Plano de Ensino: Constituição do Homem Moderno. Curso de História (diurno). Universidade Federal de Uberlândia (UFU), 2016.

June 7, 2017 | Autor: Guilherme Luz | Categoria: Renaissance Studies, Modernity, Chinese history (History), Confucianism, Ética, Renascimento
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE HISTÓRIA COLEGIADO DO CURSO DE HISTÓRIA PLANO DE CURSO

DISCIPLINA: CONSTITUIÇÃO DO HOMEM MODERNO CÓDIGO: GHI050

CH TEÓRICA:

PERÍODO:

CH

CH TOTAL: 60h

TURNO: Matutino

OBRIGATÓRIA: ( )

OPTATIVA: ( X )

TEÓRICA / PRÁTICA: 60h ANO/SEMESTRE: 2016/1

PROFESSOR: Guilherme Amaral Luz PRÉ-REQUISITO:

CÓ-REQUISITO:

EMENTA DA DISCIPLINA A figura do homem moderno. Humanismo, individualismo, racionalismo e as mudanças no comportamento, na cultura e o processo civilizatório no Renascimento. Estudo da historiografia sobre o tema.

JUSTIFICATIVA Central para a própria constituição do objeto da história e demais ciências humanas e sociais é a concepção moderna de homem. Sem ela, a própria noção de que a história é o fazer dos homens no tempo não faria qualquer sentido, pois depende de pressupostos tais como o da ação criativa do homem no mundo e da transformação das realidades em que se insere ao longo do passar das eras. Também pressupõe a universalidade do homem, indicando padrões relativamente imutáveis ou de transformação muito lenta que acompanhariam as características do homo sapiens nos seus diversos espaços e tempos de existência. Ao lado disso, postula a alteridade como resultante das diversas formas e maneiras que este “homem universal” encontrou para se organizar e viver coletivamente, com as suas instituições, culturas, hábitos e formas de ser. Tais concepções não existem desde sempre na história da “humanidade”, mas elas próprias são historicamente sedimentadas e transformadas pelas contingências da vida social. No chamado “ocidente”, as modernas concepções de homem são inseparáveis do percurso muitas vezes nomeado como “processo civilizador”, conforme a expressão de Norbert Elias. Herdeiro das transformações no interior da Europa feudal após a retomada do grande comércio e com o desenvolvimento das cidades, este processo teria instituído, sobretudo a partir dos séculos XV e XVI, conforme argumenta o clássico trabalho de Jacob Burckhardt, uma nova concepção de indivíduo singular, sujeito de sua vida e, portanto, da história. O sociólogo Max Weber, por sua vez, entenderia as reformas protestantes e o advento do puritanismo como decisivas no aprofundamento desta ética empreendedora do homem, afastando a religião do domínio da magia e o aproximando das dimensões cada vez mais pragmáticas da vida econômica e social. Outros autores também enfatizaram a importância das transformações dos séculos XV, XVI e XVII para a constituição das modernas concepções de homem conforme paradigmas humanistas, individualistas, racionalistas e capitalistas.

2 O Renascimento, neste sentido, foi sendo tomado, ao longo da tradição historiográfica dos séculos XIX, XX e XXI, como momento histórico decisivo da formação do homem moderno. Contudo, muito pouco vem sendo explorado dos impactos do Novo Mundo nesta construção. Os “outros” da Europa quase nunca são considerados no processo de constituição do homem moderno, dando a impressão de que a “modernidade” é exclusiva da Europa e que sua construção é unilateralmente forjada dentro dos limites do “Velho Continente”. Mais recentemente, novas perspectivas têm surgido na consideração de “outros renascimentos” não europeus que, no âmbito de outros processos civilizacionais, foram decisivos na elaboração de modernas concepções de homem. É o caso de autores como Jack Goody. Neste sentido, o Islã, a Índia e a China, por exemplo, vêm sendo focalizadas como civilizações que passaram por processos de “renascimentos” antes mesmo da Europa, formulando noções de homem compatíveis com a chamada modernidade. Nesta disciplina, procuraremos estudar um dos momentos chaves de formulação de concepções “modernas” de homem na cultura tradicional chinesa. Escolhemos privilegiar um conjunto de textos que se tornaram canônicos desde a dinastia Song e que, nas dinastias Ming e Qing, quando a China entra em contato cultural e comercial mais frequente com a Europa, constituíam o cerne da formação básica da elite intelectual do Império. Procuraremos colocar estes textos em diálogo com correntes do pensamento renascentista europeu sobre “homem”, focalizando especialmente os temas da transformação e do cultivo de si. Enfim, procuraremos investigar o básico do universo intelectual e ético a partir do qual as formações da modernidade chinesa e europeia interagiram.

OBJETIVOS DA DISCIPLINA Objetivo Geral: Desenvolver estudo das concepções chinesas de homem na tradição neo-confucionista das dinastias Ming e Qing em diálogo com as concepções humanistas e renascentistas que se desenvolvem na Europa entre os séculos XV e XVII, momento em que se deu o primeiro contato mais sistemático entre estas duas “civilizações”: a europeia e a chinesa.

Objetivos Específicos: - Problematizar a conceituação de Renascimento, discutindo a multiplicidade de Renascimentos em uma perspectiva de História Global; - Investigar as conexões entre as concepções de homem na “modernidade renascentista” europeia com o fenômeno de expansão comercial e marítima dos séculos XVI e XVII, focalizando especialmente o contato com a China Ming e Qing.

PROGRAMA Unidade I – Renascimentos e homem moderno: questões fundamentais: 1.1. Renascimento ou Renascimentos? Discussão de: GOODY, Jack. Renascimentos. Um ou muitos? São Paulo: Editora da Unesp, 2011. Capítulos “A ideia de um renascimento” e “Renascimento na China”. 1.2. A flexibilidade de si e as concepções modernas de homem no Renascimento europeu. Discussão de: Greene, Thomas. A flexibilidade do self na literatura do Renascimento. In: História & Perspectivas, 32/33: 39-67, 2005. Unidade II – Cultivo de si no “Renascimento” neo-confucionista chinês: 2.1. O Daoxue (道學) e a constituição de um novo cânone para os “clássicos” (jing, 經) chineses; 2.2. Estudo de “Analectos de Confúcio”, um dos quatro livros da tradição neo-confucionista, a saber: “O Grande Aprendizado”; “Analectos de Confúcio” e “Mêncio”; 2.3. O cultivo de si em Confúcio, Mêncio, Zhu Xi e Yan Yuan.

Cronograma:

3 02 de março – Apresentação e Discussão do Programa 09 de março – Renascimento ou Renascimentos? Discussão de: GOODY, Jack. Renascimentos. Um ou muitos? São Paulo: Editora da Unesp, 2011. Capítulo: “A ideia de um renascimento”. 16 de março – A flexibilidade de si e as concepções modernas de homem no Renascimento europeu. Discussão de: Greene, Thomas. A flexibilidade do self na literatura do Renascimento. In: História & Perspectivas, 32/33: 39-67, 2005. 23 de março – Diálogos com a Antiguidade: o Estoicismo. Com palestra e debate com a profa. Jéssica Honório. 30 de março – Discussão de: GOODY, Jack. Renascimentos. Um ou muitos? São Paulo: Editora da Unesp, 2011. Capítulo: “Renascimento na China”. 06 de abril – Aula expositiva: o neo-confucionismo e seu desenvolvimento nas Dinastias Tang, Song, Ming e Qing. Leitura de apoio opcional (em inglês): GARDNER, Daniel K. Introduction. The Four Books in Chinese Society. In: The four books. The basic teatchings of the later Confucian tradition, Indianapolis/Cambridge: Hackett Publishing Company, 2007. pp. xiii - xxx. 13 de abril – Estudo do Daxue, “O Grande Aprendizado”. Utilizaremos a versão inglesa de Gardner, mas os alunos terão acesso a tradução do texto para o português on-line: http://chinesclassico.blogspot.com.br/2007/07/daxue-ou-grande-cincia-por-doeblin.html 20 de abril – Primeira autoavaliação e avaliação da disciplina. 27 de abril (Seminário 1) – Estudo do Lunyu (Os Analectos). Utilizaremos a versão portuguesa disponível on-line em: http://www.confucius.org/lunyu/langp.htm. Capítulos: 1, 2, 3, 4 e 5. 04 de maio (Seminário 2) – Estudo do Lunyu (Os Analectos). Utilizaremos a versão portuguesa disponível on-line em: http://www.confucius.org/lunyu/langp.htm. Capítulos: 6, 7, 8, 9 e 10. 11 de maio (Seminário 3) – Estudo do Lunyu (Os Analectos). Utilizaremos a versão portuguesa disponível on-line em: http://www.confucius.org/lunyu/langp.htm. Capítulos: 11, 12, 13, 14 e 15. 18 de maio (Seminário 4) – Estudo do Lunyu (Os Analectos). Utilizaremos a versão portuguesa disponível on-line em: http://www.confucius.org/lunyu/langp.htm. Capítulos: 16, 17, 18, 19 e 20. 25 de maio – Aula expositiva: O cuidado de si em Confúcio. Texto de apoio e de leitura opcional: IVANHOE, Philip J. Confucian moral self cultivation, Indianapolis/Cambridge: Hackett Publishing Company, 2000. pp. 0114. 01 de junho – Aula expositiva: O cuidado de si em Mêncio. Texto de apoio e de leitura opcional: IVANHOE, Philip J. Confucian moral self cultivation, Indianapolis/Cambridge: Hackett Publishing Company, 2000. pp. 1528. 08 de junho – Aula expositiva: O cuidado de si em Zhu Xi. Texto de apoio e de leitura opcional: IVANHOE, Philip J. Confucian moral self cultivation, Indianapolis/Cambridge: Hackett Publishing Company, 2000. pp. 4358. 15 de junho – Aula expositiva: O cuidado de si em Yan Yuan. Texto de apoio e de leitura opcional: IVANHOE, Philip J. Confucian moral self cultivation, Indianapolis/Cambridge: Hackett Publishing Company, 2000. pp. 7588. 22 de junho – Segunda autoavaliação e avaliação da disciplina. 29 de junho – Aula de encerramento

METODOLOGIA Na primeira parte da disciplina, serão realizadas leituras e discussões de textos mais gerais sobre o conceito de Renascimento e a sua aplicação ao caso chinês. Junto a isso, contaremos com a participação de uma pesquisadora, especializada na obra de Sêneca, que irá explorar o tema do cuidado de si na Antiguidade em diálogo com o Renascimento europeu. Em segundo momento, partiremos ao estudo de duas obras da tradição confucionista, perseguindo, nelas, a temática do cuidado de si e suas possíveis articulações com a modernidade. Neste momento, serão realizados quatro seminários sobre Os Analectos de Confúcio. Os seminários devem servir para a síntese dos capítulos selecionados e a segunda parte da aula será reservada para considerações do professor. Em um terceiro momento, haverá aulas expositivas sobre o tema do cuidado de si em quatro autores

4 confucionistas, cada qual situado em um momento histórico específico, culminando com Yan Yuan, erudito da Dinastia Qing, no século XVII, época de grande contato do Confucionismo com o Ocidente Cristão “moderno”.

AVALIAÇÃO Um seminário com valor de 50 pontos: 30 para desempenho do grupo e 20 para o desempenho de cada aluno. Duas autoavaliações: a primeira com valor de 20 pontos e a segunda com o valor de 30 pontos.

BIBLIOGRAFIA Bibliografia Básica:

GARDNER, Daniel K. The four books. The basic teatchings of the later Confucian tradition, Indianapolis/Cambridge: Hackett Publishing Company, 2007. GOODY, Jack. Renascimentos. Um ou muitos? São Paulo: Editora da Unesp, 2011. GREENE, Thomas. A flexibilidade do self na literatura do Renascimento. In: História & Perspectivas, 32/33: 39-67, 2005. IVANHOE, Philip J. Confucian moral self cultivation, Indianapolis/Cambridge: Hackett Publishing Company, 2000.

Bibliografia Complementar: BURCKHARDT, Jacob. A Cultura do Renascimento na Itália. Brasília: Ed. da UNB, 1991. BURKE, Peter; HSIA, R. Po-chia (ed.). Cultural translation in Early Modern Europe, Cambridge: Cambridge University Press, 2007. ELIAS, N. A sociedade de corte: investigação sobre a sociologia da realeza e da aristocracia de corte, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001. GARIN, E. (org.). O homem renascentista, Lisboa: Presença, 1988. HELLER, A. O Homem do Renascimento. Lisboa: Editorial Presença, 1982. MEYNARD, Thierry. The overlooked connection between Ricci’s Tianzhu shiyi and Valignano’s Catechismus Japonensis, In: Japanese Journal of Religious Studies, 40(2): 303-322, 2013. MUCHEMBLED, R. L´invention de l´homme moderne (sensibilités, moeurs et comportements collectifs sous l´Ancien Régime), Paris: Fayard, 1988. MUNGELLO, David E. Curious Land. Jesuit Accommodation and the Origins of Sinology, Honolulu: University of Hawaii Press, 1989. RYAN, Michael. Assimilating New World in Sixteenth and Seventeenth centuries, In: Comparative Studies in Society and Culture, 23: 519-538, 1983. SPENCE, Jonathan. Em busca da China moderna, São Paulo: Companhia das Letras, 1996. WEBER, M. Religião e racionalidade econômica. In: COHN, G. (org.). Coleção Grandes Cientistas Sociais: Weber, São Paulo: Ática, 1989 (4ª. Edição). pp. 142-159. WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo, São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1989. WESTSTEIJN, Thijs. The Middle Kingdom in the Low Countries. Sinology in the seventeenth-century

5 Netherlands. In: The Making of the humanities, vol. 2: 209-241, 2012.

APROVAÇÃO Aprovado em reunião do Colegiado do Curso de Em ___/____/______

_____________________________________ Coordenador do curso

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