PEREIRA, Lucas C. S. A. A prostituição e o espaço público: educação das sensibilidades em jornais belorizontinos (1920-1930). VII Seminário Nacional do CMU - UNICAMP, 2011.

June 5, 2017 | Autor: Lucas Pereira | Categoria: History of Prostitution, Police and Policing, Historia De Las Sensibilidades
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12 A prostituição e o espaço público: educação das sensibilidades em jornais belorizontinos (1920-1930) Lucas Carvalho Soares de Aguiar Pereira1 Resumo: Neste trabalho busca-se cotejar diferentes narrativas a respeito da prostituição na cidade de Belo Horizonte, produzidos nas décadas de 1920 e 1930. Esse exercício se propõe a refletir sobre a autoridade de determinados grupos em legitimar as memórias coletivas, naturalizando e reforçando as diferenças morais e sociais. Toma-se os jornais como organizações capazes de propor prescrições sociais e culturais, possuindo papel de destaque na formação das sensibilidades dos sujeitos. Os indícios de diferenciação moral das mulheres, encontrados em jornais do período, nos permitem ler as relações que determinados grupos mantiveram com a questão da moralidade no espaço público e com a organização do meretrício na cidade. Essa leitura revela uma tensão entre os projetos de modernidade, expressão de uma luta pela educação das sensibilidades dos indivíduos num momento de intensa transformação urbana na capital mineira. Dessa forma, busca-se compreender a relação dessas narrativas com o imaginário coletivo sobre a prostituição na cidade, em especial sobre a rua Guaicurus que, paradoxalmente, possui lugar de destaque na memória coletiva da cidade. Palavras-chave: Educação das sensibilidades; periódicos; espaço público e prostituição. As coisas não estão no espaço, leitor; as coisas estão é no tempo. Há nelas ilusória permanência de forma, que esconde uma desagregação constante, ainda que infinitesimal. Mas não me refiro à perda da matéria, no domínio físico, e quero apenas dizer-lhe que, assim como a matéria se esvai, algo se desprende da coisa, a cada instante: é o espírito cotidiano, que lhe configura a imagem no tempo, pois lhe foge, cada dia, para dar lugar a um novo espírito que dela emerge. Esse espírito sutil representa a coisa, no momento preciso em que com ela nos comunicamos. Em vão o procuramos depois: só veremos outro, que nos é estranho. Na verdade, as coisas estão é no tempo, e o tempo está é dentro de nós. A essência das coisas, em certa manhã de abril, no ano de 1910, ou em determinada noite primaveril, doce, inesquecível noite, fugiu nas asas do tempo e só devemos buscá-la na duração do nosso espírito. Cyro dos Anjos Há tantas maneiras de representar o espaço quanto sejam os grupos Halbwachs

Memória e cidade. Categorias e fenômenos que se cruzam e que permeiam diversos âmbitos das atividades humanas. Cyro dos Anjos, em seu primeiro romance, nos convidou a refletir sobre os espaços em que vivemos, deslocando “as coisas” de sua condição espacial para sua condição temporal. Mas, se os espaços não conseguem conservar completamente as experiências de homens e mulheres, é bem possível que o tempo também as dissipe, ou as torne opacas. Assim, se devemos buscar as coisas “na duração do espírito”, creio que isso se daria na medida em que atentamos para as relações que nossos corpos travam com os espaços ao longo do tempo. E, sobretudo, compreendendo que essas relações se constituem por um “lastro comunitário”, pelo desenvolvimento de uma dada sensibilidade a partir de uma “práxis coletiva” (HALBWACHS, 1990). Dessa maneira, as experiências coletivas em uma dada configuração espacial podem ser objeto de reflexão da história da educação, uma vez que nos permite indagar os processos de elaboração de uma educação das sensibilidades e dos sentidos, observando o cotidiano e as formas de diferenciação social e moral que se estabeleceram em um dado momento.2 Esse texto propõe uma reflexão sobre as formas de compreender e classificar os comportamentos femininos no espaço público da cidade de Belo Horizonte ao longo das décadas de 1920 e 1930, com ênfase para as preocupações difundidas a respeito das meretrizes da capital. Observo esse processo a partir de narrativas publicadas em jornais, que são, além de um veículo de circulação de ideias e representações, agentes ativos na formação de sensibilidades (MOREL e BARROS, 2003: 9). Defendo a existência de uma relação desse processo de diferenciação com a formação

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Mestrando da linha de História da Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação: conhecimento e inclusão social da UFMG, Bolsista CNPq. 2 A noção de espaço utilizada ao longo do texto refere-se tanto ao espaço urbano, quanto ao espaço social, na perspectiva de Bourdieu (1997: 156-161).

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de um imaginário social sobre os espaços identificados com a prática da prostituição. Esse imaginário participa do processo de conformação de uma cartografia dos prazeres, em que se representam itinerários da devassidão, do prazer e da decadência, presentes na memória coletiva da cidade e em escritos de memorialistas. Os jornais ao se referirem ao meretrício apresentavam uma prática e um espaço que precisavam ser organizados e educados. A falta de educação moral dos indivíduos é um tema que se aglutina em diversas notícias, bem como a necessidade de se diferenciar social e moralmente as atitudes das mulheres no espaço público. Na capital mineira, desde suas décadas iniciais, a imprensa surgiu como agregadora de grupos sociais, que demarcavam seus lugares no espaço urbano da cidade. A imprensa assumiu um caráter de potencializador de desejos, de criação de identidades, de interesses comuns entre grupos distintos que formavam a população daquela jovem cidade (CASTRO, 1997: 32). A partir da década de 1920, os textos de plataformas políticas e de criações literárias passaram a dividir espaço, cada vez mais, com os acontecimentos cotidianos, com os fait divers (ANTUNES, 1995: 109-115). Demandas sociais a respeito do uso do espaço urbano foram incorporadas pelos jornais e desde a década de 1910 havia campanhas pela moralização do espaço público (ANDRADE, 1987: 35). Acompanhemos de perto, então, algumas narrativas que dizem respeito à questão feminina em relação ao espaço público, enfatizando, em seguida os relatos sobre as meretrizes. O tenente João Baptista, o Terror dos desocupados do Barro Preto, Barroca e Pedreira Prado Lopes, organizou ontem mais uma de suas ‘canoas’, sendo, em resultado, apresentados ao delegado da comarca as seguintes vagabundas, encontradas no Barro Preto: Regina Lopes, Margarida A[nn]a Wilson, Maria Teixeira, Juventina dos Santos, Maria de Souza, Laurinda Ramos de Oliveira, Maria Domingas e Anna Gomes. Emprego ou xadrez foi a intimação que lhes fez o delegado. Com exceção da última, todas preferiram o xadrez. (DM 24/01/1920: 2)

O Diário de Minas, jornal do Partido Republicano Mineiro, apesar de seu caráter oficioso, apresentava em suas páginas, eventualmente, notícias policiais, bem como os fait divers. Na nota acima somos introduzidos a uma preocupação importante a respeito da circulação de mulheres no espaço público: a relação que elas mantinham com o trabalho lícito. Muitas mulheres em Minas Gerais, como argumenta parte da historiografia, encontraram na rua, em diferentes momentos da história, e desde o século XVIII, o espaço de suas atividades econômicas, sociais, culturais e, eventualmente, políticas – no sentido lato (FIGUEIREDO, 1993; NASCIMENTO, 2006). Ainda assim, permanece na memória coletiva a afirmação da interdição do espaço da rua para as mulheres, no período estudado. É possível que as afirmações sobre a “libertação das mulheres” ou “a saída das mulheres às ruas”, datadas frequentemente na década de 1920 (RAGO, 1991), tenham relações com as posições sociais das mulheres que protagonizam essas memórias e histórias, tratando-se, nesse caso de mulheres das “classes médias” – para usar uma expressão genérica. Mas a permanência do discurso da interdição também pode ser explicada pelas reiteradas cobranças e manifestações vigilantes dos comportamentos morais da mulher no espaço público, não só em Belo Horizonte, mas a nível nacional, para não dizer global. Contudo, diferentemente do que se apresenta como algo dado, compreendo que as interdições às mulheres no espaço público são parte de um processo de luta pela diferenciação social dos “tipos” femininos, pautado eminentemente por argumentos de ordem moral. A “mulher reclusa” soaria, então, mais como um aspecto feminino a ser defendido por determinados grupos sociais, do que uma “condição” feminina tout court. Essa afirmação é corroborada pelos estudos feministas, que não permitem conceber a existência de uma única condição feminina, que varia de acordo com classe, geração e etnia (PEDRO e GROSSI, 1998). Mas também pela própria decisão das mulheres, como as detidas pelo tenente João Baptista, que, com exceção de uma, preferiram permanecer detidas –

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ainda que por um pequeno período de tempo, como costume no período – a submeter-se a um trabalho formal. Evidenciando, assim, uma variedade de mulheres, meretrizes ou não, ocupando os espaços da capital mineira. Todavia, esse processo evidencia, também, tensões quanto às formas de diferentes mulheres se comportarem nos espaços públicos da capital. Essas diferenças foram realçadas em colunas sociais que expressavam a condição feminina ideal, para as “mulheres honestas”, “elegantes”, em suma, para o que se chamava de “menina mineira”. O uso do pó de arroz é coisa muito delicada e que requer muito bom gosto e uma finura de educação que põe à prova de fogo a dama elegante. Quantas vezes tens sentido perfumes próprios de mulata endomingada junto de damas que se julgam de bom tom?! E por que tudo isto? - Porque Mme., para economizar dois ou três mil reis, compra um perfume ‘rastaquera’ e usa um pó de arroz que não convém absolutamente à sua posição social. Por isso mesmo, toda mulher bonita, que deseja conservar a sua beleza por longo tempo (…) Deve usar perfumes e pós de arroz de acordo com seu tipo, respeitando, sobretudo, a sua idade e a sua condição social. É simplesmente lamentável que uma menina mineira, e, por conseguinte, de bons princípios, tenha, logo ao deixar os bancos do Colégio Santa Maria, o mau gosto de usar perfumes picantes que não podem absolutamente despertar ideias de misticismo e de perfume. E é isto que acontece, às vezes! No entanto, as pessoas naturalmente finas usam perfumes discretos e delicados. (DM, 14/07/1920: 2)

Narrativas como esta – que evidenciava as distinções sociais, morais e étnicas entre as mulheres “finas” e as “rastaqueras” – compunham o esforço de uma educação sensível para um comportamento feminino específico. Esta educação buscava naturalizar sentidos e caracteres morais elevados como supostos de pertencimentos sociais, rebaixando condições étnicas e sociais a “falta” ou “defeito” moral. Mas a distinção pela hierarquização dos odores foi apenas um ponto do problema, que também se estendeu aos cabelos, às toilletes, às formas de caminhar e também à sexualidade e ao problema do vício e da virtude. O jornal Estado de Minas, nascido de uma ansiedade de “renovar” e dinamizar a produção jornalística na cidade (ANTUNES, 1995 133), publicou desde seus primeiros números os fait divers e uma coluna policial diária. Esta coluna manteve uma periodicidade sólida de 1928 até 1930, quando perdeu importância para as políticas editoriais do jornal, retornando vez ou outra às suas páginas. Nelas encontramos, com mais frequência, notícias a respeito da ação policial na cidade e que veicularam representações sociais sobre as meretrizes. Ao longo da década de 1920 e na primeira metade da década de 1930, momento de inflexão na organização policial e da relação da polícia com o meretrício, foram publicadas diversas cenas de suicídios e tentativas de suicídios, como a que se segue. TENTOU SUICIDAR COM PERMANGANATO Entre as pobres mulheres atiradas ao vício nesta Capital são frequentes os gostos trágicos das desiludidas da vida. Ainda ontem, às 19 horas, Maria Candida tentou pôr termo à vida, na pensão de Maria Rodrigues de Oliveira, à rua Guaicurus 383 onde reside, ingerindo uma dose de permanganato. O guarda civil n. 47, de serviço no local, transportou a tresloucada para a Santa Casa, em estado grave. (EM, 20-03-1929: 6)

De maneira geral as meretrizes eram entendidas como mulheres cujas vidas, muitas vezes curtas, eram cheias de “desilusões”, “tragédias”, “infelicidades”, “misérias”, “amarguras” e “insanidades” ou “perda de juízo”. Maria Candida e outras foram representadas como mulheres, que num desatino, por desilusões amorosas ou problemas financeiros, preferiam tirar suas próprias vidas a permanecer na “desgraça”, sem esperança de serem salvas por seus amantes. Mas algumas vezes a coluna policial indicava que nem sempre as ações dessas meretrizes tiveram sucesso, evidenciando a solidariedade de colegas de “ofício”, de guardas civis, de populares ou donas de pensões para sua recuperação. Exceção feita à Olympia Vasques Garcia, que, segundo o jornal, não deu assistência a uma pensionista que tentou tirar sua própria vida após ser abandonada por seu “protetor”. A famosa Olympia, tendo em sua pensão uma criatura quase agonizante, [...] não só deixou de participar o caso

12 à polícia, como tentou mesmo ocultá-lo, consumindo os vidros [dos] entorpecentes [in]geridos pela jovem e rasgando uma carta que esta dirigiu às autoridades, explicando os “porquês” da sua sin[is]tra resolução.” (EM, 11-04-1929: 6).

Além dos casos de tentativas de suicídio, circularam também notícias relacionadas a crimes violentos, como assassinatos e os clássicos casos de “ofensas físicas”. As notícias ressaltavam o alcoolismo, as insurgências e insubmissões das mulheres ao sexo “másculo” e também carregavam as tintas no caráter “frio” de certas atitudes das mulheres. Os botequins que se instalavam na rua Guaicurus e adjacências (Av. do Comércio, Av. Oiapoque, R. Rio de Janeiro, R. São Paulo e Rua Espírito Santo) eram palcos de confusões constantemente representadas nas colunas policiais mantidas pelos jornais pesquisados. OS TRÊS MOSQUETEIROS DA RUA GUAICURUS - O restaurante “Os Três Mosqueteiros”, à esquina das ruas Guaicurus com S. Paulo, esteve ontem num dos seus dias de esplendor. Um ótimo, um excelente conflito, com todos os matadores, ali se registrou a noitinha, alegrando com o pitoresco de seus episódios os frequentadores, “blasés” do famoso e guerreiro botequim. Em resumo, eis o que houve:- a mundana Maria da Costa Affonso, bebeu demasiadamente e entrou em luta corporal com o seu companheiro Jorge Campos. Copos e garrafas pagaram o “pato’, estilhaçados nos encontrões dados pelos díspares antagonistas. Verificou-se o alarme habitual, gritos, apitos, faniquitos, nuvens de guardas civis, a carrocinha de presos e depois o silêncio do xadrez para o exclusivo casal. Noite boa... (EM 18 -07-1929: 6)

Além dessas cenas, que reforçavam a imagem de meretrizes como desordeiras e com problemas de consumo excessivo de álcool, também circularam nos jornais imagens de rancor, intrigas e desavenças entre as meretrizes. Uma notícia de um repórter sobre um conflito entre seis meretrizes no Cassino Capitólio, em 1929, traz um elemento interessante para se pensar. No meio do seu relato, logo após descrever as cenas da luta, o repórter afirmou entre parêntesis: “(classe desunida)” (EM, 26-01-1929: 6). Forjando, assim, ironicamente, as ideias de coletividade (classe) e competitividade (desunida) entre as meretrizes. Nesse movimento, o jornal construiu representações das meretrizes como mulheres que resolviam seus próprios problemas e que, sempre que preciso, lançavam mão da força física, como no caso a seguir. Imaginem o que passou a pobre Alzira. Três companheiras suas atacaram-na de uma só vez. E atacaram-na com fúria, a ponto de a deixar quase morta. Isto se deu na pensão da Carmem, à rua Guaicurus, ontem, às 18 horas, por motivo de discussões travadas entre elas, consequentes de velhas rixas. Izabel, Jovem e Geralda eram as adversárias de Alzira. A polícia soube do “sururu”. (DM, 08-05-1927: 3)

Os jornais publicaram também diversos casos de espancamentos de meretrizes por seus amantes, por guardas, soldados da Força Pública, protetores ou homens cujo vínculo com as mulheres agredidas não foram esclarecidos pelas notícias. Como o caso do “guarda 96” que “de serviço na rua Guaicurus, prendeu e levou à 2ª delegacia o indivíduo José de Freitas que espancava, por motivos que se ignora, a decaída Zilda Corrêa Freitas” (DM, 09-03-1927: 2). Essas notícias fizeram circular representações do espaço do chamado “baixo meretrício” como um lugar de “algazarras”, “sururus”, “quebra-paus” e “confusões”. Reforçando esse conjunto de representações, os espaços do meretrício foram, ainda, identificados como locais onde ocorriam furtos, “afanos” e trapaças. Em alguns casos o prejuízo era causado por uma “companheira” de pensão, em outros por amantes, mas também havia tensões entre inquilinas e donas de pensão. DANÇARINA MODERNISTA Baby Ledue, dançarina do Palacio Club, morava na pensão de Olympia Garcia, à avenida Oiapoque, 79. Uma noite dessas, ela saiu do quarto, trancou-o e desapareceu com a chave sem pagar duas diárias e o dinheiro adiantado para sua viagem do Rio até aqui. Olympia queixou-se à 2ª delegacia. (DM, 30-01-1927: 3)

As meretrizes, essas mulheres que enganavam, agrediam, gritavam, apanhavam, resolviam seus próprios problemas financeiros – mesmo que com um “calote” –, e que, às vezes, tentavam tirar suas próprias vidas, eram ainda mulheres que transgrediam a “moralidade pública”. Conceito bastante difundido e, talvez por isso, pouco explicado ou

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explicitado, a “moralidade pública” tornou-se, em diferentes momentos, bandeira para a relação da polícia com o meretrício na cidade. No final da década de 1920 algumas diretrizes foram criadas e uma delegacia de costumes, instalada em 1927, passou a realizar um serviço de registro das meretrizes – que parece ter durado somente um ano – e a formalizar prescrições para o comportamento das meretrizes no espaço público. A partir desse momento passei a encontrar nos jornais representações mais enfáticas de mulheres “insubmissas” em situações de repressão aos seus comportamentos. MULHER TERRÍVEL – o guarda n. 229, Newton Ramos, estando de serviço, ontem à noite, no cruzamento das ruas Guaicurus e Rio de Janeiro, prendeu na pensão da casa n. 372, da primeira das ditas ruas, a decaída Alice de Oliveira, por desrespeito ao Regulamento de Costumes. Alice reagiu a dentadas, ferindo aquele guarda, e mais os seus colegas n 370 e 203, que vieram em seu socorro. Finalmente, foi conduzida, na “viúva alegre” à delegacia do 2º distrito, onde ficou detida. (DM, 17-11-1928: 3)

Semelhante caso se deu quando um guarda surpreendeu duas mulheres, segundo o jornal, em atividade de seu ofício noturno em plena luz do dia. O guarda civil n. 128, prendeu e conduziu à delegacia do 2º distrito, no dia 5 do corrente, as “senhoritas” Angelina Maria de Jesus e Maira dos Anjos Pires, que, com a maior desfaçatez, entregavam-se, em pleno dia, a prática de atos indecentes no alpendre da pensão em que moram, à esquina das ruas Guaicurus com Rio de Janeiro. Ao serem presas, as mulheres prorromperam em doestos e insultos ao mantenedor da ordem, a quem por último ameaçaram de vingança, da proteção de pessoas altamente colocadas. A alegação de nada serviu e Maria e Angelina, dormiram no xadrez. (EM, 07-08-1928: 6)

Ora, nesses relatos somos introduzidos a comportamentos de insubmissão das meretrizes à moral e à autoridade policial, masculina. É possível que a “insubmissão” à autoridade masculina tenha concorrido importância maior nesses relatos, uma vez que naquele momento os guardas civis não dispunham de uma aceitação social ampla, ocorrendo não raro confusões entre guardas e pessoas abordadas. Além do mais, nas situações citadas acima, os guardas encontraram apoio jurídico nas resoluções da delegacia de costumes, procurando educar pela coerção, os corpos daquelas que ousavam “passar dos limites”. Minha pesquisa não conseguiu encontrar vestígios da relação entre as diretrizes da delegacia de costumes e as prisões por desrespeito. Mas é bem plausível que as prisões tenham se tornado um adicional nas relações de força entre guardas e meretrizes, não sendo necessariamente um indicador do enfrentamento consciente daquelas mulheres ou de suas insubmissões às arbitrariedades da delegacia de costumes. Contudo é interessante notar que as notícias que deram ênfase nos desrespeitos das mulheres ao ‘regulamento’ também enfatizaram as agressões verbais ou físicas que as mulheres distribuíram contra os guardas responsáveis pelas suas prisões, indicando que o problema da “insubmissão” é mais complexo do que se imaginava. No final da década de 1920 até 1934 jornais como o Estado de Minas e o Correio Mineiro, fizeram campanhas esporádicas, mas insistentes, contra os “excessos” e “absurdos” da prática do meretrício no centro da cidade. Várias vezes o delegado de costumes Edgard Franzen de Lima foi convocado a se pronunciar e a resolver a questão. Os jornais faziam alarde por um ou dois dias e depois se passava meses sem sequer uma palavra sobre o assunto. Além de cobrar ações da delegacia de costumes os jornais construíram representações negativas a respeito de uma famosa dona de pensões e cabarés da cidade, Olympia Vasques Garcia, citada anteriormente. Entre 23 de agosto e 05 de setembro de 1933, o jornal Correio Mineiro publicou uma série de reportagens protestando contra o cabaré de Olympia e denunciando suas práticas como lenocínio, além de apresentar sua frieza para

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com seus trabalhadores e ressaltar o caráter ilícito de outras atividades em que ela estava envolvida. Nessa série ela foi acusada de não pagar suas dançarinas, de cobrar uma quantia mínima para os garçons atuarem no Cabaré Palace, de negociar com cáftens de São Paulo a vinda de mulheres para Belo Horizonte e de vender bebidas adulteradas (CM, 25-08-1933: 8; CM, 03-09-1933: 8). O perfil de Olympia foi traçado como o de uma mulher sem coração, fria, arrogante e que não perdia sua postura austera, assim como as cafetinas da literatura do XIX e início do século passado, como D. Rosaura de Oswald de Andrade. Madame Olympia Vasques Garcia, proprietária do “Cabaré Palace”, é uma das maiores responsáveis pela frequência de menores na sua casa de comércio. Se, de um lado, a polícia descuidada, deixa passar à sua vigilância algum menor, ela, a quem cabe multas pela infração não vai de encontro aos seus próprios interesses, mesmo porque, gozando de um conceito estranhável, nada lhe acontece perante as autoridades a quem presta obediência. (CM, 24-08-1933: 8) Olympia é a mulher diabólica que vive na cidade, roubando o conforto de centenas de famílias. Seu “cabaré”, caverna de explorações descabidas e dos mais inconcebíveis abusos e deboches, é renovado sempre. (CM, 01-09-1933: 8)

O Correio Mineiro foi incisivo em seus ataques contra a imigrante galiciana (QUINTELA, 2009: 253), representada na maioria dos casos como “espanhola” ou pelo termo genérico “internacional”. O jornal cobrou das autoridades alguma solução para o que eles chamavam de “absurdos” cometidos pela proprietária de cabaré e de pensões. Não obtendo respostas favoráveis, ou disposto a criar um fato político, o jornal aventava as relações políticas de Olympia com as autoridades policiais importantes e com políticos mineiros, não confirmando, entretanto, essas hipóteses. Explorando o período anterior à publicação dessa série que atacava Olympia Garcia é possível observar a indignação da redação com a morte de um jovem, que se envolveu em um conflito em um cabaré. Após ser preso o jovem Sady foi conduzido para a Polícia Central, mas conseguiu fugir do jugo do guarda civil sob sua responsabilidade. Na fuga, Sady foi baleado pelo guarda civil e veio a falecer (CM, 22-08-1933: 8). Seria forçoso tentar associar esse caso à campanha contra Olympia, não fosse pela proximidade das notícias. Mas não é de todo impossível de se supor que os redatores responsáveis, na tentativa de responder ao problema moral da relação da prostituição e o espaço público (inclusive do acesso de menores aos cabarés) posto em discussão desde a década de 1910, tenham elegido Olympia, uma proprietária de pensões e cabarés bem sucedida, como o bode expiatório de toda essa trama. Elegendo, também a rua Guaicurus como lugar dos maiores problemas que diziam respeito à imoralidade e aos distúrbios dos costumes. A rua Guaicurus, a principal artéria do Vício e do Pecado tem, todas as noites, um “footing” concorrido e animado, onde não faltam sequer os namoricos e as cupidas demonstrações de afeto. E enquanto as mesinhas de cafés, os balcões imundos de nojentas tascas se inundam da “branquinha” fazendo viciados, inutilizando homens, os almofadinhas, “galãs baratos” da tela da vida, os “coronéis” e outros, cantam palinódias aos ouvidos da “Divas”. (CM 23-08-1933: 8)

Muitos elementos desses relatos, curiosamente, encontram ressonância em narrativas da memória coletiva da cidade. Pedro Nava começou publicar suas memórias na década de 1970 e segundos seus estudiosos, utilizava um conjunto documental variado para realização do processo de escrita e produção, ativação da memória. Entre esses materiais encontram-se, basicamente, fichas, desenhos, recortes de jornais, caricaturas (PANICHI, 2002: 24). Seria interessante investigar nesse material, sob a guarda da Fundação Rui Barbosa, as referências feitas à prostituição em Belo Horizonte, organizadas e utilizadas pelo autor. Mas nos limites desse trabalho interessa, nesse momento, é evidenciar a semelhança entre o discurso produzido por Nava e os veiculados pelo Correio Mineiro, como no trecho de Beira-mar sobre Olympia Garcia. Era temida pela valentia, pela impunidade e pelas misteriosas proteções de que dispunha. Fomos

12 cumprimenta-la e ela correspondeu geladamente àquela corja sem dinheiro para as consumações de champanha. Vestia-se com simplicidade quase sórdida, não se pintava, era pálida, tinha pele de marfim ou de alabastro, belos olhos muito negros, nariz fino, boca pequena, dentes perfeitos. Seria uma mulher bonita não fosse a expressão fria e cruel de sua fisionomia – tão imóvel e anímica, a ponto de imitar a máscara de porcelana untada do parkinsonismo. (NAVA, 1985: 129).

Assim, o apanhado geral feito até o momento me permite apresentar dois pontos de problematização: o papel dos jornais da construção da memória, e do memorialista na consolidação dessas memórias. Mais especificamente apresento duas questões a respeito da memória sobre a prostituição em Belo Horizonte. Por um lado pode-se propor a hipótese da importância dos jornais para circulação de representações, que se consolidaram, se transformaram e, sobretudo, participaram das experiências e das redes de sociabilidade de diferentes grupos da cidade. Quero dizer com isso que as narrativas dos jornais participaram da elaboração de memórias diversas e, segundo minha leitura, da memória sobre a prostituição e a rua Guaicurus. Entendidos como agentes formadores, mais do que como veículos de informação, os jornais tornam-se, dessa forma um importante mecanismo na luta por representações, mas também na luta pela formação de determinados sujeitos morais, sensíveis a determinadas questões. Ou seja, redatores, repórteres e outros profissionais do impresso ao selecionar e propor assuntos, problemas, questões a serem conhecidos, discutidos e enfrentados pelos habitantes da cidade, consolidam, ou antes, elaboram e reforçam projetos de sociedade, propostas de uma sensibilidade urbana específica, de uma maneira de olhar, perceber e sentir o espaço público e as práticas urbanas. Numa outra direção da argumentação, penso ser necessário ressaltar que, independente do contato ou não com recortes do Correio Mineiro ou de outros jornais, Pedro Nava optou manter, desenvolver, reconstruir e publicar em suas memórias representações negativas sobre Olympia Garcia e, parcialmente, sobre o meretrício. O autor se posicionou em defesa dessas representações, reforçando-as. Sua experiência com a prostituição na cidade, que aparece de forma explícita em suas memórias, foi vária, mas ainda assim ele fez circular visões estigmatizadas, reafirmando o caráter frio e mesquinho de Olympia. Indicando, dessa maneira, seu desconforto com as maneiras dela se vestir e se portar no cabaré, com sua “quase” beleza, não fosse sua fisionomia, e com maneira de se portar. Anunciando, também, a circulação de rumores sobre a proteção que ela dispunha das autoridades políticas e policiais, sem apresentar dados mais palpáveis. Nesse sentido, Nava legitimou uma memória negativa sobre a rua Guaicurus num período em que ela gozava de má fama na cidade e que foi alvo de projetos de transformações urbanas e de vigilância policial (MINAS GERAIS, 1928: 229). A essa altura seria interesse perguntar se a Olympia de Nava seria a mesma das notícias citadas acima. Não cabe aqui procurar estabelecer uma verdade objetiva sobre as representações que Nava construiu a respeito da famosa “caftina”. Mas é importante perceber que o memorialista discorreu sobre uma Olympia de 1923, período em que seu nome não figurava importância em notícias dos jornais. E creio que podemos arriscar e entender essa questão a partir do ponto de vista do próprio Nava, elegendo a “policromia” em que o processo de confecção da memória está embebido, para ler esses diferentes registros. Não vou descrever essa casa de baile como ela era precisamente naquele março de 1923. Entrei tanto ali, que guardo de cada vez um fragmento que é como um dos múltiplos clichês que se batem uns por cima dos outros, pondo cada vez uma cor para no fim, pela reunião ou superposição das mesmas, completarem figura policrômica. Ponha-se, sobre essa multiplicidade de imagens, a ação aberradora da lembrança e do Tempo e teremos assim a evocação multiposta de ocasiões sem número. Isso pode explicar certos anacronismos que seriam imperdoáveis no historiador mas que são o lote do memorialista e até seu direito. (NAVA, 1985: 128)

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Não é o caso de deplorar anacronismos. Defendo mesmo que eles são constituintes dos processos de elaboração de perguntas para o passado e que eles nos ajudam a problematizá-lo. A relação de Nava com o passado, registrada no trecho acima, evidencia a tensão que mantemos com nossas lembranças e, talvez o mais importante, nos permite compreender que nossas posições sobre determinadas questões sustentam-se nos sentidos, socialmente construídos, que conferimos a determinados temas, também socialmente elaborados e compartilhados (BOURDIEU, 1997: 204-205). Durante as décadas de 1920 e 1930 os jornais difundiram representações das meretrizes como “frias”, “rixentas”, “perdidas”, “desiludidas”, “alcoólicas”, “imorais”, “desordeiras” e “insubmissas” e também como “vítimas”, “solidárias”, “companheiras” e “exploradas”. As narrativas dos jornais, entretanto, davam destaque às características negativas, imorais e “baixas”, explorando os casos em seus aspectos mirabolantes, ou mesmo utilizando da ironia para tratar do problema dos “excessos” cometidos no espaço público. Essas narrativas foram produzidas em meio a uma luta pela definição e fixação dos usos dos espaços públicos e pela normatização das formas e maneiras de se comportar nesses diferentes espaços da cidade. Em meio, também, a campanhas pela moralização do meretrício, pela delimitação dos espaços em que essa prática se efetivava e de tentativas de organização dos comportamentos de mulheres e homens que se envolviam com essa prática. Tratava-se, e ainda trata-se, de projetos de sociedade, em que a mulher ocupava um lugar especial, merecendo proteção e cuidados. Ou, de forma mais precisa, de projetos em que as “mulheres honestas” mereciam cuidados especiais, em contraposição à meretriz, à decaída, às infelizes mulheres que caíam em “desgraça”. De fato, algumas medidas foram tomadas pela polícia com intuito de incutir “influência educativa” na vida de meretrizes, como o registro de meretrizes e uma política mais incisiva de policiamento do meretrício, no final da década de 1920 (MINAS GERAIS, 1928: 48). Contudo, e apesar da polícia ter problematizado e apostado na “regeneração” das “degeneradas” (MINAS GERAIS, 1928: 48-49), os jornais produziram e fizeram circular narrativas que demonstravam o interesse de grupos sociais e políticos em proteger os espaços da família, no projeto de modernidade que se desejava para a cidade. Pleiteando melhores locais para que a prostituição pudesse se desenvolver, longe das vistas das moças de família e possibilitando trânsito livre para os frequentadores. Essas campanhas anunciaram, de certa forma, o estigma, a desqualificação social que a Guaicurus carregou ao longo do século XX. A diferenciação social das meretrizes que frequentavam os arredores da Guaicurus, bem como da própria rua Guaicurus, não conseguiu ser apagada pelas décadas de 1940 e 1950, em que o glamour foi inventado politica e culturalmente na cidade. Manteve seu posto de “antro da perdição” na memória coletiva da cidade nas décadas seguintes. Alcançando, novamente, entre 1980 e 1990 o status de região da mais baixa modalidade de prostituição e ponto de tráfico de drogas na cidade. Atualmente, a Guaicurus ainda é comentada e conhecida nas redes de jovens e adultos, e segue como uma das referências negativas da prostituição na cidade, que foi descentralizada, ocupando vários espaços da capital desde os anos 1930/40, e com mais diversidade desde os anos 1970. Pretendi, nesse pequeno texto, evidenciar que a circulação de diferentes representações do meretrício e das meretrizes em jornais diversos ajudou a compor um determinado imaginário a respeito da prostituição na cidade, produzindo sensibilidades e maneiras de sentir e se relacionar com os corpos femininos na cidade, compondo memórias sociais. A comparação com um memorialista de peso, como Pedro Nava, permitiu perceber como essas

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sensibilidades foram, de uma forma ou de outra, compartilhadas e historicamente incorporadas nas narrativas sobre a cidade. Os limites desse trabalho não permitiram maiores inserções na obra do memorialista, tampouco de outros autores, mas possibilitou colocar uma questão, ainda em aberto: no que toca à questão da prostituição nos espaços públicos, como as sensibilidades dos habitantes da capital mineira foram historicamente educadas? Bibliografia ANDRADE, Luciana T. Ordem pública e desviantes sociais em Belo Horizonte (1897-1930). (Dissertação) DCP/ FAFICH, UFMG, 1987. ANTUNES, Elton. Um jornal no meio do caminho: os arquitetos da Imprensa na Belo Horizonte dos anos 20 e 30. Dissertação de mestrado em Sociologia. Belo Horizonte, UFMG, 1995. BOURDIEU, Pierre. Ce que parler veut dire: l'economie des echanges linguistiques. Paris: Fayard, 1982. BOURDIEU, Pierre. Méditations pascaliennes. Paris: Seuil (Liber), 1997. CASTRO, Maria Céres Pimenta Spínola. A aventura da imprensa. In CASTRO, M. e VAZ, B. Folhas do Tempo: imprensa e cotidiano em Belo Horizonte – 1895-1926. Belo Horizonte: UFMG/PBH/AMI, 1997. FIGUEIREDO, Luciano R. A. O avesso da memória: cotidiano e trabalho da mulher em Minas Gerais no século XVIII. Rio de Janeiro: EDUNB, José Olympio, 1993. HALBWACHS, M. A memória coletiva. São Paulo: Vértice, 1990. MOREL, Marco; BARROS, Mariana Monteiro. Palavra, imagem e poder: o surgimento da imprensa no Brasil do século XIX. Rio de Janeiro, DP&A, 2003. NASCIMENTO, Kelly Cristina. Entre a mulher ideal e a mulher moderna: representações femininas na imprensa mineira – 1873-1932. Dissertação, UFMG, 2006. NAVA, Pedro. Beira-Mar – Memórias 4. 3ª ed. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira,1985. PANICHI, Edina Regina Pugas. O texto em movimento. Íkala, revista de lenguaje y cultura, Universidad de Antioqua, vol. 7 n. 13, jan-dez 2002. PEDRO, Joana Maria e GROSSI, Miriam Pilar. Masculino, Feminino, Plural: gênero na interdisciplinaridade. Florianópolis-SC, Editora das Mulheres, 1998. QUINTELA, Antón Corbacho. A aculturação e os galegos do brasil: o vazio galeguista. Tese, Universidade de Santiago de Compostela, 2009. Fontes: CM - Correio Mineiro, 22-08-1933, p. 8; CM - Correio Mineiro, 23-08-1933, p.8; CM - Correio Mineiro, 24-08-1933, p. 8; CM – Correio Mineiro, 25-08-1933, p.8; CM – Correio Mineiro, 01-09-1933 p.8; CM – Correio Mineiro, 03-09-1933, p.8. DM – Diário de Minas, 24/01/1920, p. 2; DM – Diário de Minas, 14/07/1920, p. 2; DM – Diário de Minas, 09-03-1927, p. 2; DM – Diário de Minas, 08-05-1927, p.3; DM – Diário de Minas, 30-01-1927, p. 3; DM – Diário de Minas, 17-11-1928, p. 3; DM – Diário de Minas, 12-11-1922 p. 3. EM – O Estado de Minas, 07-08-1928, p. 6; EM – O Estado de Minas, 20-03-1929, p. 6; EM – O Estado de Minas, 11-04-1929, p. 6; EM – O Estado de Minas, 18 -07-1929, p. 6. MINAS GERAIS Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Presidente do Estado pelo dr. José Francisco Bias Forte, Secretário da Segurança e Assistência Pública, referente ao ano de 1927. Belo Horizonte Imprensa Oficial do Estado, 1928.

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