POEMAS PUBLICADOS NO ABERTINHO ATÉ JULHO DE 2017

June 1, 2017 | Autor: Rogério Mattos | Categoria: Poemas
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POEMAS PUBLICADOS NO ABERTINHO ATÉ JULHO DE 2017 Madrigal em homenagem a Guimarães Rosa Quando a toada da noite surgir O chefe vai cantar seu madrigal A lua ponteia em Jacuí É quando segura mais forte seu embornal Quando aparece o Alaripe Mano bom de mui fina moral A lua ponteia em Jacuí Anunciando a luta do bem contra o mal O velho já ouviu o juriti Pássaro voa no matagal Já se anunciou no Serro-Curí Chefe-velho apareceu no matagal Quando aparece o Alaripe Já se anunciou em todos Gerais Chefe-velho está plantado no sertão Como buriti É senhor do bem e do mal O profeta e a guerra Para Lyndon LaRouche

The war sit down on war. A guerra assenta-se, assevera-se. Naquelas mesmas terras onde o profeta João viu o anjo abrir o poço do Abismo. Do buraco fumacento saiu uma multidão de gafanhotos, com caudas como de escorpião e a permissão para espalhar a morte. "O primeiro, Ai!, já passou. Veja que atrás vêm contudo outros dois", disse o vidente de Patmos. Mas falava de Hiroshima? De Nagazaki?

Os gafanhotos voadores já atacavam naquela época? Qual foi a primeira bomba? A do Japão ou a que destruiu o reinado dos "deuses astronautas"? Qual será a terceira? Com certeza não será a do Irã, como LaRouche sabe. Pois, esta já tem data marcada. E serão detonadas antes de chegar ao fim o dia de amanhã. Dois noturnos cariocas Um salão, um vasto espaço em que ao redor se estendiam móveis de cor rubra, cobre. Objetos firmes, cor de sangue e como que dourados. Espaço iluminado por uma luz crepuscular. De um lado a firmeza que parecia se revestir todo o ambiente, de outro esta atmosfera de um brilho difuso, quase encantado. Estaria o fundo em vermelho a se sobrepor a qualquer das coisas que nos rodeavam – móveis de madeira maciça, cadeira de material semelhante e assentos de tecido vermelho, talvez detalhes dourados ou o inverso –, e nada disto existia, apenas um espaço como que em branco. Apenas os dois, espaços noturnos por onde passavam trilhos velhos e distendidos a ranger palavras sobre memórias, choques de natureza quântica em meio ao casebre de teto abaulado, cujo exterior sempre fora de segredo para todos e para qualquer um. - Quando as chances se acabam? Natureza terrível pelo simples fato de se submeter ao claustro de perguntas que não a contém, telhados da memória sobre o qual não se vê mais nenhuma casa. No entanto, ela está ali. Se é única, se suas paredes e móveis são tão firmes, se a luz é perene ou se apaga como em cerrações noturnas – nada pode ser respondido. Dois seres noturnos transitando num espaço ignoto, cerrações noturnas a empalidecer a luz da lua enquanto eu peço mais uma cerveja. Quantas chances? Todas aquelas que não se desfazem logo após se firmarem como sorriso. Espaço enluarado, tensão de chuva que não chega, natureza que não se move. Pequenos guarda-sóis como pirulitos da garota que não conheceu o azul. Tetos abaulados, luz difusa, amarelo dourado, rubro, quase como púrpura, como se entre o lilás e o avermelhado houvesse mais espaço do que entre a avenida larga e as esquinas onde não se encontra ninguém. Estaria num bar, num bom restaurante, numa rua e um vento fresco, sorriso acompanhado, andanças barrocas pelo Rio sem fim. É quando o cobre vale mais do que o ouro, o rio é mais extenso que o mar, o mármore menos resistente do que o adobe. Entender em termos de “se”, de “chances”, equilíbrio tão insólito é ignorar toda e qualquer natureza noturna. As palavras somente se encaixam rangendo nos trilhos que levam às mais remotas memórias, num choque inexplicável em termos de eletricidade, bruta demais por maltratar a matéria e por vezes ser escandalosamente vista pelos olhos. Trilhos noturnos que atravessam a casa como se esta fosse um espaço aberto, uma bucólica, interiorana, pitoresca estação ferroviária... Mas a verdadeira caça é a que se

faz no trem que leva a Éden, no ramal onde podemos nos estender até Japeri: trajeto de sombras no interior dos vagões, clarões acobreados matizando a paisagem, crepúsculo adorado duplamente por ser céu que se dobra sobre si mesmo. O subúrbio afinal nos leva somente ao Éden. Quero dizer que as casas, casebres, prédios feios, sujos e velhos (nunca altos), ruas tortas (daqui não dá para ver as condições do asfalto, os remelexos e rebuliços de quem viaja pelo interior da terra ignorada), lojas pobres, comércio antigo, talvez fábricas e usinas (nada moderno), nos faz lembrar Éden a exata acepção da palavra, deste tom de cobre que agora se reveste a paisagem translúcida, a casa abaulada que talvez exista somente em sonhos. Cruz e Souza e Lima Barreto, andanças barrocas pelo Rio sem fim, como caçador em meio às serras das minas gerais del Reyno, cabana ocre, jangada indígena, linhas em grafite, menos escritura do que tela. O céu se dobra sobre o céu, retângulo gris, janela aberta, o trem que range. Estamos de fato no Éden, ainda... A locomotiva vai até Japeri. Antes, porém, salto na estação ainda em busca de um jardim... A parede acobreada novamente nos sufoca. Olho para a lua que surge entre as nuvens como se estas traçassem no flanco aberto que desenham a imagem de um rio. Assim, a lua reflete a si mesma num céu visto como que sobre transparências, a claridade difusa se espalha. É como se, na casa, no casebre, nos iluminasse a luz das velas, o dourado, o avermelhado, não a claridade elétrica. A lua reflete-se no rio estelar por onde boia, na casa que se dobra sobre a paisagem ignorada. Na linha que segue do Leme ao Posto Seis, num ponto, numa dobra, naquele lugar que poderia ter sido construído em adobe, os trilhos rangendo por sobre a memória, tomamos mais um chopp. As mãos dispostas sobre a mesa, quatro mãos que dialogam. A mesa sólida, madeira maciça, tampo de mármore, cor acinzentada. É como se jogassem. Uma espécie de baralho, um tipo de jogo de adivinhações. O olhar se desvia do rosto um do outro, da paisagem que se move lá fora. Concentram-se nos jogos que fazem as mãos, como se as palavras inúmeras procurassem contar sobre os limitados, porém intermináveis gestos. Por sobre o olhar concentrado, se sobrepõe, se agiganta, a paisagem ao redor. Tudo ocre, cobre, adobe. O próprio chopp parece atingido de súbito rubor. É porque procuram e, de fato, querem. Sabem que a poesia na Morada tem sua paisagem. Passagens. Soneto I Ela com os olhos da imortalidade procurou-me certa noite enluarada dizendo que a paixão a procurava, paixão de leito e calma. E de saudade. Os tempos se foram, consumiram-se as idades da Terra ainda agora enlutada. Onde a alegria, o doce sorriso da amada? Certa vez, contaram-me acerca da imortalidade... Seus olhos falam-me de melancolia. Irei te esperar, eu sei, por toda a vida, com versos tristes e tão caros. Sem remédio cumpramos esta sina – só no fim da jornada estará tudo pago. Isto diz quem teus olhos, amor, sempre queria.

Soneto II Como na pele emolientes, calmantes, para enfrentar os tórridos calores das terras ignotas, com os nervos em frangalhos como a roupa puída e rota, o amante retempera a alma e se faz amante. Não mais as noites em vigília, sufocantes. Não mais o demorar-se em tantas bocas, aqui e ali, que ao falarem de amor fazem-se roucas. Encontrei-me contigo, Amor, ainda como feroz amante. Enfrentar o som!, que se espalha seguindo o vento norte. Canção de desterro e de martírio. Pelas bárbaras praias, ventania e morte. O verbo se faz contra o suplício do poeta que não mais falha.

Enrolar bagres, às sextas? Pegaram todos os números do Apocalipse E decifraram todas as contas E os bagres cantam na pluvial alta roda Que são os moinhos de vento dos incendiários Que são as lápides escritas como mostruários São as azenhas dos campos, sem pastagem O mar dos corsários, a procura de imagens Decifraram todas as contas E são nossos profetas do caos Em seu bestiário não há seres mitológicos, Mas monstruosos. Escrevem o livro que carrega A marca da besta E o lemos todos os dias Nem se for para saber o horário Do cinema. Ou para sairmos a noite, Às sextas.

(sem título) Com esse cheiro de flor,

De rosa, de rosa aberta, desfolhada; Que cava fundo enquanto calo, Que tropeça enquanto berro, Que arqueja quando falo – Venha, corpo inquieto. A tudo, tudo vejo; Desde o sol, miríades em flor Aninhadas em teu leito, Até os pássaros-cantos, Lindos, tristes, rubros, sacros e Molhados, Que na face ficam com teus beijos. Não o teu rosto ou quisera O meu ou qualquer rosto De preferência como cobertor À pele eriçada a que chamas de Leito, Mas teu fragor que deixo Escapar como de sulcos abertos Que com meu peito faz verter Em chamas douradas – só então Pude ver olhos tão piedosos – Com que me deleito.

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