade primária? A qualidade dessa primeira experiência entre a criança e o mundo marca todo o desenvolvimento posterior. A primeira mamada estabelece uma lógica do estado de coisas, na primeira mamada o bebê está pronto para criar o seio. A fantasia é marcada pela passividade e vai se acoplando ao objeto de satisfação perdido. A sexualidade originária é marcada pela passividade. A sedução do adulto é a verdade do apoio. A mensagem do outro contamina os instintos autoconservativos (Laplanche). O que harmoniza o bebê é a inoculação da sexualidade do adulto. Há um conflito entre a autoconservação (adaptativa) x convivência sexual. O objeto intenso da infância é a mensagem do outro.

Aula do dia 14/11/13 Primazia da alteridade --- o ser humano diante do outro (situação antropológica fundamental); não existe essência humana, o que existe é a relação entre adulto e criança. Diferença dos mecanismos da neurose e psicose --- congressos psicanalíticos de análise das psicoses, apanhado das teorias psicanalíticas sobre a psicose. Duas visões de explicação da psicose, dois defits citados por Laplanche na comunicação de 1972. tese de doutorado de Laplanche (1959) “Holdërlin e a questão do Pai”. Mensagens inconscientes não facilmente metabolizadas, não facilmente traduzíveis. O recalcamento é um certo fracasso da tradução, e há mensagens impossíveis de serem traduzidas. Difícil saber como a criança metaboliza o enigma que os adultos apresentam. Laplanche (não-genética do eu) x Malenie Klein (genética do eu) Significante enigmático --- mensagem polissêmica, uma mensagem que inclui um campo das dimensões da mensagem e é difícil de prever quais serão os enigmas para a criança. “o que quer de mim a mensagem de meu pai”. Mãe psicótica --- dando ao bebê mensagens paradoxais. O conjunto de cenas que faz o enigma, o que faz o enigma é sempre sexual, uma desmesura dos pais. Os pais passam o enigma, inoculam a sexualidade, e são também os pais que fazem a contenção inicial. Conceitos de implantação e intromissão. Os processos de originamento vem do outro (sedução), a implantação e intromissão vem do outro. Derme psicológica do sujeito, primeiras tentativas de tradução no processo cotidiano dos relacionamentos, o volume do corpo, a superfície do corpo! Abuso sexual --- intromissão; não faz enigma; não da espaço para a tradução. A psicose e a neurose podem ser pensadas a partir da intromissão (super-eu) e da implantação (simbolização). A intromissão impede possibilidades de simbolização. Especificidade da mensagem --- a mensagem vem composta de seu próprio código de tradução. O movimento de recalque é uma metabolização, uma tradução que deixa restos. As mensagens podem chegar ao consciente ou ao inconsciente; há uma proporcionalidade de experiências sociais. As mensagens podem ficar à deriva na tópica. Os vários sentidos da palavra inconsciente Fracasso para traduzir x fracasso na tradução. Como entender uma mensagem que não é passível de tradução? O afeto pode fazer enigma, uma consciência do resto da cena... Sexualidade tirânica Homofobia pode ser uma defesa diante de algo desestabilizador. A diferença entre o supereu (“não pode”) x ideal do eu (“não pode assim, mas pode assado”)

A flexibilização está associada à passividade? Alucinações auditivas masculinas (dificuldade com a passividade), alucinações auditivas femininas (excesso de passividade) Mensagem de duplo vínculo --- relações com uma pessoa extremamente dependente, injunções negativas constantes. Criança --- representações, mitos, ideias, fantasmas... margens de liberdade para formar representação da significação. Tradução parcial, cria uma versão provada de si. Qual o tamanho da liberdade que uma criança tem para formar uma cópia de si? Forclusão --- rejeição das representações insuportáveis. Significação fálica? Falo --- fundador do simbólico, funda uma cadeia simbólica que evita a sinonimização eterna, é o significante do significante. Situação antropológica inicial do corpo adulto diante do corpo da criança. Como a significação fálica interfere na integração do psiquismo? Derrida --- falocentrismo, nous e logos, razão do traço nunca elucidado. O que funda a si mesmo? Ou nada funda a si mesmo? E as experiências fora do campo da teoria? Passagem ao ato na neurose --- existe alguma ordenação do mundo que pode ser analisada. Manifestação psicótica --- alucinações ficam como forma organizadora de um impulso que prefere não acessar a passividade, é uma defesa contra um ataque pulsional Aula do dia 21/11/13 Dualismo pulsional no texto de Freud (1914) à guisa de introdução ao narcisismo. Duas fontes de libido direcionam para o eu e, para o objeto. O eu começa a ser objeto de investimento pulsional. O eu uma vez instalado passa a ser reservatório. Teoricamente há também uma disfunção na pulsão; pulsões sexuais e pulsões de autoconservação. Amar um objeto pode enriquecer o eu. Um forte egoísmo nos impede de adoecer, mas o investimento amoroso no outro também traz saúde. Psicose --- perda do objeto e auto-investimento no eu. A megalomania, por exemplo. A partir do trabalho psicanalítico de Jung (1915) surge a descrição de uma energia psíquica única, sexual e autoconservativa, ora investida nos objetos, ora investida no eu. Contra Jung Freud responde diferente à totalidade do sexual. Se tudo é sexual, então o sexual é descaracterizado? O sexual não pode ser o todo, que força se contraporia a ele? Além do princípio do prazer (1920) --- defesa de um segundo tipo de dualismo; a pulsão de vida vs a pulsão de morte. Pulsão de morte é um impulso a morte? Pulsão é um instinto? Pulsão é uma necessidade? Pulsão de morte --- se refere à morte do próprio indivíduo, do próprio organismo (não é destruir o outro, mas é se auto-destruir. A morte é a evacuação da energia psíquica. A

pulsão de morte também é o princípio do zero, do nirvana, o retorno à ausência pela via mais curta, sem desvios ou caminhos alternativos para o fluxo da energia psíquica. O nirvana acontece ao corpo ou ao psiquismo? Pulsão de morte também se refere à compulsão e repetição, volta ao mesmo lugar. Exemplo é a análise de obsessivos mortíferos. Pulsão de vida --- o prazer é demoníaco? A sexualidade inicia sua trajetória histórica como sujeito humano na tentativa de satisfação mais curta, mas o viver é uma tensão que flexibiliza a sexualidade e o eu pode conduzir a satisfação que realiza a vida, os relacionamentos a autoconservação. A sexualidade em Freud é descoberta importante; a descrição da sexualidade infantil como perversa e polimorfa (Laplanche). Neurose de destino é uma característica de pessoas que buscam com ansiedade situações que lhes dão prazer. O problema econômico do masoquismo (1920) Indivíduos procuram a clínica sofrendo a repetição de situações psíquicas penosas. A vida social com os outros revela que os seres humanos provocam situações desconfortantes. O mundo também opera repetições e retornos (Nietzsche), para além das repetições que o indivíduo se impõe através das neuroses. Eu --- representação de si como totalidade. As crianças são passiveis diante das representações de seu eu; o eu constituído vai colocar limite aos ataques internos da sexualidade. Uma totalidade que consegue deixar de fora algumas representações. Instâncias defensivas --- defesas do eu, o recalcamento operando (traços mnêmicos operando). A Criança recebe invasão, excitação. Alguns não tem defesas contra formas de poder, respostas que demandam autoestimulação para tentar respostas psíquicas. Responsabilização e resposta A invasão é invasão sobre o controle da libido que o sujeito está estruturando. A mensagem (invasão) está está presa a um sentido (“porque ele fez isso?”) Traumatismo de guerra --- um tipo devastador. Freud acompanha traumatismos em soldados durante a primeira grande guerra na Europa e teve a morte de sua filha como elementos para descrever a pulsão de morte. Como dar outro sentido para uma coisa que pode ser dita e pode se refeita? Que eventos são metabolizáveis? (recompor, decompor, compor) O cara que perfurava o braço da namorada via a namorada como um braço, não como uma totalidade, não via como objeto de amor, via como objeto parcial de uma excitação que o dominava. Pulsão de morte --- como repetição polimorfa; a morte da pulsão de morte é a morte do eu. A pulsão de morte é o fechamento narcísico? --- Laplanche faz uma crítica aos recursos de Freud para explicar a pulsão de morte. Fechamento narcísico --- o eu rígido que não suporta nada além do que representou. Clara Thompson “a evolução da psicanálise”

Morte psíquica do eu (há alguma liberdade em se viver?). Destruição do eu, um eu que não se reestaabelece depois da invasão. Uma pressão sexual não ligada. A evitação das tarefas conciliatórias do eu por causa da rigidêz narcísica. Feridas abertas pelas quais a libido escorre. Melancolia (morte por causa da ferida aberta no eu (um objeto perdido?)). Energia ligada (pulsão sexual) e energia desligada (pulsão sexual de morte). A energia ligada vem de uma neregia livre. A pulsão é uma coisa só, o que se descreve são duas dimensões diedricas de um fluxo total. O paciente pode ser uma construção fechada que o analista que o analista vai ajudar a desconstruir. O analista passa a ser um continente e um suporte para auxiliar o paciente. Pulsão de morte ( o mais profundo do sol) --- o recalcamento original faz surgir a pulsão de morte. A criança recebe a mensagem sexual do outro. Quando é possível traduzir (enigma) algo é traduzível e o que sobra vira inconsciente (id). No recalcamento nasce a pulsão. Mensagens não traduzídas são fonte de pulsão de morte. Há uma diferença entre o inconsciente recalcado e o inconsciente travado. Analista --- funciona como um assistente de tradução. Auxilia traduzindo o retorno do recalcado. E o analista diante das demandas? O analista figura como guardião do enigma. Pulsão de morte --- ataque interno por objetos estimulantes e perigosos. Como se dão os processos de introjeçãomprimária? E quando o paciente não realiza associações livres? Os objetos parciais são os objetos de pulsão sexual de morte, resto de objetos. A pulsão sexual de vida visa a completude, a totalidade. Mãe --- sedutora, responsável pela introdução de uma mensagem enigmática que deixa restos, pode representar o total (seio bom) ou o parcial (seio ruim). Termino da análise --- o processo de teorização é infinito. O ser não para de se teorizar e de se auto-traduzir. Uma análise passa pelo mesmo ponto várias vezes.

Tópicos Especiais em Psicanálise na Cultura As aulas do professor Fábio Belo foram instigantes e profundas. Suas perguntas filosóficas abriram as respostas possíveis e levavam a novas indagações. Mostraram-me os conflitos internos no interior da clínica, e ao mesmo tempo os exercícios de poder do analista na cultura. Três temas foram mais fortes para mim durante este curso; o ato de escuta, as tensões da transferência (o poder do analista) e as descrições do final de análise. As referências constantes a Foucault e a Winnicott foram interessantes e ampliaram as questões filosóficas referentes ao trabalho do analista.

Aula do dia 10/09/13 O desejo nascente como um desejo inconvenente; os irmãos insepultos de Antígona! A dobra perversa; estuprar o estuprador. A inconveniência do desejo. Na situação da análise: qual o problema do caminho do meio (entre reprimir e aprovar)? O caminho do meio: não total responsabilidade do analista, não total responsabildiade do paciente. Apoquentadoramente Terapeuta como uma vitrine sacrificial, as vezes levado pelo analisado a um silêncio pesado, rompido pelo gemindo de alguém a sofrer. Experiência corporal unificada, experiência do self unificado --- “permaneço idêntico a mim por um tempo”. O outro pode participar da unificação. Há diferença entre nãointegração e des-integração. Teses de Winnicott sobre o medo do colapso, medo da desintegração, de se partir em pedaços e perder o limite de si mesmo. Psicose --- investimentos que apontam uma constituição precária, insuficiência de caminhos nosológicos (Lacan e o estágio do espelho). Há momentos psiquicos como o sonho, o gozo, a brincadeira que nos remetem ao processo primário (um momento anterior não integrado). O que acontece com 45% de mães brasileiras que são mães sozinhas, que vão cuidar de seus filhos sozinha. Pulsão de morte --- “forçar o meio a me reconhecer”, produzir fronteiras, produzir uma tópica, encontrar um obstáculo para a construção do eu. (os objetos não-eu ressuscitam a agressão). Na realidade da subjetividade essa força constói fronteiras, numa oposição construtiva. Quando há reciprocidade das forças subjetivas desde o início há dignidade, há a preservação do self. Qual a função da pulsão de morte na teoria de Winnicott? Responsabilidade e resposta (Laplanche) --- dois extremos; o bebê-lobo (voracidade) e o bebê desamparado (carência). A análise abriga situações de maternagem suficientemente boas, solicitando ao paciente afir de maneira nova. Para o Winnicott a análise realisa um processo que o indivíduo já começou, um processo que está me situação precária. Criatividade para os gestos espontâneos do bebê, acontece no tempo certo na oportunidade apropriada. O momento do início da infância são adequações do bebê diante do meio. Aos olhos do adulto pode parecer uma vida subjetiva. A clínica --- o analista parece ser forte e paciente com as agressões até que o analisado veja que o “objeto” analista não se dissolve diante da violência. Sexualidade e relações de poder. A psicanálise nos circulos de poder vienense; um regime de desculpas que abre espaço para a individualidade. Psicanálise; de 1895-1905; movimento de buscar conceituar os fatos observados na

clínica. O “analista” era uma aposta conceitual. As questões iniciais do analista: --- fazer uma boa negociação --- relações de ordem prática-intuitiva (escuta) --- mensurar a verdade particular com a verdade universal do conceito --- insentar de aconselhar? (inteligência é um apalavra que tem uma origem na palavra “intus” que significa “dentro”, e “legere” que significa “Ler”, escolher, eleger. O sujeito é o que se refaz, aquele que está abaixo, operando na conexão conceito x fato) Desvio biologizante --- reação da criança às invasões ambientais; consequências políticas das características inconscientes. Aula do dia 08/10/13 Plutarco --- ano 50 d. C, morte 120 d. C. Sacerdote de apolo em delfos, moralista, psicólogo. Obras morais (moralia); da vontade moral, de tranquilidade da alma, preceitos conjugais, sobre herótodo, debates com o estoicismo, epirismo e platonismo. Foucalt --- as práticas de poder, as práticas de verdade são o que se tem de material nas ciências humanas. O que acontece com o indivíduo após uma análise (analisando, analista, observador, estudante, …)? o que acontece com o analista depois de fudnada a análise (alta, cura, piora, …)? que tipo de dispositivos de subjetivação estão envolvidos? O que dizer sobre a criatividade do corpo, a flexibilidade, o devir-orifício-aberto? Os discursos como material de análise. Sadomasoquismo: não é submissão quando há a lógica do cuidado. Koht Strenger O sonho não é o inconsciente em pessoa. O sonho já é um tipo de elaboração secundária, há sonhos mais organizados e sonhos não organizados. Há os armados pelo êxito. Final de análise --- quais são os discursos legitimados sobre o final da análise? Há espaço na sociedade onde todos sejam ativos sexualmente? Maternagem --- quando a mãe vê na criança um adulto em potencial, o vir a ser. O que ocorre quando o adulto vê na criança apenas um pedaço de carne? O problema, o fantasma do amor é a submissão. As relações assimétricas, relações onde há composturas precárias. Como se desenvolver sem a opressão e a submissão? É possível a construção da identidade com ganho narcísico positivo? Conceitos de Freud sobre o “escudo protetor”. As práticas sexuais podem ser livres e consentidas. As imagens que os amantes fazem de si mesmos? E as imagens libidinais envolvidas nesses eventos? A mídia, entretanto, oferece o sujeito insiginifcante,

sempre necessitando do grande outro. Lapanche --- a linguagem verbl não está na raiz do inconsciente historicamente, topicamente e economicamente, em modo de associação. Para que haja pensamento é preciso que qualquer coisa não seja inserida em qualquer coisa. O pensamento faz parte de atividades de processos secundários. Nos processos primários qualquer coisa pode se inserir em qualquer coisa, não há sujeito, verbo e o objeto. Winnicott --- o holding produz liberdade, o cuidadod e si como ética primordial, o cuidado com a submissão do sujeito às novas paixões. Quais os dispositivos que foram montados para controlar as paixões internas? Paresia --- o silêncio do discípulo, a subjetivação do discurso. O silêncio entre a escuta e a fala. O paresiasta busca no desejo da verdade. Aula do dia 15/10/13 A escuta --- eu me escuto (em duas dimensões; o eu transicional e o eu reconhecial, como proveniente do outro). Na análise eu me vejo sendo visto. O que a situação de análise quer? Como os mecanismos de identificação se constituem na situação passiva? Conflitos comuns: narcisismo (se o outro me ama ou não) e o desespero. O discurso terapêutico --- a laicisação do discurso terapêutico (livre da religião). Qual a posição do discurso purificador? E os sofistas? O excesso de retórica e a pouca procupação com o conteúdo. Como transformar “logos” em “ethos”? Partos verdadeiros da vida: o homem livre Escutar --- escutar não é um ornamento do discurso. É a identificação do sujeito com aquele que diz. A problematização no campo da escuta analítica recai sobre o falso self que pode falar sobre si infinitamente sem nunca dizer a partir de si mesmo. Para escutar é preciso mostrar silêncio, é a fisiologia da atenção instaurada moralmente, como nos votos de silêncio. Para Plutarco, filósofo da antiguidade, escutar, ouvir, são práticas filosóficas... São joão da cruz, no livro “A noite escura” e Ludwig Wittgenstein no livro “Tractatus lógico filosófico” falam do silêncio e da escuta como objetivos humanos éticos. Neurose obsessiva --- para o analista cabe suportar um opressivo em silêncio. Qual o melhor meio de escuta? Quais as condições para que alguém fique em um silêncio de paresia. Neuróticos são homens marcados pela psicanálise. Inteligência como atitude para a verdade. Como ser menos prepotente? Como aprender a ouvir? E aqueles casamentos silenciosos? Neuroses são afetos e se manifestam inclusive no ato de teorizar. Analista e o

trabalho de interrogar, propõe uma busca da compreensão do enigma. O ser humano se teoriza e se auto simboliza, busca compreender os enigmas implementados nele. Freud constrói uma história do próprio pensamento, e como historiador recalcou momentos de sua história. O objeto se apaga diante da experiência? Os operadores da cultura que usam termos psicanclíticos propõem interpretações pertinentes? A sexualidade é uma medida universal de experiência real? Fazer sexo, obter o prazer do gozo, é um dado universal, a experiência energética envolvida nessa prática é igual para todos? A vivência se apaga? O processo fundante do ser humano é o inconsciente. Freud e a construção do conceito de inconsciente. Resistência; a tarefa da clínica é recolocar em andamento o sintoma. Para Freud o clinicar, o movimento da clínica está baseado na teoria. Os traumas sexuais são capazes de provocar a neurose. Clínica --- há sujeitos que se comprometem com seu lugar localizado no espaço que a clínica coloca em andamento. A simbolização que surge no tratamento é uma responsabilização. Aula do dia 19/11/13 Estudo do caso de Harry Guntrip; análise das seções com Fairbairn e Winnicott. A falta de saúde da prática, agressividade dirigida ao analista que não se deixa destruir por isso. Nesse caso analisado, o simbolismo do aperto de mãos entre o analista e o paciente é simbolizado. O setting terapêutico como ajuda adicional, acolhimento, e o lugar que o próprio paciente escolhe se colocar. A clínica --- o analista como mãe que vai dar suporte ao paciente, a partir da qualidade das relações. A segurança de ser “eu mesmo”, o encontro do ser “meu”. A perspectiva da análise pode ser apenas crescer, apenas respirar, apenas se esforçar para se manter vivo (paciente). Onde houver colapso dizer que o colapso já ocorreu e que o sujeito sobreviveu ao colapso. Este analista, esta mãe, não é escolhida a toa. Mas o relato da análise é pessoal? Mesmo amparado em teorias? A análise segue sendo encontro de pessoas complexas com muitas possibilidades. Para os conhecedores de teoria psicanalítica o efeito da análise é maior ou semelhante aos obtidos com pacientes que não tem vocabulário psíquico? Seriam os descrentes dos fundamentos da psicanálise os que se portariam melhor no set terapêutico? O final da análise quando feito pelo paciente pode ocorrer por causa da transferência negativa. Vale a pena fazer uma análise? Os ganhos de uma análise tem valor cumulativo?

Preventivos? A estruturação do lugar da mãe boa. O hábito de discutir com o analista o que foi a seção... qual o valor das análises didáticas? No processo analítico, em que se evita caminhar para a dominação, a figura do analista vai se formando. O paciente que não tem saber sobre a psicanálise resiste afirmando “não acredito em você”. Como reagem o estudante de psicologia e o psicólogo à análise? A própria teoria, para os pacientes que entendem a psicanálise pode ser uma ferramenta para simbolizar sua condição psíquica, ou oferecer um obstáculo. O obstáculo que a linguagem psicanalista oferece aos pacientes que já estiveram estiveram em análise ou são conhecedores; os conceitos, a forma em que os conceitos são aplicados. O recalcamento do analista --- há um medo incomunicável; “o outro só pode me encontrar quando eu estiver preparado para isso: há algo em mim que não consigo que seja público” (operadores ideativos burgueses). Os pais --- podem dar conta sozinhos do problema? Quem é o outro quando queremos algo? Os pais são as tentativas de ordenamento? (o conflito entre o conservativo e o pulsional). O que fazer quando a criança tem um ataque de raiva? Ou rituais obsessivos? Qual lugar da criança na família? E quando ocorre uma simbiose patológica psicologizante? Crianças que não tem o “eu” formado vão ao banheiro e deixam nas fezes e urina uma falta de identificação? O corpo é diferente do eu; o recalcamento primário; o desprendimento do corpo quando o inconsciente fundado. Na formação do eu há coisas que machucam dentro dele. Uma tópica bem constituída faz com que o eu apareça. A construção da tópica pelo paciente é demanda da clínica e principalmente da clínica com crianças. O neurótico opera com separação dos momentos. O uso do não. Os sintomas neuróticos podem ser desinvestidos no sentido analítico. O sujeito humano é marcado pelo amor e pelo ódio. A anorexia infantil é um índice de carência afetiva? É indicativa de uma neurose? Na infância as condições da função simbólica, a capacidade de simbolização, do que é possível se dizer estão ainda se desenvolvendo. A análise apresenta as razões para se afastar de um pensamento fatalista, paralisante, enquanto, e como consequência, da plasticidade do aparelho psíquico e do trabalho analítico! Existem operações psíquicas antes da simbolização, condições pré-simbólicas? Que instrumentos analíticos são melhores para lidar com a configuração psíquica? Que força é necessária? Perlaboração --- fazer trabalhar a teoria Aula do dia 26/11/13 Teoria dos jogos de linguagem, jogos são formas de vida. A psicanalise pode ser

vista como uma ciência do espírito. É o objetivo da psicanalise curar? Criar um experimento? O final da análise. Com quem podemos\devemos usar os atos de fala? Ao dizer, o que as pessoas pretendem? Tudo que é dito possui um objetivo que tem a ver com os outros (Rolland Barthes) Jogos amorosos de linguagem --- amor pelo analista. A linguagem é uma pele e esfrego minha linguagem no outro, numa fisiologia da linguagem, há momentos da análise em que a teoria\prática aponta ontologias na linguagem obsessiva e, formas de a teoria encontrar a situação do paciente. Jogos de linguagem amorosos podem se estabelecer de maneira doentia. Práxis psicanalítica talvez nesse ponto estejam as causas e origens da demanda --o tom jocoso como o obsessivo é tratado no tecido moral! Freud pesquisou crianças judias pobres. Quando a afeição erótica pela mãe torna-se ansiedade? Talvez nesse ponto estejam as causas e origens da demanda da análise de uma criança. A criança produz sintomas para ser escutada. O tecido moral nos impele a dar certas explicações para as crianças em torno da sexualidade. O sucesso obtido com Hans (Freud) foi observado em termos da capacidade criativa da criança. Houve uma desidentificação com a mãe, um sintoma fóbico desta criança em ficar perto da mãe. Final de análise --- suspensão do sintoma como índice de final de análise. Seria o final de análise a habilitação para se estar só? A psicanálise pode ser exercício de poder? Quais os modelos morais estão envolvidos na construção do caso e no testemunho dos efeitos obtidos? Quais as subjetivações suficientes na criação de sujeitos que escolhem? A intenção dessa teia de significados recolhidos das aulas, das falas e questionamentos dos professores ao longo do semestre é a de constituir uma teia de significados, um aporte, um glossário de termos e temas principais, para entendimentos e futuros aprofundamentos. As memórias associadas a muitas dessas frases citadas acima se ligam à fisionomia dos professores, suas posturas, seus gestos, sua disposição, o que faz este texto de fragmentos apresentados acima ser um pequeno baú de acontecimentos, de boas imagens, não só um resumo sintético. Talvez uma forma de poema, um grande poema ilustrativo do percurso do saber. Após essa sedimentação de parte do material das aulas, do retorno de conceitos, da repetição de questionamentos, me sinto com mais disposição em tratar aspectos específicos de cada disciplina. As aulas da Professora Cassandra me levaram a estudar a ideia da caixa de brinquedos na análise de criança; as aulas da Professora Maria Teresa me instigaram a ler mais Jean Laplanche, que possui laços com um filósofo que estudei Gaston Bachelard; e as aulas do

Professor Fábio me colocaram pilha para conhecer mais o trabalho de Foucault. A interessante organização da descrição de conteúdo de aulas feita no livro Em defesa da sociedade, de Michael Foucault me inspirou atentar organizar da mesma maneira as aulas dos professores Cassandra, Maria Tereza, e Fábio Belo. Neste livro de Foucault, o curso que ele apresentou de janeiro a abril de 1976 se transformou num texto e as aulas foram preservadas enquanto uma estrutura. A fala, a docência, a metodologia, o jeito de ensinar se torna uma narrativa que mistura o conceito com o instante provocado pelo encontro do Professor com os alunos, no caso Michael Foucault e um grupo de estudantes universitários em um curso de verão sobre história da modernidade. Nessas aulas a reflexão sobre o poder é pormenorizada, sem tentar a autocrítica, se o exercício da docência for um exercício de poder. Um poder necessário para provocar

a construção do

conhecimento. Por essa razão selecionei o registro de algumas aulas dos Professores citados, para

tentar

segurar,

apreender

para

uma

sistematização,

afirmações

interessantes,

impressionantes, pontuais para uma graduação da compreensão da psicanálise. Outra imagem foucaultiana argumentativa desta sistematização é a perspectiva desejável de uma arqueologia do saber, uma busca arquetípica, identificatória, de um saber, de uma experiência epistemológica, ou seja; a forma de um discurso a ser debatido, assimilado, devorado, que se torna um conjunto de aforismas, de afirmações anotadas durante todo devaneio da experiência Essa reunião de aforismas, atribuídas às aulas do semestre cumpre um papel de gerar boas perguntas, distinções conceituais, e uma base, um vocabulario mais apropriado, para as tentativas de expressar algum saber nos demais tópicos dessa síntese. Na busca de um tema para o trabalho de monografia me interessei pelo livro de Gaston Bachelar a psicanpalise do fogo. Meus estudos em tecnologia e eucação realizados para o mestrado encontrei a tese de doutorado de Bachelard e suas reflexões sobre o conhecimento não como um encontro da verdade, ou da realidade, mas uma forma de aproximação; o conhecimento como uma prótese humana, um antropomorfismo necessário para adaptação humana. Mas essa é a esfera diurna da perspectiva bachelardiana, a análise das ciências duras, física, química, biologia. A perspectiva psicanclítica de Bachelard está ligada à dimensão poética, ao desvendar do devaneio, dos devaneios, formas psiquicas cotidianas entre o sonho e o desperta, ricas em elementos ilustrativos e explicativos da experiência humana. Seria a psicanálise do fogo uma psicanálise clínica? Esta pergunta me despertou o desejo de estudar o livro deste filósofo querendo ver ali alguma ideia de clínica psicanalítica, ou, a negativa disso. No livro de Laplanche A sublimação, encontrei um capítulo destinado a analisar a psicanálise do fogo de Bachelard, e sob a orientação do professor Verlaine estou estudando esta questão. Apresento como parte deste trabalho de sintese dos conehcimentos cultivados no segundo módulo do curso de teoria psicanalítica um esboço das reflexões iniciais sobre a psicanálise do fogo, de Bachelard.

Durante o curso de Teoria Psicanalítica, especialização acadêmica oferecida pela UFMG de Belo Horizonte ao longo de todo 2013 desenhei muito em sala de aula. Muita profundidade faz reaver o controle do tempo que a arte precisa levar o sujeito a ter. E sobre os devaneios artísticos, se referem aos desenhos, aos rabiscos que realizei entre um respirar e outro dos professores, ou, para dar imagem a um conceito que estava sendo desenvolvido, ou mesmo para suportar a profundidade dos questionamentos que eram feitos, alguns suportáveis, e outros invasivos em excesso, e a linguagem da arte serviu de escoamento para muitos momentos. As figuras humanas que exigiam surgir nas folhas em branco entre uma descrição e outra dos professores acerca da teoria psicanalítica estão presentes e penso fazerem parte do saber adiquirido. Era de alguma forma o fogo a ser controlado em seus jatos e labaredas. O acolhimento que um psicanalista oferece ao paciente, quando se inicia uma seção de análise ou durante um longo tratamento é um ofício cuja technê coube a Freud traçar as linhas gerais: a escuta das associações livres, a análise dos sonhos, e uma fundamentação filosófica progressiva, autoreflexiva. Gaston Bachelard no livro a psicanálise do fogo publicado em 1938, pretende fazer psicanálise séria, ou psicanálise filosófica? Não é uma boa pergunta, mas evidencia a questão inicial das considerações e questões que pretendo fazer com relação à clínica psicanalitica, em meu processo de compreensão de suas finalidades e extensões. Se uma psicanálise filosófica é uma psicanálise profissional, ela necessita possuir uma clínica? A contínua fonte de dados, fatos, situações, auxílio, contribuição cultural da psicanálise vem através da experiência clínica, onde pessoas, seres humanos estabelecem relações favoráveis à soluções de muitos conflitos que acometem a todos desde a infância, e de alguma forma potencializados pela vida urbana contemporânea. Uma terceira pergunta seria sobre as perspectivas clínicas que o livro de Bachelard oferece ao leitor. Segundo ele trata-se de uma psicanálise secundária relacionada à camadas mais superficiais da psiquê. A psicanálise do fogo são escritos sobre quatro complexos psíquicos que se relacionam a conteúdo inconsciente e que não são patológicos, ou seja, são complexos adaptativos das formas sociais humanas que a vida cotidiana simboliza não como sofrimento, mas como esquecimento. Gaston Bachelard buscou o conhecimento objetivo das experiências de limite da consciência, e, nesse livro busca propor formas de saber psicanalítico para falar de uma experiência que foi obscurecida pela modernidade e que surge como sintoma em situações eclipsadas que é a experiência do fogo. Para ele o fogo é uma invenção social que está na origem da vida psíquica humana, e o gradual distanciamento da simbolização dessa experiência primitiva, do fogo sexualizado, pode ser uma perda de uma vivência humanizadora. Bachelard retoma vários episódios de sua infância, na década de 1890 na França para se utilizar da necessidade genética da psicanálise, na remontagem da história do problema, o fogo havia sido problema para ele, seus devaneios infantis sobre o poder de possuir o fogo, fazer a chama, ele descreve como pertencendo ao Complexo de Prometeu. Ao denominar de complexo essas circunstâncias, Baclehard está se referindo à dimensão econômica das pulsões envolvidas nesse

emaranhado de atitudes, mas quais seriam as pulsões que se referem justamente ao devaneio, locus da experiência psicanalítica que Bachelard propõe? O tipo de psicanálise feito por ele é descrita como uma psicanálise secundária A vida industrial moderna impôs ao ser humano das cidades populosas grandes forças contraditórias e dilacerantes, ao mesmo tempo em que facilitava, convergia para um mesmo espaço gerações diferentes e diferentes culturas. O início do século XX foi um período de violência entre estados, voracidade da ciência, desenvolvimentos tecnológicos, auto imagem da experiência humana do ocidente como alto desenvolvimento econômico, emancipação intelectual, e as guerras surgidas com o aperfeiçoamento bélico tornou material imagens infernais de fogueiras e labaredas. A imagem de uma voracidade como o é a fogueira, seu caráter purificador, revelando uma dualidade; pureza e destruição. Os sintomas dessa voracidade ígnea surge na descrição de casos que Bachelard cita da psiquiatria, os incendiários, os que se incendeiam, e cita o filósofo grego Empédocles (490 a.C.) como imagem de um salto dentro do vulcão que um impulso, mesmo o de purificação, provoca. O Complexo de Empedocles poderia se referir às sabotagens pessoais, ao desejo de autodestruição? Como ele mesmo defende, trata-se de falar dos devaneios, desses estados entre consciência e sono, fantasia, desejo, imaginação, que nos encontramos várias partes do dia, em nossos afazeres. Para Bachelard os momentos em que lançamos nossas imagens no fogo consumidor de um desejo, fazemos como Empedocles, que delegou ao fogo insuportável o papel da purificação, o sucesso triunfante de nossas imaginações de prazer, a extensão ao limite de uma fantasia relembra a redução instantânea de um corpo sólido ao vapor, fenômeno chamado de sublimação pelos físicos. O conceito de sublimação na psicanálise tem um efeito curiosamente semelhante de descrever transformações intensas, no caso de energia psiquica, e ainda assim, a imagem de um fogo, está presente nos dois sentidos. Na antropologia alguns fatos sociais analisados revelam materializações da imaginação moral referentes ao fogo: Cliford Geertz comenta um episódio de sacrifício ao fogo realizado em Bali no século XIX, em que as comcumbinas de um imperador morto participam de sua expiação sendo queimadas vivas, o raja do estado vizinho morreu dia 20 de dezembro de 1847; o corpo foi queimado com grande pompa, e três de suas concumbinas se sacrificaram nas chamas. Foi um dia importante para os balineses. O descrição densa que Geertz faz do ritual deixa escapar o momento de vacilo, o momento em que o complexo de empédocles revela sua tragégia, sua antropomorfia; o momento em que uma das comcumbinas titubeia entre se lançar ao fogo e, …, talvez uma outra opção não fosse possível naquela situação, mas foi um devaneio, num instante, que diz sobre a tensão interna do complexo de Empedocles; as vítimas desta cruel supertição não demonstravam qualquer sinal de medo ante aquele destino tão terrível que as aguardava, agora tão próximo. Vestidas de branco, os longos cabelos negros

escondendo parcialmente seu corpo, em uma das mãos um espelho e na outra um pente, sua única perocupação parecia ser a de enfeitar-se para alguma festividade alegre. (…) acreditavam que, de escravas que eram neste mundo, se transformariam em esposas favoritas ou rainhas de seu senhor falecido, em sua próxima vida. (…) duas das mulheres não demonstraram, nem no último momento, o menor sinal de medo; apenas se olharam, para certificar-se de que ambas estavam prontas, e depois, sem nenhuma pausa, deram o mergulho. A terceira pareceu hesitar, e saltou menos decididamente, vacilou por um instante, mas depois seguiu suas companheiras, e todas três desapareceram nas chamas sem emitir nenhum som.

O desaparecer nas chamas faz lembrar uma série de atrocidades cometidas durante as guerras entre as nações europeias na primeira metade do século XX, e a voracidade de ver o corpo humano ser consumido, ser purificado fez parte da propaganda nazista da solução final, uma forma de forçar uma purificação biológica na espécie. Essa riqueza de detalhes Gaston Bachelard vai apontando no texto, utilizando em si mesmo o método de associações livres para desenvolver suas ideias. Elementos da antropologia que ele aponta fazem parecer muito interessante analisar o papel do fogo nas culturas primitivas. Bachelard nos diz que o complexo de Prometeu e o de Empedocles explicam a iniciativa em produzir o fogo, e a iniciativa em usar o fogo para transformar a natureza, portanto são complexos positivos para a adaptação humana, mecanismos de evolução das sociedades. A partir deste momento das leituras decidi estudar mais aprofudadamente os demais complexos citados por Bachelard e inicialmente opor a reflexão sobre a clínica à dinâmica de constituição desses complexos. Traçar aproximações como as que são possíveis pelos conceitos de sublimação, purificação e voracidade. Os outros dois complexos descritos por Bachelard são o complexo de Novalis e o Complexo de Hoffmann e, de alguma forma, uma das intenções deste trabalho é tratar da pertinência clínica das ideias de Bachelard sobre o fogo através do estudo dos complexos por ele apresentado.

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