PERSPECTIVA GERACIONAL EM OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE

May 30, 2017 | Autor: Tiago Roque | Categoria: Etnografía, Antropología Social, Antropología, Antropologia Urbana
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Instituto Superior de Ciências Sociais e Politicas (UTL-ISCSP) 2015 Antropologia Urbana Docente: Cláudia Vaz Discente: Tiago Roque (216566) PERSPECTIVA GERACIONAL EM OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE

“TELL ME AND I WILL FORGET, SHOW ME AND I MIGHT REMEMBER, INVOLVE ME AND I WILL UNDERSTAND.” CONFUCIUS

INTRODUÇÃO A observação participante como afirma DeWalt “é aceite universalmente como o aspecto central e o método que define a pesquisa na antropologia cultural”. Malinowski iniciou a sua prática com os Trobriand e ao longo dos séculos tem sido o método usado para uma maior imersão e entedimento de uma comunidade. Apesar da Antropologia nos seus primórdios estar associada ao estudo social de pequenos grupos e etnias, a globalização trouxe novos campos de pesquisa associados às novas metrópoles e às novas dinâmicas criadas após o fim do período de colonização, e das duas guerras mundiais. Desta forma Magnani (2003) propõe “a hipótese de que a antropologia tem uma contribuição específica para a compreensão do fenómeno urbano, mais especificamente para a pesquisa da dinâmica cultural e das formas de sociabilidade nas grandes cidades contemporâneas”.

As diferentes observações propostas em aula prendem-se assim com a procura de uma nova visão sobre os dois diferentes locais associados à metrópole de Lisboa assim como ao conceito de geração muitas vezes associado ao de família. A terceira observação participante foi feita em Torres Vedras, num local de passagem, à entrada do café Saborear no Parque Verde da Várzea a um domingo à tarde. Em suma, depois de uma análise atenta do texto e de uma maior concepção dos conceitos de geração e de como estes estão associados a alterações de pensamentos e ideais, o meu objetivo através da observação dos diferentes locais é focar-me no modo como as diferentes gerações deixam a sua marca no ambiente e que novas dinâmicas são criadas pela relação entre diferentes gerações.

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Índice: - Introdução _____________________________________________2 1. Enquadramento Teórico ________________________________ .4 1.1. Carles Feixea ______________________________________4 1.2. “O conceito de geraçãomnas teorias sobre Juventude” _____ 4 2. Perspectiva geracional em Observação Participante ___________ 6 2.1. Observação Participante em Caselas ___________________ 6 2.2. Observação Participante na Cova da Moura ______________ 9 2.3. Observação Participante no Café Saborear ______________13 -Conclusão _____________________________________________15 -Referências ____________________________________________17

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ENQUADRAMENTO TEÓRICO CARLES FEIXA Carles Feixa, catalão, nascido em 1962, doutorado em Antropologiaia Social na Universidade de Barcelona focou a sua investigação em temas como culturas juvenis, organizações culturais, multiculturalismo, segundas gerações, violência e cultura entre outros. De acordo com o website do conselho iberoamericano da investigação da juventude, Feixa é coeditor da revista Inglesa Yound e membro do Conselho Editorial das revistas Nova Antropologia no México, Nómadas de Bogotá, Mondi Migranti de Milão e Análise Social de Lisboa. Foi acessor das Nações Unidas para Políticas da Juventude e é Vice-Presidente do Comité de Investigação “Sociologia da Juventude” da Associação Internacional da Sociologia.

BREVE ANÁLISE DO TEXTO O CONCEITO DE GERAÇÃO NAS TEORIAS SOBRE JUVENTUDE DE CARLES FREIXE

O debate sobre o conceito de geração associado ao estudo da juventude remonta a inícios do séc XX. Para Comte o conceito de geração pode ser associado a continuidade e progresso. Desta forma, “o progresso é identificado com as novas gerações, o que não significa desvalorização do passado, que coincide com as gerações mais velhas”, existe desta forma uma comparação à biologia humana, denotando que tal como o organismo humano, também o organismo social é sujeito a desgaste. Comte argumenta que 30 anos é o período de tempo que no meio social uma geração substituí a seguinte, e que este período possibilita assim um equilíbrio social que permite a manutenção do instinto inovador das novas gerações que leva eventualmente ao progresso. Dilthey vem refutar a visão matemática e qualitativa de Comte associando o conceito de geração ao ritmo histórico. Assim, segundo o filósofo alemão “as gerações são definidas em termos de relações de contemporaneidade e consistem num conjunto de pessoas sujeitas em seus anos de maleabilidade máxima a influências históricas comuns (intelectuais, sociais e políticas)”. É importante realçar que a definição de geração para Dilthey está associada à sua própria interpretação de temporalidade, distinguindo entre o tempo natural e o tempo humano, que é concreto e continuo e tem a capacidade de “transcender o tempo percorrido e construir acontecimentos individuais dentro de um todo homogéneo e coerente”

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Mannheim afasta-se das ideias previamente analisadas e vê o estudo das gerações como importantes para a observação da mudança social associada aos modos de pensamento. Vem refutar Dilthey, afirmando que as gerações podem ser resultado da descontinuidade histórica e daí, as tais mudanças de pensamento. Abrams vem unir aos conceitos principais da teoria de Mannheim (geração e tempo histórico) o conceito de identidade de forma a criar uma relação entre o tempo social e o tempo individual. Para este, individualidade é a conjunção entre “consciência do entrelaçamento da história individual e da história social”. Para Abrams, geração é “é o período de tempo durante o qual a identidade é construída a partir de recursos e significados que estão socialmente e historicamente disponíveis”. Novas gerações têm acesso a novos recursos, o que gera novas maneiras de pensar e consequentemente novas formas de acção. Torna-se assim possível concluir que uma geração pode ser renovada em 10 anos ou em décadas pois esta não está associada a um espaço temporal mas a uma nova formação de ideologias e pensamentos. O texto foca-se posteriormente na situação geracional na Itália, focando-se inicialmente no conceito de consciência geracional e como este tem um profundo envolvimento com dinâmicas sociais e histórico-sociais. O estudo aprofundado da consciência geracional pode “mostrar os modos pelos quais as continuidades e descontinuidades

histórico-sociais,

como

reprocessadas

pelos

indivíduos,

se

configuram como base para a construção dos laços sociais entre diferentes gerações.” Após uma análise do texto, assim como do conceito de geração, o meu objectivo para este trabalho é guiar a minha observação procurando as caracteristicas que demarcam a presença das diferentes gerações, qual é o seu papel dentro das dinâmicas do lugar e perceber de que forma cada geração deixa a sua marca. Seria também interessante perceber de que forma as diferentes gerações convivem entre si.

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PERSPECTIVA GERACIONAL EM OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE NO BAIRRO DE CASELAS

No dia 23 de Março a turma do segundo ano de antropologia realizou durante uma hora um exercício de observação participante munido do diário de campo em Caselas. Apesar da curiosidade acerca deste local, considerei que seria interessante visitá-lo sem ter uma ideia pré concebida de como seria e da sua história, no entanto, por associação ao local do segundo exercício de observação, a Cova da Moura, esperava em Caselas encontrar uma realidade diferente, mais associada ao tão infame bairro. Este acabou por não ser o caso. A chegada a Caselas é marcada pela aparição de uma igreja, no ponto mais alto do bairro, rodeada por um miradouro, onde se demarcava a presença de uma barraca improvisada e comida para cão, provavelmente deixada por algum bom samaritano. A área circundante desse miradouro era composta por mato e na distância era possível observar uma parte periférica do bairro demarcada por grandes edifícios de actividade económica. Na descida para o local de encontro denotei a existência de varias residência e que a maioria tinha sistema de segurança, assim como a igreja. O local do encontro da turma era marcado por um café, uma mercearia, vários edifícios residenciais, um deles à entrada marcado com tags (note-se aqui a associação às formas de street art), o que indica a presença de uma população mais jovem que naquela hora do dia não era predominante, sendo que as únicas jovens que observei estavam numa paragem de autocarro com o intuito de ir para o Pólo Universitário da Ajuda. Os tags que podem ser associados à marginalidade são fruto da presença de “jovens esquisitos à noite” como afirmou uma das jovens à minha colega que as estava a inquirir. Na paragem de autocarro estavam ainda mais pessoas de diferentes faixas etárias, com predominância de adultos que na sua maioria se dirigia para o trabalho. Na área circundante existia um pequeno parque verde com máquinas de fitness, onde foi possível observar um casal de idosos a exercitar-se, um parque infantil onde se encontrava uma idosa com o seu neto que prontamente e com um sorriso mostrou disponibilidade para responder a algumas perguntas da colega de trabalho.

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Existia também um edifício pertencente a um grupo recreativo, este já um pouco mais degradado que os restantes locais, provavelmente fruto de uma construção mais antiga. Esta zona, pela existência destes diferentes pontos, assim como de dois restaurantes e uma drogaria aparenta ser um local de passagem e assim, o centro de Caselas. Em geral as oportunidades de trabalho neste local são escassas pois existe pouca variedade de geradores económicos. Ainda dentro deste campo é importante realçar que os estabelecimentos locais, como, restaurantes, cafés, drogarias, centro de mecânica automóvel eram geridos por uma faixa etária mais envelhecida. Um dos locais importantes em relação ao meu objectivo do trabalho é o condomínio Villa Restelo. Apesar de não me ter sido possibilitado o acesso, foi possível tirar várias conclusões a partir do acesso ao website referente ao condominio assim como do aspecto urbano e dos indivíduos que saiam e entravam. Inicialmente, o facto de ter porteiro durante 24 horas assim como câmaras de segurança e uma cancela denota que é um condomínio que se preocupa com a segurança, em segundo ponto, os apartamentos tinham aspecto de ser de classe média alta. As pessoas que saiam, sempre de carro, eram geralmente casais mais jovens acompanhados de filhos. É possível assim denotar que Caselas é um excelente sítio para construir família, não só porque tem a presença de vários cafés, restaurantes, escolas básicas, transportes públicos, mas também porque se situa na periferia da metrópole e dos locais de emprego. Carrega assim o melhor de dois mundos, a tranquilidade da aldeia associada às possibilidades providenciadas pela grande cidade. A sua composição demográfica é na maioria de idosos e adultos, no entanto é de realçar que em tempo de aulas e à hora do exercício de observação seria difícil encontrar uma população mais jovem. Gostava de por último salientar algumas dificuldades que senti com este trabalho e com o local. Apesar de ter tentado não criar uma ideia pré concebida sobre Caselas denotei que os objectivos do meu trabalho, com especial incidência na arte, estavam muito associadas à ideia que eu tenho da Cova da Moura e que por associação criei um guião que se enquadrava melhor num local que outro. No entanto, é interessante que ao escrever e reflectir sobre este aspecto chego à conclusão que diferentes locais e diferentes tipos de vida, cultura e condições de vida podem gerar uma maior afiliação à arte. Tendo em conta que Caselas é na minha perspectiva apenas um local de passagem é notória a falta de um traço cultural único. Foi também difícil fazer um trabalho de observação que se associa ao tema do meu guião, as gerações. Desta

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forma tentei procurar características demográficas e associá-las ao conceito de família.

Doc. 1 – Entrada do Bairro de Caselas

Doc. 2 – Condominio Villa Restelo

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OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE NO BAIRRO DA COVA DA MOURA A observação participante ao alto do bairro da Cova da Moura realizou-se no dia 20 de Abril entre as 10 horas e as 11:30. Situa-se na periferia da cidade de Lisboa, para lá de Benfica. Ao contrario do Bairro de Caselas, este para mim não era totalmente desconhecido. Apesar de todas as concepções que eu tinha sobre este terem sido criadas pelos media e pela informação que me era dada por colegas e amigos. Posso já adiantar que algumas concepções acerca das condições higienicas por exemplo vieram a revelar-se verdade, outras sobre a criminalidade não. No entanto, sinto que esta visita foi claramente condicionada. Os locais observados faziam parte de uma rota pré-estabelecida pela Associação Cultural Moinho da Juventude e como tal toda a visão do bairro nesse dia, foi cuidadosamente criada. Esta era apenas uma fracção do local, e uma fracção que muitas vezes tinha a intenção de iludir e esconder problemas que assolam o bairro mostrando apenas projectos desenvolvidos e em desenvolvimento. Na subida para o ponto central da visita “O Jardim do Género” foi possivel observar idosos a vender fruta, jovens sentados à entrada de um café e um jovem a ouvir musica no seu carro. Existe aqui um primeiro ponto de diferenciação com o bairro de Caselas, e esta é, a existencia de muitos jovens durante o periodo de aulas. O Jardim do Género consiste num oonjunto de casas que são a parte central do bairro a nivel cultural e de organização. Aqui existe também uma creche. Quando os alunos de Antropologia chegaram ao local, foi possivel observar um grupo de crianças a brincar. Esta era claramente uma creche improvisada num local que padecia de segurança. Estas crianças apresentavam-se felizes a brincar com bolas, carros e pequenos brinquedos.Estavam rodeadas de auxiliares na sua maioria mulheres, com apenas a presença de um tutor do sexo masculino. As idades das crianças neste recinto variava entre os 3 e os 6 anos e eram na sua maioria de cor negra, podendo representar a grande maioria etnica que vive neste bairro, africanos e descendentes. Este local era também marcado pela arte, na sua maioria o graffiti, que apelava a sentimentos de fraternidade, cooperação e alegria e a conceitos como a interculturalidade, o empowerment e o género. Muitos graffitis eram também alusivos à cultura africana, como é exemplo a imagem da capa deste trabalho.

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Doc.3- Graffiti alusivo ao Moinho da Juventude

Neste local estava também um grupo de pessoas, de idade avançada, que esperavam o atendimento num sector da associação que trata de problemas referentes à legalização e ao emprego como foi explicado pela professora Cláudia Vaz. Existe assim neste local uma comunhão entre diferentes gerações. Posteriomente os alunos foram levados para uma sala chamada de Espaço Polivalente que funciona como sala de exposições, reuniões e expressões culturais, como a dança e teatro. Esta era embelezada por fotos alusivas à cultura caboverdiana, a danças culturais ligadas a uma população mais idosa. Esta persistência de factores culturais que são estimulados pela associação pode ser vista como uma forma de perpetuar no tempo e através de gerações uma cultura distante que se unificou num local tão longe da sua origem. Confesso que tive algumas dificuldades em ouvir o que foi dito pelo guia Vitor devido ao seu sotaque e à minha pobre capacidade auditiva.

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Ao sair desta sala de reuniões tomei atenção ao que existia atrás das diferentes portas do edificio e denotei a existencia de uma cantina e de uma sala adminstrativa. A cantina era gerida por duas mulheres mais velhas, contundo a sala adminstrativa era gerida por uma mulher mais jovem. De seguida descemos o Jardim do Género e fomos para outra cresce onde existiam ainda mais crianças, notoriamente mais jovens. Este local já era mais seguro e tinha mais brinquedos, como escorregas e baloiços. As salas estavam cheias de objectos feitos manualmente alusivos às doze traves mestras. As traves mestras são 12 conceitos usados como guias educacionais. Estas são a Interculturalidade, comunicação, alegria, género, respeito das convicções, cooperação, empowerment, meio-ambiente, criatividade, persistência, qualidade, eficiência e eficácia e por ultimo, a solidariedade. Uma tutora explicou-nos que as crianças eram educadas segundos estas doze traves mestras que no fundo giram à volta de relações sociais, emocionais e fisicas. A turora nomiou esta forma educacional de Teoria da Interligção. Foi denotado que a grande maioria das pessoas que trabalham nesta creche pertence ao bairro porque como afirmou a tutora, estas pessoas conhecem melhor a comunidade e as suas necessidades. De seguida dirigimo-nos à biblioteca António Ramos Rosa, onde à entrada nos foi explicado que a Presidente da Associação de Solidariedade Social do Alto Cova da Moura,Vanda Carmo criou um projecto nomeado de Cova M Library com o objctivo de dinamizar e melhorar as condiçõoes da biblioteca. Esta biblioteca era um espaço pequeno com muitos livros antigos, ordenados por tema. Continha também vários objectos culturais, na sua maioria, alusivos à música. Posteriormente demos uma volta pelo bairro que era composto por casas na sua maioria degradadas, as condições higinénicas não eram as melhores, com lixo em todo o lado e os estabelecimentos tinham grades nas janelas. Percorremos várias ruas à procura de diferentes estabelecimentos que iam ser renovados pelo Projecto Sabura, estes estabelecimentos eram na sua mairia cafés e restaurantes. Durante todo o percurso, as pessoas mais velhas eram as que ficavam mais curiosas com a nossa presença e olhavam para o grupo até com o que aparentava ser desconfiança. Os mais jovens estavam alheios à nossa presença.

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Doc.4- Alunos de Antropologia na Cova da Moura

Doc.5- Pequena passagem na Cova da Moura

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OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE NO CAFÉ SABOREAR NO PARQUE VERDE DA VÁRZEA

O terceiro terreno foi observado no dia 17 de Maio e consistiu na entrada de uma café num Parque verde a um domingo entre as 17horas e as 17:30horas. A escolha deste local a um domingo deveu-se à habitual presença de familias e grupos de jovens. Considero que a análise destes dois grupos poderia ser pertinente para este trabalho de observação. A escolha de observar a entrada e não o local em si, prende-se com este ser um local de passagem. Domingo, um dia quente de Primavera, e o jogo de futebol do Benfica são os ingredientes necessários para uma grande afluencia, num local que já tem a tradição de encher ao domingo. O primeiro grupo que observo consiste em quatro rapazes entre os 18 e os 25 que animados entram no café, um deles, fica à entrada esperando a chegada de uma jovem, claramente sua namorada. Denoto desde já a dificuldade em analisar todas as pessoas que entram. Neste periodo, 30 minutos antes do grande jogo, a afluência é grande e o café começa a encher. Observo duas crianças que saem do café, sozinhas, que após a recomendação dos familiares “tenham cuidado” se dirigem para um parque infantil. É engraçado ver que as crianças enquanto observadas pelos pais se movem calma e ordeiramente e apartir do momento em que se sentem livres, correm e riem. Minutos depois observo um grupo de cinco homens entre os seus 30 e 40 anos que se aproximam do café. Dois destes fumando um cigarro pedem ao resto do grupo para esperar enquanto acabam. Todos adeptos do Benfica e a conversa flui entre diferentes opiniões, o mais jovem parece optimista com a vitória, os outros discordam e um afirma “Hoje à demasiada pressão”. Apesar da negatividade todos parecem felizes com a companhia e a conversa flui para a semana de emprego. É neste momento que reparam que existe um individuo a espia-los, olham curiosamente e pela proximidade um afirma “Hoje não é dia de estudar, joga o grande”. Sorriu, digo “Tenho de estudar agora que logo vem a festa”. Uma mentira inocente. Finalizar a preparação da apresentação de Urbana ia ocupar boa parte da minha noite.

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Penso que o facto de eu ter com cachecol do Benfica facilitou a interacção e chego à conclusão que num dia assim, apresentar uma certa cor e digamos, facção, aumenta o à vontade e a sensação de familiariedade. Um homem sai do café com dois gelados na mão e chama os seus filhos que estão a brincar na relva, estes voltam a correr para junto do pai, agarram nos gelados, agradecem e voltam calmamente para onde estavam enquanto tiram o gelado do plástico e se preparam para o comer. Aproximam-se agora dois jovens, um do sexo masculino e outro feminino, com o que aparentam ser os pais, mãe e filha conversam, e pai e filho conversam. Claramente sobre temas diferentes, as duas mulheres falam sobre o que vão pedir para lanchar e os homens, sobre o jogo. Aproxima-se outro grupo de jovens, três rapazes que aparentam ter menos de 20 anos, olham para a esplanada, reparam que está cheia, recuam e comentam que precisam de procurar outro sitio para ver o jogo. Um destes liga para alguém e depois comenta “O Eduardo está na Tropicália e diz que ainda há lugares”. Seguem, claramente desanimados. Vinte minutos depois de iniciar a observação decido entrar no café, observar e anotar o pouco o ambiente no seu interior. Com sorte tinha amigos que me guardaram um lugar e que esperavam ansiosamente pelo inicio do jogo. O ambiente era de festa e alguma espectativa. Dentro do café estariam mais ou menos 60 pessoas, na sua maioria jovens adultos e adultos e em questão de género, homens. Chocou me logo a diferença nesse dia para um dia normal, os grupos falavam, riam e comentavam o que sentiam sobre o jogo com outros grupos de pessoas, claramente desconhecidos. O barulho era insurcedor, tornava-se complicado destinguir conversas e anotar aspectos interessantes sobre as mesmas. O assunto era quase sempre o mesmo, o jogo. O empregado aproximou-se, claramente mais atarefado que o costume e perguntou o que eu queria, retorqui que por agora, apenas um café. Enrolei o cachecol à volta do pescoço, observei de novo todo o ambiente à minha volta. Era hora de sair da minha postura de observador e tornar-me apenas mais um individuo que num ambiente de empatia e integração social partilha sentimentos e esperanças.

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CONCLUSÃO Primeiro que tudo, vou referir as conclusões a que cheguei ao analisar os dados retirados de todos terrenos associando-os ao conceito de geração, e posteriormente fazer uma comparação entre os dois primeiros terrenos e uma análise sobre o ùltimo. O bairro de Caselas é um sitio ideal para construir uma familia, devido à sua proximidade com a metrópole, e porque possui, acessos e escola básica assim como um baixo indice de criminalidade. É um bairro que cria um sensação de aldeia e consequentemente a ideia de comunidade. Os locais de comércio são geridos por pessoas mais velhas e nota-se que a maioria das casas do bairro pertencem a pessoas mais velhas. À excepção do condomínio privado Villa Restello onde existe uma grande maioria de jovens adultos presumivelmente de classe média/alta. Trata-se no fundo de apenas uma zona residencial, com poucas oportunidades de emprego e sem um trato cultural próprio e único. A geração mais velha parece O bairro do alto da Cova da Moura cuja visita pretendo repetir, foi altamente condiciona, retrata uma imagem completamente diferente. Este bairro é constituido por uma maior quantidade de jovens e denota-se que são estes que gerem a própria Associação Cultura Moinho da Juventude e a creche. Este facto, pode ser associado ao conceito de geração de Mayhemm, que afirma que as grandes mudanças geracionais estão associadas à mudança de pensamento. E neste caso, vemos uma faixa etária mais jovem a querer revolucionar a forma como este bairro é gerido e como as próprias gerações mais novas crescem e vêm o mundo, com o suporte da arte e das 12 traves mestras. No entanto este grupo de jovens inovadores parece ser uma minoria, pois, foi possivel observar em tempo de aulas uma grande quantidade de jovens que ao estarem no bairro faltaram às aulas. Considero que com uma observação mais alargada seria possivel ver imensas situações idênticas. Este é um dos estigmas da ”. segregação social, o abandono escolar. A arte, neste caso constituida pelo graffiti, música e pelo conjunto de tradições culturais de diferentes países é uma das ferramentas essenciais para gerir não só a Associação como a própria geração que ali se molda. Esta nova geração , a que Feixa chama de geração colcha de retalhos vai ser “marcada por processos de hibridização cultural”.

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Devo realçar que a Associação Cultura Moinho da Juventude aparenta fazer um excelente trabalho com os diferentes grupos etários disponibilizando o acesso à cultura também a pessoas mais velhas na forma de danças tradicionais e teatro como forma de a preservar no tempo e entre gerações. Este é um intercâmbio imaterial que existe entre a associação e os índividuos e que cria dinâmicas que tornam a Associação um mini centro cultural. Comparando os dois locais, vemos duas realidades completamente diferentes. O bairro de Caselas é uma comunidade mais pequena e familiar, sem problemas sociais de relevo. Com poucas zonas comercais e apenas um grupo recreativo ligado ao desporto é usado principalmente como dormitório para os habitantes que trabalham na cidade de Lisboa, idêntico a tantas outras zonas de periferia. O bairro da Cova da Mouro é um microsistema único, com as suas próprias formas e demonstrações artisticas, com as suas difentes etnias, com um grupo relevante que tenta apoiar a sua população a vários nivéis promovendo sempre a convivência geracional . Este pequeno pólo no entanto não é suficiente para combater os problemas que afligem o bairro, a segregação social e a criminalidade violenta. Trata-se de um bairro que pela sua infame realidade é visto pelo olho do público geral de uma forma perjurativa. Mas esta visita fez-me perceber que coisas boas podem nascer da segregação social. A solidariedade e pertença, a sensação de comunidade e o contacto entre gerações. A terceira observação demonstra que as diferentes gerações em dia de festa em que partilham um sentimento unanime quebram as barreiras entre si criando até laços de familariedade. As diferenças etárias não criam entre si uma separação quando existe um plano maior de experiência e similariedade. É possivel ainda ver as diferentes prioridades das diferentes gerações neste terreno. As crianças confraternizavam entre elas e brincavam fora do ambiente do café, os jovens e adultos faziam o mesmo mas dentro do café, esperando ansiosamente pelo jogo. Em suma, é possivel observar aspectos geracionais em todas as observações e entender como estes podem ter influência em diferentes ambientes. O meu trabalho é assim, não só uma procura de configurações geracionais em cada caso, mas igualmente uma reflecção sobre como estes têm influência em aspectos da esfera social, cultural e económica.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Magnani, J. (2003). A Antropologia Urbana e os Desafios da Metrópole. Tempo Social. USP. Pp 81-95 Feixa, C. (2006). Generación XX, Teorías sobre la juventud en la era contemporánea. Revista Latinoamericana de Ciencias Sociales, Niñez y Juventud. Vol. 4, Nº2

Feixa, C. & Leccardi, C. (2010). Os conceitos de geração nas teorias sobre juventude. Revista Sociedade e Estado. Vol. 25. Nº 2

WEBGRAFIA http://anthroanna.com/2014/02/26/anthropological-methods-participant-observation/ (acedido a 20/05/2015) http://www.moinhodajuventude.pt/index.php/en/kola-san-jon/110-biblioteca-ramosrosa/128-biblioteca-antonio-ramos-rosa (acedido a 20/05/2015) http://antropologia.urv.es/dafits-urv/es/separprof/directoresas-de-tesis-externos/93carlesfe (acedido a 21/05/2015) http://www.ses.unam.mx/ciij/cfp.htm (acedido a 21/05/2015)

BIBLIOGRAFIA DOS DOCUMENTOS Doc.1- Entrada do Bairro de Caselas Doc.2- Villa Restelo Doc.3- Alunos de Antropologia no Bairro da Cova da Moura Doc.4- Pequena Passagem na Cova da Moura

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