[Pibic] Preconceitos, Discriminação e Homofobia: Refletindo sobre as implicações práticas da ausência do debate de diversidade sexual nas escolas de Caruaru/Pernambuco

June 1, 2017 | Autor: Cleyton Feitosa | Categoria: Educação, Discriminação, Diversidade Sexual
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PRECONCEITOS, DISCRIMINAÇÃO E HOMOFOBIA: REFLETINDO SOBRE AS IMPLICAÇÕES PRÁTICAS DA AUSÊNCIA DO DEBATE DE DIVERSIDADE SEXUAL NAS ESCOLAS DE CARUARU/PERNAMBUCO Cleyton Feitosa Pereira1; Ana Maria Tavares Duarte2 1

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Estudante do Curso de Pedagogia – CAA – UFPE; E-mail: [email protected], Docente/pesquisador do Núcleo de Formação Docente – CAA – UFPE. E-mail: [email protected].

Sumário: Este resumo expandido apresenta o estudo que versou sobre as temáticas da diversidade sexual e da educação formal e teve como objetivo geral verificar se acontecia nas escolas de Caruaru, estado de Pernambuco, discussões sobre diversidade sexual e o respeito a ela. A partir de um recorte teórico fundamentado nas reflexões de Louro (1997, 2001, 2008 e 2010), Junqueira (2009), Freire (2005), Carvalho et al. (2009) e outros, analisamos os dados coletados em uma abordagem qualitativa de pesquisa. Para tanto, utilizamos as técnicas de observação participante, diário de campo e entrevistas informais para a coleta dos dados. Utilizamos também a técnica da Análise de Conteúdo a fim de proporcionar um tratamento mais racional à análise, divididos em categorias analíticas. Os resultados apontaram para ausências de discussão na escola sobre diversidade sexual, cidadania LGBT e formas diversas de sexualidade, legitimando desta maneira práticas discriminatórias e desrespeitosas na convivência entre estudantes e professores(as). Palavras–chave: educação; diversidade sexual; discriminação INTRODUÇÃO Tomando a escola como instituição social responsável pela educação dos sujeitos em formação, que deverá provê-los(as) de saberes sociais, culturais e cidadãos em perspectivas conceituais, procedimentais e atitudinais é que nos dispusemos a investigar se este espaço discutia diversidade sexual, reconhecendo-a como elemento de respeito à diversidade e diferenças. Pesquisas (UNESCO, 2004; ABRAMOVAY et al., 2004; CARRARA e RAMOS, 2005) apontam altos índices de discriminação escolar envolvendo estudantes e professores no que tange à violência sexista e homofóbica, o que, sabemos, contribui para a cultura de violência e insatisfação do espaço escolar, resultando em repetência e evasão escolar, para além de impactos na subjetividade de coletividades que escapam das normas de gênero e sexualidade. Reconhecendo este cenário violador de cidadanias, tivemos como objetivo verificar se a escola discute diversidade sexual e de que forma o faz, ao mesmo tempo analisar as implicações dessa discussão (ou ausência dela) na formação e escolarização dos sujeitos escolares. Para tanto, fundamentamo-nos em teóricos(as) e pesquisadores(as) que estudam as temáticas aqui abordada, a saber: Louro (1997, 2001, 2008 e 2010), Junqueira (2009), Freire (2005) Carvalho et al. (2009) e outros. Este estudo justifica-se pelos resultados das pesquisas já mencionadas que indicam índices significativos de discriminação sexista e homofóbica no interior escolar e fora dela. Nossa hipótese é a de que a escola não trabalha adequadamente o respeito às diversidades, sobretudo sexual, contribuindo para a falta de entendimento, ignorância e desrespeito nas relações sociais.

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MATERIAIS E MÉTODOS Para realização deste estudo, utilizamos a abordagem qualitativa de pesquisa (MINAYO, 2008; GONSALVES, 2003) por ser mais adequada ao problema e aos objetivos pretendidos. A fim de coletar os dados, lançamos mão de técnicas que consideramos ser mais pertinentes ao nosso estudo como a observação participante, entrevistas informais (GIL, 2008) e diário de campo (MINAYO, 2008). Para o tratamento e análise dos dados coletados, utilizamos a Análise de Conteúdo (BARDIN, 2001). Como campo empírico, pesquisamos duas escolas municipais de Caruaru, pelas quais trataremos por nome fictício (Escola Guacira Louro e Escola Michel Foucault). Os sujeitos pesquisados foram três estudantes (A1, A2 e A3) do 5° ano do Ensino Fundamental e a docente desta mesma turma (D1) da escola Guacira Louro e três estudantes (B1, B2, B3) do 9° ano do Ensino Fundamental e um docente desta turma (D2) da escola Michel Foucault. RESULTADOS Em nossa coleta de dados (observação participante, diário de campo e entrevistas informais) obtivemos resultados que confirmaram nossa hipótese de que a escola reproduz formas ilegítimas de cidadania e diversidade sexual, corroborando para a violência homofóbica e sexista vivenciada há anos. Ratifica as pesquisas apresentadas ao não problematizar determinadas injustiças sociais. Ignora os conceitos de gênero e sexualidade como ferramentas analíticas que regem relações sociais contraditórias. No 5° ano, encontramos falas como o que é diversidade sexual? (A1, Diário de Campo, 05/12/2011), eles são muito novinhos para discutir assunto de homossexualismo (D1, Diário de Campo, 09/12/2011), acho que Carlos (nome fictício) quer ser menina e isso é pecado (A2, Diário de Campo, 13/12/2011), Renatinha (nome fictício) só gosta de brincar com os meninos e por isso não gosto dela (A3, Diário de Campo, 15/12/2011) demonstram a dificuldade e os desafios que a escola tem para fazer-se inclusiva e de boa qualidade. Na turma do 9° ano obtivemos os seguintes resultados Os estudantes tratam-se por expressões ofensivas, muitas destas expressões relacionam-se à diversidade sexual de maneira pejorativa, abjeta, como fresco, bicha, veado (FEITOSA, Diário de Campo, 20/02/2012), esse assunto é matéria de Biologia, não da minha disciplina (D2, Diário de Campo, 15/03/2012), não tem gays nessa escola (B1, Diário de Campo, 27/03/2012), na escola aprendemos sexualidade no ano passado, na parte de sistema reprodutivo (B2, Diário de Campo, 10/04/2012), acho que lugar pra falar dessas coisas é com a família e a escola é para aprendermos assuntos do vestibular, de concurso, entendeu? (B3, Diário de Campo, 17/04/2012). DISCUSSÃO Os dados coletados possibilitam uma interpretação que aponta para lacunas educativas que não devem ser vistas apenas como um processo presente na sala de aula, mas no todo complexo pedagógico que influencia nas práticas pedagógicas e relações no cotidiano escolar. É necessário formações (inicial e continuada) mais qualitativas no campo do gênero e da sexualidade que problematizem e introduzam esses conceitos nos currículos de Instituições de Ensino Superior, ao mesmo tempo, políticas curriculares que enfoquem direitos humanos e diversidade na escola e na educação básica. Os dados apontaram também para a ausência de discussões mais esclarecedoras e respeitosas acerca da diversidade sexual e seus desdobramentos. Não que a temática de sexualidade não seja tratada, pelo contrário, formas legítimas de preconceito e discriminação emergem das falas

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dos sujeitos assim como o tratamento da sexualidade é dada em sala de aula: silenciada, com tabus, inadequada, que não correspondem às expectativas sociais da escola. Ainda é necessário avaliar as políticas educacionais que versam sobre direitos humanos e diversidade e o impacto deles na base, se esses programas chegam onde deveriam chegar, se são construídos e entendidos pelos profissionais da educação em sua prática cotidiana e se os mesmos os absorvem de maneira positiva, que de fato os ajude a lidar com essas questões que ainda são vistas como “matérias de Biologia”, indo de encontro a uma série de documentos e Planos nacionais que preveem atuação justo à escola para desconstrução e desestabilização de normas cristalizadas como a heteronormatividade e o da masculinidade hegemônica (JUNQUEIRA, 2009). Esse tratamento dado à sexualidade na escola vai na direção do que Louro reflete “na escola, pela afirmação ou pelo silenciamento, nos espaços reconhecidos e públicos ou nos cantos escondidos e privados, é exercida uma pedagogia da sexualidade, legitimando determinadas identidades e práticas sexuais, reprimindo e marginalizando outras” (LOURO, 2001, p. 31). Da mesma forma Junqueira (2009) afirma “tratamentos preconceituosos, medidas discriminatórias, ofensas, constrangimentos, ameaças e agressões físicas ou verbais têm sido uma constante na vida escolar e profissional de jovens e adultos LGBT” (JUNQUEIRA, 2009, p. 17). Ao mesmo tempo vai de encontro as teoria de educação libertadora de Freire (2005) que tem no diálogo a ferramenta fundamental para o pensamento crítico e reflexivo dos sujeitos.

CONCLUSÕES Tivemos como principais conclusões a confirmação da nossa hipótese e a verificação de que a escola ainda não trata de maneira adequada discussões que relacionem e transversalizem diversidade sexual, cidadania, população LGBT e direitos humanos, seja nas séries iniciais e finais do Ensino Fundamental. Conceitos como gênero, sexismo, heteronormatividade e outros relativos às temáticas supracitadas são ignorados e invisibilizados no chão da escola e na vivência cotidiana da sala de aula. Nesta direção, recomenda-se a atenção às políticas educacionais, políticas curriculares e formação de profissionais da educação ações no âmbito da educação em direitos humanos, pautados pela discussão sobre diversidade sexual. O fato é que se tem como implicações manifestações diversas de violência e desrespeito às pessoas que escapam das normas heteronormativas, seja na escola ou fora do ambiente escolar, culminando em uma série de violações, que hoje são pautas de reivindicação de movimentos sociais organizados feministas e de minorias sexuais como o LGBT, por exemplo. Esse estudo é importante para compreender alguns dos fenômenos sociais engendrados na educação e como repercutem socialmente, além de indicar que os próximos estudos devem abordar as políticas educacionais que visem desestabilizar o sexismo e a homofobia na escola, também é importante estudos que enfoquem a diversidade sexual nas escolas do campo, como território ainda invisibilizado e pouco explorado por muitos dos(as) autores que debruçam-se sobre estudos da diversidade sexual e educação. AGRADECIMENTOS Agredeço à Universidade Federal de Pernambuco, à Pró-Reitoria para Assuntos de Pesquisa e Pós-Graduação (Propesq), ao Setor de Bolsas de Iniciação Científica e aos pareceristas que aprovaram este projeto, possibilitando a discussão acerca das temáticas aqui tratadas e que são carentes de mais estudos em nosso estado. Agradeço às escolas e aos sujeitos que nos possibilitaram concretamente a realização desta iniciação científica, a estas instituições e pessoas o meu muito obrigado. Agradeço primordialmente a minha

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orientadora Ana Maria Tavares Duarte, que não mediu esforços para ser parceira de estudos neste projeto e me apoiou, em todas as etapas do processo, a materializar esta atividade, ao longo deste tempo. REFERÊNCIAS ABRAMOVAY, Miriam; CASTRO, Mary Garcia; SILVA, Lorena Bernadete da. Juventudes e sexualidade. Brasília: Unesco, 2004. BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Lisboa: Relógio D’água Editores, 2001. CARRARA, Sérgio; RAMOS, Sílvia. Política, direitos, violência e homossexualidade: Pesquisa 9ª Parada do Orgulho GLBT – Rio 2004. Rio de Janeiro: Cepesc, 2005. CARVALHO, Maria Eulina Pessoa de; ANDRADE, Fernando Cezar Bezerra de Andrade; JUNQUEIRA, Rogério Diniz. Gênero e diversidade sexual: um glossário. João Pessoa: Ed. Universitária UFPB, 2009. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994. 17. Ed. GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2008. 6. ed. GONSALVES, Elisa Pereira. Conversas sobre iniciação à pesquisa científica. 3. Ed. Campinas, SP: Alínea. 2003. JUNQUEIRA, Rogério Diniz. Homofobia nas escolas: um problema de todos. In: JUNQUEIRA, Rogério Diniz (Org.). Diversidade sexual na educação: problematizações sobre a homofobia nas escolas. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, UNESCO, 2009. LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pósestruturalista. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. ______. O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. ______. Um corpo estranho: ensaios sobre sexualidade e teoria queer. Belo Horizonte: Autêntica, 2008. ______. Pedagogias da sexualidade. In: LOURO, G. L. (org.) O corpo educado: pedagogias da sexualidade. 3ª edição. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. MINAYO, Maria C. S. (Org.); DESLANDES, S. F.; NETO, O. C. GOMES, R. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. 27. ed. UNESCO. O perfil dos professores brasileiros: o que fazem, o que pensam, o que almejam... São Paulo: Moderna, 2004.

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