PETROBRAS x PETROBRAX: Desastre ambiental ou sabotagem comercial (Rede CTA-JMA 2002)

May 30, 2017 | Autor: Wagner Fischer | Categoria: Petroleum, Gestão Pública, Opinião Pública, Petrobras, Privatização
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Artigo Inédito PETROBRAS x PETROBRAX DESASTRE AMBIENTAL ou SABOTAGEM COMERCIAL? Wagner Fischer* Ementa: Nos últimos anos, a PETROBRAS acumulou desastres econômico-ambientais gravíssimos, sem que nada de efetivo fosse feito para punir responsáveis e reduzir novos incidentes. Não seria ingênuo reafirmar apenas a incompetência de uma empresa do porte tecnológico da PETROBRAS? Não seriam estes incidentes, negligências propositais e malintencionadas dentro da estatal às vésperas de sua possível privatização, com intuito de abalar sua credibilidade perante a opinião pública, facilitando o processo às custas da depreciação de nosso valoroso patrimônio natural, energético e financeiro? Isto tudo não seria menosprezar em demasia a nossa inteligência?! É certo que potências mundiais nos querem andando para trás, mas fazê-lo de olhos vendados é jogo baixo e covarde! Como cidadãos brasileiros, somos tão proprietários quanto responsáveis por companhias estatais como a PETROBRAS. Porém, esta que deveria ser nosso orgulho, vem se tornando motivo de vergonha, principalmente aos brasileiros com consciência política e ambiental. Nossa PETROBRAS vem acumulando em tempos recentes, graves acidentes invariavelmente devidos à má-administração dos serviços de prospecção e transporte de combustíveis. Em 2000, inúmeros fatos marcantes comprometeram a costa sul e sudeste do país, quando vários vazamentos de petróleo contaminaram nosso litoral (RJ, SP, ES, PR e RS) em eventos sucessivos, causados por negligências facilmente evitáveis. No RJ, oleodutos vazaram por 45min antes que algum funcionário tomasse ciência e alguma providência. De lá para cá, outros incontáveis acidentes ocorreram na extração e transporte de combustíveis pela PETROBRAS. E foi por pouco (ou por uma constrangedora “vergonha na cara” de FHC) que esses passivos ambientais não culminaram com a articulação conspiratória do caso PETROBRAX (RJ, Brazil). A milionária ação de bastidores da natimorta marca PETROBRAX foi escandalosa, mas também impunemente esquecida pela opinião pública. Passados tantos desastrosos episódios, o foco das tragédias em 2001 foi ainda mais pernicioso. O terrorismo silencioso, sem nome e sem vergonha, pôs abaixo nossas torres. Não aquelas cheias de gente capitalista do primeiro mundo americano. Mas sim, o nosso “World Trade Center” tecnológico, marco do orgulho empresarial-estatal brasileiro. A maior e mais poderosa plataforma petrolífera do Mundo, a P-36, a exemplo daquelas torres que seriam abaladas por Bin Laden em 11 de setembro, sofreu em 15 de março um baque na sua estrutura, indo ao fundo do oceano junto com mais de R$ 1 bilhão em prejuízos. Este nosso desastre de 15 de março (P-36, RJ) indubitavelmente não fez tantas vítimas instantâneas como aqueles atentados de 11 de setembro (WTC, NY). Mas, seu legado de prejuízos ao Brasil certamente vem contribuindo para matar, ou melhor, deixar morrer pela miséria e falta de assistência, muitos sub-cidadãos brasileiros que seriam beneficiados com as potenciais transações financeiras da PETROBRAS com a P-36 a todo vapor. Novamente, ninguém foi responsabilizado e punido, apenas a empresa. Impressiona também a repentina morte do engenheiro da Agência Nacional de Petróleo (ANP) Adalberto Azevedo, que integrava a comissão que apurava as causas do acidente na plataforma. Ainda em março/2001, Azevedo foi vítima de intoxicação alimentar e morreu com intestino e estômago destruídos. Os médicos não encontraram bactéria alguma e acreditam que houve envenenamento. Sinistro. Agora em outubro/2002 está sendo a vez da agonizante P-34. Rapidamente, já encontraram um bode-expiatório jurídico para empurrar culpas e justificar inclusive novos fracassos futuros (P-38 e P-40). Seria a nanica empresa Marítima capaz de derrubar a gigante PETROBRAS? Soa fácil e conveniente demais tal juízo.

É absurdo pensar que setores dirigentes da PETROBRAS (ou seria PETROBRAX?) permitiram uma seqüência de eventos de tal magnitude em tão pouco tempo. É igualmente inacreditável que uma empresa com tecnologia e experiência à altura de uma P-36 possa ser a mesma responsável por tantos vergonhosos acidentes que poderiam ser evitados de forma simples. Numa avaliação imediata, tais ocorrências sucessivas nos levam a acreditar que houve descaso e incompetência de vários profissionais e da política de segurança e proteção ambiental da empresa ao executar seus serviços. Entretanto, as investigações convergiram oportunamente para atribuir os descréditos à imagem da empresa PETROBRAS, sem que pessoa física alguma fosse de fato responsabilizada. Mas, teriam mesmo estas falhas ocorridas por simples incompetência administrativa, como querem creditar e que nós acreditemos? Ou tudo seria parte de uma ardilosa estratégia de sabotagem, visando denegrir a imagem pública e o patrimônio da empresa para acelerar sua privatização e depreciar eventuais transações? Ora, torna-se sinistro o fato da PETROBRAS acumular catástrofes e prejuízos justamente num momento crucial à sua existência como estatal. Será que tais problemas não foram programados para que cidadãos conscientes fortaleçam a opinião e a pressão para vender a empresa? Como brasileiros e ambientalistas passionais que em geral todos somos, essas sucessivas tragédias vieram formar uma grande massa de manobra descontente com a gestão “antiecológica” desta PETROBRAS. Guiados por causas ambientais, protagonizamos nos últimos anos inúmeros manifestos via internet, pressões junto à mídia, órgãos públicos e nãogovernamentais, tudo contra nossa própria estatal. Quem e que interesses poderiam estar por trás disso tudo? Não é preciso dizer quais seriam estas respostas. Somos reféns do sistema imperialista que sempre explorou nossas riquezas e nos alijou da capacidade de desenvolvimento. Nossa soberania é apenas fachada neste paíscontinente, sem governo, nem independência. Temos o maior potencial, mas as potências mundiais têm maior cinética. É importante que se diga que a América Latina é hoje o que a África era há 500 anos. Nenhuma potência surgiu na África como também não irá surgir na AL apenas por seus potenciais. Mudam-se os continentes, mas mantêm-se as relações. Todos deveríamos ficar severamente indignados ao analisar a semiótica dessas “coincidências” convenientes aos interesses conspiratórios e com toda conivência e impunidade administrativa que as cerca. Nossa inteligência tem sido subestimada em meio a crises e ao turbilhão de problemas atuais do país. Como contribuintes da PETROBRAS (do Brasil com “S”), devemos convocar os brasileiros, mídia e nossos raros administradores responsáveis para que investiguem e esclareçam a fundo tais questões. Se for para negociar, que façamos tudo às claras e sejamos mais responsáveis para receber o justo valor do seu patrimônio sem sermos lesados no presente, tampouco no futuro (e que a ANP nos proteja!). Mas se for para mantê-la, que demonstremos ser capazes de gerenciar com segurança nosso patrimônio tecnológico e administrar os riscos ambientais inerentes à sua operação, evitando prejuízos à natureza e à imagem dos brasileiros que se orgulham em participar de alguma forma da sua gestão.

Wagner Fischer* é Biólogo (USP), Mestre em Ecologia e Conservação (UFMS) e presidente da ONG Estrada Viva que visa promover a gestão ambiental e politicamente correta dos Corredores de Transporte Humanos e suas relações com Corredores Naturais de Vida Silvestre. [email protected] Rede CTA-JMA – 15 de Outubro de 2002.

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