10.14688/1984-3801/gst.v8n2p143-152 PISCICULTURA NO SUDOESTE DA AMAZÔNIA BRASILEIRA: O CASO DE RONDÔNIA EM 2009 Marcelo Rodrigues dos Anjos1,2*, Vânio Carlos de Souza1, Roberto Claudio Santiago1, Nadja Gomes Machado2,3, Marcelo Sacardi Biudes2, João Ânderson Fulan1 RESUMO: As pessoas nunca consumiram tanto peixe ou dependiam tão fortemente do setor para o seu bem-estar como o fazem hoje. O consumo mundial de peixe per capita subiu de 9,9 kg em 1960 para 19,2 kg em 2012. No entanto, o Brasil representou apenas 0,86% da produção mundial de pescado em 2009. A Região Norte liderou o cenário da pesca extrativa continental (54,6%) impulsionada pelo Amazonas e Pará em 2009, mas ficou em última posição na produção aquícola continental (10,61%) impulsionada pelo Amazonas e Rondônia. Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi compreender a piscicultura no estado de Rondônia em 2009 a partir de um questionário aplicado aos produtores sobre a área de piscicultura em hectares, o número de peixes estocados, e a produção em toneladas. O estado de Rondônia produziu 11.455,67 toneladas de pescado em piscicultura em 2009. Porto Velho foi o município com uma das menores áreas e menor produção de piscicultura, mas o que teve maior densidade de estocagem; enquanto Mirante da Serra foi o município com maior área e maior produção de piscicultura, mas teve uma das menores densidades de estocagem. Por outro lado, Colorado do Oeste foi o município que teve a maior densidade de estocagem com menor área, mas sua produção aquícola foi intermediária comparada com os outros municípios. O setor de piscicultura é favorecido em Rondônia por causa da alta quantidade de ingestão de pescado na região Norte e as condições propícias de produção de organismos aquáticos. No entanto, é fundamental investimentos e incentivos por meio de políticas públicas para o aumento da oferta e do consumo deste alimento no Brasil, assim como a manutenção do padrão de ingestão nas regiões Norte e Nordeste ao apresentar alto consumo. Palavras-chave: produção aquícola, aquicultura, Região Norte brasileira, pesca, pescado _________________________________________ 1
Laboratório de Ictiologia e Ordenamento Pesqueiro do Vale do Rio Madeira – LIOP, Instituto de Educação, Agricultura e Ambiente – IEAA, Universidade Federal do Amazonas – UFAM, Humaitá, AM, Brasil. *E-mail:
[email protected]. Autor para correspondência. 2 Programa de Pós-graduação em Física Ambiental – PGFA, Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT, Cuiabá, MT, Brasil 3 Laboratório de Biologia da Conservação – LABIC, Instituto Federal de Mato Grosso, Cuiabá, MT, Brasil. Recebido em: 06/11/2014. Aprovado em: 08/09/2015.
Gl. Sci Technol, Rio Verde, v.08, n.02, p.143 – 152, mai/ago. 2015.
M. R. dos Anjos et al.
144
PISCICULTURE IN THE SOUTHWEST OF THE BRAZILIAN AMAZON: THE RONDÔNIA’S CASE IN 2009 ABSTRACT: People never ate much fish or depended so heavily on the sector for their welfare as they do today. The world consumption of fish per capita increased from 9.9 kg in 1960 to 19.2 kg in 2012. However, Brazil accounted for only 0.86% of world fish production in 2009. The North Region led the setting of fishing continental extraction (54.6%) driven by Amazonas and Pará states in 2009, but came in last place in the continental aquaculture production (10.61%) driven by Amazonas and Rondônia states. Thus, the objective of this study was to understand fish farming in the state of Rondônia in 2009 with data from a questionnaire applied to producers about area in hectares of fish farming, the number of fish stocked, and production in tons. The state of Rondônia produced 11,455.67 tons of fish in fish farming in 2009. Porto Velho was the site with one of the smaller areas and lower production of fish farming, but had the highest stocking density; while Mirante da Serra was the municipality with the largest area and highest production of fish farming, but had one of the lowest stocking densities. On the other hand, Colorado do Oeste was the site that had the highest density storage with smaller area, but its aquaculture production was intermediate compared with other municipalities. The fish farming industry is favored in Rondônia because of the high amount of fish intake in the North region and favorable conditions of production of aquatic organisms. However, it is crucial investments and incentives through public policies to increase the supply and consumption of this food in Brazil, as well as the maintenance of the intake pattern in the North and Northeast Regions. Key-words: aquaculture, aquaculture, brazilian North Region, fishing, fish ___________________________________________________________________________________________________
INTRODUÇÃO A demanda mundial por pescados vem crescendo de forma constante nas últimas cinco décadas com um consumo mundial de peixe per capita de 9,9 kg em 1960 para 19,2 kg em 2012 (FAO, 2014). Este aumento no consumo de peixe tem sido impulsionado por uma combinação entre crescimento populacional e aumento da renda e urbanização, facilitada pela forte expansão da produção de peixes e canais de distribuição mais eficientes (FAO, 2014). Além disso, há ainda uma mudança no hábito alimentar da população que tem buscado produtos com perfil nutricional adequado (CREPALDI et al., 2006). O pescado é importante para uma dieta diversificada e saudável por ser uma fonte concentrada de proteína, ácidos gordos essenciais e micronutrientes (FERNANDES et al., 2012; FAO, 2014). As pessoas nunca consumiram tanto peixe ou dependiam tão fortemente do setor
para o seu bem-estar como o fazem hoje. O setor de pesca no mundo produziu 158 milhões de toneladas de peixe em 2012, sendo que 91,3 toneladas foi de produção marinha e pesca de captura em águas continentais e 66,6 toneladas de produção aquícola (FAO, 2014). Assim, a produção aquícola mundial continua a crescer e agora fornece quase metade de todo pescado para consumo humano (FAO, 2014). Destacamos que, o peixe está entre as mais negociadas commodities alimentares do mundo no valor de quase US$ 130 bilhões em 2012, sendo as economias em desenvolvimento responsáveis por 54% das exportações totais da pesca e as economias desenvolvidas responsáveis por 46% das exportações totais da pesca (FAO, 2014). Portanto, a pesca e a aquicultura suportam os modos de vida de 10% a 12% da população mundial, fornecendo uma ampla gama de oportunidades econômicas (FAO, 2014). O Brasil melhorou significativamente seu posicionamento no ranking global em
Gl. Sci Technol, Rio Verde, v.08, n.02, p.143 – 152, mai/ago. 2015.
Piscicultura no sudoeste... anos recentes (FAO, 2014), ao sair de uma produção total de pescados de 990.272 toneladas em 2003 a 1.240.813,1 toneladas em 2009, representando 0,86% da produção mundial de pescado (BRASIL, 2010). Do total de pescado, a produção, no Brasil em 2009, foi de 825.146,1 toneladas oriundas da pesca e 415.649 toneladas da aquicultura (BRASIL, 2010). A aquicultura brasileira tem mostrado crescimento gradual desde 1968, quando a produção aquícola brasileira foi reportada à FAO com produção inferior a 0,5 toneladas de pescado (BRASIL, 2010). A Região Norte foi a terceira maior produtora de pescado do Brasil em 2009 com um volume total produzido de 265.775 toneladas, correspondendo a 21,42% do total nacional (BRASIL, 2010). Porém, a Região Norte liderou o cenário da pesca extrativa continental, sendo responsável por 54,6% da produção pesqueira de água doce brasileira em 2009, a qual foi fortemente impulsionada pelos estados do Amazonas (71.109,9 toneladas) e do Pará (42.082,5 toneladas), que somados foram responsáveis por, praticamente, metade da produção pesqueira continental do Brasil (BRASIL, 2010). Com relação à produção aquícola continental, a Região Norte ocupou a última colocação entre as regiões brasileiras ao ser responsável por apenas 10,61% da produção nacional em 2009 (BRASIL, 2010). Os maiores estados produtores da Região Norte foram Amazonas (28,6%) e Rondônia (22,86%) em 2009 (BRASIL, 2010). Portanto, a produção aquícola continental tem crescido com aumento na demanda e oferta, tornando-se assim uma importante atividade econômica para a Região Norte e para o estado de Rondônia. No entanto, há poucos trabalhos publicados sobre a criação de peixes no Estado. Oliveira (2008) estudou o arranjo produtivo local da piscicultura praticada no município de Pimenta Bueno. Borges et al. (2013a) avaliaram o desempenho e o licenciamento
145
ambiental da aquicultura no município de Ariquemes em Rondônia. Borges et al. (2013b) também avaliaram o desempenho ambiental da piscicultura no município de Colorado do Oeste em Rondônia. Em ambos os estudos, os autores encontraram desempenho ambiental péssimo, o que indica a insustentabilidade ambiental da atual piscicultura no sul do estado de Rondônia. Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi compreender a piscicultura no estado de Rondônia em 2009 a partir de um questionário aplicado aos produtores sobre a área de piscicultura em hectares, o número de peixes estocados, e a produção em toneladas. MATERIAL E MÉTODOS Área de estudo Rondônia é um estado que pertence à região Norte do Brasil e está localizado no sudoeste da Amazônia entre os meridianos 66° e 60° de longitude Oeste e os paralelos 7° e 13° de latitude Sul (Figura 1). O estado ocupa uma área de 237.590,55 km² com 52 municípios e uma população de 1.562.409 (IBGE, 2010). De acordo com Köppen, o clima da região é do tipo Aw (tropical chuvoso) com uma estação relativamente seca e outra chuvosa nos meses de setembro a maio, cuja precipitação acumulada anual varia de 2.300 a 2.750 mm (BRASIL, 1978). A temperatura média anual é 25,5°C com máxima de 31,5°C e mínima de 20,7°C (BRASIL, 1978). As principais formações vegetais incluem: Floresta Estacional Semidecidual, Floresta Ombrófila Aberta, Floresta Ombrófila Densa, Savana e as Formações Pioneiras de Influência Fluvial (BRASIL, 1978). O relevo ondulado da região é decorrente da Formação Solimões coberto por solos de diferentes texturas argilosas e arenosas (BRASIL, 1978).
Gl. Sci Technol, Rio Verde, v.08, n.02, p.143 – 152, mai/ago. 2015.
M. R. dos Anjos et al.
146
Figura 1 – Localização do estado de Rondônia, Brasil. O estado de Rondônia foi dividido em sete regionais definidas pela Agência de Defesa Sanitária Agrosilvopastoril do estado de Rondônia - IDARON, sendo elas: Porto Velho, Vilhena, Pimenta Bueno, Rolim de
Moura, Alvorada D’Oeste, Ariquemes, e Jiparaná (Figura 1, Tabela 1). Cada regional é composta por municípios elencados na Tabela 1.
Tabela 1 – Municípios que pertencem a cada regional definida pela Agência de Defesa Sanitária Agrosilvopastoril do estado de Rondônia – IDARON. Ji-Paraná
Ariquemes
Governador Jorge Teixeira
Alto Paraíso
Jaru
Ariquemes
Ji-Paraná
Buritis
Alvorada D’oeste Alvorada do Oeste Costa Marques São Francisco do Guaporé São Miguel do Guaporé
Mirante da Serra
Cacaulândia
Nova União
Campo Novo de Rondônia
Seringueiras
Cujubim
Urupá
Ouro Preto do Oeste Presidente Médice Teixeirópolis Theobroma Vale do Paraíso
Machadinho do Oeste Monte Negro
Rolim de Moura Alta Floresta do Oeste Alto Alegre dos Parecis Castanheiras
Pimenta Bueno
Vilhena
Cacoal
Cabixi
Espigão do Oeste Ministro Andreazza
Nova Brasilândia Parecis do Oeste Novo Horizonte Pimenta Bueno do Oeste Primavera de Rolim de Moura Rondônia Santa Luzia do São Felipe do Oeste Oeste
Porto Velho
Colorado do Oeste
Candeias do Jamari GuajaráMirim Itapoã do Oeste Nova Mamoré
Corumbiara
Porto Velho
Cerejeiras Chupinguaia
Pimenteiras do Oeste Vilhena
Rio Crespo Vale do Anari
Coleta de dados Os dados foram coletados nos Municípios de cada uma das sete regionais do Estado (Alvorada D’Oeste, Ariquemes, JiParaná, Pimenta Bueno, Porto Velho, Rolim de Moura e Vilhena) a partir de um questionário aplicado no momento de declaração da vacinação do rebanho bovino
entre março e abril de 2010 pela IDARON. Os dados correspondem ao número de produtores de cada município, a área de piscicultura em hectares, número de peixes estocados, produção em toneladas e a declaração de comercialização ou não da produção de piscicultura para o ano 2009. Dessa forma, foi possível calcular a
Gl. Sci Technol, Rio Verde, v.08, n.02, p.143 – 152, mai/ago. 2015.
Piscicultura no sudoeste...
147
densidade média de estocagem (peixes por maior número de produtores que hectares). comercializaram sua produção. Por outro lado, Porto Velho e Vilhena tiveram o menor número de produtores que comercializam sua RESULTADOS E DISCUSSÃO produção. Ji-Paraná e Ariquemes A IDARON tem 6.623 produtores de corresponderam a 38,6% e 28,4% do total da piscicultura cadastrados, mas apenas 1.529 área de piscicultura em Rondônia, disseram comercializar o que foi produzido respectivamente; enquanto, Vilhena e Porto em 2009 (Figura 2). Embora, as regionais Ji- Velho corresponderam apenas a 3,1% e 3,8% Paraná e Pimenta Bueno tenham tido o maior do total, respectivamente. número de produtores cadastrados, foram as de Ji-Paraná e Ariquemes que tiveram o
Figura 2 – Número de produtores cadastrados e de produtores que comercializam sua produção, e a área de piscicultura nas sete regionais do estado de Rondônia em 2009. Ji-Paraná e Ariquemes foram as estocado pelos produtores em Rondônia em regionais com o maior número de peixe 2009 (Figura 3).
Figura 3 – Número de peixe estocado e densidade de estocagem (peixe ha-1) nas sete regionais do estado de Rondônia em 2009.
Gl. Sci Technol, Rio Verde, v.08, n.02, p.143 – 152, mai/ago. 2015.
M. R. dos Anjos et al. O estado de Rondônia produziu 11.455,67 toneladas de pescado em 2009 (Figura 4 e Tabela 2). Ji-Paraná e Ariquemes são as regionais com a maior produção de piscicultura em Rondônia com 39,2% e 23,7% em 2009, respectivamente. As regiões que menos produziram foram Porto Velho e Vilhena com 4,5% e 6,4%, respectivamente. Porto Velho foi o município de Rondônia com uma das menores áreas e
148
menor produção de piscicultura em 2009, mas o que teve maior densidade de estocagem; enquanto Mirante da Serra foi o município com maior área e maior produção de piscicultura, mas teve uma das menores em densidade de estocagem. Por outro lado, Colorado do Oeste foi o município que teve a maior densidade de estocagem com menor área e produção aquícola intermediária.
Figura 4 – Produção de peixe (toneladas) nas sete regionais do estado de Rondônia em 2009. Tabela 2 – Número de produtores de piscicultura, -1área de produção (hectares), número de peixe estocado, densidade de estocagem (peixe ha ), e produção de peixe (toneladas) nos municípios das regionais da IDARON em Rondônia em 2009
Pimenta Bueno
Vilhena
Porto Velho
Regional
Nº de produtores
Área de produção (ha)
Nº de peixe estocado
Densidade de estocagem
Produção (ton)
Candeias do Jamari
11,0
17,4
52,8
4,8
73,9
Guajará-Mirim
4,0
7,0
27,0
6,8
37,8
Itapoã do Oeste
12,0
25,5
134,5
11,2
188,3
Nova Mamoré
6,0
18,7
74,8
12,5
104,7
Porto Velho
14,0
39,4
151,6
10,8
212,2
Cabixi
16,0
15,7
75,6
4,7
105,8
Cerejeiras
3,0
4,7
16,0
5,3
22,4
Chupinguaia
2,0
1,3
5,0
2,5
7,0
Colorado do Oeste
24,0
27,6
289,8
12,1
405,7
Corumbiara
7,0
9,0
31,7
4,5
44,4
Pimenteiras do Oeste
3,0
6,4
7,5
2,5
10,5
Vilhena
12,0
23,5
96,7
8,1
135,4
Cacoal
33,0
22,6
103,9
3,1
145,4
Espigão do Oeste
56,0
61,4
164,1
2,9
229,7
Ministro Andreazza
6,0
7,4
16,8
2,8
23,5
Parecis
9,0
7,4
16,9
1,9
23,7
Pimenta Bueno
37,0
70,2
158,2
4,3
221,5
Primavera de Rondônia
9,0
23,0
96,0
10,7
134,4
São Felipe do Oeste
17,0
16,2
44,4
2,6
62,2
Municípios
Gl. Sci Technol, Rio Verde, v.08, n.02, p.143 – 152, mai/ago. 2015.
Ji-Paraná
Ariquemes
Alvorada D'Oeste
Rolim de Moura
Piscicultura no sudoeste...
149
Alta Floresta do Oeste
47,0
88,3
183,0
3,9
256,1
Alto Alegre dos Parecis
18,0
30,0
140,5
7,8
196,7
Castanheiras
13,0
24,0
33,7
2,6
47,2
Nova Brasilândia do Oeste
20,0
24,7
99,2
5,0
138,9
Novo Horizonte do Oeste
36,0
29,6
67,7
1,9
94,8
Rolim de Moura
50,0
94,7
270,6
5,4
378,8
Santa Luzia do Oeste
11,0
51,3
89,1
8,1
124,8
Alvorada do Oeste
15,0
13,5
54,5
3,6
76,3
Costa marques
1,0
1,0
7,0
7,0
9,8
São Francisco do Guaporé
13,0
10,3
40,7
3,1
57,0
São Miguel do Guaporé
29,0
21,4
60,5
2,1
84,6
Seringueiras
9,0
3,6
29,8
3,3
41,7
Urupá
177,0
141,2
390,1
2,2
546,1
Alto Paraíso
23,0
14,9
146,8
6,4
205,0
Ariquemes
76,0
452,6
1019,6
13,4
1,4
Buritis
34,0
78,3
189,2
5,6
265,0
Cacaulândia
57,0
190,3
607,0
10,6
850,0
Campo Novo de Rondônia
7,0
17,9
22,5
3,2
32,0
Cujubim
13,0
40,3
106,8
8,2
149,0
Machadinho do Oeste
31,0
51,8
115,2
3,7
161,0
Monte Negro
23,0
96,9
244,0
10,6
342,0
Rio Crespo
22,0
141,0
448,4
20,4
628,0
Vale do Anari
10,0
17,0
61,8
6,2
87,0
Governador Jorge Teixeira
21,0
22,9
78,0
3,7
109,1
Jaru
49,0
144,7
543,7
11,1
761,2
Ji-Paraná
57,0
74,1
430,5
7,6
602,7
Mirante da Serra
191,0
265,6
772,8
4,0
1081,9
Nova União
68,0
95,6
292,5
4,3
409,4
Ouro Preto do Oeste
36,0
66,2
269,7
7,5
377,5
Presidente Médice
34,0
57,0
598,3
17,6
837,6
Teixeirópolis
7,0
10,9
15,0
2,1
21,0
Theobroma
10,0
10,3
32,5
3,3
45,5
Vale do Paraíso
40,0
62,6
177,2
4,4
248,0
Enquanto, a maior produção e o maior consumo são de carne bovina e de frango no Brasil, os pescados e carne suína são proteínas mais produzidas e consumidas no mundo (SIDONIO et al., 2012). Embora haja discussão sobre seus benefícios e riscos (SANTERRE, 2008; VIOLETTE, 2008), há muitos estudos elencados em FAO (2011) e Fernandes et al. (2012) que apontam o efeito protetor do consumo de peixes, relacionado às doenças cardiovasculares, depressão, catarata e alguns tipos de câncer. O pescado é um alimento que se destaca nutricionalmente
quanto à quantidade e qualidade das suas proteínas, à presença de vitaminas e minerais e, principalmente, por ser fonte de ácidos graxos essenciais (SARTORI; AMÂNCIO, 2012). Ainda que, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomende um consumo de 12 kg/hab/ano, o consumo brasileiro foi de 9,0 kg/hab/ano em 2009 (WHO, 2007; BRASIL, 2010; ISAAC; ALMEIDA, 2011). Apesar do consumo brasileiro de pescados ser inferior ao da média global, o Brasil não consegue suprir sua própria demanda de
Gl. Sci Technol, Rio Verde, v.08, n.02, p.143 – 152, mai/ago. 2015.
M. R. dos Anjos et al. pescado, o que torna o setor atrativo para investimentos (SIDONIO et al., 2012). Na Pesquisa de Orçamentos Familiares – POF 2008/2009 realizada pelo IBGE nota-se, um contraste na quantidade consumida entre a região Norte, com 38,1 kg/per capita/ano, e as regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, com 5,5 kg, 3,1 kg e 3,4 kg, respectivamente (SARTORI; AMÂNCIO, 2012). O elevado consumo nas Regiões Norte e Nordeste é influenciado pela produção comparativamente elevada nessas regiões, podendo ser consumido num espaço curto de tempo com melhor qualidade e menores preços (SARTORI; AMÂNCIO, 2012). Estudos registraram um consumo médio anual de 134,7 kg em populações ribeirinhas de Lago Grande de Monte Alegre (CERDEIRA et al., 1997), e 33,7 kg em Manaus (GANDRA, 2010) per capita. Boischio e Henshel (2000) apontaram que o consumo anual de peixe em Rondônia em 1991 e 1993 por populações ribeirinhas no Rio Madeira foi 88 kg/per capita/ano. Bastos et al. (2006) registraram o consumo anual de peixe por populações ribeirinhas do Rio Madeira em 2001 e 2003 foi 91,25 kg/per capita/ano. Portanto, o consumo de peixe aumentou entre essas populações passando de 88 kg/per capita/ano de 1991 para 91,25 kg/per capita/ano em 2003. No entanto, alguns autores afirmam que as taxas de consumo de pescado na Amazônia são as maiores do mundo, com média estimada em 369 g/pessoa/dia ou 135 kg/ano (CERDEIRA et al., 1997; BATISTA et al., 2004). Diante do exposto, o peixe é o principal alimento da região amazônica em função de sua grande disponibilidade, tornando a pesca uma das atividades de maior expressão social e econômica da região (PETRERE, 1978; CERDEIRA et al., 1997; BATISTA; PETRERE, 2003; BARTHEM; GOULDING, 2007). O fato do peixe ser o principal alimento da Região Amazônica, o torna um dos recursos naturais mais vulneráveis, pois a diminuição de alguns estoques pesqueiros da região já é fato bastante conhecido, tanto pela redução da quantidade como do tamanho de algumas
150
espécies como o pirarucu e o tambaqui (SANTOS; SANTOS, 2005). A produção aquícola sem dúvidas é uma das estratégias para minimizar a redução dos estoques naturais de peixes em lagos e rios da Amazônia. Oliveira (2008), baseado em estudos de prospecção de mercado para a piscicultura de Rondônia, relata que a atividade reflete positivamente na economia do Estado, uma vez que se arrecada Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) da atividade, gerando emprego e alimento para a sua população. Em Rondônia, a produção de pescado advém, em maior proporção, da piscicultura, pois a pesca artesanal é de pequena escala e desenvolvida, principalmente por populações ribeirinhas com a finalidade de subsistência (XAVIER, 2013). Atualmente, a produção no estado de Rondônia está concentrada em uma espécie, o tambaqui (Colossoma macropomum) (BRASIL, 2010), pelas suas características biológicas: rusticidade, facilidade de obtenção de sementes, crescimento em cativeiro, além da boa aceitação no mercado fez desta espécie a mais utilizada na piscicultura local (XAVIER, 2013). No entanto, a piscicultura em Rondônia, inibida talvez pela produção natural (pesca extrativista), somente há alguns anos vem sendo encarada pelos empresários como importante, não só por questões ambientais (baixos estoques naturais de peixe), mas por ter demonstrado capacidade de oferecer retorno aos investimentos (FIERO, 1999). De qualquer forma, as condições climáticas, a proximidade de um amplo mercado consumidor, somado a alta disponibilidade de água que asseguram os recursos hídricos existentes podem colocar Rondônia como destaque na produção aquícola brasileira. O Brasil também tem um grande potencial para a piscicultura, devido à sua extensa costa e continentais águas marítimas, juntamente com a possibilidade de consumo de grande variedade de espécies (BRASIL, 2010). A Amazônia brasileira possui grande potencial para produção de peixes de água doce, quer
Gl. Sci Technol, Rio Verde, v.08, n.02, p.143 – 152, mai/ago. 2015.
Piscicultura no sudoeste... em criatórios naturais em lagos e rios, quer no desenvolvimento da piscicultura por meio de criadouros que contemplam desde a produção de alevinos, passando pela recria, até alcançar o produto final pronto para consumo (FIERO, 1999). Além do Brasil ter condições propícias ao cultivo de organismos aquáticos, há um relevante mercado interno abastecido por importações, pois a produção nacional se encontra muito aquém de seu potencial (FIERO, 1999; Sidonio et al., 2012). Realçamos que, o mercado para exportação também é extremamente promissor desde que haja regularidade na oferta e atendimento aos padrões requeridos de qualidade (FIERO, 1999). Ostrensky et al. (2008) afirmam que o principal problema enfrentado pela piscicultura continental brasileira nos últimos anos é a lenta, mas contínua transição de uma fase artesanal e com baixos índices econômicos e zootécnicos, para uma atividade desenvolvida em escala verdadeiramente comercial. Por isso, é fundamental investimentos e incentivos por meio de políticas públicas para o aumento da disponibilidade e consumo deste alimento no Brasil, assim como a manutenção do padrão de ingestão nas regiões Norte e Nordeste que apresenta alto consumo.
151
J.V., De Lacerda, L.D., Da Silveira, E.G., Pfeiffer, W.C. 2006. Mercury in the environment and riverside population in the Madeira River basin, Amazon, Brazil. Science of the Total Environment, 368: 344-351. Batista, V.S., Petrere Jr, M. 2003. Characterization of the commercial fish production landed at Manaus, Amazonas State, Brazil. Acta Amazonica, 33 (1): 5366. Boischio, A.A.P., Henshel, D. 2000. Fish consumption, fish lore, and mercury pollution - risk Communication for the Madeira River People. Environmental Research Section A, 84: 108 -126. Borges, A.F., Batista, J.A., Ferreira Neto, A., Borges, M.A.C.S., Rezende, J.L.P., Leite, U.T. 2013a. Licensing and environmental performance of aquaculture in western Amazon. Global Science Technology, 6 (3): 137-149. Borges, A.F., Borges, M.A.C.S., Rezende, J.L.P., Durigon, M.S.G.F., Corte, A.R., Vieira, F.A.B., Corim, R.B., Alves, E.C. 2013b. Desempenho ambiental da piscicultura na Amazônia ocidental brasileira. Global Science Technology, 06 (01): 141152.
CONCLUSÃO Brasil. Ministério da Pesca e Aquicultura – Ji-Paraná e Ariquemes foram as MPA. Boletim Estatístico da Pesca e regionais com o maior número de peixes Aquicultura 2010. Brasília: MPA, 2010. 129 estocados pelos produtores em Rondônia, p. atingindo 39,2% e 23,7% de produção. Brasil. Ministério da Saúde – MS. Guia REFERÊNCIAS Alimentar para a população brasileira: promovendo a alimentação saudável. Barthem, R.B.; Goulding, M. 2007. Um Brasília: MS; 2008. 210p. ecossistema inesperado: a Amazônia revelada pela pesca. Amazon Conservation Cerdeira, R.G.P., Refino, M.L., Isaac, V.J. Association (ACA), Sociedade Civil 1997. Consumo de pescado e outros Mamirauá, Belém, 241 pp. alimentos pela população ribeirinha do lago Grande de Monte Alegre. Acta Amazonica, Bastos, W.R., Gomes, J.P., Oliveira, R.C., 27 (3): 213-27. Almeida, R., Nascimento, E.L., Bernardi,
Gl. Sci Technol, Rio Verde, v.08, n.02, p.143 – 152, mai/ago. 2015.
M. R. dos Anjos et al. Cerdeira, R.G.P., Ruffino, M.L., Isaac, V.J. 1997. Consumo de pescado e outros alimentos nas comunidades ribeirinhas do Lago Grande de Monte Alegre. Acta Amazonica, 27 (3): 213-227. Crepaldi, D.V., Faria, P.M.C., Teixeira, E.A., Ribeiro, L.P., Costa, A.A.P., Melo, D.C., Cintra, A.P.R., Prado, S.A., Costa, F.A.A., Drumond, M.L., Lopes, V.E., Moraes, V.E. 2006. A situação da Aquacultura e da pesca no Brasil e no mundo. Revista Brasileira de Reprodução Animal, 30 (3/4): 81-85.
152
(Mestrado em Administração) – Universidade Federal de Rondônia. Porto Velho, 2008. Ostrensky, A., Borghetti, J.R., Soto, D. Aquicultura no Brasil: o desafio é crescer. Brasília. 2008. 276 p. Petrere, M. 1978. Pesca e esforço de pesca no estado do Amazonas. I. Esforço e captura por unidade de esforço. Acta Amazonica, 8: 439-454.
Santerre, C.R. 2008. Balancing the risks and benefits of fish for sensitive populations. Federação das Indústrias do Estado de Journal of Food Service, 19 (4): 205-12. Rondônia – FIERO. 1999. Projeção para Nova Dimensão Econômica e Integração Santos, G.M., Santos, A.C.M. 2005. Comercial: Rondônia/Bolívia/Peru. Porto Sustentabilidade da pesca na Amazônia. Velho: SEBRAE, 176 p. Estudos Avançados, 19 (54): 165-182. Fernandes, A.C., Medeiros, C.O., Bernardo, G.L., Ebone, M.V., Di Pietro, P.F., Assis, M.A.A., Vasconcelos, F.A.G. 2012. Benefits and risks of fish consumption for the human health. Revista de Nutrição, 25(2):283-295.
Sartori, A.G.O., Amancio, R.D. 2012. Pescado: importância nutricional e consumo no Brasil. Segurança Alimentar e Nutricional, 19 (2): 83-93.
Sidonio, L., Cavalcanti, I., Capanema, L., Food and Agriculture Organization – FAO. Morch, R., Magalhães, G., Lima, J., Burns, 2014. The State of World Fisheries and V., Alves Júnior, A.J., Mungioli, R. Aquaculture 2014. Rome. 223 p. Panorama da aquicultura no Brasil: desafios e oportunidades. BNDES Setorial, Gandra, A.L. O mercado de pescado da v.35, p.421-463, 2012. região metropolitana de Manaus, Relatório INFOPESCA. Série: O mercado de pescado Violette, C. 2008. Seafood: exploring nas grandes cidades latino-americanas. benefits and risks. Journal of Food Service, Montevidéu: INFOPESCA; 2010. 19 (4): 201-4. World Health Organization – WHO. Protein and amino acid requirements in human nutrition. Report of a joint WHO/FAO/UNU Expert Consultation, United Nations University. Technical Report Series, 935. Isaac VJ, Almeida MC. El consumo de WHO; 2007. pescado en la Amazonía Brasileña, Relatório FAO. Roma: FAO; 2011. Xavier, R.E. Caracterização e prospecção da cadeia produtiva da piscicultura no Oliveira, M.B. Potencialidades e estado de Rondônia. 2013. 103 f. Perspectivas do Arranjo Produtivo Local Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento da Piscicultura no Município de Pimenta Regional e Meio Ambiente) – Universidade Bueno, Rondônia. 2008. 126f. Dissertação Federal de Rondônia, Porto Velho. 2013. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Estados. Rondônia. Disponível em: [http://www.ibge.gov.br/estadosat/perfil.php? sigla=ro]. Acesso em: 02/11/2014.
Gl. Sci Technol, Rio Verde, v.08, n.02, p.143 – 152, mai/ago. 2015.