Pequena História do Arroz no Concelho de Alcácer do Sal

June 28, 2017 | Autor: Rita Balona | Categoria: History, Agriculture, Alcácer Do Sal Romano, Arroz
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Descrição do Produto

O Arroz Freguesia/Concelho: União de Freguesias de Alcácer do Sal, São Martinho e Comporta Coordenadas: Arrozal de Alcácer: 38°22'04.09'' N / 8°30'49.31'' O Arrozal Herdade da Comporta: 38°22'26.88'' N / 8°47'25.78'' O

Descrição:

O arroz é um bem essencial è alimentação do Homem, e faz parte da sua dieta à muitos séculos. A orizicultura é uma actividade agrícola associada a climas quentes e húmidos e necessita de condições especificas para a sua produção e a zona do Estuário do Sado apresenta as condições propicias para o seu cultivo.1 A sua origem, segundo poucos relatos escritos, terá sido quando os muçulmanos penetraram na Península Ibérica no séc. VIII trazendo novos aperfeiçoamentos na agricultura e novas técnicas de rega. A sua adopção pelos árabes esteve na origem da sua nova expansão para o Ocidente. Mas apenas no reinado de D. Dinis, séc. XIII-XIV, surgem as primeiras referências escritas sobre a cultura do arroz, que se destinava somente à mesa dos ricos. No entanto, desde esse período até ao séc. XVIII a cultura do arroz deixou de se praticar. Foi então a partir do séc. XVIII que foram dados os primeiros incentivos à produção deste cereal, nas zonas de estuários. Mas o inicio da prática desta cultura foi muito complexa pois o cultivo começou a ser feito em condições inapropriadas e apresentouse como um perigo à saúde pública, o que levou a protestos da parte da população. O paludismo e outros aspectos da higiene pública eram um problema que não tinha fim à vista. 2 Com a vitória dos Liberais em 1828-1834, deu-se um passo decisivo para a divulgação desta cultura, com a nacionalização de propriedades e novas legislações. É a partir de 1850 que a orizicultura cresce sem precedentes.3 Foi no entanto no inicio do século XX que a cultura do arroz se começou a impor em Portugal, em particular na zona de Alcácer. Tanto que Alcácer ficou conhecida "por excelência, a região do arroz". (Dr. Nuno Gusmão, 1928) A sua importância levou então à construção das barragens, em 1949, de Salazar e Trigo de Morais.

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Fotografia 1 (cedido por Manuel Mário) Fotografia 2 (cedido por Manuel Mário) 3 Fotografia 3 (cedido por Manuel Mário) 2

O ano de 1909 tornar-se-ia um ano decisivo para o arroz em Portugal. D. Luís de Castro, professor do Instituto Superior de Agronomia, defendia publicamente a orizicultura. Iniciou-se um conjunto de trabalhos científicos sobre o arroz para melhorar as condições da sua cultura e resolver o problema da insalubridade. O Estado passou então a apoiar esta causa. 4 A Herdade mais importante na região da Costa Alentejana passa a ser a Herdade a Comporta, uma das maiores propriedades agrícolas nacionais, com cerca de 12.500 hectares. Pertence à empresa Herdade da Comporta - Actividades Agro-Silvicolas e Turisticas SA que introduziu uma série de inovações na cultura do arroz.5 Em 1925, a Herdade da Comporta foi vendida à empresa Atlantic Company que transformou a área numa propriedade modelo dedicada à orizicultura, provocando um grande surto de urbanização nas povoações da Comporta, Carrasqueira, Torre e Carvalhal. Mais tarde passou para a posse do Grupo Espirito Santo e em 1975 foi parcialmente nacionalizada. Nesta época milhares assalariados agrícolas vindos de fora deslocavam-se à zona de Alcácer do Sal para trabalharem nos campos de arroz.6 Eram alimentados e pagos segundo a sua função de serviço, sexo ou idade e com um horário que era praticamente de sol a sol. Estima-se que cerca de oitocentos a mil homens e mulheres subiam ao Vale do Sado, vindos do Algarve e da Serra. Denominavam-se de "algarvios".7 Muitos outros vinham do Norte do país (Viseu, Coimbra e Leiria) os quais ficaram conhecidos como "beirões", "caramelos", "ratinhos" e "homens da malta". A "monda" do arroz, termo tradicional usado para o trabalho nos campos do arroz era ainda executado por pessoas da terra, agricultores, principalmente por mulheres ás quais se chamavam " Mondinas" que eram remuneradas abaixo dos homens. Existia uma hierarquia no rancho, composta por um manageiro que dirigia a disciplina e trabalho no campo, um quarteleiro encarregado do alojamento, aguadeiros, lenhadores e as cocas que tratavam das refeições. Calcula-se que no pico dos trabalhos nos campos de arroz existia uma concentração de 10 mil assalariados só no concelho de Alcácer. As instalações onde os trabalhadores eram alojados, "cabanas", as condições de higiene, qualidade da água, alimentação e preço e venda das mesmas era bem diferente do que previam. Além disso, trabalhavam num ambiente de águas paradas onde o paludismo assombrava as suas vidas.8 Com o ambiente de insegurança no ar, a Guarda Republicana assegurava nos terrenos a pacificação social desses contingentes assalariados, sem terra a trabalharem em herdades imensas. (Madeira,2002)

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Fotografia 4 (cedido por Manuel Mário) Fotografia 5 (através internet, site Herdade da Comporta) 6 Fotografia 6 (cedido pelo Fundo local da Biblioteca de Alcácer do Sal) 7 Fotografia 7 (cedido pelo Fundo local da Biblioteca de Alcácer do Sal) 8 Fotografia 8 (cedido pelo Fundo local da Biblioteca de Alcácer do Sal) 5

A Atlantic Company, formada por accionistas ingleses, modernizou a produção desta actividade e melhorou significativamente as condições higiénicas e de habitação dos trabalhadores. Inovou as técnicas de cultivo e recorreu a mão-de-obra especializada, o que trouxe um grande desenvolvimento para as populações a nível de infraestruturas e condições de vida.9 Actualmente, na Herdade da Comporta existem cerca de 1.100 hectares de arrozais de onde saem anualmente cerca de 6.500.000 kg de grãos. Já em Alcácer do Sal, existe uma empresa de nome APARROZ - Agrupamento de Produtores de Arroz do Vale do Sado que em parceria com a Câmara Municipal visa a protecção ambiental do Sado, tendo várias missões, duas das quais a limpeza do rio Sado num troço de 25 hectares que eram alvos de cheias e apostar em formas alternativas de energia relativamente às agora usadas na secagem e conservação do arroz.10 A orizicultura no estuário do Sado, é uma cultura de regadio, de solo submerso. A água actua como agente regularizador e amortiza as variações da temperatura ambiente. Protege também as plantas de fortes chuvadas e ajuda na luta contra as ervas daninhas e pragas de animais. O terreno é divido sempre em talhões e centeiros de forma quadrangular, nivelados e servidos por redes de rega e drenagem.11 O arroz é semeado nesses talhões e após a fixação das raízes o regime é de submersão permanente, interrompendo-se apenas por breves períodos de alimentação dos centeiros e para aplicação de abubos e insecticidas. Actualmente em Alcácer do Sal o recurso ao avião é vulgar para a aplicação de adubos. Os terrenos são trabalhados desde os finais do Inverno e durante o Verão o arroz cresce e dá-se a maturação. Em Outubro faz-se a colheita.12 Na zona do Vale do Sado, são usadas duas espécies de sementes de arroz: O "Chinês" e o "Ponta Rubra". O "Chinês" é o mais utilizado pois a sua rusticidade o torna mais rentável com menor esforço. Já o "Ponta Rubra", exige mais cuidados mas acabou dominando pela qualidade e rentabilidade.13(Quintas, 1998) Os arrozais de Alcácer e Comporta, as maiores a nível nacional, continuam a produzir e a contribuir para a economia do país, pintando a paisagem da Costa Alentejana de cores verdejantes numa imensidão de terra.14

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Fotografia 9 (cedido pelo Fundo local da Biblioteca de Alcácer do Sal) Fotografia 10 (cedido por Manuel Mário) 11 Fotografia 11 (através internet, site Herdade da Comporta) 12 Fotografia 12 (cedido por Manuel Mário) 13 Fotografia 13 (cedido por Manuel Mário) 14 Fotografia 14 (cedido por Manuel Mário) 10

Bibliografia

A.R.B.V.S , Associação de Regentes e Beneficiários do Vale do Sado, "A Obra de rega do Vale do Sado - no quadriénio de 1955-58".

ALVES, Maria Helena; CASALEIRO, Pedro Enrech; MACHADO, Paulo Jorge, 1989, "Avaliação dps problemas ambientais decorrentes da utilização de pesticidas nos arrozais do Sado - Alcácer do Sal", in LPN (Liga para a Protecção da Natureza).

MADEIRA, João, 2002, "Ranchos de fora nos campos de arroz de Alcácer", in "Memória Alentejana", Alcácer do Sal.

MEDEIROS, Carlos Alberto,2000, "Geografia de Portugal - Ambiente Natural e Ocupação Humana - Uma introdução", Editorial Estampa.

"O Arroz", Roteiros, Fundo Local Biblioteca de alcácer do Sal,Câmara Municipal de Alcácer do Sal.

QUINTAS, Maria da Conceição, 1998, "SETÚBAL - Economia , Sociedade e Cultura Operária 1880-1930", Livros Horizonte, Lisboa, p. 49-50.

"Relatório sobre a Cultura do Arroz em Portugal e a sua influência na saúde pública", Imprensa Nacional, Lisboa,1860.

SEIXAS, Miguel Metelo de, 1999, "Herdade da Comporta - memória histórica", The Atlantic Company Limited.

ANEXOS

Fotografia 1-vista geral arrozais Alcacer

Fotografia 2-vista geral arrozais Alcacer

Fotografia 3- Arrozais Alcacer

Fotografia 4- trabalhos arrozais Alcacer

Fotografia 5 - Herdade da Comporta

Fotografia 6 - trabalhadores rurais

Fotografia 7- os algarvios

Fotografia 8 - cabanas

Fotografia 9 - trabalhadores rurais

Fotografia 10 -vista geral arrozais Alcacer

Fotografia 11 - pormenor campos de arroz Comporta

Fotografia 12- trabalhos arrozais Alcacer

Fotografia 13- trabalhos arrozais Alcacer

Fotografia 14 - vista geral arrozais Alcacer

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