Pinturas Rupestres na Região de Piraí da Serra – Paraná

July 22, 2017 | Autor: F. Pereira de Oli... | Categoria: Geography, Arqueología
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As Pinturas Rupestres na Região de Piraí da Serra – Paraná Fernanda Cristina PEREIRA, Mário Sérgio de MELO e Cláudia Inês PARELLADA Universidade Estadual de Ponta Grossa O presente trabalho visa apresentar dados e hipóteses interpretativas, através da classificação morfológica dos cervídeos proposta por Prous e Baeta (1992/1993), para os vestígios arqueológicos existentes na região de Piraí da Serra, enfatizando a importância do estudo e da preservação do patrimônio arqueológico regional. Palavras-chave: Pinturas rupestres. Arqueologia paranaense. Abrigos areníticos.

A região de Piraí da Serra situa-se nos Campos Gerais do Paraná. É limítrofe dos municípios de Piraí do Sul, Castro e Tibagi, no reverso imediato da Escarpa Devoniana. É limitada pelo Rio FortalezaGuaricanga a noroeste, Escarpa Devoniana a sudeste, rodovia PR-090 a nordeste e Rio Iapó a sudoeste, abrangendo uma área de cerca de 500km 2 (UEPG, 2003). A presença de obstáculo natural representado pela Escarpa Devoniana, onde os vales encaixados dos rios que correm para oeste constituem passos naturais e a ocorrência de rochas favoráveis para o surgimento de tetos formando abrigos naturais, podem ter contribuído para Piraí da Serra apresentar vários sítios arqueológicos com pinturas rupestres. A região esta inserida na APA da Escarpa Devoniana, no entanto vem sofrendo impactos da ação antrópica. A expansão descontrolada de atividades agrícolas mecanizadas, o uso indiscriminado de queimadas, a demanda por recursos hídricos e energéticos têm trazido riscos ao patrimônio arqueológico regional. Ademais, as pinturas rupestres que se encontram em abrigos a céu aberto sofrem com o vandalismo, onde pessoas escrevem sobre as pinturas e ainda as marcam com picaretas; elas sofrem também com a degradação natural da rocha e com a ação do gado, pois muitos dos sítios se encontram em áreas de pecuária.

SEMANA DE GEOGRAFIA, 16., 2009. A PLURALIDADE NA GEOGRAFIA. PONTA GROSSA: DEGEO/DAGLAS, 2009. ISSN 2176-6967

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MATERIAIS E MÉTODOS Os estudos relativos ao patrimônio arqueológico de Piraí da Serra compreenderam a compilação e análise bibliográfica, produzindo-se uma síntese regional. Houve o cadastro de sítios arqueológicos, com a documentação das pinturas rupestres, bem como a análise dos fatores ambientais relacionados com a localização dos sítios. O levantamento de sítios compreendeu as etapas de interpretação de fotografias aéreas pancromáticas em escala 1:70.000 (DGTC, 1962/1963) com o uso de estereoscópios de mesa binoculares, extraindo dados em overlay, os quais foram digitalizados em ambiente SIG (uso do programa Arcview 3.2). Em levantamento de campo inicial fez-se o registro fotográfico dos abrigos e pinturas rupestres, sendo alguns abrigos mapeados. Houve análise descritiva das pinturas rupestres através de imagens digitalizadas, decalcadas com a ajuda de realces e contrastes; e classificadas de acordo com a tabela morfológica de cervídeos de Prous e Baeta (1992/1993). Também se fez a descrição física e a análise micro-ambiental de alguns abrigos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Até o presente momento foram caracterizados na área de estudo onze abrigos com pinturas rupestres: Santa Rita I e II, Chapadinha I e II, Paulino I a III, Abrigo Caverna 01, Abrigo Caverna 02, Ponte Alta e Casa de Pedra (BLASI, 1970, 1972, 1991, 2002; LAMING et al., 1956; ARNT, 2002; BARBOSA, 2004). O pigmento mais recorrente tem cor vermelha e pode estar relacionado a seixos de rocha contendo grande quantidade de minerais com ferro alterados (hematita e seus produtos de oxidação). Se fosse essa a matéria-prima, poderia ser usado in natura ou diluído em líquidos como provavelmente em água, gordura ou sangue animal. As estratégias para pintar os arenitos, segundo hipóteses iniciais, pela espessura de alguns traços apontam que talvez fossem feitos com a ponta dos dedos e/ou gravetos. As tradições paranaenses que se relacionam com as pinturas rupestres são Planalto e Geométrica (PARELLADA, 2007). A Tradição Planalto, segundo Prous (1992), apresenta grafismos pintados geralmente em vermelho, e mais raramente em preto ou amarelo, algumas vezes em branco, predominando as figuras de animais, como cervídeos em perfil e pássaros tanto em perfil como de frente. Menos comumente podem ocorrer figuras humanas e círculos raiados, talvez

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representações astronômicas, pois se assemelham a desenhos relacionados ao Sol ou cometas. A Tradição Geométrica caracteriza-se por apresentar cor marrom e/ou vermelha e motivos geométricos (traços, círculos, pontilhados), quase não aparecendo outras representações. A maior parte dos abrigos com pinturas rupestres localiza-se nos vales dos rios Iapó e Tibagi, aparecendo junto a afloramentos do Arenito Furnas (PARELLADA, 2007). Foi possível analisar poucas figuras devido ao seu péssimo estado de conservação, sendo que muitas se encontram bastante degradadas e com difícil caracterização. As pinturas mais instigantes pertencem a um painel com a representação de cervídeos localizados no Abrigo Cavernas I, conforme mostrado na figura 1, o qual apresenta um conjunto de três cervídeos chapados semelhantes: sem galhadas; formato do corpo retangular; a cauda é reta para cima, extremidade arredondada; a perna é reta e espalhada para fora; apresenta uma extremidade distal simples e espessura do traço grosso. No painel tem-se um cervídeo de tamanho médio que se encontra marcado com picareta e um cercado que esta sobreposto a um outro cervídeo, de tamanho pequeno, simulando uma cena do cotidiano do grupo indígena que habitava a região.

Figura 1 – Painel representando cervídeos no Abrigo Cavernas I – Piraí do Serra – PR.

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A localização e o posicionamento destes abrigos podem indicar opções culturais e estratégias de demarcação de territórios, aliados a outros fatores geográficos como: corredores de rotas migratórias, condições climáticas, locais privilegiados para observação e captura da caça, entre outros. A grande maioria dos abrigos tem sua parte frontal direcionada para o Norte, para se beneficiar da insolação máxima, o que possibilita que fiquem secos grande parte do tempo. Os poucos face Sul apresentam muitas plantas e umidade no seu interior, o que amplia a degradação das pinturas. CONCLUSÕES O estudo dos abrigos-sob-rocha na região pesquisada revela em vários casos forte degradação resultante de ação antrópica (fogo, depredação) ou natural (intemperismo das paredes rochosas, crescimento de organismos). A classificação das pinturas rupestres pode nos revelar uma semelhança nos desenhos dos cervídeos, onde se pode constatar que todas as pinturas de cervídeos até o momento encontradas na área de estudo parecem não apresentar galhas. Verifica-se a existência de muitos sítios com pinturas rupestres na área, porém com poucas informações contextualizadas e datadas, que poderiam permitir uma análise mais detalhada e a conseqüente definição de territórios, e mesmo da complexidade das culturas e suas relações (PARELLADA, 2007). É de extrema importância que se faça uma adequada gestão do patrimônio arqueológico, em convênio com o IPHAN, órgão federal responsável pela gestão desse patrimônio. REFERÊNCIAS ARNT, F. V. As pinturas rupestres como testemunho de ocupação pré-contato em Tibagi, Paraná. Tese (Doutorado) – Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, 2002. BARBOSA, J. N. A. Arte rupestre: a história que a rocha não deixou apagar. Curitiba: Acádia, 2004. BASIL, O.; PONTES FILHO, A.; MULLER, C. R. M. Apreciação resumida sobre a arte rupestre nos Campos Gerais do Paraná. Fumdhamentos, v. 1, n. 2, p. 209-218, 2002. BLASI, O. Aspectos da arte pré-histórica no Sul do Brasil. In: VALCAMONICA SYMPOSIUM INTERNACIONAL D’ARTE PRÉ-HISTORIQUE. Actes... Capo di Ponte, 1970.

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BLASI, O. Cultura do índio pré-histórico. Vale do Iapó, Tibagi – PR. Arquivos do Museu Paranaense / Nova Série Arqueológica, Curitiba, n. 6, 1972. BLASI, O.; PARELLADA, C. I. Projeto de Levantamento e cadastramento de sítios arqueológicos do 2º planalto paranaense. Secretaria de Estado da Cultura do Paraná, Curitiba (relatório interno), 1991. LAMING, A.; EMPERAIRE, J. Decouvertes de peintures rupestres sur lês hauts plateaux Du Paraná. Journal Soc. Americanistes, Paris, n. 45, p. 165-178, 1956. MELO, M. S. M. Caracterização do patrimônio natural dos Campos Gerais do Paraná. Ponta Grossa: UEPG, 2003. PARELLADA, C. I.; Arqueologia dos Campos Gerais. In: MELO, M. S.; MORO, R. S.; GUIMARÃES, G. B. Patrimônio natural do Campos Gerais do Paraná. Ponta Grossa: UEPG, 2007. PROUS, A.; BAETA, A. M. Elementos de cronologia, descrição de atributos e tipologia. Arq. Mus. Nat., Belo Horizonte, v. 13, p. 241-295, 1992/1993. PROUS, A. Arqueologia Brasileira. Ed.UNB. Brasília, DF, 1992. SILVA, A. G. C. Pinturas rupestres do Sítio Arqueológico Abrigo Usina São Jorge. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Geografia) – Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa.

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