Podem os computadores pensar?

July 25, 2017 | Autor: Antonio Castro | Categoria: Filosofía Política
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Antonio Gomes de Castro Junior



FILOSOFIA DA MENTE

Computadores podem pensar?











Fortaleza – Ceará
2014
RESUMO: Este trabalho tem como objetivo apresentar a argumentação de John R. Searle retirada do capítulo "Can computers think?" de seu livro "Minds, Brains and Science". Será que um dia, seremos capazes de construir máquinas e robôs que sejam capazes de pensar?

PALAVRAS-CHAVE:
Computador, Inteligência artificial, Robótica, Quarto Chinês, John Searle.

ABSTRACT:
This work aims do present John R. Searle´s argumentation extracted from the chapter "Can computers think?" of his book "Mind, Brains and Science". Will it be possible, one day, for us, to create machines and robots that are capable of thinking?

KEYWORDS:
Computer, Artificial Intelligence, Robotic, Chinese room, John Searle.


1. INTRODUÇÃO
É comum ouvirmos pessoas dizerem que é só uma questão de tempo para que os cientistas criem robôs que pensem e se comportem de forma semelhante a um ser humano. É até possível vislumbrar um futuro no qual os robôs teriam a capacidade de aprender com o meio em que vivem e seriam capazes de observar e adquirir conhecimento assim como os humanos que, ao longo dos anos, através da observação e da reflexão, têm a possibilidade de conhecer o mundo e interpretá-lo.
Neste trabalho, vou apresentar a argumentação de John Searle extraída do capítulo "Can computers think?" do livro "Mind, Brains and Science", de sua autoria.

2. CAN COMPUTERS THINK?
John Searle começa afirmando que apesar de ainda não conhecermos, em detalhes, como o cérebro funciona, temos uma ideia geral do relacionamento entre processos cerebrais e processos mentais. Segundo ele, a visão que prevalece na filosofia, psicologia e inteligência artificial é a que dá ênfase à analogia entre uma mente funcionando e um computador digital funcionando. De forma extrema, poderíamos imaginar que o cérebro está para o hardware assim como a mente está para o software. Com essa visão, qualquer sistema físico, seja uma máquina ou robô, que pudesse executar o programa adequado recebendo "inputs" e apresentando "outputs" semelhantes aos nossos teriam uma mente similar a nossa. Muitas pessoas leigas e até mesmo alguns cientistas importantes na área da inteligência artificial que se baseiam nessa visão, acreditam que o problema é que ainda não desenvolvemos o programa adequado, mas isso seria apenas uma questão de tempo.
Searle refuta essa tese e afirma que a natureza dessa refutação não se deve ao estágio em que nos encontramos hoje na ciência da computação. É importante ressaltar esse fato porque temos a tendência de acreditar que devemos apenas dar mais um pouco de tempo ao tempo para que as novas tecnologias se encarreguem do resto. Para ele isso é um engano e devemos nos questionar sobre qual é o real conceito de um computador digital. É essencial que entendamos que as operações realizadas por esse tipo de máquina são especificadas de maneira puramente formal, isto é, nós informamos os passos que devem ser realizados através de uma linguagem de programação contendo um conjunto de símbolos pré-estabelecidos que são entendidos pelo computador. Esses símbolos não têm nenhum significado, não possuem nenhum conteúdo semântico. Um tipo de hardware, se apropriadamente preparado para manipular esses símbolos, pode executar uma infinidade de programas diferentes, e um programa pode ser executado em diferentes tipos de hardware se preparados de forma similar. Essa característica dos programas, que são definidos de maneira puramente formal e sintática é muito diferente do que ocorre com os nossos processos mentais. Estou escrevendo esse artigo e pensando que assim que terminá-lo vou tomar uma cerveja gelada para relaxar. Searle afirma que mesmo que esses pensamentos sejam a mim apresentados numa cadeia de símbolos tem que haver algo a mais no pensamento porque uma cadeia de símbolos abstrata não pode ter significado algum. A mente tem mais que sintaxe, tem também semântica. A razão pela qual nenhum programa de computador poder ser semelhante à mente é, simplesmente, o fato de ser apenas sintático. Mentes são semânticas no sentido de que elas têm mais do que apenas estruturas formais, possuem também conteúdo.
Para ilustrar esse ponto, Searle faz uso de um experimento de pensamento que será apresentado a seguir.


3. O EXPERIMENTO DE PENSAMENTO DO QUARTO CHINÊS
Imagine que um grupo de programadores escreveu um programa que irá possibilitar um computador simular o entendimento da língua chinesa. Se fosse dada uma questão em chinês, o computador iria buscar essa questão em sua memória ou base de dados e, a encontrando, apresentaria a resposta apropriada para essa questão em chinês. Suponha que a resposta apresentada pelo computador fosse tão boa quanto a de um nativo da língua. Com base nesse exemplo, o computador estaria entendendo a língua chinesa da forma como uma pessoa chinesa a entende? Imagine ainda que você está trancado num quarto e nesse quarto há uma série de caixas com vários símbolos chineses. Você, assim como eu, não entende uma palavra sequer em chinês, mas lhe foi dado um livro de regras em inglês (sua língua nativa) para manipular esses símbolos. As regras especificam de maneira puramente formal nos termos de sua sintaxe, e não de sua semântica, o que deve ser feito com os símbolos. Por exemplo: pegue o símbolo x da caixa 1 e ponha-o ao lado do símbolo y da caixa 2, e assim por diante. Do lado de fora do quarto, pessoas chinesas te passam algumas "perguntas" com os símbolos característicos dessa língua e você, por sua vez, utiliza as regras do livro que recebeu para a manipulação desses símbolos e as devolve como "respostas". Você não sabe que o que te é passado são perguntas e está devolvendo respostas. Imagine que esse livro de regras é tão bem elaborado que você "responde" as perguntas de forma indistinguível de um nativo na língua chinesa. Com base nessa situação hipotética, segundo Searle, não há chance alguma de você aprender chinês simplesmente manipulando esses símbolos.
O ponto central desse experimento é que se você não entende chinês, nenhum outro computador será capaz de entender. O fato de estar respondendo corretamente as perguntas em chinês executando passo a passo um conjunto de instruções não se segue que você ou qualquer computador entenda esse idioma. Entender um idioma envolve mais do que manipular um conjunto de símbolos formais, é necessário que haja uma interpretação, um significado para esses símbolos.
4. ANÁLISE DA ARGUMENTAÇÃO DE SEARLE
O experimento do quarto chinês é uma tentativa de demonstrar que a simples implementação de um programa sofisticado, que atenda seus propósitos não é o mesmo que pensar. Searle estrutura a sua argumentação da seguinte forma:
Premissas:
O cérebro causa a mente.
A sintaxe não é suficiente para a semântica.
Programas de computador são definidos inteiramente por sua estrutura formal e sintática.
A mente tem conteúdos mentais, isto é, possui conteúdo semântico.
Conclusões:
Nenhum programa de computador, por si próprio, é suficiente para dar ao sistema onde são executados uma mente.
A forma de funcionamento do cérebro que causa a mente não pode ser unicamente em virtude da execução de um programa de computador.
Qualquer outra coisa que cause a mente necessita de capacidades causais semelhantes às do cérebro.
Para qualquer artefato que pudéssemos construir que tivesse estados mentais equivalentes aos nossos, sua implementação por um programa de computador seria insuficiente, uma vez que teriam que ter as capacidades de um cérebro humano.

5. CONCLUSÃO
Searle assume um reducionismo ao afirmar que os processos mentais que consideramos constituir a mente são inteiramente causados por processos que ocorrem no interior do cérebro, porém essa tese é também amplamente defendida por evidências provenientes das neurociências. Analisando todas as premissas e as conclusões de sua argumentação, entendo que Searle está correto ao afirmar que computadores não pensam.
É importante ainda enfatizar que não se trata do estágio atual que estamos na área da tecnologia da computação. Tivemos avanços significativos nessa área nos últimos anos e continuaremos evoluindo em ritmo acelerado. Não há dúvida que continuaremos simulando de forma cada vez mais sofisticada o comportamento humano através de robôs dotados de programas de alta complexidade. O ponto central da argumentação de Searle, com a qual coaduno, é o fato de que não importa a perfeição dessa simulação, computadores operam através de programas definidos sintaticamente enquanto a nossa consciência, pensamentos, sentimentos, emoções e todo o resto de coisas que caracterizam os seres humanos, envolvem muito mais do que apenas forma e sintaxe. É possível que simulem com perfeição o nosso comportamento, mas ainda não são capazes de duplica-los. Nós, como os observadores externos do experimento do quarto chinês, podemos até nos iludir com tanta semelhança, mas no interior de um cérebro eletrônico, existe apenas um programa de computador em execução.








REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CHALMERS, DAVID J. Philosophy of mind – Classical and Contemporary readings. Oxford University Press, 2002.
SEARLE, JOHN. Nossa condição em comum – a consciência. Disponível em:
. Acessado em 13 de Novembro de 2014.
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Texto original extraído do livro Searle, John. Mind, Brains and Science, pp.28-41. Copyright 1983 Harvard University Press. Reimpresso com autorização do autor e editora no livro de Chalmers, David. Philosophy of mind – Classical and Contemporary readings, pp.669-675. Oxford University Press, 2002.
Nesse contexto a palavra "entendidos" não significa que o computador compreenda semanticamente esse conjunto de símbolos, o sistema operacional instalado nesse computador foi projetado para saber interpretá-los.
Programas com objetivos diferentes tais como um editor de textos, um jogo dentre outros.
Esse livro de regras é comparável a um programa de computador escrito por um grupo de programadores.

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