Plano da disciplina optativa da graduação: \"Tópicos Especiais em História Moderna\". UFU, 2011.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE HISTÓRIA COLEGIADO DOS CURSOS DE HISTÓRIA PLANO DE CURSO DISCIPLINA: Tópicos Especiais em História Moderna CÓDIGO: HLP03 CH TEÓRICA:
CH PRÁTICA:
60 horas
PERÍODO/SÉRIE: 4º período
TURMA: manhã
CH TOTAL: OBRIGATÓRIA: ( X )
OPTATIVA: ( X )
60 horas
Currículo Novo
Currículo Velho
ANO/SEMESTRE:
PROFESSOR: Guilherme Amaral Luz
2011/1 PRÉ-REQUISITO:
CÓ-REQUISITO:
EMENTA DA DISCIPLINA Elaboração da figura do homem moderno: humanismo, individualismo, racionalismo e liberalismo.
JUSTIFICATIVA O Cortesão (1528) de Baldassare Castiglione foi um dos textos mais traduzidos, imitados e que mais circularam nas cortes europeias dos séculos XVI ao XVIII. Trata-se de um diálogo renascentista no qual são simulados jogos e conversações de corte no palácio de Urbino, envolvendo personagens nobres que buscavam chegar a um acordo sobre o retrato do perfeito cortesão. Desse modo, o livro funcionou como uma espécie de “espelho de nobres”, colaborando no processo de redefinição da aristocracia na península itálica na passagem do século XV para o XVI e apresentando-a como modelo para ser emulado em outras cortes da Europa moderna. Escolheu-se, na disciplina, o estudo de O Cortesão como ponto de partida para pensar aquilo que historiograficamente vem sendo chamado de “constituição do homem moderno”. Mais especificamente, a disciplina focalizará a “constituição do homem renascentista de corte”, ou seja, o processo de reformulação do conceito de nobreza (ou de ser nobre) a partir das transformações operadas no contexto de desenvolvimento comercial das cidades italianas dos séculos XV e XVI. Nesse processo, a nobreza de sangue paulatinamente vai perdendo espaço para uma outra que se define pelo “mérito” (ou pela fama), especialmente de letras, de modos, de aparência, de discurso e de armas. Na península itálica quatrocentista, esta “nova nobreza” se vê representada fortemente na ascensão dos chamados condottieri. A família Montefeltro, que senhoreava o condado de Urbino, é bem um exemplo desses novos homens poderosos. Na busca pela fama, Frederico da Montefeltro e seus sucessores protegeram poetas, “filósofos” e artistas que freqüentavam o Palácio Ducal. Dentre eles, Piero Della Francesca, Rafael Sanzio, Bramante, Castiglione e
Pietro Bembo são ótimos exemplos. Originalmente homens de armas, os condottieri irão se destacar também como mecenas das artes e homens cultos, conhecedores dos mais diversos saberes humanistas e como pessoas de trato refinado. É esse novo “modelo” de nobre que se apresenta no diálogo de Castiglione. Ao redor do centro da disciplina, formado pelo estudo de O Cortesão, pretende-se estabelecer pontes entre questões presentes neste livro e outras obras importantes do Renascimento. Em especial, focalizaremos o Elogio da Loucura, de Desidério Erasmo (14661536). Erasmo viveu no polo oposto do florescimento comercial europeu do século XVI. Assim como a Itália, o norte da Europa vivenciou o fortalecimento econômico e político de suas cidades naquela época e a ascensão social de famílias de burgueses comerciantes. Também naquela região, a nobreza de terras e de armas vai abrindo espaço para outras categorias abastadas obterem destaque social. Nesse ínterim, as artes e a “ciência” ganharam novos contornos e a religião protestante encontrou fértil terreno para propagar-se. Inserido neste mundo, Erasmo foi uma espécie de “síntese” da sociedade de seu tempo: fez votos monásticos agostinianos, frequentou Universidade em Paris, Louvain, Cambridge e Basileia, correspondeu-se e polemizou com Martinho Lutero, foi amigo de Thomas Morus, seus escritos foram condenados pela Igreja católica, não aderiu ao Luteranismo, influenciou correntes filosóficas e teológicas católicas e protestantes em seu tempo... Elogio da Loucura, sua obra mais conhecida, permite-nos conhecer um pouco da complexidade do pensamento de Erasmo e os dilemas do chamado “homem renascentista de corte”, que, em meio ao cálculo e racionalização marcantes de sua “caracterização” como pessoa e ser social, vê-se em constante luta com sua consciência, suas paixões e seus costumes. Espera-se, com este recorte, trabalhar dois assuntos correlatos que se remetem, respectivamente, aos clássicos trabalhos de Norbert Elias e Jacob Burckhardt: a importância da etiqueta e dos cerimoniais nas sociedades de corte e a noção de Estado como obra de arte. Nos dois casos, a singularidade dos “excelentes” é colocada em evidência, colaborando na construção de uma determinada maneira (“nova” ou “moderna”) de se entender as potencialidades (com os respectivos limites) do uso da razão e dos cálculos humanos.
OBJETIVOS DA DISCIPLINA Objetivo Principal: Discutir os fundamentos renascentistas da configuração histórica da noção de pessoa, característica das concepções modernas sobre homem. Objetivos Secundários:
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Articular as concepções renascentista e moderna de pessoa às temáticas historiográficas da sociedade de corte e do Estado como “obra de arte”;
•
Analisar a obra O Cortesão (1528), de Baldassare Castiglione, como fundadora de uma concepção moderna de pessoa;
•
Discutir as aproximações possíveis entre a concepção de pessoa exemplificada na figura do cortesão perfeito de Castiglione com a sátira de Erasmo;
•
Articular a construção histórica da noção de pessoa com o processo de urbanização e de “civilização” que se colocou em curso na Europa moderna desde a “crise do feudalismo”.
PROGRAMA 25/02/2011 – Substituição de Atividades: recepção de calouros. 04/03/2011 – Apresentação do Programa. 11/03/2011 – Aula expositiva: “O Renascimento e a 'Modernidade'”. (Parte I) 18/03/2011 – Aula expositiva: “O Renascimento e a 'Modernidade'”. (Parte II) 25/03/2011 – CASTIGLIONE, Baldassare. Dedicatória e Primeiro Livro. In: O Cortesão, São Paulo, Martins Fontes, 1997. pp. 03-82. 01/04/2011 – CASTIGLIONE, Baldassare. Op. Cit. Segundo Livro. pp. 83-185. 08/04/2011 – CASTIGLIONE, Baldassare. Op. Cit. Terceiro Livro. pp. 187-265. 15/04/2011 – CASTIGLIONE, Baldassare. Op. Cit. Quarto Livro. pp. 267-339. 22/04/2011 – Recesso. 29/04/2011 – ERASMO, D. Elogio da Loucura, São Paulo: Martin Claret, 2000. Na versão da Martin Claret, pp. 11-69. Quem utilizar outra versão, levá-la na aula anterior para localizar as partes correspondentes. 06/05/2011 – ERASMO, D. Op. Cit. Na versão da Martin Claret, pp. 69-116. Quem utilizar outra versão, levá-la na aula anterior para localizar as partes correspondentes. 13/05/2011 – BURCKHARDT, J. A biografia na Idade Média e no Renascimento. In: A cultura do Renascimento na Itália, Brasília: Editora da UnB, 1991. pp. 199-207. 20/05/2011 – Auto-avaliação e avaliação da disciplina. 27/05/2011 – BURKE, P. A invenção da biografia e o individualismo renascentista. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n. 19, 1997. 03/06/2011 – ELIAS, N. Etiqueta e cerimonial: comportamento e mentalidade dos homens como funções da estrutura de poder de sua sociedade. In: A sociedade de corte: investigação sobre a sociologia da realeza e da aristocracia de corte, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001. pp. 97131. 10/06/2011 – GREENE, T. A flexibilidade do self na literatura do Renascimento. História & Perspectivas. Uberlândia (32/33): 39-67, jan.jun./jul.dez. 2005. 17/06/2011 – Orientação individual e em grupo, visando preparar os alunos para a atividade avaliativa a ocorrer na semana seguinte. Entrega do trabalho individual final. 24/06/2011 – Atividade avaliativa em grupo. 01/07/2011 – Encerramento: vista de avaliação e considerações finais.
METODOLOGIA A disciplina está organizada em torno da análise de uma obra escrita no início do século XVI, O Cortesão (1528), e que, de certa maneira, tornou-se fundadora de um modelo de cortesania emulado na Europa Moderna entre os séculos XVI e XVIII. Assim, o eixo central está colocado em um documento histórico e não na historiografia. Optou-se por começar pelo estudo da obra escolhida em conjunção com outros exemplares
textuais a ela contemporâneos e com os quais ela dialoga, especialmente Elogio da Loucura, de Desidério Erasmo. Este estudo compreenderá a primeira metade do programa e dele se espera levantar um conjunto de matérias a serem mais detidamente analisadas na segunda parte. Na primeira metade da disciplina, as aulas combinarão debates sobre as obras lidas pela turma com exposições do professor. A segunda parte do programa buscará colocar as matérias levantadas na primeira parte em diálogo com reflexões “clássicas” e mais recentes sobre os temas da individualidade e da concepção de homem no contexto renascentista. Esta parte será realizada por meio de discussões de textos e exposições dialogadas, lançando mão, principalmente, das reflexões acumuladas na primeira parte da disciplina. Nesta etapa, serão lidos e debatidos textos de Norbert Elias, Jacob Burckhardt, Peter Burke e Thomas Greene. Para potencializar os estudos extraclasse, a disciplina conta com uma área virtual no ambiente moodle da UFU, na qual os estudantes encontrarão recursos variados para estudo, tais como textos, slides de aula, links e o que mais for conveniente para o acesso a conteúdos relativos ao curso.
AVALIAÇÃO A avaliação levará em conta três dimensões de desempenho, cada qual com o seu peso relativo. A primeira delas é uma autoavaliação, situada na metade do cronograma de atividades, em que o aluno terá que se atribuir uma nota de 0 a 20 e justificá-la com a descrição sumária de seu envolvimento nas atividades do curso, seu aproveitamento e sua postura acadêmica. O objetivo da autoavaliação é estimular a autocrítica dos alunos e fomentar uma atitude responsável diante das práticas avaliadas, levando em conta o conjunto da disciplina e não somente os momentos destinados à atribuição de notas. A segunda dimensão a se avaliar é a capacidade de síntese das discussões realizadas no curso, aliada ao trabalho em equipe. Para isso, será aplicada uma atividade em grupo ao final da disciplina com o valor máximo de 30 pontos. Nela, os grupos deverão trabalhar questões trazidas pelo professor para a ocasião, sistematizando-as em um texto que reflita a discussão realizada. A última dimensão a ser avaliada é a problematização criativa dos assuntos trabalhados na disciplina, por meio da redação de um ensaio individual a respeito de um recorte temático que o aluno deverá operar dentre as possibilidades apresentadas pela disciplina. O valor máximo deste trabalho será 50 e terá que ser entregue até o dia 17/06/2011. Para o trabalho, o aluno deverá basearse prioritariamente no livro O Cortesão de Baldassare Castiglione e/ou Elogio da Loucura, de Desidério Erasmo, utilizando livremente o restante da bibliografia (obrigatória e complementar) proposta no curso e outro material qualquer que eventualmente utilize para enriquecer e colaborar com a sua análise. Síntese da avaliação: Auto-avaliação discente ........................................................................ 20 pontos Atividade em grupo .............................................................................. 30 pontos Ensaio individual .................................................................................. 50 pontos TOTAL ....................... 100 pontos
BIBLIOGRAFIA Bibliografia Obrigatória: BURCKHARDT, J. A cultura do Renascimento na Itália, Brasília: Editora da UnB, 1991. BURKE, P. A invenção da biografia e o individualismo renascentista. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n. 19, 1997. Link para o artigo disponível na plataforma Moodle. CASTIGLIONE, B. O cortesão, São Paulo, Martins Fontes, 1997. ELIAS, N. A sociedade de corte: investigação sobre a sociologia da realeza e da aristocracia de corte, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001. ERASMO, D. Elogio da Loucura, São Paulo: Martin Claret, 2000. (pode ser qualquer outra edição portuguesa. Recomenda-se a da Martins Fontes. Há uma versão on-line na Internet e o link encontra-se disponível na plataforma Moodle) GREENE, T. A flexibilidade do self na literatura do Renascimento. História & Perspectivas. Uberlândia (32/33): 39-67, jan.jun./jul.dez. 2005. Link para o artigo disponível na plataforma Moodle. Bibliografia Complementar: ANDERSON, P. Linhagens do Estado Absolutista, São Paulo: Brasiliense, 1998. ARGAN, G. C. Clássico anticlássico: o Renascimento de Brunelleschi a Bruegel, São Paulo: Companhia das Letras, 1999. ARIÈS, P. & CHARTIER, R. (orgs.). História da vida privada vol. 3: da Renascença ao Século das Luzes, São Paulo: Companhia das Letras, 1991. BURKE, P. As fortunas d’O Cortesão, São Paulo: Editora da UNESP, 1997. BRAUDEL, F. Gramática da civilização, São Paulo: Martins Fontes, 1992. CAVALCANTE, B. et. al. Modernas tradições: percursos da cultura ocidental (séculos XV-XVII), Rio de Janeiro: Access, 2002. DELLA CASA, G. Galateo ou dos costumes, São Paulo: Martins Fontes, 1999. DELUMEAU, J. A civilização do Renascimento, Lisboa: Editorial Estampa, 1984. ELIAS, N. O processo civilizador, Rio de Janeiro: Zahar, 1993. ELTON, G. R. (ed.). Renaissance and Reformation, New York: MacMillan Publishing, 1976. FALCON, F. J. C. & RODRIGUES, A. E. M. Tempos modernos: ensaios de história cultural, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. FERNANDES, C. S. Biografia e autobiografia em A Civilização do Renascimento na Itália, de Jacob Burckhardt. Questões & Debates, Curitiba, n. 40, pp. 155-198, 2004. GARIN, E. (org.). O homem renascentista, Lisboa: Presença, 1988. GOMBRICH, E. H. Norm and form: studies in the art of the Renaissance, London: Phaidon, 1966. GUENÉE, B. O Ocidente nos séculos XIV e XV (os Estados), São Paulo: Pioneira / EdUSP, 1981. HELLER, A. O Homem do Renascimento. Lisboa: Editorial Presença, 1982. MAQUIAVEL, N. O Príncipe, Brasília: Editora da UnB, 1979. MUCHEMBLED, R. L´invention de l´homme moderne (sensibilités, moeurs et comportements collectifs sous l´Ancien Régime), Paris: Fayard, 1988. NOVAES, A. (org.). Libertinos Libertários, São Paulo: Companhia das Letras, 1996. PÉCORA, A. “A cena da perfeição” & “Razão e Prazer de Civilidade”. In: Máquina de gêneros, São Paulo:
Editora da Universidade de São Paulo, 2001. pp. 69-90. SICHEL, E. O Renascimento, Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1963. SKINNER, Q. As fundações do pensamento político moderno, São Paulo: Companhia das Letras, 1996. SKINNER, Q. (org.). The Cambridge History of Renaissance Philosophy, Cambridge: Cambridge University Press, 1988.
Assinatura do(a) Professor(a):____________________________________
Data: ___/___/___
APROVAÇÃO Aprovado em reunião do Colegiado do Curso de História Em ___/____/______ _____________________________________ Coordenador do curso
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