Percepção das pacientes do Ambulatório de Uroginecologia quanto ao acolhimento e à abordagem terapêutica conservadora na incontinência urinária Perception of patients in Urogynecology Outpatient Clinic about the host and conservative therapeutic approach in urinary incontinence

July 7, 2017 | Autor: Thomaz Gollop | Categoria: Urinary incontinence, Medical Care, Cross Section, Drug Therapy
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Artigo Original

Percepção das pacientes do Ambulatório de Uroginecologia quanto ao acolhimento e à abordagem terapêutica conservadora na incontinência urinária Perception of patients in Urogynecology Outpatient Clinic about the host and conservative therapeutic approach in urinary incontinence Amanda de Oliveira Beltrami1, Lucas Ruiz Storti2, Adriana Muller3, Ana Carolina Marchesini de Camargo4, Telma Guarisi5, Thomaz Rafael Gollop6, João Bosco Ramos Borges7

RESUMO Objetivo: Descrever a percepção das pacientes com incontinência urinária em relação ao acolhimento no Serviço Secundário e às formas de tratamento para essa afecção. Métodos: Foi realizado estudo descritivo de corte transversal, por meio de entrevista às pacientes do sexo feminino referenciadas ao Serviço de Uroginecologia, durante o período de Janeiro a Março de 2008. Resultados: A maioria das pacientes incluídas no estudo tinha baixo nível de escolaridade, queixava-se de perda urinária frequente e de grande quantidade. Em relação ao tipo de tratamento esperado, as pacientes se dividiram de modo parecido entre os três tipos de tratamento: medicamentoso, fisioterápico e cirúrgico. Quanto à percepção e satisfação das pacientes em relação ao atendimento recebido, observa-se que todas tiveram suas dúvidas respondidas, bem como a maioria sentiu-se à vontade e segura durante a consulta, achando que teria seu problema resolvido no serviço. Conclusões: Há uma discrepância entre a ideia que a paciente tem em relação à terapia, e o tratamento que de fato será proposto. Mas apesar dessa divergência, o acolhimento multiprofissional qualificado resulta em bons índices de satisfação da paciente em relação ao seu atendimento, ao entendimento do problema de saúde e à expectativa de tratamento. Descritores: Acolhimento; Incontinência urinária/terapia

ABSTRACT Objective: To describe the perception of patients with urinary incontinence concerning the secondary care facilities outreach

and treatment programs. Methods: A cross-sectional descriptive study was carried out, when women referred to the Urogynecology Clinic between January and March 2008 answered to an interview. Results: Most patients included in the study had low schooling level and complained of frequent urinary loss in great quantity. As for the expected type of treatment, the patients were almost equally divided into three treatment types: drug therapy, physiotherapy, and surgery. Concerning their perception of and satisfaction with the received medical care, it was observed that all questions were answered by patients, most of them felt comfortable and safe during their appointment with the physician, and felt that their problem would be solved at the healthcare facility. Conclusions: There is a discrepancy between the patient’s idea of therapy and the treatment that is actually being proposed. However, although this discrepancy exists, a qualified multidisciplinary outreach program results in good satisfaction levels with the medical care, understanding of the problem, and expectation with the treatment. Keywords: User embracement; Urinary incontinence/therapy

INTRODUÇÃO Define-se como incontinência urinária (IU) qualquer perda involuntária de urina clinicamente demonstrável que cause problema social ou higiênico(1). A IU é dividida em três tipos principais: IU de esforço (IUE), quando a perda involuntária de urina ocorre associada ao es-

Trabalho realizado no Serviço de Uroginecologia do Ambulatório da Saúde da Mulher, Faculdade de Medicina de Jundiaí – FMJ, Jundiaí (SP), Brasil.  Acadêmica de Medicina da Faculdade de Medicina de Jundiaí – FMJ, Jundiaí (SP), Brasil.

1

 Acadêmico de Medicina em Medicina da Faculdade de Medicina de Jundiaí – FMJ, Jundiaí (SP), Brasil.

2

 Enfermeira Responsável pelo Ambulatório da Saúde da Mulher do Hospital Universitário da Faculdade de Medicina de Jundiaí – FMJ, Jundiaí (SP), Brasil.

3

Professora-assistente da Disciplina de Ginecologia da Faculdade de Medicina de Jundiaí – FMJ; Pós-graduanda da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP, Ribeirão Preto (SP), Brasil.



 Doutora em Medicina pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, Campinas (SP), Brasil.

5

 Professor-associado da Disciplina de Ginecologia da Faculdade de Medicina de Jundiaí – FMJ, Jundiaí (SP), Brasil.

6

 Professor titular da Disciplina de Ginecologia da Faculdade de Medicina de Jundiaí – FMJ, Jundiaí (SP), Brasil.

7

Autor correspondente: João Bosco Ramos Borges – Rua Francisco Telles, 250 – Vila Arens – Jundiaí – CEP 13202-550 – Jundiaí (SP), Brasil – Tel.: (11) 4587-1095 – e-mail: [email protected] Data de submissão: 2/5/2009 – Data de aceite: 13/8/2009

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forço; urge-incontinência, perda involuntária associada à forte desejo miccional; e IU mista (IUM), aquela em que os dois sintomas se associam. A IU representa um problema que afeta aproximadamente um terço das mulheres de todas as idades, principalmente na gravidez e após parto normal ou nas mudanças hormonais ocorridas na menopausa, períodos em que acontece fragilidade da musculatura pélvica e das estruturas de sustentação. Trata-se de um problema de ordem social e higiênica e, provavelmente, uma patologia subnotificada. Uma das razões para isso é que muitas das pacientes com IU não se queixam espontaneamente se não forem objetivamente interrogadas pelo médico(2). Estudos demonstram que cerca de 30 a 50% das pessoas que sofrem de IU procuraram o serviço de saúde somente após o primeiro ano de início dos sintomas por acharem, inicialmente, que a perda da urina é esperada com o evoluir da idade(3). Geralmente quando o serviço é procurado, estas já apresentam redução da autoestima e depressão, sentindo-se muito angustiadas e incomodadas com o problema da perda urinária. Nos Estados Unidos, a IU é responsável por aproximadamente 2% dos gastos com a saúde, que é estimado em mais de 16 milhões de dólares por ano. Representa um problema de saúde pública diminuindo seriamente a qualidade de vida de mulheres profissionalmente ativas, independentemente do tipo. Seus efeitos negativos acometem principalmente a prática de atividades físicas, a autoconfiança, a autopercepção e a prática de atividades em sociedade(4-5). Alguns autores apontam a necessidade de proporcionar uma maior conscientização das mulheres pós-menopausadas quanto aos benefícios de procurarem tratamento médico para IU, a fim de melhorar sua qualidade de vida(6). Durante muitos anos a cirurgia foi considerada a melhor opção de tratamento da IU. Porém as recidivas eram frequentes, submetendo as pacientes às mesmas condições iniciais de perda urinária, muitas vezes com piora do prognóstico. As técnicas de tratamento conservador foram esquecidas durante muitos anos, somente nos anos 1980 readquiriram importância, apesar de terem surgido em 1948 com Arnold Kegel, o qual desenvolveu exercícios com a finalidade de fortalecer a musculatura do assoalho pélvico para melhorar a eficiência da função esfincteriana uretral e o suporte dos órgãos pélvicos para manutenção dos níveis pressóricos adequados. São exemplos desse tipo de tratamento: cinesioterapia, cones vaginais, eletroestimulação e biofeedback(7). Por outro lado, a falta de recursos ou o desconhecimento faz com que os profissionais envolvidos na assistência a estes pacientes utilizem terapêuticas inadequadas, sem se ater a critérios diagnósticos mais precisos que esclareçam a etiopatogenia de cada

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caso(8-9). Assim, é muito importante que haja uma abordagem multiprofissional dessas pacientes e uma perfeita interação entre os membros da mesma equipe para que a paciente seja beneficiada e o diagnóstico, seguro. Com os avanços das pesquisas em fisiologia do trato urinário inferior e com o aprimoramento das técnicas de diagnóstico, o tratamento conservador foi assumindo um importante papel na reabilitação dessas pacientes por meio de técnicas de reeducação perineal. Os resultados positivos destas técnicas dependem da boa avaliação da paciente e da escolha da técnica e parâmetros de tratamentos para cada tipo específico de incontinência que será tratada. Alguns estudos apontam melhora significativa dos escores de impacto da incontinência, das limitações das atividades diárias e das limitações físicas, após a realização de um protocolo específico de fisioterapia(10-12). Muitas pacientes chegam ao serviço especializado com algum tipo de tratamento prévio, daí a importância em relação à sua abordagem, para que haja seu adequado acolhimento, desde a chegada ao Serviço de referência, até que todas as etapas de atendimento sejam completadas. A palavra acolhimento é apontada como sendo: ato ou efeito de acolher, recepção; atenção, consideração; refúgio, abrigo e agasalho(8). Há também uma abordagem citando biólogos, que com base em inúmeras pesquisas, falam sobre o “acolhimento”, comparando-o com a relação entre mãe e filho. A mãe seria um campo de amparo e acolhimento, tendo a responsabilidade de cuidar de seu filho. Considerando esta relação nos serviços de saúde, o autor indica que os trabalhadores podem amparar a sua clientela, de modo que se torne responsável pelo desenvolvimento de seus usuários. Em um serviço ligado à instituição de ensino, espera-se que diferenças em relação ao acolhimento sejam encontradas, tendo em vista a diversidade de comportamento desde o estudante, passando pelo pós-graduando e equipe multidisciplinar, e finalizando com o docente. São escassos os dados da literatura relacionados à avaliação do atendimento prestado às pacientes portadoras de IU, bem como os que dizem respeito à percepção por parte das mesmas do tipo de tratamento recebido. Estes fatos levaram-nos à realização de um estudo, com o intuito de avaliar o atendimento de pacientes portadoras de IU em um serviço universitário recentemente implantado.

MÉTODOS Foi realizado estudo descritivo de corte transversal, previamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina de Jundiaí. A casuística do estudo incluiu as pacientes do sexo femieinstein. 2009; 7(3 Pt 1):328-33

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Beltrami AO, Storti LR, Muller A, Camargo ACM, Guarisi T, Gollop TR, Borges JBR

nino que eram atendidas por profissionais médicos, enfermeiros, estudantes de Medicina, fisioterapeutas e psicólogos no Serviço de Uroginecologia do Ambulatório de Saúde da Mulher da Prefeitura Municipal de Jundiaí, vinculado à Faculdade de Medicina de Jundiaí. As pacientes que já se encontravam em seguimento e tratamento neste ambulatório especializado foram submetidas a uma entrevista, realizada por estudantes pré-treinados da Faculdade de Medicina de Jundiaí. Nesta entrevista, que ocorreu durante o período de Janeiro a Março de 2008, aplicou-se questionário prétestado para caracterização da casuística do estudo (Quadro 1).

- -

-

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Quadro 1. Variáveis de caracterização da casuística Variável Idade Cor Estado marital Paridade Tipo de partos

Tempo de menopausa Nível educacional

Emprego

Conceito Em anos Branca, negra, parda, indígena ou oriental Solteira, casada, amasiada, separada, divorciada ou viúva Número de partos Normal, fórceps e cesárea

Detalhamento

- -

Se cesárea: ocorrência ou não de contrações de trabalho de parto, precedendo a cesárea

Em anos Analfabetismo; Fundamental incompleto; Fundamental completo; Médio incompleto; Médio completo; Superior incompleto e Superior completo Sim ou não

- - - - -

Se sim: 40 horas/semana ou 20 horas ou menos/ semana

As questões referentes às queixas urinárias incluem aquelas do Norwegian EPINCONT Study(13). Para o questionamento do acolhimento hospitalar e tratamento realizado foram feitas as seguintes questões: - perda involuntária de urina referida pela paciente; - frequência da perda urinária, categorizada em menos de uma vez ao mês; uma vez ou mais ao mês; uma vez ou mais por semana; todo dia e/ou noite; - quantidade da perda urinária subdividida em: gotas ou pouco; pequena quantidade e grande quantidade; - perda de urina aos esforços, como tossir, rir, espirrar, carregar peso, dicotomizada em não e sim; - tipo de esforço em que ocorrem as perdas: mínimos esforços; médios esforços; e grandes esforços. - urge-incontinência definida como perda involuntária de urina associada a forte e repentina vontade de urinar; dividida em sim e não; - tempo da perda urinária, definido em anos que a mulher refere estar apresentando a queixa de perda einstein. 2009; 7(3 Pt 1):328-33

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urinária; categorizado em: zero a cinco anos, cinco a dez anos, mais de dez anos; consulta médica prévia pela perda de urina, categorizada em: sim e não; maneira como a paciente considera o problema da perda urinária; categorizada em: não há problema; um pouco incomodada; meio aborrecida; muito aborrecida; um grande problema; número de micções durante o dia, definida como o número de vezes que a mulher referir ir ao banheiro para urinar, bem como o número de vezes anotado no diário miccional; categorizado em: até sete vezes; mais de sete vezes; número de micções durante a noite, definida como o número de vezes que a mulher se refere ir ao banheiro para urinar à noite, dividida em: nenhuma; um a três; mais de três; enurese noturna, definida como a perda involuntária de urina durante o sono, dividida em: sim e não; hematúria, definida como a visualização de sangue na urina, referida pela paciente, dicotomizada em: sim e não; tempo decorrido entre o encaminhamento pelo médico da Unidade Básica de Saúde (UBS) e a consulta no ambulatório de especialidade; solicitação de exames pelo médico da UBS; tipo de orientação recebida do médico da UBS; realização de tratamento prévio, subdividido em sim e não; tipo e tempo de tratamento realizado; maneira como percebeu seu acolhimento no serviço de origem e no atual, categorizada em muito boa, boa, regular e ruim.

A análise estatística utilizou o software SAS, versão 9.02; as variáveis nominais serão apresentadas pela frequência absoluta e relativa, e as variáveis intervalares por médias e desvios padrões.

RESULTADOS Todas as 26 pacientes incluídas no estudo foram encaminhadas das Unidades Básicas de Saúde. A média etária foi de 57,6 anos, sendo a maioria delas (84,6%) de cor branca; aproximadamente metade das participantes convivia com parceiro, possuindo religião católica e apresentavam baixo grau de escolaridade (Tabela 1). As pacientes tiveram média de 5,1 gestações, sendo a maioria de partos vaginais (76,9%) e sem episiotomia (73,9%). A idade média de menopausa foi de 46,2 anos, e a maioria (86,4%) referiu não fazer uso de terapia de reposição hormonal. Considerando a frequência da queixa, a maioria apresentava perda urinária diária. No que diz respeito à quantidade de perda urinária, metade das pacientes

Percepção das pacientes do Ambulatório de Uroginecologia quanto ao acolhimento e à abordagem terapêutica conservadora na incontinência urinária

Tabela 1. Características sociodemográficas das pacientes (n = 26) Característica Cor Branca Negra Parda Escolaridade Analfabeto Fundamental incompleto Fundamental completo Médio completo

n   22 2 2   3 19 3 1

%   84,6 7,7 7,7 11,5 73,1 11,5 3,8

referiu perda em grande quantidade e a outra metade referiu perda em pequena quantidade (Figura 1). Quanto ao tipo de incontinência, mais da metade (69,2%) apresentava queixa de IUM, ou seja, de esforço, sendo a grande maioria aos pequenos e médios esforços, e urgeincontinência. Enurese noturna foi referida por apenas um terço, da mesma forma que a noctúria (Tabela 2). A minoria (23,1%) não havia procurado atendimento médico pela queixa de incontinência, e a maior parte das pacientes considerou a perda urinária um grande problema (53,8%) ou sentindo-se muito aborrecida (38,5%). Em relação ao tipo de tratamento que as pacientes esperavam receber, elas se dividiram quase do mesmo modo entre os três tipos de tratamento: medicamentoso (34,6%), fisioterápico (23,1%) e cirúrgico (34,6%). 80,00% 69,20% 70,00% 60,00% 50% 50,00% 26,90% 40,00% 19,20% 30,00% 23,10% 3,80% 20,00% 7,70% 10,00% 0,00% Quantidade de Frequência de perda urinária perda urinária

pequena moderada grande menos 1x/mês 1x ou +/mês 1x ou +/sem diária

Figura 1. Distribuição porcentual das pacientes segundo a quantidade e a frequência da perda urinária Tabela 2. Distribuição percentual das pacientes segundo o tipo de perda urinária Tipo de perda urinária Perda aos esforços Sim Não Tipo de esforço Pequenos Médios Grandes Urge-incontinência Sim Não Enurese noturna Sim Não

n   18 8

%   69,2 30,8

15 10 1

57,7 38,5 3,8

18 8

69,2 30,8

7 19

30,4 69,6

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Essas porcentagens diferem do que realmente foi proposto pela equipe médica como tratamento. De fato, menos de um terço teve indicação cirúrgica; dois terços foram tratadas com medicamentos, e a fisioterapia foi indicada para mais da metade das pacientes (Figura 2). (70,0%)

(65,4)

(60,0%)

(53,8)

(50,0%) (40,0%)

(34,6)

(34,6)

(30,0%)

(23,1)

(20,0%)

(26,9) (19,2)

(10,0%) (0,0%)

(3,8) Medicamentos Fisioterapia Cirurgia Não Sabe Tratamento esperado pela paciente Tratamento sugerido

Figura 2. Comparação entre o tipo de tratamento esperado pelas pacientes e o proposto pelo serviço

Apesar das divergências entre a expectativa das pacientes em relação a como seria o tratamento, e aquele proposto pela equipe multidisciplinar, a maioria das pacientes manifestou satisfação com o atendimento. Observou-se que a totalidade referiu suas dúvidas respondidas, bem como a maioria sentiu-se à vontade e segura durante a consulta, e achou que teria seu problema resolvido no serviço (Figura 3).

(100,0%) (90,0%) (80,0%) (70,0%) (60,0%) (50,0%) (40,0%) (30,0%) (20,0%) (10,0%) (0,0%)

(100,0)(96,2) (65,4)

Respondeu as dúvidas Entendimento pela PCT Conduta ajudaria a resolver o problema Expectativas foram atendidas

(76,9)

(11,5) (3,8) (3,8) (0,0) Sim

Parcialmente

(23,1) (19,2) (0,0) (0,0) Não

Figura 3. Distribuição das pacientes segundo o grau de satisfação pelo atendimento recebido e a expectativa quanto ao tratamento

DISCUSSÃO Diversas medidas têm sido usadas para determinar a gravidade da IU em diferentes estudos(13). Assim como o presente estudo, alguns autores utilizaram um índice de severidade validado, em que se leva em consideração a frequência e a quantidade da perda. Esses autores definem como incontinência significante aquela em que as mulheres apresentam incontinência moderada e severa, einstein. 2009; 7(3 Pt 1):328-33

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segundo o índice de gravidade, e que ao mesmo tempo sentem-se aborrecidas com sua condição. Os resultados do atual estudo concordam com os dados da literatura, na qual a maioria das pacientes apresentou frequência diária e perda em grande quantidade. Tal fato já era esperado, considerando que todas as pacientes foram encaminhadas por ginecologistas das UBS para um serviço especializado. Em relação ao tipo de incontinência, observa-se que a maioria das pacientes apresentava queixa de IUM, ou seja, de esforço e urge-incontinência, sendo a grande maioria aos pequenos e médios esforços. Contrários aos nossos achados, dados prévios da literatura encontraram IUM em apenas um terço de suas pacientes(1316) . Acredita-se que os sintomas de urge-incontinência e IUM parecem associar-se com o aumento de grau de severidade e aborrecimento, quando comparados aos sintomas de apenas incontinência aos esforços. Porém, dados prévios de nosso serviço sugerem que uma história clínica detalhada permite identificar de forma mais clara o tipo de queixa de perda urinária. Da mesma forma, ao se interrogar objetivamente sobre o impacto da queixa na vida das pacientes, observa-se que a maior parte considerou a perda urinária um grande problema, sentindo-se muito aborrecidas pela queixa. Também foi afirmado em outros estudos(17) que alguns tópicos da anamnese, quando analisados com critério, permitem que o ginecologista se oriente para um diagnóstico e conduta bem próximos do ideal. Quando analisada a expectativa quanto ao tipo de tratamento, notou-se que as pacientes foram divididas semelhantemente em relação aos tipos de tratamento medicamentoso, fisioterápico e cirúrgico. Em um primeiro momento, isso pode parecer inédito, tendo em vista que muitos autores ainda acreditam ser o tratamento cirúrgico o primeiro em termos de sucesso(18-19) e, consequentemente, transmitam essa ideia para as pacientes. Por outro lado, há mais de uma década o tratamento conservador já foi apontado como o primeiro recurso a ser utilizado nas diferentes formas da IU(20). Explicando os resultados observados em nosso trabalho em relação ao tipo de tratamento indicado, no qual apenas um terço das pacientes teve indicação cirúrgica, sendo em sua maior parte indicado pelo serviço o tratamento conservador em primeira escolha. Ao analisarmos a percepção e satisfação das pacientes em relação ao atendimento recebido, observou-se que todas elas tiveram suas dúvidas respondidas, bem como a maioria sentiu-se à vontade e segura durante a consulta, achando que teria seu problema resolvido no serviço. Posteriormente, uma baixa porcentagem de pacientes não tiveram suas expectativas atendidas devido a não eficácia de algum dos tratamentos. Este fato não se repete com frequência quando procuramos na literaeinstein. 2009; 7(3 Pt 1):328-33

tura dados referentes à adesão das pacientes ao tratamento conservador. Segundo van den Muijsenbergh e Lagro-Janssen, todas as mulheres submetidas à fisioterapia interrompiam o tratamento, pois não entendiam a razão de fazer os exercícios; não faziam os exercícios regularmente ou desistiram por não sentirem efeito benéfico. Algumas dessas mulheres referiam não sentir que o ginecologista estava valorizando devidamente seu problema, entretanto a maioria disse ter entendido as explicações de seus médicos(21).

CONCLUSÕES Com os dados obtidos neste estudo, concluímos que há uma discrepância entre a ideia que a paciente tem em relação ao seu tratamento, e aquele que de fato será proposto. Observamos também que, apesar desta divergência entre a expectativa e o tratamento, o acolhimento multiprofissional qualificado resulta em bons índices de satisfação da paciente em relação ao seu atendimento, ao entendimento em relação ao problema de saúde e à expectativa de tratamento. REFERÊNCIAS 1. Abrams P, Cardozo L, Fall M, Griffiths D, Rosier P, Ulmstein U, et. al. The standardization of terminology in lower urinary tract function: report from the Standardisation Sub-commitee of the International Continence Society. Neurourol Urodyn. 2002;21(2):167-78. 2. Guarisi T, Pinto Neto AM, Pedro AO, Osis MJ, Faúndes A, Costa-Paiva LHS. Procura de serviço médico por mulheres com incontinência urinária. Rev Bras Ginecol Obstet. 2001;23(7):439-43. 3. Dugan E, Cohen SJ, Bland DR, Preisser JS, Davis CC, Suggs PK, McGann P. The association of depressive syntoms and urinary incontinence among older adults. J Am Geriatr Soc. 2000;48(4):413-6. 4. Papanicolaou S, Hunskaar S, Lose G, Sykes D. Assessment of bothersomeness and impact on quality of life of urinary incontinence in women in France, Germany, Spain and the UK. BJU Int. 2005;96(6):831-8. 5. Chiarelli P, Brown W, McElduff P. Leaking urine: prevalence and associated factors in Australian women. Neurourol Urodyn. 1999;18(6):567-77. 6. Ushiroyama T, Ikeda A, Ueki M. Prevalence, incidence, and awareness in the treatment of menopausal urinary incontinence. Maturitas. 1999;33(2): 127-32. 7. Moreira ECH, Yasuda EK, Kimura FR. Tratamento cirúrgico e conservador da incontinência urinária de esforço. Fisioter Mov. 2001;13(1):9-14. 8. Ferreira GC, Freitas, NH, Rodrigues Netto M, Cortado P, Rodrigues Netto Júnior, N. Estudo Urodinâmico é importante na avaliação da mulher com queixa de incontinência urinária? Rev Bras Ginecol Obstet. 2001;24(1):1-10. 9. Paiva EM, Oliveira DA, Flister CER, Miguel Filho DC, Machado LV. Incontinência urinária na mulher: etiologia e tratamento. Rev Med Minas Gerais. 1995;5(3):175-9. 10. Balmforth JR, Mantle J, Bidmead J, Cardozo L. A prospective observational trial of pelvic floor muscle training for female stress urinary incontinence. BJU Int. 2006;98(4):811-7. 11. Rett MT, Simões JA, Herrmann V, Gurgel MSC, Morais SS. Qualidade de vida de mulheres após tratamento de incontinência urinária de esforço com fisioterapia. Rev Bras Ginec. Obstet. 2007;29(3):134-40.

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