Plano da disciplina optativa para graduação: \"Tópicos Especiais I em História Antiga\". UFU, 2013.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE HISTÓRIA COLEGIADO DOS CURSOS DE HISTÓRIA

PLANO DE CURSO DISCIPLINA: Tópicos Especiais I em História Antiga CÓDIGO: GHI063

PERÍODO/SÉRIE:

TURMA: manhã

CH TEÓRICA:

CH TOTAL: OBRIGATÓRIA: ( )

OPTATIVA: ( X )

CH PRÁTICA:

60 horas

60 horas ANO/SEMESTRE:

PROFESSOR: Guilherme Amaral Luz

2012/1 PRÉ-REQUISITO:

CÓ-REQUISITO:

EMENTA DA DISCIPLINA Estudos especiais em temáticas relevantes e complementares ao curso relativas às relações sociais e políticas, às mentalidades e às culturas presentes na antiguidade ocidental e oriental. OBS: A disciplina de Tópicos Especiais I em História Antiga, de caráter optativo e ementa aberta, será proposta pelo professor ao Colegiado de Curso para análise e deliberação. JUSTIFICATIVA Conforme descrito no projeto pedagógico do curso de história da UFU, na ficha desta disciplina, seus objetivos podem ser resumidos a aprofundar a compreensão das sociedades e culturas constituídas na “Antiguidade” em sua “pluralidade”, analisando “heranças, permanências e rupturas que aproximam e distanciam o mundo antigo da contemporaneidade”. Com muito pouco risco de erro, não é ousado afirmar que nada aproxima mais o “mundo antigo” do “mundo contemporâneo”, ao menos no “Ocidente”, do que a “Cristandade”. Mas a “Cristandade” daqueles tempos – bem como o mundo em que se constituiu – distingue-se muito do momento atual, ainda que os espelhamentos (muitas vezes anacrônicos) entre os cristãos de hoje e os de outrora sejam frequentes. Como sistema religioso e cultural já separado do Judaísmo, o Cristianismo irá inicialmente desenvolver-se e consolidar-se em províncias do Império Romano, sobretudo, na Ásia Menor e na “Grécia”, a partir do século I d. C. Neste contexto, por volta dos anos 50 e 60, Paulo escreveu a maior parte das Epístolas que lhe foram atribuídas. Também por volta dos anos 60, foram escritos o Evangelho de Marcos e a Epístola de Pedro. Nos anos 80, provavelmente, foram escritos os livros Atos dos Apóstolos e os demais Evangelhos Sinópticos (Mateus e Lucas). Já nos anos 90, João escreveria o seu Evangelho e também o livro do Apocalipse. Portanto, o chamado “Novo Testamento” não pode ser compreendido historicamente sem referência às “fronteiras” constituídas/diluídas/reconstruídas entre os mundos, sobretudo, 1

judaico (e, a partir de então, também cristão), helênico e romano em integração no Mediterrâneo na segunda metade do século I d. C. Este mundo altamente complexo é o nascedouro das palavras que se tornariam as mais lidas ao longo de séculos da história do “Ocidente”, chegando até o hoje, carregadas de espessas camadas de interpretações e traduções. O que a “Cristandade” faz há séculos é um diálogo, na maior parte das vezes inconsciente, com este recorte de aproximadamente 50 anos de história da “Grécia” e da Ásia Menor, “romanizadas” sob o poder dos Imperadores compreendidos aproximadamente entre Cláudio e Trajano. A proposta desta disciplina é fazer uma leitura histórica de parte dos textos do “Novo Testamento” de modo a perceber a visão dos primeiros cristãos sobre o complexo lugar de fronteira cultural, política, social e religiosa em que estavam inseridos. Como compreenderam e codificaram as culturas e crenças com as quais interagiram? Como se portaram diante delas? De que maneira se distinguiram? Em que medida se deixaram transformar no contato com tantos “outros”? Como se deu a convivência de suas comunidades com o conjunto mais amplo das sociedades em que estavam vivendo? Como tais comunidades se estruturavam e lidavam com suas raízes culturais diversas? Tais são algumas das perguntas principais que motivam esta proposta de disciplina e nortearão a nossa reflexão. A partir delas, poderemos perguntar também sobre o que tais textos nos dizem a respeito da cultura religiosa cristã ainda viva hoje, presente em um mundo globalizado, em que as fronteiras culturais e religiosas entre povos e civilizações estão mais visíveis e escancaradas do que nunca antes. Evidentemente, todas estas questões não poderão ser esgotadas no espaço de um curso. O que se propõe é, antes, despertar o interesse pela leitura historizada dos textos religiosos com vistas a conhecer a sua matéria transitória e tantas vezes reinterpretada ao longo do tempo. Para análises mais detidas, selecionamos o livro Atos dos Apóstolos, atribuído a Lucas e escrito por volta do ano 80 d. C., e duas Epístolas Paulinas: Filipenses [Fl] (c. 54-57 d. C. ou c. 61-63 d. C.) e Primeira Epístola aos Coríntios [1Cor] (c. 54-57 d. C.). O livro Atos dos Apóstolos foi escolhido por se tratar de um exemplar de gênero histórico (conforme a historiografia da época) que narra, sob o próprio ponto de vista cristão, as suas peripécias no contexto que pretendemos explorar. Grande parte de suas histórias refere-se à pregação paulina, em larga medida exercida nas “fronteiras” do Mediterrâneo. As cartas às comunidades cristãs de Filipos, na Macedônia, no limite da Ásia com a Europa; e de Corinto, na Grécia, reconstruída em na década de 40 d. C. pelo Imperador Júlio César e transformada em grande centro comercial “cosmopolita”, serão os escritos de Paulo a se analisar. Pretende-se interrogá-las de modo a perceber o seu testemunho a respeito dos desafios de convivência e as soluções encontradas para a construção de uma unidade/identidade cristã em meio a uma variedade enorme de referenciais culturais nem sempre convergentes. Nisso, questões morais, alimentares, comportamentais, sexuais, sociais e de “gênero” serão tratadas, permitindo a visualização de uma miríade de conflitos culturais a serem comportados no interior de uma religião autoproclamada universal e que exigia, diante de si, um compromisso ético particular.

OBJETIVOS DA DISCIPLINA Objetivo Geral: Compreender as interações culturais e religiosas ocorridas nas porções mediterrâneas do Império Romano no século I d. C., sob o ponto de vista da nascente Cristandade. Objetivos específicos: − Analisar os impactos das interações culturais e sociais entre judeus, gregos e outros povos presentes nas “fronteiras” mediterrâneas do Império Romano na configuração das primeiras

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comunidades cristãs e de seus hábitos, costumes e moral; − Perceber a religião como fenômeno complexo, inseparável dos processos de hibridização cultural e de formação de identidades e “etnicidades” em historicidades específicas; − Compreender a pretensão de universalidade do Cristianismo diante do desafio da pluralidade cultural/moral e religiosa em interação na ordem imperial romana; − Incentivar e oferecer/desenvolver instrumentos metodológicos para a leitura/consideração histórica de textos de estatuto “sagrado”.

PROGRAMA 27/11 – Apresentação e discussão do Programa da Disciplina. 04/12 – Professor participará de evento em São Paulo. Haverá, no entanto, atividade substitutiva para este dia. Exibição do filme: A Bíblia – Atos dos Apóstolos. Atividade a ser conduzida pelo monitor a partir de roteiro prévio fornecido pelo professor. 11/12 – Discussão introdutória I. Texto para leitura e discussão: GUARINELLO, N. L. Ordem, Integração e Fronteiras no Império Romano. Um Ensaio. In: Mare Nostrum, v. 1, 113-127. 2010. Disponível em: http://www.fflch.usp.br/dh/leir/marenostrum/marenostrum-v1-2009/marenostrum-ano1-vol1-p-113-127.pdf Acesso em 27/09/2012.

18/12 – Discussão introdutória II. Texto para leitura e discussão: BROWN, P. O Elitismo Pagão; A Nova Antropologia. In: VEYNE, P. (ed.) História da Vida Privada. Vol. 1: Do Império Romano ao Ano Mil, São Paulo: Companhia das Letras, 1990. pp. 229-257.

08/01 – Discussão introdutória III. Textos para leitura e discussão: KERMODE, F. Introdução ao Novo Testamento; ELSOM, H. O Novo Testamento e a escrita greco-romana. In: ALTER, R. & KERMODE, F. (ed.). Guia literário da Bíblia, São Paulo: Editora da UNESP, 1997. pp. 403-415; pp. 601-618.

15/01 – Discussão Introdutória IV. Textos para leitura e discussão: ROBINSON, J. M. Atos; GOULDER, M. As Epístolas Paulinas. In: ALTER, R. & KERMODE, F. Op. Cit. pp. 501-513; 515-539.

22/01 – Discussão do Livro Atos dos Apóstolos I. Para leitura e discussão: Do capítulo 1 ao 12 do livro Atos dos Apóstolos.

29/01 – Discussão do Livro Atos dos Apóstolos II. Para leitura e discussão: Do capítulo 13 ao 28 do livro Atos dos Apóstolos.

05/02 – Discussão da Epístola aos Filipenses. Para leitura e discussão: Epístola de Paulo aos Filipenses (inteira).

12/02 – Carnaval 19/02 – Discussão da Primeira Epístola aos Coríntios. Para leitura e discussão: Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios (inteira).

26/02 – Haverá troca de professor da disciplina em virtude do afastamento (por 12 meses) do Prof. Guilherme Amaral Luz para realização de estágio de pós-doutorado no exterior. Atividade: AUTOAVALIAÇÃO.

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05/03 – Revisão dos conteúdos da disciplina e atendimento aos grupos de seminários. 12/03 – Seminário Temático I: família e governo da casa. 19/03 – Seminário Temático II: moral e comportamentos relativos à sexualidade. 26/03 – Seminário Temático III: interdições “religiosas” e justiça “civil”. 02/04 – Seminário Temático IV: singularidades/universalidade do Cristianismo no Mundo Romano. 09/04 – Atividade avaliativa (prova). 16/04 – Vista de atividade avaliativa e encerramento da disciplina. Total de semanas: 18

METODOLOGIA A disciplina divide-se em três partes. Na primeira, serão feitas leituras introdutórias de caráter mais teórico, buscando elementos a partir dos quais o estudo dos textos de época possam fazer mais sentido para os objetivos do curso. Na segunda parte, serão estudados os textos de época selecionados para análise. Essas duas partes ocorrerão sob a forma de discussões de texto em exposições dialogadas. A terceira parte será constituída por quatro seminários temáticos, nos quais, por meio de leituras de bibliografia específica, os textos de época estudados na segunda parte da disciplina deverão receber tratamento mais vertical. Os seminários ficarão a cargo de grupos de alunos e terão duração de 2 horas. O restante da aula será reservado para considerações do professor sobre o conteúdo relativo à temática e à bibliografia, bem como a respeito do desempenho dos grupos de seminário.

AVALIAÇÃO A avaliação consistirá de três instrumentos: autoavaliação (20 pontos), seminário temático em grupo (50 pontos) e prova individual ao final da disciplina (30 pontos). A autoavaliação será realizada em sala de aula após a metade do transcorrer da disciplina. Os estudantes deverão atribuir ao seu desempenho até ali uma nota de 0 a 20 e justificá-la em um breve texto. Os parâmetros para a autoavaliação deverão levar em conta a assiduidade nas leituras, a preparação para as discussões, o envolvimento efetivo nas atividades, a dedicação aos estudos referentes à disciplina e o aproveitamento das leituras e das discussões. O seminário temático será realizado em grupos, porém a avaliação do mesmo será por desempenhos individuais. Ele deverá ser a apresentação de um estudo dos textos Paulinos e do Atos dos Apóstolos a partir de leituras específicas sobre temas próprios à historicidade abordada na disciplina. O seminário deverá ter duração de até 2 horas e o restante da aula será reservado para considerações do professor. A prova ao final da disciplina será constituída de questões que poderão abordar assuntos tratados durante toda a disciplina em quaisquer das suas três partes. Ela será individual e deverá 4

ser realizada no espaço-tempo de uma aula de quatro módulos. A critério do professor, será permitida a consulta de material bibliográfico e de anotações de aula.

BIBLIOGRAFIA Bibliografia Obrigatória: ALTER, R. & KERMODE, F. (ed.). Guia literário da Bíblia, São Paulo: Editora da UNESP, 1997. BÍBLIA Sagrada. Qualquer edição católica ou protestante que contenha os livros: Atos dos Apóstolos, Epístola de Paulo aos Filipenses e Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios. Para Atos dos Apóstolos, sugere-se a tradução contida em: SILVA, C. M. D & RABUSKE, I. (ed.). Evangelhos e Atos dos Apóstolos: novíssima tradução dos originais, São Paulo: Loyola, 2011. pp. 219-268. Para as Epístolas de Paulo, sugere-se qualquer edição da Bíblia Sagrada Edição Pastoral da editora Paulus. VEYNE, P. (ed.) História da Vida Privada. Vol. 1: Do Império Romano ao Ano Mil, São Paulo: Companhia das Letras, 1990. GUARINELLO, N. L. Ordem, Integração e Fronteiras no Império Romano. Um Ensaio. Mare Nostrum, v. 1, p. 113-127. 2010. Disponível em: http://www.fflch.usp.br/dh/leir/marenostrum/marenostrum-v12009/marenostrum-ano1-vol1-p-113-127.pdf Acesso em 27/09/2012.

Bibliografia Obrigatória (a ser utilizada nos seminários temáticos):

Seminário I: COULANGES, F. A Cidade Antiga, São Paulo: EDAMERIS, 1961. (Livro Segundo: A Família) – Versão em ebook: http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/cidadeantiga.pdf VEYNE, P. A casa e seus libertos. In: VEYNE, P. (ed.) História da Vida Privada. Vol. 1: Do Império Romano ao Ano Mil, São Paulo: Companhia das Letras, 1990. pp. 81-102.

Seminário II: ARIÈS, P.; BEJIN, A. Sexualidades ocidentais. Contribuições para a história e para a sociologia da sexualidade, São Paulo: Brasiliense, 1987. (Capítulos: “O combate da castidade” de M. Foucault, “São Paulo e a carne” de P. Ariès e “A homossexualidade em Roma” de P. Veyne.)

Seminário III: COULANGES, F. A Cidade Antiga, São Paulo: EDAMERIS, 1961. (Livro Terceiro: A Cidade) – Versão em ebook: http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/cidadeantiga.pdf VEYNE, P. Censuras e Utopias. In: VEYNE, P. (ed.) História da Vida Privada. Vol. 1: Do Império Romano ao Ano Mil, São Paulo: Companhia das Letras, 1990. pp. 161-177.

Seminário IV: ROSTOVTZEFF, M. A evolução religiosa do Império nos três primeiros séculos da era cristã. In: História de Roma, Rio de Janeiro: Zahar, 1961. pp. 271-279. SILVA, D. P. As perseguições aos cristãos no Império Romano (séc. I-IV): dois modelos de apreensão. Revista Jesus Histórico, v. 07, p. 29-44. 2011. Disponível em: http://www.revistajesushistorico.ifcs.ufrj.br/arquivos7/ARTIGO-DIOGO-DA-SILVA.pdf. Acesso em

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17/10/2012. SILVA, G. V. Reflexões sobre a prática da caridade entre os cristãos, pagãos e judeus. In: Revista Jesus Histórico, v. 06, 51-67, 2011. Disponível em: http://www.revistajesushistorico.ifcs.ufrj.br/arquivos6/Artigo%20Gilvan %20Ventura.pdf. Acesso em 17/10/2012.

Bibliografia Complementar: BROWN, P. O fim do Mundo clássico, Lisboa: Verbo, 1972. CHAPOT, V. El mundo romano, Mexico: Uteha, 1957. FOUCAULT, M. História da Sexualidade I: a vontade de saber, Rio de Janeiro: Graal, 1999. FOUCAULT, M. História da Sexualidade II: o uso dos prazeres, Rio de Janeiro: Graal, 1984. FOUCAULT, M. História da Sexualidade III: o cuidado de si, Rio de Janeiro: Graal, 1988. FUNARI, P. P. A. Roma antiga, São Paulo: Contexto, 2001. FUNARI, P. P. A. Antiguidade Clássica: a história e a cultura a partir dos documentos, Campinas: UNICAMP,1995. FUNARI, P. P. A. Cultura Popular na Antiguidade Clássica, São Paulo: Contexto, 1989. GIORDANI, M. C. Historia de Roma, Petrópolis: Vozes, 2002. GLOTZ, G. La ciudad griega, Mexico: Uteha, 1957. GRIMAL, P. Vida em Roma na Antiguidade, Lisboa: Europa-América, 1995. LOT, F. O Fim do Mundo Antigo e o princípio da Idade Média, Lisboa: Edições 70, 1985. MARROU, I. Decadência Romana ou Antiguidade Tardia? Lisboa: Aster, 1979. MOMIGLIANO, A. Os limites da helenização: a interação cultural da civilização grega, romana, céltica, judaica e persa, Rio de Janeiro: Zahar, 1991. ROUSSELLE, A. Pornéia: sexualidade e amor no mundo antigo, São Paulo: Brasiliense, 1984. WALLACE-HADRILL, A. (ed.) Patronage in Ancient Society, Londres: Routledge, 1989. VEYNE, P. Quando nosso mundo se tornou cristão, Lisboa: Edições Texto & Grafia, 2009. VEYNE, P. A Sociedade Romana, Lisboa: Edições 70, 1993.

Assinatura do Professor: _____________________________________

Data: ___/___/___

APROVAÇÃO Aprovado em reunião do Colegiado do Curso de História Em ___/____/______ _____________________________________ Coordenador do curso

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