Percursos De Identificação E Reconhecimento Do Valor Cognitivo E Afetivo Do Plh: Implicações Éticas, Teóricas E Metodológicas

June 4, 2017 | Autor: K. De Abreu Chulata | Categoria: Languages and Linguistics, Cultural Heritage, Didática do PLH
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Português como Língua de Herança Discursos e percursos

Katia de Abreu Chulata [Org.]

Português como Língua de Herança Discursos e percursos

Conselho Científico Roberval Teixeira e Silva Universidade de Macau Nilma Dominique MIT Marli Quadros Leite Universidade de São Paulo Gláucia V. Silva University of Massachusetts-Dartmouth Madalena Teixeira Politécnico de Santarém, Portugal Maria João Marçalo Universidade de Évora Saulo César Paulino Universidade de São Paulo/Universidade Sumaré Renata Barbosa Vicente Universidade Federal Rural de Pernambuco Tang Sijuan Universidade de Estudos Estrangeiros de Sichuan - SISU Maria Antónia Espadinha Universidade São José - Macau

ISBN volume 978-88-6760-312-1

2015 © Pensa MultiMedia Editore s.r.l. 73100 Lecce • Via Arturo Maria Caprioli, 8 • Tel. 0832.230435 25038 Rovato (BS) • Via Cesare Cantù, 25 • Tel. 030.5310994 www.pensamultimedia.it • [email protected]

SUMÁRIO

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Apresentação Percursos de identificação e reconhecimento do valor cognitivo e afetivo do PLH: implicações éticas, teóricas e metodológicas Katia de Abreu Chulata

Primeira parte Caminhos discursivos na reflexão sobre PLH 17 35 59 79

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I. Língua de Herança: por uma política pública justa Maria Célia Lima-Hernandes e Karina Viana Ciocchi-Sassi II. As Línguas de Herança no contexto finlandês – o caso do português na área metropolitana de Helsínquia Jarna Piippo III. A Língua de Herança na fronteira Portugal x Espanha Elisangela Baptista de Godoy Sartin IV. Ensino e formação de professores de português como Língua de Herança (PLH): revisitando ideias, projetando ações Edleise Mendes V. A musicalização: um meio para o ensino e desenvolvimento do português como Língua de Herança Felicia Jennings-Winterle VI. Conteúdos de PLH Ivian Destro VII. Comunidade de fala brasileira em Pescara (Itália): constituição, autoaceitação e hibridismo Katia de Abreu Chulata VIII. Uma contribuição da descrição gramatical para o ensino do português brasileiro em contexto de herança: usos do verbo ter em construção suporte Vânia Cristina Casseb-Galvão IX. À procura da Língua de Herança Maria José Grosso 5

Segunda parte Iniciativas de promoção e manutenção do PLH 183

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I. Línguas de Herança dos migrantes da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa em Itália: projetos para uma continuidade cultural Mariagrazia Russo II. O cuidado com a Língua de Herança Felicia Jennings-Winterle III. 1, 2, 3 Vamos Falar Português Beatriz Cariello IV. Educação e cultura brasileira para falantes de herança na região de VA, MD e DC Ana Lúcia Lico V. Português como Língua de Herança. A experiência do IBEC em São Francisco, CA Valeria Sasser VI. O Ensino de Português como Língua de Herança Arlete Falkowski Biodata

APRESENTAÇÃO PERCURSOS DE IDENTIFICAÇÃO E RECONHECIMENTO DO VALOR COGNITIVO E AFETIVO DO PLH: IMPLICAÇÕES ÉTICAS, TEÓRICAS E METODOLÓGICAS Katia de Abreu Chulata Università degli Studi “G. d’Annunzio”, Chieti-Pescara (Itália) Identificar uma problemática didática e pedagógica, que é sempre teórica e prática (teórico-prática), requer reflexão sobre os paradigmas adquiridos no próprio âmbito de experiência. Professores e formadores da área da Linguística têm, geralmente, uma formação humanística ampla que sempre os auxiliou a refletir de maneira interdisciplinar, já em tempos em que ainda não se discutia, de maneira tão insistente, sobre interdisciplinaridade. Assim, a reflexão sobre a própria prática em âmbito pedagógico (mas também em outros âmbitos!), colocando em discussão as certezas perpetuadas pelas várias orientações teóricas, pode provocar mudanças em realidades escolares e em comunidades que apresentem deficiências e potencialidades escondidas ou não reconhecidas. Em estudo publicado nos anais do I Simelp (Simpósio Mundial de Estudos de Língua portuguesa, São Paulo, 2008) e numa publicação italiana, apresentei considerações sobre o patrimônio linguístico e cultural de crianças brasileiras adotadas na Itália, já abordando o seu “empobrecimento” linguístico e cultural, pois, inevitavelmente na maioria dos casos, perdem a Língua de Herança1. Naqueles textos, porém, ainda não utilizava a designação LH

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Respectivamente: Mediação Lingüística e Cultural: estudo de caso. In Lima-Hernandes, M.C.; Marçalo, M.J.; Micheletti, G.; de Rossi Martin, V.L. (Orgs.), A lín-

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(Língua de Herança). Essa “substituição” linguística aparente, isto é, o esquecimento da língua materna para aprender a língua estrangeira, reflete violências de tipo institucional. A escola, as Instituições que regulam as adoções e as próprias comunidades de acolhimento têm tendências dominantes em relação à língua e às práticas culturais dos acolhidos. O apagamento da memória e o corte das raízes linguísticas e culturais parecem ser o preço a ser pago pelos migrantes em geral para que tenham a completa aceitação por parte das comunidades dos países que acolhem, dos professores que ensinam a e na “nova” língua, dos “novos” pais que educam os filhos adotados como se estes pudessem nascer pela segunda vez no ventre e no seio da nova família e da nova pátria. A Língua de Herança, em determinados contextos, é uma voz sufocada, um grito engolido perante a obrigação de integração no país estrangeiro. As diferentes situações de migração requerem diferentes ações de intervenção política, pedagógica e cívica. Com a intenção de contribuir para o debate sobre o Português como Língua de Herança, as autoras deste livro analisam a situação do Português como Língua de Herança em diferentes pátrias de acolhimento, em diferentes situações de migração, em diferentes contextos de política linguística. Enfim, relatam experiências e propostas concretas de mudança de paradigma e de ação de manutenção da Língua de Herança, levando em conta a realidade das mudanças que acontecem nos sujeitos e na língua que veiculam, no tempo, no espaço e em diferentes modalidades. A Primeira parte deste livro, Caminhos discursivos na reflexão sobre PLH, abre-se com a contribuição de Maria Célia Lima-Hernandes e Karina Viana Ciocchi-Sassi, cujo título Língua

gua portuguesa no mundo. FFLCH-USP, São Paulo: Editora da FFLCH, 2008; e La mediazione linguistica e culturale: uno studio di caso. In De Rosa & De Laurentiis (a cura di), Lingue policentriche a confronto: quando la periferia diventa centro, Polimetrica, Milano: 2009.

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de Herança: por uma política pública justa, indica as preocupações éticas das autoras. Elas selecionaram três seções específicas: a primeira, em que tratam de língua e de sua relação com uma invenção humana chamada herança; a segunda, em que discutem o papel das necessidades e vontades, tendo em vista a mediação de políticas linguísticas; para, em terceiro lugar, tratarem do cuidado à identidade nacional e de suas implicações para o acesso a heranças culturais, via engajamento social de indivíduos. Baseado num estudo de caso sobre o ensino de espanhol e de português como línguas maternas no ensino básico da área metropolitana de Helsínquia, apresenta-se a contribuição de Jarna Piippo, As línguas de herança no contexto finlandês – o caso do português na área metropolitana de Helsínquia. A autora, primeiramente, descreve o estatuto do ensino da língua de herança a nível nacional e municipal para, em seguida, apresentar dois inquéritos diferentes: sobre as Divisões de Educação municipais e sobre as práticas dos professores, evidenciando alguns pontos cruciais para a organização do ensino e para a formação dos professores. Destaca, principalmente, o aproveitamento dos recursos tecnológicos e do repertório plurilíngue dos alunos. Conclui sua contribuição apresentando algumas estatísticas gerais e resultados de um inquérito dirigido aos pais dos alunos sobre o uso, a proficiência e as atitudes linguísticas de crianças e jovens, com finalidades de conscientização da comunidade linguística estudada. O texto A língua de herança na fronteira Portugal x Espanha, de Elisangela Baptista de Godoy Sartin, discute as formações linguísticas de língua portuguesa sobreviventes em Olivença, território fronteiriço a Portugal, que hoje pertence à Espanha. Segundo a autora, a relevância de discutir um tema como esse reside no fato de que nem sempre coincidem duas realidades em regiões de fronteira: a realidade da oficialidade linguística e a realidade do sentimento de pertença sociolinguística divergem. Foram o reconhecimento da presença da língua portuguesa em um território de língua oficial espanhola e a identificação de sentimentos de pertença um tanto desencontrados com a lógica oficial a verdadeira 9

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motivação da realização do estudo que deu origem ao seu artigo, aqui apresentado. A ideia de língua como um dos componentes mais importantes para a marca da etnicidade leva a autora à equação: “quanto mais preservadas as marcas de uma língua de herança, maior o sentimento de pertença a um grupo minoritário dentro de uma sociedade majoritária”. As preocupações de Edleise Mendes no capítulo intitulado Ensino e formação de professores de Português como Língua de Herança (PLH): revisitando ideias, projetando ações, refletem sua experiência na área de formação de professores de PLH e de produção de material didático para brasileirinhos no exterior. A autora, a partir da discussão de alguns princípios e conceitos relevantes para a área, traça uma ideia provisória do que seja uma línguacultura de herança para, em seguida, apontar algumas orientações e caminhos para o desenvolvimento das duas perspectivas de ação que toma como foco, ou seja, a formação de professores e a produção de materiais didáticos para o ensino-aprendizagem de PLH. A música sempre esteve presente nas práticas didáticas, principalmente, naquelas linguísticas. Felicia Jennings-Winterle nos apresenta um estudo sobre a musicalização no ensino de PLH. Seu texto, A musicalização: um meio para o ensino e desenvolvimento do Português como Língua de Herança, passa a limpo o tema da Língua de Herança, no específico à língua dos brasileiros. Debate a musicalização na didática, demonstrando como essa prática se insere no panorama atual do PLH, definindo seus conceitos, suas formas pedagógicas e suas implicações no que diz respeito ao desenvolvimento de uma língua-cultura. No capítulo intitulado Conteúdos de PLH, Ivian Destro, com experiência de PLH no sul da Flórida, discute como escolas comunitárias de Língua de Herança, que oferecem encontros regulares a crianças e a jovens falantes de Português como Língua de Herança, podem selecionar conteúdos para suas atividades. Superando o debate teórico, a autora discute sobre os possíveis conteúdos a serem selecionados para a prática didática do PLH de maneira contrastiva com diferentes práticas didáticas. 10

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Na tentativa de traçar possíveis perfis dentro de uma comunidade de brasileiros residentes na cidade de Pescara, na Itália, Katia de Abreu Chulata apresenta seu texto Comunidade de fala brasileira em Pescara (Itália): constituição, autoaceitação e hibridismo, descrevendo essa comunidade a partir de pesquisa etnográfica. A autora analisa, com base em uma primeira investigação, as dificuldades de autoaceitação dos componentes daquela comunidade e algumas das manifestações linguísticas próprias da falta de manutenção da Língua de Herança. Vânia Cristina Casseb-Galvão, a partir de pressupostos descritivistas e funcionalistas, defende a tese de que uma gramática descritivista possa cooperar para a formação identitária e linguística dos usuários das línguas. Assim, no seu texto Uma contribuição da descrição gramatical para o ensino do português brasileiro em contexto de herança: usos do verbo ter em construção suporte, a autora defende que os estudos linguísticos realizados nesse âmbito colaboram para a manutenção do PLH e descreve uma pesquisa sobre as construções com verbo suporte, típicas da língua falada do PB. A partir de sua experiência didática e de pesquisa, Maria José Grosso desenvolve, no texto À procura da língua de herança, uma discussão sobre a problematização conceitual das funções da língua portuguesa, em contextos diferentes de aprendizagem ou contato. A autora nos mostra que nem sempre há uma coincidência entre a terminologia empregada pelos linguistas para rótulos como língua estrangeira e língua segunda. A partir da descrição de alguns estudos de caso, Maria José Grosso indica que a língua de herança pode ser também um rótulo problemático em comunidades multiculturais, estudando a fundo a língua de herança no contexto da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM). Dedicamos a Segunda parte deste livro às Iniciativas de promoção e manutenção do PLH. Tal espaço é inaugurado por Mariagrazia Russo, professora italiana de português, que analisa, no seu Línguas de herança dos migrantes da Comunidade dos Países de 11

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Língua Portuguesa em Itália: projetos para uma continuidade cultural, a questão da Língua de Herança na Itália, no específico a língua portuguesa em todas as suas variedades, português de Portugal, português brasileiro, português dos países africanos e asiáticos, incluindo os seus crioulos. No seu estudo, a autora nos evidencia a amplitude do fenômeno migratório para a Itália de habitantes dos países de língua portuguesa, assim como a normativa relacionada com o apoio às línguas de continuidade com as originárias e as necessidades de ativação de uma política educativa dentro do ensino, com meios didáticos e profissionais para um adequado sistema de integração formativa no currículo escolar. Com uma segunda contribuição neste livro, Felicia JenningsWinterle conta a fascinante experiência da Brasil em Mente (BEM) organização cultural sem fins lucrativos, fundada em 2009, em Nova Iorque, cuja missão é promover e incentivar a língua e a cultura do Brasil entre as famílias multiculturais que vivem no exterior. Seu texto O cuidado com a Língua de Herança vai nos revelar, também, a história da escolha da data da comemoração do PLH. Um título que lembra uma prática didática, 1, 2, 3 Vamos Falar Português, de Beatriz Cariello, nos dá bem a ideia da iniciação, da vontade de pegar pela mão e acompanhar crianças e adolescentes brasileiros que vivem fora do Brasil, promovendo a língua e a cultura brasileiras. Este é o caso da iniciativa Vamos Falar Português (VFP), criada em 2004, com sede no Sul da Flórida, a qual conta com o apoio de educadores, psicólogos, empresários, instituições parceiras e voluntários. Continuando com o relato de experiências e iniciativas para a promoção do PLH, com o texto Educação e cultura brasileira para falantes de herança na região de VA, MD e DC, Ana Lúcia Lico relata a experiência da ABRACE. Essa associação, afirma a autora, tem como orientação preservar e promover ações de educação e de integração cultural e social da comunidade brasileira, para favorecer o fortalecimento de sua identidade e efetiva atuação nos Estados Unidos. Com programas educativos e culturais, voltados para crianças, famílias e professores, a ABRACE 12

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tem o objetivo de estreitar a ligação entre Brasil e Estados Unidos, para formar comunidades fortes, participativas e que tenham orgulho de suas raízes. Além disso, Ana Lúcia Lico informa que essa associação tenta estabelecer conexões entre as Instituições Governamentais dos dois países. Português como Língua de Herança. A experiência do IBEC em São Francisco, CA é o texto com que Valeria Sasser nos conta sobre a experiência do Instituto Brasil de Educação e Cultura, nos Estados Unidos. Em uma inciativa pioneira, afirma a autora, membros da comunidade se reuniram para criar, planejar e operacionalizar aulas formais de Português como Língua de Herança com alto padrão de qualidade e comprometimento, pela primeira vez na Grande São Francisco, Califórnia, CA. Enfim, falando ainda de experiências de associações que promovem o PLH nos Estados Unidos, Arlete Falkowski testemunha o trabalho com o PLH através de seu texto O Ensino de Português como Língua de Herança: o caso da Fundação Movimento Educacionistas dos EUA, refletindo sobre as necessidades advindas dos fluxos migratórios do Brasil para os Estados Unidos. Nesse contexto, a autora sublinha o papel da Fundação Movimento Educacionistas na manutenção do PLH e suas conexões com outras fundações e instituições na promoção de manifestações que divulguem e incentivem o encontro e a reflexão, realizando eventos diversos. Concluindo, meu desejo é que este livro, como uma jangada, possa representar uma oportunidade de viagem pelas heranças culturais dispersas pelo mundo. Boa viagem!

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Primeira parte

Caminhos discursivos na reflexão sobre PLH

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