POBLENOU : TERRITÓRIO @ DE BARCELONA Projeto 22 @ -BCN – Estudo e considerações

June 5, 2017 | Autor: Paulo Celso Silva | Categoria: Barcelona, Poblenou, 22@BCN
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POBLENOU : TERRITÓRIO @ DE BARCELONA Projeto 22 @ - BCN – Estudo e considerações

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POBLENOU : TERRITÓRIO @ DE BARCELONA Projeto 22 @ - BCN – Estudo e considerações PAULO CELSO DA SILVA NEIDE MARIA PÉREZ DA SILVA

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AGRADECIMENTOS Agradecer é, quase sempre, incorrer em esquecimentos. Esta pesquisa, com toda a sua história, desde o pré-projeto até o desembarque no Brasil depois de um ano em Barcelona, deve muito a muitos participantes diretos e indiretos. Agradeço de maneira muito especial a Neide, Guilherme e Cássia que acreditaram e confiaram em mim para “aventurar” numa viagem de pesquisas sem opor obstáculos prévios ou dificultar, quando lá em Barcelona, estranha para todos, já nos encontrávamos instalados. Eles foram essenciais para o bom andamento dos trabalhos, vivendo e acompanhando o desenvolvimento e as dificuldades no entender Barcelona, o Poblenou, o Projeto 22@. Agradeço ao Prof. Dr. Carles Carreras i Verdaguer que, sempre um gentleman, me ensinou muito da cidade e do fazer geografia e, o mais importante e também mais difícil de agradecer: ainda no Brasil, em março de 2000, aceitou orientar-me na Universitat de Barcelona para um pós doutorado durante o ano de 2001. Também aos professores do Grup d'Estudis Territorials i Urbans – GETU da Universitat de Barcelona pela ajuda e simpatia em todos os momentos. A possibilidade desse trabalho deve-se a uma bolsa pós-doutoral da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), agradecemos também a eficiência e préstimo com que nos atenderam em todas as solicitações, via telefone ou e-mail. Ainda aqui no Brasil, devo agradecer ao Prof. Aldo Vannucchi, Reitor da Universidade de Sorocaba (UNISO) o apoio incondicional, assim como da mantenedora, Fundação Dom Aguirre a qual agradeço nas pessoas do Padre Tadeu Rocha Moraes e da Prof. Elenice Yabiku. Renato Joaquim Mendes foi a ponte entre Sorocaba e Barcelona para podermos encontrar um lugar para ficar. Mais do que isso nos brindou com uma família excepcional e inesquecível: Isaura, Montserrat, Aura e Juan Pablo. Muito mais que alugar seu apartamento em Castelldefels foi nossa família na Espanha. Montserrat foi minha companheira pelas ruas de Barcelona, buscando arquivos, bibliotecas, documentos, várias vezes, mesmo estando esperando Aura, que chegou em junho de 2001. A Prof. Dra. Maria Lúcia de Amorim Soares e o Prof. Armando Oliveira Lima, foram presenças físicas que fizeram muita falta, seja para mostrar uma paisagem, comentar alguma descoberta ou aprender com eles os caminhos. A Prof. Dra. Amália Inês Geraiges de Lemos que esteve em Barcelona e, sempre otimista, proporcionou momentos agradáveis e cheios de esperança. Nosso agradecimento e carinho para Claudia e Hanz Thielemann que gentilmente nos enviavam mensalmente notícias dos principais jornais do Brasil, devidamente comentados, facilitando muito nossa experiência espanhola. Meu amigo Reginaldo Gabriel com seu bom humor e sabedoria apontava caminhos quando as situações pareciam complicadas demais. Também o Prof. Acassil José de Oliveira pela ajuda, necessária, quando estávamos começando na carreira universitária. Deixamos amigos na Cidade Condal que merecem todo o respeito e admiração pelo sentido de humanidade e companheirismo. Arturo “TUDO” Blasco, Maribel, Lara e Alba, filhas do casal, fizeram com que esse ano seja inesquecível e traga sempre muitas saudades, momentos alegres, divertidos e cheios de arte. Gemma, nossa professora de castelhano, catalão, história da Espanha etc. etc. e seu marido Jean, experientes em morar fora de seu país, ajudaram bastante a entender o que se passava em nossas cabeças. O Ajuntament de Barcelona, através de Vlademir de Semir e sua equipe, pela paciência e apoio à pesquisa no setor de sua competência, o Reg. Ciutat del Coneixement, que trouxe ao trabalho dados oficiais e de interesse geral. Aos moradores do Poblenou agradecemos na pessoa de Antoni Oliva, do Instituto Catalão de Tecnologia, por todo apoio e entusiasmo com a pesquisa, fornecendo documentos de grande relevância, além do testemunho de muitos. As pessoas do Arxiu Históric del Poblenou e da Llibre Etcétera, sempre disponíveis para minhas questões, dúvidas e de livros sobre o bairro, que estão fora de catálogo e nos presentearam.

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Em “nuestro pueblo”, Castelldefels, agradecemos as oportunidades oferecidas de participar da vida local, do contato humano e agradável com seus habitantes.

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Este trabalho é dedicado ao Prof. Dr. Milton Santos Por todo seu trabalho em favor de uma geografia mais e mais humana e, sempre pioneiro, por ter aberto a possibilidade de outras gerações pesquisarem junto à Universitat de Barcelona.

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Sumário INTRODUÇÃO EL POBLENOU EL EIXAMPLE BARCELONA E OS JOGOS OLÍMPICOS ESPAÇOS DE FLUXOS NO MEDITERRÂNEO OS LOFTS EM BARCELONA A TRANSFORMAÇÃO DO POBLENOU INTRODUCÃO. JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS D ESTUDO INTRODUÇÃO AOS PRINCIPAIS CONCEITOS : 1.A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO E CONHECIMENTO: ELEMENTOS E OBJETIVOS 2. A CIDADE DO CONHECIMENTO A CIDADE MEDITERRÂNEA COMPACTA OBJETIVOS E PROPOSTAS JURÍDICO-URBANÍSTICAS A DESENVOLVER. A TEORIA URBANÍSTICA DO SOLO URBANO. O 22@ CONCLUSÕES MODIFICAÇÃO DO PLANO GERAL METROPOLITANO PARA A RENOVAÇÃO DAS ÁREAS INDUSTRIAIS DO POBLENOU – DISTRITO DE ATIVIDADES 22@ BCN – TEXTO REFERÊNCIA A RENOVAÇÃO URBANÍSTICA DO DISTRITO INDUSTRIAL DO POBLENOU CONSTRUINDO A CIDADE DO CONHECIMENTO PALAVRAS FINAIS REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA

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INTRODUÇÃO Conta a lenda que a Catalunha surgiu em 732 quando o rei de França, Carles Martell, para proteger suas terras da expansão muçulmana, organiza uma expedição de ataque ao sul dos Pirineus para criar uma ‘Marca’, um território independente, porém leal ao rei e que servisse de barreira aos invasores. O nobre escolhido para essa façanha foi Otger Cataló. Guerreiro forte, combatia coberto por uma pele de leão e usando armas que outros não conseguiriam. Os Nou Barons de la Fama marcharam com Otger para começar a reconquista dos territórios. Mas, o líder não sobrevive para ver o nascimento da Marca Hispânica, morre quando o Barcino Romano está por conquistar. Outro nobre, Dapifer de Montcada é quem finalmente estabelece a Marca. Em homenagem ao guerreiro que liderou a conquista, o rei de França nomeia a marca com o nome de Catalunya. Essa e outras lendas da Catalunha apresentam a luta histórica de um povo para garantir o seu lugar na Espanha. Porém, não é necessário reconstruir toda história da Catalunha ou, mais especificamente, da cidade de Barcelona. Como seu grande guerreiro Cataló, Barcelona terá em seu itinerário avanços e recuos na busca da internacionalização sonhada. Um desses momentos é o da industrialização. Pioneira na Espanha na fabricação de tecidos, terá de superar o primeiro obstáculo: a falta de matéria prima nativa, o algodão. Importado do Egito e dos EUA, será aproveitado nas muitas fábricas da cidade. Tal processo conheceu vários momentos técnicos e sociais, do artesanato à industria capitalista, insistimos, com avanços e recuos, marcando espacialmente Barcelona, ainda com suas muralhas e o povoado de Sant Martí. Reduzindo um pouco mais nosso foco, marcando o bairro do Poblenou, onde está nosso objeto de estudo. Também com muitas histórias, o bairro do Poblenou, inicialmente delimitado ao sul de Sant Martí, teria seu começo na Plaça de Prim. A literatura e a produção científica sobre a história do Poblenou remetem sempre a paisagem natural que:

“O espaço que hoje ocupa o bairro barcelonês do Poblenou foi durante muitos séculos uma zona úmida e pantanosa...Nomes como a Lagoa, o Junco ou o Prado das Febres recordam muito bem as características do lugar1. Isso até o século XVIII quando começa a privatização das terras e, na metade desse século, aparecem as primeiras fábricas de indianes (tecidos de algodão estampados). O século XIX marca a revolução industrial com a substituição do processo de produção através do vapor sendo Achon i Ricart a fábrica pioneira na década de 1830, dentro das muralhas de Barcelona. É desse momento também a primeira vez que o nome Pueblo Nuevo começa a designar o núcleo humano ao sul de Sant Martí. Com o crescimento, em 1851 a Prefeitura de Sant Martí requer a separação de Barcelona que, conseguida em 1870, dura apenas seis meses. Em 1897 passa definitivamente a ser mais um

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Os nomes dos lugares apenas foram traduzidos para facilitar o entendimento daquilo que está sendo passado pelo texto catalão.

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bairro de Barcelona. O Poblenou contava então com oito bairros diversificados: Llacuna, Taulat, Plata, Trullàs, França Xica, del Darrera el Cementiri, Pequín e o Somorrostro. Cem anos depois, em 1997, vamos encontrar o bairro industrial transformado. As indústrias têxteis, metalúrgicas e outras que haviam feito a Manchester Catalã, ou se mudaram para áreas e pólos industriais determinados pela Prefeitura de Barcelona (Zona Franca, El Prat Llobregat, por exemplo) ou fecharam, interrompendo atividades tradicionais, como a têxtil, motivadas pelo novo contexto nacional e internacional da economia capitalista. A marca na paisagem continua. Os antigos prédios industriais são ocupados por pequenas oficinas, transportadoras, outros são abandonados e se deterioram. Em julho de 1998 a prefeitura de Barcelona apresenta, à exposição pública, o documento Criteris, objectius i solucions generals de planejament de la renovació de les àrees 2

industrials del Poble Nou . Era o início de grandes modificações urbanas no local. Modificações ligadas a um “novo conceito” para pensar e fazer a cidade: as tecnologias de informação e comunicação (TIC). O projeto barcelonês será denominado Poblenou – distrito de atividades 22@BCN. Entendendo que aquela área industrial seria o melhor local para implantar a alta tecnologia, aproveitando, melhorando e/ou transformando os imóveis industriais já existentes, pois no Plano Geral Metropolitano de Barcelona de 1976, o bairro havia sido considerado área de atividades industriais ou 22a(sua chave no PGMB). Isso implicava, entre outras coisas, a impossibilidade da construção de novas moradias no lugar e ainda tornava ilegal parte das moradias existentes. De junho de 1998 a março de 2001 o projeto foi alterado e modificado, sendo aprovado provisoriamente em setembro de 2000, em março de 2001 eram apresentados dois projetos e em junho mais oito, para a efetivação do 22@BCN. Esse panorama apresentado, de escalas tão diferentes, não encerra o trabalho de entender Barcelona. Ao contrário, agora começa a pesquisa sobre um decantado “novo momento”. Cabe entender os processos que agiram e agem sobre a cidade. A delimitação em um bairro, o Poblenou, segue o Projeto da Prefeitura de Barcelona, porém, não é possível ficar apenas no presente temporal e nem no espaço demarcado. Faz-se necessário superá-los como barreiras impostas pelo visível concreto, caminhando para o não-aparente e abstrato que possibilite o entendimento proposto. Para tanto, entendemos ser necessário um primeiro momento descritivo, marcando e demarcando a temporalidade e a espacialidade que compõem as transformações do bairro. Desse momento descritivo passamos para a Barcelona industrial e pós industrial com o Projeto 22@BCN e as conclusões, analisadas a partir dos conceitos de território informacional e Cidade do Conhecimento. Teoricamente, os dois estudos serão analisados a partir do conceito de Território Informacional que está intimamente ligado ao de Cidade do Conhecimento pois, entendemos, o primeiro é como o ponto de partida para a concretude do segundo. Assim, parte-se do concreto, ou seja, de dois momentos legais, onde a vida na cidade começa a tomar novos rumos em seus aspectos sócio – econômicos, urbanísticos e mesmo cotidianos para uma reflexão, a partir da geografia, sobre a possibilidade do projeto barcelonês como “paradigma industrial”.

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Para finalizar, esperamos que este estudo não retome a lenda El Botxí de Barcelona que, sendo o verdugo da cidade, criou uma discussão entre os membros do Consell de Cent, se deveria morar fora ou dentro das muralhas da cidade. Do debate sem consenso, alguém encontra a solução colocando a sua moradia na própria muralha e assim, o verdugo não moraria nem dentro e nem fora da cidade.

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Criterios, objetivos e soluções gerais de planejamento da renovação das áreas industriais do Poblenou.

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EL POBLENOU

Preguntando a unos y a otros averiguó que la dirección que Delfina le había dado estaba en el Pueblo Nuevo, relativamente cerca de Barcelona. Un tranvía de mulas hacía el trayecto, pero costaba 20 céntimos y como Onofre Bouvila no los tenía hubo a caminar siguiendo los rieles. La calle Musgo era una vía tétrica y solitaria, adosada a la tapia de un cementerio civil destinado a los suicidas. MENDOZA, Eduardo – La ciudad dos prodigios. Barcelona: El Mundo, 2001, p.30

As primeiras notícias utilizando o nome ‘Pueblo Nuevo’, nos jornais barceloneses, são das décadas de 1840 -1850, porém já desde o século XVIII o núcleo habitacional ao sul de Sant Martí de Provençals já tem suas terras legalizadas para venda, portanto, não era de todo desconhecido. Com o crescimento da cidade de Barcelona, chegando nos anos finais do século XVIII aos 130.000 habitantes, aqueles que não conseguiam um lugar dentro das muralhas da cidade, seguiam para os subúrbios rurais ao redor: Sants, Sant Andreu de Palomar ou Sant Martí de Provençals. Também no século XVIII serão instaladas as primeiras manifestações fabris ao sul de Sant Martí , eram as produtoras de “indianes”, um tecido de algodão com impressão colorida de motivos diversos com grande aceitação do público consumidor, provavelmente também pelo baixo custo final. Essas instalações grandes, mas precárias, são a gênese da industrialização no Poblenou, portanto necessárias para gestar um processo, historicamente curto, de formação e desenvolvimento da mão de obra, do mercado consumidor de produtos industrializados e de uma nova classe para comandar a economia, a burguesia. As grandes fábricas do século XIX terão no seu comando esse personagem criado em uma sociedade em transformação, uma sociedade que sai do mundo medieval para o mundo moderno. Fábricas marcam a paisagem com seu gigantismo arquitetônico, mas é no interior que o processo social está se dando. Ainda que, a separação do trabalhador de sua moradia, a “necessária separação” entre trabalhar e morar, criando assim o sentido do trabalho, ou seja, produção a ser alcançada e horário a cumprir trocada por um salário estipulado anteriormente, tem no prédio industrial em si, um fator importante. É a cidade, o bairro cumprindo seu papel na segregação voltada a acumulação capitalista. Em

1859 a queda das muralhas de Barcelona constitui-se num fator importante para o

crescimento da cidade. Anos atrás, o Ajuntament de Sant Martí de Provençals havia solicitado sua emancipação de Barcelona, fato político que não se consolida antes de 1870 e, mesmo assim, por apenas seis meses. Em 1897, o povoamento é definitivamente agregado a Barcelona. A cidade oficializa uma área industrial importante para seu projeto de internacionalização. O povoamento iniciado na Plaça Prim e que teve no Carrer Taulat seu eixo de crescimento, vai aumentar sua população que em 1860 era de 815 habitantes e Sant Martí 9.333 habitantes. Barcelona em 1881 conta com 455.000 habitantes. Nesse momento o Poblenou era formado por oito bairros: Llacuna, Taulat, Plata, Trullàs, França Xica, Darrera el Cementiri, Pequín e Somorrostro. Os dois últimos ligados a imigração das Filipinas em 1870 e a imigração provocada pelas construções

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dos prédios da I Exposição Universal, de 1888. Dois bairros pobres, sendo o Somorrostro um bairro marítimo de barracos situado entre “…Barceloneta, o mar, os tanques do Hospital d’Infecciosos e da fábrica de Gás de l’Arenal e ao Bogatell. Vai existir entre uma data incerta do último quartel do século XIX até o sábado 25 de junho de 1966”, quando o ditador Francisco Franco deveria presidir manobras militares no lugar. No total são 600 barracos derrubados. Nos últimos trinta anos do século XIX o número de fábricas aumentou. O destaque fica por conta do setor têxtil com Can Araño, Can Saladrigas, Escocesa, Canem, Torelló, Can Jances, Muntadas, Casas i Jover, Can Forasté, Juncadella Ferrer i Vidal.Também no setor metalúrgico destacam-se Can Girona e Can Torras i Riviere. A lista de setores industriais ainda inclui o químico, alimentação, aguardente, chocolate, gás, farinheiras, teneria, sabão, ladrilhos, pequenas e médias oficinas e fábricas. Vale dizer que é de 1848 a primeira linha férrea espanhola ligando Barcelona a Mataró e passando pelas praias do Poblenou. Dessa maneira, o bairro ficou isolado em seu extremo, principalmente depois da inauguração da Estação de França e a linha Granollers. As várias passagens de nível atestam o fato. No carrer La Jonquera ficava a passagem de nível para a praia de Mar Bella, sendo o único acesso para alcançar essa praia. A estação ferroviária do Poblenou foi construída em 1886 e, mesmo assim, para servir a metalúrgica Can Girona, por isso, foi construída, não na área central do bairro, mas ao extremo, onde hoje resta a torre d’água na Plaça de Ramon Calsina. O transporte para o bairro, oferecido a partir de 1874, era o tranvia de cavalos, do porto ao Poblenou pelo Passeig del Cementeri. Em 1880 a linha expande ligando o Poblenou ao Clot. De um lado indústrias, transporte ferroviário e tranvia, maquinário, água em boa quantidade, o vapor, marcando uma segunda revolução industrial, cem anos após a primeira, em 1735. Do outro lado, o capital. Representado por muitos setores econômicos, no Poblenou é o industrial o mais importante. Mais importante para os moradores e trabalhadores dos vários ramos, pois nesse momento fábrica e empresário estão metamorfoseados em um só: Can Girona, Can L’Aranyó, Can Felipa, José Canela e Hijos, Juan Ribas y Cia (Palo Alto hoje), Can Ricart. Todos tendo como nome fantasia o nome do industrial fundador e proprietário. Durante um período, o industrial capitalista dividirá o bairro com os operários, porém, isso não representou uma “mistura social”. Aos proprietários cabiam as melhores edificações e um relacionamento com seus pares em festas religiosas ou apenas missas, festas familiares e outros encontros sociais. Dizíamos que a fábrica trouxe uma nova situação, a separação casa-trabalho. O fato de o proprietário morar, inicialmente, no bairro não altera o aprendizado pelo qual todos os agentes passaram. Também ter uma casa dentro do recinto da fábrica não era incomum em Barcelona, é o caso do Editorial Salvat que, em 1916, construiu seu complexo editorial no Eixample, tendo sua residência com entrada independente e jardim. Também os trabalhadores moravam perto da fábrica, em casas da própria empresa ou edificadas em terrenos adquiridos de agricultores e camponeses. Com o crescimento do bairro, casas e fábricas dividem os espaços. Antes de ser um problema, as altas torres, a poluição e o barulho são símbolos da modernidade urbana e industrial em todo mundo e modelo para aqueles lugares que ainda não se industrializaram.

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O século XIX é o da Manchester Catalã. Alcunha conhecida em muitos lugares que, adjetivando o nome Manchester, aludem à importância da cidade industrial inglesa, para sua realidade. Desse modo, bairros e até cidades se “orgulharão” do fato, é o caso do bairro Poblenou, Manchester Catalã; e a cidade de Sorocaba como Manchester Paulista (Brasil), por exemplo. Morar cerca da fábrica não altera a situação dos trabalhadores no plano sócio-econômico, estes continuam sujeitados, cada vez mais, ao capital para sua sobrevivência e a dos seus familiares. Quando os proprietários se mudam para áreas mais “adequadas à sua condição social”, morar no bairro operário passa a ser sinônimo de pobreza. A separação espacial entre áreas de prestígio para os proprietários e áreas de empregados, segrega ainda mais os trabalhadores e altera o valor do solo urbano. As melhorias e equipamentos urbanos no bairro estavam relacionados a manutenção da força de trabalho, assim é que em 1886 um eixo importante para as relações sociais e comerciais do Poblenou é pavimentado, a Rambla Poblenou. No ano seguinte serão construídos os mercados de La Unió e o Del Clot, a rede de clavegueres é de 1876, as instalações de banho marítimas de 1886. As cooperativas L’Artesana, 1876, La Flor de Maig, 1897 e Pau i Justícia, 1895, são exemplos do cooperativismo no bairro e serviam para organizar os trabalhadores, oferecer produtos básicos mais baratos e auxilia-los em momentos de crise. No comércio e serviços entre os anos de 1870 e 1898 temos ainda, entre outros: Restaurant Hermanos Gómez – 1897 La Pubilla del Taulat – 1886 (restaurante) Bar La Riba – 1880 Colmado Masjuan – 1889 (Botiga) La Violeta – 1895 (Botiga) Farmácia Almirall – 1861 Farmácia Audet – 1897 Farmácia Tarré Saforcada – 1888 Balius – 1870 (Ferreteria) Coral – 1860 (Ferreteria) Forn Cal Mingo - 1880 (Forn de pa) Pastisseria Ticó – 1898 Calçats Villarroya – 1870 Instal·lacions Ubach – 1898 (Fontaneria e Eletricidade) O número de tavernas que em 1869 era de 99 sobe para 149 em 1884, o mesmo ocorrendo com os cafés que de 16 em 1877 somam 39 em 1884. Evidente que o bairro continua a crescer em população, serviços e comércio, fábricas, porém, em 1907 teremos início das obras do Pla Cerdá, oficializado desde 1860. A queda das muralhas e o Pla Cerdá possibilitaram uma nova Barcelona,

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com conseqüências diretas em todos os lugares que estavam fora das muralhas, como é o caso do distrito de Sant Martí de Provençals.

O EIXAMPLE

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Ildefons Cerdá i Sunyer (1815-1876) era engenheiro formado em Madrid e fazia parte da burguesia catalã, porém, progressista e liberal, apresentará um projeto de planejamento urbano muito inovador com o objetivo de fazer de Barcelona uma cidade racional e higiênica. Aprovado em 1860, o Pla Cerdá, “…afectava una superfície que era set vegades més grand que la Barcelona d’aleshores i previa transformacions que no coneixia, pel fet que la revolució técnica del m´n urbá tot just havia començat…La trama de Cerdá és encara avui com una illa de racionalitat i funcionalitat dintre 4

del conjunt de la ciutat” . Realmente o Pla Cerdá é, para a época, muito avançado e projetava uma maneira de viver a cidade diferente daquela conhecida, até então, com muralhas. O engenheiro catalão vai forjar o conceito de urbanização com dois sentidos. O primeiro como um conjunto de ações para ordenar as cidades e o outro como um conjunto de princípios, de doutrinas e regras necessárias, portanto, a racionalidade embasando o fazer urbano. Dessa necessária racionalidade, a cidade em expansão será dividida por vias largas e intervias, que fazem a ligação entre elas. A cidade será composta de um núcleo, subúrbios de diferentes tipos (viários, industriais, de crescimento) formando uma região, que é o campo de ação da cidade. Isso implica um desenho quadricular muito homogêneo, a primeira vista, e que “engole” a antiga área murada. Ainda que nessa parte existente, estivessem previstas mudanças também. As vias “formavam um X” na Plaça Glóries Catalanes, com um “corte” ao meio, feito pela Gran Via de Les Corts Catalanes. As quadrículas formavam áreas habitadas e áreas livres de maneira que críticas não faltaram ao plano pela monotonia da paisagem e pela perda de espaços: as intervias tinham 100x100 metros, com ruas de 20 metros. Como se vê, Cerdá não era um visionário ou um sonhador, mas um representante da intelectualidade de sua época. Seu plano dava conta dos símbolos da modernidade e do progresso de então, ou seja, a velocidade, a racionalidade e funcionalismo, a máquina. O desenho do plano obedece à racionalidade dividindo o Eixample em áreas distintas para habitações, parques, jardins, igrejas e mercados, tudo voltado à satisfação das necessidades das pessoas. A velocidade foi contemplada pelas vias e intervias que facilitariam a comunicação rápida dentro da cidade e desta com outras, isso ligava-se a outro símbolo: a máquina. O plano previa a continuidade e expansão da ferrovia (como já foi dito, a primeira linha é de 1848 ligando Barcelona a Mataró) que deveria atravessar toda cidade. Por extensão, facilitará a circulação dos futuros veículos a motor do final do século XIX, impulsionados por pioneiros como a marca inglesa Morris: o automóvel. Todavia, é o próprio Cerdá, em 1863, quem fará as primeiras

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Para apresentar o Eixample, utilizaremos as indicações de CARRERAS, Carles – Geografia Urbana de Barcelona – Espai mediterrani, temps europeu. Oikos tau: Barcelona, 1993

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alterações no plano original, aumentando a área de edificações e em 1870, na parte esquerda do Eixample, será construída a fábrica Batlló que depois seria rodeada por outras empresas. Também Sant Martí de Provençals será atingido pelas quadrículas do Pla Cerdá, porém as indústrias no Poblenou construíram muitas passagens, sessenta ao todo, que alteraram a ocupação prevista pelo engenheiro, aumentando a concentração de pessoas. Do plano original e depois das modificações do próprio Cerdá e outras autorizadas, sobrava ainda hoje o Hospital de la Santa Creu i de Sant Pau ( o mais antigo da Espanha). Ocorre que a partir de 1997 se inicia o projeto para modernização do hospital e em 12 de dezembro de 2000 é colocada a primeira pedra do novo edifício na Ronda del Guinardá, com um total de 80.000m². Dessa maneira, do Pla Cerdá original sobraram as quadrículas – mesmo modificadas – que chamam atenção de quem passeia pela cidade, principalmente caminhando. Sobrou uma forma que foi revolucionária, já que não havia nada conhecido abrangendo uma área tão grande. Cerdá propôs muito mais que uma forma, como já dissemos, é um projeto de vida livre das muralhas, que impediam o desenvolvimento da cidade, das pessoas e da economia. Ainda, Cerdá responde às inquietações de sua época mesclando, no mesmo plano teórico do projeto, idealizações socialistas, como a ajuda mútua que acreditava ser possível na cidade ou a designação, em 1855, de Avinguda Icária para o percurso aberto em 1839 do Cementeri del Poblenou até o Parc Ciutadella, com as pressões de uma sociedade espanhola, então periférica no capitalismo da época, com a hegemonia inglesa e a primeira crise capitalista: o crash da bolsa de Viena, em 1873. O engenheiro precisa, não reformar, mas criar uma cidade à altura de sua época em ebulição. Outro feito, com reflexos na cidade, é a I Exposição Universal de 1888. Carreras distingue três níveis de importância desse evento, são eles (p.91); Nível urbano – pela urbanização da Ciutadella. Nível nacional – afirma a capacidade econômica e organizativa de Barcelona. Nível internacional – supõe a primeira saída a cena da cidade, que desde então tem intentado manter o papel, trocando o guia e as decorações, conforme as diferentes conjunturas. De fato, a I Exposição Universal vai agitar a cidade, atrair uma onda de imigrantes para a construção dos pavilhões da exposição, movimentar muitos capitais e contrair muitas dívidas. Parte dos trabalhadores criarão um dos bairros ligados ao Poblenou, o Somorrostro, que como já dissemos, termina em 1966 com a visita do ditador Franco ao local. Hoje o que era o Somorrostro é a Platja Nova Icária com seu Passeig Marítim, Port Olimpic, Passeig Marítim Nova Icária e Passeig Marítim Bogatell. O primeiro trecho do Passeig Marítim, inaugurado em fevereiro de 1959, parava exatamente onde estava o Somorrostro. Porém, observando o crescimento urbano de Barcelona, vemos que em 1900 pouco havia aumentado da Cidade Condal, mesmo com as anexações distritais de 1897. Isso pode ser explicado,

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Afetava uma superfície que era sete vezes maior que a Barcelona antiga e previa transformações que não conhecia, pelo fato que a revolução técnica do meio urbano somente havia començado…A trama de Cerdá é ainda hoje como uma ilha de racionalidade e funcionalidade dentro do conjunto da cidade. p. 145. Grifo nosso

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de um lado pela própria dimensão do projeto, além das possibilidades econômicas de Barcelona e da pressa que a aprovação pode sugerir já que, dependia também de desapropriação e negociações políticas nem sempre rápidas. Ademais, outras inversões feitas pelos governantes, visando a internacionalização da cidade, como por exemplo a I Exposição Universal. Devemos ainda lembrar que a industrialização se fazia num processo, ora liberal, ora protecionista, o que também envolve inversões governamentais. Vinte e cinco anos depois da entrada do século XX, a cidade praticamente havia dobrado e já era visível a ampliação da Gran Via, a Diagonal cortando o Eixample e o Passeig Sant Joan cruzando a Gran Via na Plaça Tetuan (ligando a Ciutadella ao Eixample). Também a ligação do Distrito de Sant Martí com Barcelona estava concluída em 1925. Nos próximos vinte e cinco anos, o crescimento de Barcelona continuará rumo a metropolização que, em 1957, já está completa. Barcelona apresenta, nesse período: -

Centro degradado,

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Bairros residenciais e comerciantes desafogados,

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Periferia suburbanizada e crescente,

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Área metropolitana definida e, ao mesmo tempo, inexistente juridicamente (p.99) O crescimento demográfico de Barcelona na década de 1950 – 1960, ficará entre 1% e 2,5%

enquanto sua área metropolitana (outros 25 municípios) apresentava 10 a 15% em Cornella de Llobregat e a maioria das áreas entre 2,5% a 10%. Na década seguinte, 1960-1970, enquanto a cidade de Barcelona mantinha os mesmos índices, na região metropolitana aumentava o crescimento populacional, chegando nove municípios a 10% a 15%, Cerdanyola del Valles, Ripollet, Santa Coloma de Gramenet, Cornella de Lobregat, Sant Joan Despi, Sant Boi de Llobregat, Viladecans, Castelldefels e Sant Vicenc dels Horts, enquanto os demais ficavam entre 2,5% a 10%. Em 1960, outra importante alteração ocorreu, a aprovação da Carta Municipal ou Lei de Regime Especial do Município. Isso permitiu intensificar a saída das indústrias da cidade de Barcelona para outra periferia e a requalifica para implementar o setor terciário e ampliar as funções residenciais (p. 100). O fato ajuda a explicar o aumento populacional em alguns municípios da área metropolitana, ao mesmo tempo que o “abandono” das áreas tradicionais, como o Poblenou. A década de 70 será crucial para a indústria tradicional na cidade de Barcelona e na Espanha em geral. O Pla General Metropolità de Barcelona de 1976 distribuiu o solo urbano em zonas, classificando as indústrias e similares conforme os efeitos nocivos para a saúde – a salubridade e o incômodo ao meio ambiente do entorno onde estão situadas. O artigo 348 das Normas Urbanísticas (NNUU PGM) define como área industrial: “...é qualificada de zona industrial o solo destinado a localização de indústrias e armazéns (depósitos) que pela natureza da atividade ou dos materiais ou produtos que tratem, ou dos elementos técnicos empregados, não gerem situações de risco para a salubridade ou a segurança ou não seguem susceptíveis de medidas corretivas que eliminem todo risco à saúde e a segurança, tanto pessoal como ambiental, ou de degradação do meio ambiente.”

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Definido o solo para a zona industrial, também a divide em 6 categorias, baseada na utilização de KWS e 6 situações, conforme a sua localização. Essas duas divisões estão ligadas a classificação das indústrias acima citadas e implicam a permissão das indústrias em 7 zonas. Além do Pla General Metropolità de Barcelona, a indústria tradicional adentra a crise geral de setor, que já se anunciava ao mundo desde o final da década de 60, e agrava-se com a “crise do petróleo” de 1973 e, em 1978 “ a falida da indústria tradicional criava desemprego, frenava o crescimentos das rendas e nublava o horizonte econômico dos cidadãos. Esta falência industrial, a mais, era geral: o setor têxtil recuava em toda Catalunha, a SEAT baixava a produção sem parar, a linha branca de eletrodomésticos quase desapareceu” (p.103). A Catalunha, juntamente ao País Vasco, que em 1950 já eram regiões totalmente industrializadas, diferenciando-se do resto da Espanha, agora precisavam buscar outros caminhos para a crise instalada. Vale destacar também que a tecnologia da informação estava em pleno desenvolvimento na década de 70, com importantes inventos na microeletrônica, o desenvolvimento de softwares e hardwares, menores e mais rápidos, principalmente nos EUA. Esse fato, aparentemente, sem ligação com a crise mundial da década de 70 será, a curto prazo, um dos ingredientes para a reestruturação das economias e das cidades, como veremos mais adiante. Retomando o Pla General Metropolità de Barcelona e a situação da indústria barcelonesa, a redefinição das áreas industriais vai possibilitar o deslocamento das empresas, uma posterior “especialização” e um processo de desindustrialização da cidade entre as décadas de 1980-1990, mais especificamente entre 1986 -1995, que pode ser destacada para as seguintes áreas: Energia – Sant Adrià del Besòs Extração Mineral – Gavà, Montcada e Reixach Química – Rubí, El Prat, Martorell Maquinaria – Rubí, Barberà Material de Transporte – Martorell, El Prat Alimentação – Vilafranca, S. J. Despí, Martorell, Granollers Têxtil – Mataró, Terrassa, Sabadell Fusta – L’Hospìtalet Artes Gráficas – Esplugues, Sant Adrià Plástico – Cerdanyola, Montcada, Cornellà, Barberà Transporte – El Prat Educação – Cerdanyola, Sant Cugat Saúde – Hospitalet, San Cugat. A cidade de Barcelona, nesse período, apresenta elevados índices nos setores de prestação de serviços, segurança, comunicação, administração pública, material de transporte, saúde,

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comércio, hotelaria, edição e artes gráficas (ECD, p. 68-9). Porém, antes de continuarmos, é necessário ainda apresentar um outro momento, da mesma importância que importante o Pla Cerdà de 1860, para o desenvolvimento e a transformação urbana de Barcelona: os Jogos Olímpicos de 1992.

BARCELONA E OS JOGOS OLÍMPICOS Para o estudo que estamos fazendo, o fato da construção da Vila Olímpica, o Port Olímpic, Parc Port Olímpic, situados ao lado esquerdo do limite do Poblenou, já seriam suficientes para destacar a importância urbana dos jogos, porém, os Jogos Olímpicos de 1992 são parte de um processo internacional que inclui mas supera a cidade de Barcelona que, sorteada em 1986 para sediar os jogos, está imersa em uma crise do modelo industrial, portanto crise econômica, desde a década de 1970. A Olimpíada de Barcelona foi mais uma etapa na desejada internacionalização de Barcelona pelos cidadãos e o poder e uma sinalização de novas potencialidades, agora não mais como a Manchester Catalã, modelo de cidade que se desenvolve através da indústria e sim, de cidade turística. Durante e depois dos jogos, Barcelona será vista por milhares de pessoas em todo o mundo. Para tanto, foram feitas grandes inversões com capital público e privado, dotando a cidade de infra-estrutura para atender aos jogos e ao público que acompanhou em todo mundo, seja visitando a cidade ou assistindo as transmissões televisivas. A transmissão dos jogos veio acompanhada de uma grande campanha de divulgação da cidade, basta lembrar a produção do desenho infantil Cobi, um cachorro estilizado por Xavier Mariscal e que retratava as aventuras do personagem e seus amigos por Barcelona, hoje exposto na Galeria Olímpica na Anella Olímpica de Montjuïc, uma das quatro áreas utilizadas nos jogos de 1992, onde está o Estadi Olímpic de Montjuïc. Além dessa área, temos o Port Olímpic onde aconteceram as provas de vela e a Vila Olímpica, um novo bairro, criado para alojar os atletas, com arquitetura moderna dos projetistas de Barcelona. Também por suas ruas, encontramos muitas esculturas e toda fachada marítima recuperada. Foi grande o entusiasmo entre os cidadãos, mesmo antes de saber se os jogos aconteceriam ou não na cidade, contingente que ultrapassou 100.000 pessoas entre tradutores, pessoas de apoio técnico, informações, auxiliares de competição e todo suporte para a travessia da tocha olímpica pelo país. Foram quatro as áreas olímpicas – Montjuïc, Diagonal, Vall d’Hebron e Parc de Mar – abrangendo uma superfície de 140 a 210 ha, estrategicamente distribuídas para facilitar o transporte, alojamento, segurança e comodidade dos jogadores, equipe técnica e público. Seguindo o esquema do Guia de Barcelona’92 editado pelo Comitè Organitzador dels XXVns Jocs Olímpics (COOB’92 S.A.) temos: 1. Área de Montjuïc – Centro nevrálgico dos jogos, com o Anel Olímpico composto pelo Estadi Olímpic, o Palau Sant Jordi, as Piscines Picornell e a Universitat de l’esport, na qual foram disputados 12 esportes. Próximo estava o Centre Principal de Premsa e o Centre Internacional de Radiotelevisió.

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2. Área de la Diagonal – Na parte alta da cidade, com as instalações do Futbol Club Barcelona e o Reial Club de Polo, foram disputados 5 modalidades esportivas. 3. Área de Vall d’Hebron – Nessa área estão o Velòdrom Municipal, os Camps de Tir amb Arc, quadras de tenis de teixonera, um Pavelló d’Esports e o Frontó de Pilota Vasca, onde foram disputados 5 esportes. 4. Área de Parc de Mar – É o local da Vila Olímpica, com capacidade para 15.000 pessoas, foi onde se alojaram atletas e juízes. Anteriormente essa área era uma área industrial que foi transformada com habitações e equipamentos sociais. Nela foram disputadas as competições de vela na Base Náutica de Nova Icària, El Mercat del Peix para o Badminton e l’Estació del Nord para o tênis de mesa. A Vila Olímpica, após os jogos, foi comercializada, transformando-se em um bairro de classe média, muito diferente do ex-bairro operário do Poblenou, ao seu lado. De todas as formas, os Jogos Olímpicos de 1992 aconteceram em um momento importante para Barcelona e para toda Espanha. No plano internacional, é a entrada dos países na unificação do mercado europeu (Espanha e Portugal haviam sido incluídas em 1981 na CEE, depois CE) rumo à moeda única, efetivada em fevereiro de 2002.Também as inversões públicas e privadas no ramo tecnológico, para atender a demanda dos jogos, possibilitou o desenvolvimento dos projetos de alta tecnologia futuros em um momento de revisão do papel de Barcelona no bloco da Comunidade Européia. Bloco esse preocupado com a expansão tecnológica e informacional dos EUA e o segundo plano que a Europa passou a ocupar, ou podemos dizer, terceiro lugar, pois a tecnologia e o desenvolvimento alcançado pelo Japão estava à frente da CE. Assim, a Europa como um todo, buscava, pelo menos, uma equiparação do desenvolvimento tecnológico americano. O nascimento de áreas destinadas exclusivamente a pesquisa e desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação espalham-se pelo continente, donde podemos citar as cidades de Cambridge (1970) e Londres (1995) na Inglaterra; Estolcomo e Ronneby (1996) na Suécia; Baden Würtenberg (1996) na Alemanha, Oulu (1993) na Finlândia; Torin (1993) na Itália. Era a resposta européia ao predomínio americano. Em 1992, Barcelona dos Jogos Olímpicos, será a capital mundial do esporte por muitos meses do ano, antes e depois dos jogos, com tudo que isso traz de marketing, inversões, turismo, circulação de pessoas e idéias, melhorias urbanas, etc. O processo de transformação para a nova economia estava iniciado, porém, ainda esperaria mais alguns anos para a concretização. Em decreto do Ajuntament de Barcelona, de 9 de junho de 1998, será apresentado ao público, por 30 dias, o documento “Criteris, objectius i solucions generals de planejament de la renovació de les àrees indústrials del Poble Nou” que, após uma prorrogação, recebeu 26 sugestões e, em 25 de março de 1999, o alcade aprovou provisoriamente o documento. Após os trâmites legais obrigatórios, o Consell Plenari de l’Ajuntament também aprova provisoriamente e, finalmente, em 27 de julho de 2000 a Subcomissão de urbanismo do município de Barcelona aprova a MPGM – Modificaciò del Pla General Metropolità a la Renovació de les àrees industrials del Poble Nou – Poble Nou. Districte

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d’ativitats 22 @ BCN – Text Refós. É a entrada de Barcelona no seleto grupo das cidades européias que estão investindo na pesquisa e desenvolvimento da alta tecnologia. Como afirma Carreras, é o espaço mediterrâneo e o tempo europeu. Isso porque, apesar de certa semelhança na escolha do lugar (o bairro do Poblenou, antiga zona industrial de Barcelona) como outras cidades européias já fizeram, Torino, Londres, Ronneby por exemplo, o novo está na maneira como o espaço mediterrâneo será aproveitado, ou seja, como os vários agentes se apropriarão dos fluxos que ali serão disponibilizados.

ESPAÇOS DE FLUXOS NO MEDITERRÂNEO A fluidez, hoje necessária para a garantia do papel de cidade contemporânea, está focalizado nas redes telemáticas. Partindo dessa premissa, que é mundial, Barcelona, a partir de 1998, inicia um processo de transformar um espaço, antes industrial, com a tecnologia exigida para as chamadas cidades do conhecimento. A gênese desse processo pode ser buscada já em 1992 quando o COOB’92 percebe, acertadamente, a necessidade de dotar a cidade com a mais avançada tecnologia de comunicação existente, para a eficiente cobertura dos jogos pelos meios de comunicação. Percebeu que era necessário “processar a felicidade” como uma informação que estaria contida no fluxo de pessoas e idéias, ou seja, “a felicidade construída” para ser distribuída pelo mundo através 5

dos muitos turistas e profissionais que aqui aportaram . Nesse sentido o suporte fixo foi construído visando a flexibilização dos usos, ou seja, que após os jogos, os prédios, Vila Olímpica, hotéis etc. pudessem ser aproveitados para outras atividades. A desindustrialização da cidade e os investimentos no setor terciário, principalmente no turismo internacional, foram a tônica dos últimos anos. As informações contidas no MPGM – Text Refós indicam que entre 1993 -1998 o setor de serviços cresceu 20% enquanto o industrial reduziu 17%, isso em relação à quantidade de m² utilizados. Assim temos: Indústria, 5.000.821m² em 1993 e 4.166.545m² em 1998 e Serviços, 9.473.953m² em 1993 e 11.413.221m² em 1998. Dentro desse setor, as atividades que apresentaram maior crescimento em ocupação territorial foram: de serviços culturais, ócio e feiras com um total de 57%, de 771.820m² em 1993 para 1.210.853m² em 1998; serviços de promoção imobiliário de 52.804m² em 1993 para 90.633 em 1998, indicando um crescimento de 72%. Por outro lado, os serviços de ensino e investigação sofreram um aumento de 9%, passando de 1.228.850m² em 1993 para 1.341.578m² em 1998, ficando a frente apenas dos serviços de segurança, aluguel de bens imóveis e serviços financeiros. Este último com um decréscimo de 5%, de 805.422m² para 768.766m² em 1993 e 1998, respectivamente. Em relação aos postos de trabalho, os números indicam que em 1999, Barcelona tinha 78% dos locais de trabalho na cidade no setor terciário, quando em 1991 era de 66%.

A flexibilidade e o direcionamento para os serviços,

trouxeram também uma “nova forma de viver” em Barcelona: os Lofts.

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Para utilizar uma imagem mais próxima do que estamos tentando exprimir, podemos citar a música do compositor Tom Zé , Menina Jesús, quando afirma “ Vai, viaja, foge daqui que a felicidade vai atacar pela televisão”.

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OS LOFTS EM BARCELONA Grosso modo, os lofts são velhas edificações, fábricas principalmente, que se transformam em estúdio e casa conjugados para artistas plásticos, fotógrafos e outros profissionais que reaproveitam o grande espaço deixado pelas instalações fabris anteriores. Em Barcelona, Xavier Mariscal – projetista valenciano – já nos finais da década de 80, comprou parte de uma antiga construção fabril do século XIX para seu atelier e casa, rebatizando o prédio da Calle Pellaires, 30, no Poblenou, de Palo Alto, copiando o modelo dos norte americanos. Pronto, outras empresas seguiram o exemplo do valenciano, a Winchester Art School, o interiorista Fernando Sala, a XYZ, empresa fotográfica, o cineasta Bigas Luna, foram alguns desses profissionais liberais a buscar uma alternativa para o morar e trabalhar juntos. Outra iniciativa em 1997, agora na Calle Trafalgar foi da empresa Rustic Corner que transformou um velho edifício em edifício de lofts já totalmente comercializados com um preço de 240.404,85 € por 80m². Conforme essa mesma empresa, as áreas escolhidas para os lofts são Poblenou, Grácia e Raval, porém aponta que em Barcelona existe em torno de 300 lofts e, arrisca um palpite: hoje já não existem espaços para novos lofts. Apesar dessa aposta, podemos ver, andando pela cidade, anúncios imobiliários oferecendo esse tipo de taller/estudio-vivienda. Ocorre que essa transformação no modo de morar e trabalhar não atinge, de imediato, todos os segmentos sociais que podem dele se utilizar. Hoje o perfil apontado para um comprador de loft é o/a profissional liberal entre 32 e 42 anos e sem filhos. Exatamente o segmento produtivo que pode ser colocado em um setor quaternário ou, aumentando a complexidade, os que não podem ser colocados na clássica divisão setorial primário, secundário, terciário. Muitos desses profissionais liberais estão alocados em áreas intermediárias entre a produção e o consumo, que é o caso dos softwares e hardwares. Ou entre a produção e a distribuição, no caso da logística do CIS, desenvolvidos por muitas empresas internamente ou através da contratação de serviços, voltados à melhoria da qualidade da entrega e prazos. É a situação que o geógrafo Armando Corrêa da Silva, já na década de 80, questionava existencialmente, naquele momento chamando esse trabalhador de tecnólogo: quem é esse novo trabalhador? Passadas duas décadas, já temos um perfil e podemos visualizar esse trabalhador, sem os estereótipos dos NERDS ou dos HACKERS, ainda existentes e folclóricos no seu “formato original”. Cada momento tenta definir seu personagem nascente: hippie, hyppies, yuppies, nerds, bobos, etc. O fato é que, longe desses sociologismos, o espaço das cidades vai se transformando e transforma o modo de viver na cidade. Planos e projetos tentam dar conta das necessidades dos novos moradores, nem sempre levando em conta as necessidades dos velhos moradores. O secular confronto entre o novo e o velho na cidade, hoje não tem mais a imagem do trator destruindo a velha 6

paisagem para erguer o arranha-céus novo e brilhante. Isso é literatura infantil . A sutileza do momento informacional vem “cabeado em fibra ótica”. Mais que uma simples materialidade técnica, um aparato a mais, essa fluidez é uma “entidade sócio-técnica” (SANTOS, 1996:219). 6

Estamos nos referindo ao personagem do Castelo Rá-tim-bum , Dr. Abobrinha, que quer destruir o Castelo para construir o maior arranha-céus do Brasil, na história e série criada por Karl Hamburguer para a Rádio e Televisão Cultura.

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A fluidez que a informacionalidade permite, transforma a maneira como as ações podem ocorrer no espaço e vem acompanhada de uma desregulação que é mundial, assim como de uma informação e um discurso também universais (Idem, idem). Dessa maneira, essa entidade sóciotécnica, que é a fluidez, deve ser incorporada no discurso local como uma possibilidade do lugar transformar-se em universal. Essa sutileza da troca de papéis entre o local e o universal não deverá ser percebida de imediato pela população, principalmente do local que será transformado. O não entendimento ou a não percepção da inversão discursiva descaracteriza as lutas por necessidades que o bairro, ou aqueles que o representam em associações de vizinhos, acreditam que sejam básicas, principalmente quando estas aparecem ligadas à história das pessoas com e no bairro. Alguns podem perceber a oportunidade de transformação como algo positivo para todos, assumindo o discurso universal como local. Desses depende também o sucesso das transformações no bairro, pois podem ser formadores de opinião. Percebemos que estes são os que, nas reuniões reclamam quando algum morador pergunta – e se pergunta – quanto será afetado pelas modificações. No caso dos lofts e do Poblenou, estamos diante dessa situação, senão de confronto, pelo menos de encontro entre o local e o universal. O discurso local não é suficientemente hegemônico para “impedir” ou barrar as ações do outro discurso ligado ao capital nacional e internacional. Dessa maneira, as transformações no bairro se processam dentro das perspectivas daqueles que detêm o poder.

A TRANSFORMAÇÃO DO POBLENOU Nadie hablará de nosotras cuando hayamos muerto... Augustín Díaz Yanes (citado in Revista Icaria n. 5, 2000, p. 3)

A Calle Pellaires, 30 onde Xavier Mariscal montou seu loft no entusiasmo dos Jogos Olímpicos de 1992 em Barcelona, está em um dos extremos do Poblenou, próximo à Diagonal Mar. Rebatizado de Palo Alto, o discurso universal, desregulando um uso, pôde preservar o antigo edifício fabril. A Calle de Llull, 133 próxima ao centro do Poblenou na Rambla Poblenou tem outro conjunto de lofts. A antiga fábrica, o Vapor Llull foi reabilitada pelos arquitetos Cristian Cirici e Carles Bassó, entre 1996-1997, ganhando os prêmios Ciutat de Barcelona de arquitetura e urbanismo e o Prêmio Bonaplata de reabilitação em 1997. Constitui-se em 18 módulos para oficinas, escritórios, estudos e espaços habitáveis onde estão, por exemplo, Ana Coelho Llobet (arquiteta), Nous Espais Arquitectònics SL (engenharia civil), Zindara Producciones SL (produtora de vídeo, cinema e espetáculos). Esses novos fluxos e fixos no Poblenou, que anteriormente era identificado como a Manchester Catalã, por suas indústrias, fazem parte do esforço de dotar a cidade com espaços de tecnologia e ao mesmo tempo garantir a tradição. Dessa forma, para a necessária modificação do

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PGM de Barcelona, já que o Poblenou era considerado zona industrial, ou 22a na simbologia do PGM, a direção do Ajuntament contou com um estudo do Institut Català de Tecnologia intitulado Estudi Ciutat Digital (s/d). O estudo está assim dividido: 1. Introdução aos principais conceitos. 2. A nova Cidade do Conhecimento. 3. Análise Territorial. 4. O novo setor produtivo: espaço e atividades. 5. Conclusões. 6. Anexos. Vale a pena uma análise mais detalhada desses cinco capítulos, já que serviram para a Modificação do PGM, definindo uma postura teórica importante para o futuro do Poblenou como materialidade a ser modificada e, também, como universalidade a ser adotada.

INTRODUCÃO. JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS DO ESTUDO A introdução inicia com duas frases que servem como indicadores da linha mestra do trabalho. A primeira é da obra de Drucker, La sociedad postcapitalista, onde somente pelo título da obra já poderíamos perguntar se o estudo parte do pré-suposto da economia pós-capitalista. A frase citada indica a transformação dos valores básicos da sociedade, da estrutura política e social, da visão de mundo etc. E seria precipitado afirmar os pré-supostos sem apresentar o trabalho.

A

segunda frase na verdade é um verbete do Diccionari General de la Llengua Catalana: Revoluciò, canvi total, radical. Ambas, sugerem que o grupo elaborador do estudo acredita que realmente estamos vivendo um momento de câmbio total, de mudanças na raiz da sociedade, naquilo que a forma para o presente e o futuro, distinto do momento próximo anterior. Dessa forma, o estudo explica que o primeiro capítulo “aborda os elementos que modelam o câmbio”...começando com o primeiro e mais importante: o estudo da nova sociedade da informação e conhecimento (sic), sobre três pontos de vista: a explicação do processo e suas implicações (subitem 1.1), a infra-estrutura necessária (subitem 1.2) e as novas atividades produtivas (subitem 1.3). Com isso, do primeiro conceito – sociedade da informação e conhecimento – o próximo é a sustentabilidade (subitem 1.4) para abordar no subitem seguinte (1.5) o planejamento urbano e a arquitetura adaptável ao século XXI. O capítulo dois estuda a Cidade do Conhecimento em uma abordagem da produção do conhecimento local, “esta é a base da Cidade do Conhecimento”, razão de ser da economia e de localização. Aponta a importância da mudança do paradigma educacional – de enciclopédico para analítico – e o papel das universidades e das empresas interrelacionadas nesse processo. O terceiro capítulo faz a análise territorial apresentando dois conceitos para tratar a cidade: cidade difusa X cidade compacta. A proposta é de uma Barcelona como cidade mediterrânea compacta e densa,

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heterogênea em sua extensão. No quarto capítulo, fechando o estudo, as propostas concretas para Barcelona (Região Metropolitana) e o bairro Poblenou. Em seu conjunto, o estudo tem como objeto a definição do conjunto de condições urbanas da Região Metropolitana de Barcelona que possa unir: -

desenvolvimento sustentável e melhora de qualidade de vida.

-

As vantagens e necessidades da tecnologia de informação.

-

Que atuem como catalisadores dos novos setores produtivos e modelo para a nova sociedade do conhecimento. Pela definição do objeto de estudos, o Institut Català de Tecnologia reafirma o que dissemos

sobre sua contribuição fundamental no direcionamento das Modificações do PGM. Passemos então aos pontos mais elucidativos ou críticos do estudo.

1. INTRODUÇÃO AOS PRINCIPAIS CONCEITOS 1.1 A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO CONHECIMENTO: ELEMENTOS E OBJETIVOS O primeiro capítulo é o teórico, o embasamento que vai permitir considerar o bairro Poblenou como paradigma de um novo solo industrial da Catalunha (p.88). Sendo paradigma a série de conceitos, formulações e métodos aceitos pelas comunidades científicas (cada qual em sua área de atuação), a definição do objeto de estudo deve possibilitar a passagem do modelo industrial para um modelo pós-indústrial, baseado nas tecnologias da informação, portanto informacional. Porém, sem que se constitua um dualismo com o industrial vigente, mesmo que em transformação também. O estudo, que passaremos a denominar pela sigla ECD (Estudi Ciutat Digital) define, baseado em alguns autores como Castells, Mayó, Drucker, o que é e como deve ser entendido o termo tecnologia da informação e comunicação ou TIC simplesmente: “ o conjunto convergente de tecnologias da microeletrônica, informática (máquinas e software), telecomunicações/rádio/televisão e ótico-eletrônica. Alguns autores também incluem a engenharia 7

genética no grupo das TIC...” E, mais importante, al voltant das tecnologias da informação, uma revolução está se processando: a.

pela própria natureza da tecnologia e a sua implantação.

b.

por implicações sociais.

No caso do item A, aponta ainda duas características intrínsecas das TIC que contribuem para a revolução: 1.

A sua capacidade de portar qualquer tipo de informação no formato digital.

2.

A possibilidade de interação com o resto dos setores produtivos.

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A tradução de al voltant é ao redor, porém, falta na tradução o peso da palavra catalã. Mesmo o castelhano al derredor não consegue, ao nosso ver, passar a “ligação sem estar dentro”, unicamente das TIC.

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Em relação à característica 1, o fato possibilitou o intercâmbio de várias linguagens e o surgimento do setor de multimedia e, a característica 2 possibilitou um melhor aproveitamento dos setores produtivos tradicionais racionalizando ainda mais os serviços rotineiros através da automação. Fecha o item A com mais cinco características que, conforme Castells (1996) “constituem o núcleo do novo paradigma tecnológico”: 1.

São tecnologias por atuar sobre a informação, não mais informação para atuar sobre a tecnologia como era o caso das revoluções anteriores.

2.

A capacidade de penetração dos efeitos das novas tecnologias.

3.

A lógica da interconexão.

4.

A flexibilidade.

5.

A convergência crescente de tecnologias específicas em um sistema altamente integrado.

O item B, sobre as implicações nos diferentes âmbitos da sociedade, apresenta algumas afirmações gerais e muito difundidas quando o tema é o mundo interconectado: a desnecessária presença física em tempo real e que desde qualquer ponto se pode ter acesso aos dados. A Internet é o exemplo mais claro de uma rede mundial, ou como afirma o texto, “a rede das redes”, o que a definição de Esther Dyson citada reforça, “a Internet é sobretudo um entorno onde milhares de pequenos lares e comunidades se formam e se autodefinem” (1997). Outra novidade é a linguagem, o hipertexto, que conforme Millán (1998) “exige novas formas de interpretação e também novas formas de ensino e aprendizagem”. Isso culmina na Era da Informação que, para Castells (1999) “a geração, o processamento e a transmissão da informação se converteram nas fontes fundamentais de produtividade e do poder”. E Joan Mayó (1997) completa: “a era da informação implica que esta não é somente um fator de produção senão também um fator direto de consumo, com todas as implicações que isso comporta. Ademais, como fator de produção tem características que o diferenciam dos clássicos terra, trabalho e capital: a informação não é escassa e é compartilhável”. Finaliza essa primeira parte com a equação de Alfons Cornella onde Sociedade da Informação = (Economia da Informação) * (Cultura da Informação), com os seguintes aspectos: Economia da Informação - Desregulação das telecomunicações. - Infra-estrutura. - Custo de acesso à Internet. - Ambiente regulatório (nacional e da UE). Cultura da Informação - Atitude ante a tecnologia. - Formação. - Cultura multilíngue. - Capacidade de buscar e ordenar informação

Definido isto, faz-se necessário que os dois termos da equação tenham condições de crescer de maneira igualitária, a sociedade chegue a todos sem exclusões e que os diferentes agentes sociais estejam implicados. Esses são objetivos a serem atingidos para que a informação possa melhorar a qualidade de vida de todos. O quadro abaixo mostra os elementos e os objetivos a serem atingidos (p.7):

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ELEMENTOS TIC

OBJETIVOS TIC

Aportação crescente do PIB Ativar o mercado (massa crítica) Convergência de formatos

Evitar a integração vertical

Influência a outros setores

Câmbio de atitude tecnológica de empresas e pessoas

REDE (interconexão)

REDE (interconexão)

Internet

Estimular o consumo (com políticas de preços e infra-estrutura)

Globalização da Economia Modelo de organização flexível Interação

Conseguir posição competitiva ao novo modelo Câmbio nas organizações Participação

Os itens 1.2 e 1.3, O setor das tecnologias da informação e comunicação e as novas atividades produtivas, respectivamente, dão conta do crescimento do setor relacionado às TIC, destacando como exemplo principal o caso norte-americano e apontam as novas atividades e as dificuldades inerentes às classificações, e a proposta feita pelos professores da Universitat Politècnica de Catalunya (p.21) para os serviços avançados é a que segue abaixo:

classificações e a proposta feita pelos professores da Universitat Politècnica de Catalunya (p.21) para os serviços avançados é a que segue abaixo: Além dos serviços avançados, teremos os Centros de Saber e os referidos às TIC, na tentativa de relacionar as novas atividades. Como Centro de Saber, além daqueles ligados ao ensino e à pesquisa, também os que atuam como processadores, receptores e difusores do conhecimento (museus, bibliotecas, editoras, empresas de criação e audiovisual, associações profissionais), a missão é formar e oferecer meios para o desenvolvimento das pessoas. Nos campos relacionados com as TIC estão destacados, o setor multimedia, desenvolvimento de software, redes, serviços de telecomunicações. O item 1.4, Desenvolvimento sustentável e qualidade de vida, adentra ao tema da urbanização propondo uma definição desse conceito para o item 1.5 fazer uma reflexão sobre o urbanismo e propor um câmbio do modelo atual. Esses dois itens encerram o capítulo 1 e o que se segue é uma abordagem sobre a nova cidade do conhecimento no capítulo 2. Porém, é interessante demarcar como o ECD vai entender o desenvolvimento sustentável pois, é um conceito que permeia todo o estudo. Na busca do conceito a ser utilizado, o ECD cita uma gama muito extensa de autores que trabalharam esse conceito e seus diferentes usos e também os encontros internacionais sobre a

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relação entre cidade e sustentabilidade, começando em 1987 com o projeto Cidades Saudáveis da Organização Mundial da Saúde, a ECO 92 no Rio de Janeiro, o HABITAT II em Istambul de 1996, a Rede de Cidades e Povoamentos Sustentáveis de Barcelona em 1997, a conferência EuroMediterrânea de Cidades Sustentáveis em Sevilha de 1999. Depois disso tudo, o modelo urbanístico proposto segue o esquema Cidade do Conhecimento MODELO

CIDADE DIGITAL

Cidade Sustentável

Novos Setores Industriais

Cidade Sustentável – com mínimo impacto ambiental e riscos nos suportes. Um novo modelo de desenvolvimento: racional e coerente, compacta e diversa, máximo contato e intercâmbio de informação e também a sua transformação em conhecimento aplicável a todas as atividades que tem lugar ao ecossistema urbano. Ao mesmo tempo com a cidade do conhecimento receptora, geradora e transmissora. Dessa forma é possível dotar as pessoas de mais e maior qualidade de vida que serão cidadãos competitivos e dotarão competitividade ao território. Novos setores industriais – setores tipicamente urbanos com necessidade de espaço e localização e também não contaminantes, precisam de espaços urbanos com infra-estrutura para seu desenvolvimento. 2. A CIDADE DO CONHECIMENTO (p. 33-49) O segundo capítulo divide-se em quatro subitens: 2.1 Introdução, 2.2 A sociedade do conhecimento, 2.3 A função das cidades na sociedade do conhecimento, 2.4 Elementos essenciais da nova cidade. Com base nos conceitos já apresentados o ECD parte para uma caracterização da cidade e da sociedade do conhecimento baseadas nas TIC. A informação passa a ter um papel destacado na constituição da cidade, se antes a quantidade e qualidade da informação eram secundárias ou pareciam estar em segundo plano, hoje a matéria prima e o produto com que se elabora o conhecimento é justamente a informação (p.34) e, é necessário reconhecer as muitas facilidades que a rede oferece no intercâmbio, principalmente de mensagens. Assim, é no segredo, não acessível imediatamente a todos, que está a “matéria prima e o produto” com que se elabora o conhecimento e, por mais contraditório que pareça, um segredo é “estar em rede para existir”. Dessa forma, a sociedade do conhecimento parte de algumas demandas necessárias: capacidade de compreensão, recursos de adaptação, responsabilidade para mensurar os processos e compreender seu funcionamento. O exemplo utilizado pelo ECD para o fim do “ensino enciclopédico é o fato de “quando um exemplar dominical porta mais informação do que podia

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conhecer ao longo de sua vida um estudioso monge medieval, o ensino enciclopédico deixa de ter sentido” (p.37). A formação permanente e continuada passa a ser o ideal de ensino-aprendizagem como relação importante na constituição da cidade do conhecimento. Emergem com isso também outras formas do conhecer além da intelectual (reflexão, criatividade, imaginação), das habilidades de gestão (pessoais, organizacionais, trabalho) aceitando também as capacidades emocionais (afetividade, convenções pessoais). O câmbio é tão grande que o ECD afirma: “Os indivíduos enfrentam a uma importante troca cultural com o desaparecimento do status quo, a qualquer nível. Nenhum sobe definitivamente em nenhuma parte. A única norma é a troca permanente e a da adaptação constante a cada novo momento (p.37)”.

O ECD até aqui está sugerindo que a sociedade do conhecimento será sempre processo? Vejamos a política do conhecimento: “O respeito à pluralidade informativa e ao intercâmbio real da informação sem imposições dogmáticas e de forma plural é o único que pode garantir a plena realização da sociedade do conhecimento (p.38)”.

E, “A crescente importância que adquirem as interelações entre diversos elementos fará que os poderes públicos centrem, em boa parte, sua atuação em propiciar o estabelecimento destas relações e velar por seu equilíbrio (p.38)”.

Não mostra, até aqui o estudo que a alta tecnologia não irá moldar o bairro, ao contrário, é o Poblenou quem está possibilitando sua implantação em Barcelona. Com isso, a constância do processo, ou o Poblenou como paradigma do novo solo industrial da Catalunha, será hegemônico e aceito até que um novo paradigma o substitua. Dois são os tipos de conhecimento apresentados pelo ECD (p.36). Como codificado, aquele que se pode estruturar como uma mensagem e tratar posteriormente como uma informação e possível de ser colocado em um suporte externo, possível de converter-se em produto, e o conhecimento tácito ou o que é implícito e não formal, que dificilmente pode ser configurado em um suporte e transmitido como informação pois ‘sabem mais do que são capazes de expressar’, tendo como exemplo o Know How. Muito bem, esses “dois conhecimentos” estão inter-relacionados na realidade vivida, desde que possamos ampliar o conhecimento tácito para além do Know How e que o conhecimento codificado inclua o suporte humano, pleno de experiências, o único – ainda – possível de transmitir emoções e que o produto final gere outras maneiras de conhecimento tácito. Nessa dialética pode estar a geração de valor, porém valor agregado e na interação entre o espaço transformado e as pessoas que nele vivem. O subitem 2.3 trata da função das cidades na sociedade com conhecimento, tendo a cidade como o “âmbito de referência da cidade do conhecimento” (p.39). Essa afirmação, quase uma definição de cidade, pois âmbito implica um conjunto de circunstâncias, relações e conhecimentos relacionados por um ponto em comum, aqui o conhecimento e, ao mesmo tempo, pode ser um espaço determinado, Barcelona. Não é um processo novo eleger a cidade como o local ideal para

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desenvolvimento das atividades produtivas e de conhecimento. Já na primeira fase da revolução industrial na Inglaterra, entre 1760 e 1860, a cidade será o palco da concentração da atividade industrial, da aglomeração de pessoas e das transformações tecnológicas, como por exemplo a ferrovia, em 1825. Esse processo que comprometeu a ordem social, então vigente, se estendeu, entre crises e superações por todo o globo como o modo de produção capitalista, evidente que os tempos não foram os mesmos para todos os espaços. De volta ao ECD, eleger a cidade não constitui algo excepcional, porém, a forma de elegir é o que realmente interessa. Aceitando o que foi dito anteriormente como uma definição de cidade, o estudo prossegue para chegar às suas funções, considerando o novo contexto que as TIC abriram para o mundo. Essa internacionalização “gera uma interdependência cada vez maior entre as áreas urbanas e convertem a competência entre as cidades em um jogo que tem lugar no tabuleiro da economia internacional” (p.39). E, mais importante: A cidade deixa de ser uma mera localização geográfica para vir a ser uma estrutura dinâmica e complexa

8

que participa ativamente na criação de recursos e competências ...A cidade

funciona como uma grande engrenagem difícil de construir e que demanda uma constante atenção e um serviço permanente de renovação (p.40). A cidade sempre foi complexa. Entendida como estrutura (Escola de Chicago), sistema (Milton Santos), palimpsesto (Carles Carreras), interação (Paul Claval), ponto de concentração (Lewis Mundford), forma (Marcel Roncayolo), signo (Lucrésia D’Ambrósio), subjetiva (Felix Guattari), informacional (Manuel Castells), apenas para citarmos alguns exemplos, a cidade sempre exigiu uma abordagem complexa para poder ser analisada. Nos momentos cruciais de transformações tecnológicas, e esse é somente um aspecto, a cidade é o palco onde a possibilidade está aberta. Assim, quando adiante, o estudo afirma a “sociedade do conhecimento pode ter nas cidades a sua ponta de lança...e...a primeira condição indispensável, imposta pela globalidade, é existir no mapa, ser um ponto de referência e atração” (p.40), na verdade está reproduzindo o discurso universal do qual falávamos anteriormente e isso somente tem lugar nas cidades. Existir no mapa representa estar na rota do capital internacional e com as adequações que esse capital necessita: flexibilidade, redes, inversões em infra-estrutura. É o que sugere o ECD utilizando os 3C de Kanter, que afirma: “os centros urbanos deverão investir nos 3C: conceitos, capacidades e conexões, isto é, investir em inovação e criatividade (conceitos), fomentar a aplicação e a difusão das experiências e os conhecimentos tácitos e garantir as capacidades de produção e de consumo (capacidades) e, finalmente, dispor das vias de comunicação e acesso aos outros pólos mundiais de atividade para assegurar as relações com o resto do mundo (conexões).”

Quando vemos os elementos essenciais da nova

cidade, que é o item 2.4, do qual o ECD destaca três que mais se relacionam ao projeto, temos:

a) o sistema educativo e de formação permanente. 8

grifo nosso

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b) o sistema R+D. c) os serviços avançados (p.42).

De maneira simplificada podemos dizer que os três elementos destacados têm em seu centro a empresa. O gráfico da página 46 é muito elucidativo para isso. Esse esquema evidencia o que já foi dito até aqui. No item A, a formação permanente, ou utilizando a proposta da UNESCO com o aprender a aprender, é o que está em jogo. Os centros de ensino devem capacitar seus alunos para aquilo que mais será essencial em tecnologia e humanidades, em uma relação direta com a sociedade onde está inserida e dentro da especialização donde melhores resultados estiver obtendo: “ sendo muito realista para saber que não se pode ser bom em tudo, deveria concentrar os esforços naquelas disciplinas em que a especialização tem mais sentido, e onde estejam concentrados as melhores condições ”. Como eleger critérios para onde as

especializações tenham mais sentido? Afinal, públicos ou privados os centros de ensino são empresas e as inversões são feitas a partir da demanda de mercado, daí a ocorrência de alguns cursos de moda. A alteração na forma de acesso à universidade vem ao encontro desse exemplo proposto pelo gráfico, ao menos teoricamente. Do mesmo modo as mudanças que dificultam ou impossibilitam a “repetência”, partindo da premissa de que não existe conhecimento zero ou nulo, seguem na mesma direção. Aqui entra o papel relevante da formação permanente, ou seja, o de ser competente para o capital. O ECD informa do que é possível fazer dentro da empresa, porém é preciso ampliar para a importância do capital cultural doméstico, ou a bagagem de conhecimento e informação que capacitam as crianças e jovens para serem competentes para o capital no futuro. Em Dewey já víamos a importância da escola na socialização, para viver em sociedade, pois a escola repete todas, ou a maioria das situações que as crianças encontram quando crescem: disputas, brigas, vitórias e fracassos, negociações para atingir objetivos, seleção de pessoas por hierarquia, por temperamento, classe social, etc. O item C, dos serviços avançados, aborda a aplicação da tecnologia desenvolvida na produção e circulação de mercadorias e idéias, reduzindo custos e tamanho das empresas com a terceirização e a criação de pequenas empresas prestadoras de serviços. Dessa maneira, “ ainda que definidos como geradores de conhecimento e fluxos e informação (Normam,1993) e portanto independentes, a priori, do território que ocupam, estudos demonstram que seguem um modelo de concentração nas áreas urbanas. Estes serviços estão no centro de todos os processos econômicos e são um dos atores mais rentáveis da cidade do conhecimento” (p.49). A cidade passa a ser o lugar do desenvolvimento do conhecimento

por excelência. O capítulo 3 – Análise Territorial – vai definir a qual cidade o estudo está se referindo: “ a cidade que é um ecossistema” (p.51), esse é o título que abre o subitem 3.1, sobre a necessidade de um modelo territorial de usos compartilhados. Começa definindo o ser da cidade: “A cidade é, sobretudo contato, regulação, intercâmbio e comunicação”9.

9

grifo nosso

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Esta é a base epistemológica sobre a qual se sustenta depois o resto dos componentes que acabam por constituí-la. A estrutura, a forma de produzir a cidade, a paisagem urbana, a sua monumentalidade, a mobilidade e todo o mercado são aspectos secundários ou parciais em relação com aquilo que é essencial na cidade, que é a interação entre os cidadãos e as suas atividades e instituições. E como sistema define: “Em essência o contato, a regulação, o intercâmbio e a comunicação estão no marco da relação entre pessoas, coletivos e instituições, que são portadores principais de informação da cidade diferentes que se alimentem, regulem e controlem pela transmissão de informação entre eles. É o que dizemos sistema” (p.51) Finalmente, ecossistema: “Efetivamente, um sistema é formado por elementos e por interações que ponham em relação uns elementos com os outros. Quando um sistema conta com organismos vivos, dizemos ecossistema. No caso de que nos ocupamos, ao sistema dizem-lhe cidade e dado que o principal componente da cidade é o homem (um organismo vivo) fica claro que os sistemas urbanos também são um ecossistema” (p.51). Apesar de longos, parece-nos importante e oportuno citar todos esses conceitos textualmente para podermos verificá-los com mais precisão. As três citações indicam o que é: - a cidade. - a base epistemológica seguida. - um ecossistema. Pela definição de cidade e também das outras definições, fica claro que não se está retornando à visão naturalista da cidade. Ao contrário, o estudo busca uma teorização para pensar a “nova cidade do conhecimento”. Essa visão ecossistêmica permite abordar a cidade a partir do conceito de sustentabilidade que será apresentado mais adiante e se mostra, praticamente, central no novo setor produtivo das TIC, uma sinergia entre desenvolvimento sustentável e sociedade do conhecimento. Conforme apresentado por Castells em sua trilogia sobre a Era da Informação, o discurso ambientalista pode ser resumido em quatro linhas: a)

uma relação estreita e ao mesmo tempo ambígua com a ciência e tecnologia.

b)

o ambientalismo é um movimento com base na ciência.

c)

os conflitos sobre a transformação estrutural são sinônimos da luta pela redefinição histórica das duas expressões fundamentais e materiais da sociedade: o tempo e o espaço.

d)

Da mesma forma que o espaço, o controle sobre o tempo está em jogo na sociedade em rede, e o movimento ambientalista é provavelmente o protagonista do projeto de uma temporalidade nova e revolucionária (CASTELLS, vol.2, p. 155-7).

Os conceitos definidos, de modo geral, encaixam-se nessas quatro linhas citadas pelo autor espanhol, desde o ser da cidade até o ecossistema. Partem da relação entre cidadãos e suas

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atividades e as instituições, o que seria a essência da e na cidade. Isso vai implicar, para os experts que prepararam o MPGM de Barcelona, superar o confronto entre o tempo e espaço locais e os globais. Prevalecendo o primeiro, que é a essência, o segundo fica comprometido em sua funcionalidade produtiva, pois controla os fluxos que definem o território de atuação e geração da mais valia, baseada nas TIC. Caso prevaleça o segundo, desloca-se a essência da cidade para as atividades que ali estão sendo desenvolvidas e compromete a visão ecossistêmica. A base epistemológica: contato, regulação, intercâmbio e comunicação implica por seu lado, na maneira como o conhecimento da cidade vai ser possível e suas categorias ou os modos de ser da cidade. O sistema, como conhecimentos articulados e múltiplos, busca uma totalização. É esse sistema articulado que vai permitir reconhecer a cidade como um ecossistema, ou seja, a categoria analítica interna que, junto às outras, deve possibilitou as modificações no PGM de Barcelona. Ao considerar o homem como um organismo vivo e principal na cidade, o que implica reconhecer a cidade como um ecossistema, o ECD evita recair na “cidade como um organismo vivo”, uma visão naturalista da cidade e pode, a partir do Poblenou, articular a sustentabilidade sem contrariar a forma de acumulação que se dará na cidade. Isso sustenta a tese do Poblenou como o “novo solo industrial da Catalunha” que, aqui, é o território. Dessa maneira, o território está entendido como uma “porção do espaço” donde as muitas relações estão se processando na direção determinada pelas mudanças na cidade – a regulação, intercâmbio e comunicação. Sendo que esta última situação traz, com o aumento quantitativo e qualitativo, maior complexidade ao sistema com menor gasto de energia. Duas formas de fazer a cidade são citadas: a cidade difusa atual e a cidade compacta e diversa mediterrânea. A cidade difusa atual, conforme o ECD, é aquela que “aumenta a complexidade do conjunto da cidade e simplifica a complexidade das partes, consumindo grande quantidade de energia e outros recursos materiais como solo, materiais, etc. Sem obter um aumento da complexidade equivalente a quantidade de recursos consumidos” (p.52). É aquela que expande sem a preocupação do uso racional do solo,

aumentando em tamanho sem que haja condições estruturais para tanto. Isso compromete o espaço rural e produtor de alimento diretamente. Ressaltamos que há um bom tempo a relação campocidade já modificou para a cidade do campo, e não ao contrário, pela difusão de informação, ciência e tecnologia já citados. O que vemos na cidade difusa atual é a expansão em tamanho sem possibilitar que o ganho urbano em comodidade e serviços atinja a todos e, disso resulta, a diluição da complexidade pela monofuncionalidade dos espaços dificultando os contatos entre os diversos usos e os cidadãos que dele e nele participam. Como exemplo temos áreas industriais, áreas residenciais, áreas universitárias, bancárias, hipermercados, separados fisicamente pela cidade. Os gastos são muito maiores para conseguir a complexidade, nos termos propostos aqui. Gastos em tempo de deslocamento, energia, infra-estrutura, priorizando o particular em detrimento do público. É comum pessoas se deslocarem das residências solitárias em seus automóveis, assim como é comum o resultado disso em grandes congestionamentos nas cidades de maior porte. Os contatos pessoais também perdem em qualidade nessa situação, já que os bairros residenciais passam a ser refúgios e a casa é a fortaleza maior.

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“A execução do modelo funcionalista revela profundas disfunções não resolvidas e assim os espaços com uma função predominante ficam desertos e sem vida em períodos temporais determinados (certas horas do dia, férias, etc.). Outros espaços, por exemplo o centro ou algumas periferias vêem como a sua população envelhece, ao mesmo tempo que se degrada o parque edificado e o espaço público. A degradação física é precursora da ocupação dessa áreas por pessoas com poucos recursos e em situações marginais com poucas possibilidades de crescer individual e coletivamente” (p.56).

O resultado disso é: “A concentração de cidadãos com estas características tanto no centro como na periferia pode criar graves problemas de instabilidade, violência e insegurança, atividades marginais e delitos e em situações de desobediência civil. Quando isso ocorre é fácil que as ruas estejam dominadas por grupos com interesses não regulados pelo estado de direito e que os direitos democráticos se ressintam” (idem). O modelo proposto pelo ECD para a modificação do PGM é a cidade mediterrânea compacta. A CIDADE MEDITERRÂNEA COMPACTA A cidade mediterrânea compacta é um modelo urbano que possibilita a sustentabilidade social, econômica e ambiental: “compacta e densa, com continuidade formal, multifuncional, heterogênea e diversa em toda a sua extensão” (ibidem), pois contempla o essencial da cidade – regulação, intercâmbio e comunicação. O ECD utiliza seis pontos para tratar e examinar esse modelo: a. Proximidade e economia de recursos. b. A cidade compacta aproveita melhor os recursos para manter e fazer mais complexa a cidade. c. Estabilidade e aumento da complexidade em todo território urbano. d. Lentidão e qualidade no crescimento dos sistemas urbanos. e. Competitividade, exploração e sustentabilidade da cidade compacta e diversa: um modelo para a nova cidade do conhecimento. f. Qualidade urbana e qualidade de vida.

Com esses pontos, o ECD retoma a máxima de que não é necessária uma cidade grande, mas uma grande cidade. O item a responde pela questão da distância entre o lazer e o morar, o trabalhar e o morar que são facilitadas pela melhor distribuição dos equipamentos sociais e o melhoramento das vias de acesso, que podem ser vencidas caminhando, inclusive melhorando as áreas verdes, não necessariamente grandes, “não é necessário que sejam grandes praças nem grandes parques, pequenas praças e perspectivas com pontos de verde entrelaçados são suficientes” (p.58). Com essa possibilidade, o número de carros particulares diminui nas ruas e, em conseqüência, diminui a concentração de CO2, melhorando a qualidade de ar e de vida. Outras redes de transporte são passíveis de melhora para garantir a qualidade desejada, são as redes de energia, água, telefone, esgoto e também a rede de fibra óptica. Informa o ECD que a rede de alta voltagem ocupa hoje 100 km², o que eqüivale a todo município de Barcelona, utilizando em espaço que poderia ser melhor aproveitado se fosse subterrâneo, tanto pelo impacto visual (estético) quanto pela segurança (técnico) dos 66.000 volts ao ar livre. A última afirmação desse item é categórica:

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“Em uma outra ordem de coisas o acesso às redes de serviços telemáticos deve ser um direito de todos os cidadãos como um dos direitos básicos que oferece a cidade quando se faz uso 10

do princípio de igualdade ” (p.58). Isso é importante para garantir a não-segregação tecnológica das pessoas, tanto no momento de transição quanto após sua implantação, ou seja, que a tecnologia não seja apenas para uma minoria de iniciados. O item b, sobre o melhor aproveitamento da energia na cidade compacta e, consequentemente, aumento da complexidade, indica uma fórmula onde H = diversidade e E = energia consumida. Assim, por meio do quociente E/H, o seu aumento ou diminuição em um espaço pode converter-se em energia para todo o sistema. Aumentando o H temos idéia de maior proximidade, com uma diversidade espacial maior. Isto é importante quando o maior dispêndio de energia na cidade é o transporte mecanizado e, reduzindo a distância por meio das TIC, a economia passa a ser maior. Conclui que a “planificação do território, base das ações, que diminuíssem o quociente E/H permitiriam corrigir, em parte, as disfunções do sistema atual e fazer flexíveis algumas das variáveis que hoje mais condicionam o funcionamento do ecossistema urbano e seu entorno”. A sua lógica interna inclui: .aumento da complexidade em espaços relativamente reduzidos; .diminuição em ocupação do solo, realizando as mesmas funções; .redução do tempo para o contato entre os diversos; .redução de energia consumida para manter e fazer mais complexo o sistema; .reduzir a instabilidade por que proporciona um número maior de circuitos reguladores (p.59).

Neste ponto (item c) o estudo já começa a direcionar suas afirmações para a aplicação do modelo proposto em um bairro, pois este possibilita uma análise mais apurada das vantagens e desvantagens. Aumentando a diversidade de usos no bairro, num mix de residências, atividades econômicas, serviços e equipamentos, proporciona maior complexidade e sustentabilidade. O fato de existir informações anteriores materializadas na paisagem – as rugosidades – não dificulta a implantação do modelo proposto visto que a complexidade sem aumento do solo urbano utilizado é fator de desenvolvimento e competitividade das cidades, utilizando menos e melhor a energia disponível. O item f trata de qualidade urbana e qualidade de vida. Ambas as qualidades dependem de fatores sócio-econômicos e físico-espaciais e se faz necessário orientar sua forma, gestão, a saúde pública, fomentar o contato, intercâmbio e comunicação, segurança, preservando nos bairros os espaços públicos e edifícios com significados históricos e culturais. Pelo exposto, vê-se a dura tarefa de promovê-los, pois é necessário aliar os objetivos físico-espaciais e os sócio-econômicos. Os primeiros que o MPGM deve adequar em seus projetos de modificação territorial de maneira que o solo urbano atinja o esperado, sem danos maiores a longo prazo. 10

O termo catalão utilizado no texto é equitat (equidad no castelhano) que pressupõe uma igualdade jurídica, diferente de equidade em português que é igualdade, retidão para repartir coisas ou para tratar pessoas. Portanto, o termo catalão tem muito mais “peso” do que a tradução poderia sugerir.

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Assim, os objetivos mais técnicos (físico-espaciais) precisam estar respondendo e movimentando os outros dois (sócio-econômicos). Isso representa um movimento de responder, oferecer e voltar a perguntar pelas demandas. Dessa maneira, a qualidade torna-se um constructo permanente, sem o qual arriscaríamos aprisionar a qualidade em padrões temporais que estariam rapidamente superados e apenas idealizados. Ao atingir um objetivo na qualidade urbana e de vida, outro se apresenta de imediato. Ainda buscando justificativa para a esse item, o ECD cita Quim Larrea e Juli Capela, para quem os objetos do futuro ou nos próximos 15 anos – eles escreveram em 1996 - serão “pequenos, leves, perduráveis, reparáveis, desmontáveis,

portáteis, degradáveis,

eficientes, multiusos,

recicláveis, reciclados, reutilizáveis, compartidos e afetivos, não tóxicos e nem perigosos” (p.67). Concordamos com tudo isso e acrescentamos: rentáveis e produzíveis em escala industrial... Será que nas primeiras décadas do século XXI, finalmente, alcançaremos? O papel da ciência não é prever o futuro, mas antecipar. Porém, nos importa a qualidade de vida e a qualidade urbana discorrida no item f. Pelo exposto, vê-se a dura tarefa de promovê-los, pois é necessário aliar objetivos físico-espaciais e sócio-econômicos. O próximo item – 3.6 – é importante por que oferece os objetivos e propostas jurídico urbanísticas e, destaca o Poblenou, como paradigma do novo solo urbano (item 3.7) deixando outras áreas possíveis para poucas páginas do final do estudo. Assim, Mataró, Sabadell e Terrasa, áreas industriais da região metropolitana, são tratadas em conjunto apenas no item 3.8. Isso reforça mais a proposta e posição do ECD em relação ao Poblenou como a melhor opção para o 22@ BCN.

OBJETIVOS E

PROPOSTAS JURÍDICO-URBANÍSTICAS

A DESENVOLVER.

A TEORIA

URBANÍSTICA DO SOLO URBANO. O 22@. O texto começa com a reafirmação de que as atividades do setor das TIC afetam todos os setores econômicos e por isso requerem uma nova definição no MPGM como uma subzona do 22a, a zona industrial. Porém, isso já havia sido abordado anteriormente, o que esse item reforça (já que o texto vem grifado) é uma nova visão do fazer urbano , que o ECD afirma: “... há de se partir da realidade sócio-econômica que o urbanismo atual oculta. Assim, ligado ao aproveitamento da mais valia pela comunidade, um dos princípios cardinais e básicos que inspira e estrutura o urbanismo é o equilíbrio de custos e benefícios tal como se há recolhido e recolhe na legislação estadual e autônoma. os proprietários e promotores da ação urbanística...longe Este princípio jurídico é hoje voz superada pela realidade sócio-econômica. Este binômio (custo-benefício) está claramente decantado pelos benefícios que obtêm do equilíbrio e longe de desejar o aproveitamento da mais valia pela comunidade. ...Há de se substituir a sua dinâmica por uma dinâmica produtiva” (p.82).

O ponto de partida propõe, na verdade, que as modificações do PGM dificultem a especulação imobiliária no Poblenou através da implantação das TIC. A definição de uma subzona da

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zona industrial ou 22a é uma forma de garantir a continuidade das empresas que estão no local, modificadas apenas para se adequar às qualidades ambientais exigidas e às novas empresas. Ainda flexibiliza o uso da área 22@ para as moradias garantindo a legalidade de várias habitações que, no PGM de 1976 ficaram ilegais, pelo uso de solo industrial do lugar. Aceita a subzona 22@ “pois se trata de uma evolução do uso industrial tradicional” (p.82), sendo 22@ porque seria estabelecido o destino do solo urbano principalmente a empresas vinculadas ao novo setor informacional. E, “conceitualmente, é melhor subzona do que zona industrial” (p.82).Com isso, o ECD apresenta a definição (22@) e o conceito (subzona) para a área que será modificada pelo PGM e que, de antemão está sendo pensada para um bairro e não cidades. Outro conceito “adequado ao caráter industrial da subzona”, são os lofts, que o ECD afirma 11

serem inovadoras habitages-tallers . As definições e conceitos têm a vantagem de evitar alterações profundas nas áreas industriais já existentes, ou melhor, na legislação que rege essas áreas, acrescentando como subzona a atividade das TIC. Quanto aos lofts como “revolucionárias habitages-tallers”, pelo que já foi apresentado sobre eles e seus usuários, fica deduzido que se espera uma mudança no perfil das pessoas do bairro, com novos moradores. Repetimos, se as atividades ligadas às TIC são revolucionárias, idem para a forma de habitar, A outra “proposta concreta” é o que o ECD chama de “Migração de usos existentes”. Na prática, a migração é o remodelamento dos edifícios existentes, modernizando, reparando etc., sem ampliação do prédio e nem do valor do m². Os sistemas estão subdivididos em A e B, Espaços livres e Equipamentos, respectivamente. O primeiro contradiz o que já foi dito anteriormente sobre as áreas verdes, “caberia prever também as grandes zonas verdes em seu sentido qualitativo e quantitativo” (p.84), o que beneficiaria a população do bairro e da cidade em geral.

Em

Equipamentos, insiste na necessidade de pensar a Universidade como um equipamento comunitário de pesquisa e necessário ao progresso do setor. Na escolha e efetivação dos equipamentos deve-se levar em consideração o desenvolvimento da personalidade dos cidadãos e a complexidade de usos. O próximo item – 3.7 – tem o sugestivo título de Poblenou como o paradigma do solo industrial da Catalunha (p.88) reafirmando o que já foi dito anteriormente. grande

parte

daquelas

industrias

deixaram

espaços

desocupados,

e

“...hoje, compõem

um

quando processo

uma de

desindustrialização progressiva,(sic) se impõe a necessidade de aproveitar este patrimônio histórico e de reutilizar, em conseqüência, este espaço para desenvolver aquilo que lhe é próprio, a indústria, para fazer o que 12

constantemente fez o Poblenou, adaptar-se ao câmbio tecnológico , incidir na inovação do conceito industrial, e permitir assim um desenvolvimento equilibrado do território onde são possíveis as atividades produtivas da industria competitiva com os seus serviços associados com o novo setor das TIC.

As propostas concretas se apresentam em quatro grandes linhas do que deverá ser feito no bairro, definindo espaço público, espaço privado de uso comunitário e espaço privado de uso público. 11

Moradias-oficinas ou moradias-ateliers

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Esses três níveis abrangem desde solo e subsolo até conexões de redes infra-estruturais e preocupação com o meio ambiente. A infra-estrutura vai detalhar alguns aspectos básicos – água, energia, resíduos, frio/calor – propondo algumas atuações avançadas para o bairro, “..a zona de Barcelona com o maior déficit infra-estrutural” e a zona menos avançada, em relação aos serviços (p.90). No Mobiliário Urbano temos, por exemplo, um centro de carregamento de bateria para veículos elétricos e sistemas de informação on-line; para as redes telemáticas são dez as possibilidades citadas com o que hoje pode ser considerado como o mais avançado em tecnologia informática.

CONCLUSÕES A conclusão do estudo reforça os pontos e os conceitos centrais aplicados ao caso da região metropolitana de Barcelona: . qualidade de vida . situação relativa . infra-estruturas (p.151),

esses fatores são comuns nas vinte e uma cidades do mundo ligadas à tecnologia citadas pelo ECD, sendo o fator decisivo, para a implantação de empresas do setor das TIC, a infra-estrutura. Uma característica bem definida, em todas elas, é o entorno urbano, pelo fato do tipo de trabalhador e por estar mais perto dos centros de decisão do que de produção. Como conclusão geral apresenta cinco pontos e a sustentabilidade é a principal garantia da cidade do conhecimento. Esta é, cada vez mais, a direção dos processos produtivos dos países desenvolvidos e, para evitar a marginalização social, “que vem da desconexão com os processos de geração e difusão do conhecimento” (p.152), faz-se necessário criar novas políticas educativas voltadas à formação permanente. Os três momentos: política educativa, sistema universitário e formação permanente deverão estar em uma simbiose que possibilite a criação de uma cultura de informação e criação de uma auto-aprendizagem permanente. A chave está no processo criativo, assim como a grande dificuldade...Implica, esse processo, diretamente nos Centros de R+D, como elemento importante da nova cidade do conhecimento e, por outro lado, a possibilidade de superar o déficit de Centros Tecnológicos na Catalunha. Para tanto, será necessário formação competente – e continuada – pois o sucesso de um programa industrial com a inter-relação Universidade-Empresa está ligado diretamente a implantação de um novo modelo educacional. “O grande crescimento é produzido a partir de uma primeira massa crítica que, ou bem aparece espontaneamente, ou bem estimulada pelo setor público. Essa massa se consegue mais ou menos rapidamente dependendo do mercado local, cultura informacional da população e existência de transnacionais ou espírito empreendedor” (p.157).

12

grifo nosso.

36

O que essa conclusão sugere é um novo direcionamento da educação formando para a informacionalidade. Quanto ao planejamento urbano, liga-se direto também à educação e ao conhecimento para o aumento da complexidade do ecossistema (a cidade). O setor que está mais concretamente ligado às atividades das TIC, e pode contribuir como suporte para elas, é o new media: publicações, associações públicas ou privadas, enfim, os setores ligados à editoração e planejamento gráfico. Essas atividades têm algumas características, conforme o ECD, com implicações espaciais importantes, a flexibilidade de uso, tempo e da propriedade do solo urbano e o funcionamento 24 horas por 7 dias da semana, das atividades TIC. Com isso, abre a possibilidade do uso constante do espaço pelas atividades econômicas das TIC e uma maior inter-relação pessoal porque não haveria a diferenciação entre o morar e o trabalhar (o caso dos lofts).

37

Ciudad de las ideas donde paso algunas noches encerrado en el silencio de los monjes. Ciudad de las ideas, yo me baño por la tarde y me empapo de la sal de tus detalhes. si es que las palabras se las lleva el aire que las mias se las lleve hasta tu calle. AMIGO, Vicente – Ciudad de las Ideas. BMG Music Spain, 2001

Após essa apresentação do Estudo Ciutat Digital (ECD) feito pelo Instituto Català de Tecnologia de Barcelona, para embasar as Modificações do Pla General Metropolità de Barcelona, passaremos a tratar, não apenas dessa Modificação – ou o Text Refòs

13

– mas dos Plans Especials 14

de Reforma Interior dels sectors: Llull – Pujades Llevant i Perù – Pere IV . Os dois setores foram os primeiros aprovados em março de 2001 para a renovação do Poblenou. Posteriormente, em junho do mesmo ano, mais oito projetos de iniciativa privada foram aprovados após a exposição dos projetos e concorrência entre as empresas solicitantes do espaço. Optamos por incluir o Text Refòs por que nele estão definidas as áreas a serem modificadas pelo PGM-BCN, porém, muito do que já foi descrito até aqui se repete nesse texto e apenas indicaremos. Em segundo lugar os planos privados para o Poblenou e algumas considerações finais.

Modificação do Plano Geral Metropolitano para a Renovação das áreas industriais do Poblenou – distrito de Atividades 22@ BCN – Texto Referência

O texto referência, agora analisado, é fruto de vários momentos de estudos e de debates em Barcelona. A partir dos Jogos Olímpicos de 1992, a cidade sofreu modificações significativas, conforme explicitado anteriormente, cabendo destacar a Vila Olímpica, ao lado do bairro do Poblenou. Ocorre que, desde o PGM de 1976, a área do Poblenou foi considerada industrial (chave 22a do PGM), mesmo tendo perdido, entre 1963-1990, um número considerável de indústrias, em torno de 1326 empresas. O direcionamento da economia de Barcelona para, principalmente, os setores de turismo e serviços, fez com que grandes parcelas do solo urbano do Poblenou fossem abandonadas em seu uso industrial pela transferência das empresas para outras áreas. Pela posição privilegiada do bairro, era necessária sua remodelação, aproveitando esses edifícios industriais antigos, mas garantindo, ao mesmo tempo, que não fossem simplesmente derrubados para dar lugar às novas construções. Com base nas experiências e idéias das chamadas Cidades do Conhecimento, a Prefeitura de Barcelona, juntamente com a iniciativa privada e as Universidades, iniciaram o debate sobre o uso dos 1.160.000 m² “disponíveis” do Poblenou. Entre as

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Texto Referência

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modificações mais importantes está a criação da subzona 22@ pois, a área industrial da cidade é determinada pelo símbolo 22a. A inclusão do @ como subzona do “a”, cria um conceito até então inexistente no PGM: as áreas destinadas à alta tecnologia e as empresas de informação e comunicação (as TIC). Isso possibilitou uma atuação urbana apoiada em um documento oficial de suma importância para o presente-futuro da cidade, pois, não altera a zona industrial e ao mesmo tempo modifica a antiga zona industrial do Poblenou. Hoje considerada uma área estratégica para os interesses de muitas atividades econômicas da cidade. O novo conceito garante ainda um outro caminho para o fazer urbano baseado na sustentabilidade. Por seu turno, isso implica na consideração do meio ambiente em sua totalidade espacial, de fixos e fluxos, no momento de aprovar projetos para a área. A flexibilidade da MPGM está de acordo com a dinâmica que as atividades @ exigem, isto é, priorizando os fluxos, as atividades @ impõem a dialética local-global na produção-transmissão e consumo do conhecimento, já que todos ocorrem ao mesmo tempo. Dessa maneira, a MPGM normatiza os fixos sem “prender” os fluxos, o que facilitará as inversões no lugar. Estão previstos diferentes equipamentos que os Planos Especiais devem desenvolver: a. Reforma Interior b. Integrais c. Desenvolvimento dos sistemas de equipamentos e espaços livres d. De infra-estrutura e de subsolo.

Três planos de Reforma Interior já estão em andamento nos setores Llull-Pujades (llevant), Perú-Pere IV e Campus Audiovisual, a cargo da Prefeitura de Barcelona, sendo que o setor LlullPujades (llevant) está aprovado em definitivo e os outros dois aprovados inicialmente. Mais três setores estão em fase de redação, sendo eles Parc Diagonal, Llull-Pujades (ponent) e Eix Llacuna. Juntos, os três primeiros planos completam 400.000 m² para: atividades econômicas de alta tecnologia, a construção de 700 novas habitações sendo 25% para alugar, 66.000 m² para equipamentos e 42.000 m² para áreas livres e zonas verdes. A MPGM prevê seis formas de transformação de Planos Especiais: 1. Âmbitos pré-determinados, impulsionados pela Prefeitura 2. Planos de âmbito mínimo da ilha 3. Planos de edifícios industriais consolidados 4. Edifícios industriais de interesse 5. Fronts consolidados de habitação 6. Parcelas de mais de 2.000 m²

Dentro da flexibilidade, a qual a MPGM está prevista, oito planos especiais privados já foram aprovados, sendo seis para os edifícios industriais consolidados, um de âmbito mínimo da ilha e um 14

Plano Especial de Reforma Interior dos Setores: Llull – Pujades levante e Perù – Pere IV

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para parcela de mais de 2.000 m². Dessa maneira, a MPGM se coloca como um instrumento importante, o mais importante por certo, na transformação do bairro do Poblenou e da cidade de Barcelona. Com relação ao Plano Geral Metropolitano, a MPGM cita que não introduz modificações que alterem a estrutura geral e orgânica do território e também não modifica o uso global do Poblenou com a subzona 22@, mantendo a vocação industrial, porém, modernizando e atualizando seu uso, pois se trata de uma atividade diferente da industrial convencional. O objetivo fundamental apontado da “regulação da subzona 22@ é dar um tratamento idôneo às habitações existentes, anteriores em muitos casos às próprias indústrias instaladas, produto de processos de urbanização históricos” (p.6). Isso, na prática, legalizou próximo de 4.600 habitações que o plano anterior tornara ilegais, pois não eram compatíveis com a área industrial. Prevê ainda a MPGM a “reabilitação destinada a habitação dos edifícios industriais existentes”, ou seja, garante a possibilidade da transformação de antigas indústrias em lofts, ligando atividade econômica e moradia. Ao mesmo tempo, as novas habitações devem estar de acordo com a normatização de espaços livres e equipamentos de 31 m² de solo para cada 100 m² de habitação. Isso amplia em 13 m² os espaços livres, em relação às outras áreas da cidade, aumentando a área de circulação e deixando os ambientes mais de acordo com as necessidades de habitação-trabalhoócio. Quanto a normatização para equipamentos ligados às universidades, sua simbologia é 7@ e será regido por um Plano Especial. A relação Universidade-Empresa, conforme já foi relacionado anteriormente, coloca-se como um dos pontos cruciais para o sucesso da cidade do conhecimento, como as experiências de outras cidades demonstram. O capítulo 2 por seu turno, introduz o conceito de Nova Zona 22@, utilizando muito do estudo do ECD para justificar a Cidade do Conhecimento em Barcelona.

Como indica o item “Os processos urbanos de implantação das TIC”, a experiência

pioneira do Silicon Valley, o modelo norte-americano, foi seguida em muitos lugares, em especial no continente asiático. Porém o próprio desenvolvimento espacial das atividades ligadas aos centros urbanos, na Europa as TIC utilizaram bairros anteriormente industriais, transformando o processo produtivo e urbano da área, é o caso de Torino e Londres. Apesar das diferenças, um fator é determinante em ambos modelos: a flexibilidade dos espaços. Espacialmente, a flexibilidade ultrapassa o aspecto da produção e tudo necessita ser flexível, ou seja, a propriedade do solo urbano, seus usos, suas funções, o transporte, a comunicação, entre outros. Tudo ligado ao novo produto que é o conhecimento. Tal produto – e sua produção – não envolvem (diretamente) um sistema de produção poluente e com isso, a qualidade de vida em vários aspectos (ar, água, energia) melhoram.

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A Renovação Urbanística do Distrito Industrial do Poblenou O objeto de renovação é o bairro do Poblenou que reúne condições físicas – tecido produtivo existente, sistema viário, proximidade do centro – e humanas, aliados ao fato de ser a área onde as antigas indústrias estão desativadas. Algumas vantagens são destacáveis: a malha do Eixample Cerdà que, com sua racionalidade, demonstrou durante toda sua história a capacidade ordenadora, tanto do ponto de vista funcional como morfológico (p.13). A proposta de modificação atuará sobre eixos urbanos e áreas estratégicas, dessa maneira, atingirá todo o bairro – e a cidade – desenvolvendo pontos de maior importância no bairro. Foram escolhidas seis áreas (p.15): 1. Eix Llacuna – eixo para reforçar a relação mar-montanha 2. Camp audiovisual – será reaproveitada a fábrica Can Araño e os espaços em seu entorno para atividades de cultura e novo audiovisual 3. Parc Diagonal – criação de um centro de atividade com frente ao futuro Parc Diagonal-Pere IV 4. Llull-Pujades (levant) 5. Llull-Pujades (ponent) – combinação de atividades econômicas e habitação 6. Perú – Pere IV – extremo norte da Pere IV com intenção de criar outra centralidade.

Para as modificações propostas, os objetivos são: 1. desenvolver áreas especialmente sensíveis do Poblenou que, através do planejamento e a gestão pública atuem como motor na transformação do bairro, de condensadores urbanos e de locais emergentes, identificáveis que ajudem a legitimar esta parte da cidade. 2. Outorgar coerência e uma mínima unidade aos tecidos e espaços de cada setor, aplicando os instrumentos urbanísticos, corrigidos ou experimentados, que consideram adequados – prefiguração da forma, ordenação de equipamentos, controle flexível da arquitetura, direção de processos, etc. A coesão morfológica dará identidade e sentido do local a cada setor. 3. Assegurar a necessária confluência de usos diversos para garantir uma complexidade funcional mínima. Cabe, nesse sentido, localizar estrategicamente os equipamentos e zonas livres e estudar a compatibilidade de usos. 4. Dotar suficiente continuidade aos tecidos residenciais, construídos através de diversas tipologias – frentes de rua, blocos, lofts, tipos experimentados para tal formar eixos ou centros onde há uma clara apropriação social do espaço – apropriação difícil em áreas não residenciais onde o espaço é usado temporariamente – e garantia da presença de pequena atividade terciária que acompanha a concentração residencial. 5. Explorar a riqueza espacial e topológica que em grande medida já existe atualmente, traço distintivo do bairro. 6. Desenvolver em cada setor as suas vocações específicas em função do lugar e da posição urbana.

A partir das definições das áreas e dos objetivos para a modificação, fica mais clara a diversificação das atividades econômicas pretendidas e a diversidade nas formas de ocupar o espaço urbano. Com as modificações poderá atingir um nível de produtividade maior do que se pode hoje. Ou como diria Santos: “É como se o chão, por meio das técnicas e das decisões políticas que incorpora, constituísse um verdadeiro depósito de fluxos de mais-valia, transferindo valor às firmas 15

nele sediadas ”.

15

SANTOS, Milton – Guerra dos Lugares. Folha de S. Paulo 8/8/1999, p.5-3

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Tomando por base os seis pontos e sua localização no bairro através do Mapa 1 – qualificação urbanística proposta, vemos que são dois “grandes blocos”, o que conforma a seletividade da modernização do bairro. Dentro desse dois blocos temos ainda as ‘operações de transformação pré-determinadas’ selecionando um pouco mais. Essas áreas, consideradas pela MPGM como estratégicas, estão ligadas às ruas Pere IV e Diagonal e a Plaça Glòries Catalanes, exatamente onde hoje já vislumbramos uma maior valorização imobiliária. A proximidade do setor 1 – Eix Llacuna e setor 2 – Campus audiovisual, com a Rambla del Poblenou é outro fator a destacar, pois essa Rambla é um

ponto de referência social para os

moradores do bairro e está praticamente em seu centro. Também, conforme o Mapa 2 – Edifícios de Habitação existentes, o setor 2 é o que apresenta maior concentração de habitações. Estas tiveram destaque dentro da MPGM, no sentido de regularizar as já existentes e partir para implantação e regularização de novas. Os critérios da formação de front consolidado estão baseados na evolução do grau de consolidação de cada edifício: 1. Segundo alçada do edifício: ≥ 4 plantas 2. Segundo o número de habitações: ≥ 4 habitações. Assim, define o front consolidado como grupo de duas ou mais parcelas com predomínio de edificações de habitações consolidados dentro dos setores de atividades industriais. Para isso deva: a. estar formado por 2 ou mais parcelas consolidadas b. estar delimitado por parcelas consolidadas c. com um mínimo de mais de 40% da longitude de fachada do front ser de edifícios de habitações consolidadas. Entende a MPGM, que é positiva a presença de habitações na área para garantir a complexidade de usos e a ocupação do bairro durante todo o período do dia e da semana. A atualização da MPGM

para o bairro do Poblenou, retomando a regularização das

habitações, implica, neste momento, criar uma área de moradia e permitir novas construções, importante para o setor imobiliário e de serviços, também construção de prédios de escritórios vindo a sanar um déficit da cidade. Para os moradores possibilita a venda legal do imóvel, uma valorização direta para os proprietários e uma nova situação social com outros agentes compondo a vida do bairro. Além da regulamentação das habitações e novas edificações, é necessário também regular as novas atividades @. Porém, a definição precisa do que sejam as atividades @ não é tão simples. Dessa maneira, a MPGM acrescenta um anexo onde, baseado nos estudos do ICT, da CNAE, NAICS, Silicon Alley de New York e outros (cap.5, p.24), faz uma relação que cobre as TIC, serviços e Centros de Saber. O próximo passo da MPGM é normatizar as reformas urbanísticas necessárias para implantar o 22@-BCN.

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Até agora falamos da Memória da MPGM. Agora passamos aos 5 capítulos, 23 artigos, 4 disposições adicionais e 3 disposições transitórias que regularizam a zona, as atividades, os sistemas. O artigo 2 define o objeto da MPGM: “O objeto da MPGM é a renovação dos solos industriais do Poblenou pela criação de um moderno distrito de atividades econômicas com infra-estrutura e urbanização adequadas aos requerimentos das empresas e com presença importante das atividades emergentes do novo setor das tecnologias de informação e comunicação (TIC). A investigação, a cultura e o conhecimento, também são objeto deste plano: favorecer a diversidade de usos em seu âmbito com reconhecimento das habitações existentes e a previsão de novos usos complementários de habitação e residenciais, em compatibilidade com as atividades”.

O artigo 3 define os documentos do próprio MPGM e o artigo 4 a zona de atividades chave 22@ e cria os equipamentos comunitários chave 7@, definindo os solos com esse destino. Já o artigo 7 relaciona as características das atividades @. São elas: a. utilizam processos de produção caracterizados pela utilização intensiva de meios da nova tecnologia. b. dispõem de uma alta densidade ocupacional (número de trabalhadores ou usuários/superfície) c. geram um alto valor agregado d. estão diretamente relacionadas com a geração, processamento e transmissão de informação e conhecimento. e. não são contaminantes, nem molestas e podem desenvolver-se em meio urbano centrais.

A MPGM garante ainda que outras atividades possam surgir dentro das atividades @ venham a ser incorporadas com a modificação nos artigos 10, 16 e 17 do plano. Os equipamentos 7@ são os já previstos pelos artigos 212 das Normas Urbanas (NU) incorporando os relacionados com a formação e a divulgação das atividades @ e serão desenvolvidos através dos Planos Especiais. Como já dissemos, as definições, objetos e objetivos das chaves 22@ e 7@ são muito importantes pois através delas as modificações são possíveis. Também é a partir delas que os projetos apresentados serão analisados pela comissão técnica da prefeitura. As novas chaves 22@ e 7@ dotam o território de um outro valor ao possibilitar a modernização da técnica através das atividades das TIC. Demarcados os pontos do território a serem modificados, e a localização do que será 22@ e 7@ (Mapa 1), oficialmente o território passa a demandar outros valores, mesmo que potencialmente. É a garantia, através da lei, das empresas para poder investir em Barcelona e especificamente no Poblenou. Dessa maneira o governo local cumpre sua parte na modernização do território normatizando e oficializando mudanças e infraestruturas que deverá cumprir em prazos estipulados. O governo local torna-se parceiro da iniciativa privada para garantir os lucros desta última na implantação da Cidade do Conhecimento. Parece-nos acertado afirmar que os papéis dos governos mudaram, contrariando as análises que preconizavam (ou apostavam?) o fim do estado como regulador. Apenas dizer que os governos mudaram, também não oferece nenhuma novidade. As atividades TIC com a necessidade de infraestrutura diferente daquela industrial, exigiram – para sua implantação – diferentes respostas dos governos que apostaram nelas. Respostas para perguntas que muitos governos não tinham idéia quais seriam..

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No caso de Barcelona, a MPGM para transformação do Poblenou, mostra que os estudos, discussões e debates, foram válidos pois levantaram as primeiras perguntas e necessidades. São essas primeiras perguntas que a MPGM responde de maneira direta e objetiva, já que a teorização ficou por conta do estudo do ICT. As perguntas futuras ficarão a cargo de uma comissão responder. Essa flexibilidade é, praticamente, uma exigência para as atividades TIC. Tal exigência trouxe a primeira lição aos governos das cidades que buscaram implantar projetos dessa natureza: não existe nenhum modelo a ser seguido. Dizemos isso porque, com a Revolução Industrial, a Inglaterra e, particularmente, Manchester, criou um modelo que poderia ser implantado, mesmo com as especificidades de cada lugar. Os ingleses exportaram desde a arquitetura até o modo de produção capitalista. As fases anteriores, chamadas pré-capitalistas, foram superadas ou nem existiram em muitos lugares, pois adiantaram-se no processo. Na compra dos bens de produção era possível também contratar um técnico inglês que comandaria a montagem e a utilização de máquinas, às vezes, esse técnico acabava sendo um futuro industrial. Da exportação do modelo, passa-se a própria transferência da matriz ou filiais para outros lugares, o que não garantiu a transferência de Know How ou dos centros de decisões e comando. No caso das atividades TIC, o exemplo maior era o Silicon Valley, agora é o Silicon Alley de New York, porém, as especificidades são tão grandes que não são possíveis ‘copiá-las’. Passa a ser um objetivo a ser alcançado e não um modelo a ser copiado, como aconteceu anteriormente com a indústria. E isso acontece em todas as experiências. Barcelona fez a opção pelo Poblenou, Torino pela grande área antes ocupada pela Fiat e Michelin, Londres com um edifício antigo do centro, Cambridge em um centro industrial transformado, etc. Fica claro que experiências mais recentes como a de Barcelona podem se beneficiar do intercâmbio de idéias com os envolvidos em experiências mais avançadas no tempo. Isso pode beneficiar no estudo dos custos e das infra-estruturas, mas como aplicar esses estudos, depende da vontade política e das negociações conseguidas entre as diversas lideranças locais. A flexibilidade, nesse ponto, traz uma despersonalização que contraria a política interna de muitas empresas. Fazer parte de um projeto maior onde, aparentemente, ‘não existe um dono’ pode desestimular grandes empresas com grandes carteiras de marketing. Por outro lado, beneficia o desenvolvimento e mesmo o surgimento das pequenas e médias empresas que trabalham com menores taxas de lucro e de mercado, atingindo segmentos diversificados desse mercado. É o caso dos Bureaux que oferecem os mais variados serviços gráficos, multimídia, informáticos. Atendendo desde a confecção de cartões de visita, programas de educação ambiental, propagandas institucionais, criação de logos, jingles, às vezes campanhas inteiras, páginas web etc., até criação de softwares e cd room, graças a redes de serviços terceirizados de que dispõem. Com preços competitivos e uma outra visão de mercado, esses serviços não requerem grandes espaços e não necessitam estar no centro das cidades, já que não é esse o fator principal para o sucesso da atividade, mas sim o fator criatividade e informação.

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Hoje as atividades ligadas à prestação de serviços geram grandes somas em seu conjunto e são essenciais nas cidades, geram menos empregos diretos mas muitos indiretos sem que os contratados trabalhem exclusivamente para o Bureaux. Interessante frisar que as atividades TIC geraram uma outra forma de pensar o território e as relações sociais. Em relação ao território, a concentração – não especialização – em um lugar facilita a maneira de intercambiar idéias e trabalho, porém não é primordial. O caso do Poblenou é típico nesse ponto. O cabeamento com fibra ótica facilitará muito os trabalhos das empresas, seja de qual ramo for, mas quando a maior parte de Barcelona estiver cabeada, o que será do Poblenou? Evidentemente que, se o projeto no bairro é para os próximos dez anos, os governantes deverão garantir que nas demais áreas da cidade “demore um pouco mais para chegar o cabo”, mas chegará. O grande diferencial do Poblenou não será de técnica, mas de conhecimento. Será – ou poderá ser – um nicho flexível de conhecimento que estará à frente de outras áreas da cidade, mesmo conectado com elas. O objeto da MPGM que é “renovação dos solos industriais do Poblenou pela criação de um moderno distrito de atividades econômicas com infra-estrutura e urbanização adequadas aos requerimentos das empresas e com presença importante das atividades emergentes do novo setor das tecnologias de informação e comunicação (TIC)”, é uma opção geopolítica e não apenas econômico-financeira, o fato de legalizar as habitações existentes comprova esse fato, pois são atuações políticas sobre o território. Fazem parte dessa opção também afirmações como “área degradada do Poblenou” e mais clara ainda

as que encontramos no discurso do Alcade de

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Barcelona , afirma ele: “La apuesta, pues, ha sido preservar la catalogación de industrial y añadirle densidad. Y aquí viene la segunda parte, radical, de la decisión. Si, en términos europeos, mantener la catalogación industrial en el centro de la ciudad es un atrevimiento, un segundo atrevimiento es añadirle densidad, cuando habitualmente las tendencias que lamentablemente predominan en muchas ciudades consisten en la disminución de la densidad; incluso nuestro planeamiento, nuestra teoría urbana generalmente aceptada, que es la filosofía del Plan General Metropolitano, es el de la reducción de la densidad. Creemos que en la ciudad del conocimiento la apuesta no tiene éxito si no está presente la densidad, y debe ir asociada a ciertas economías —externalidades, según los economistas— derivadas de la agregación. Es decir, la proximidad entre esta actividad genera en sí misma una externalidad positiva que se convierte en valor económico. El modelo de la ciudad del conocimiento, desde el punto de vista del tejido urbano, de la trama urbana, se basa en la mezcla como concepto urbanístico principal —la no-especialización del territorio en tramos productivos y residenciales— y en la garantía de presencia de puestos de trabajo de cualificación media y alta, junto a la capacidad que la ciudad ya tiene como forma natural de atraer 16

CLÓS, Juan .Barcelona: La ciudad del conocimiento. Conferencia impartida en el marco del Programa de Doctorado sobre Sociedad de la Información y el Conocimiento de la UOC (Barcelona, 28 de mayo de 2001)

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puestos de trabajo de nivel no cualificado —servicios a las personas, restaurantes, lavandería..., en fin, este tipo de servicios que son típicos de les ciudades turísticas, por decirlo de alguna forma—. Nosotros nos defendemos de esta especialización a través de la catalogación del 22@”. Sem dúvida, criar a subzona 22@ foi muito inteligente por parte da comissão encarregada. Isso evitou grandes transformações burocráticas e ao mesmo tempo não alterou aquilo que se aplica às indústrias. E, mais importante, possibilita que, no futuro, outras áreas metropolitanas passem de 22a para 22@. A densidade que já foi citada aqui e agora comentada pelo Alcade é uma aposta para manter os limites de crescimento da cidade, sem que ela aumente horizontalmente. Essa proposta-aposta resolve uma outra questão embutida: a migração de pessoas de baixa renda e baixa escolaridade para o Poblenou, normalmente imigrantes. Nos tempos da industrialização a migração para o bairro era de espanhóis vindos de outras áreas da Catalunha e da Espanha como um todo, hoje a imigração de marroquinos, latino-americanos em busca de uma melhor possibilidade de vida, traz em seu bojo problemas dos mais diversos para a administração da cidade. No Poblenou a proposta-aposta é a gentlificação, isto é, elevar o nível médio da população local com a chegada de pessoas de rendas e formação mais altas. De um bairro historicamente popular, formado por massas de trabalhadores da indústria, projeta-se um bairro “novo”, com características distintas daquelas passadas. Mantém-se o caráter industrial, porém da nova economia. As possíveis novas moradias, possíveis porque nem todos irão para os lofts, baseadas nas experiências da década de 60 nos EUA, já são realidade. Se o loft de Mariscal em 1992 foi pioneiro, oito anos depois não causa mais espanto ou admiração, ao contrário, já está incorporado ao cotidiano das pessoas. Peguemos o exemplo do loft do Paseo Isabel II, n.º 6 em Barceloneta. O projeto dos arquitetos Carlos Nicolau e Inés Rodrigues Mansilla durou 12 meses (de julho 1998 a junho 1999), não em uma fábrica mas em um prédio antigo e, conforme seus autores o custo da obra foi 84.142 € e o mobiliário 15.016 € para uma superfície de 130 m². Pelo exposto podemos ver que os novos possíveis moradores, já definidos anteriormente, gerando um novo processo, podem gerar novas demandas para o local “não permitindo” ou dificultando a presença de pessoas com outras características. Assim, o que a MPGM regulariza e transforma atinge diretamente a formação social e econômica não apenas do bairro, mas de toda cidade. A infra-estrutura necessária está definida no artigo 19 e inclui, além dos serviços básicos (água, gás, iluminação, esgoto) as redes de fibra óptica e redes de telefonia e telecomunicações. Contudo, a primeira disposição transitória pode acarretar problemas de ordem social e trabalhista pois “as edificações e usos atualmente existentes em solos qualificados com 22@ que dispõe de licença municipal e que não resultem admitidos com a nova regularização tem a consideração de desconformes, sem prejuízo das determinações que possam estabelecer os Planos Especiais das atuações de transformação” (p.18).

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O que ocorreu anteriormente com as casas de habitação hoje acontece com as atividades industriais: a partir de uma modificação de planejamento urbano estão desconformes com o local onde estão instalados. E a MPGM vai além, proíbe qualquer nova construção industrial não incluída na chave 22@. Em relação à construção de escritórios ou a transformação de locais para esse fim, a MPGM cita os estudos da empresa Aguirre Newman que conclui: . A demanda de teto terciário no Poblenou coloca o bairro como motor da cidade de Barcelona. . Barcelona tem atualmente um estoque de 4 milhões de m² de escritórios, o que representa 56 do estoque de Madrid e 16 de Londres. . A prefeitura deve garantir a transformação do Poblenou independente do ciclo econômico e imobiliário. A visão deve ser de 15-20 anos. O exemplo mais claro vem a ser Docklands de Londres, é o melhor exemplo de como uma cidade garantiu sua posição na Europa regenerando uma área degradada... . Estima-se que o Poblenou tem um potencial de absorção terciária em 10 anos de 1,4 milhões de m². .Se Barcelona não cria o polo terciário do Poblenou, é necessário criar em uma outra localização. Senão, continuará perdendo usuários que trocam de localização por ter melhores condições. . O desenvolvimento terciário do Poblenou será feito de forma escalonada e procurando concentrar núcleos terciários. . Para a transformação do Poblenou (existem três cenários de absorção segundo o tipo de intervenção): 1. Transformar o Poblenou com usos que incluem terciário e deixar que o mercado regule a promoção de escritórios, tipos de usuários e absorção. 2. transformar o Poblenou com um componente terciário importante por meio de uma gestão ativa da prefeitura. 3. desenvolver a opção anterior combinado com ações de marketing direto para atrair demanda e fomentar o interesse pelo Poblenou.

Ainda conforme o estudo, isso gera: Na opção 1: 35.000 m²/ano a 1500-1700 pstas/m²/mês Na opção 2: 95.000 m²/ano a 1900-2200 pstas/m²/mês Na opção 3: 135.000 m²/ano a 2200-2400 pstas/m²/mês

Opção 1 Capacidade absorção

de

% de absorção de Barcelona Tipologia Edifícios

Opção 2

35.000 m²

95.000 m²

135.000m²

17,76%

48,22%

68,53%

dos Oficinas industrial

semi- Zona Diagonal Calle Tarragona

Tipologia Usuário

Opção 3

do Busca oficina Aguas de BCN barata com Gas Natural armazém

Zona diagonal Calle Tarragona IBM CitiBank

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Efeito

O fator Poblenou como Se projeta aos industrial segue centro de níveis nacional predominante escritórios e internacional

A citação feita pela MPGM não informa como a empresa chegou nesse números e como é possível aumentar, da Opção 1 à 3, 100.000 m² ou mesmo da Opção 2 para a 3, aumentando 40.000 m². Somente com essa citação fica muito clara a necessária intervenção dos governantes no projeto. Evidentemente que a opção 3 é a mais viável neste momento. Com base nesses dados e nas estimativas feitas, a MPGM conclui os estudos econômicos e financeiros que resultam: “O estudo demonstra que são viáveis, desde o ponto de vista da promoção imobiliária privada, as operações de transformação planejadas : predeterminadas e opcionais. Contudo, as operações que suportem custos de transformação mais elevadas a consolidar sobre solos menos consolidados (23% aproximadamente) terão retardados os objetivos de desenvolvimento e se executarão ao ritmo que evolucionem as condições de demanda de tetos de atividades produtivas e os preços dos diferentes produtos imobiliários. O desenvolvimento do resto das atuações está garantida, do ponto de vista da viabilidade imobiliária, e evolucionarão ao ritmo da demanda de teto produtivo”.

Junto a essa conclusão, devemos citar também, os pontos do programa de atuação e suas previsões temporais: a. A reurbanização do setor – está prevista a sua realização em 4 anos. b. As atuações de transformações delimitadas na MPGM – elaboração do planejamento de desenvolvimento pela prefeitura seis meses depois da aprovação definitiva da MPGM. c.

Atuação de transformação não delimitadas – a prefeitura poderá empreender novas atuações de

transformação. d. O Plano Especial de Transformação – será elaborado em 3 meses depois de aprovada a MPGM. e. Planos Especiais dos Fronts consolidados – elaborados pelos proprietários de cada front. f. Cessões em âmbitos descontínuos – a prefeitura adotará as medidas para coordenar a execução dos planos.

Os Planos de Reforma Interior aprovados são: . Setor Llull – Pujades (levante) abarcando as três ilhas que configuram a frente da Calle Llull entre Bac de Roda e Selva Mar e, . Setor Perú – Pere IV, seis ilhas entre as Calles Paraguai, Maresme, Cristobal de Moura e Josep Pla. Um importante ponto neste setor é o cruzamento da Calle Pere IV com a Rambla de Prim. Além desses, oito projetos privados já estão aprovados pela comissão: 1. Plano Especial para reutilização do edifício industrial situado na Calle Pallars, 108. Esta fábrica têxtil, construída em 1992, agora passa a ser aproveitada pela empresa Retevision S.A. .

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A empresa pretende instalar um Centro de desenvolvimento de novas tecnologias B2B e B2C (Business to business e Business to customer, respectivamente); um Centro de pesquisa de plataformas para comércio eletrônico, um Centro I+D de tecnologia e armazenamento de dados SAN (Storage Area Network), SAS (Storage Attachment System) e ESM (Enterprise Storage Model); um Centro de implantação de tecnologias integradas VEU – Dados a WAN/LAN; um Centro de desenvolvimento de plataformas de monitoramento de sistemas e um Centro Nacional de Operações de Dados (CNDO). 2. Plano Especial para reutilização de um edifício industrial consolidado situado na Calle Pere IV, 69-73 com Calle Pallars 128-130. O edifício construído em 1976 para uma revenda de veículos será utilizado pela empresa Jaume Baulera S.L. para a construção de um hotel 4 estrelas ou superior. O projeto contempla salas de vìdeoconferência, salas para convenções e reuniões empresariais. 3. Plano Especial para reutilização do edifício industrial consolidado situado na Calle Ávila, 112-114. A empresa Fonaments S. A. ocupará a área, antes destinada a várias atividades industriais desde sua construção no ano de 1965, para atividades de alta tecnologia propostas no projeto 22@. 4. Plano Especial para reutilização do edifício industrial consolidado situado na Calle Ávila, 6165. A proposta da empresa Prominmo para este edifício do ano de 1970 anteriormente utilizado para armazenagem e distribuição de mercadorias, será a instalação de escritórios de atividades de alta tecnologia 5. Plano Especial para reutilização do edifício industrial consolidado situado na Calle Zamora, 54-58. O edifício industrial escolhido pela empresa Edifício Arroba S.L. será destinado também aos escritórios com atividades de alta tecnologia voltados para as áreas de comunicação e informação. 6. Plano Especial para reutilização do edifício industrial consolidado situado na Calle Veneçuela. Reutilizado pela empresa Estudios y Servicios de Empresa S.L. este edifício de componentes automotivos será destinado para escritórios relacionados às atividades TIC. 7. Plano Especial de Ilha: Sancho D’àvila, Badajoz, Ciutat de Granada e Almogàvers. A proposta da empresa Joaquim Castellvì – Inmobiliaria Perú S.L. é a transformação de toda uma ilha do eixample delimitada pelas ruas citadas. Pretende-se construir um edifício que seja simbólico para a área ao mesmo tempo que os equipamentos públicos sejam revalorizados nessa ilha. Espaços para Habitação também estão previstos com frente para a Calle Badajoz.

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Essa ilha está dividida em três parcelas: uma sem edificação, quatro partes com usos industriais, comerciais e diversos e edifício de uso e construção consolidados

como centro de

formação do Banco BBVA, Diputació de Barcelona e Institut del Teatre. 8. Plano Especial de Parcela situado na Calle Doctor Trueta, 129-133 e Calle Badajoz, 25. Este antigo edifício, construído entre 1900-1950 será também utilizado pela empresa Retevision I.S.A. para desenvolvimento e implantação de tecnologias CRM e IVR (Customer relationship management e interactive voice response) e principalmente de desenvolvimento de redes inteligentes, televisão interativa e Internet.

CONSTRUINDO A CIDADE DO CONHECIMENTO

Os estudos sobre a transformação do bairro do Poblenou, através do projeto 22@BCN, prosseguem. Até aqui apresentamos nossos estudos dos dois documentos de extrema importância para a execução das obras em Barcelona:

o ECD - Estudi Ciutat Digital do Institut Català de

Tecnologia (ICT) do ano de 1999 e o texto MPGM - Modificació del PGM per la renovació de les zones industrials del Poblenou – districte d’ativitats 22@BCN - TEXT REFÓS, divulgado pelo Sector d’Urbanisme em setembro 2000. Consideramos como os mais importantes por serem a base teórica e a oficialização das mudanças, respectivamente. O primeiro serviu de base para o segundo e, juntos, requalificam uma área da cidade e a renovação pode ser executada no espaço ou, dizendo de outra maneira, formam as duas potencialidades necessárias: a potencialidade do conhecimento técnico e a potencialidade da ação, isto é, a política (SANTOS:2000,93-4). Analisaremos aqui os dois estudos a partir dos conceitos de território informatizado e Cidade do Conhecimento, este último muito utilizado, no sentido de que tanto as redes telemáticas quanto as cidades que oferecem infra-estrutura para atividades TIC, são assim denominadas. Dessa forma, a web page da Universidade de São Paulo (www.cidade.usp.br) informa que é uma cidade do conhecimento, definindo os objetivos a serem alcançados com a iniciativa, da mesma forma que na web page da cidade de Barcelona podemos ter uma idéia do que a prefeitura está fazendo e oferecendo no bairro do Poblenou (www.bcn.es). Enquanto informação disponível ao usuário da Internet, as duas estão realmente explicitando maneiras de fazer a Cidade do Conhecimento, porém, é na materialidade que as coisas se tornam diferentes sendo necessária uma teorização para sabermos do que realmente estamos falando quando tratamos de Cidades do Conhecimento. O conceito de território pode ser abordado de diversas maneiras, considerado em si-mesmo, e nesse caso, separado da vida que o faz ter sentido material e histórico ou, como território utilizado, conforme o faz Milton Santos

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para afirmar a vida que movimenta o território e a “inseparabilidade

SANTOS, Milton & SILVEIRA, Maria L. SãoPaulo:Record, 2001

Brasil. Território e Sociedade no início do século XXI.

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entre a materialidade, que inclui a natureza, e o seu uso, que inclui a ação humana, isto é, o trabalho e a política”. Aqui utilizamos o conceito de território informatizado aceitando a materialidade do território utilizado. O recorte através do território informacional possibilita entender como determinados processos foram possíveis ali e não em outro local, mas não estão alheios ao todo. Podemos mesmo dizer que, num primeiro momento, foi o território informacional, ainda virtualizado, o que possibilitou o surgimento ou a idéia da Cidade do Conhecimento e não ao contrário. O que o distingue conceitualmente das outras maneiras de abordagem é a carga de informação e conhecimento, encarada como um recurso desse território que o distingue de outras áreas que – ainda – não possuem esse recurso, implicando uma transformação radical em toda a sua área de atuação e muito além de suas fronteiras físicas. O território informatizado está ligado por outras formas de redes de fluxos, podemos dizer mais fluídas, em comparação às redes de tráfego de automóveis, trens etc., que também o compõem. O território informacional é uma construção importante para a formação da Cidade do Conhecimento e, no exemplo estudado mais ainda, pois é uma cidade “já formada”, isto é, onde não é possível e nem desejável uma transformação radical, derrubando grandes áreas para construção de novos projetos. O que trafega nas redes de fibra ótica desse território informacional forma outra materialidade que se expressa também de maneira diferente nos territórios, conforme as propostas das empresas e, em certa medida, da sociedade para execução da Prefeitura de Barcelona no Poblenou. É dessa maneira que o território informacional pode ser chamado de Cidade do Conhecimento. Por outro lado, o conceito de Cidade do Conhecimento não pode ser tomado de imediato como uma metáfora para as cidades com esse componente informacional. Isso porque em um prazo muito curto toda a cidade estará envolvida com os fluxos gerados no território informacional. Este não está além e nem mesmo fora do âmbito urbano das cidades que os acolhe, ao contrário, são possíveis dentro de processos mais gerais do desenvolvimento delas. Dessa maneira, não podemos “retirar” o Poblenou de Barcelona ou ainda entendê-lo fora de um contexto mais geral que é a globalização. Podemos também pensar o território informacional como o resultado de uma área não valorizada pelo capital nos processos anteriores vividos pela cidade e, nesse sentido, seria como área de reserva que precisou esperar novos fluxos espaciais e temporais para se consolidar como estratégica em sua cidade e região. O que este primeiro momento nos mostra é a utilização de um local anteriormente destinado às indústrias e depois abandonado por essa atividade, porém, neste momento a informação (o recurso) configura o Poblenou como uma área de abundância pela qualidade técnica da informação disponibilizada e a ser disponibilizada: a informação vertical que é operada através de satélites,

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cabos e outros aparatos tecnológicos, ao mesmo tempo que também deve garantir a informação horizontal, baseada na co-presença (Idem:idem) Os territórios informacionais ocupam os fixos de um tempo que não será esquecido através da preservação de antigos edifícios industriais, mas que não mais irá gerar os mesmos resultados sociais e econômicos. Tudo indica que passado esse primeiro momento de aproveitamento dos fixos industriais, o território informacional necessitará dispor de outros locais da cidade e esse crescimento se voltará mais para a infra-estrutura que para a arquitetura disponível, como ocorre hoje, o que estará em jogo é a possibilidade de compor outras áreas de abundância em Barcelona. A cidade de Celebration (EUA), para buscar uma experiência contrastante, comprova essa tendência quando é construída inteiramente com componentes de alta tecnologia. O fato é que Celebration inverte o caminho, de cidade projetada aos moldes de Cidade do Conhecimento, 18

passará a ser um território informatizado quando for “repassado” para Osceola County . A rua de 19

mão dupla (para lembrar Walter Benjamim ) que os territórios informacionais possibilitam, denotam a flexibilização dos processos urbanos em curso e futuros. A contra corrente dessa rua de mão dupla é a retradicionalização através da arquitetura do século XIX de Celebration e das naves industriais transformadas em apartamentos, escritórios, lofts de Barcelona. De toda maneira, o projeto de atuação no território informacional visa dotar a metrópole com aquilo que hoje é necessário para os investimentos de origem nacional ou transnacional. Por exemplo, é quase unânime a voz de arquitetos e urbanistas em Barcelona quanto a necessidade de fazer metrópoles compactas, densas, heterogêneas em sua extensão tendo em vista sempre que a 20

“cidade é, sobretudo, contato, regulação, intercâmbio e comunicação” , em oposição àquelas difusas, homogêneas e especializadas. Também o território informatizado distingue-se dos fluxos gerados nas cidades virtuais, às vezes chamadas também de Cidades do Conhecimento que existem na rede mundial de computadores que é a Internet

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e, portanto, diferentes da materialidade de que falamos, também

diferem dos tecnopólos que se formaram em muitas cidades do mundo. No primeiro caso são redes telemáticas envolvidas em processos de difusão e criação de conhecimentos específicos da cultura em rede, como é o caso do exemplo paulista citado. Já no segundo caso, a materialidade dos tecnopólos é visível no território, porém foram projetados para compor a periferia da cidade, muitas vezes com a construção de espaços específicos para isso. Utilizando a teoria sugerida por Pierre Lèvy

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podemos dizer que ambas são atualizações, mas

também virtualizações do que hoje se configura como território informatizado.

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Esta cidade foi objeto de minha pesquisa de doutoramento e pode ser consultada em: SILVA, Paulo Celso. Como anjos caídos... Mensageirias em espaços de flexibilidade e redes. Tese de doutoramento, USP/DG/FFLCH, São Paulo, 1999. 19 Benjamin, Walter. Obras Escolhidas II – Rua de mão única. São Paulo:Brasiliense, 1994. 20 INSTITUT CATALÀ DE TECNOLOGIA (ICT). Estudi Ciutat Digital. Barcelona: 1999. Pág. 51 21 Para uma reflexão aprofundada sobre a Internet ver CASTELLS, Manuel. La Galaxia Internet. Reflexiones sobre Internet, empresa e sociedad. Barcelona: Areté, 2001. 22 LEVY, Pierre. O que é o virtual? Rio de Janeiro: Editora 34, 1997. pág. 1

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Essas atualizações contemporâneas, baseadas em componentes de informação e conhecimento fixadas nos territórios informatizados, também diferenciam das cidades virtuais telemáticas porque são atualizações reguladas por muitos agentes envolvidos, como aconteceu na normatização dos planos diretores das cidades definindo e redefinindo áreas e, evidentemente, incluindo o cidadão comum e não somente aqueles que dependem do território para a criação da plus valia. A plus valia nesse caso também diferencia a sua forma de acumulação, de prazos e de resultados produtivos em uma escala temporal que inclui o tempo real. Esse último e decantado tempo pós-moderno gera outros tempos ainda mais fragmentários e em velocidades também fragmentárias entre os agentes envolvidos e no território, dessa forma o território informatizado não gera os mesmos fluxos nem para todas as pessoas e nem ao mesmo tempo. Esse fato já é esperado, principalmente porque a informação e o conhecimento são as matérias primas dos territórios informacionais e a necessidade do tempo real não será igual para todos e nem mesmo é o desejado pelas empresas. Como em todas as grandes transformações urbanas, temos muitos discursos e propagandas sobre as vantagens do proposto. Com o MPGM estamos diante de uma racionalidade técnica que está modificando a vida das pessoas envolvidas direta ou indiretamente. Diretamente podemos considerar aquelas pessoas que, com as novas normas urbanas, tiveram seus terrenos urbanos e edificações comprometidas, seja para legalizar, já que muitas delas no Poblenou ficaram ilegais a partir de 1976 com a aprovação do PGM ou foram desvalorizadas por serem consideradas como solo urbano não consolidado e atualmente tentam resolver essa questão na Justiça. Indiretamente as modificações atingirão as cidades da área metropolitana de Barcelona e as demais cidades espanholas, européias e americanas através das atividades desenvolvidas no local e das relações que se estabelecerão. As pessoas de comando na cidade apostam muito na influência de Barcelona como Cidade Mediterrânea Compacta, em oposição às cidades extensas e pouco operacionais. A cidade compacta e não especializada ou complexa traz mais vantagens que desvantagens, ao menos isso é consenso entre arquitetos e governo local. Porém, para a população as transformações ainda não estão claras e muitos duvidam do sucesso da empreitada. Principalmente porque as transformações não envolvem somente o bairro do Poblenou mas atacam em várias frentes: 22@BCN, Forum de Culturas 2004, reforma do aeroporto, trem de alta velocidade na estação La Sagrera etc. Aliada a todas essas transformações urbanas, a cidade de Barcelona recebe dia a dia uma quantidade enorme de imigrantes legais e ilegais vindos da Europa, América Latina e África, mas, principalmente do Marrocos e da Romênia. Estas pessoas buscam, para habitar, exatamente as áreas que hoje são foco de transformação devido ao baixo custo de aluguel e comércio. O Poblenou sempre configurou-se como uma área de atração migratória por ter em seu território muitas indústrias e moradias compondo a

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paisagem do bairro, não havendo a separação entre os lugares para indústrias e casas, com isso resolvia-se um problema de custo de transporte para os operários. Os projetos em curso atuarão também nesse ponto, modificando as estruturas de morar em Barcelona e as relações sociais entre os diversos grupos que formam hoje a sociedade barcelonesa. Soma-se a isso ainda a questão lingüistica para os estrangeiros: o uso do catalão obrigatório na escola e no trabalho, sem o qual não se arranja emprego. A iniciativa da Generalitat de Catalunya de oferecer cursos de catalão para adultos ameniza o problema das classes mais baixas. Colocamos em questão a situação dos “novos moradores”, que se espera para os Lofts, apartamentos e também as empresas multinacionais que devem se instalar no Poblenou, em relação a obrigatoriedade do idioma, já que o idioma inglês é o mais utilizado na área das atividades TIC. Parecem problemas menores, porém não aqui. Buscando respaldo nas pesquisas de Manuel Castells em A Era da Informação – O poder da identidade, onde dedica dez páginas para mostrar a possibilidade de uma Nação sem Estado, vemos que o idioma na Catalunha é fator de identidade nacional e cita Prat de la Riba: “ Catalunya é a grande seqüência de gerações unidas pela língua e tradição catalãs, que se sucederam no território em que vivemos” (p.65). Em outro estudo, agora com Díaz, sobre o impacto da Internet na Catalunha, o mesmo autor mostra, através da Distribuição da Internet de acordo com a linguagem das webs visitadas (pág. 15) o seguinte uso : Catalão – 48,9% Espanhol – 82,7% Inglês – 44,5% Outras – 7,6% Não é apenas a técnica o que vai mudar, não serão apenas mais “prédios emblemáticos” na cidade, como La Torre AGBAR, nem mesmo apenas mais um rótulo de Cidade do Conhecimento. O que se pretende e já se executa são mudanças muito mais radicais em médio prazo e de longo alcance. Do que pudemos observar, viver e conviver, o “modelo Barcelona”

se mostra bastante

apropriado para cidades médias brasileiras e para bairros menos valorizados de metrópoles, porém que sejam mais ou menos centrais, isto é, que não estejam tão distantes dos centros de decisão. Finalizando, podemos reafirmar a importância dos dois textos em seus conteúdos teóricos e práticos pois possibilitam uma reflexão sobre a maneira como as políticas urbanas estão sendo implementadas na cidade ao mesmo tempo que respondem ao imperativo da técnica deste momento técnico informacional para garantir a continuidade dos ganhos e investimento no espaço barcelonês.

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PALAVRAS FINAIS As Cidades do Conhecimento apontam uma nova situação para as metrópoles de muitas partes do mundo. Hoje ainda não podemos falar literalmente em uma Cidade do Conhecimento, mas de um território informacional com grandes chances de estender-se de seu bairro para toda a cidade. Tal extensão também está relacionada com o próprio produto-matéria prima – a informação – e os consumidores-produtores de outras áreas das cidades, hoje mais valorizadas pelo capital imobiliário e ligados às classes médias e altas. Durante um período de desenvolvimento e adaptação, os territórios informacionais poderão funcionar “paralelos” ao restante da cidade, porém, a infra-estrutura, destinada a esses locais, não demorará a ser reclamada nos bairros (redes de fibra óptica, energia solar etc.) mais valorizados. Também a gentlification das áreas chamadas degradadas deverá contribuir para a extensão da infraestrutura. Provavelmente o conceito e a situação de território informacional fique melhor demonstrada em metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro que atingem e influem diretamente em todo o Brasil. Isto é, metrópoles como Barcelona têm o seu papel destacado dentro de seus respectivos países e mesmo globalmente, porém, concorrem com outras de igual importância quando o tema é relacionado às atividades TIC. O território informacional, a maneira como foi exposto, se configura como um momento da metrópole - ou pós-metrópole como sugere Edward Soja. Momento em que os paradigmas que nortearam as metrópoles fordistas e, consequentemente os investimentos econômicos e humanos, estão mudando para fazer frente às exigências das novas demandas globais. A mudança na infra-estrutura trará uma reorganização territorial com conseqüências diretas para toda a população. A esperança de uma educação continuada, uma distribuição mais eqüitativa do conhecimento, a melhora do nível de vida urbano estão entre os fatores positivos, e uma certa imposição tecno-comunicacional, a aceleração no tempo de acumulação de dados pelas pessoas, entre os pontos negativos a serem superados, possivelmente através da cultura, desde que a aposta seja nas pessoas e não nas tecnologias desenvolvidas, que são ferramentas e não fins em simesmas. A cidade continua a ser o palco privilegiado de mudanças importantes na vida de todos. A ampliação das chamadas Cidades do Conhecimento pelo mundo todo mostra-se, não como uma fase, mas como uma exigência dos vários setores sociais envolvidos. As empresas buscam locais onde possam desenvolver e produzir (principalmente desenvolver) e isso demanda uma outra oferta de mão de obra que, consequentemente, reclama informação e conhecimento para poder colocar-se melhor no mercado de trabalho, na formação educacional e no lazer direcionado. Todas essas circunstâncias geram distâncias entre as cidades que oferecem as condições e tecnologia para sua população daquelas que não podem oferecer de maneira mais generalizada. Como afirmou Castells sobre a Internet e ampliamos para as redes de uma maneira geral : “a Internet

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não se come, mas em nosso mundo sem Internet não se come” , isso implica em uma dificuldade cada vez maior para a realização de muitos objetivos humanistas, entre eles uma melhor distribuição da riqueza. A Cidade do Conhecimento, como criadora, palco e atriz num só tempo, continuará atraindo grandes contingentes de pessoas em busca de formação, informação e conhecimento, mas igualmente aumentará a circulação de pessoas tanto com conhecimento de interesse para outros lugares como aquelas que não conseguiram atingir o que buscavam. Um nomadismo urbano baseado em redes, conhecimento e informação diferente dos momentos anteriores de deslocamento entre cidade-campo, cidade-cidade e país-país. Este será um deslocamento de um ponto a outro da rede mundial (de um nó a outro) porém, como nos momentos anteriores, será possível apenas aqueles que têm condições de se deslocar: física e economicamente e que possam agregar sempre algum plus valor ao lugar de chegada. O território informacional caminha para ser a Cidade do Conhecimento. As tendências apontadas por esses territórios não são meras expectativas e sim ações concretas que os prazos propostos apenas indicam serem princípios.

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Revista Magazine (La Vanguardia) El mundo que viene – Manuel Castells, una visión humanista en la era de la tecnología. 11 de novembro de 2001, págs. 34-41.

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