Polarização na Escolha Intertemporal

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Polarização na Escolha Intertemporal Duarte Nuno Gonçalves Pimentel Nº 14724

Orientador de Dissertação: PROFESSOR DOUTOR MARC SCHOLTEN

Tese submetida como requisito parcial para a obtenção do grau de: MESTRE EM PSICOLOGIA Especialidade em Psicologia Social e das Organizações

2010/2011

Dissertação de Mestrado realizada sob a orientação do Professor Doutor Marc Scholten, apresentada no ISPA – Instituto Universitário para

obtenção

de

grau

de

Mestre

na

especialidade de Psicologia Social e das Organizações conforme o despacho da DGES, nº 19673/2006 publicado em Diário da República 2ª série de 26 de Setembro, 2006.

Agradecimentos  Muitas foram as pessoas que contribuíram e ajudaram a tornar possível a realização deste trabalho, pelo que quero exprimir a minha mais profunda e sincera gratidão às seguintes:

Ao Professor Doutor Marc Scholten, orientador deste trabalho, pelo seu conhecimento, disponibilidade, dedicação, paciência, constante encorajamento e grande amizade.

Aos meus Pais, pelo seu incondicional amor, por toda a confiança que em mim depositaram ao longo destes anos, por todos os esforços que fizeram para me dar melhor educação e pelo constante apoio e incentivo que sempre demonstraram.

Ao meu Irmão, simplesmente pelo role model que é, por estar sempre disponível, e por nunca ter desistido ou duvidado de mim.

À Susana, por toda a compreensão e paciência, pelas palavras de incitamento e acima de tudo pelo seu amor.

A todos os meus colegas de Mestrado, em especial aos companheiros de dissertação, e em particular ao Gui, agradeço as questões pertinentemente colocadas e as sugestões que em tantos momentos contribuíram efectivamente para a melhoria do meu trabalho.

E a todos aqueles que aqui não menciono, mas que sempre estiveram presentes e acompanharam-me neste percurso.

A todos vós o meu Muito Obrigado!

 

I   

                               

Dedico esta Dissertação aos meus Pais e Irmão                                                 II   

Resumo A crescente importância da área da escolha intertemporal e a sua estreita ligação com fenómenos que estão na ordem do dia, como é o caso dos comportamentos de poupança, contribuiu para um efectivo crescimento da investigação nesta área. No entanto, investigações até aqui realizadas centraram-se na escolha entre duas opções (escolha diádica). Pela primeira vez este estudo vem tentar compreender como se processam e realizam as escolhas entre conjuntos de três opções (escolha triádica), e que diferenças existem entre estes dois tipos de escolha, recorrendo a fenómenos como efeitos de contexto e de polarização para a explicação dos padrões de escolha observados. Este estudo contou com uma amostra de 617 participantes que responderam a três instrumentos. Observou-se claramente que a introdução de uma terceira opção, bem como a utilização de enquadramentos específicos na apresentação das questões/problemas contribuíram para alterações nos padrões de escolha dos indivíduos. É de salientar ainda a presença clara, neste estudo, das anomalias clássicas da escolha intertemporal (efeito de diferimento, de magnitude e de sinal). Palavras-Chave: Escolha Intertemporal; Escolha Triádica; Polarização.

III   

Abstract The growing importance of the area of intertemporal choice and its direct links with phenomena that pertain to every-day life, as is the case of savings behavior, contributed to a noticeable growth of this research field. However, investigations carried out so far focused mainly on the choice between two options (dyadic choice). For the first time, we try to understand how the process of decision making occurs among choices in sets of three options (triadic choice), and what differences exist between these two types of choices. Using phenomena such as the effects of context and polarization, we try to explain the observed patterns of choice. This study involved a sample of 617 participants who responded to three instruments. It was observed that the introduction of a third option, as well as the use of specific framings in the presentation of questions/problems, contributed to changes in the observed choice patterns of individuals. Also in this study we observed the classic anomalies of intertemporal choice (delay, magnitude and sign effects). Keywords: Intertemporal Choice; Triadic Choice; Polarization.

IV   

Índice Introdução Geral

1

Fundamentação Teórica

2

Perspectivas e Evolução Histórica da Escolha Intertemporal

2

Modelo Padrão (Benchmark Model)

9

Anomalias Clássicas

10

Modelo de Utilidade Descontada

14

Modelo de Desconto Hiperbólico

17

Modelo de Troca (Tradeoff Model)

19

Introdução da Terceira Opção

22

Problema e Hipóteses

27

Método

29

Caracterização do Estudo

29

Design do Estudo

29

Participantes

30

Procedimento

30

Instrumento

32

Resultados

33

Teste de Hipóteses

33

Discussão

39

Limitações do Estudo

46

Futuras Investigações

46

Implicações Teóricas

47

Implicações Práticas

47

Referências

49

Anexos

53

Anexo A (Valores Pré-Teste) Anexo B (Instrumento – Questionário Escolha Diádica Neutra) Anexo C (Instrumento – Questionário Escolha Triádica Neutra) Anexo D (Instrumento – Questionário Escolha Triádica Enviesada)

V   

Lista de Figuras

Figura 1. Representação visual das condições experimentais do estudo

29

Figura 2. Resultados da comparação entre a escolha diádica neutra e triádica neutra, e a escolha triádica neutra e triádica enviesada para situações de ganhos e de perdas

33

Figura 3. Resultados da comparação da popularidade da opção intermédia, entre a escolha triádica neutra e triádica enviesada

35

Figura 4. Representação gráfica das escolhas dos indivíduos entre opção representativa de SS ou LL relativamente ao diferimento temporal

36

Figura 5. Representação gráfica das escolhas dos indivíduos entre opção representativa de SS ou LL relativamente à magnitude das consequências

37

Figura 6. Representação gráfica das escolhas dos indivíduos entre opção representativa de SS ou LL relativamente ao sinal das consequências (ganhos ou perdas).

38

Figura 7. Três formas de polarização que indicam que ganhar mais cedo é mais importante do que perder mais tarde, ou que ganhar mais é menos importante do que perder menos

42

Lista de Tabelas

Tabela 1. Avaliação de opções (escolha diádica)

24

Tabela 2. Efeito de compromisso, ilustrando a aversão aos extremos

24

Tabela 3. Avaliação de opções (escolha diádica)

25

Tabela 4. Polarização a favor da opção X (ganhar mais cedo)

25

Tabela 5. Valores utilizados na pré-teste dos estímulos para a condição diádica neutra

53

VI   

Introdução Geral A escolha intertemporal apresenta-se como uma área de estudo em franco crescimento nas últimas décadas. Cada vez mais é reconhecido o seu contributo e devida importância na vida económica, pois como é do conhecimento geral a grande maioria das decisões tomadas em contexto económico abrangem variados períodos de tempo, o que faz com que seja indispensável o recurso a análises intertemporais. Bons exemplos disso são comportamentos como os de investimento, poupança, consumo, entre muitos outros. As escolhas intertemporais definem-se então como sendo escolhas que envolvem trocas entre custos e benefícios que ocorrem em diferentes pontos temporais (Loewenstein, Read & Baumeister, 2003).  

Neste trabalho, pretende-se contribuir para o estudo da escolha intertemporal,

analisando as preferências dos indivíduos quando confrontados com configurações constituídas por três opções, dado que até aqui a maior parte das investigações realizadas consideram apenas duas opções. Este objectivo geral é prosseguido ao longo do trabalho no qual se evidenciam diversos processos e fenómenos previamente abordados na literatura, como é o caso do efeito de polarização, que sugere que quando é adicionada uma opção intermédia, por exemplo y, a uma configuração onde estão presentes as opções x e z, uma das opções dos extremos (x ou z) torna-se preferida em relação à outra, e do efeito de enquadramento onde é sugerido que manipular a forma como a informação é apresentada pode influenciar e alterar a tomada de decisão e julgamento sobre essa mesma informação e, por fim, a presença das anomalias clássicas da escolha intertemporal. De seguida, são apresentados três grandes tópicos que são fundamentais para a plena compreensão deste trabalho e que serão aprofundados no decorrer da fundamentação teórica. No primeiro tópico, procura-se sintetizar as perspectivas mais relevantes e a evolução histórica do estudo da escolha intertemporal. Apresentando os diversos autores e as suas abordagens que se constituem como os alicerces do desenvolvimento desta área de estudo, utilizando para tal uma organização cronológica dos factos. Relativamente ao segundo tópico, este incide fundamentalmente na exposição de modelos teóricos de referência, como é o caso do Modelo Padrão (Benchmark Model), do Modelo de Utilidade Descontada, do Modelo de Desconto Hiperbólico e do Modelo de Troca (Tradeoff Model). Neste segundo tópico são ainda contempladas as anomalias clássicas (e.g. efeitos de diferimento, magnitude e sinal). 1    

A introdução de uma terceira opção traduz-se no terceiro grande tópico deste trabalho. Neste tópico apresentam-se estudos de diversos autores, nos quais se verifica a influência da adição de opções nas preferências dos indivíduos. São explicadas ainda as duas formas de aversão aos extremos: efeitos de compromisso e de polarização, sendo suportados por investigações empíricas e reforçados por exemplo práticos. A fim de analisar a influência da introdução de uma terceira opção na escolha intertemporal, uma configuração composta por duas opções (escolha diádica) foi comparada com uma configuração onde foi introduzida uma terceira opção (constituindo uma escolha triádica). Para analisar a influência do enquadramento nas opções na escolha intertemporal, uma configuração neutra, em que as pessoas escolhem de forma equitativa entre as opções, foi comparada com uma configuração onde a “terceira opção” foi apresentada como opção à qual as pessoas tinham direito, isto é, apresentada como opção “incumbente”.

Fundamentação Teórica Perspectivas e Evolução Histórica da Escolha Intertemporal A escolha intertemporal estabelece-se concretamente como um tópico de investigação independente pela primeira vez em 1834, com o trabalho do economista John Rae intitulado The Sociological Theory of Capital. Rae tentou determinar porque razão a riqueza dos países variava. Adam Smith, um estudioso da mesma área, anterior a Rae, defendia na sua obra An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations, de 1776, que a riqueza nacional de um país era determinada pela quantidade de mão-de-obra destinada especificamente para produção de capital. No entanto Rae acreditava que esta explicação era incompleta, pois negligenciava os determinantes desta alocação de recursos. Na perspectiva deste, o elemento em falta era “o desejo efectivo de acumulação”, um factor psicológico que era indubitavelmente diferenciado entre países e que determinava o nível de poupança e investimento de uma sociedade. (Frederick, Loewenstein & O’Donoghue, 2002) Para além de criar o tópico autónomo da escolha intertemporal, Rae foi ainda o primeiro a produzir e a conduzir uma discussão profunda acerca dos motivos psicológicos subjacentes a este tipo de escolha. Este acreditava que os comportamentos relacionados com a escolha intertemporal, eram resultado do conjunto de factores que tanto promoviam como condicionavam o desejo efectivo de acumulação. De acordo com este autor, os dois factores 2    

que

promoviam

esse

desejo

eram,

o

legado

(prevalência em

toda

a sociedade

dos sentimentos sociais e de benevolência) e a propensão ao exercício da auto-contenção (profundo uso por parte dos membros da sociedade, da racionalidade, da reflexão e da consequente prudência). Por outro lado, um dos factores apresentado como condicionante do desejo efectivo de acumulação, encontra-se estritamente relacionado com a incerteza da vida humana, o segundo factor era a excitação produzida nos indivíduos, pelo prazer do consumo imediato e o simultâneo desconforto de atrasar essas gratificações disponíveis. Dois anos após a publicação de Rae, o economista inglês Nassau Senior, surgiu com uma nova teoria de capital, que tal como a de Rae enfatizava o elemento psicológico, esta foi fundamentada pelo seu trabalho de 1836, Outline of the Science of Political Economy. Todo o trabalho desenvolvido por Senior foi motivado pelo seguinte paradoxo: “Porque é que os juros devem ser pagos de acordo com o capital total de cada indivíduo?” Até esta altura os estudos indicavam que o capital de empréstimo originava geralmente uma taxa de retorno positiva, mas tal como investigado por este autor, esta perspectiva não explicava o porquê destas taxas de juro serem positivas. Senior foi o primeiro a providenciar uma explicação psicológica para os juros. Assim, este propôs a Teoria da Abstinência, onde os juros eram encarados como uma compensação para os indivíduos que possuem capital, mas que no entanto se abstêm de o traduzir em consumo. Esta abstinência de consumo é vista como um dos mais dolorosos sacrifícios da existência humana. De acordo com esta perspectiva o investimento em empréstimos deve cessar quando o retorno deixa de compensar o esforço que o indivíduo faz para abster-se do consumo. Senior quis ir mais além e caiu no extremo de interpretar e definir o fenómeno da abstinência como um fenómeno de produção de riqueza puramente económico. Esta conceptualização é criticada por autores posteriores como Irving Fisher e Eugen von BöhmBawerk, uma vez que negligencia o conceito psicológico que está na base do fenómeno de abstinência, pois Senior assimilava o elemento psicológico numa simples perspectiva de produção de lucros. No entanto e apesar das críticas acima apresentadas a perspectiva de Senior permaneceu bastante popular durante um largo período de tempo, em parte devido ao forte contributo que ofereceu a esta área. Ao longo do anos que se seguiram foram propostos novos termos, para conceptualizar a abstinência de Senior, caso disso é o exemplo de Cairnes (1874), que propôs a utilização do termo “postponement”, e Macvane (1887) que sugeriu simplesmente o termo “waiting”.

3    

Trinta anos após Senior propor a teoria da abstinência, William Jevons avançou com uma nova perspectiva da caracterização da escolha intertemporal. Jevons interpelou-se de forma implícita sobre uma questão fundamental: “Porque é que as pessoas consideram o futuro?” A solução que Jevons apresenta, é a de identificar especificamente os prazeres sentidos pelo consumo no momento presente e o sacrifício de contemplar um consumo futuro. Na perspectiva deste autor, o indivíduo que difere o consumo, não difere o prazer imediato mas sim substitui esse conceito pelo de antecipação, que no fundo é o prazer dado pela expectativa de consumo futuro. Estas duas últimas abordagens aqui apresentadas não são precisamente diferentes na forma como caracterizam as emoções. Senior focou-se exclusivamente na dor imediata de abster-se do consumo no momento presente, por sua vez, Jevons focava-se no prazer imediato obtido através da expectativa de um consumo futuro. Ou seja, ambos vêem o indivíduo como fortemente orientado para os sentimentos no presente. Uma vez que Jevons e Senior, consideram o igual tratamento das situações de presente e de futuro como uma norma de comportamento, ambas as abordagens tentam perceber o porquê do comportamento humano se desviar desta norma. Jevons (1888) avança com a ideia de que existem imperfeições, na translação de emoções causadas por eventos futuros para a situação presente. Tal como é referido na sua teoria, caso essas imperfeições não ocorressem “all future pleasure or pains should act upon us with the same force as if they were present” (p. 76). No entanto este autor reconheceu que nenhuma mente humana é perfeita. Apesar desta conceptualização da escolha intertemporal de Jevons ter sido rapidamente posta de parte por novas contribuições, diversos elementos da sua perspectiva podem ser encontrados no trabalho de economistas posteriores. Um exemplo disso pode ser encontrado no trabalho de Marshall, intitulado, Principles of Economics (1890), no capítulo “Choices Between Different Uses of the Same Thing: Immediate and Deferred Uses”, onde se pode ler, “When a person postpones a pleasure-giving event he does not postpone the pleasure; but he gives up a present pleasure and takes in its place another, or an expectation of another at a future date.” (p. 121). Do mesmo modo em 1958, Shackle, um economista contemporâneo, adaptou uma perspectiva neo-Jevoniana, no seu livro, Time in Economics, onde é referido “The enjoyment or satisfaction which the decision maker seeks to maximize by his choice of one action-scheme rather than others is a pleasure of the imagination.” (p. 41). 4    

Até este momento na História sempre que se falava em escolha intertemporal, estavam subjacentes discussões sobre o capital e os juros. É então que um economista austríaco chamado Eugen Böhm-Bawerk, autor do trabalho Capital and Interest, publicado no final do século XIX, mais concretamente em 1884, sugere que a taxa de juro pode ser interpretada independentemente do capital. Outra grande contribuição deste autor para esta temática foi a introdução de uma perspectiva cognitiva. Apesar da sua análise psicológica ser radicalmente diferente da de Senior e Jevons, Böhm-Bawerk também defendia que os juros resultavam da avaliação do consumo no presente e no futuro. Este considerava que as avaliações de Senior e Jevons estavam mais centradas no presente, na visão Böhm-Bawerk o presente e o futuro eram contempladas com igual importância, em vez de maximizar o bem-estar imediato, os indivíduos sentiam a satisfação da sua tomada de decisão em diferentes pontos no tempo. Na obra The Positive Theory of Capital (1891) de Böhm-Bawerk, a distinção defendida por Jevons entre a utilidade da sensação imediata e da antecipação dessa sensação desaparece, pois quando estas são colocadas num plano cognitivo verifica-se que as sensações podem ser comparáveis. “These imagined future emotions are comparable” (p. 261). BöhmBawerk corrobora a ideia apresentada anteriormente por Senior e Jevons de que o igual tratamento das situações de presente e de futuro deve constituir uma norma de comportamento. “What is going to happen to us in a week or a year is no less something touching us, than what happens to us today.” (p. 262). A noção de que os indivíduos tendem a aumentar a sua riqueza ao longo do tempo, contribuiu para que este autor acreditasse que a utilidade marginal da riqueza seria menor no futuro quando comparada com o presente, o que faz com que os indivíduos façam uma avaliação desproporcional da riqueza actual. Fenómeno este que é visto como um factor passível de contribuir para uma diminuição efectiva da impaciência. Böhm-Bawerk, defendia que “we systematically undervalue our future wants and also the means which serve to satisfy them…” (pp. 268 – 269). Este autor acreditava que isto se podia ficar a dever ao facto dos indivíduos não possuírem os meios adequados para imaginarem e pensarem de forma abstracta o futuro. O que contribuía para que os indivíduos formassem uma imagem incompleta do que querem no futuro, e em especial num futuro mais distante. Este ideia corre o risco de ser mal interpretada, quando surgem tentativas de fazer analogias com outras ideias que tentam explicar este mesmo fenómeno. Tal como aconteceu mais tarde com Arthur Pigou no seu trabalho Economics of Welfare, de 1932, onde é feita 5    

uma analogia entre esta ideia de Böhm-Bawerk sobre a falta de imaginação e a ilusão óptica (onde as sensações e os objectos parecem estar mais distantes do que na realidade estão). Um último grande contributo deste autor para a temática da escolha intertemporal prende-se com a introdução do conceito de “willpower”, que é definido pelo autor como um elemento psicológico, que está relacionado com o esforço que é feito sempre que se difere uma gratificação. Este conceito tem o seu fundamento na ideia de que as preferências temporais não têm apenas origem na tendência de os indivíduos avaliarem incorrectamente as satisfações de eventos futuros. Para os indivíduos diferirem o consumo, estes têm efectivamente de o querer fazer, e para isso acontecer é necessária uma grande força de vontade. No entanto a implementação concreta desta preferência é muito difícil. Uma das abordagens teóricas que influenciou fortemente o estudo enquadrado nesta temática foi a perspectiva psicofísica que terá sido desenvolvida através dos trabalhos de Ernst Weber que conduziu conjuntos de experiências que visavam explorar as relações entre as sensações e os estímulos físicos externos. Numa das suas experiências, Weber vendou os olhos a pessoas que estavam a segurar pesos, e à medida que ia acrescentando pequenas quantidades de peso, pedia aos participantes que indicassem quando sentiam o aumento de peso. Ao fazer isto Weber descobriu que a sensação das pessoas ao aumento de peso era proporcional ao aumento de peso relativo, e não ao absoluto, ou seja, quando o peso que a pessoa vendada estava a segurar aumentava para o dobro, o limiar da detecção de aumento de peso também dobrava. Weber descobriu ainda que esta relação geral era válida não só para percepções de peso, mas de igual modo para percepções de visão e de som. Os trabalhos de Weber foram publicitados e extendidos por Gustav Fechner na obra Elements of Psychophysics (1860). Este apresentou uma explicação teórica para as observações de Weber e formatou as relações encontradas numa forma funcional, à qual chamou a Lei de Weber, no entanto mais tarde os psicólogos designaram-na por Lei de Weber-Fechner, tal como hoje é conhecida. Arthur Pigou adoptou esta abordagem teórica e sugeriu que a percepção que as pessoas têm do futuro é enviesada e diminuta (o desconto temporal é encarado como um fenómeno perceptual, análogo a uma ilusão de óptica). Numa analogia com a percepção de um condutor dos objectos na estrada, objectos remotos podem parecer desfocados ou podem não ser visíveis de todo (Böhm-Bawerk), ou podem parecer mais distantes do que estão na realidade (Pigou). A noção de que a percepção do tempo é enviesada e condensada remonta ao início do século XX. Entre os primeiros economistas, Pigou (1920) afirma que "this 6    

preference for present pleasure does not imply that a present pleasure of given magnitude is any greater than a future pleasure of the same magnitude. It implies only that our telescopic faculty is defective.” (Ainslie & Haslam, 1992), ou seja, a psicofísica mostra que a sensação e a percepção do tempo está sujeita a contracções. Irving Fisher tornou-se também um importante estudioso na área da escolha intertemporal, através do seu trabalho de 1930, The Theory of Interest. A sua maior contribuição residiu no facto de clarificar e formalizar a análise proposta por Böhm-Bawerk, ou seja, Fisher foi o primeiro a aplicar a metodologia das curvas de indiferença para expressar a teoria de Böhm-Bawerk em termos matemáticos. Estas curvas de indiferença são denominadas por Fisher de “willingness lines”. O facto de se expressar a escolha intertemporal em curvas de indiferença, teve duas consequências, a primeira é a de que desta forma, a escolha intertemporal não se distingue qualitativamente da escolha atemporal, porque as representações gráficas das escolhas destes dois domínios são virtualmente muito difíceis de distinguir. A segunda consequência traduzse na separação analítica de “willingness” (preferência temporal), e das linhas de “investment opportunity”, o que tornou clara a separação entre a provisão e a procura de capital e do papel dos juros no equilíbrio destas mesmas. Fisher acreditava que de um modo geral, o risco tendia a ser maior no futuro do que no presente, isto é, o impacto absoluto do risco seria o de aumentar a apreciação pelo futuro, e consequentemente reduzir a preferência temporal. Apesar de existirem várias semelhanças entre Fisher e os autores anteriores, há uma diferença fundamental no que diz respeito aos factores psicológicos. Enquanto autores como Rae e Böhm-Bawerk entendem que são as culturas, as classes sociais e as diferenças étnicas, os principais determinantes dos factores psicológicos responsáveis pela preferência temporal, Fisher dá mais importância aos factores situacionais, isto é, as diferentes situações pelas quais os indivíduos passam na vida influenciam efectivamente as suas escolhas nesses mesmos momentos. As contribuições analíticas de Fisher, foram adoptadas e desenvolvidas ao longo das décadas seguintes, no entanto os seus insights foram praticamente todos esquecidos. A economia constantemente desafiada pelos fenómenos de mercado, que contradiziam os fundamentos económicos tidos até então como certos, e impressionada com os avanços teóricos e metodológicos da psicologia, começou a importar os insights daí provenientes para diversos tópicos. A influência desta relação foi bastante notória na área da tomada de decisão

7    

sobre incerteza, sendo que mais tarde foi estendida ao tópico cognitivo da escolha intertemporal. Os economistas e os psicólogos uniram esforços no uso de metodologias experimentais que se destinavam fundamentalmente a questões relacionadas com a preferência temporal das pessoas. Do mesmo modo, também a um nível teórico os próprios modelos económicos desenvolveram-se incorporando os insights psicológicos. Deste modo, a fronteira entre a psicologia e a economia estava cada vez menos definida, e economistas como Rae, Senior, Jevons e Böhm-Bawerk, centraram-se fundamentalmente em questões como: “Porque é que as pessoas descontam o futuro?” (desconto pode ser amplamente definido como a atribuição de uma menor importância a consequências mais distantes no tempo, ainda que não exista uma razão racional para tal) e em muitos dos casos, as respostas obtidas revelavam um sofisticado toque da psicologia. Exemplo disso, é a forma como Pigou (1932) caracterizava o desconto temporal. Segundo este autor, o desconto é um fenómeno de natureza inata, “uma fragilidade psicológica” dos indivíduos e “um facto bruto da psicologia humana”, pois os seres humanos têm dificuldade em “tratar” do mesmo modo, resultados que estão distribuídos em diferentes momentos do tempo. À volta da questão, “Porque é que as pessoas descontam o futuro?”, torna-se então possível distinguir, segundo Loewenstein (1992), quatro etapas fundamentais na evolução do campo de investigação da escolha intertemporal. Na primeira etapa economistas do século XIX, como Senior e Jevons explicaram o desconto temporal através daquilo a que hoje os psicólogos dão o nome de efeitos motivacionais, estes referem-se às influências emocionais ou hedónicas no comportamento dos indivíduos. Ambos os autores acreditavam que a disposição de um indivíduo para atrasar uma determinada gratificação dependia das emoções imediatas que este experienciava. Numa segunda etapa, dominada essencialmente pelas contribuições teóricas de BöhmBawerk e Fisher na passagem do século XIX para o XX, a escolha intertemporal era vista em termos cognitivos como uma troca entre satisfações presentes e futuras. O desconto era atribuído principalmente à falta de capacidade do indivíduo para ponderar e imaginar o futuro. A terceira etapa surge ligada a uma tentativa de eliminar todo o conteúdo psicológico da escolha intertemporal. Nas primeiras décadas do século XX tornou-se generalizada uma aversão à psicologia por parte dos economistas. Em parte devido ao seu desânimo acerca de novos desenvolvimentos na área da psicologia, que não pareciam passíveis de interpretação como a maximização da utilidade (e.g. teoria das motivações inconscientes de Freud), os 8    

economistas lutaram para afirmar a independência da sua área de estudo. A riqueza do conteúdo psicológico que caracterizou as primeiras discussões sobre a escolha intertemporal foi suplantada por análises gráficas e matemáticas que pareciam tornar o contributo da psicologia nesta área supérfluo. Os conceitos psicológicos que reflectem as influências cognitivas e emocionais, como é o caso da força de vontade e da imaginação, foram substituídos por termos como preferência temporal, que eram propositadamente agnósticos acerca das causas subjacentes à tomada de decisão na escolha intertemporal. Finalmente, desde as últimas décadas do século XX, uma quarta etapa emergiu caracterizada sobretudo pelo elevado contributo dos actuais psicólogos nesta temática e pelo renovado interesse na psicologia por parte dos economistas interessados na escolha intertemporal. A preferência temporal anteriormente aqui debatida possui, em investigações experimentais, uma definição operacional dada pelo modelo padrão que de seguida é apresentado e desenvolvido.

Modelo Padrão O Modelo Padrão, ou Benchmark Model (Scholten & Read, 2011), apresenta-se como um modelo de referência geral para a escolha intertemporal, que propõe que as consequências/resultados são descontados por uma taxa constante. De forma a explicar este modelo de uma forma clara e simples considere-se como exemplo a escolha entre €100 daqui a 1 mês e €150 daqui a 4 meses, sendo os resultados apresentados como x e x (€100 e €150), S

L

e os respectivos diferimentos temporais por t e t (1 e 4 meses). Dada esta escolha, o S

L

indivíduo pode preferir tanto Smaller-but-Sooner (SS) como Larger-but-Later (LL), ou ser indiferente entre as escolhas. O modelo padrão defende que se o indivíduo é indiferente, então os resultados exponencialmente descontados são iguais:

δ t xS = δ t xL , S

L

onde 0 < δ < 1, e um menor δ indica mais desconto por unidade de intervalo t → t + 1. Através deste modelo podemos obter três medidas convencionais de desconto. Primeiro resolvendo a equação acima apresentada em função a δ obtemos o desconto médio do intervalo t → t : S

L

9    

⎛x ⎞

δ = ⎜⎜ S ⎟⎟ ⎝ xL ⎠

1 t L −t S

Isto é normalmente designado como o factor de desconto, mas aqui iremos chamar de fracção de desconto, reservando o termo factor de desconto para o desconto total sobre o intervalo 0 → t:

d (t ) = δ t , o que decresce em t. Finalmente, resolvendo a equação inicial em função a δ obtemos o desconto total para o intervalo t → t S

L 1

⎢ x ⎥ t L −t S δ =⎢ S⎥ . ⎣ xL ⎦ Este modelo é também normalmente designado de modelo de desconto exponencial e postula que δ é constante, independentemente do diferimento dos resultados, da magnitude dos resultados e do sinal (ganhos e perdas). No entanto o que se verifica nos estudos empíricos é que δ não é constante tal como é evidenciado pelas anomalias de seguida apresentadas.

Anomalias Clássicas Diversas são as anomalias deste modelo presentes na literatura sendo que as que se apresentam como as mais pertinentes para a compreensão deste estudo são: o efeito de diferimento, que está ligado a uma impaciência decrescente por parte dos indivíduos (Benzion, Rapoport, & Yagil, 1989; Chapman & Elstein, 1995; Thaler, 1981); o efeito de magnitude, que se refere ao facto de que ganhos maiores sofrem menos desconto proporcional do que ganhos menores, num mesmo intervalo de tempo (Benzion et al., 1989; Chapman & Elstein, 1995; Thaler, 1981); o efeito de sinal, que demonstra que a taxa de desconto para perdas é inferior à de ganhos (Benzion et al., 1989; Loewenstein, 1988; Thaler, 1981); e por fim a assimetria adiamento-adiantamento que se refere às preferências assimétricas entre adiar e adiantar o recebimento das consequências (Loewenstein, 1988; Loewenstein & Prelec, 10    

1992; Malkoc & Zauberman, 2006; Weber, Johnson, Milch, Chang, Brodscholl & Goldstein, 2007). Relativamente ao efeito de diferimento, as taxas de desconto tendem a ser maiores para períodos de espera mais curtos do que para períodos de espera mais longos (Thaler, 1981). O facto de este efeito estar presente em investigações empíricas de vários domínios, como o da saúde ou o financeiro, sugere que este é resultado não da função de valor mais sim da forma como os indivíduos tratam a dimensão temporal. O exemplo de Thaler (1981) mostra na perfeição este fenómeno, pois uma pessoa pode preferir uma maçã hoje a duas maçãs amanhã, mas ao mesmo tempo preferir duas maçãs daqui a 51 dias a uma maçã daqui a 50 dias. Segundo Prelec e Loewnestein (1991), o efeito de diferimento é explicado através da propriedade da sensibilidade decrescente relativa ao tempo, ou seja, a diferença entre 0 e 2 anos parece maior do que a diferença entre 6 e 8 anos. Este efeito elucida o comportamento dinamicamente inconsistente dos indivíduos, que foi primeiramente apresentado por Strotz em 1956, e posteriormente enriquecido por Ainslie (1975). Este fenómeno está de igual modo presente nas investigações conduzidas por Horowitz (1991). As taxas de desconto variam não apenas com o diferimento da consequência, mas também com a sua magnitude. Quanto menor foram as consequências maior será a tendência de se dar um aumento na taxa de desconto. Diversos estudos empíricos demonstraram que grandes quantias de dinheiro sofrem um menor desconto proporcional, quando comparadas com quantias pequenas, este fenómeno designa-se por efeito de magnitude. De acordo com Loewenstein e Thaler (1989), o efeito de magnitude na taxa de desconto é tão forte como o efeito de diferimento. Um estudo realizado por Thaler (1981), demonstra que indivíduos que eram em média indiferentes entre receber $15 agora e $60 dali a 1 ano, eram de igual modo indiferentes entre receber $250 no momento imediato e $350 no espaço de 1 ano, bem como $3000 agora e $4000 dentro de 1 ano. Num outro estudo de Benzion et al. (1989), onde foram utilizadas questões hipotéticas, verificou-se que a taxa de desconto implícita baixou significativamente com a dimensão da compra. Um resultado semelhante foi observado nas investigações conduzidas por Holcomb e Nelson (1992) em relação a uma pequena variação de pagamentos reais entre $5 e $17. De acordo com Loewenstein e Thaler (1989), existem duas explicações comportamentais plausíveis para o efeito de magnitude. A primeira tem a sua base na psicologia da percepção (psicofísica), segundo a qual as pessoas são sensíveis, não apenas, a diferenças relativas nas quantias de dinheiro, mas de igual modo a diferenças absolutas (Loewenstein & Prelec, 1992). A diferença perceptual, por exemplo, entre €100 agora e €150 11    

daqui a um ano, parece maior do que a diferença entre €10 agora e €15 daqui a um ano, de forma que a maioria das pessoas estão dispostas a esperar pelos €50 no primeiro caso, mas não pelos €5 no segundo. A segunda explicação advém da noção de contabilidade mental (Shefrin & Thaler, 1988), por exemplo se os ganhos pequenos são inscritos na contabilidade mental de verificação, o que contribuí para que estes sejam amplamente consumidos, por outro lado os ganhos de quantias maiores são inscritos numa contabilidade mental de poupança, onde a propensão para o consumo é muito menor. Assim o custo de esperar por um ganho pequeno pode ser entendido como uma renúncia ao consumo, em contraste, o custo de oportunidade de esperar por um ganho maior é simplesmente percepcionado como um interesse renunciado. Se uma renúncia ao consumo for mais tentador do que uma renúncia ao interesse, então o efeito de magnitude será observado. O efeito de sinal demonstra que o comportamento dos indivíduos é qualitativamente diferente para situações de ganhos e de perdas (Thaler, 1981). De acordo com Loewenstein e Thaler (1989) este é um fenómeno comum e empiricamente forte nas investigações relacionadas com a escolha intertemporal, que mostra que a taxa de desconto para situações de ganho é muito maior do que para situações de perda. Este facto é demonstrado no estudo de Thaler (1981) onde as taxas de desconto estimadas para situações de ganhos foram três a dez vezes maiores do que as taxas de desconto para situações de perda. Deste modo, torna-se pertinente abordar o princípio de aversão às perdas, primeiramente introduzido por Kahneman e Tversky em 1979 e que de acordo com Thaler e Benartzi (1995), refere-se ao facto de os indivíduos sentirem mais a redução dos seus níveis de bem-estar actuais do que as melhorias, ou seja, a dor associada a uma perda é maior do que o prazer associado a um ganho. A descoberta desta anomalia resulta de estudos empíricos que confirmam a hipótese alternativa de que as pessoas têm a tendência de descontar mais em perdas do que em ganhos. As pessoas tornam-se impacientes para receber uma recompensa positiva, em especial quando esta é pequena, no entanto, são muito mais pacientes para adiar uma perda. Loewenstein e Prelec (1992), através dos seus estudos concluem que a diferença entre $20 e $10 parece maior nas perdas dos que nos ganhos. Em 1988, um estudo realizado por Loewenstein, documentou ainda outra anomalia, que consiste numa preferência assimétrica entre adiantar e adiar o consumo. De um modo geral, este estudo verificou que, a quantia necessária para compensar o adiamento de um recebimento de uma recompensa num dado intervalo de tempo, de t para t + s, foi de duas a quatro maior do que a quantia das pessoas que estavam dispostas a sacrificar para adiantar o 12    

consumo no mesmo intervalo, isto é, de t + s para t. Uma vez que os dois pares de escolhas são, na realidade, diferentes representações do mesmo par de opções subjacente, os resultados constituem um efeito de enquadramento clássico, que assim é inconsistente com qualquer teoria normativa. De acordo com Scholten e Read (2010), a ideia subjacente a esta assimetria pode ser exemplificada através da seguinte experiência. Imagine que vai receber uma encomenda hoje, mas ficou a saber que só a receberá daqui a uma semana. Quanto acha que devia receber para compensá-lo da dor de ter de esperar essa semana extra? Dê a designação de C a essa quantia. Imagine agora que receberá a encomenda dentro de uma semana, mas fica a saber que pode adiantar esse recebimento para hoje. Quanto estaria disposto a pagar pelo prazer de o receber mais cedo? Essa quantia será designada de c. A assimetria adiamento-adiantamento mostra que C é maior do que c para o mesmo intervalo de tempo, uma semana neste caso, as pessoas precisam de uma maior compensação pela dor de uma recepção tardia, do que estão dispostas a pagar por o prazer de receber mais cedo. Segundo Loewenstein e Prelec (1992) na assimetria adiamento-adiantamento uma consequência/resultado positivo é mais descontado, e um negativo é menos descontado, quando é adiado do que quando é adiantado, num mesmo intervalo de tempo (Malkoc & Zauberman, 2006; Weber et al., 2007). Este fenómeno verificou-se no estudo de Loewenstein (1988) onde os indivíduos que esperavam receber um videogravador no espaço de um ano estavam dispostos a pagar em média $54 para o receberem imediatamente, em contraste com aqueles que esperavam recebe-lo naquele momento, que por sua vez em média exigiram $126 para adiar um ano o recebimento do videogravador. Loewenstein e Prelec (1992) avançam com uma explicação da assimetria adiamentoadiantamento através do facto dos indivíduos se adaptarem a resultado esperados, de modo que o ponto de referência para um determinado momento inclua tudo aquilo que estes indivíduos esperam ganhar ou perder naquele mesmo momento. Receber uma quantia quando esperada, tem então um valor neutro, pois os indivíduos já se adaptaram a essa situação. Pela mesma razão, o não receber a quantia é tido como uma perda, que deve ser compensada por um ganho num outro momento. Especialmente, ao adiar um recebimento, a perda inicialmente tem de ser compensada por um ganho mais tarde. A aversão à perda inicial conduz ao aumento da magnitude do ganho compensatório, levando a um maior desconto. O contrário acontece quando se adianta o recebimento no mesmo intervalo, a perda tardia tem de ser

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compensada por um ganho mais cedo. A aversão à perda tardia leva então ao aumento da magnitude do ganho compensatório, resultando assim num desconto menor. O reconhecimento destas anomalias foi um dos factores que mais estimulou a reintrodução da psicologia no campo de investigação económico da escolha intertemporal. Estas anomalias justificam, de facto, as incapacidades e dificuldades que os indivíduos poderão experienciar quando confrontados com as opções e a respectiva atribuição de utilidade. Estas dificuldades ou incapacidades podem advir, segundo a abordagem psicofísica defendida por Pigou, de uma percepção enviesada no tratamento do distanciamento temporal. Deste modo Paul Samuelson (1937) apresenta um modelo teórico formal que se constitui como uma ferramenta capaz de mensurar a utilidade das opções, com o intuito de colmatar a percepção enviesada que os indivíduos poderão elaborar.

Modelo de Utilidade Descontada (Samuelson, 1937) Em 1937, Paul Samuelson, propôs, o modelo de utilidade descontada com o intuito de apresentar um modelo generalizado para a escolha intertemporal que fosse aplicável em múltiplos períodos de tempo e para provar que a representação das trocas intertemporais necessita acima de tudo da mensuração da utilidade. Desde a sua introdução tem dominado as análises económicas da escolha intertemporal (Loewenstein & Prelec, 1992). O modelo de utilidade descontada foi rapidamente estabelecido como um simples e poderoso quadro teórico para a análise as decisões onde estavam presentes componentes temporais. Este tem sido aplicado a uma grande variedade de tópicos como é o caso dos comportamentos de poupança, decisões educativas, apoio laboral, e até crimes. O modelo simplificado de Samuelson defende que todos os indivíduos racionais irão descontar os custos ou benefícios de todos os eventos adiados, por uma taxa constante por unidade de tempo (Strotz, 1955). Todas as preocupações psicológicas discutidas anteriormente foram comprimidas num único parâmetro, a taxa de desconto. Por exemplo, um indivíduo que acredite que a utilidade resultante de receber €1 decresce 5% do tempo t para t + 1, então essa mesma utilidade seria também 5% inferior em t + 2 em relação a t + 1, 5% inferior em t + 3 em relação a t + 2 e assim por diante. Este raciocínio conduz a uma função de desconto exponencial que é ainda comummente utilizada em cálculos financeiros.

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De acordo com este modelo a escolha das pessoas deveria ser equivalente ao somatório que tivesse o maior valor. Samuelson (1937) não defende, no entanto, o seu modelo de utilidade descontada como um modelo dogmático ou normativo da escolha intertemporal, “any connection between utility as discussed here and any welfare concept is disavowed” (p.161). De igual modo este autor não reivindicou fortemente a validade descritiva do modelo, salientado “it is completely arbitrary to assume that the individual behaves so as to maximize an integral of the form envisaged in the discounted utility model” (p.159). Apesar das reservas manifestadas pelo próprio Samuelson, este modelo tornou-se a pedra basilar para a compreensão e estudo desta temática. Neste modelo as preferências intertemporais são orientadas pelas utilidades descontadas das opções. As utilidades descontadas são determinadas em primeiro lugar pela integração das consequências das escolhas com o nível de consumo base, atribuindo utilidade aos níveis de consumo que resultam desta integração activa, e de seguida descontando exponencialmente estas utilidades como função do adiamento das consequências. Neste estudo irão ser focadas as escolhas intertemporais entre pares de consequências que possuem apenas uma referência temporal, a primeira Smaller-but-Sooner (SS), e a segunda Larger-butLater (LL). Formalmente, as utilidades descontadas de (SS) e de (LL) são dadas por, U S = δ tS u(c + x S ) + δ t L u(c), t

U L = δ S u(c) + δ t L u(c + x L ),

onde 0< δ 1 v ( mx L ) v ( x L )

Esta propriedade é motivada pelo efeito de magnitude, onde o desconto sobre um intervalo está inversamente relacionado a magnitude dos resultados.

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A última propriedade da função de valor proposta é a de que a reversão do sinal dos resultados de positivos (ganhos) para negativos (perdas) diminui o rácio entre os valores de xS e x L : v(− xS ) v( x S ) se, x S , x L > 0 < v(− x L ) v( x L )

Esta propriedade é motivada pelo efeito de sinal, no qual é possível observar que existe menos desconto, para um mesmo intervalo, quando os resultados são perdas do que quando são ganhos (Scholten & Read, 2010). De um modo geral o modelo de desconto hiperbólico é capaz de acomodar as diversas anomalias dos modelos padrão e de utilidade descontada, anteriormente mencionadas. Em seguida é apresentado e explicado o Modelo de Troca, modelo que pela primeira vez trata a tomada de decisão na escolha intertemporal através da comparação e ponderação dos atributos das opções em consideração, constituindo-se assim como ponto fundamental para o devida compreensão desta investigação.

Modelo de Troca (Scholten & Read, 2010) O Modelo de Troca, ou Tradeoff Model (Scholten & Read, 2010), é constituído por duas versões: Single Reference Point Model e Multiple Reference Point Model. A primeira versão é um caso especial da segunda da versão, contudo para uma explanação mais clara deste modelo sugere-se que estas sejam tratadas separadamente. Apesar disto e tendo em conta o objectivo deste estudo, ambas as versões serão compiladas atribuindo particular importância à forma complementada de funcionamento geral deste modelo. Neste modelo as consequências que são esperadas num determinado momento no tempo são avaliados pelos indivíduos sempre tendo em conta um ponto de referência. No entanto este ponto de referencia não deve ser fixado no nível de consumo base na medida em que se trata de uma função de valor que pode ser afectada por: formulação das opções (Kahneman & Tversky, 1979); expectativas (Kahneman & Tversky, 1979); aspirações (Payne, Laughhunn & Crum, 1980); e objectivos (Heath, Larrick & Wu, 1999). No modelo em questão, as escolhas intertemporais têm por base uma comparação directa entre as diferenças de dois atributos, o atributo tempo e o atributo valor monetário.

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Imagine-se então que o atributo tempo é designado por f e o atributo valor monetário por g, assim f transparece a (des)vantagem temporal de SS (LL) em ganhos e a (des)vantagem temporal de LL (SS) em perdas, por sua vez g assume-se como a (des)vantagem monetária de LL (SS) em ganhos e a (des)vantagem monetária de SS (LL) em perdas. Desta forma quando f < g o indivíduo terá como preferências, no caso particular de ganhos a opção representativa de LL e no caso de perdas a opção SS. Em contraste quando se verifica f > g o indivíduo optará SS em situações de ganho e pela opção LL em situações de perda. Estas vantagens f e g constituem-se como diferenças do tempo e diferenças do valor monetário ponderadas, sendo esta ponderação efectuada através de dois intra-atributos e dois inter-atributos. As funções de ponderação dos dois intra-atributos referidos são: a função de ponderação do tempo (w), através da qual são avaliados os diferimentos temporais e, a função valor (v), que avalia as consequências monetárias. As funções de ponderação dos interatributos são as funções de troca QT|X e QX|T, que avaliam a diferença absoluta entre os diferimentos ponderados, que é designada por intervalo efectivo e dada por T, em relação à diferença absoluta entre as consequências monetárias, designada por compensação efectiva e dada por X. As diferenças efectivas não são subjectivas nem objectivas, são simplesmente ponderações atribuídas às diferenças de tempo e dinheiro no processo de tomada de decisão. Descrito em termos de v, w, QT|X, e QX|T, o individuo será indiferente entre SS e LL quando,

⎧Q X |T ( v ( x L ) − v ( x S )) se x L > x S > 0, QT |X ( w(t L ) − w(t S )) = ⎨ ⎩Q X |T ( v ( x S ) − v ( x L )) se 0 > x L > x S . Em suma, os intra-atributos dizem respeito à comparação entre os atributos que constituem uma determinada opção, enquanto que os inter-atributos focam a comparação entre os intra-atributos de duas opções distintas, onde são contempladas as diferenças absolutas entre os mesmos intra-atributos. Os intra-atributos possuem três propriedades adicionais que por sua vez pressupõem como pré-requisito uma dependência referencial. Uma destas propriedades tem como base a lei de Weber-Fechner que se apresenta como a diminuição absoluta da sensibilidade. Esta propriedade postula que acrescentar €1 a €2 despoleta um maior aumento absoluto do valor do que acrescentar um €1 a €200. Ao contemplar a diminuição da sensibilidade absoluta é possível constatar a existência de dois padrões de preferência, no primeiro padrão observa-se um aumento da magnitude de ambas as consequências pela mesma constante aditiva, o que fará com que o comportamento de indiferença demonstrado previamente pelo indivíduo 20    

modifique-se para um comportamento como uma preferência construída em relação a SS em situações de ganho e LL em situações de perda. De acordo com o segundo padrão observa-se que um aumento dos diferimentos de ambas as consequências, pela mesma constante aditiva, mudará o comportamento de indiferença dos indivíduos para uma preferência por LL em ganhos e SS em perdas. A segunda propriedade designa-se pelo aumento da sensibilidade proporcional dos diferimentos e das consequências, esta propriedade postula que dobrar o valor de €100 apresenta um maior valor absoluto do que dobrar €1. Tal como a primeira propriedade esta também produz dois padrões de preferência. Tendo em conta o primeiro padrão, um aumento dos diferimentos de ambas as consequências pela mesma constante multiplicativa alterará o comportamento de indiferença para um comportamento preferencial em relação a SS em situações de ganho e LL em situações de perda. No segundo padrão denota-se uma passagem de um comportamento de indiferença para uma preferência por LL em ganhos e por SS em perdas devido ao aumento da magnitude de ambas as consequências pela mesma constante multiplicativa. A terceira propriedade da função de valor é a aversão à perda constante (Tversky & Kahneman, 1991), esta, de acordo com o Single Reference Point Model produz a assimetria ganho-perda. Segundo esta propriedade uma alteração do sinal de uma consequência de positivo para negativo faz com que a magnitude do seu valor aumente por uma constante multiplicativa. Rubinstein (2003) e Leland (2002) introduzem o conceito de similaridade no estudo da escolha intertemporal. Estes autores propõem que os atributos tempo e valor monetário são afectados pela similaridade relativa das consequências e dos diferimentos no contexto presente. Deste modo caso exista uma maior similaridade entre as consequências das opção em avaliação do que entre os diferimentos, haverá uma tendência de escolha por parte dos indivíduos a favor de SS em situações de ganhos e LL em situações de perdas. Por outro lado se a similaridade estiver mais presente entre os diferimentos e não entre as consequências, então a tendência de escolha será direccionada para LL em ganhos e SS em perdas. Para se estabelecer uma similaridade entre opções estão naturalmente envolvidos processos de comparação: “Similarity is comparative in nature” (Scholten & Read, 2010, p. 934). Assim, este modelo encontra o seu suporte na ideia central que os indivíduos fazem comparações directas entre os atributos tempo e valor monetário, quando confrontados com duas ou mais opções. De acordo com este modelo, as pessoas realizam as escolhas intertemporais através da 21    

avaliação de quanto mais podem receber ou pagar caso esperem mais tempo do que o proposto. Em alternativa a avaliação será a de ponderar quanto menor será o valor a receber ou a pagar se esperarem menos tempo do que o proposto. Este modelo é pioneiro pois contempla pela primeira vez a tomada de decisão na escolha intertemporal a partir de comparações directas entre as opções em consideração, no entanto, ainda não se encontra devidamente desenvolvido para uma configuração de escolhas constituída por três ou mais opções. Neste trabalho, é dado o primeiro passo, considerando uma terceira opção.

Introdução da Terceira Opção A escolha entre alternativas está dependente da presença ou ausência de outras alternativas, ideia esta que foi corroborada no estudo de Huber e Puto (1983) onde a introdução de uma opção nova fez como que se constituísse uma configuração de três escolhas, em vez de duas, resultando numa alteração da preferência e utilidade que cada indivíduo atribuía a cada uma das opções. De igual modo Shafir, Simonson e Tversky (1993), sugerem que a adição de opções à configuração inicial pode influenciar as preferências dos indivíduos em relação às opções que inicialmente integravam a configuração. Este facto contraria o princípio da maximização da utilidade do valor, que postula que no caso de adição de novas opções, uma opção não preferida não poderá passar preferida. No entanto, tal como é defendido pelo autores acima referidos, a adição de uma alternativa pode dificultar a justificação da decisão, e deste modo aumentar a tendência de alterar a decisão. Tal como foi referido anteriormente e de acordo com Bhargava, Kim e Srivastava (2000) a ideia provocatória de que a escolha entre duas alternativas pode ser influenciada pela introdução de uma terceira alternativa, fez com que houvesse um aumento exponencial da investigação sobre os efeitos do contexto nas escolhas. Uma das maiores e mais importantes descobertas resultantes da investigação da escolha sob risco, é o fenómeno da aversão às perdas, que se traduz na ideia de que os resultados ou consequências que estão abaixo do ponto de referência de um indivíduo (perdas) são mais “sentidas”, do que resultados que estão acima desse mesmo ponto de referência (ganhos). Este fenómeno vem então explicar uma variedade de manifestações do comportamento dos indivíduos, como é o caso do status quo bias, ou do efeito de dotação (Tversky & Kahneman, 1991). 22    

Conforme exposto, uma das principais implicações da aversão às perdas traduz-se na noção de que os indivíduos apresentam uma forte tendência para permanecer no estado actual, status quo, isto porque as desvantagens de abandonar esse estado são mais avultadas do que vantagens correspondentes (Samuelson & Zeckhauser, 1988), o que contribui de forma concreta para que as pessoas não alterem os seus comportamentos pré-estabelecidos, a menos que os incentivos para a mudança sejam irresistíveis. De acordo com o efeito de dotação, primeiramente introduzido por Thaler (1980), as pessoas avaliam um bem como mais valioso a partir do momento em que este se torna propriedade sua, ou seja, as pessoas tendem a atribuir mais valor a objectos que possuem do que a objectos que não possuem (Thaler, 1980; Kahneman, Knetsch & Thaler, 1990, 1991; Carmon & Ariely, 2000). Um exemplo claro deste efeito é apresentado no estudo realizado por Heberlein e Bishop (1986) que mostra que, em média, as pessoas estavam dispostas a pagar $31 por uma licença de caça, no entanto, não estavam dispostas a vender essa mesma licença por menos de $143. Thaler (1980) designou esta diferença de preço de endowment effect (efeito de dotação) que sugere que a propriedade de um item parece ser mais valiosa para um dono efectivo do que para um possível dono. Segundo este autor é, ainda, notório um certo grau de inércia nos processos de escolha dos consumidores, uma vez que os bens que são incluídos na dotação individual serão mais valorizados do que os não incluídos, ceteris paribus. Um estudo mais recente de Carmon e Ariely (2000) sugere, ainda, que o efeito de dotação pode estar presente não apenas para bens que são realmente propriedade dos indivíduos, mas de igual modo, para bens que os indivíduos “sentem” como seus. Este efeito é descrito como inconsistente com a teoria económica clássica, uma vez que esta afirma que a disposição de uma pessoa para pagar por um bem deve ser igual à sua disposição para aceitar uma recompensa para se privar do mesmo bem. Simonson e Tversky (1992) de forma a explicarem o efeito do contexto nas escolhas dos indivíduos estenderam a noção de aversão às perdas, a vantagens e desvantagens, que são definidas na relação com as restantes alternativas disponíveis, em vez de com um ponto de referência neutro. Consideremos então que x é a opção que apresenta maior valor monetário e maior tempo de espera, z a opção que possui o menor valor monetário e menor tempo de espera, e y surge como uma opção intermédia em ambos os atributos. A assumpção de que as desvantagens têm um maior peso do que as respectivas vantagens, tende a favorecer a escolha

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pela opção intermédia (y), isto porque, esta apenas apresenta uma ligeira desvantagem em relação às restantes opções disponíveis. De acordo com Simonson e Tversky (1992), o efeito de compromisso é atribuído à noção de que as desvantagens pesam mais do que as vantagens correspondentes. Segundo esta noção, e tal como é possível observar na tabela 1, quando o indivíduo está perante um escolha diádica e as desvantagens pesam de igual modo em ambos os atributos, verifica-se então que a probabilidade escolha das opções é idêntica. Sendo a ponderação das desvantagens em ambos os atributos igual, quando existe uma inclusão de uma terceira alternativa (tabela 2) que tomará uma posição extremada e terá por isso mais desvantagens num dos atributos, é de esperar que a escolha dos indivíduos recaia para a opção que apresenta mais equilíbrio entre as desvantagens de ambos os atributos, o que resulta no efeito de compromisso, onde a opção do meio é preferida, uma vez que é a que apresenta menos desvantagens.   Tabela 1. Avaliação de opções (escolha diádica).

Opção Comparada Opção

X (SS)

Y (LL)

Avaliação

X (SS)

0

1 - 2.1 = -1

-1

Y (LL)

1 -1= -1

0

-1

Avaliada

Tabela 2. Efeito de compromisso, ilustrando a aversão ao extremos.

Opção Comparada Opção

X (SS)

Y (MM)

Z (LL)

Avaliação

X (SS)

0

1 - 2.1 = -1

2 - 2.2 = -2

-3

Y (MM)

1 - 2.1 = -1

0

1 - 2.1 = -1

-2

Z (LL)

2 - 2.2 = -2

1 - 2.1 = -1

0

-3

Avaliada

No entanto a diferença na avaliação das vantagens e desvantagens pode depender dos atributos em questão, ou seja, pode ser grande para um atributo e insignificante para outro, tal como se verifica na tabela 3. Neste caso o indivíduo está perante um escolha diádica onde existe um desequilíbrio entre as avaliação das duas opção em consideração que sugere que as 24    

desvantagens de um dos atributos pesam mais que as desvantagens do outro atributo o que resulta num aumento da probabilidade de escolha da opção representada por X. Na tabela 4 inclui-se uma opção intermédia o que faz com que a opção que já apresentava anteriormente desvantagens no atributo que o indivíduo considerava mais importante, tenha ainda menor probabilidade de ser escolhida, isto é, observa-se um reforço para a opção já preferida. A combinação de tais atributos pode, assim, produzir um padrão assimétrico de aversão extrema, denominado por polarização que neste caso a favor da opção X.

Tabela 3. Avaliação de opções (escolha diádica).

Opção de Comparação Opção

X (SS)

Z (LL)

Avaliação

X (SS)

0

2-2=0

0

Z (LL)

2 - 2.2 = -2

0

-2

Avaliada

  Tabela 4. Polarização a favor da opção X (ganhar mais cedo).

Opção de Comparação Opção

X (SS)

Y (MM)

Z (LL)

Avaliação

X (SS)

0

1-1=0

2-2=0

0

Y (MM)

1 – 2.1 = -1

0

1-1=0

-1

Z (LL)

2 – 2.2 = -2

1 – 2.1 = -1

0

-3

Avaliada

Segundo Simonson e Tversky (1992), este padrão foi encontrado em diversos estudos nos quais as opções variavam em relação à qualidade (e.g. poder de ampliação de binóculos, cobertura do seguro de saúde) e ao preço. Na maioria dos casos, a opção de baixa qualidade e preço, foi relativamente menos popular, em configurações onde estavam presentes três opções, do que em configurações onde estavam presentes apenas duas, no entanto, isto não foi verificado para a opção de elevada qualidade e preço. Estes resultados sugerem um padrão de aversão extrema em relação ao atributo qualidade, mas pouca ou nenhuma aversão extrema relativamente ao atributo preço. 25    

Diversos estudos realizados no campo da escolha sobre risco evidenciam o princípio da aversão às perdas, que postula que perdas normalmente têm mais peso do que os ganhos correspondentes (Tversky & Kahneman, 1991). Os ganhos e perdas são normalmente definidos em relação a um ponto de referência neutro, que corresponde ao status quo. Em diversas situações de escolha e tal como referido anteriormente, os indivíduos avaliam as vantagens e desvantagens de um determinada opção em comparação com as outras opções presentes. Assim como acontece com ganhos e perdas, as vantagens e desvantagens também pesam com diferentes intensidades, sendo que as desvantagens pesam normalmente mais do que as vantagens correspondentes. Quando um indivíduo se depara com um conjunto de três opções x, y e z, que variam em dois atributos, onde por exemplo x1 < y1 < z1 e x2 > y2 > z2 as opções extremadas têm pelo menos uma grande vantagem e uma grande desvantagem, uma em relação à outra e em comparação com a opção do meio apresenta uma pequena vantagem e uma pequena desvantagem, ou seja, a opção do meio apresenta pequenas desvantagens e vantagens em relação às opções extremadas. Quando emparelhadas as opções, as desvantagens pesam mais do que as vantagens correspondentes e a opção do meio pesa mais quando contextualizada numa condição de escolha triádica. Segundo Simonson e Tversky (1992) existem, então, duas formas de aversão aos extremos: compromisso e polarização. O compromisso é esperado quando as desvantagens pesam mais que as vantagens em ambos os atributos. Por outro lado a polarização é esperada quando as desvantagens pesam mais que as vantagens, mas apenas num dos atributos. Em particular quando existe uma combinação dos dois atributos que produz um padrão assimétrico de aversão aos extremos sugere a presença do efeito de polarização nas escolhas dos indivíduos. Vários foram os estudos onde estavam presentes diversas categorias de produtos, no entanto, os estudos de Simonson e Tversky (1992) focam-se especificamente nos atributos qualidade e preços das opções. Estes estudos sugerem que em conjuntos de três opções, na maioria dos casos, a opção mais barata e de inferior qualidade foi menos popular em comparação com conjuntos onde estavam presentes duas opções. É possível observar, portanto, que há uma aversão aos extremos relativamente ao atributo qualidade, mas pouca ou nenhuma aversão aos extremos no que diz respeito ao atributo preço. Em suma, quando se dá a passagem de uma escolha diádica para uma escolha triádica a opção de menor qualidade é, progressivamente, abandonada. De acordo com estes autores 26    

especula-se que a qualidade está inerente ao real objectivo da compra, enquanto preço é associado apenas aos recursos que são necessários despender para alcançar esse mesmo objectivo, deste modo temos portanto qualidade como atributo preponderante. Este fenómeno é ainda mais visível em contexto de escolha triádica, uma vez que a opção de menor qualidade é mais popular num conjunto de duas opções do que num conjunto de três. Sendo esta conjectura válida, deve-se esperar polarização para outros pares de atributos, que não a qualidade e o preço das opções apresentadas, em que um será mais proeminente que o outro (Tversky, Sattath & Slovic, 1988).

Problema e Hipóteses A realização desta investigação surge da pertinência de se avaliar pela primeira vez qual a influência da introdução de uma opção incumbente na escolha dos indivíduos em contexto intertemporal, o que despoleta a necessidade de estabelecer três objectivos fundamentais para esta investigação, que são seguidamente apresentados. Os indivíduos tendem a executar comparações directas entre os atributos das opções, tendo em conta que neste estudo os atributos são tempo e valor, torna-se pertinente: 1) Quer em ganhos quer em perdas, verificar qual dos atributos, tempo ou valor monetário, assume um papel mais preponderante na tomada de decisão na escolha intertemporal.

Os efeitos de enquadramento sugerem que manipular a forma como a informação é apresentada pode influenciar e alterar a tomada de decisão e julgamento sobre essa informação, o que pode contribuir para que os indivíduos em configurações de três opções apresentadas com um enquadramento enviesado (manipulado) assumam uma maior preferência pela opção intermédia do que nas configurações apresentadas com um enquadramento neutro. Deste modo, pretende-se: 2) Verificar se os efeitos de enquadramento influenciam directamente a escolha da opção intermédia (MM).

27    

A presença de anomalias tem sido claramente evidenciada nos estudos empíricos desta temática. Deste modo e acrescentando a necessidade de averiguar esta presença numa configuração de escolha triádica torna-se pertinente: 3) Confirmar a presença dos efeitos de diferimento, magnitude e sinal em todas as condições experimentais.  

Questão exploratória: Q1: Quer em ganhos, quer em perdas, avaliar se, entre a escolha triádica neutra e a escolha triádica enviesada, há uma polarização para SS ou para LL, no sentido de identificar se foi o tempo ou o valor monetário que ganhou importância. Hipóteses principais: H1: Na passagem da escolha diádica neutra para triádica neutra, a polarização revela que ganhar mais cedo é mais importante do que perder mais tarde, ou ganhar mais é menos importante do que perder menos.

H2: A opção intermédia (MM) é mais popular na escolha triádica enviesada do que na escolha triádica neutra. Hipóteses suplementares: H3: Quanto maior for o intervalo de tempo, e mantendo a taxa de juros constante, maior será a probabilidade de escolha de LL para situações de ganhos e de SS para situações de perdas. H4: Quanto maior for o valor monetário, e mantendo a taxa de juros constante, maior será a probabilidade de escolha de LL para situações de ganhos e de SS para situações de perdas. H5: Mantendo a taxa de juros constante, a probabilidade de escolha de SS em perdas é maior do que a probabilidade de escolha de LL em ganhos.

28    

Método Caracterização do Estudo O estudo realizado, no que diz respeito ao objectivo, apresenta-se em parte como um estudo de carácter exploratório, na medida em que pretende explicar um dos fenómenos em estudo sem o estabelecimento de uma hipótese prévia e em parte como confirmatório, pois visa confirmar hipóteses previamente estabelecidas. Trata-se de um estudo de campo, uma vez que os dados de interesse são recolhidos em contexto natural para o inquirido. Em relação ao aspecto metodológico do tempo, este é um estudo transversal, isto porque, neste tipo de estudo as medições são feitas num único "momento", não existindo, portanto, um período de seguimento dos indivíduos. Por último, no que concerne ao controlo do estudo, este apresenta um carácter experimental, dado que o controlo é realizado a priori.

Design do Estudo Os estímulos foram construídos de acordo com um design 3 (Condição Diádica Neutra, Triádica Neutra, Triádica Enviesada) (Between-participants) x 2 (Diferimento) x 2 (Magnitude) x 2 (Sinal) (Within-participants). A figura 1 ilustra o design experimental utilizado.

Escolha Diádica Neutra

Escolha Triádica Neutra

Escolha Triádica Enviesada

Figura 1. Representação visual das condições experimentais do estudo.

A condição de escolha atribuída variou entre participantes, 104 foram submetidos à condição diádica neutra, 274 responderam à condição representativa de escolha triádicas neutra, e os restantes 239 participaram na condição triádicas enviesada. 29    

A distribuição de participantes por condições realizou-se deste modo, porque a dispersão dos participantes seria maior quanto confrontados com três opções (escolhas triádicas) do que quando confrontados com duas opções (escolha diádica neutra), uma vez que de acordo com a literatura a opção do meio normalmente é mais popular. (Simonson & Tversky, 1992).

Participantes A amostra deste estudo é constituída por 617 elementos de ambos os géneros 41% do género masculino, com idades compreendidas entre os 17 e os 66 anos, sendo que a média é de 31 anos (desvio padrão 10,94). No que diz respeito às habilitações académicas dos participantes a grande maioria (73%) tem o ensino superior, 24% completou o ensino secundário e os restantes tem como habilitações o ensino primário ou preparatório. Em relação ao estatuto profissional, esta amostra foi constituída por 55% de indivíduos que estão empregados, 35% são estudantes e os restantes encontram-se em situação de desemprego ou reforma. O questionário foi aplicado a indivíduos residentes em Portugal continental e nas regiões autónomas dos Açores e da Madeira. O tipo de amostragem utilizado foi a amostragem por conveniência, uma vez que o recrutamento foi efectuado através da metodologia de bola de neve. Os elementos da amostra participaram de acordo com a sua disponibilidade para responder ao questionário on-line e não receberam qualquer renumeração pela sua participação.

Procedimento Num primeiro momento procedeu-se à realização de um pré-teste para a condição diádica neutra com o intuito de averiguar quais os valores, entre os quais os indivíduos seriam indiferentes. Deste modo foram construídos, de forma intuitiva, conjuntos de dois valores, apresentados na tabela 5 (anexo A), que foram posteriormente apresentados a uma amostra de cerca de 30 participantes para cada conjunto de valores. Após concluído este processo de préteste o conjunto de valores que os participantes consideraram mais indiferente foi o de 400€ agora ou 610€ daqui ½ ano. Assim, foi este o conjunto de valores que serviu de base para a construção da condição diádica neutra, ou seja, da condição de controlo deste estudo. 30    

Num segundo momento avançou-se para a criação e consequente disponibilização online dos três questionários, representativos de cada condição, a serem utilizados nesta investigação, através da aplicação Web Survey Software Qualtrics. Seguiu-se o contacto com os possíveis participantes, que foi estabelecido com recurso a meios de comunicação informáticos (correio electrónico, redes sociais e serviços de mensagens instantâneas). Foi então enviado um e-mail para os indivíduos que se mostraram disponíveis para participar na investigação, onde estavam presentes a hiperligação e as instruções para a realização do questionário on-line, bem como um endereço de correio electrónico para o qual os participantes poderiam encaminhar qualquer dúvida ou comentário relativo ao estudo. Foi ainda pedido aos participantes para procederem ao reenvio do e-mail para os seus contactos, contribuindo assim para o aumento da amostra desta investigação, para tal estes deveriam recorrer à funcionalidade BCC de forma a garantir a privacidade de todos. Relativamente às tarefas pedidas aos participantes, para a condição diádica neutra, foi primeiramente dito aos participantes que tinham o direito a receber dinheiro, e de seguida foi pedido para escolherem qual das opções apresentadas preferiam. Uma das opções reflectia a opção representativa de Smaller-but-Sooner (SS), “Receber €85 hoje”, e a outra opção era representativa de Larger-but-Later (LL), “Receber €115 daqui a ½ ano”. Na condição triádica neutra, foi introduzida uma terceira opção na configuração de opções em avaliação, esta opção foi a de “Receber €225 daqui a ½ ano” que é representativa da opção MM. Finalmente para a condição triádica enviesada, foi dito aos participantes que tinham direito a receber €225 daqui a ½ ano, no entanto poderiam escolher adiantar o recebimento e receber um valor monetário menor, ou por outro lado, adiar o recebimento e receber mais dinheiro. A primeira opção apresentada foi a de “Receber €225 daqui a ½ ano, como planeado” opção representativa de MM, uma das opções alternativas foi a de “Adiantar o recebimento, e receber €165 hoje” a outra foi a de “Adiar o recebimento, e receber €300 daqui a 1 ano”. Tanto nesta última condição experimental como na condição triádica neutra, a opção MM foi sempre apresentada em primeiro lugar. É ainda de referir que a ordem das opções representativas de SS ou LL foi sendo contra balanceada entre participantes. No final foi solicitado a todos os respondentes que confirmassem a sua participação através dos meios inicialmente utilizados. Quando o número de participantes atingiu o valor previamente estipulado, procedeu-se ao encerramento do acesso on-line aos questionários.

31    

Terminada a recolha de dados, procedeu-se à sua análise estatística recorrendo, para tal, ao software StatSoft STATISTICA (v. 8.0; Statsoft Inc, Tulsa, USA). Como forma de analisar os resultados recorreu-se ao Teste do Qui-quadrado de independência implementado no software de análise estatística acima referido, e considerou-se uma probabilidade de erro de tipo I (α) de 0.05 em todas as análises inferências.

Instrumento Os instrumentos utilizados nesta investigação foram três questionários de autopreenchimento. Para cada questionário foram criadas duas versões de forma a garantir o contra balanceamento dos itens. Cada questionário é constituído por duas partes, na primeira parte são dadas as instruções de preenchimento do questionário e de seguida são apresentadas aos participantes 8 questões/problemas onde estes têm de realizar uma escolha, na segunda parte por um conjunto de indicadores sócio-demográficos. Os três instrumentos utilizados na recolha dos dados podem ser consultados na íntegra nos anexos B, C e D.

32    

Resultados Q1: Quer em ganhos, quer em perdas, avaliar se, entre a escolha triádica neutra (condição experimental 1) e a escolha triádica enviesada (condição experimental 2), há uma polarização para SS ou para LL, no sentido de identificar se foi o tempo ou o valor monetário o atributo preponderante, respectivamente. H1: Na passagem da escolha diádica neutra para triádica neutra, a polarização revela que ganhar mais cedo é mais importante do que perder mais tarde, ou ganhar mais é menos importante do que perder menos.

0,9

0,8

0,7

P 0,6

Ganhos Perdas

0,5

0,4

0,3 Diádica Neutra

Triádica Neutra

Triádica Enviesada

Figura 2. Comparação entre a escolha diádica neutra e triádica neutra, e a escolha triádica neutra e triádica enviesada para situações de ganhos e de perdas.

Na figura 2 é possível analisar os resultados da polarização na comparação entre a escolha diádica neutra e triádica neutra. Observa-se, então, um efeito polarização em direcção a ganhar mais cedo para o caso de ganhos, no entanto, este efeito não é verificado na situação de perdas. Em situação de ganhos, a escolha da opção LL na escolha triádica neutra (.41) foi 33    

menos comum do que na escolha diádica neutra (.55), χ2(4) = 32.42, p = .00, no entanto, em caso de perdas a escolha da opção SS foi menos popular a escolha triádica neutra (.80) do que na escolha diádica neutra (.81), χ2(4) = 2.03, p = .73. A figura 2 mostra ainda que na comparação entre a escolha triádica neutra e triádica enviesada. Neste caso verifica-se uma polarização em direcção a ganhar mais para situações de ganhos e de igual modo observa-se uma polarização para perder menos no caso de perdas. Para ganhos a escolha da opção LL foi mais observada na escolha triádica enviesada (.65) do que na escolha triádica neutra (.41) χ2(4) = 87.34, p = .00, por outro lado, para perdas a escolha da opção SS foi mais verificada na escolha triádica enviesada (.86) do que na escolha triádica neutra (.80), χ2(4) = 11.08, p = .03.

34    

H2: A opção intermédia (MM) é mais popular na escolha triádica enviesada do que na escolha triádica neutra.

0,5

0,4

0,3

P 0,2

0,1

0 Triádica Neutra

Triádica Enviesada

Figura 3. Comparação da popularidade da opção intermédia, entre a escolha triádica neutra e triádica enviesada.

Como é ilustrado pela figura 3, a escolha da opção intermédia (MM) foi mais frequente na escolha triádica enviesada (.28) do que na escolha triádica neutra (.14), χ2(8) = 158.40, p = .00. Isto é, a escolha da opção intermédia apresenta-se como mais popular na condição onde as opções são apresentadas fazendo uso de um enquadramento específico (manipulado), do que na condição onde são num enquadramento neutro.

35    

H3: Quanto maior for o intervalo de tempo, e mantendo a taxa de juros constante, maior será a probabilidade de escolha de LL para situações de ganhos e de SS para situações de perdas.

0,9

0,8

0,7

P 0,6 0,5

0,4

0,3 Menor Diferimento

Maior Diferimento

Figura 4. Representação gráfica das escolhas dos indivíduos entre opção representativa de SS ou LL relativamente ao diferimento temporal.

Tal como é demonstrado pelos resultados observados na figura 4, o efeito de diferimento encontra-se presente nos resultados, uma vez que a escolha da opção representativa de LL (em ganhos) e de SS (em perdas) foi mais popular para períodos tempo maiores (.73) do que para períodos menores (.64), χ2(4) = 84.85, p = .00. Os resultados apresentados nesta figura contemplam o cruzamento das escolhas de SS ou LL das três condições experimentais.

36    

H4: Quanto maior for o valor monetário, e mantendo a taxa de juros constante, maior será a probabilidade de escolha de LL para situações de ganhos e de SS para situações de perdas.

0,9

0,8

0,7

P 0,6 0,5

0,4

0,3 Menor Magnitude

Maior Magnitude

Figura 5. Representação gráfica das escolhas dos indivíduos entre opção representativa de SS ou LL relativamente à magnitude das consequências.

Os resultados apresentados na figura 5 confirmam a presença do efeito clássico de magnitude, no qual a percentagem da escolha da opção representativa de LL (em ganhos) e de SS (em perdas) é maior para quantias maiores (.70) do que para quantias mais pequenas (.66),

χ2(4) = 42.23, p = .00. Neste caso, foi novamente efectuado, o cruzamento das escolhas das opções representativas de SS e de LL nas três condições experimentais.

37    

H5: Mantendo a taxa de juros constante, a probabilidade de escolha de SS em perdas é maior do que a probabilidade de escolha de LL em ganhos.

0,9

0,8

0,7

P 0,6 0,5

0,4

0,3 Ganhos

Perdas

Figura 6. Representação gráfica das escolhas dos indivíduos entre opção representativa de SS ou LL relativamente ao sinal das consequências (ganhos ou perdas).

A figura 6, em concreto, mostra que a escolha da opção SS em perdas (.81) foi maior do que a escolha da opção representativa de LL em ganhos (.51), χ2(4) = 337.49, p = .00, sugerindo deste modo, a presença do efeito de sinal. Tal como nas duas figuras anteriormente apresentadas, existe um cruzamento das escolhas de SS e LL das três condições experimentais da investigação.          

38    

Discussão No que concerne à questão exploratória desta investigação, que surge com o intuito de compreender qual o atributo mais importante (tempo vs. valor monetário), quando se dá uma passagem de um enquadramento neutro para um enquadramento enviesado na escolha triádica. Os resultados encontrados mostram, que de facto, verificou-se uma polarização das escolhas a favor da opção representativa de Smaller-but-Sooner (SS), ou seja, perder menos no caso de situações de perda. Do mesmo modo observou-se uma polarização a favor da opção Larger-but-Later (LL), ou seja, ganhar mais quando se trata de uma situação de ganhos. Portanto, logo à partida é possível afirmar que a presença de um enquadramento de adiamento e adiantamento altera efectivamente as preferências. Mais precisamente, ganhar mais e perder menos tornou-se mais importante do que ganhar mais cedo e perder mais tarde. O que pode ficar a dever-se ao facto da própria utilização das palavras adiar e adiantar na apresentação dos estímulos, que poderão ter contribuído para que os indivíduos encarassem, numa óptica de poupança de recursos cognitivos, o atributo tempo como algo que estava para além do seu controlo e deste modo limitaram-se a construir a sua preferência de escolha tendo por base apenas o valor monetário das opções. Esta explicação torna-se mais simples ao recorrer-se ao seguinte exemplo, quando os indivíduos estão perante uma escolha entre adiantar e receber x ou adiar e receber x+1, vão focalizar a sua atenção nos atributos que corresponde às consequências finais dessa escolha, neste caso x ou x+1, pois é plausível que a partir do momento em que são manipulados os atributos estritamente relacionados com o tempo, como é o caso da utilização das palavras adiar e adiantar, as pessoas não encaram estes mesmos atributos como consequências finais que verdadeiramente se podem traduzir numa alteração do seu bem-estar, contribuindo para que as escolhas sejam realizadas tendo por base, simplesmente, as consequências finais (valor monetário). Torna-se de igual modo interessante discutir a presença óbvia de um dos efeitos clássicos da escolha intertemporal, o efeito de sinal, pois nos resultados obtidos verifica-se que a escolha de SS em situação de perdas foi maior do que a escolha de LL em situações de ganhos o que demonstra, tal como é referido na literatura, que o comportamento dos indivíduos é qualitativamente diferente quando estes estão perante situações de perdas ou de ganhos, corroborando assim a investigação de Thaler (1981). No caso particular de perdas estes resultados podem ser debatidos à luz do princípio da aversão às perdas proposto por Kahneman e Tversky (1979), de acordo com este princípio de um modo simples e geral, a “dor” resultante de uma perda é maior do que do prazer associado a um ganho. Consistente 39    

com este princípio é a noção de que os indivíduos escolheriam a opção que traduzisse uma menor perda, o que na realidade foi o que se observou pois verificou-se uma preferência por SS que é exactamente a opção que representa a menor perda. Relativamente à primeira hipótese, que refere que na passagem da escolha diádica neutra para triádica neutra, a polarização revela que ganhar mais cedo é mais importante do que perder mais tarde, ou ganhar mais é menos importante do que perder menos, esta confirma-se pois em particular no caso de situações de ganhos observa-se uma polarização à favor de SS, opção que representa receber menos dinheiro mas mais cedo, o que sugere que neste caso o tempo assumiu o papel de atributo preponderante na realização desta escolha. Antes de mais torna-se pertinente relembrar que de acordo com Huber e Puto (1983), a escolha entre alternativas está dependente da presença ou ausência de outras alternativas, onde a introdução de uma opção nova fez como que se constituísse uma configuração de três escolhas, em vez de duas, tal como acontece neste estudo, resultando numa alteração da preferência que cada indivíduo atribuía a cada uma das opções. Ainda do mesmo modo no estudo de 1993 de Shafir, Simonson e Tversky, é sugerido que a adição de opções à configuração inicial pode influenciar as preferências dos indivíduos em relação às opções que inicialmente integravam a configuração. Os resultados aqui obtidos contrariam, ainda, o princípio da maximização da utilidade do valor, que postula que no caso de adição de novas opções, uma opção não preferida não poderá passar preferida. Apesar disto, tal como é defendido pelos autores acima referidos, a adição de uma alternativa pode dificultar a justificação da decisão, e deste modo aumentar a tendência de alterar a decisão, sendo esta uma explicação que poderá ser enquadrada para a compreensão da alteração do padrão de escolhas. Para interpretar estes resultados é, ainda, pertinente e importante retomar a Leland (2002) e Rubinstein (2003) que introduziram, pela primeira vez, o conceito de similaridade no estudo da escolha intertemporal, onde é proposto que os atributos tempo e valor monetário são afectados pela similaridade relativa das consequências e dos diferimentos no contexto presente. Deste modo e segundo estes autores, caso exista uma maior similaridade entre as consequências (valor monetário) das opção em avaliação do que entre os diferimentos, deverá observar-se uma tendência de escolha por parte dos indivíduos a favor de SS em situações de ganhos e LL em situações de perdas. Explicação que é totalmente consistente com o padrão de escolha verificado neste estudo quando se trata de uma situação de ganhos, o que permite

40    

avançar com a ideia de que os indivíduos poderão ter encarado as consequências em avaliação como relativamente mais similares do que os diferimentos. Na interpretação destes resultados é possível, de igual modo, fazer uma ponte para os estudos de Simonson e Tversky (1992), onde é defendido que quando se dá a passagem de contexto de escolha diádica para escolha triádica a opção de menor qualidade é, progressivamente, abandonada. De acordo com estes autores especula-se que a qualidade está inerente ao real objectivo da compra, enquanto preço é associado apenas aos recursos que são necessários despender para alcançar esse mesmo objectivo, deste modo temos portanto qualidade como atributo preponderante. Este fenómeno é ainda mais visível em contexto de escolha triádica, uma vez que a opção de menor qualidade é mais popular num conjunto de duas opções do que num conjunto de três. Assim sendo esta conjectura válida, e de acordo Tversky, Sattath e Slovic em 1988, deve-se esperar polarização para outros pares de atributos, que não apenas a qualidade e o preço das opções apresentadas, em que um será mais proeminente que o outro, o que foi coerente com o observado nos resultados deste estudo. A polarização observada pode ficar a dever-se ao facto de os indivíduos serem impacientes quando estão perante ganhos, isto porque as pessoas podem encarar a opção MM como algo garantido à partida e assim preferem alterar sua escolha para a opção SS, uma vez que ainda que recebam um valor monetário menor recebem-no efectivamente mais cedo, aumentado mais rapidamente o nível de bem-estar actual, contribuindo para um sentimento de prazer imediato. Uma outra possível explicação para este padrão comportamental de escolha prende-se com o facto de os indivíduos para optarem pela escolha da opção representativa de LL em situação de ganhos, esta opção teria de apresentar um valor suficientemente inflacionado para que fosse compensatório do tempo de espera. No que diz respeito às situações de perdas e tal como seria de esperar não se observou qualquer polarização na direcção de escolha na passagem da condição diádica neutra para a condição triádica neutra, o que vem comprovar tal como proposto na hipótese, que perder menos é mais importante do que ganhar mais, sugerindo que é o valor monetário, o atributo mais importante nesta escolha em particular. Isto demonstra que é irrelevante se os indivíduos estão perante uma escolha entre duas ou três opções pois estes continuam a preferir a escolha da opção SS, ou seja, perder menos, este padrão de escolha é espelhado na figura 7, onde são apresentadas três forma de polarização que indicam que ganhar mais cedo é mais importante do que perder mais tarde, ou que ganhar mais é menos importante do que perder menos.    

41    

0,9

 

0,8

 

0,7

     

0,6

P

0,5

 

0,4

     

 

Neutra

Triádica

Neutra

Diádica

Neutra

Neutra

 

Triádica

 

Diádica

0,1

Neutra

 

0,2

Triádica

 

0,3

Neutra

 

Ganhos Perdas

Diádica

 

Polarização a favor

Polarização a favor

Ausência de polarização

de ganhar mais cedo,

de ganhar mais cedo

em ganhos, e polarização

ausência de polarização

e a favor de perder

a favor de perder menos.

em perdas.

menos.

  Figura 7. Três formas de polarização que indicam que ganhar mais cedo é mais importante do que perder mais tarde, ou que ganhar mais é menos importante do que perder menos.

Mais uma vez este comportamento dos indivíduos pode ser explicado através do princípio da aversão às perdas anteriormente referido, recorrendo a este princípio é possível perceber o porquê da opção SS ter sido preferida, pois já que os indivíduos estão perante uma situação de perdas e vão ter de pagar, estes preferem pagar o menos possível, o que é totalmente consistente com o que a noção de aversão às perdas postulada. A segunda hipótese deste estudo, que afirma que a opção intermédia (MM) é mais popular na escolha triádica enviesada do que na escolha triádica neutra, é confirmada. O que pode ser explicado recorrendo, em parte, ao efeito de compromisso proposto por Simonson e Tversky (1992), ao qual é atribuído a noção de que as desvantagens pesam mais do que as vantagens correspondentes. Este resultado pode ser enquadrado na explicação avançada por estes autores, que de forma a explicarem o efeito do contexto nas escolhas dos indivíduos estenderam a noção de aversão às perdas, a vantagens e desvantagens, que são definidas na relação com as restantes alternativas disponíveis, em vez de com um ponto de referência neutro. A assumpção avançada por este autores de que as desvantagens têm um maior peso do que as respectivas vantagens, tende a favorecer a escolha pela opção intermédia (MM), isto 42    

porque, esta apenas apresenta uma ligeira desvantagem em relação às restantes opções disponíveis. Este fenómeno pode ser melhor explicado recorrendo à seguinte situação: um indivíduo que se depara com um conjunto de três opções x, y e z, que variam em dois atributos, onde por exemplo x1 < y1 < z1 e x2 > y2 > z2 onde as opções extremadas têm pelo menos uma grande vantagem e uma grande desvantagem, uma em relação à outra e em comparação com a opção do meio apresenta uma pequena vantagem e uma pequena desvantagem, ou seja, a opção do meio apresenta pequenas desvantagens e vantagens em relação às opções extremadas. A partir do momento que os indivíduos assumem a opção MM como aquilo a têm direito, automaticamente esta é encarada como propriedade do indivíduo, logo, este atribuilhe um valor muito superior relativamente às outras opções, este fenómeno é designado por efeito de dotação e foi primeiramente introduzido por Thaler (1980), o que faz com que esta opção seja um ponto de referência. Assim, para o indivíduo abdicar dessa opção, as hipóteses alternativas teriam de ser inflacionadas, o que não seria possível na medida em que as opções já estão estipuladas – status quo (Samuelson & Zeckhauser, 1988). Outra explicação destes resultados pode residir no facto de que o próprio enquadramento neutro utilizado no contexto da escolha triádica pode contribuir para que um efeito de inércia, uma vez que os indivíduos dispõem logo à partida da informação de que já têm direito a uma opção, contribuindo de certo modo para que a escolha não sofra alteração. Contrastando com isto, o enquadramento enviesado da escolha triádica poderá ter feito com que as opções dos extremos sejam percebidas como ainda mais extremadas pelos indivíduos favorecendo de certo modo a presença do fenómeno de aversão aos extremos, o que se traduz num maior “conforto” sentido pelos indivíduos ao escolherem a opção intermédia. A secção seguinte destina-se à discussão das anomalias clássicas da escolha intertemporal, serão discutidos os resultados obtidos neste estudo relativos aos efeitos de diferimento, magnitude e sinal. No que concerne à terceira hipótese deste estudo que testa o efeito de diferimento e que refere que quanto maior for o diferimento temporal entre as opções, e mantendo a taxa de juros constante maior será a probabilidade de escolha de opção representativa de LL para situações de ganhos, e de SS para situações de perdas. Esta hipótese confirma-se pois efectivamente os participantes desta investigação escolheram mais a opção LL quando o intervalo de tempo foi maior, o que vem corroborar o que a literatura acerca deste efeito defende, isto é, que as taxas de desconto tendem a ser maiores para períodos de espera mais 43    

curtos do que para períodos de espera mais longos, o que se deve ao facto da impaciência dos indivíduos decrescer com o passar o tempo (e.g. Benzion, Rapoport, & Yagil, 1989; Thaler, 1981). Prelec e Loewenstein (1991) sugerem que este efeito pode ser explicado através da propriedade da sensibilidade decrescente relativa ao tempo, ou seja, por exemplo para os indivíduos a diferença entre 0 e 2 anos parece maior do que a diferença entre 6 e 8 anos. Apesar de este efeito ser uma anomalia clássica dos modelos normativos da escolha intertemporal, o modelo de desconto hiperbólico proposto por Loewenstein e Prelec (1992) consegue acomodá-lo recorrendo à noção de impaciência decrescente, segundo a qual os indivíduos parecem descontar o futuro hiperbolicamente, ou seja, são muito impacientes para resultados que ocorrem num futuro próximo mas em contraste, são muito mais pacientes para resultados que ocorrem num futuro mais distante. Este mesmo padrão de escolhas que reflecte o efeito clássico de diferimento, pode ser explicado recorrendo ao modelo de troca proposto por Scholten e Read (2010), onde um aumento dos diferimentos de ambas as consequências, pela mesma constante aditiva, mudará o comportamento de indiferença dos indivíduos para uma preferência por LL em ganhos e SS em perdas, o que é totalmente consistente com os resultados obtidos.  A quarta hipótese ilustra o efeito de magnitude e que afirma que quanto maior for o valor monetário, e mantendo a taxa de juros constante, maior será a probabilidade de escolha de LL para situações de ganhos, e de SS para situações de perdas. De acordo com os resultados obtidos neste estudo, esta hipótese confirma-se, o que vai de encontro ao que é proposto na literatura sobre este fenómeno, pois diversos são os estudos empíricos que comprovam que para grandes quantias de dinheiro o desconto proporcional é menor do que para pequenas quantias. Um desses estudos é o de Thaler (1981), onde foi verificado que em média, os participantes, eram indiferentes entre receber $15 agora e $60 dali a 1 ano, eram de igual modo indiferentes entre receber $250 no momento imediato e $350 no espaço de 1 ano, bem como $3000 agora e $4000 dentro de 1 ano. A literatura acerca deste efeito clássico oferece duas explicações comportamentais plausíveis para a sua ocorrência. A primeira tem a sua base na psicologia da percepção (psicofísica), e de acordo com esta explicação as pessoas são sensíveis, não apenas, a diferenças relativas nas quantias de dinheiro, mas também a diferenças absolutas (Loewenstein & Prelec, 1992), por exemplo, a diferença perceptual entre €100 agora e €150 daqui a um ano, parece maior do que a diferença entre €10 agora e €15 daqui a um ano, deste modo a maioria das pessoas estão dispostas a esperar pelos €50 no primeiro caso, mas não pelos €5 no segundo. A segunda explicação advém da noção de 44    

contabilidade mental proposta por Shefrin e Thaler (1988), por exemplo se ganhos pequenos são inscritos na contabilidade mental de verificação, o que contribuí para que estes sejam amplamente consumidos, por sua vez já os ganhos de quantias maiores são inscritos numa contabilidade mental de poupança, onde a propensão para o consumo é muito menor. Deste modo o custo de esperar por um ganho pequeno pode ser entendido como uma renúncia ao consumo, em contraste, o custo de oportunidade de esperar por um ganho maior é simplesmente percepcionado como um interesse renunciado. De acordo com esta explicação se a renúncia ao consumo for mais tentador do que uma renúncia ao interesse, então o efeito de magnitude será observado. Finalmente para a quinta e última hipótese proposta neste estudo, segundo a qual ao manter-se a taxa de juros constante, a probabilidade de escolha de SS em perdas é maior do que a probabilidade de escolha de LL em ganhos, hipótese esta que é construída com o objectivo de verificar a presença do efeito de sinal, esta confirma-se como se pode constatar nos resultados obtidos, pois tal como previsto foram observadas mais escolhas da opção representativa de SS em situações de perdas do que da escolha da opção de LL em situações de ganhos. Estes resultados vêm corroborar Thaler (1981) que defende que o comportamento dos indivíduos é qualitativamente diferente para situações de ganhos e de perdas, este autor demonstrou no mesmo estudo que as taxas de desconto estimadas para situações de ganhos foram três a dez vezes maiores do que as taxas de desconto para situações de perda. O que é consistente com um estudo posterior realizado por Loewenstein e Thaler (1989) mostrou que a taxa de desconto para situações de ganho é muito maior do que para situações de perda. A presença deste efeito nos resultados pode mais uma vez ser explicada recorrendo ao princípio de aversão às perdas, primeiramente introduzido por Kahneman e Tversky em 1979 e que de acordo com Thaler e Benartzi (1995), refere-se ao facto de os indivíduos sentirem mais a redução dos seus níveis de bem-estar actuais do que as melhorias, ou seja, a dor associada a uma perda é maior do que o prazer associado a um ganho.

45    

Limitações do Estudo A principal limitação desta investigação prende-se com o facto do design experimental utilizado entre as três condições experimentais ter sido between-participants, ou seja, não foi utilizada a mesma amostra para estudar as derivações dos padrões de escolha apresentados pelos indivíduos, no entanto o tamanho e a diversidade da amostra utilizada garante a sua representatividade, o que permite a extrapolação dos resultados obtidos para a população geral. O facto de não ter sido utilizado dinheiro real na investigação pode constituir-se, de igual modo, como uma das limitações presentes no estudo. Ainda que estudos anteriores, como o de Holcomb e Nelson (1989) mostrem que não existem verdadeiramente diferenças entre as escolhas realizadas com consequências reais e com consequências hipotéticas, esta situação deve ser tida em conta pois os participantes poderão responder as questões de um modo mais superficial do que responderiam se estivessem perante ganhos reais. Finalmente a utilização do modelo de troca para a discussão de alguns dos resultados obtidos, uma vez que este é único modelo teórico que contempla a tomada de decisão na escolha intertemporal a partir de comparações directas entre os atributos das opções em consideração, no entanto, este modelo ainda não se encontra devidamente desenvolvido para a escolha entre três opções, o que pode contribuir parcialmente para que alguns pontos discutidos poderem ter outras explicações para além das apresentadas.

Futuras Investigações Tal como referido anteriormente, uma das limitações prende-se com o facto de o design experimental utilizado nesta investigação ser between-participants, deste modo e para um melhor domínio e consequente compreensão dos fenómenos estudados crê-se que é pertinente que uma futura investigação sobre este tema faça uso de um design withinparticipants. De modo a garantir a participação da mesma amostra para as diferentes condições experimentais e assim avaliar com mais precisão a alterações dos padrões de escolha, na medida em que seria pertinente que os mesmos indivíduos participassem em todas as condições experimentais pois seriam mais evidentes as influências que estes experienciariam. A utilização de consequências reais em investigações futuras, bem como a renumeração dos participantes poderão, ainda, contribuir para uma melhoria na recolha de 46    

resultados e consequentemente para a obtenção de dados ainda mais fiáveis, que permitam uma extrapolação mais fidedigna dos resultados.

Implicações Teóricas A principal implicação teórica deste estudo centra-se efectivamente no facto de que pela primeira vez foram estudados os fenómenos da escolha intertemporal em conjuntos de escolha constituídos por três opções, tentando de igual modo, explorar e compreender o peso dos atributos (tempo e valor monetário) na escolha dos indivíduos. Nesta investigação observou-se que a introdução de uma terceira opção influencia claramente a preferência dos indivíduos, na medida em que esta pode ser assumida como o ponto de referência a partir do qual se estabelecem comparações directas entre as opções em avaliação, o que é passível de ser explicado pelo que é o postulado pelo modelo de troca proposto por Scholten e Read (2010). Modelo este que apesar de não estar totalmente desenvolvido para escolhas triádicas é o único que contempla a ideia de que as preferências intertemporais são baseadas em comparações directas entre opções. O que aqui foi estudado permite que este possa ser um ponto de partida para investigações futuras que contemplem conjuntos mais alargados de opções e que assim contribuam para um conhecimento mais extenso e aprofundado desta temática, bem como dos processos e mecanismos cognitivos associados.

Implicações Práticas O conhecimento, por mais superficial que seja, de uma área do saber como a escolha intertemporal é certamente útil para uma maior atenção e preparação por parte das pessoas, quando confrontadas com tomadas de decisão em situações quotidianas que envolvam directamente diferimentos temporais e consequências monetárias, como é o caso dos empréstimos bancários ou das aplicações financeiras. Assim uma maior proximidade da população geral a esta temática, poderá melhorar a consciencialização e racionalização dos indivíduos que se pode traduzir, por exemplo, em comportamentos reais de poupança. Uma vez que comportamentos como o referido são neste momento em especial de grande importância pois de acordo com a actual conjectura económica são fulcrais e particularmente necessários para que se consiga alcançar uma estabilidade e a partir dai um consequente crescimento sustentado em termos financeiros quer das empresas, quer das famílias e da 47    

sociedade em geral. Em paralelo a capacidade de gerir a impaciência através de uma maior racionalização das situações recorrendo a alguns mecanismos que poderão ser desenvolvidos tendo por base os avanços e as descobertas resultantes da investigação no campo da escolha intertemporal.

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52    

                       

Anexo A: Tabela de valores utilizado no pré-teste dos estímulos para a condição experimental diádica neutra.                          

53    

Tabela 5. Valores utilizados no pré-teste dos estímulos para a condição diádica neutra.

Estímulo

Tempo (Anos)

Tempo (Anos)

Valor Monetário (SS)

Valor Monetário (LL)

1

0

½

€50

€110

2

0

½

€400

€610

3

0

½

€15

€50

4

0

½

€310

€400

5

0

2

€50

€350

6

0

2

€400

€910

7

0

2

€5

€50

8

0

2

€110

€400

 

                         

Anexo B: Questionário Escolha Diádica Neutra.                        

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Anexo C: Questionário Escolha Triádica Neutra.                        

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Anexo D: Questionário Escolha Triádica Enviesada.  

56    

 

 

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