Perfil da FAS - Fundação Amazonas Sustentável

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Descrição do Produto

VI Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza Edição 2015

Projeto:

Fundação Amazonas Sustentável: 7 anos de trabalho com as comunidades ribeirinhas e soluções para o desenvolvimento sustentável do Amazonas

FU N DAÇ ÃO AMAZONAS S U S T EN TÁV EL

VI Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza Edição 2015

Organização:

Fundação Amazonas Sustentável (FAS) Projeto:

Fundação Amazonas Sustentável: 7 anos de trabalho com as comunidades ribeirinhas e soluções para o desenvolvimento sustentável do Amazonas Período de realização:

Dezembro de 2007 a atualidade – Ação permanente Local de implementação:

Em 16 Unidades de Conservação do Estado do Amazonas que ocupam uma área superior a 10,8 milhões de hectares na qual são beneficiados 40.090 cidadãos integrantes de 9.413 famílias de 577 comunidades (Banco de Dados FAS Ago/2015) Categoria:

Melhor exemplo do Terceiro Setor Contatos:

Virgílio Maurício Viana

superintendente – fone (092) 4009-8900

André Ballesteros

desenvolvimento institucional – fone (011) 4506-2900

Conteúdo 1. Sobre a Fundação Amazonas Sustentável 6 1.1. Perfil da organização 1.2. Estrutura organizacional 1.3. Parceiros e recursos 2. Programa Bolsa Floresta 14 2.1. Conceito e atuação 2.2. Metodologia e componentes 2.2.1. Componente Renda – PBF-R 2.2.2. Componente Social – PBF-S 2.2.3. Componente Associação - PBF-A 2.2.4. Componente Familiar - PBF-F 2.3. Informação e gestão online do PBF 3. Programa de Educação e Saúde (PES)

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3.1. Educação em Unidades de Conservação 3.1.1. Núcleos de Conservação e Sustentabilidade 3.1.2. Curso Técnico em Produção Sustentável em Unidades de Conservação 3.1.3. Bases do Aprendizado para o Desenvolvimento Sustentável 3.1.4. Observatório da Educação 3.2. Educação Complementar 3.2.1. Projeto de Gerenciamento de Resíduos Sólidos 3.2.2. Práticas Agroecológicas 3.2.3. Jovens Empreendedores 3.2.4. Projeto Intercâmbio de Saberes 3.2.5. Incentivo à leitura e escrita 3.3. Atenção às crianças e Adolescentes 3.3.1. Projeto Primeira Infância Ribeirinha (PIR) 3.3.2. Projeto Quem Ama Cuida 4. Programa de Soluções Inovadoras (PSI)

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4.1. Monitoramento ambiental 4.2. REDD+, Serviços Ambientais e Mudanças Climáticas 4.3. Google Street View na Amazônia 4.4. Agenda do Valor compartilhado 4.5. Projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação 5. Indicadores de gestão dos programas

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6. Principais Resultados 36

Sobre a Fundação Amazonas Sustentável

1.1. Perfil da organização

A

Fundação Amazonas Sustentável (FAS) é uma organização 100% não governamental e 100% brasileira, sem fins lucrativos, de utilidade pública estadual e federal que conta com o apoio do Governo do Estado do Amazonas (instituidor e mantenedor), Banco Bradesco (instituidor e mantenedor máster), além de Coca-Cola Brasil, Fundo Amazônia/BNDES, Samsung (mantenedores) e outras organizações parceiras em programas e projetos desenvolvidos pela instituição. Tem como missão promover o envolvimento sustentável (o desenvolvimento sustentável realizado de maneira amplamente participativa), a conservação ambiental e a melhoria da qualidade de vida de comunidades ribeirinhas moradoras em Unidades de Conservação do Estado do Amazonas.

A FAS tem sua missão baseada em um dos principais desafios do século XXI: a harmonização entre conservação ambiental e o desenvolvimento socioeconômico. Suas iniciativas são voltadas a resolução de um problema profundo: como conciliar a melhoria da qualidade de vida de comunidades ribeirinhas (e muitas vezes isoladas) com a redução do desmatamento e degradação florestal. Do ponto de vista social, trata-se de uma das regiões com os piores indicadores sociais do país: mortalidade infantil, pobreza extrema, analfabetismo, renda. Do ponto de vista econômico, o desafio é fazer a floresta valer mais em pé do que derrubada. Além desses desafios, o trabalho na Amazônia enfrenta enormes obstáculos. Talvez o principal seja a logística. Para chegar à comunidade mais distante das 577 nas quais a FAS atua, pode-se gastar até 21 dias de viagem de balsa, 24 horas por dia. Isso impõe um desafio de desenvolver tecnologias sociais inovadoras e adaptadas para o contexto cultural, social, econômico e ambiental da região.

Programa Bolsa Floresta: inclusão e participação para resolver problemas

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As principais iniciativas da FAS são implementadas por meio de tres programas: o Programa Bolsa Floresta (PBF), o Programa de Educação e Saúde (PES) e o Programa de Soluções Inovadoras (PSI). Estes programas em seu conjunto geraram 569 projetos, apenas no ano de 2014, que envolvem geração de renda, conservação ambiental, educação, saúde, associativismo, empreendedorismo e apoio aos negócios ribeirinhos, microcrédito, inovação tecnológica, produção e conservação de água, habitação e moradia e desenvolvimento rural de base comunitária, entre outros. O Programa Bolsa Floresta (PBF) promove o Pagamento por Serviços Ambientais aos moradores que se comprometem com a conservacão ambiental e o desmatamento zero, tendo como contrapartida a inclusão educacional da familia e a participação em projetos comunitários. O PBF atua por meio de quatro componentes - Renda, Social, Associação e Familiar – que oferecem rendimento direto e benefícios sociais em nível comunitário através de metodologia participativa na definição dos orçamentos e projetos. O Programa de Educação e Saúde (PES) investe em seviços essenciais para as comunidades através de diversos projetos. Entre eles está o Projeto Primeira Infância Ribeirinha (PIR), focado no atendimento integral de mães e filhos no período de 0 a 6 anos; e o Projeto Quem Ama Cuida, de desenvolvimento técnico, cultural e social de jovens e dos Núcleos de Conservação e Sustentabilidade, conjunto de estruturas, construções, tecnologias e serviços implantados em Unidades de Conservação, que levam múltiplos serviços essenciais para as comunidades com destaque para o ensino formal, do Fundamental II ao Médio, e ensino complementar de capacitação. Já o Programa de Soluções Inovadoras (PSI) reúne recursos técnicos e financeiros na busca de soluções para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. Envolve novos projetos, coordenação de pesquisas e o acompanhamento e monitoramento de resultados e impactos. O PSI representa o caráter inovador da instituição nos âmbitos tecnológicos, sociais e organizacionais. Com recursos de R$ 21,5 milhões em 2014 o FAS beneficiou 9.411 familias em 574 comunidades ribeirinhas, totalizando 40.052 pessoas em 16 unidades de conservação.

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Quadro-resumo de atendimentos do PBF no mes de agosto de 2015

1.2. Estrutura organizacional O desenvolvimento de iniciativas na região amazônica é dificultado pelas dimensões geográficas. Seis dos dez maiores municípios brasileiros estão no Amazonas: Barcelos, São Gabriel da Cachoeira, Tapauná, Atalaia do Norte, Jutai e Lábrea. A área de Barcelos (122,4 mil metros quadrados), tem uma superfície equivalente à soma da extensão territorial de Portugal e de parte da Espanha. Em grande parte do estado do Amazonas não existem rodovias e o transporte de pessoas e mercadorias é feito em barcos ou aviões. Quase todas as atividades da FAS são realizadas no que se chama “Amazônia profunda”, regiões muito distantes dos centros urbanos, com difícil conectividade. As limitações impostas pela localização dessas áreas dificultam a realização de programas regulares de atendimento às populações e quase sempre são vencidas pelas circunstâncias operacionais. Nesse aspecto, a FAS reúne importantes elementos diferenciais, especialmente porque nasceu a partir da experiência de amazonenses, tem planos de ação baseados na realidade regional e tem sistema de execução e gestão que compreende e absorve a cultura local.

Equipe de colaboradores da FAS

Esta é uma das razões pelas quais a FAS tem conseguido enfrentar de forma prática e eficiente os desafios de promover a melhoria de qualidade de vida e o desenvolvimento sustentável em uma das regiões mais remotas do Brasil. Há, ainda, outros diferenciais: a qualidade da gestão; a capilaridade, aqui compreendi-

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da como a inteligência de logística desenvolvida pela equipe para chegar a estes lugares; e, especialmente, a confiança conquistada junto às populações tradicionais. Esses são os maiores ativos da FAS. A eficência da gestão está baseada na qualidade dos recursos humanos e técnicos alocados e na busca permanente de sustentabilidade financeira. A estrutura organizacional e de gestão da FAS, apresentada a seguir, foi desenhada de maneira a maximizar a eficiencia nos processos de tomada de decisões, tendo como premissa a avaliação de desempenho e a melhoria contínua de suas iniciativas. Conselho de Administração da FAS - a instância decisória, de natureza deliberativa e responsável por definir diretrizes técnico-financeiras e aprovar os programas é formado por profissionais com qualidade acadêmica e experiência no planejamento e gestão de programas, como presidentes de grandes empresas, governadores e ministros. Presidente: Luiz Fernando Furlan Vice-presidente: Lirio Albino Parisotto – Videolar Conselheiros Poder Público: José Melo de Oliveira – Governador do Amazonas Carlos Eduardo de Souza Braga – Ministro de Minas e Energia Thomaz Afonso Queiroz Nogueira – Secretário de Planejamento, Ciência, Tecnologia e Inovação (SEPLANCTI) Suplentes: Flávia Skrobot Barbosa Grosso – Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) Antônio Ademir Stroski – Secretaria de Estado de Meio Ambiente Sociedade Civil: Manoel Silva da Cunha – Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) Luiz de Jesus Fidelis – Coordenação das Organizações Indígenas e Povo do Amazonas (Coipam) Mario César Mantovani – Fundação SOS Mata Atlântica Suplentes: Christiane Torloni – Amazônia Para Sempre Victor Fasano – Amazônia Para Sempre

Suplente: Roberto Klabin Segmento Acadêmico Neliton Marques da Silva – Universidade Federal do Amazonas (UFAM) Jacques Marcovitch – Universidade de São Paulo (USP) Adalberto Luiz Val - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) Luiz Nelson Guedes de Carvalho – Nisa Soluções Empresariais

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Segmento Empresarial: Lirio Albino Parisotto – Videolar Benjamin Benzaquem Sicsu – Samsung Denis Benchimol Minev – Grupos Bemol e Fogás

Suplentes: Carlos Roberto Bueno - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) Carlos Eduardo Frickmann Young – Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) CONSELHO FISCAL Titulares: Mauricio Elísio Martins Loureiro Leopoldo Péres Sobrinho Antonio Carlos da Silva Suplente: Maria do Socorro Cordeiro Siqueira DIRETORIA ESTATUTÁRIA Firmin Antonio – Newcycle CONSELHO CONSULTIVO O órgão de aconselhamento do Conselho de Administração e da Diretoria Eronildo Braga Bezerra – Universidade Federal do Amazonas (UFAM) Raimundo Valdelino Rodrigues Cavalcanti – Amazonas Energia Nádia Cristina D’avila Ferreira – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (Ifam) Marcos Roberto Pinheiro – Consultor Carlos Edward Carvalho Freitas – Universidade Federal do Amazonas (Ufam) Mariano Colini Cenamo – Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam) Adilson Vieira – Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Amazônico (IPDA) Thomas E. Lovejoy – The H. John Heinz III Center of Science, Economics and Environment José Aldemir de Oliveira – Universidade Federal do Amazonas (Ufam) Mark London – Marriott International Isa Assef dos Santos – Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica (Fucapi) Pavan Sukhdev – Gist Advisory Jacques Marcovitch – Universidade de São Paulo Tanea Consentino – Schneider Electric Steve Bass – International Institute for Environment and Development – IIED

No total a FAS tem 85 colaboradores em sua sede, Manaus, e em um escritório de apoio em São Paulo. É uma equipe altamente qualificada: 01 tem titulo de Doutor, 08 são Mestres, 31 têm graduação superior (12 deles cursando Pós-graduação), 11 tem nivel médio e apenas 03 funcionários tem nivel fundamental.

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SUPERINTENDÊNCIA Responsável pela supervisão e execução dos projetos e programas da FAS, nos aspectos técnico, administrativo e financeiro. Superintendente-Geral: Virgílio Maurício Viana Superintendente Técnico-Científico: Eduardo Costa Taveira Superintendente Administrativo-Financeiro: Luiz Cruz Villares

1.3. Parceiros e recursos Os recursos técnicos, humanos e financeiros para a FAS são oferecidos por uma série de organizações parceiras. São 22 empresas, 17 instituições governamentais e 23 ONG´s e Fundações com diferentes perfis de colaboração: Mantenedores: Banco Bradesco, Governo do Estado do Amazonas, Fundo Amazonia do BNDES, Coca-Cola Brasil e Samsung. Parceiros em programas: Videolar, Marriott, Grupo Abril, , HRT, Instituto para o Desenvolvimento do Investimento social (IDIS), EMS, Sebrae, Institutio Coca-Cola Brasil, Berrnard Van Leer Foundation, Unicef, Instituto Tim e Natura. Parceiros em projetos: Google, Tam Linhas Aéreas, Cooperatie, The Amazon Alternative, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimeto (PNUD), Bemol, Fogas, Ministério do Esporte, European Forest Institute, Instituto Camargo Correa, BNDES, Tetra Pak, Whirlpool/Consulado da Mulher, Symantec, Schneider Electric, Child Fund, Mitsubishi Cooperation e Marinha do Brasil. Parceiros institucionais: Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento sustentável, Ceclima, Amazonas Ceuc, Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas, Secretaria de Estado de Educação do Amazonas (Seduc), Centro de Educação Tecnológica do Amazonas (Cetam), Agência de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (ADS), Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal do Estado do Amazonas (IDAM), Fundaçaõ de Vigilância Sanitária (FVS), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), Secretaria de Estado de Juventude, Desporto e Lazer (SEJEL), Ministério da Saúde, Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (Susam), Breadesco Asset Management, Bain & Company, PWC, Colégio La Salle, Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon),Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam), Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), Rede Asta e Terracycle. Parceiros de cooperação técnica: Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Coordenação das Organizações e Povos Indígenas do Amazonas (Coipam), Universidade Federal do Amazonas, Universidade Estadual do Amazonas, Center for International Forestry Research (CIFOR), International Institute for Environment and Development (iied), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Federação Amazonense de Tiro com Arco (FATARCO), Fórum de Turismo de Base Comunitária, Rainforest Alliance e Parsons School of Design.

O principal doador, o Banco Bradesco, hoje representa 26% dos recursos captados anualmente, o que oferece um nível de segurança de manutenção dos programas bastante raro no Brasil.

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Desde sua fundação em 2007 a FAS vem constituindo um Fundo Permanente, que em dezembro de 2014 possuia cerca de R$ 75 milhões, dos quais a organização utiliza apenas os rendimentos, que são somados com novas doações captadas durante o ano operacional. A gestão do Fundo é feita pela Bradesco Assset Management (pro-bono), e a auditoria da aplicação dos recursos é feita pela pwc, igualmente em regime de pro-bono.

No ano de 2014 o investimento total realizado foi de R$ 21.491.000,00, sendo R$ 16.143.000,00 (75%) em atividades-fim e R$ 5.348.000,l00 (25%) em atividades-meio. Informações completas sobre prestação de contas estão disponíveis em http://fas-amazonas.org/transparencia/

Pirarucu: um recurso natural que gera proteinas, renda e emprego, aproveitado de maneira sustentável

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Programa Bolsa Floresta

2.1. Conceito e atuação

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visão estratégica da Fundação Amazonas Sustentável é melhorar a qualidade de vida das pessoas com atividades que promovam a valorização da floresta em pé. Por essa razão o Programa Bolsa Floresta (PBF) atua junto às populações ribeirinhas das unidades de conservaçãos estaduais do Amazonas para que sejam guardiões da floresta, e como tal, remunerados por isso na forma de Pagamento por Serviços Ambientais. O Sistema Estadual de Unidades de Conservação (Seuc) do Estado do Amazonas conta atualmente com 42 unidades de conservação estaduais (entre unidades de Proteção Integral e unidades de Uso Sustentável), cobrindo 19 milhões de hectares. As ações da FAS já estão presentes em 16 destas unidades, sendo 12 Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS), duas Reservas Extrativistas (Resex), uma Floresta Estadual (FE) e uma Área de Proteção Ambiental (APA), que abrangem mais de 20 municípios do Amazonas. Em termos jurídicos o PBF é uma política pública estadual instituída pelo Governo do Amazonas pela Lei 3.135/2007, sobre Mudanças Climáticas, Conservação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas, e Lei Complementar 53/2007 sobre o Sistema Estadual de Unidades de Conservação (Seuc). Inicialmente implementada pela Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SDS), a proposta passou a ser opereacionalizada pela FAS a partir de março de 2008, já como Programa Bolsa Floresta. Essa política pública estimulou a concepção de um arranjo institucional com perfil inovador, amparada em um ambiente jurídico da legislação estadual, que possibilitou a estruturação das bases de uma Economia Verde no coração da maior floresta tropical do planeta - uma economia valorizando serviços e produtos ambientais de origem florestal com justiça social e conservação ambiental.

2.2. Metodologia e componentes O PBF requer adesão voluntária ao programa e assegura benefícios na medida do engajamento do participante: quanto mais ele pensar coletivamente, mais benefícios terá. A adesão ao programa requer algumas contra-partidas como a participação em oficinas de capacitação em mudanças climáticas e serviços ambientais; a não abertura de novas áreas de roçado em áreas de florestas primárias; e o ingresso ou permanência dos filhos na escola.

2.2.1. Componente Renda – PBF-R O PBF Renda direciona seus recursos para arranjos produtivos sustentáveis e o foco do investimento é sempre decidido de forma participativa, pelas próprias comunidades. O objetivo do PBF Renda é dinamizar

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O PBF atua por meio de quatro componentes com diferentes níveis de envolvimento pessoal e comunitário: Renda, Social, Familiar e Associação estes componentes asseguram ganhos diretos, benefícios sociais em nível comunitário, apoio ao associativismo, atividades de produção e geração de renda sustentável.

as cadeias produtivas de determinados produtos nas comunidades atendidas pelo programa, tanto para melhorar as atividades já existentes, como incentivar o surgimento de outras possibilidades dentro da perspectiva da inovação e do desenvolvimento sustentável. As principais cadeias produtivas apoiadas pelo PBF são: cacau, açaí, pirarucu, castanha-da-Amazônia, óleos vegetais, borracha, madeira manejada, artesanato e o turismo de base comunitária. Também são apoiados sistemas agroflorestais, programas de manejo de lagos, avicultura, cantinas comunitárias e pequenos empreendimentos comerciais. O processo participativo de escolha dos investimentos e a flexibilidade administrativa da FAS permitem que os recursos sejam aplicados de forma ampla, abrangendo desde infraestruturas e equipamentos, até serviços e programas de capacitação dos participantes.

A borracha é um dos produtos que tem sua cadeia produtiva apoiada pelo PBF Renda

A atividade de turismo sustentável vem merecendo atenção especial da FAS, por seu potencial de geração de renda, por ampliar a cadeia produtiva e por tangibilizar a proposta de valorizar a floresta de pé. Desde 2011 a FAS desenvolve projetos de turismo comunitário investindo em infra-estrutura, aquisição de barcos, construção de pousadas e capacitação de pessoas em dois roteiros ao longo da região do Baixo Rio Negro. A partir de 2014, como integrante do Fórum de Turismo de Base Comunitária, a FAS apoiou a inclusão do

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Em 2014 foram investidos R$ 1.687.000,00 em projetos do PBF Renda. Além destes investimentos foram realizadas 41 oficinas com 2.079 participantes envolvidos no planejamento dos investimentos e em programas de capacitação em artesanato, corte e costura, atendimento ao turista, manejo florestal, precificação de produtos, apoio ao empreendedorismo e gestão de empreendimentos ligados à atividade turística, entre outros.

RDS do Rio Negro na Campanha Passaporte Verde do Ministério do Meio Ambiente, incluida no programa da Copa do Mundo.

Inauguração de uma hospedaria: turismo sustentável de base comunitária gera renda, emprego e aumenta a auto-estima dos moradores Outro projeto que merece destaque é a pesca manejada do pirarucu, que acontece nas regiões dos rios Juruá e Solimões e envolvem 1.229 famílias. O apoio do programa é focado na reforma ou construção de flutuantes para o beneficiamento do peixe e matérias de pesca (bajaras e redes) que aumentam a capacidade de produção dos pescadores, dentro de um sistema de manejo dos lagos. Neste projeto a FAS, em conjunto com seus parceiros e outras instituições atuantes na região, contribuiu para que o quilo do pescado subisse de R$ 3,00 (2007) para R$ 5,00 (2012) – um aumento de 66% que provê uma renda média de R$ 4.000,00 por produtor por período de pesca.

Além dos resultados na estruturação da cadeia produtiva, a população diretamente envolvida teve um incremento de R$ 62,50 na renda mensal de 30% no primeiro ano de projeto e 44% apenas nos cinco primeiros meses de 2014, em uma área de vulnerabilidade social e pobreza.

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Já no projeto Manejar para Conservar o objetivo é apoiar a geração de trabalho e renda por meio do manejo sustentável de madeira na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Negro (AM), tornando legal e sustentável uma atividade historicamente ilegal e predatória, formando capacidades locais e empoderando-as para que acompanhem todas as etapas do licenciamento, produção e comercialização de madeira adotando as melhores práticas comerciais.

2.2.2. Componente Social – PBF-S No PBF Social os investimentos são direcionados para potencializar e apoiar o atendimento a necessidades essenciais das comunidades em educação, saúde, comunicação, transporte e outras atividades. Os projetos são implementados tanto de forma direta quanto por meio de parcerias e assim como nos demais componentes, todas as ações são decididas a partir das demandas dos ribeirinhos, em oficinas e reuniões. Em 2014 o PBF Social investiu R$ 1.156.000,00 em diversos projetos, sendo que as principais demandas foram ambulanchas (compra de novas unidades ou manutenção de 86 ambulâncias montadas em lanchas) atendimento médico emergencial (190 atendimentos em 2014), manutenção de lanchas voadeiras para transporte comunitário, rádios para comunicação, construção ou reforma de 34 escolas e manutenção de centros sociais.

2.2.3. Componente Associação - PBF-A O componente PBF Associação tem como objetivo promover e garantir o envolvimento social e o empoderamento das comunidades ribeirinhas através do fortalecimento da organização comunitária; promover a gestão participativa por meio da autonomia, do empoderamento e do protagonismo das comunidades;

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Em 2014 o PBF-S da FAS investiu na compra ou manutenção de 86 ambulâncias montadas em lanchas

e também contribuir para o fortalecimento e formação de novas lideranças comunitárias. Em 2014 o PBF Associação recebeu um investimento total de R$ 565.000,00. O empoderamento comunitário é feito principalmente através do associativismo e no contexto do PBF as “associações-mães” (federações de associações comunitárias em cada UC) filiadas recebem apoio da FAS na forma de investimentos estruturais (como barcos, computadores, construção ou reforma da sede) e cobertura de despesas de custeio como combustivel e manutenção e realização de reuniões comunitárias. Hoje existem associações com este perfil em 14 das 16 UCs e a taxa de adesão ao PBF é muito elevada: 86% das familias atendidas pelo PBF participam também do PBF Associação.

Oficinas permitem a participação de toda a comunidade nas decisões

Um dos destaques desta última edição é o aumento relativo no número de mulheres participantes do evento: dos 37 líderes comunitários, 12 são do sexo feminino, número recorde desde o início da realização do evento, realizado semestralmente desde 2009. As comunidades participantes do PBF Associação tem como benefícios o acesso a conhecimentos, meios, recursos e metodologias direcionadas ao aumento do engajamento social nas reivindicações dos direitos

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O desenvolvimento do protagonismo comunitário é feito por meio de mobilização, de oficinas de formação, de encontros e reuniões, palestras e seminários. Um dos eventos mais importantes é o Encontro de Liderancas, realizado semestralmente com os líderes de todas as “associações-mães” – em 2015 foi realizado o 14º destes encontros, reunindo cerca de 35 pessoas.

de cidadania e por serviços públicos de qualidade. Estas atividades são realizadas em parceria com o Centro Estadual de Unidades de Conservação (Ceuc)/Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Amazonas (Sema).

2.2.4. Componente Familiar - PBF-F O PBF requer adesão voluntária ao programa e assegura benefícios na medida do engajamento do participante. O componente PBF Familiar é o que oferece o benefício mais imediato, um valor mensal de R$ 50,00 a todas as familias participantes, pagos diretamente a mãe da familia. Para receber o PBF Familiar é requerida a participação em oficinas de capacitação em mudanças climáticas e serviços ambientais provenientes da floresta conservada; a não abertura de novas áreas de roçado em áreas de florestas primárias; e o ingresso ou permanência dos filhos na escola. O pagamento é iniciado logo após a assinatura do compromisso voluntário. Em 2014 o investimento médio anual por familia atendida foi de R$ 600,00, totalizando R$ 4.780.000,00 para o conjunto das 9.413 famílias. O uso dos recursos recebidos é de livre decisão e quase 60% tem sido historicamente utilizado para cobrir despesas de alimentação e vestuário – veja abaixo um gráfico que resume pesquisa de opinião realizada por uma empresa independente de pesquisa em três Reservas de Desenvolvimento Sustentável nas quais o PBF opera. O PBF Familiar não pretende ser a principal fonte de renda das famílias, mas um complemento de renda pago a título de recompensa pela conservação da floresta ao mesmo tempo em que cria um ambiente de cooperação e credibilidade.

Uso dos recursos do PBF pelas familias

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2.3. Informação e gestão online do PBF Para permitir que as comunidades atendidas, os doadores e todos aqueles que estejam envolvidos para o sucesso dos Programas estejam sempre bem informados, a FAS implantou o Banco de dados online do Programa Bolsa Floresta, uma ferramenta interativa na internet que oferece todos os tipos de camadas de mapas informativos. Ao navegar na plataforma, o usuário pode interagir rapidamente com um banco de dados em permanente atualização que contém informações sobre os investimentos em economia florestal, desenvolvimento social, organização comunitária e pagamento por serviços ambientais realizados pela FAS nas 16 Unidades de Conservação (UCs) beneficiadas. Este conjunto de dados é complementado com camadas de mapas adicionais que apresentam planos de gestão de UCs, mudanças no uso da terra, vegetação, hidrografia, solos e camadas de mídia com imagens do Street View, vídeos, fotos e edifícios em 3D. Acesse a plataforma em http://mapas.fas-amazonas.org/.

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Programa de Educação e Saúde (PES)

O

Programa de Educação e Saúde (PES) compreende a estratégia de ação da FAS voltada para a ampliação e a qualificação da oferta de serviços públicos de educação e saúde em comunidades ribeirinhas. A proposta é apoiar o poder público e estimular a disponibilidade de serviços de educação e saúde às UC estaduais atendidas pelo Programa Bolsa Floresta. Para viabilizar este objetivo o PES realiza várias ações, grande parte delas utilizando a infraestrutura dos Núcleos de Conservação e Sustentabilidade (NCS). Atualmente, são nove NCS estruturados em sete diferentes unidades de conservação. Estes núcleos compreendem um conjunto de estruturas para a promoção de serviços nos quais são realizadas inúmeras atividades de educação (em 2014 os núcleos abrigaram 675 alunos da rede pública de ensino), cursos de capacitação apoio à saúde, empreendedorismo ribeirinho e pesquisa, desenvolvimento e inovação. Veja a seguir um perfil das principais ações do Programa de Educação e Saúde.

3.1. Educação em Unidades de Conservação 3.1.1. Núcleos de Conservação e Sustentabilidade Os Núcleos de Conservação e Sustentabilidade são o resultado de parcerias com a Secretaria de Estado de Educação do amazonas (Seduc), prefeituras municipais, organizações não-governamentais e empresas privadas. São vetores de um processo estruturante porque neles as comunidades encontram apoio a implementação de projetos voltados para a qualificação profissional e empreendedorismo, atenção integral à primeira infância, intercâmbio de saberes, incentivo à leitura, reciclagem de resíduos sólidos, práticas agroecológicas e permacultarias, entre outros. A FAs atua em 16 Unidades de Conservação estaduais e já implantou Núcleos de Conservação e Sustentabilidade em nove destas Unidades de Conservação. Veja abaixo um exemplo, o NCS Agnelo Uchôa Bittencourt, em Iranduba, na RDS Rio Negro.

Núcleo de Conservação e Sustentabilidade Agnello Uchôa Bittencourt, em Iranduba, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Rio Negro

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3.1.2. Curso Técnico em Produção Sustentável em Unidades de Conservação Nos Núcleos de Conservação e Sustentabilidade são realizados programas como o Curso Técnico em Produção Sustentável em Unidades de Conservação. Desenvolvida ao longo de um ano, a iniciativa teve como objetivo formar técnicos em produção sustentável para suprir a demanda de trabalho local na RDS de Uacari e Resex do Médio Juruá, localizadas no município de Carauari (AM). A proposta do curso Pós-Médio Técnico de Produção Sustentável em unidade de conservação foi qualificar a mão-de-obra dos ribeirinhos para atuar nas cadeias produtivas extrativistas que possuem maior potencial de desenvolvimento na região. Oferecer um curso profissionalizante dentro de uma unidade de conservação foi uma iniciativa pioneira e definitivamente ousada. A grade curricular do curso foi especialmente organizada para atender às especificidades e realidade locais. Os alunos tiveram informações sobre os potenciais naturais dos lugares onde vivem, desenvolvendo habilidades sobre os recursos para promover atividades empreendedoras sustentáveis. A proposta pedagógica foi dividida em módulos de forma intensiva e ministradas por professores altamente qualificados. No total, cerca de 50% das horas de aula foram dedicadas às atividades práticas realizadas dentro da floresta.

O curso reuniu uma rede de 10 parceiros entre instituições públicas, associações locais e empresas. Ao final de 18 meses, 45 técnicos formados desenvolveram planos de negócios para as diferentes cadeias produtivas com potencial natural na região, como trabalho de conclusão do curso. De caráter inovador, o curso tem elevado potencial de replicação para outras regiões da Amazônia e outras partes do Brasil.

3.1.3. Bases do Aprendizado para o Desenvolvimento Sustentável É uma iniciativa de orientação a complementação da educação nas UCs nas quais a FAs opera. Em agosto de 2014 foi lançada a primeira edição do livro que reúne 60 Guias de Atividades abordando história, geografia, filosofia, desenvolvimento comunitário, artes, atualidades, poluição, saúde, ser humano e tradições locais adaptadas à realidade ribeirinha. Os professores participaram da oficina de capacitação para aplicação da metodologia direcionada aos alunos do ensino fundamental 1.

Capa do livro Bases do Aprendizado para o Desenvolvimento Sustentável

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3.1.4. Observatório da Educação Programa de monitoramento e análise de informações das escolas municipais nas comunidades onde a FAS atua, com avaliação da cobertura e qualidade da oferta da educação, da demanda educacional e do rendimento dos alunos. Já são quase 400 escolas mapeadas nesse processo e os resultados são repassados aos municípios para incentivar ações de melhoria da qualidade e subsidiar estratégias e materiais educacionais específicos para as comunidades ribeirinhas.

3.2. Educação complementar 3.2.1. Projeto de Gerenciamento de Resíduos Sólidos - Implantado nos núcleos nas RDSs do Juma, Mamirauá, Uatumã, do Rio Negro e APA do Rio Negro tem como objetivo promover o consumo consciente e mudanças de atitudes e hábitos da comunidade escolar, especialmente em relação ao manuseio adequado dos resíduos sólidos produzidos pelas familias. O projeto piloto teve início em 2013 e em 2014 a meta de 1.000kg de material processado foi ultrapassada em mais de 50% 3.2.2. Práticas Agroecológicas - Projeto de educação complementar que envolve alunos bolsistas

do ensino fundamental II e médio, em parceria com a Fapeam, que tem como objetivo despertar a consciência da conservação ambiental, a curiosidade científica, o senso de responsabilidade e a aplicação prática do conhecimento regular adquirido na escola. Cada núcleo oferece vários módulos, direcionados a atividades e demandas específicas de cada local: sistemas agroflorestais, aviários, viveiros de frutíferas e florestais, meliponicultura, hortas, dentre outras atividades produtivas, de acordo com a peculiaridade de cada localidade.

3.2.3. Jovens Empreendedores - Projeto que tem como objetivo promover a educação para o

empreendedorismo juvenil que apoia a recepção de turistas e a geração de renda. Realizado desde 2012 é direcionado aos alunos da escola Samsung, do Núcleo Assy Manana, entre os quais dois são da etnia Kambeba. Os jovens aprendem cálculos matemáticos simples, a construir gráficos em planilhas em Excel para controle do livro caixa e desenvoltura na comunicação. No programa são incentivados também elementos como sentimento de equipe, união, comprometimento, responsabilidade e colaboração entre os membros.

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Alunos participantes do projeto Jovens Empreendedores

3.2.4. Projeto Intercâmbio de Saberes - parceria entre a FAS e a Secretaria de Estado da Edu-

cação do Amazonas (Seduc), o projeto visa fortalecer o engajamento em torno da conservação ambiental e da melhoria da qualidade de vida nas comunidades e reservas. A cada ano é definido um tema (em 2014, o tema foi Protagonismo Juvenil, Liderança e Empreendedorismo) e os alunos, cerca de 110 por ano, são orientados a desenvolver trabalhos coletivos em torno do tema. Os alunos com melhor desempenho participam de uma viagem de intercâmbio com alunos de outras UCs e de escolas e universidades de Manaus; de 2012 a 2014, mais de 100 jovens participaram dos encontros. O Projeto é fruto de uma parceria entre a FAS e a Secretaria de Estado da Educação do Amazonas (Seduc).

3.2.5. Incentivo à leitura e escrita – Realizado em parceria com o Grupo Abril: revistas e gibis

não vendidos nas cidades de Manaus e Boa Vista são doados para as escolas nas UCs enriquecendo o acervo das bibliotecas e complementando as atividades educacionais dos núcleos. Como são publicações de diversas áreas do conhecimento e de grande qualidade, as revistas atualizam o material didático e servem de incentivo à leitura e à escrita, além de apoiar trabalhos de pesquisa e de exercícios em aula. O programa inclui também “feiras de trocas” de publicações, sempre muito concorridas.

3.3. Atenção às crianças e adolescentes 3.3.1. Projeto Primeira Infância Ribeirinha (PIR) É uma iniciativa conjunta da FAS com a Secretaria de Estado da Saúde do Amazonas (Susam) Fundação Bernard Van Leer e o Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis) para contribuir para o

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Revistas e gibis da Editora Abril ajudam a desenvolver habilidades de leitura e escrita

desenvolvimento dos cuidadores das crianças na primeira infância nas comunidades ribeirinhas no estado do Amazonas, fortalecendo o vínculo entre mãe e filho, além de desenvolver competências dos profissionais em primeira infância. A metodologia consiste na capacitação de agentes comunitários de saúde da RDS do Rio Negro, que realizam acompanhamento da evolução das crianças desde a gestação até os seis anos de idade. Pioneiro na Amazônia, o projeto conta com apoio do Projeto Primeira Infância Melhor (PIM-RS) e seus resultados do projeto Primeira Infância Ribeirinha foram apresentados em vários eventos internacionais sobre o tema como no Chile e Cuba e também no Brasil.

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Resultados do Programa Primeira Infância Ribeirinha

3.3.2. Projeto Quem Ama Cuida As ações de atenção às crianças e adolescentes são apoiadas pelo Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (Fumcad) nos municípios de Carauari, Uarini e Maraã. O fundo é constituído por valores disponibilizados pelo Banco Bradesco que são supervisionados pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e Adolescente (CMDCA). O objetivo do projeto é valorizar a realidade onde o jovem reside, fornecendo-lhe condições de desenvolvimento de habilidades e melhora de qualidade de vida, bem como também a noção de pertencimento social. As atividades ocorrem nos intervalos do período escolar e abordam temas como conhecimento em informática, práticas de instrumentos musicais, arquearia, artesanato e lazer; junto à família é feito acompanhamento psicossocial, valorizando o papel da mãe e do pai na formação do indivíduo. Em Carauari, o projeto abrange 250 famílias que vivem em comunidades ribeirinhas da RDS de Uacari e Resex do Médio Juruá. Foi articulado pela FAS e executado pela Associação de Moradores da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uacari (Amaru), tendo como parceria a prefeitura de Carauari. Em Uarini e Maraã a implementação do projeto é feita pela FAS. Desde 2014 três grandes seminários trabalharam a questão dos Direitos da Criança e do Adolescente, além de temas de relevância social como combate à prostituição infantil, comportamento familiar, higiene pessoal, combate ao uso das drogas e problemas como alcoolismo.

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Programa de Soluções Inovadoras (PSI)

U

ma das suas características da FAS é a busca por soluções inovadoras, e junto com parceiros a FAS desenvolve e aprimora várias soluções voltadas à conservação ambiental, qualidade de vida e geração de renda, monitoramento e acompanhamento de resultados e impactos. O Programa de Soluções Inovadoras (PSI) integra grande parte destas iniciativas, como as que apresentamos a seguir.

4.1. Monitoramento ambiental A implantação de um modelo de Desenvolvimento Sustentável na Amazônia significa a redução e se possivel eliminação do desmatamento. Para complementar as ferramentas do Programa Bolsa Floresta a FAS implementa também o Programa de Monitoramento Participativo das UCs do Programa Bolsa Floresta (PPDUC), em parceira com o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). O programa tem dois eixos: monitoramento do desmatamento e degradação (controle dos focos de calor) feitos periodicamente com dados oficiais do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE); e monitoramento participativo com atividades de sensibilização e treinamentos de comunitários para calibração de imagens de satélite. O PPDUC utiliza o Open Data Kit (ODK), uma ferramenta desenvolvida pela Google e pela Universidade de Washington que é utilizada com apoio do Centro Estadual de Unidades de Conservação (Ceuc), que permite aos ribeirinhos informarem, por meio de um smartphone, informações sobre atividades, localização e causa do desmate, aumentando a eficiência no monitoramento do serviço das florestas.. O programa gera análises mensais de agosto a dezembro sobre focos de calor e relatórios anuais sobre desmatamento. Em 2014, as UCs com o Bolsa Floresta tiveram 50% menos desmatamento e 27% menos focos de calor menor do que as áreas não atendidas pelo programa.

4.2. REDD+, Serviços Ambientais e Mudanças Climáticas REDD+ - uma sigla para Redução de Emissões provenientes de Desmatamento e Degradação Florestal - é uma estratégia em discussão na Convenção Quadro de Mudanças Climáticas que oferece compensações para os países em desenvolvimento reduzirem emissões de gases que provocam o efeito estufa provenientes de florestas e investirem em desenvolvimento sustentável e práticas de baixo carbono para o uso da terra. O financiamento porencial virá de países desenvolvidos, dentro da lógica de responsabilidades diferenciadas que rege a Convenção do Clima. Apesar de ainda não fazer parte do atual acordo no Protocolo de Quioto, REDD+ deve entrar em vigor em 2020.

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A FAS está se preparando para ser um reconhecido operador desta ferramenta e em 2008 desenvolveu o projeto de REDD+ da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Juma. A RDS do Juma foi criada em uma área de 589.612 hectares de floresta amazônica localizada nas cercanias da Rodovia BR-319, em uma área de intensa pressão por desmatamento, en una oparceria que envolveu a Secretaria do Meio Ambiente e Desenvolvimento sustrentável do Governo do Estado do Amazonas, o opio financeiro do grupo hoteleiro Marriot International (que já investiu US$ 2,500,000.00 em cinco anos) e o o apoio técnico do Instituto de Conservação e Desenvolvimento ustentável do Amazonas (Idesam).

Em setembro de 2007 o projeto foi validado com certificado emitido pela alemã TÜV SÜD que concedeu ao projeto o padrão de qualidade Ouro, o primeiro do mundo a ser incluído nesse padrão e o primeiro projeto da América Latina com uma certificação do gênero. Além dos benefícios climáticos esperados com a redução de emissões de GEE do desmatamento evitado, espera-se gerar diversos benefícios sociais e ambientais na área do projeto, através da aplicação dos recursos nos seguintes programas ou conjunto de atividades: • Fortalecimento da fiscalização e controle ambiental • Geração de renda através de negócios sustentáveis • Desenvolvimento comunitário, pesquisa científica e educação • Pagamento direto por Serviços Ambientais – o PBF

4.3. Google Street View na Amazônia Em 2010 a Fundação Amazonas Sustentável (FAS) e a Google iniciaram uma parceria para registrar áreas da Amazônia em imagens em 360°. O projeto tem como objetivo proporcionar conhecimento para a conscientização da sociedade sobre a importância da Amazônia, além de ter estimulado o turismo nas áreas mapeadas. Este projeto permitiu tamnbém a implantação do Banco de dados online do Programa Bolsa Floresta apresentado no capitulo 2.3.

Para realizar a documentação das áreas a expedição passou 18 dias no Amazonas, navegou por mais de 500 km de rios, lagos e córregos, fez longas trilhas no coração da mata, escalou árvores,e pela primeira vez o Trekker (aparelho desenvolvido pelo Google) foi pendurado em uma tirolesa, proporcionando imagens das copas de árvores. Todas as imagens podem ser acessadas diretamente da ferramenta Google Maps ou no mapas.fas-amazonas.org.

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Iniciado na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Rio Negro, o Google Street View na Amazônia hoje oferece imagens digitalizadas também das Reservas do Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Juma e Madeira, localizadas a 228 km da capital Manaus.

Documentação para o Google Street View

4.4. Agenda de Valor compartilhado A Agenda de Valor Compartilhado é uma iniciativa para garantir benefício social para as comunidades e geração de resultados para as empresas envolvidas e parte do pressuposto de que o êxito dos negócios depende do sucesso e sustentabilidade da sociedade e dos recursos naturais. Os resultados esperados incluem uma agenda positiva de impactos sociais e ambientais comuns, com ganhos de escala e eficiência. O lançamento da agenda foi realizado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Coca-Cola e Natura, com suporte técnico e mobilizador da FAS, em dois eventos em outubro de 2014, em Manaus.

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A iniciativa integra lideranças empresariais, governo, setor acadêmico e representantes da sociedade civil como as organizações Instituto Coca-Cola, CEBDS e Natura, a Associação dos Moradores Agroextrativistas da Comunidade Nova Esperança (AANE), Cooperativa de Desenvolvimento Agroextrativista e de Energia do Médio Juruá (Codaemj), Associação do Baixo, Comunidade do Roque, Comunidade do Lago Serrado, Associação dos Moradores Agroextrativistas da Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Uacari (AMARU), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), Açaí Tupã, Associação dos Produtores Rurais de Carauari (Asproc), Centro Estadual de Unidades de Conservação (CEUC), e Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Amazonas (IDAM).

A metodologia se inspira em duas ações com objetivos similares (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – ODS e Ação 2020) e também deve para subsidiar a formulação de políticas públicas para o desenvolvimento sustentável. A FAS e os parceiros têm o objetivo de mapear, de forma participativa, as demandas sociais existentes nos territórios de atuação das empresas proponentes da agenda, identificar empreendedores cujos negócios se relacionem com as demandas locais e articular ações integradas entre essas empresas e as comunidades, contribuindo para o estabelecimento de redes eficientes de conhecimento e ação. A FAS realiza o secretariado executivo da iniciativa. No Território do Médio Juruá, as empresas Natura e Coca-Cola possuem atuação efetiva nas cadeias produtivas dos óleos vegetais e do açaí nativo.

4.5. Projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação Em 2014 a FAS implementou dois projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) financiados com recursos da Videolar S/A, no âmbito do Comitê das Atividades de Pesquisa e Desenvolvimento da Amazônia (Capda), para promover melhorias nas cadeias produtivas do açaí e óleo vegetal da andiroba. As ações estão sendo desenvolvidas na RDS Uacari, em Carauari e envolvem produtores ribeirinhos, lideranças das entidades do Território do Médio Juruá e egressos do curso pós-médio de produção sustentável em unidades de conservação. A primeira fase do projeto, desenvolvida ao longo de 2014, compreendeu o planejamento e a realização de capacitações em boas práticas para a cadeia do açaí, avaliação e adaptações tecnológicas em dispositivos e equipamentos inovadores para o aumento da qualidade dos produtos, bem como o planejamento e consulta participativa para a construção de um laboratório experimental de beneficiamento de óleos vegetais e açaí, programado para a fase 2 do projeto, em 2015. São resultados esperados dos projetos a produção de açaí, seguindo os preceitos de boas práticas agroextrativistas, adoção de procedimentos de segurança para a extração de frutos, maior rendimento e melhor qualidade (mais refinados e ideais para comércio) na produção de óleo de andiroba.

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Indicadores de gestão dos programas

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s indicadores da FAS são sistematizados em gestão, resultados e impacto.

Em gestão temos 36 indicadores que avaliam, por exemplo, o investimento anual por unidade de conservação, como os R$ 517.928 na RDS Rio Negro, além da execução financeira e orçamentária. Os 176 indicadores de impacto apresentam dados como o incremento na renda em mais R$ 2.000,00 para as famílias envolvidas com a pesca do pirarucu, e focam em projetos realizados, adesão de beneficiados nas atividades, pessoas impactadas e redução do desmatamento nas UCs que atuamos. Já os indicadores de resultado, totalizam 13, e abarcam números de projetos de geração de renda, realização de oficinas comunitárias e bens sociais entregues, como 40 roçadeiras, 32 geradores, 22 motores-bomba, etc.

Os dados sobre o desmatamento são obtidos por meio de parceria com o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (IMAZON) através de imagens de satélite. A equipe de campo coleta os dados de performance e resultados dos projeto. A PWC auditou e comprovou a consistência metodológica dos indicadores. A FAS mensura os benefícios socioambientais de seus programas por meio de indicadores de resultados, avaliações feitas por terceiros e pesquisas junto aos beneficiários dos projetos. Os números são sistematizados no banco de dados que concentra as famílias cadastradas nos programas e dados de execução financeira, resultados e impactos já mencionados. Um departamento dentro da instituição tem a responsabilidade de sistematizar e acompanhar estes indicadores que são complementados por informações do departamento administrativo-financeiro. Por meio de relatórios de atividades, auditorias, prestação de contas para parceiros e reuniões gerenciais com a equipe é possível entender o andamento dos programas, pontos positivos e negativos e ajustes necessários para manter um padrão de qualidade alcançado pela experiência e diversidade de projetos executados pela FAS.

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Principais Resultados

O

s resultados da atuação da FAS se multiplicam no quotidiano das quase 10.000 famílias beneficiadas, porque modificam vidas, criam oportunidades e protegem a floresta. Estamos conseguindo fazer com que a floresta valha mais de pé do que derrubada. Mas nosso trabalho também repercute em outras dimensões, como em fóruns internacionais onde é avaliado muito positivamente ou apresentado como modelo para conservação de florestas tropicais. Alguns destes resultados podem ser resumidos: Benefíciamos diretamente muitos brasileiros. Atuamos junto a 9.413 familias em 577 comunidades ribeirinhas, totalizando 40.090 pessoas localizadas em 16 Unidades de Conservação, numa área superior a 10,8 milhões de hectares Reduzimos o desmatamento. O desmatamento nas unidades de conservação estaduais nas quais atuamos é 50% menor do que nas unidades de conservação estaduais nas quais não atuamos, e o número de focos de queimadas também é muito inferior: em 2014, foram registrados 27% menos focos de calor do que as áreas não atendidas pelo programa. Criamos oportunidades. Implementamos 569 projetos que envolvem geração de renda, conservação ambiental, educação saúde, associativismo, empreendedorismo, microcrédito, inovação tecnológica, produção e conservação de água, habitação e moradia, desenvolvimento rural de base comunitária, e turismo de base comunitária. Promovemos a cidadania participativa o sentimento de pertinência. Os projetos são elaborados e decididos pelas próprias comunidades na forma de oficinas de planejamento participativo; em 2014 foram realizadas 101 oficinas com a participação de 4.149 moradores. Estamos exportando excelência em desenvolvimento sustentável. Além dos resultados operacionais importantíssimos (como o atendimento a pessoas, geração de oportunidades e redução do desmatamento), a FAS se orgulha de algumas conquistas tais como: • Reconhecimento pela Rainforest Alliance (EUA) como gestora do melhor projeto de redução do desmatamento e degradação florestal mais conservação, manejo e enriquecimento de florestas (REDD+) do mundo • ter realizado o primeiro projeto REDD+ das Américas • ser a primeira organização a obter o certificado Climate, Community and Biodiversity Alliance (CCBA) no Brasil

• de criar no Brasil o capítulo Amazônico da Rede Sustainable Development Solutions Network, vinculada à ONU) • ser destacada por instituições de pesquisa internacional como o Center for International Forestry Research (CIFOR), da Indonésia e o International Institute for Environment and Development (IIED), da Inglaterra) como lideres na escala internacional em nosso campo de atuação • ser alvo de reportagens com profundidade por midias com alta credibilidade e representatividade

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• ser a o primeira organização do mundo a obter o nível OURO do certificado Climate, Community and Biodiversity Alliance (CCBA), mediante auditoria independente da TUV-SUD (Alemanha)

como Jornal O Estado de São Paulo, Jornal Nacional da Rede Globo, Globonews, no Brasil e The Economist, BBC, Chanel 5 no exterior Estabelecemos modelos. Um de nossos programas resultou na criação de Núcleos de Conservação e Sustentabilidasde (NCS), inspirados nos Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs) de Darcy Ribeiro, adaptados para a realidade amazônica. Um NCS é um conjunto de estruturas, construções, tecnologias e serviços que podem prover muitos serviços essenciais para comunidades; atualmente nove NCS já estão operando. Estamos sendo reconhecidos. O trabalho da FAS vem sendo reconhecido por titulações, convites para integrar grupos seletivos, publicações internacionais e também com a conquista de prêmios como o Prêmio von Martius de Sustentabilidade, outorgado pela Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha e o Prêmio ODM (Objetivos de Desenvolvimento do Milênio) do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e Presidência da República.

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