Perspectivas de Implementação da Televisão Digital em Portugal Conhecimento e Compreensão

June 3, 2017 | Autor: Gustavo Cardoso | Categoria: Television Studies, Mass Communication, Mass media, Journalism And Mass communication
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Perspectivas de Implementação da Televisão Digital em Portugal Conhecimento e Compreensão

Maio 2008

Perspectivas de Implementação da Televisão Digital em Portugal Conhecimento e Compreensão

A cerca de quatro anos da data prevista para o switchover, mais de dois quintos dos portugueses (43,6%) nunca ouviu falar de televisão digital, e mais de quatro quintos (83,7%) nunca ouviu falar de televisão digital terrestre (TDT). _____________________________________________________________________

TD quê??? O grau de conhecimento 1 relativamente à televisão digital e tecnologias relacionadas permanece relativamente reduzido em Portugal. De facto, apenas 56,4% dos portugueses já ouviu falar de televisão digital, sendo que desses, apenas 45,0% referiu saber em que consistia essa nova forma de transmissão televisiva (ou seja, 25% do total da população portuguesa).

Similarmente, apenas 16,3% dos respondentes já ouviu falar de TDT (lembre-se que o trabalho de

Conhecimento da televisão digital na Europa (2007)

campo do presente estudo, que decorreu em Fevereiro de 2008, deu-se numa altura em que a TDT era um hot topic nos media, em consequência do anúncio da abertura do concurso para a atribuição das licenças), e apenas 3,2% dos

- 82% dos espanhóis já ouviu falar da TDT, e 51,1% do switchover (Impulsa TDT) - 89% dos ingleses estão a par do switchover (OfCom)

inquiridos afirmou já ter ouvido falar de switchover digital. Gráfico: "Já ouviu falar de..." (% "sim") Televisão Digital; 56,4

Alta Definição; 28,5 TDT; 16,3 Sw itchover; 3,2

Set-top box; 5,3

DVB; 4,8

Fonte: Inquérito A Televisão Digital Terrestre em Portugal 2008, OberCom

1

Note-se que o termo “conhecimento” é aqui utilizado no sentido de awareness (à semelhança da utilização deste conceito pela OfCom), ou seja, uma percepção de existência que resulta de uma construção social e sensibilização externa para uma dada inovação tecnológica.

2

A televisão digital marca o início de uma revolução na experiência televisiva dos indivíduos, permitindo uma melhor qualidade de imagem e som, e disponibilizando ao utilizador uma série de serviços tais como o EPG (Electrónico Programem Guide – guia electrónico da programação), retransmissão de conteúdos, video-on-demand, Life Pause TV, ecrãs múltiplos, entre outros. Com a ajuda de outras tecnologias, tais como os telemóveis e a Internet, a televisão digital permite ainda a interactividade plena do utilizador, permitindo que esta se afirme não apenas pela melhor qualidade de recepção do sinal televisivo, mas também como a base para o desenvolvimento de um novo modelo de comunicação, com todas as implicações sociais, técnicas, económicas e legais que tal envolve.

A TDT é uma das formas de receber televisão digital, além do cabo, satélite e ADSL. Trata-se de uma nova técnica de difusão do sinal de televisão que, graças à tecnologia digital, permite optimizar a utilização do espectro radioeléctrico. Isto implica a possibilidade de incrementar o número de canais, assim como diminuir os custos de distribuição. Assim, decidiu-se a nível europeu pela substituição do actual sistema analógico, em favor do sistema de difusão digital, estando o switchover (ou seja, o fim das emissões analógicas em proveito do início das emissões digitais) agendado para 2012, sendo que alguns países tais como a Suécia já encerraram as emissões analógicas, e a maioria se encontra em período de simulcast (emissão simultânea de sinal analógico e digital). Gráfico: Situação da TDT na Europa

Países que já lançaram a TDT

Fonte: http://www.digitag.org/

3

Em Portugal, depois de um primeiro concurso, em Abril de 2001, que foi anulado em 2003, o Estado relançou a TDT em Agosto de 2007, com a publicação da nova Lei da Televisão, estando prevista ainda a criação de mais um canal generalista. Em Fevereiro foi por fim aberto o concurso para a TDT, ao qual apresentaram candidaturas a Portugal Telecom (para a plataforma de canais pagos e gratuitos) e a AirPlus (empresa sueca que se manifestou interesse apenas pela plataforma de canais pagos). No entanto, para uma implementação proveitosa tanto para o mercado, como para os cidadãos em geral, é necessário integrar o consumidor no processo de conversão da televisão analógica para a digital. Uma das abordagens mais comuns para a análise de tais fenómenos baseia-se nas teorias desenvolvidas por Rogers (1995) sobre a difusão das inovações tecnológicas. De acordo com este autor, que parte de uma perspectiva com raízes no construtivismo social, a adopção de uma dada tecnologia é um processo social, onde cada indivíduo passa por uma série de etapas que vão desde a percepção da existência de uma dada tecnologia (awareness) até à sua adopção completa pelo sistema social. O reconhecimento da existência de uma dada inovação é assim percepcionado como a etapa base para uma eventual apropriação social das novas tecnologias, sendo o elemento-chave que determina o grau mais elementar da capacidade de acesso e literacia dos indivíduos. Existem algumas variáveis-chave que nos permitem caracterizar o grau de awareness da televisão digital. Por um lado, à semelhança do que acontece para outras tecnologias, o género e a idade dos respondentes afirmam-se como factores de relevo, sendo que o grau de awareness da televisão digital aumenta no seio do grupo dos homens, e nas categorias etárias mais jovens. De facto, do total de homens, 66,6% já ouviu falar de televisão digital, contra apenas 47,2% das mulheres. Similarmente, 23,8% dos homens já ouviu falar da TDT, face a 9,5% dos respondentes do sexo feminino. Gráfico: Já ouviu falar de... - cruzamento com o sexo (% "sim") 66,6

47,2 36,7 23,8 21,1 5,3

Televisão Digital

9,5

Switchover

8,8 2,2

1,3 TDT Homens

Set-top box

7,5

2,4

DVB

Alta Definição

Mulheres

Fonte: Inquérito A Televisão Digital Terrestre em Portugal 2008, OberCom

4

Em termos etários, a categoria que regista um maior grau de conhecimento em relação à televisão digital e tecnologias relacionadas é a que inclui os indivíduos com idades entre os 25 e os 34 anos, verificando-se que a partir dessa idade existe uma tendência para um decréscimo progressivo do grau conhecimento, com o aumento da idade. Gráfico: "Já ouviu falar de..." - cruzamento com a idade (% "sim")

77,2 63

63

59,9 43

51,6

46,2 29,3 21

25,4 19,4

15/24

27,5 14,4

25/34

35/44 DTV

45/54 DTT

24,5

16,7

6,5

13,5 55/64

4 65 +

HDTV

Fonte: Inquérito A Televisão Digital Terrestre em Portugal 2008, OberCom

Estas observações encontram ecos na realidade espanhola: apesar do nível de percepção em relação à existência da TDT e do switchover ser consideravelmente superior, o sexo e a idade são também elementos-chave para a caracterização do grau de conhecimento em relação a estas inovações tecnológicas.

Gráfico: Conhecimento da TDT e do switchover em Espanha (2007)

Fonte: Impulsa TDT, disponível em http://www.impulsatdt.es/pdf/ponencias/Aedemo-Ponencia-Television-TD-QUE.pdf

5

Em termos de escolaridade, observa-se uma maior awareness junto da população com ensino superior, atingindo o grau de reconhecimento da televisão digital 82,1% no seio deste grupo, contra 56,4% no âmbito da população em geral. Gráfico: "Já ouviu falar de ..." - cruzamento com a escolaridade (% "sim") 82,1 56,4

51,3

46,2

28,5 7,7 Televisão Digital

16,3 3,2

Switchover

TDT

12,8

7,7

5,3

Set-top box

População com ensino superior

4,8

DVB

Alta Definição

População total

Fonte: Inquérito A Televisão Digital Terrestre em Portugal 2008, OberCom

Por outro lado, verificam-se também diferenças significativas entre a população que usufrui de acesso televisivo via antena e via cabo, sendo que o grau de reconhecimento em relação à televisão digital e à TDT tende a ser mais elevado no seio da população que utiliza a tecnologia cabo. De facto, a percentagem de indivíduos que já ouviu falar de televisão

digital

eleva-se

para

72%

entre

a

população com acesso via cabo (contra 44,8% no seio da população com acesso através de antena), e

Acesso TV em Portugal (2008) - 56,3% dos portugueses recebem televisão através de antena - 38,3% têm TV por cabo (analógica e digital) - 5,4% acedem através de outras tecnologias tais como o satélite e o DSL Fonte: Inquérito A Televisão Digital Terrestre em Portugal 2008, OberCom

a proporção de inquiridos que já ouviu falar de TDT ascende os 22,4% do total de inquiridos com cabo (contra 11% da população que recebe o sinal televisivo através de antena). Quadro: Conhecimento da Televisão Digital, por tipo de acesso TV (%) Já ouviu falar de... Tipo de acesso TV (% da resposta “sim”, em cada categoria) Antena Cabo ... TV Digital 44,8 72,0 ... switchover digital 1,7 5,3 ... televisão digital terrestre 11,0 22,4 ... set-top box 2,7 8,1 ... digital video broadcasting 2,6 7,6 ... TV de alta definição 19,7 39,8 Fonte: Inquérito A Televisão Digital Terrestre em Portugal 2008, OberCom

6

O nível de conhecimento sobre a criação de um novo canal generalista de acesso gratuito no país é também relativamente baixo, sendo que apenas 14,8% da população referiu estar a par de tal possibilidade. De notar que, quanto maior o consumo actual de televisão, maior parece ser o grau de conhecimento relativamente à criação de um novo canal: apenas 11,7% dos inquiridos que vêem menos de uma hora de televisão por dia está consciente dessa possibilidade, contra 17,9% dos inquiridos que visionam mais de três horas de televisão diariamente.

VOD, Replay, EPG, PVR... Isso tem alguma coisa a ver com televisão digital? Além de desconhecimento em relação à televisão digital e à TDT ser muito elevado, mesmo entre os inquiridos que afirmaram já ter ouvido falar e saber o que é a televisão digital se verifica uma grande confusão em relação às potencialidades e modos de recepção desta tecnologia e dos seus serviços associados. De facto, do total de inquiridos que afirma já ter ouvido falar e saber o que é a televisão digital, apenas 51,7% afirmou que esta permite aceder a um serviço de VOD, sendo que 5,3% disse que não, e 43% optou pela resposta “não sabe/ não responde”. Similarmente, apenas 63,1% afirmou que a televisão digital permitia mais opções de participação (31,2% referiu não saber) e só 56,7% está a par da existência de serviços de audiodescrição (39,2% optou pela resposta “não sabe/ não responde”). Por outro lado, 10,3% afirmou que a televisão digital não permite ouvir rádio através da televisão (62% afirmaram que tal era possível, e 27,8% referiu não saber), e apenas 64,6% está consciente da existência do serviço replay. Gráfico: A televisão digital permite-me... (%) ver TV de alta definição

82,9

consultar o guia de programação mais opções de participação serviços de audiodescrição VOD emissões múltiplas (em replay) ouvir rádio mais interactividade

1,9 12,9

85,2

15,6

1,5 5,7

63,1 4,2

56,7 51,7

39,2 43

5,3 64,6

3,8

62

10,3 80,2

31,2

31,6 27,8 4,2

melhor qualidade de som

15,6

91,6

melhor qualidade de imagem

1,1 7,2 0,4

93,9

5,7

86,7

ter maior oferta de canais sim

não

7,2

6,1

ns/nr

Fonte: Inquérito A Televisão Digital Terrestre em Portugal 2008, OberCom Nota: base=indivíduos que já ouviram falar e afirmam saber o que é a televisão digital (n=263)

7

Em suma, existe ainda um nível muito elevado de desconhecimento no que diz respeito aos serviços oferecidos, facto suportado nomeadamente pelas elevadas proporções da categoria de resposta “não sabe/não responde”. Tal situação repete-se no que se refere aos modos de recepção da televisão digital: 43,3% dos inquiridos afirmou não saber se é possível receber televisão digital através de ADSL (contra apenas 41,1% que referiu que tal era possível). A consciencialização em relação à possibilidade de receber televisão digital através do cabo é mais elevada (70,7%), como seria aliás de esperar, uma vez que esta é actualmente a forma dominante de recepção da televisão digital no país. Gráfico: Posso receber televisão digital…? (%)

através de ADSL

por satélite

através do cabo

41,1

15,6

43,3

9,1

61,6

70,7

29,3

9,5

sim

não

19,8

ns/nr

Fonte: Inquérito A Televisão Digital Terrestre em Portugal 2008, OberCom Nota: base=indivíduos que já ouviram falar e afirmam saber o que é a televisão digital (n=263)

Similarmente, só menos de metade (44,9%) dos indivíduos que já ouviu falar em televisão digital e afirmou saber de que se trata, está consciente de que para receber a TDT não é necessário adquirir um sistema de Home Cinema. De facto, 6,8% dos inquiridos deste grupo referiu que para receber a TDT era preciso ter um sistema de Home Cinema, sendo que 48,3% optou pela resposta “não sabe/ não responde”. Por fim, é de destacar que, após uma breve explicação por parte do entrevistador sobre o que era o switchover, 17,4% dos portugueses afirmou concordar com a frase “duvido que o switchover venha a acontecer”, e 57,3% pela resposta “não sabe/não responde”. Em suma, apenas um quarto da população (25,3%) acredita que o processo de switchover irá acontecer dentro de menos de quatro anos, isto é, em 2012.

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Bibliografia Impulsa TDT (2007), Conocimiento e Opinión de la TDT, disponível em http://www.impulsatdt.es/pdf/campana_2006.pdf COLOMBO, F. (2006), Vittadini, Nicoletta (eds.) Digitising TV – theoretical issues and comparative studies across Europe, Vita & Pensiero, Milão. CAMBINI, C., VALLETTI, T. (2002) I mercati della comunicazione nell'era digitale, Il Mulino, Bolonha. CANDEL, R. (2007), The Migration towards Digital Terrestrial Television (DTT): Challenges for Public Policy and Public Broadcasters, in OBS* (OberCom), vol.1 2007 , disponível em http://obs.obercom.pt/index.php/obs/article/view/54/69 Digitag (2008), European DVB-T Map, disponível em http://www.digitag.org/ OBERCOM (2007), Contributos para uma análise da implementação da TDT em Portugal, disponível em http://www.obercom.pt/client/?newsId=373&fileName=fr3.pdf OBERCOM (2008), Inquérito A Televisão Digital Terrestre em Portugal 2008, OberCom. Ofcom (2007), Switchover Progress Report, disponível em http://www.digitaluk.co.uk/__data/assets/pdf_file/0011/6500/trQ407.pdf PAPATHANASSOPOULOS, S. (2002), European television in the digital age, Cambridge, Polity Press. PICARD, R. and BROWN, A. (eds) (2004), Digital Terrestrial Television in Europe, Lawrence Erlbaum, USA. ROGERS, E. (1995), Diffusions of Innovations, Free Press, Nova Iorque.

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Ficha Técnica O presente relatório é o primeiro de um conjunto de Flash Reports que serão publicados pelo OberCom relativamente ao panorama televisivo actual em Portugal no contexto da implementação da televisão digital:

Perspectivas de Implementação da Televisão Digital em Portugal Flash Report 1 - Televisão Digital e TDT: Conhecimento e Compreensão Flash Report 2 - Caracterização do Acesso TV em Portugal em 2008 Flash Report 3 - A Experiência Televisiva em Portugal: novas tecnologias, novos consumos? Flash Report 4 - Atitudes e Expectativas em relação à televisão digital e à TDT

Título

Perspectivas de Implementação da Televisão Digital em Portugal Conhecimento e Compreensão

Investigadores

Vera Araújo

Coordenação Científica

Gustavo Cardoso e Rita Espanha

Coordenação Editorial

Rita Espanha

Questionário “A Televisão Digital Terrestre em Portugal 2008”

Gustavo Cardoso, Rita Espanha, Rita Cheta e Vera Araújo

Ficha técnica questionário “A Televisão Digital Terrestre em Portugal 2008”

Inquérito extensivo por questionário, através de uma entrevista directa, a uma amostra representativa da população portuguesa residente em Portugal continental, de idade igual ou superior a 15 anos de idade. A amostra teve como universo de referência a população portuguesa e os resultados do Recenseamento Geral da População –Censos de 2001. Os indivíduos foram seleccionados através da definição de quotas a partir do cruzamento das variáveis sexo, idade, escolaridade, região (5 regiões INE – NUT’s II) e habitat/dimensão dos agregados populacionais. A partir de uma matriz inicial de região e habitat, foi seleccionado aleatoriamente um número significativo de pontos de amostragem, onde foram realizadas as entrevistas, através da aplicação de quotas acima referidas. Em cada localidade, existiam instruções que obrigaram o entrevistador a distribuir as entrevistas por toda a localidade. A amostra final foi constituída por 1041 entrevistas. O trabalho de campo foi realizado em Fevereiro de 2008 e aplicado pela Metris GfK.

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