PERINI, M.A. Para uma nova gramática do português. 10ª ed. São Paulo: Ática, 2004. (RESENHA)

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Resenha do livro Para uma nova gramática do português

Por Jonatas Ferreira de Lima Souza (DRE 115044769)

Trabalho apresentado à Prof. Ana Paula Belchor, como avaliação final da disciplina Leitura e produção de textos em língua portuguesa (LEWX02)

Faculdade de Letras – UFRJ 1º semestre de 2015

1 PERINI, M.A. Para uma nova gramática do português. 10ª ed. São Paulo: Ática, 2004. A principal proposta do trabalho de Mário Perini já está explicitada em seu título: uma

nova gramática do português. Para tal, o autor pretende priorizar as fundamentações teóricas que pouco são levadas em consideração no quesito “ensino gramatical”. A preocupação do

autor está relacionada à recorrente falta de espírito crítico quanto ao ensino da gramática no

Brasil, o que leva os estudantes a uma defasagem no âmbito do desenvolvimento da argumentação, raciocínio e crescimento intelectual.

O livro claramente não se destina aos estudantes do ensino básico, mas, sim, aos

professores em formação nas universidades brasileiras. O autor convida professores e acadêmicos ao questionamento da tradição gramatical, apresentando uma proposta que não é

nova, mas muito tímida. É com o aprofundamento teórico que o autor pretende aproximar essas ideias dos profissionais da língua portuguesa, não necessariamente apenas linguistas.

O professor e autor Mário Alberto Perini já escreveu mais de dez livros sobre língua

portuguesa, com enfoque na gramática e seus usos. Dentre suas obras, destacamos, além desta que resenhamos, Gramática do português brasileiro (2010), Estudos de gramática descritiva: as valências verbais (2008), Princípios de linguística descritiva (2006), A língua do Brasil

amanhã (2004), além de publicações pela Universidade de Yale (EUA), tais como Talking Brazilian: a Brazilian Portuguese Pronunciation Workbook (2003) e Modern Portuguese: a

Reference Grammar (2002). Ainda temos, na década de 1990, Sofrendo a Gramática:

Ensaios sobre a Linguagem (1997), Gramática Descritiva do Português (1995), e, nas

décadas de 1980 e 1970, Sintaxe Portuguesa: Metodologia e Funções (1989), Ensaios de

Linguística 1 (1978), Gramática do Infinitivo Português (1977) e A Gramática Gerativa: Introdução ao Estudo da Sintaxe Portuguesa (1976).

Mário Perini possui Doutorado em Linguística (1974) pela Universidade do Texas e

cinco Pós-Doutorados pela Universidade de Illinois (1980-2000). Seu trabalho Para uma

Nova Gramática do Português (1985) é um dos primeiros, no Brasil, a colocar em discussão crítica, entre os linguistas e os pesquisadores da língua, no geral, o ensino da gramática nas

escolas. Atualmente, Mário Perini é professor voluntário da UFMG, bem como atua na PUCMinas, UNICAMP e nas Universidades de Illinois e Mississipi, nos Estados Unidos.

O autor desta resenha é graduando em Letras Português-Hebraico pela UFRJ e possui

a difícil atividade, porém importante para o crescimento acadêmico, de apresentar brevemente a obra Para uma nova gramática do português, procurando entender o motivo de sua

2 permanência nos estudos da língua e, principalmente, da gramática do português brasileiro no século XXI.

A obra Para uma nova gramática do português está dividida em: Prefácio (p. 5);

Introdução (p. 9); Doutrina explícita e doutrina implícita (p. 15); Três problemas básicos (p.

21); As bases da nova gramática (p. 42); Os dados da análise (p. 85); Vocabulário crítico (p. 89); Bibliografia comentada (p. 91). Em seu Prefácio, escrito pelo próprio, o autor irá

justificar a necessidade de sua proposta. Ainda como um trabalho inicial, expressa sua intenção de romper, por meio do exercício da crítica, as barreiras da Gramática que chama de

“tradicional” (abreviada por GT), ensinada exaustivamente nas escolas. Em sua Introdução, instiga à leitura de seu trabalho, destacando os problemas no ensino da gramática e a importância de romper com “um conjunto de princípios fixos e universalmente aceitos” (p.

10). O autor delimita sua teoria, sendo essa sua preocupação, seu método e aqueles

responsáveis por aplicá-los, além de destacar a dificuldade em lidar com semântica muito mais que com a sintaxe (tratando esta de forma mais abrangente na obra). Deixa claro sua crítica à gramatica e não aos gramáticos, que chama de “vítimas de uma tradição” (p. 11).

Em Doutrina explícita e doutrina implícita, Perini propõe novas abordagens e

questionamentos aos conceitos “universalmente aceitos” da GT, bem como estabelece as divisões DGEx (para o entendimento proposto pela GT) e DGImp (para o real uso e abstração

do falante da língua). A DGImp é aquela usual (bem menos contraditória), que pode modificar o conceito tradicional contido na DGEx. O autor deixa claro que existe uma

rejeição do reconhecimento da existência real da DGImp, em detrimento da DGEx, no ensino

nas escolas. Destaca a necessidade de os profissionais da língua desenvolverem

questionamentos críticos para com a GT, para, então, torná-la realmente útil aos estudantes. Para isso, a DGEx é questionada pelo autor, como uma doutrina que não é usual para ninguém (sendo esta aquela que impera no ensino básico), buscando, dessa forma, argumentar acerca da importância da DGImp; no entanto, sem desvincular ambas as doutrinas, defendendo ser um dos encargos do professor nas escolas esclarecer sempre o porquê das suas desarmonias. Essa questão receberá destaque no tópico Incoerência e autoritarismo.

Em Três problemas básicos, como o título indica, o autor irá desenvolver seus

argumentos, discutindo três pontos que entende serem de suma importância para se

compreender a necessidade de uma nova gramática: (1) o formal e o semântico (seus

aspectos); (2) a noção de “paradigma gramatical” e (3) classes e funções. Em (1), Mário Perini evidencia a necessidade de uma boa gramática sempre relacionar claramente o aspecto, a forma, com a semântica, ou seja, o sentido atribuído. Essa semântica, destaca o autor, é

3 plural (contextual), fato esse que, segundo ele, não é levado tão em conta pela GT. Para ele, a semântica é menos compreendida do que o fenômeno sintático na GT. Em (2), o autor segue

seus esclarecimentos quanto às definições da DGImp em comparação com os conceitos

tradicionais (DGEx) da GT. Nesse ponto, ele traz ao leitor a noção de “paradigma gramatical”. Nele, o autor trata de uma questão ao mesmo tempo sensível e complexa, devido

à instabilidade dos conceitos. Mas, segundo ele, é de suma importância para estruturar uma

teoria sistematizada voltada ao âmbito semântico da língua, uma vez que esta é pouco

elaborada na GT. Por fim, em (3), o autor procura esclarecer os conceitos incompletos e/ou um tanto confusos da GT com relação às classes e funções das palavras, propondo soluções com possibilidades já conhecidas pelos linguistas.

Em As bases da nova gramática, Mário Perini passa a desenvolver estruturalmente sua

proposta para uma nova gramática, apontando caminhos, reconhecendo que “a tarefa de lançar as bases da nova gramática é necessariamente longa” (p. 85), e o autor compreende os

limites de sua obra. Alguns desses caminhos, já tratados em forma de críticas à GT, são

apresentados segundo os temas relacionados à semântica (contexto literal) e à pragmática (contexto extralinguístico), ambos entendidos de forma separada. Também temos tópicos

relacionados à descrição do significado, acreditando ser necessário maior destaque ao estudo

do significado na gramática, retomando semântica, contexto e pragmatismos dos elementos gramaticais e outras seis categorias que considera fundamental para a compreensão deles:

denotação, funções temáticas, dêixis, força ilocucionária, tratamento e status funcional. Em

outro momento, o autor examinará os traços discursivos na descrição (aspectos funcionais da linguagem). Nesse ponto, o leitor encontrará definições acerca do que o autor chama de status: tópico e comentário, foco de contraste, definido e indefinido, dado e novo.

A próxima discussão do autor destaca a elipse (subentendidos) e os constituintes

vazios (provocados pelo subentendido). Nela, encontramos teorias acerca das análises

sintáticas frasais possíveis, como a teoria da “análise abstrata” (sobre os “nódulos vazios”). O leitor encontrará as seguintes discussões com relação aos verbos e substantivos “lexicalmente vazios”: interpretação semântica, coordenação a estruturas paralelas, enquadramento em uma

estrutura típica da língua, presença de sujeitos e objetos, reposição de itens elípticos. Mário

Perini busca, necessariamente, localizar a problemática, para elaborar sua solução, e,

criteriosamente, selecionar uma das propostas para uma nova gramática. Em sua última discussão acerca das bases da nova gramática, Perini concentra-se no que chama de

“problemas das classes de palavras”. Esse problema, destaca o autor, gira entorno do “grau de correspondência entre o aspecto formal e o semântico das expressões linguísticas” (p. 74). Dá-

4 se importância a esse elemento da gramática, pois, com as classes, é possível observar o comportamento gramatical/sintático das palavras. Diante de suas análises, o autor discutirá se, nessa nova gramática, o termo “classe” ainda deverá ser utilizado.

Os dados da análise trata, pontualmente, o modo de como o português-padrão

brasileiro está sendo descrito (sua variedade). Aqui, o autor defende o uso de textos técnicos e jornalísticos como relevantes para obtenção de dados acerca desse português-padrão. Em Vocabulário crítico, o autor conceitua os principais termos técnicos presentes na obra, e algumas denominações elaboradas por ele próprio e, por fim, em Bibliografia comentada, o autor tece pequenos comentários para cada referência bibliográfica utilizada em sua obra.

No geral, para a concatenação de seus argumentos, o autor utiliza uma escrita culta de

fácil leitura, além do trabalho exaustivo, mas não cansativo, com exemplos abundantes

pertinentes à defesa de suas propostas. Os principais termos técnicos, como já vimos, são esclarecidos pelo autor em seu capítulo Vocabulário crítico.

Apesar de a obra ser de 1985, está clara a sua atualidade em pleno século XXI. As

críticas elencadas por Mário Perini à GT ainda são pertinentes, pois quase nada mudou no

ensino básico, uma vez que as escolas brasileiras, em sua maioria, focam apenas a preparação para concursos após o término do Ensino Médio. Além disso, a gramática não é vista como

ciência nas escolas, mas sim como um manual de normas do português escrito. Dessa forma,

as críticas do autor em sua obra são válidas com relação à atualização (que ainda, mesmo em 2015, é muito tímida) da GT, pois existe a necessidade de tratar o estudo da língua portuguesa, no ensino básico, como uma ciência e não como um manual que dita as verdades

universais da língua. Mário Perini continua (mesmo aposentado e como professor voluntário)

defendendo essas e outras ideias acerca da inserção das pesquisas atuais no estudo da gramática, o que torna a sua obra, de 1985, referência ainda atual e essencial para a compreensão dessas problemáticas em nossos dias.

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