Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local

June 2, 2017 | Autor: J. Diez Tetamanti | Categoria: Geography, Argentina, Desarrollo Local / Local Development, Brasil, Desenvolvimento Local
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Descrição do Produto

Angela Maria Endlich Márcio Mendes Rocha (organização)

Pequenas cidades e desenvolvimento local

2009 1

Editoração e revisão gráfica Pedro Henrique Carnevalli Fernandes Ricardo Luis Töws Conselho Editorial Prof. Dr. César Miranda Mendes Prof. Dr. Messias Modesto dos Passos Profa Dra Maria Terezinha Serafim Gomes Profa Ms. Yolanda Shizue Aoki As idéias expressas nos textos, a correção gramatical e de normas técnicas são de responsabilidade dos respectivos autores.

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) (Biblioteca Central - UEM, Maringá – PR., Brasil)

P425

Pequenas cidades e desenvolvimento local / Angela Maria Endlich, Márcio Mendes Rocha(organização). -- Maringá : PGE, 2009. 147 p. Inicialmente apresentado no I Simpósio sobre Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local, realizado de 25-27 de agosto de 2008, organizado pela Departamento de Geografia da Universidade Estadual de Maringá. ISBN 978-85-8788-422-0 1. Cidades e vilas. 2. Cidades e vilas Desenvolvimento. 3. Geografia urbana. 4. Espaço geográfico. 5. Cidades e vilas - Urbanização. 6. Política urbana. 7. Planejamento urbano. 8. Urbanização. I. Endlich, Angela Maria, org. II. Rocha, Márcio Mendes, org. III. Universidade Estadual de Maringá. Departamento de Geografia. IV. Título.

CDD 21.ed. 910.130776 307.76 307.762

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Agradecimentos

Foi fundamental o apoio financeiro da Fundação Araucária tanto na realização do I Simpósio sobre pequenas cidades e desenvolvimento local como para que esta publicação pudesse se concretizar. Por isso, agradecemos as pessoas que fazem dessa instituição uma realidade no Paraná. Somos gratos pelo apoio institucional da Universidade Estadual de Maringá, nos seus mais variados setores: PPG, DGE, PGE, CCH, entre outros. Agradecemos o apoio de nossos colegas e, por fim, agradecemos especialmente aos nossos alunos que nos ajudam e ao mesmo tempo nos motivam a continuar.

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Há um vilarejo ali Onde areja um vento bom Na varanda, quem descansa Vê o horizonte deitar no chão Toda gente cabe lá Palestina, Shangri-lá Vem andar e voa Vem andar e voa Vem andar e voa Lá o tempo espera Lá é primavera Portas e janelas ficam sempre abertas Pra sorte entrar [Excertos – Vilarejo/Marisa Monte]

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SUMÁRIO

Introdução ........................................................................................................ 09 Qual

o

papel

dos

pequenos

municípios

na escala local do desenvolvimento? Rosa Moura ........................................................................................................ 15 Redefinição dos papéis das pequenas cidades na rede urbana do norte do Paraná Tânia Maria Fresca ........................................................................................... 41 Pequeñas localidades y vaciamiento demográfico: desafíos y oportunidades Marcela Benitez ............................................................................................... 69 Desenvolvimento auto-gerido e trabalho Marcelo Dornelis Carvalhal ............................................................................ 93 Pequeñas localidades. ¿camino hacia la entropía? Juan Manuel Diez Tetamanti ....................................................................... 117 Pequeñas localidades, políticas públicas en la provincia de Buenos Aires Daniel Cárdenas, Jorge Sutil ....................................................................... 133

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INTRODUÇÃO Esta publicação resulta do I Simpósio sobre Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local, realizado em agosto de 2008, na Universidade Estadual de Maringá. São alguns registros das mesas redondas, conferências e trabalhos selecionados. Em convergência aos objetivos do evento, pretendemos com essa coletânea de textos estimular o debate acerca da realidade dos municípios com pequenas cidades e seus numerosos desafios no século XXI. Ainda que o Brasil seja conhecido pelas suas grandes cidades, há esta outra face do urbano brasileiro, também notável, que diz respeito às pequenas cidades. Estas localidades abrigam significativa parte da população brasileira e constituem numerosos pontos de suporte territorial por todo o país. Devem, portanto, constar das pautas acadêmicas e políticas como parte da totalidade, pois constituem expressivas dimensões espaciais da vida social e, por conseguinte, do planejamento e da gestão. Tem sido comum entre os que procuram estudar as pequenas cidades lamentar as poucas referências de estudos anteriores sobre o tema.

Entretanto,

acompanhando

a

produção

da

pós-graduação

brasileira, em especial no campo da Geografia, assim como os eventos realizados nos últimos anos, podemos assinalar que tal temática vem ganhando destaque e aos poucos antigas lacunas na Geografia Urbana brasileira vão sendo supridas. O urbano não se compõe apenas das grandes aglomerações, pois há um amplo e diverso conjunto de pequenas localidades cujos papéis talvez não se revelem isoladamente, mas no conjunto da rede urbana. São faces deste urbano cada vez mais multifacetado e contraditório. Apesar da temática das pequenas cidades já estar fazendo parte de forma mais efetiva da pauta acadêmica, o evento realizado em Maringá foi o primeiro voltado de forma específica a esta questão. É 9

preciso ressalvar que a realização desse simpósio não significa defender a fragmentação da Geografia Urbana. Ao contrário, os mais diversos tipos de localidades e expressões do urbano precisam ser compreendidos de forma articulada. A realidade assim o exige. Contudo, a realização de um evento mais específico, vem no sentido de somar, criando oportunidades de intercâmbios e debates que permitirão avançar de forma mais verticalizada quanto a esta temática. Apesar de espaços aparentemente simples, as pequenas cidades constituem um objeto de estudo bastante complexo, sobretudo porque apresentam uma pluralidade imensa, que se verifica nas mais diversas regiões do Brasil e do mundo. Destacamos a pertinência da realização deste primeiro simpósio na Universidade Estadual de Maringá, pois a região Norte do Paraná, onde está inserida esta instituição, possui uma realidade socioespacial que clama pela introdução deste tema no rol de estudos, principalmente por dois motivos: 

Há nesta região uma intensa presença de pequenas localidades urbanas. Estas localidades representam uma herança histórica regional, em especial a partir da inserção desta área ao mercado mundial por meio da economia cafeeira.



As transformações verificadas posteriormente, sobremaneira a partir da década de 1970, trouxeram muitas implicações que em parte se expressam por meio do processo de declínio demográfico em relação à população total na maioria dos municípios da região. Deve-se registrar que tal fato ocorre especialmente nos municípios polarizados por pequenas cidades, o que faz dessa uma questão da Geografia Urbana, ainda que não exclusivamente dela. De modo geral, as pequenas cidades estão por todo o território

brasileiro, mas é possível observar que em algumas regiões elas aparecem com maior densidade. Este é o caso do setentrião paranaense. 10

Obviamente, esta geografia não decorre do acaso. Está relacionada à formação socioespacial da região que viabilizou, ainda que por apenas algumas décadas (1930-1970), uma forma de produção no campo com menor concentração fundiária que em outras áreas do Brasil, além do uso intensivo do trabalho. A região contava, então, com uma alta densidade demográfica, bem distribuída em seu interior. As pequenas localidades, não obstante o exíguo território urbano e população, funcionavam indubitavelmente como localidades centrais, fundamentais para o funcionamento cotidiano da economia e da sociedade regional. O mencionado declínio demográfico mostra que muito se modificou. As transformações econômicas marcadas principalmente pela crise da cafeicultura, sobretudo nos moldes em que ela se instalara na região, trouxeram ampla mudança na composição da produção regional. Houve concentração fundiária e o trabalho agora se realiza em grande parte com

a

mecanização, absorvendo

pequeno

contingente de

trabalhadores. Isso alterou completamente o quadro regional assinalado anteriormente e, por isso, parece premente a necessidade de repensar que papéis representam na atualidade as pequenas localidades, tanto na perspectiva econômica como na perspectiva social. Tendo em vista esta problematização, aqui exposta de forma muito breve, é que assinalamos que estudar as pequenas cidades não corresponde a fazer apologias às mesmas. Trata-se de analisá-las profundamente, focalizando tanto os processos que podem ser verificados em âmbito regional e que nos fazem repensar os papéis dessas localidades, quanto verificar na dinâmica local cotidiana, expressões próprias do modo de produção capitalista. São, portanto, dimensões do espaço que também revelam as contradições sociais. É neste sentido que propomos a reflexão sobre as pequenas cidades. Ainda assim, como o leitor pode perceber, nos valemos como epígrafe desta publicação de excertos poéticos de Marisa Monte. A 11

poesia pode se aproximar da apologia, contudo é possível reconhecer nos versos apresentados atributos que permanecem nas pequenas localidades e que trazem uma sociabilidade diferente. Elas preservam dimensões mais humanas do tempo e do espaço. São estes ritmos e espaços diferentes que nos ajudam a questionar as tendências e expressões urbanas predominantes e a condição de vida que tem representado. Os dois primeiros textos: “Qual o papel dos pequenos municípios na escala local do desenvolvimento?” (Rosa Moura) e “Redefinição dos papéis das pequenas cidades na rede urbana do Norte do Paraná” (Tânia Maria Fresca) são resultantes de exposições efetuadas na mesa redonda: “Redefinição dos papéis das pequenas cidades na rede urbana”. São contribuições pensadas a partir de perspectivas diferentes no sentido de caracterizar as pequenas localidades e como elas têm se inserido e redefinido os seus papéis no âmbito de uma rede urbana cada vez mais complexa. Em

seguida

o

texto

“Pequenas

localidades

y

vaciamento

demográfico: desafíos y oportunidades”, registra a conferência de Marcela Benitez. Ela conta a experiência da criação de uma ONG (Responde

-

Recuperación

Social

de

Poblados

Nacionales

que

Desaparecen). A autora foi fundadora e atual diretora da instituição que tem procurado diversas formas para apoiar pequenas localidades da Argentina que correm risco de desaparecer devido ao processo de perda populacional. Em tom de depoimento ela explica com detalhes a formação da ONG, pensada a partir da elaboração de sua tese de doutorado. O leitor encontrará no texto os desafios enfrentados, os programas

implementados,

entre

outros

aspectos

do

trabalho

desenvolvido por Marcela Benitez e sua equipe na Argentina. O texto “Desenvolvimento auto-gerido e trabalho” (Marcelo Dornelis Carvalhal) resulta de exposição apresentada em sessão 12

denominada: “Potencialidades e particularidades locais: um desafio de desenvolvimento

auto-gerido

e

auto-sustentado”.

O

autor

traz

reflexões críticas sobre a questão do desenvolvimento pensada nos marcos do capitalismo, principalmente tendo em consideração a recente reestruturação deste modo de produção e as implicações que tal processo tem representado para os trabalhadores. Com os dois últimos textos, selecionados entre os trabalhos apresentados no evento: “Pequeñas localidades. ¿camino hacia la entropía?” (Juan Manuel Diez Tetamanti) e “Pequeñas localidades, políticas públicas en la província de Buenos Aires” (Daniel Cárdenas e Jorge Sutil) retornamos o olhar sobre a realidade Argentina. Destacamos que, em comum com a realidade de diversas pequenas localidades brasileiras, os trabalhos provenientes da Argentina expõem a questão do intenso declínio demográfico que, conforme já mencionado, igualmente tem se verificado nas pequenas localidades argentinas. Estes dois últimos textos mostram outras análises e iniciativas no sentido de atenuar esse processo de perda demográfica e abandono dos “pueblos”, como é o caso da lei que procura amparar a promoção das pequenas localidades da província de Buenos Aires, ancorada no trabalho de uma instituição denominada “Uniendo Pueblo” como poderá se verificar no último texto. Conhecer estas experiências representa uma troca enriquecedora. Esperamos deixar com essa publicação algumas contribuições e idéias que possam iluminar tanto a continuidade dos estudos dos temas expostos, bem como reflexões sobre possibilidades pragmáticas com significativos alcances sociais que se revelam por meio de algumas ações sinalizadas nos textos apresentados. Angela Maria Endlich

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QUAL O PAPEL DOS PEQUENOS MUNICÍPIOS NA ESCALA LOCAL DO DESENVOLVIMENTO?

Rosa Moura

1

Nas análises cuja unidade é o município, se o objetivo é avaliar performances, sempre é destacada a categoria daqueles que participam com maiores proporções na geração da renda, do emprego ou na absorção da população residente. Também são ressaltados aqueles com centralidade urbana de maior expressão, pela oferta de funções mais complexas, representados pelo papel de pólos regionais ou subregionais. Em qualquer dos casos, raramente se encontram, entre esses, municípios de pequeno porte. Então, qual o papel a eles reservado na dinâmica econômica ou na articulação da rede urbana, no caso de países como o Brasil, onde a urbanização se fez elevando metrópoles e grandes aglomerações? Mais que isso, que são pequenos municípios? Partindo do pressuposto de que à medida que os classifica é o tamanho da população, qual corte os caracteriza? Os adjetivos "grande" ou "pequeno" referem-se a uma situação relativa em um universo específico, admitindo cortes distintos no caso de uma Unidade da Federação ou do País. Em face do tema proposto Redefinição dos papéis das pequenas

cidades na rede urbana, cabe ainda perguntar como se constituem cidades nesse horizonte de pequenos municípios brasileiros? Em alguns casos, há quem questione até se há urbano em sua constituição. E por fim, que perspectivas de ascensão têm aquelas cidades situadas à margem dos processos mais dinâmicos e como operam na escala local do desenvolvimento? 1

Geógrafa do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES); pesquisadora do Observatório das Metrópoles/Instituto do Milênio - CNPq. 15

Essas questões servem de ponto de partida para a presente reflexão. Reflexão que será organizada discutindo brevemente a noção de cidade, a opção pela unidade municipal de análise e o corte de tamanho do que se pode considerar pequeno. Feitas essas delimitações, buscará traçar um também breve perfil dos pequenos municípios na distribuição da população, dinâmica do crescimento e geração de riqueza. Por último, focará a discussão sobre a escala local do desenvolvimento, particularmente no que concerne à convincente retórica da capacidade endógena. Cidade ou município? Em muitos países da Europa, pequenos centros urbanos oferecem as funções necessárias para um cotidiano auto-suficiente, com as vantagens da tranqüilidade que os centros maiores perderam. Em países subdesenvolvidos, há que se recorrer às metrópoles até para funções fundamentais. Nesses, a delimitação do urbano de muitos municípios é apenas uma lei que identifica um núcleo em um território ainda preso à base produtiva e ao modo de vida rural. Por vezes, a agricultura local envolve o pequeno conjunto de edificações desses núcleos, como que querendo fazer parte dele, ou reclamando por ter sido apropriada. Seriam esses núcleos cidades? O conceito de cidade está vinculado à materialidade do espaço construído, ao concreto, onde vivem os cidadãos, ao conjunto de infraestruturas, de equipamentos, enfim, de toda a materialidade que permite a vida coletiva de um conjunto cada vez maior de cidadãos coabitando (SOUZA, 1999). Está, também, sempre relacionado à idéia de civilização (IANNI, 1999). A cidade, na visão histórica dominante na economia política, resulta do aprofundamento e expressa a divisão socioespacial do trabalho em uma comunidade, para salientar o domínio da cidade sobre 16

o campo, a partir do controle político. A produção é centrada no campo, e a cidade, espaço não-produtivo privilegiado do poder político e ideológico, retira do excedente nele produzido as condições de reprodução da classe dominante e de seus servidores diretos (MONTEMÓR, 2006). Política, civilização e cidadania são conceitos que derivam da forma e organização da cidade. Sposito (2005) observa que o termo cidade é concomitantemente um conceito descritivo, que permite apreender uma realidade material concreta, e um conceito interpretativo, pois evoca um conjunto de diversas funções sociais. Remy e Voyé (1994) complementam que o conceito parte da definição do laço existente entre um tipo de apropriação do espaço e uma dinâmica coletiva. Assim, a cidade surge como uma unidade social que desempenha um papel privilegiado nas trocas – materiais ou não – e em todas as atividades de direção, de gestão e no processo de inovação. Lugar onde os vários grupos encontram entre si possibilidades múltiplas de coexistência e de intercâmbios, mediante a partilha legítima de um mesmo território. Pode-se dizer que mesmo pequenos núcleos organizam-se para a vivência coletiva e, ao seu modo, para a política e para a cidadania. Respeitadas as escalas, a densidade material ou a capacidade inovativa, todos assumem um papel na divisão social do trabalho e têm uma participação na teia da rede urbana. E são estruturadores da dinâmica do território municipal como um todo e de suas relações com a região e o Estado. Distinguindo

o

espaço

da

cidade,

mas

reconhecendo

sua

importância na dinâmica municipal, a opção pela análise foi o município, posto que é sobre esta unidade que incide grande parte dos indicadores selecionados para responder às questões às quais o tema remete. Como parâmetro de distinção de "pequenos" no universo dos mais de 5 mil municípios brasileiros, foram considerados aqueles com menos de 25 mil 17

habitantes, última classe definida pelo IBGE para mapeamento relativo à distribuição da população dos municípios do Brasil, em 2007. Sobre essa classe foi procedido um segundo corte, dos municípios com menos de 5 mil habitantes, dado que, além de ser significativo o número que se inclui nessa classe de tamanho, atingindo no Brasil a ordem de 1.334, esses municípios apresentam singularidades. Distribuição e dinâmica de crescimento dos pequenos municípios O universo de pequenos municípios em território brasileiro é expressivo e, embora não respondam por grande proporção da população, ocupam consideráveis extensões do território. Quase sempre compõem áreas pouco densas, o que oferece condições para que constituam cidades confortáveis à vida das populações. Dos 5.565 municípios brasileiros, 78% possuem menos que 25 mil habitantes, segundo a Contagem da População de 2007, realizada pelo IBGE, sendo 54,1% na classe de população entre 5 e 25 mil habitantes e 24% naquela com menos que 5 mil (Tabela 1). Os primeiros ocupam 52,8% da área do Brasil, onde residem 19,9% da população total de 2007. Nos segundos, ocupando 7,1% da área, encontra-se 2,4% da população. TABELA 1 - NÚMERO DE MUNICÍPIOS, POPULAÇÃO E ÁREA, SEGUNDO CLASSES DE TAMANHO DA POPULAÇÃO - BRASIL - 2007 CLASSE (mil habitants) >=500 >=100 A =50 A =25 A =5 A =100 a =50 a =25 a =5 a = 100 a < 250 >= 50 a < 100 >= 20 a < 50 >= 10 a < 20 < 10

FONTE: IBGE - Contagem da População BASE CARTOGRÁFICA: IAP (2004)

É importante salientar que todo esse conjunto de municípios, e não apenas aqueles localizados contiguamente às aglomerações urbanas, embora aparentemente alheios ao processo concentrador do Estado e do País, compartem o mesmo processo, já que está se consolidando uma expansão horizontal da urbanização e do meio técnico-científicoinformacional, ou seja, da "modernização" do território. A partir do momento em que o território brasileiro se torna efetivamente integrado e se constitui como mercado único, o que à primeira vista aparece como evolução divergente é, na verdade, um movimento convergente. Há uma lógica comum aos diversos subespaços. Essa lógica é dada pela divisão territorial do trabalho em escala nacional, que privilegia diferentemente cada fração em dado momento de sua evolução. A lógica é comum, os resultados regionais e locais são diferentes (SANTOS; SILVEIRA, 2001, p.273-274).

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Assim, no reverso da concentração, um amplo espaço organiza-se sob a mesma lógica, polarizado por centros e aglomerações. Ao redor desses centros, a produção rural obedece às mesmas leis que regem os aspectos da produção econômica como um todo. Segundo Santos e Silveira (2001), os efeitos dessa difusão técnica também se fazem perceber no surgimento ou na ampliação, em regiões mais dinâmicas, de um conjunto de atividades e ocupações não-agrícolas, que colocam esses espaços em outro patamar de articulação, no qual o rural não mais pode ser visto simplesmente como fornecedor de produtos primários para os centros urbanos. Conseqüentemente, esse mundo rural modernizado esvazia-se de grandes contingentes populacionais e isola pedaços do território, incapazes de cumprir as exigências de uma produção que se opera sob racionalidades externas. Observa-se, tanto no meio rural quanto em pequenos núcleos urbanos, uma parcela da população residente totalmente

integrada



por

meio

dos

circuitos

de

produção,

comunicações e transportes – ao mais avançado padrão de produção e consumo ofertado pelos grandes centros. Ao mesmo tempo, nos grandes e médios municípios, existem significativos contingentes populacionais marginalizados do processo de modernização e geração de renda. São uma expressão do atual ciclo da acumulação, que produz, em qualquer porção do território, uma face moderna, de alta renda e complexidade, e outra com características opostas. Os pequenos municípios têm uma dinâmica de crescimento bastante reduzida. Entre os 332 com menos de 25 mil habitantes em 2007, apenas 86 tiveram crescimento positivo da população nos períodos 1991-2000 e 2000-2007, e 38 perdiam população no primeiro período e passaram a crescer no segundo (Tabela 3). Mesmo assim, crescimentos ínfimos, próximo ou abaixo do vegetativo. Entre os que cresceram nos dois períodos, grande parte situa-se próximo ou insere22

se nas aglomerações urbanas e centros regionais. É o que se observa entre os que estão crescendo entre 2000-2007 a taxas superiores ao dobro da média do Estado – Tunas do Paraná (7,70% ao ano), Itaipulândia (3,5% a.a.), Mauá da Serra (2,9% a.a.), Cafelândia (2,4% a.a.), Mandirituba (2,3% a.a.) e Pontal do Paraná (2,2% a.a.) – exceto Tunas do Paraná, os demais apresentaram crescimento superior ao dobro da média do Estado também no intervalo 1991-2000. Esses municípios estão localizados no entorno da aglomeração metropolitana de Curitiba e no das aglomerações urbanas de Londrina, Cascavel e Foz do Iguaçu. Além desses, cresceram mais que o dobro da média do Estado entre 2000 e 2007 os municípios de Ventania (3,8% a.a.), Teixeira Soares (2,7% a.a.) e Imbaú (2,5% a.a.), num comportamento que pode estar ligado a atividades específicas, até conjunturais, que não garantem sustentar o crescimento da população no intervalo seguinte. TABELA 3 - CONDIÇÃO DE CRESCIMENTO DOS PEQUENOS MUNICÍPIOS - PARANÁ - 1991-2000 E 20002007 MUNICÍPIOS < 25 MIL CRESCIMENTO HABITANTES 1991-2000E 2000-2007 Número % Positivo / Positivo 86 25,9 Negativo / Positivo 38 11,4 Positivo / Negativo 51 15,4 Negativo / Negativo 157 47,3 FONTE: IBGE

Dos 332 municípios paranaenses com menos de 25 mil habitantes, 157 (47,3%) perderam população entre 1991-2000 e continuaram perdendo entre 2000-2007; outros 51 (15,4%) ganhavam no primeiro período e passaram a perder no segundo. Estes totalizam 62,7% dos pequenos municípios, localizam-se afastados das aglomerações e demonstram uma dinâmica de esvaziamento populacional (Mapa 2). 23

ESTADO DO PARANÁ mapa 2 CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO NOS PERÍODOS 1991/00 E 2000/07 Períodos Cresce mais que a média do Estado nos dois períodos Cresce menos que a média no 1º e mais que a média no 2º Não cresce no 1º e cresce menos que a média no 2º Cresce mais que a média no 1º e menos que a média no 2º Cresce menos que a média nos dois períodos Cresce menos que a média no 1º e não cresce no 2º ou não cresce em nenhum período

FONTE: IBGE BASE CARTOGRÁFICA: IAP (2004)

Assim, salvo pequenos municípios inseridos nas dinâmicas das aglomerações urbanas, os demais não vêm manifestando sinais de que possuem atrativos a novos moradores ou de que contemplam as exigências dos vários segmentos da própria população residente, que migra em busca de oportunidades. Esta situação não é recente nem é peculiar ao Paraná. Em IPARDES (2000), é salientado o intenso movimento de concentração e esvaziamento que caracterizou a rede urbana da Região Sul entre os anos 1970 e 1996. Soma-se à fragilidade dos pequenos municípios já consolidados o processo de desmembramento de novos pequenos municípios. Uma retrospectiva dos desmembramentos municipais no Estado do Paraná, a partir do Censo de 1970, registra que, nesse ano, o Paraná possuía 288 municípios, dos quais 224 tinham, em 2007, população inferior a 25 mil habitantes; na década de 1970, houve dois desmembramentos, ambos gerando municípios hoje com menos de 25 mil habitantes (Tabela 4). Na década de 1980, foram desmembrados mais 33 municípios, dos quais 32 24

encontram-se nessa faixa de população; e na de 1990, outros 76, sendo 74 com menos de 25 mil habitantes. TABELA 4 - MUNICÍPIOS DESMEMBRADOS SEGUNDO CLASSES DE TAMANHO DA POPULAÇÃO - PARANÁ - 1970/2007 NÚMERO DE MUNICÍPIOS CENSO =100 A =50 A =25 A =5 A
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