PISCICULTURA NO SUDOESTE DA AMAZÔNIA BRASILEIRA: O CASO DE RONDÔNIA EM 2009

June 4, 2017 | Autor: Marcelo dos Anjos | Categoria: Fishing, Aquaculture Management, Brazilian North Region
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10.14688/1984-3801/gst.v8n2p143-152 PISCICULTURA NO SUDOESTE DA AMAZÔNIA BRASILEIRA: O CASO DE RONDÔNIA EM 2009 Marcelo Rodrigues dos Anjos1,2*, Vânio Carlos de Souza1, Roberto Claudio Santiago1, Nadja Gomes Machado2,3, Marcelo Sacardi Biudes2, João Ânderson Fulan1 RESUMO: As pessoas nunca consumiram tanto peixe ou dependiam tão fortemente do setor para o seu bem-estar como o fazem hoje. O consumo mundial de peixe per capita subiu de 9,9 kg em 1960 para 19,2 kg em 2012. No entanto, o Brasil representou apenas 0,86% da produção mundial de pescado em 2009. A Região Norte liderou o cenário da pesca extrativa continental (54,6%) impulsionada pelo Amazonas e Pará em 2009, mas ficou em última posição na produção aquícola continental (10,61%) impulsionada pelo Amazonas e Rondônia. Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi compreender a piscicultura no estado de Rondônia em 2009 a partir de um questionário aplicado aos produtores sobre a área de piscicultura em hectares, o número de peixes estocados, e a produção em toneladas. O estado de Rondônia produziu 11.455,67 toneladas de pescado em piscicultura em 2009. Porto Velho foi o município com uma das menores áreas e menor produção de piscicultura, mas o que teve maior densidade de estocagem; enquanto Mirante da Serra foi o município com maior área e maior produção de piscicultura, mas teve uma das menores densidades de estocagem. Por outro lado, Colorado do Oeste foi o município que teve a maior densidade de estocagem com menor área, mas sua produção aquícola foi intermediária comparada com os outros municípios. O setor de piscicultura é favorecido em Rondônia por causa da alta quantidade de ingestão de pescado na região Norte e as condições propícias de produção de organismos aquáticos. No entanto, é fundamental investimentos e incentivos por meio de políticas públicas para o aumento da oferta e do consumo deste alimento no Brasil, assim como a manutenção do padrão de ingestão nas regiões Norte e Nordeste ao apresentar alto consumo. Palavras-chave: produção aquícola, aquicultura, Região Norte brasileira, pesca, pescado _________________________________________ 1

Laboratório de Ictiologia e Ordenamento Pesqueiro do Vale do Rio Madeira – LIOP, Instituto de Educação, Agricultura e Ambiente – IEAA, Universidade Federal do Amazonas – UFAM, Humaitá, AM, Brasil. *E-mail: [email protected]. Autor para correspondência. 2 Programa de Pós-graduação em Física Ambiental – PGFA, Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT, Cuiabá, MT, Brasil 3 Laboratório de Biologia da Conservação – LABIC, Instituto Federal de Mato Grosso, Cuiabá, MT, Brasil. Recebido em: 06/11/2014. Aprovado em: 08/09/2015.

Gl. Sci Technol, Rio Verde, v.08, n.02, p.143 – 152, mai/ago. 2015.

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PISCICULTURE IN THE SOUTHWEST OF THE BRAZILIAN AMAZON: THE RONDÔNIA’S CASE IN 2009 ABSTRACT: People never ate much fish or depended so heavily on the sector for their welfare as they do today. The world consumption of fish per capita increased from 9.9 kg in 1960 to 19.2 kg in 2012. However, Brazil accounted for only 0.86% of world fish production in 2009. The North Region led the setting of fishing continental extraction (54.6%) driven by Amazonas and Pará states in 2009, but came in last place in the continental aquaculture production (10.61%) driven by Amazonas and Rondônia states. Thus, the objective of this study was to understand fish farming in the state of Rondônia in 2009 with data from a questionnaire applied to producers about area in hectares of fish farming, the number of fish stocked, and production in tons. The state of Rondônia produced 11,455.67 tons of fish in fish farming in 2009. Porto Velho was the site with one of the smaller areas and lower production of fish farming, but had the highest stocking density; while Mirante da Serra was the municipality with the largest area and highest production of fish farming, but had one of the lowest stocking densities. On the other hand, Colorado do Oeste was the site that had the highest density storage with smaller area, but its aquaculture production was intermediate compared with other municipalities. The fish farming industry is favored in Rondônia because of the high amount of fish intake in the North region and favorable conditions of production of aquatic organisms. However, it is crucial investments and incentives through public policies to increase the supply and consumption of this food in Brazil, as well as the maintenance of the intake pattern in the North and Northeast Regions. Key-words: aquaculture, aquaculture, brazilian North Region, fishing, fish ___________________________________________________________________________________________________

INTRODUÇÃO A demanda mundial por pescados vem crescendo de forma constante nas últimas cinco décadas com um consumo mundial de peixe per capita de 9,9 kg em 1960 para 19,2 kg em 2012 (FAO, 2014). Este aumento no consumo de peixe tem sido impulsionado por uma combinação entre crescimento populacional e aumento da renda e urbanização, facilitada pela forte expansão da produção de peixes e canais de distribuição mais eficientes (FAO, 2014). Além disso, há ainda uma mudança no hábito alimentar da população que tem buscado produtos com perfil nutricional adequado (CREPALDI et al., 2006). O pescado é importante para uma dieta diversificada e saudável por ser uma fonte concentrada de proteína, ácidos gordos essenciais e micronutrientes (FERNANDES et al., 2012; FAO, 2014). As pessoas nunca consumiram tanto peixe ou dependiam tão fortemente do setor

para o seu bem-estar como o fazem hoje. O setor de pesca no mundo produziu 158 milhões de toneladas de peixe em 2012, sendo que 91,3 toneladas foi de produção marinha e pesca de captura em águas continentais e 66,6 toneladas de produção aquícola (FAO, 2014). Assim, a produção aquícola mundial continua a crescer e agora fornece quase metade de todo pescado para consumo humano (FAO, 2014). Destacamos que, o peixe está entre as mais negociadas commodities alimentares do mundo no valor de quase US$ 130 bilhões em 2012, sendo as economias em desenvolvimento responsáveis por 54% das exportações totais da pesca e as economias desenvolvidas responsáveis por 46% das exportações totais da pesca (FAO, 2014). Portanto, a pesca e a aquicultura suportam os modos de vida de 10% a 12% da população mundial, fornecendo uma ampla gama de oportunidades econômicas (FAO, 2014). O Brasil melhorou significativamente seu posicionamento no ranking global em

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Piscicultura no sudoeste... anos recentes (FAO, 2014), ao sair de uma produção total de pescados de 990.272 toneladas em 2003 a 1.240.813,1 toneladas em 2009, representando 0,86% da produção mundial de pescado (BRASIL, 2010). Do total de pescado, a produção, no Brasil em 2009, foi de 825.146,1 toneladas oriundas da pesca e 415.649 toneladas da aquicultura (BRASIL, 2010). A aquicultura brasileira tem mostrado crescimento gradual desde 1968, quando a produção aquícola brasileira foi reportada à FAO com produção inferior a 0,5 toneladas de pescado (BRASIL, 2010). A Região Norte foi a terceira maior produtora de pescado do Brasil em 2009 com um volume total produzido de 265.775 toneladas, correspondendo a 21,42% do total nacional (BRASIL, 2010). Porém, a Região Norte liderou o cenário da pesca extrativa continental, sendo responsável por 54,6% da produção pesqueira de água doce brasileira em 2009, a qual foi fortemente impulsionada pelos estados do Amazonas (71.109,9 toneladas) e do Pará (42.082,5 toneladas), que somados foram responsáveis por, praticamente, metade da produção pesqueira continental do Brasil (BRASIL, 2010). Com relação à produção aquícola continental, a Região Norte ocupou a última colocação entre as regiões brasileiras ao ser responsável por apenas 10,61% da produção nacional em 2009 (BRASIL, 2010). Os maiores estados produtores da Região Norte foram Amazonas (28,6%) e Rondônia (22,86%) em 2009 (BRASIL, 2010). Portanto, a produção aquícola continental tem crescido com aumento na demanda e oferta, tornando-se assim uma importante atividade econômica para a Região Norte e para o estado de Rondônia. No entanto, há poucos trabalhos publicados sobre a criação de peixes no Estado. Oliveira (2008) estudou o arranjo produtivo local da piscicultura praticada no município de Pimenta Bueno. Borges et al. (2013a) avaliaram o desempenho e o licenciamento

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ambiental da aquicultura no município de Ariquemes em Rondônia. Borges et al. (2013b) também avaliaram o desempenho ambiental da piscicultura no município de Colorado do Oeste em Rondônia. Em ambos os estudos, os autores encontraram desempenho ambiental péssimo, o que indica a insustentabilidade ambiental da atual piscicultura no sul do estado de Rondônia. Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi compreender a piscicultura no estado de Rondônia em 2009 a partir de um questionário aplicado aos produtores sobre a área de piscicultura em hectares, o número de peixes estocados, e a produção em toneladas. MATERIAL E MÉTODOS Área de estudo Rondônia é um estado que pertence à região Norte do Brasil e está localizado no sudoeste da Amazônia entre os meridianos 66° e 60° de longitude Oeste e os paralelos 7° e 13° de latitude Sul (Figura 1). O estado ocupa uma área de 237.590,55 km² com 52 municípios e uma população de 1.562.409 (IBGE, 2010). De acordo com Köppen, o clima da região é do tipo Aw (tropical chuvoso) com uma estação relativamente seca e outra chuvosa nos meses de setembro a maio, cuja precipitação acumulada anual varia de 2.300 a 2.750 mm (BRASIL, 1978). A temperatura média anual é 25,5°C com máxima de 31,5°C e mínima de 20,7°C (BRASIL, 1978). As principais formações vegetais incluem: Floresta Estacional Semidecidual, Floresta Ombrófila Aberta, Floresta Ombrófila Densa, Savana e as Formações Pioneiras de Influência Fluvial (BRASIL, 1978). O relevo ondulado da região é decorrente da Formação Solimões coberto por solos de diferentes texturas argilosas e arenosas (BRASIL, 1978).

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Figura 1 – Localização do estado de Rondônia, Brasil. O estado de Rondônia foi dividido em sete regionais definidas pela Agência de Defesa Sanitária Agrosilvopastoril do estado de Rondônia - IDARON, sendo elas: Porto Velho, Vilhena, Pimenta Bueno, Rolim de

Moura, Alvorada D’Oeste, Ariquemes, e Jiparaná (Figura 1, Tabela 1). Cada regional é composta por municípios elencados na Tabela 1.

Tabela 1 – Municípios que pertencem a cada regional definida pela Agência de Defesa Sanitária Agrosilvopastoril do estado de Rondônia – IDARON. Ji-Paraná

Ariquemes

Governador Jorge Teixeira

Alto Paraíso

Jaru

Ariquemes

Ji-Paraná

Buritis

Alvorada D’oeste Alvorada do Oeste Costa Marques São Francisco do Guaporé São Miguel do Guaporé

Mirante da Serra

Cacaulândia

Nova União

Campo Novo de Rondônia

Seringueiras

Cujubim

Urupá

Ouro Preto do Oeste Presidente Médice Teixeirópolis Theobroma Vale do Paraíso

Machadinho do Oeste Monte Negro

Rolim de Moura Alta Floresta do Oeste Alto Alegre dos Parecis Castanheiras

Pimenta Bueno

Vilhena

Cacoal

Cabixi

Espigão do Oeste Ministro Andreazza

Nova Brasilândia Parecis do Oeste Novo Horizonte Pimenta Bueno do Oeste Primavera de Rolim de Moura Rondônia Santa Luzia do São Felipe do Oeste Oeste

Porto Velho

Colorado do Oeste

Candeias do Jamari GuajaráMirim Itapoã do Oeste Nova Mamoré

Corumbiara

Porto Velho

Cerejeiras Chupinguaia

Pimenteiras do Oeste Vilhena

Rio Crespo Vale do Anari

Coleta de dados Os dados foram coletados nos Municípios de cada uma das sete regionais do Estado (Alvorada D’Oeste, Ariquemes, JiParaná, Pimenta Bueno, Porto Velho, Rolim de Moura e Vilhena) a partir de um questionário aplicado no momento de declaração da vacinação do rebanho bovino

entre março e abril de 2010 pela IDARON. Os dados correspondem ao número de produtores de cada município, a área de piscicultura em hectares, número de peixes estocados, produção em toneladas e a declaração de comercialização ou não da produção de piscicultura para o ano 2009. Dessa forma, foi possível calcular a

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Piscicultura no sudoeste...

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densidade média de estocagem (peixes por maior número de produtores que hectares). comercializaram sua produção. Por outro lado, Porto Velho e Vilhena tiveram o menor número de produtores que comercializam sua RESULTADOS E DISCUSSÃO produção. Ji-Paraná e Ariquemes A IDARON tem 6.623 produtores de corresponderam a 38,6% e 28,4% do total da piscicultura cadastrados, mas apenas 1.529 área de piscicultura em Rondônia, disseram comercializar o que foi produzido respectivamente; enquanto, Vilhena e Porto em 2009 (Figura 2). Embora, as regionais Ji- Velho corresponderam apenas a 3,1% e 3,8% Paraná e Pimenta Bueno tenham tido o maior do total, respectivamente. número de produtores cadastrados, foram as de Ji-Paraná e Ariquemes que tiveram o

Figura 2 – Número de produtores cadastrados e de produtores que comercializam sua produção, e a área de piscicultura nas sete regionais do estado de Rondônia em 2009. Ji-Paraná e Ariquemes foram as estocado pelos produtores em Rondônia em regionais com o maior número de peixe 2009 (Figura 3).

Figura 3 – Número de peixe estocado e densidade de estocagem (peixe ha-1) nas sete regionais do estado de Rondônia em 2009.

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M. R. dos Anjos et al. O estado de Rondônia produziu 11.455,67 toneladas de pescado em 2009 (Figura 4 e Tabela 2). Ji-Paraná e Ariquemes são as regionais com a maior produção de piscicultura em Rondônia com 39,2% e 23,7% em 2009, respectivamente. As regiões que menos produziram foram Porto Velho e Vilhena com 4,5% e 6,4%, respectivamente. Porto Velho foi o município de Rondônia com uma das menores áreas e

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menor produção de piscicultura em 2009, mas o que teve maior densidade de estocagem; enquanto Mirante da Serra foi o município com maior área e maior produção de piscicultura, mas teve uma das menores em densidade de estocagem. Por outro lado, Colorado do Oeste foi o município que teve a maior densidade de estocagem com menor área e produção aquícola intermediária.

Figura 4 – Produção de peixe (toneladas) nas sete regionais do estado de Rondônia em 2009. Tabela 2 – Número de produtores de piscicultura, -1área de produção (hectares), número de peixe estocado, densidade de estocagem (peixe ha ), e produção de peixe (toneladas) nos municípios das regionais da IDARON em Rondônia em 2009

Pimenta Bueno

Vilhena

Porto Velho

Regional

Nº de produtores

Área de produção (ha)

Nº de peixe estocado

Densidade de estocagem

Produção (ton)

Candeias do Jamari

11,0

17,4

52,8

4,8

73,9

Guajará-Mirim

4,0

7,0

27,0

6,8

37,8

Itapoã do Oeste

12,0

25,5

134,5

11,2

188,3

Nova Mamoré

6,0

18,7

74,8

12,5

104,7

Porto Velho

14,0

39,4

151,6

10,8

212,2

Cabixi

16,0

15,7

75,6

4,7

105,8

Cerejeiras

3,0

4,7

16,0

5,3

22,4

Chupinguaia

2,0

1,3

5,0

2,5

7,0

Colorado do Oeste

24,0

27,6

289,8

12,1

405,7

Corumbiara

7,0

9,0

31,7

4,5

44,4

Pimenteiras do Oeste

3,0

6,4

7,5

2,5

10,5

Vilhena

12,0

23,5

96,7

8,1

135,4

Cacoal

33,0

22,6

103,9

3,1

145,4

Espigão do Oeste

56,0

61,4

164,1

2,9

229,7

Ministro Andreazza

6,0

7,4

16,8

2,8

23,5

Parecis

9,0

7,4

16,9

1,9

23,7

Pimenta Bueno

37,0

70,2

158,2

4,3

221,5

Primavera de Rondônia

9,0

23,0

96,0

10,7

134,4

São Felipe do Oeste

17,0

16,2

44,4

2,6

62,2

Municípios

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Ji-Paraná

Ariquemes

Alvorada D'Oeste

Rolim de Moura

Piscicultura no sudoeste...

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Alta Floresta do Oeste

47,0

88,3

183,0

3,9

256,1

Alto Alegre dos Parecis

18,0

30,0

140,5

7,8

196,7

Castanheiras

13,0

24,0

33,7

2,6

47,2

Nova Brasilândia do Oeste

20,0

24,7

99,2

5,0

138,9

Novo Horizonte do Oeste

36,0

29,6

67,7

1,9

94,8

Rolim de Moura

50,0

94,7

270,6

5,4

378,8

Santa Luzia do Oeste

11,0

51,3

89,1

8,1

124,8

Alvorada do Oeste

15,0

13,5

54,5

3,6

76,3

Costa marques

1,0

1,0

7,0

7,0

9,8

São Francisco do Guaporé

13,0

10,3

40,7

3,1

57,0

São Miguel do Guaporé

29,0

21,4

60,5

2,1

84,6

Seringueiras

9,0

3,6

29,8

3,3

41,7

Urupá

177,0

141,2

390,1

2,2

546,1

Alto Paraíso

23,0

14,9

146,8

6,4

205,0

Ariquemes

76,0

452,6

1019,6

13,4

1,4

Buritis

34,0

78,3

189,2

5,6

265,0

Cacaulândia

57,0

190,3

607,0

10,6

850,0

Campo Novo de Rondônia

7,0

17,9

22,5

3,2

32,0

Cujubim

13,0

40,3

106,8

8,2

149,0

Machadinho do Oeste

31,0

51,8

115,2

3,7

161,0

Monte Negro

23,0

96,9

244,0

10,6

342,0

Rio Crespo

22,0

141,0

448,4

20,4

628,0

Vale do Anari

10,0

17,0

61,8

6,2

87,0

Governador Jorge Teixeira

21,0

22,9

78,0

3,7

109,1

Jaru

49,0

144,7

543,7

11,1

761,2

Ji-Paraná

57,0

74,1

430,5

7,6

602,7

Mirante da Serra

191,0

265,6

772,8

4,0

1081,9

Nova União

68,0

95,6

292,5

4,3

409,4

Ouro Preto do Oeste

36,0

66,2

269,7

7,5

377,5

Presidente Médice

34,0

57,0

598,3

17,6

837,6

Teixeirópolis

7,0

10,9

15,0

2,1

21,0

Theobroma

10,0

10,3

32,5

3,3

45,5

Vale do Paraíso

40,0

62,6

177,2

4,4

248,0

Enquanto, a maior produção e o maior consumo são de carne bovina e de frango no Brasil, os pescados e carne suína são proteínas mais produzidas e consumidas no mundo (SIDONIO et al., 2012). Embora haja discussão sobre seus benefícios e riscos (SANTERRE, 2008; VIOLETTE, 2008), há muitos estudos elencados em FAO (2011) e Fernandes et al. (2012) que apontam o efeito protetor do consumo de peixes, relacionado às doenças cardiovasculares, depressão, catarata e alguns tipos de câncer. O pescado é um alimento que se destaca nutricionalmente

quanto à quantidade e qualidade das suas proteínas, à presença de vitaminas e minerais e, principalmente, por ser fonte de ácidos graxos essenciais (SARTORI; AMÂNCIO, 2012). Ainda que, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomende um consumo de 12 kg/hab/ano, o consumo brasileiro foi de 9,0 kg/hab/ano em 2009 (WHO, 2007; BRASIL, 2010; ISAAC; ALMEIDA, 2011). Apesar do consumo brasileiro de pescados ser inferior ao da média global, o Brasil não consegue suprir sua própria demanda de

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M. R. dos Anjos et al. pescado, o que torna o setor atrativo para investimentos (SIDONIO et al., 2012). Na Pesquisa de Orçamentos Familiares – POF 2008/2009 realizada pelo IBGE nota-se, um contraste na quantidade consumida entre a região Norte, com 38,1 kg/per capita/ano, e as regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, com 5,5 kg, 3,1 kg e 3,4 kg, respectivamente (SARTORI; AMÂNCIO, 2012). O elevado consumo nas Regiões Norte e Nordeste é influenciado pela produção comparativamente elevada nessas regiões, podendo ser consumido num espaço curto de tempo com melhor qualidade e menores preços (SARTORI; AMÂNCIO, 2012). Estudos registraram um consumo médio anual de 134,7 kg em populações ribeirinhas de Lago Grande de Monte Alegre (CERDEIRA et al., 1997), e 33,7 kg em Manaus (GANDRA, 2010) per capita. Boischio e Henshel (2000) apontaram que o consumo anual de peixe em Rondônia em 1991 e 1993 por populações ribeirinhas no Rio Madeira foi 88 kg/per capita/ano. Bastos et al. (2006) registraram o consumo anual de peixe por populações ribeirinhas do Rio Madeira em 2001 e 2003 foi 91,25 kg/per capita/ano. Portanto, o consumo de peixe aumentou entre essas populações passando de 88 kg/per capita/ano de 1991 para 91,25 kg/per capita/ano em 2003. No entanto, alguns autores afirmam que as taxas de consumo de pescado na Amazônia são as maiores do mundo, com média estimada em 369 g/pessoa/dia ou 135 kg/ano (CERDEIRA et al., 1997; BATISTA et al., 2004). Diante do exposto, o peixe é o principal alimento da região amazônica em função de sua grande disponibilidade, tornando a pesca uma das atividades de maior expressão social e econômica da região (PETRERE, 1978; CERDEIRA et al., 1997; BATISTA; PETRERE, 2003; BARTHEM; GOULDING, 2007). O fato do peixe ser o principal alimento da Região Amazônica, o torna um dos recursos naturais mais vulneráveis, pois a diminuição de alguns estoques pesqueiros da região já é fato bastante conhecido, tanto pela redução da quantidade como do tamanho de algumas

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espécies como o pirarucu e o tambaqui (SANTOS; SANTOS, 2005). A produção aquícola sem dúvidas é uma das estratégias para minimizar a redução dos estoques naturais de peixes em lagos e rios da Amazônia. Oliveira (2008), baseado em estudos de prospecção de mercado para a piscicultura de Rondônia, relata que a atividade reflete positivamente na economia do Estado, uma vez que se arrecada Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) da atividade, gerando emprego e alimento para a sua população. Em Rondônia, a produção de pescado advém, em maior proporção, da piscicultura, pois a pesca artesanal é de pequena escala e desenvolvida, principalmente por populações ribeirinhas com a finalidade de subsistência (XAVIER, 2013). Atualmente, a produção no estado de Rondônia está concentrada em uma espécie, o tambaqui (Colossoma macropomum) (BRASIL, 2010), pelas suas características biológicas: rusticidade, facilidade de obtenção de sementes, crescimento em cativeiro, além da boa aceitação no mercado fez desta espécie a mais utilizada na piscicultura local (XAVIER, 2013). No entanto, a piscicultura em Rondônia, inibida talvez pela produção natural (pesca extrativista), somente há alguns anos vem sendo encarada pelos empresários como importante, não só por questões ambientais (baixos estoques naturais de peixe), mas por ter demonstrado capacidade de oferecer retorno aos investimentos (FIERO, 1999). De qualquer forma, as condições climáticas, a proximidade de um amplo mercado consumidor, somado a alta disponibilidade de água que asseguram os recursos hídricos existentes podem colocar Rondônia como destaque na produção aquícola brasileira. O Brasil também tem um grande potencial para a piscicultura, devido à sua extensa costa e continentais águas marítimas, juntamente com a possibilidade de consumo de grande variedade de espécies (BRASIL, 2010). A Amazônia brasileira possui grande potencial para produção de peixes de água doce, quer

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Piscicultura no sudoeste... em criatórios naturais em lagos e rios, quer no desenvolvimento da piscicultura por meio de criadouros que contemplam desde a produção de alevinos, passando pela recria, até alcançar o produto final pronto para consumo (FIERO, 1999). Além do Brasil ter condições propícias ao cultivo de organismos aquáticos, há um relevante mercado interno abastecido por importações, pois a produção nacional se encontra muito aquém de seu potencial (FIERO, 1999; Sidonio et al., 2012). Realçamos que, o mercado para exportação também é extremamente promissor desde que haja regularidade na oferta e atendimento aos padrões requeridos de qualidade (FIERO, 1999). Ostrensky et al. (2008) afirmam que o principal problema enfrentado pela piscicultura continental brasileira nos últimos anos é a lenta, mas contínua transição de uma fase artesanal e com baixos índices econômicos e zootécnicos, para uma atividade desenvolvida em escala verdadeiramente comercial. Por isso, é fundamental investimentos e incentivos por meio de políticas públicas para o aumento da disponibilidade e consumo deste alimento no Brasil, assim como a manutenção do padrão de ingestão nas regiões Norte e Nordeste que apresenta alto consumo.

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