Pluralidade doida

June 3, 2017 | Autor: Def Yuri | Categoria: Hip-Hop/Rap, Artigos, Viva Favela
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Pluralidade doida

Autor: Def Yuri | 15/05/2002 | Seção: Def Yuri

Várias vezes falei sobre a pluralidade no Hip Hop, seja em artigos ou de viva voz. É engraçado, às vezes estar informado é um problema. Dizem que ter e querer informação é uma doença. Bom, pensando desta forma sou terminal. Falar sobre os antagonismos da nossa cultura sempre foi uma constante em minha vida. Sempre disse e repito: o Hip Hop é um imenso polvo e seus tentáculos avançam para todos os lados, tudo isso de uma maneira impressionante e descontrolada. Além de vivenciar o H2 (30 horas por dia), procurei e procuro estar informado sobre os vários tentáculos do Hip Hop e seus objetivos. Lembro das caras de espanto de alguns camaradas quando eu abordei algumas notícias, exemplo: um dos caras que deu e dá a maior força para o Hip Hop na Itália, se chama Maldini. É ele mesmo, o capitão da azzurra (Seleção italiana), dono da Def Jam/ Itália e ainda tem um programa bastante popular de rap na rádio 105 FM Milão. Isso parece besteira, cultura inútil, porém faz parte da minha cultura, é tão importante quanto as notícias vindas da costa oeste ou leste estadunidense. Outro exemplo foi quando no início dos anos 90 um camarada meu (Suave ex-Jigaboo) retornou da França e me disse sobre a cena francesa e no restante da Europa. Lembra Suave? Ele expôs detalhes sobre as diferentes vertentes do rap inclusive uma ligada à frente nacional ( nazis), confesso que fiquei grilado com aquela história e pesquisei muito - não é que era verdade! Isso mostra o quão democrático é o Hip Hop, apesar dos rumos equivocados . Ao comentar essas histórias, algumas pessoas não acreditavam ou não tinham capacidade de discernir sobre o que estava sendo exposto. Eu optei continuar seguindo pelo caminho da informação, do que o da cegueira cultural, bastante comum no meio. O Hip Hop teve sua origem na comunidade negra hispânica e depois foi adotado e se consolidou como uma das, se não a maior expressão do nacionalismo afroamericano. Estão cientes do que eu estou expondo? E assim, o Hip Hop foi a um curto período se entranhando nas mais diferentes comunidades independente de etnia ou convicção religiosa. Quem não se lembra do 3rd Bass (Judeus), Kid Frost (Mexicano), Mellow Man Ace (Cubano), Boo ya Tribe (Samoanos, acho que são de lá ou talvez sejam de marte), Solaar (França), DNI (Espanha), N Factor (Alemanha), enfim o Hip Hop ganhou a sua cara multirracial e internacional. Isso em alguns aspectos foi muito bom. Digo em alguns aspectos, pois a nossa cultura de rua é camaleônica e se adequa às necessidades de cada lugar em que aportar. Lembro da primeira revista espanhola que vi sobre o assunto (foi em 1989) e tinham várias pessoas vestidas tal qual o Public Enemy, Boogie Down Productions. Tudo era igual aos Estados unidos, quero dizer quase igual, pois não tinham negros. Já os assuntos posso dizer que eram até mais contundentes. Jungle King`s que o diga! Com o decorrer do tempo, muitos outros exemplos foram aparecendo com a proliferação de grupos de rap nas mais diferentes correntes politico-partidárias ou religiosas. Hoje em dia, grupo político que se preza tem que ter um grupo de rap. No Brasil que o digam o MST ou algum partido de esquerda. É o jogo da ideologia e da necessidade e/ou promiscuidade. Em todo canto aparecem os grupos de rap que são pró ou contra algo. Normal. Dia desses estava lendo uma matéria sobre a febre do Hip Hop em Israel e lembrei que já tinha apontado esse fato. Decidi. Vou saber mais. E pensei - se tem em Israel é óbvio que tem na Palestina. E constatei coisas impressionantes como alguns soldados israelis que escutavam rap antes e durante as missões. Eles ouviam sons de grupos como Cypress Hill, Jay z, DMX, Subliminal (rapper de Tel Aviv e sionista de carteirinha). Automaticamente fui checar o lado palestino e lá a parada era a mesma, eles escutam sons como Public Enemy, NTM (França), Alliance Ethinic (França), entre outros (Principalmente rap francês) e locais como Arablegion e uns M.Cs. Esqueci os nomes, vou ficar devendo... O que prá mim era óbvio agora é público - o H2 é o som dos dois lados. Do lado bom e do lado mal. Qual será o lado certo? Quem pode definir? É o transmissor das idéias de libertação e também das idéias de degeneração e/ ou ocupação. Navegando em meio a esses contrastes, apenas aumenta a minha certeza com relação a nossa pluralidade doida. Querem mais? Vejam como os tentáculos do rap atendem a todos os gostos: são grupos de rap ligados: aos

nazis, sionistas, anti-nazis, pró-crimes, anticrimes, católicos, pro drogas, antidrogas, protestantes, muçulmanos, budistas, judaicos, hindus, espíritas, esquerda, direita, meio termo, anarquistas, indígenas, antireligioso, policia, tráfico... Pelo mundo a pluralidade é enorme. E no Brasil não é diferente. Em um artigo recente cujo tema era o ataque de 11 de setembro e suas conseqüências à autora, uma ativista do Hip Hop estadunidense bradava suas opiniões (entendo, respeito e discordo) e perguntava: Nós do Hip Hop devemos lutar ao lado das forças americanas pela democracia e pela liberdade - Vocês estão preparados? Vocês estão preparados para entrar nessa guerra? Ela é um ótimo exemplo de como a informação faz falta. Ela deveria saber que muitos do Hip Hop estão preparados, mas isso não significa que estarão alinhados ao lado estadunidense. No Brasil existem outros tantos e bota tantos nisso com as mais diferentes posições... Viram como a pluralidade é doida, ou isso é o que se chama democracia na prática? A fé move montanhas... Mas os apressados preferem a dinamite. Alfred E. Newman

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