PESQUISA ESCOLAR NA WEB DE NOTÍCIAS SOBRE QUESTÕES AMBIENTAIS

June 5, 2017 | Autor: S. Vieira | Categoria: Educação Ambiental
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PESQUISA ESCOLAR NA WEB DE NOTÍCIAS SOBRE QUESTÕES AMBIENTAIS Solange Reiguel Vieira 1 - SEED Josmaria Lopes de Morais2 - UTFPR Grupo de Trabalho - Educação e Meio Ambiente Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo O presente trabalho relata uma prática pedagógica desenvolvida pela primeira autora com alunos do ensino médio da rede pública estadual de Curitiba-PR, articulando a Geografia e a Educação Ambiental, com objetivo de estimular a pesquisa escolar sobre as questões ambientais. A ideia surgiu por dois motivos principais: Primeiro pelo fato da Geografia ser uma área do conhecimento que estuda as relações estabelecidas no espaço geográfico, entre sociedade e natureza, e segundo por utilizar a mídia web que faz parte do cotidiano dos alunos. As pesquisas foram realizadas no período de 31 de março a 14 de abril de 2015, em sites em busca de notícias sobre as questões ambientais e analisaram: a frequência das notícias, os conteúdos veiculados e o papel da mídia na veiculação de cada notícia. Os resultados foram socializados e debatidos com os colegas da sala de aula. Ao término do debate foi realizada uma enquete com os alunos sobre sua principal fonte de informação, antes da pesquisa. Para essa publicação, os resultados apresentados pelos alunos foram compilados e categorizados em: site, conteúdo e papel da mídia, e fundamentados teoricamente em pesquisadores na área. Essa prática pedagógica possibilitou a construção do conhecimento na disciplina de Geografia, a reflexão crítica sobre as notícias veiculadas pela mídia e a tomada de consciência das ações humanas no meio ambiente nas diversas escalas. Os resultados evidenciam a importância da educação por meio da pesquisa escolar, principalmente na mídia web. Entendeu-se que este tipo de atividade pode ser mais explorado nas aulas de Geografia possibilitando a realização de uma leitura crítica de situações locais e globais a partir de um olhar ambiental amplo. Palavras-chave: Geografia. Dimensão socioambiental. Mídia. Educação ambiental.

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Mestranda em Ciência e Tecnologia Ambiental, Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Programa de Pós Graduação em Ciência e Tecnologia Ambiental (PPGCTA). Professora da Educação Básica da Secretaria Estadual do Paraná (SEED). Email: [email protected]. 2 Doutora em Química. Professora Colaboradora da UniversidadeTecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Programa de Pós Graduação em Ciência e Tecnologia Ambiental (PPGCTA.Email: [email protected].

ISSN 2176-1396

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Introdução A contemporaneidade marcada por desafios educacionais e socioambientais amplia a necessidade de conhecimento, informação, discussão, reflexão e ação a fim de contribuir para o enfrentamento das mudanças ambientais globais. De acordo com Demo (2011, p.5), “o que melhor distingue a educação escolar de outros tipos e espaços educativos é o fazer-se e re-fazer na e pela pesquisa [...]” e a escola, tem a pesquisa como propriedade específica. Nesse processo, a mídia constitui-se uma fonte de pesquisa e tem como papel principal informar a população do acontece na sociedade e no mundo, por meio dos diversos meios de comunicação. Por isso, a mídia vem sendo utilizada nas atividades educativas como uma ferramenta para facilitar a comunicação (SANTOS, 2005). Para Soares (2004) há um olhar especial para a relação entre a comunicação e educação, que constitui um campo de pesquisas denominado educomunicação, e definido como um conjunto das ações destinadas a integrar práticas educativas aos sistemas de comunicação, a criar e fortalecer ecossistemas comunicativos em espaços, e a melhorar o coeficiente expressivo e comunicativo das ações educativas. Por meio da tecnologia modificam-se as formas de “inter-relação com o mundo, da percepção da realidade, da interação com o tempo e o espaço” (MORAN, 1995, p.25). Por isso, estimula-se o uso de diferentes linguagens de educomunicação e recursos tecnológicos na aprendizagem, considerando valores da sustentabilidade (BRASIL, 2013). Neste contexto, se faz presente a contribuição da Geografia, definida por Garrido e Costa (2006, p.79) como “[...] estudo da superfície da Terra ou estudo da relação do homem com o meio [...]”. A ciência geográfica constitui uma área do conhecimento e disciplina da educação básica, que tem como objeto de estudo o espaço geográfico considerado como “a morada do Homem” (CORRÊA, 2008, p.44) e considerado por Milton Santos (2008, p.46) como: [...] algo dinâmico e unitário, onde se reúnem materialidade e ação humana. O espaço seria o conjunto indissociável de sistemas de objetos, naturais ou fabricados, e de sistemas de ações, deliberadas ou não. A cada época, novos objetos e novas ações vêm juntar-se às outras, modificando o todo, tanto formal quanto substancialmente.

Pela dinâmica do seu objeto de estudo, a Geografia está em plena mudança, para Pontuschka e Oliveira (2006) os temas de pesquisas e as metodologias se ampliam e se

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transformam sob a ótica da modernidade e o processo de ensino e aprendizagem está nesse movimento. Gomes (2010) corrobora que a Geografia apresenta uma imagem renovada de mundo e procura integrar as interações entre natureza e cultura. Nesse sentido, o processo de ensino e aprendizagem da Geografia também se transforma e busca novas interpretações e análises. Segundo Cavalcanti (1998, p.16): A Geografia defronta-se assim com a tarefa de entender o espaço geográfico num contexto bastante complexo. O avanço das técnicas, a maior e mais acelerada circulação de mercadorias, homens e ideias distanciam os homens do tempo da natureza e provocam certo ‘encolhimento’ do espaço de relação entre eles. Na sociedade moderna, baseada em princípios de circulação e racionalidade, há um domínio do tempo e do espaço, mecanizados e padronizados, que se tornam fonte de poder material e social numa sociedade que se constitui a base do industrialismo e do capitalismo. O controle do tempo e do espaço liga-se estreitamente ao processo produtivo e à vida social. O tempo ligado à disciplina e à regularidade no trabalho como também ao giro do capital na produção. O espaço ligado a criação de um novo mercado mundial e à redução de barreiras para a expansão do sistema produtivo. O espaço foi perdendo, assim, sua significação absoluta no lugar para ganhá-la na lógica do poder, da expansão capitalista. Da mesma forma, o tempo tomado como linear e progressivo foi sendo substituído por um tempo cíclico e instável, em função de que seu sentido passou a ser ligado ao próprio processo produtivo. Instalou-se assim uma compressão e uma vivência de espaços e de tempos relativos.

De acordo com Mendonça (2004, p. 22-23) “[...] a Geografia é, sem sombra de dúvidas, a única ciência que, desde a sua formação, se propôs ao estudo da relação entre os homens e o meio natural do planeta – meio ambiente, atualmente, em voga é propalado na perspectiva que engloba o meio natural e o social”. Nesse sentido, a Geografia tem como subcampo a questão socioambiental. A abordagem geográfica do conteúdo estruturante dimensão socioambiental do espaço geográfico destaca que o ambiente não se refere somente a envolver questões naturais. Ao entender ambiente pelos aspectos sociais e econômicos, os problemas socioambientais passam a compor, também, as questões da pobreza, da fome, do preconceito, das diferenças culturais, materializadas no espaço geográfico (PARANÁ, 2008, p.73).

Há uma grande articulação da Geografia com a Educação ambiental, visto que esta última trata da relação entre sociedade e ambiente e incide sobre os sujeitos por meio do processo formativo. A Educação Ambiental é uma das ferramentas fundamentais para adequar o homem a seu espaço por meio de incentivos à análise crítica de sua realidade, usando a observação e sensibilização do indivíduo e gerando nele a sensação de pertencimento (JACOBI, 2003).

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Para Leff (2008), a Educação Ambiental contribui estrategicamente na condução do processo de transição para uma sociedade sustentável. Nas palavras de Loureiro (2006, p. 28): A Educação Ambiental não atua somente no plano das ideias e na transmissão de informações, mas no ato da existência, em que o processo de conscientização se caracteriza pela ação com conhecimento, pela capacidade de fazermos opções, por se ter compromisso com o outro e com a vida [...].

Estas questões motivaram o desenvolvimento de uma pesquisa nas aulas de Geografia com alunos do ensino médio da rede pública estadual do Paraná. O objetivo desta prática pedagógica foi estimular a pesquisa escolar sobre as questões ambientais. Portanto, esta pesquisa teve uma leitura geográfica do ponto de vista ambiental, ao analisar a relação entre sociedade e natureza com dimensão socioambiental presente nas notícias veiculadas na mídia web. Encaminhamentos Metodológicos Partindo do pressuposto de que “a construção e reconstrução do conhecimento geográfico pelo aluno ocorre na escola, mas também fora dela [...] e que podem ser potencializados com práticas intencionais de intervenção pedagógica” (CAVALCANTI, 1998, p.12), o presente estudo foi realizado utilizando-se da pesquisa na internet (web). Para Demo (2011) educar pela pesquisa é um desafiador encaminhamento metodológico. “A partir daí entra em cena a urgência de promover o processo de pesquisa no aluno, que deixa de ser objeto de ensino, para tornar-se parceiro de trabalho [...]” (DEMO, 2011, p.2) do professor, e ambos passam a ter a pesquisa como uso no cotidiano. Ao trabalhar os conteúdos industrialização e meio ambiente (básico) e a dimensão socioambiental do espaço geográfico (estruturante), e conceitos das Ciências Ambientais de meio ambiente, sustentabilidade e problemas ambientais (MILLER JR, 2011), a pesquisa foi proposta aos alunos das 4 turmas do 2º ano do ensino médio do Colégio Estadual Ivo Leão, da cidade de Curitiba, com 112 participantes. Durante 15 dias (31 de março a 14 de abril de 2015) os alunos realizaram pesquisas de forma individual, duplas ou em trios, totalizando 47 grupos, em sites em busca de notícias sobre as questões ambientais em diferentes escalas: local, regional, nacional e global (em um ou mais sites) e analisaram de forma crítica: a frequência das notícias, os conteúdos veiculados, e a sua percepção do papel da mídia na veiculação de cada notícia classificando-as em informativa, sensibilizadora, sensacionalista e divulgadora, conforme orientação docente.

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Os resultados da pesquisa foram socializados e debatidos com os colegas da sala de aula. Ao término do debate foi realizada uma enquete com os alunos sobre principal fonte de informação antes da pesquisa. Para essa publicação, os resultados apresentados pelos alunos foram compilados e categorizados (BARDIN, 2011) em: site, conteúdo e papel da mídia (Quadro 1) e discutidos com base em bibliografias da temática abordada. Quadro 1 - Compilação de dados da pesquisa na web por categorias de análise. Site www.folha.uol.com.br

www.noticias.terra.com.br http://g1.globo.com

www.ambientebrasil.com.br www.uol.com.br

www.brasilescola.com centinex.org www.mundoeducacao.com www.msn.com www.portugues.rfi.fr http://www.portaldomeioambiente.org.br www.gazetadopovo.com.br http://www.posgraduacaoredentor.com.br www.tribuna.com.br www.mamiraua.org.br/ http://www.redeceas.esalq.usp.br http://www.oeco.org.br http://www.brasilsustentavel.org.br http://noticias.r7.com www.meioambientetecnico.com.br

www.portoferreirahoje.com www.ibama.gov www.diariodoprofessor.com

Conteúdo Desmatamento, reciclagem, tecnologias e mudanças ambientais globais, Greenpeace/desmatamento, caça, uso de bicicletas e exploração de petróleo (EUA) Reflorestamento/tecnologia Água, fauna (morte de peixes, fóssil), fogo, fiscalização/legislação de meio ambiente, limpeza pública, hotelaria ecológica, cadastro ambiental rural, construção em APA, desmatamento na Amazônia, dengue, agrotóxicos, radiação Água e alimentos contaminados, desmatamento, sacolas biodegradáveis, fauna marinha (morte) Água, fauna (morte de peixes, tartaruga e animais em extinção, cativeiros de animais), florestas, mudanças ambientais no mundo, energia limpa, preservação da Amazônia, tecnologias, plano de combate de poluentes e redução de gases do efeito estufa, pesca, eucalipto transgênico, aquecimento global, tráfico de chifres, desmatamento, mata ciliar Água, biodiversidade, desmatamento, queimadas, extrativismo vegetal e resíduos urbanos Mudanças climáticas Resíduos Sólidos Fauna, tecnologia e mudanças climáticas Mudanças climáticas, água e desmatamento Água e fogo Água, fogo (SP) e desmatamento (PR) Água Água, meio ambiente e resíduos sólidos Meio ambiente Água e residues sólidos Fauna e vazamento de óleo no mar Água e mobilidade sustentável (bicicletas) Água Transgênicos, agrotóxicos, meio ambiente sustentável, energia, resíduos sólidos e aquecimento global Dengue Sistema de controle ambiental Fauna, meio ambiente, Educação Ambiental, sacolas sustentáveis, resíduos sólidos

Papel da mídia Divulgar, informar, e sensibilizar Divulgar e informar Divulgar Informar

e

Divulgar e informar Informar, sensibilizar, sensacionalista

Informar sensibilizar Informar Informar Informar sensibilizar Informar Informar Informar Informar Informar Divulgar Informar Informar Infomar Informar Informar

Informar Informar Informar

e

e

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www.ebc.com.br www.brasil.gov.br www.tomdamata.org.br www.atribuna.com.br www.acritica.uol.com.br www.essetalmeioambiente.com.br http://epoca.globo.com/

Água, biodiversidade Defesa Flora/fauna, efeito estufa e madeira ilegal Perda da biodiversidade da Mata Atlântica Fogo (incêndio) e morte de peixes Resíduos sólidos (lixões) Resíduos sólidos (perigo) Água, seca, Mata Atlântica, glaciares, aquecimento global, cadastro rural

Informar Informar Informar Informar Informar Sensibilizar Informar sensibilizar

e

Fonte: As autoras.

Resultados e Discussão A pesquisa realizada pelos alunos resultou em um total de 298 notícias (sendo que algumas se repetiram nas turmas). Estas foram pesquisadas nos 30 sites seguintes: G1 53%, UOL 37%, Folha UOL SP 30%, Gazeta do Povo 13%, Portal do Meio Ambiente.org 10%, Ambiente Brasil 10%, MSN 7%, Brasil.gov 7%, Tribuna 7%, Demais 3% cada (Terra, Brasilescola, Mamiraua.org,

Centinex.org,

Mundoeducacao,

Redeceas.esalq.usp,

Portugues.rfi.fr,

Oeco.org,

Posgraduacaoredentor,

Brasilsustentavel.org,

R7,

Meioambientetecnico, Portoferreirahoje, Ibama.gov, Diariodoprofessor, Ebc, Tomdamata.org, atribuna, acritica.uol, essetalmeioambiente, epoca.globo). Constatou-se um maior acesso a sites de notícias privados que possuem extensão à TV (G1, 53%) e Serviços da Web (UOL, 37%) e um número reduzido vinculados à sites públicos e institucionais. Em um estudo de caso realizado por Quadros e Costa (2014) nos editoriais das Organizações Globo, disponibilizados no site do G1 constataram que muitas notícias são atualizadas no mesmo horário da publicação. Durante o período de pesquisa, os alunos perceberam que não houve publicação de muitas notícias sobre as questões ambientais. Para Cardinalli (2013, p. 8) “este fato ocorre devido ao pouco espaço destinado às matérias ambientais, ao enfoque dado às notícias e às poucas fontes de informação, entre outros”. Segundo apresentação dos alunos, a maioria dos temas e conteúdos veiculados são problemas ou desastres ambientais provocados pela ação humana, sendo que nas notícias pesquisadas, relacionava-se principalmente à problemática da falta de água em São Paulo, ao desmatamento da Amazônia e ao incêndio no porto de Santos, que aconteceram no período da pesquisa ou, ainda, mudanças climáticas, que é um tema que vem gerando debates no cenário mundial. No debate na sala de aula, foi unânime a percepção de que as questões ambientais são noticiadas na web de maneira geral, quando tem repercussão internacional e estão

10373 relacionados aos desastres ecológicos. De acordo com Cardinalli (2013, p. 4) “[...] Essas informações, apesar de provocar certa revolta em parte da população e cobrar atitudes de autoridades, são pouco reflexivas, pois acabam por não se aprofundar nas causas e alternativas para os problemas apresentados”. Segundo a classificação dos alunos sobre o papel da mídia nas notícias veiculadas, a maioria visava informar os fatos, e uma minoria de sensibilizar o leitor, informar e sensacionalizar os assuntos abordados. No debate em sala, chegamos a duas hipóteses, a primeira que o tempo dos acontecimentos e de noticiar é muito curto então dá tempo de refletir ou aprofundar os assuntos; e a segunda é que existe uma falta de preparo e de conhecimento por parte dos jornalistas e/ou profissionais da comunicação para tratar das questões ambientais, o que acaba simplesmente por informar superficialmente (vagas) ou acaba sensacionalizando ou omitindo informação. Ao buscar embasamento teórico, encontramos dois autores que nos ajudam a refletir sobre as hipóteses levantadas: Com relação à hipótese 1, Campos (2012, p.18) afirma que é dever dos profissionais da comunicação informar corretamente o receptor “[...] sobre o meio ambiente, privilegiando a preservação da vida, o que, muitas vezes, recomenda uma cobertura continuada e sóbria, ao invés do ímpeto sensacionalista voltado apenas para a ampliação da audiência [...]”. Na hipótese 2, de acordo com Alves (2002, p.9) “a principal dificuldade na cobertura ambiental é encontrar, em nossos veículos, profissionais especializados ou preparados para cobrir tal área. [...]”. Na atualidade, a questão envolve temas muito mais complexos e, além de conhecer muito bem o meio em que vive, o jornalista precisa estar sempre se especializando. Isso reforça a necessidade de informações corretas e bem fundamentadas e embasadas, pois a aprendizagem também ocorre por uma boa comunicação e poderá interferir nos hábitos cotidianos do receptor, conforme apresenta Santos (2005, p.437): Na prática, a passagem de saberes e informações, fundamentados ou não na tarefa de ensinar, só se concretizam quando estes são comunicados. Por sua vez, a comunicação engloba os conceitos de emissão e recepção da informação que está sendo veiculada. A aprendizagem só acontece quando existe a recepção da mensagem e seu posterior aproveitamento e incorporação ao universo conceitual e/ou comportamental do indivíduo.

Apesar de não ser o foco deste trabalho, encontramos uma pesquisa sobre papel da mídia na difusão de conhecimentos científicos em revistas de Sulaiman (2011, p.657) reafirma “[...] além do caráter informativo, a divulgação científica apresenta uma função

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educativa, na formação de opinião pública qualificada, assumindo os contornos de uma prática fundamentalmente comunicativa de vulgarização e mediação”. A autora citada fala do novo mercado de produção de revistas educativas que tematizam a formação científica e ambiental dos professores. Isso evidencia um progressivo interesse de divulgar informações especializadas e educativas. Além de discutir sobre os temas e o papel da mídia, também foi refletido sobre o sistema econômico vigente (Capitalismo), bem como a busca da sustentabilidade por meio do desenvolvimento sustentável, as ações individuais e coletivas, e a importância da Educação Ambiental nesse processo. Tozoni-Reis (2004, p.12) argumenta que “a educação ambiental é também compreendida como contribuição na construção de uma alternativa civilizatória e societária para a relação sociedade-natureza [...]” e na busca de novos conhecimentos e saberes, articulados com compromissos, responsabilidades e atitudes relacionadas ao ambiente. Na enquete realizada com os alunos sobre a principal fonte de informação, antes deste trabalho, constatou-se que 17% informaram que acessam a web para se informar, 40 % relataram ver as notícias pela TV. Dos participantes da enquete 43% afirmaram acessar redes sociais (Facebook, Watsapp e Instagram) com frequência diária pela facilidade de conexão móbile (via celular). Essa situação também foi encontrada na Pesquisa Brasileira de Mídia 2015 (BRASIL, 2014, p.50) referente às redes sociais e os programas de trocas de mensagens instantâneas mais usadas em 1º, 2º e 3º lugares estão: “[...] o Facebook (83%), o Whatsapp (58%), o Youtube (17%), o Instagram (12%) e o Google+ (8%). O Twitter, popular entre as elites políticas e formadores de opinião, foi mencionado apenas por 5% dos entrevistados”. Sastre (2015, p.11) que também fez uso das informações da pesquisa de Brasil (2014) diz que “esse paradigma remete à reflexão sobre a formação ou elo entre os integrantes do grupo, ou seja, é necessário considerar o perfil dos usuários da internet que produzem e acessam os diferentes canais e plataformas que disponibilizam informações e notícias”. Essa cultura contemporânea do uso de tecnologias digitais é conhecida como cibercultura que se inserem também às redes educativas. De acordo com Santos (2011, p.5) “[...] Atualmente, a cibercultura vem se caracterizando pela emergência da Web 2.0 com seus softwares e redes sociais mediadas pelas interfaces digitais em rede, pela mobilidade e convergência de mídias, dos computadores e dispositivos portáteis e da telefonia móvel”.

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Isso é um indicador da popularização da internet e que necessita de uma consciência crítica no processamento das informações que acessam. [...] Por outro lado, notamos que o desenvolvimento de conteúdo e estrutura dos canais digitais e plataformas não acompanham esse crescimento no que se refere aos mecanismos e estratégias de interatividade, o que contribui para a compreensão da percepção distorcida do público em relação ao tema e, principalmente, a credibilidade dos conteúdos (SASTRE, 2015, p.12).

Nesse sentido a educação escolar precisa explorar mais o potencial dessas tecnologias com criticidade. [...] compreender e incorporar mais as novas linguagens, desvendar os seus códigos, dominar as possibilidades de expressão e as possíveis manipulações. É importante educar para usos democráticos, mais progressistas e participativos das tecnologias, que facilitem a evolução dos indivíduos (MORAN, 2006, p.36).

Considerações Finais Essa prática pedagógica possibilitou a construção do conhecimento na disciplina de Geografia, a reflexão crítica sobre as notícias veiculadas pela mídia e a tomada de consciência das ações humanas no meio ambiente nas diversas escalas. Na perspectiva transformadora da Educação Ambiental, a consciência crítica é uma atividade permanente que pressupõe a capacidade de refletir e conhecer a realidade e as relações entre humanidade-natureza (LOUREIRO, 2006). Também evidenciou a importância de utilizar as mídias para pesquisa escolar, principalmente a web, pois apesar dos alunos estarem conectados praticamente 24 horas, no mundo da cibercultura (MORAN, 2006), acaba ficando mais na comunicação eletrônica, interação com os amigos (virtuais) e no entretenimento (ouvir músicas e videoclipes) do que para se atualizar e ficar por dentro do que está acontecendo no mundo. Nesse sentido, a pesquisa escolar se apresenta com um instrumento desafiador de educar pela pesquisa e formar sujeitos participativos (DEMO, 2011), e que pode ser mais explorado, principalmente no ensino da Geografia, que possibilita uma leitura crítica do mundo com olhar ambiental amplo e a viver de forma mais sustentável. REFERÊNCIAS ALVES, Jane Magali Rocha. O papel da mídia na informação ambiental. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 25., 2002, Salvador. Anais... [S.l.: s.n.], 2002. p. 1-13.

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