PEREIRA, Mateus H. F. O fantasma do golpe. Fato, Contagem, agosto, 2015, artigos, p. 6.

June 20, 2017 | Autor: Mateus Pereira | Categoria: History, Politics, Article, Golpe De 1964, Golpe Civil Militar 1964 Brasil
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Emma Stone encanta em filme de Woody Allen Página 7

www.editoraexpoente.com.br - Contagem e Região Metropolitana - MG | 1ª quinzena de agosto de 2015 | nº 159 | Fundado em agosto de 2004 | Distribuição gratuita

Prefeitura entrega nova UPA JK dia 22

Divulgação - Prefeitura de Contagem

O fantasma do golpe Um fantasma a-ssombra o segundo governo Dilma: o espectro do golpe. Faz algum tempo que estudiosos têm mostrado que, em comparação com jovens argentinos e uruguaios, os brasileiros são os que menos têm interesse sobre o passado militar e os que têm menores rejeições a “opções militaristas”.

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Sobre Amanda e sobre protestos Divulgação

Página 5 A nova UPA JK será finalmente inaugurada dia 22 de agosto. Todas as instalações foram organizadas para oferecer maior mobilidade interna no prédio, que tem três andares e uma área de 2,5 mil metros quadrados. A obra foi iniciada em 20 de outubro de 2011, pela então prefeita Marília Campos.

Pitágoras de Contagem realiza trote solidário

Cultura

Revelando Contagem

O trote tradicional virou ação solidária baseada nos “Oito Objetivos do Milênio”, estabelecidos pela ONU. Os alunos arrecadaram mais de 33 mil latas de alumínio e 103 mil lacres.

Vencedores serão anunciados dia 17 no Big Página 4

Lacres serão trocados por cadeiras de rodas para deficientes

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Enquanto o PSDB se despe da máscara e conclama o “povo de bem” a protestar contra o governo (quem não se lembra de Aécio na janela de seu apartamento no Rio acenando para os manifestantes?), no Senado, José Serra (foto) lança as sementes para tirar o pré-sal das mãos da Petrobrás. A pergunta que não quer calar: a quem interessa tal retirada?

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Conferência Nacional em BH dia 5 de setembro defende a democracia Página 3

Justiça premia PSDB com impunidade - Página 2

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Artigos

Fato - O melhor para você - Contagem e Região Metropolitana - MG 1ª quinzena de agosto de 2015 | nº 159

O fantasma do golpe

De Brasília

Da crise, do complexo de Poliana

e os discípulos de Murphy

Até por dever de ofício e pelos anos bastantes já vividos, nunca fui e acredito nunca serei acometido pelo Complexo de Poliana. Para quem desconhece, o tal Complexo, derivado do livro de Eleanor H. Porter, publicado em 1913, é definido como “jogo do contente, que procura ver o lado positivo de tudo”. Polianas são aqueles ou aquelas que, mesmo nas piores situações, só enxergam o lado bom de tudo e de todos. Do outro lado, estão os discípulos de Murphy, seguidores fiéis da lei homônima, segundo a qual, “qualquer coisa que possa ocorrer mal, ocorrerá mal, no pior momento possível”. Nesta turma estão os que acreditam e até torcem para que as coisas não funcionem e sigam dando errado. No Brasil de hoje, os discípulos do americano Edward A. Murphy parece que estão em superioridade aos crédulos Polianas. Pelo menos, a se julgar pelo noticiário de nossa mídia oligopolizada, dominada por sete famiglias, tudo está dando e vai dar errado no país. Não há nada de bom a ser considerado. É crise de manhã, crise à tarde e crise à noite. Será que não resta aos Polianas senão se resignar e admitir a derrota? Acometido por esta dúvida, mesmo não negando a existência de uma crise, mas de outra dimensão e razões diversas, resolvi repetir, no meu estilo, um exercício já feito por outros antes de mim, e procurar, ainda que aleatoriamente, notícias boas, informações sobre bons resultados e iniciativas que apontam para dias melhores para o nosso Brasilzão. Mesmo não acreditando na dimensão da crise e desconfiando muito dos propósitos de sua amplificação, não esperava encontrar, mesmo sem muito esforço ou método, tantas coisas para anotar. Comecei a registrar os fatos numa folha avulsa e acabei preenchendo 5. E olha que milha caligrafia, das mais sofríveis, é de letras miúdas. E também procurei evitar as estatísticas, já por demais repisadas, dos avanços conquistados nos governos petistas, no plano social, tipo tantos milhões saíram da pobreza, outros tantos milhões ascenderam à classe média e por aí afora.. Procurei sinais que contradissessem o mau humor derrotista e achei pérolas que, além de servir ao meu propósito, são úteis, a meu ver, para expor até onde pode ser calhorda nossa elite (sim, eu sei, nem tudo é culpa dela) batedora de panelas. Um caso exemplar deve-se a Madame Channel, ela mesma, a que criou a marca de moda mais famosa e apreciada pelos chics e endinheirados dos quatro cantos do mundo. O objeto do desejo dos ricos e deslumbrados, no momento, tem 13,5 centímetros de altura, a forma e a aparência de uma pérola. Mal dá para guardar um iPhone e custa a bagatela de R$ 55 mil. Isto mesmo, querida leitora: CINQUENTA E CINCO MIL REAIS! E o detalhe que justifica a citação: quem quiser comprar um modelito destes, vai ter de buscar no exterior (US$ 13 mil nos Estados Unidos), porque o, digamos, produto, já está esgotado em todas as lojas da grife no Brasil (vale dizer São Paulo). Haja crise. Mas, se você não tem tanto dinheiro para gastar com um objeto surpéfluo como esta bolseta, mas, de qualquer maneira, tem muito dinheiro, pode usar seu dim-dim na compra de um Jeep da Honda, que tanto permite a seus proprietários ostentar pelas ruas e avenidas do país. Só que, se for esta sua opção, vai ter de esperar sete meses na fila de pretendentes já existentes. O modelo mais barato, mais simplesinho, custa R$ 70 mil. Isto é que é crise. E se você é daqueles que não conseguem mais viver num país lulo-petista, onde pobre já pode ir pra universidade e o porteiro de seu prédio pode estar na cadeira ao lado no avião, a opção pode mesmo ser ir pra Miami. De primeira classe. Definitivamente,é ou não o paraíso sonhado dos coxinhas? Mas, corra, porque a brasileirada bacana já está comprando tudo por lá, inflacionando os preços dos imóveis. Se você inveja um amigo que comprou um apartamento no Marina Palms Yacht & Residence (preços de US$ 800 mil a US$ 3 milhões), tem mesmo de correr e ter sorte para comprar seu apezinho: 60% dos apartamentos deste condomínio de luxo em Miami já foram comprados por compatriotas nossos. Quem dorme com uma crise destas?

Maringoni

Agora, falando sério. Eu havia dito aí atrás que não citaria avanços sociais para exemplificar minha tese de Poliana, mas peço permissão para registrar apenas uma coisa tão importante, quanto ignorada pelos Murphys da vida, porque este fato, além de vários outros, exemplifica à perfeição porque os governos do PT vão entrar para a história e provocam tanto ódio nos que, por 500 anos, se revezaram no poder, governando sempre para os mesmos. Todo brasileiro deveria saber e estar orgulhoso da grande vitória dos governos lulo-petistas, anunciada pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). A imprensa brasileira tratou o assunto em notinhas de pé de página, sem destaque nem reconhecimento. Segundo a FAO, o Brasil foi um dos primeiros países do mundo a atingir o principal objetivo de desenvolvimento do milênio e as metas da Cúpula da Alimentação. Há 20 anos, 14,8% dos brasileiros viviam na miséria e hoje são 2%. Fomos o país que mais reduziu a fome no mundo. E sabe porque as pessoas não sabem disso? Os discípulos de Murphy não deixam. A Folha de São Paulo, ao dar a notícia, titulou: “3,4 milhões de pessoas passam fome no Brasil”. E a Globo, veículo que mais informa nossos cidadãos, dedicou exatos 37 segundos ao assunto. Menos do que aquele papo sobre o tempo entre o Bonner e a Maju. Como disse lá atrás, enchi 5 folhas de boas notícias, e, claro, não vai dar para botar tudo aqui. Mas tem pra todo gosto: de lucros recordes de bancos, a produção plena de empresas; de produção crescente de petróleo, a melhoria da balança comercial; de construção de estradas, de terminais portuários e aeroportos, a aumento do número de viajantes aéreos; de aumento do número de profissionais no Mais Médicos, a vitórias em olimpíadas de matemática, em olimpíada internacional de biologia e na Copa do mundo de física, sem falar nas medalhas do Pan-Americano e nas Para-Olimpíadas. Enfim, recomendo aos discípulos de Murphy que façam como eu, afastem o mau humor e sejam mais Polianas. PIMENTEL E O JABUTI Todo mundo sabe que Jabuti não sobe em árvore. Se o bicho tá lá no alto, se segurando numa galha, é porque alguém botou ele lá. Aí o governador Fernando Pimentel decide fazer o óbvio, e trocar o comando de sua comunicação. A equipe montada pela Carol, mulher dele, com muitos “estrangeiros”, desconhecedores das mumunhas e mutretas dos comunicadores das Alterosas, não estava funcionando. Então o Fernando coloca no comando um cara chamado Marcus Gimenez, ex-prefeito da pujante cidade de Ritápolis, sabidamente um pólo da indústria da comunicação. Quando vi, implicante e curioso que sou, quis saber: de onde saiu este Jabuti? Pergunta daqui, indaga dali, a resposta estava no sobrenome. Gimenez é o sobrenome também do ex-diretor de Redação do Estado de Minas, o Josemar, hoje em plagas paulistanas, passando o chapéu pra ver se consegue uns caraminguás para evitar o fim (enfim!) do “maior jornal dos mineiros”. Pode até não ser, vai ver o ex-prefeito de Ritápolis é um desconhecido expert em comunicação. Mas que parece, parece. Marco Antônio Campos Jornalista [email protected]

Um fantasma a-ssombra o segundo governo Dilma: o espectro do golpe. Faz algum tempo que estudiosos têm mostrado que, em comparação com jovens argentinos e uruguaios, os brasileiros são os que menos têm interesse sobre o passado militar e os que têm menores rejeições a “opções militaristas”. Eles também são os mais despolitizados e os que menos defendem valores democráticos. Mas, poder-se-ia apreender com a história? A história se repete? Essas simples perguntas demandam respostas complexas e, ainda sim, incompletas. Podemos dizer de forma apressada que a história pode ajudar os atores a se orientarem no presente. Desse modo, convém apresentar como os historiadores hoje interpretam nosso último golpe: o de 1964. Lucilia Delgado em uma síntese sobre o assunto organiza as análises sobre o golpe em quatro grupos interpretativos: 1) interpretações estruturalistas e funcionais; 2) interpretações que enfatizam o caráter preventivo da intervenção civil e militar; 3) análises que privilegiam a versão conspiratória e 4) interpretações que destacam as ideias de ação política conjuntural e de falta de compromisso com a democracia. O primeiro tipo de análises, em geral efetuadas por cientistas políticos, sociólogos e economistas, hegemônicas durante os anos 1970, vinculava-se ao tempo longo por enfatizar problemas estruturais como o subdesenvolvimento e a industrialização “tardia” a fim de explicar a deposição de João Goulart. Essas análises enfatizam que a industrialização tardia pedia a resolução das inquietações sociais engendradas, sendo que o autoritarismo havia sido a forma encontrada para a regulação desses conflitos. A ruptura da ordem política institucional foi resultado, assim, dos conflitos sociais e políticos criados, por sua vez, pelo modelo desenvolvimentista sustentado pela industrialização dependente e pela concentração de renda. Esse projeto era contraditório com o modelo econômico nacionalista e distributivo defendido por setores progressistas, acirrando o conflito social, político e ideológico. As mudanças no padrão de capital e a crise do “populismo” tornaram o golpe inevitável. O segundo tipo de análise enfatizava o caráter preventivo do golpe. Esse grupo defendia que a ação militar procurou evitar possíveis e profundas transformações nos sistemas econômicos e políticos do país. Essa perspectiva procurava articular o tempo longo com o tempo curto. Esses autores sustentavam que, tendo em vista as ações dos movimentos sociais do período, o país poderia adotar um modelo distributivo ou mesmo ir em direção ao socialismo. As análises que privilegiavam as versões conspiratórias, hegemônicas nos anos 1980, destacavam certa aliança entre setores das forças armadas anticomunistas, do empresariado nacional, de latifundiários, da igreja católica, de partidos de direita e do capital internacional, os quais proporcionaram a execução do golpe. Há um predomínio das dimensões conjeturais da conspiração. As interpretações que destacavam as ideias de ação política conjuntural e a falta de compromisso com a democracia, tanto da esquerda como

da direita, ganham destaque desde fins dos anos 1980. Esses trabalhos enfatizavam as variáveis do tempo curto com ênfase nas dimensões políticas. Teria sido a “radicalização” política, e não fatores de ordem estrutural, a maior responsável pelo rompimento da ordem constitucional. SOMBRIO 1964 Convém destacar também que sem a desestabilização ocasionada pela propaganda ideológica e a mobilização da classe média, além de uma coordenação e planejamento da ação militar, o golpe seria difícil de acontecer. Ainda que se tenha que diferenciar a desestabilização da conspiração golpista civil-militar, houve algum tipo de sinergia entre essas ações. Refletir sobre a atual crise a-sombra da crise pré-1964 nos mostra que explicações simplistas não conseguem interpretar bem a emergência de eventos históricos que mudam os rumos da vida de um país. Na próxima edição, pretendo apresentar uma interpretação mais detalhada de nosso momento político. Por ora, destaco que pensar fatores que produzem rupturas ou contestações de ordens democráticas, ainda que travestidas de procedimentos como o impeachment, é tarefa complexa. Parece-me que nosso presente está mais próximo do pré-golpe de 1964 do que do impeachment de 1992. Na época de Collor, o processo de impeachment foi uma consequência de uma série de evidências que surgiram em relação a crimes cometidos pelo presidente durante o seu mandato. Ao que parece, nesse momento, se quer achar, se busca arduamente, alguma razão ou fato passado para forçar o impedimento de um governo recém reeleito, mas que vive em um momento de fragilidade institucional. Não vejo outro nome para conceituar essas ações a não ser o de golpe. Talvez a história do Golpe de 1964 possa não ensinar muitas coisas, mas ela mostra alguma coisa: uma vez que o evento acontece, em especial, que se inicia, ele pode ter efeitos no tempo de forma longa, indesejável e incontrolável, inclusive para alguns que contribuíram para sua emergência. É melhor impedir seu aparecimento ou bloqueá-lo no início. Em uma apropriação livre de Pablo Milanês e Chico Buarque (Cancion por la Unidad de Latino América) poderíamos dizer que a história, por vezes, é um carro que “atropela indiferente todo aquele que a negue”. Mateus H. F. Pereira Professor do curso de História da UFOP e ex-professor da Rede Municipal de Contagemr

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