Política Digital: os parlamentares brasileiros e as mídias sociais

June 20, 2017 | Autor: Cristiane Bernardes | Categoria: Politics, Social Media, Digital Communication, Legislative Studies
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39º. Encontro Anual da Anpocs GT04 - Ciberpolítica, Ciberativismo e Cibercultura

Política digital: os parlamentares brasileiros e as mídias sociais

Antonio Teixeira de Barros – [email protected] Doutor em Sociologia Cristiane Brum Bernardes – [email protected] Doutora em Ciência Política Malena Rehbein Rodrigues – [email protected] Doutora em Ciência Política Docentes e pesquisadores do Mestrado Profissional em Poder Legislativo do CEFOR/ Câmara dos Deputados (Complexo Avançado da Câmara dos Deputados – Prédio do CEFOR – Via N3 Projeção L Setor de Garagens Ministeriais Norte - Sala 03, Brasília-DF, 70.000-000).

Águas de Lindóia, 2015

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1 INTRODUÇÃO O uso da internet entre os atores políticos é uma realidade em ascensão na maioria dos países, especialmente entre as instituições legislativas e entre os próprios representantes políticos. Em decorrência da natureza informacional e dialógica da atividade política, a internet passou a ser um mecanismo de grande relevância, inclusive do ponto de vista da agenda parlamentar, de estratégias de conexão eleitoral, de aprimoramento da confiança e, por consequência, da própria qualidade da democracia. Neste novo cenário, o uso das ferramentas digitais multiplica-se e passa a requerer maior dinamismo da parte dos atores políticos, especialmente aqueles que atuam diretamente nas redes de interlocução política, como é o caso dos representantes eleitos no plano federal. Isso justifica o exame mais detalhado sobre as lógicas de usabilidade desses recursos pelos próprios parlamentares, atores por excelência da representação política. Afinal de contas, o parlamento é considerado um órgão especializado de mediação política entre o Estado e a sociedade, segundo Max Weber (1999). Feitas essas considerações preliminares, esclarecemos que o objetivo do artigo é analisar como os deputados federais e senadores brasileiros utilizam as ferramentas da internet para sua comunicação e ação políticas, combinando o uso de sites e especialmente as mídias sociais. Quais são as estratégias desenvolvidas por esses parlamentares no novo contexto de comunicação e interação criado pela internet e as mídias digitais? Para que eles utilizam essas estratégias e como aproveitam as possibilidades políticas criadas por esses veículos? Existem diferenças e semelhanças entre as estratégias utilizadas por deputados e senadores? A pesquisa da Medialogue1 foi realizada com os 513 deputados federais e os 81 senadores que compõem o Congresso Brasileiro, e analisou tanto os websites quanto as redes sociais dos parlamentares federais (deputados e senadores). Os dados compilados utilizados neste artigo foram coletados entre os dias 31 de agosto e 7 de outubro de 2013 e tabulados até 25 de novembro de 2013. Entre as principais conclusões, a equipe de pesquisa ressalta no relatório final a expressividade dos números relacionados a esses veículos digitais de comunicação.

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A Medialogue é uma empresa de consultoria e pesquisa, localizada em São Paulo, que disponibiliza gratuitamente os resultados do levantamento realizado em 2011 e replicado em 2013 sobre o uso das ferramentas de comunicação digitais pelos parlamentares brasileiros. Mais informações em: www.medialogue.com.br.

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O resultado é surpreendente. Alguns parlamentares já têm tantos fãs nas redes sociais quanto eleitores. Um outro dado sobre o assunto ajuda a medir o interesse dos internautas pela política: mais de 10% dos frequentadores das redes sociais acompanham um deputado federal ou um senador pelo Twitter ou Facebook. Juntos, os congressistas têm 5 milhões de seguidores no Twitter, 4 milhões de fãs no Facebook (POLÍTICO 2.0, 2014, p.4).

2 POLÍTICA E INTERNET A visibilidade é da natureza da política (THOMPSON, 1995). Por essa razão, o campo político sempre apresentou interfaces com o campo midiático. No caso da internet, o principal diferencial está na dispensa do uso de intermediários e de filtros de veículos tradicionais como o rádio, o jornal e a TV. Na esfera política parlamentar, marcada pelo debate, formulação e aprovação de políticas públicas, os efeitos das internet são crescentes. Com o avanço das tecnologias midiáticas, a política passou a ser um fenômeno de penetração difusa nas diversas esferas da sociedade, ou seja, consegue atingir o cidadão mesmo fora do âmbito político no sentido estrito, pois a mídia contribui para a inserção ampliada dos temas políticos nas relações sociais. Seu elevado potencial de sedução, calcado na lógica do poder simbólico (BOURDIEU, 1989), em muito contribui(u) para a reconfiguração dos fluxos e circuitos de informação nas sociedades metropolitanas. A esfera da visibilidade pública2 e suas consequências nas dinâmicas sociais de discutibilidade coletiva (GOMES, 2011) reforçam o poder simbólico da mediatização da política. Além disso, grande parte do conhecimento e da experiência dos públicos no que se refere a assuntos de relevância social, política, econômica e cultural passa necessariamente pelo enquadramento dos media, que se tornaram fonte primordial de informação. “Os media traduzem e formam as percepções que as pessoas não experimentam diretamente” (SCHMIDT, 2003, p.69). Trata-se da gramática da esfera da visibilidade mediática. Essa abordagem coaduna-se com um dos pessupostos de Manin (1995; 2013), ao propor o conceito de audience democracy ou democracia do público. Para o autor, com o avanço da mediatização e suas interferências nos jogos de composição política, a democracia de audiência enfraqueceu a hegemonia dos partidos, reforçando o voto

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A discussão faz parte da crítica ao conceito de esfera pública, na qual são consideradas duas dimensões analiticamente estruturantes (a visibilidade e a discutibilidade). A primeira se refere ao poder dos media de conferir publicidade a certos temas, enquanto a segunda diz respeito à troca de razões públicas, ou seja, ao debate coletivo, à discussão desencadeada pela publicidade (LYCARIÃO, 2010).

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personalista (já que abre-se a possibilidade de comunicação direta com o público), além de reduzir a importância do parlamento como órgão de mediação política e fórum de debates. Os media passam a assumir cada vez mais esse papel. E “o eleitorado se apresenta, antes de tudo, como um público que reage aos termos propostos no palco da política” (MANIN, 1997, p. 29). Em decorrência disso, as instituições legislativas e os próprios parlamentares passaram a recorrer aos mecanismos mediáticos tanto para as campanhas eleitorais como para manter o vínculo eleitoral e prestar contas aos eleitores. Os eleitores seriam expostos a opiniões conflitantes por fontes de mídia, de maneira que o debate se expressaria por meio do próprio povo. Em consequência, surge um novo protagonista no governo representativo, o eleitor flutuante, e um novo fórum, os meios de comunicação de massa (MANIN, 1997, p. 33). Castells (2000) identifica esse movimento como uma transição de uma esfera pública política até então ancorada nas instituições políticas para um novo modelo que se organiza em torno do poder simbólico dos sistemas e redes articulados pelos media. Esse movimento, segundo a análise mais recente de Bernard Manin (2013), resulta em várias consequências para a análise política e sua inserção no contexto da audience democracy. De forma sucinta, podemos resumir essas consequências em quatro fatores, a partir das observações do autor: (a) declínio do vínculo partidário autodeclarado; (b) erosão da fidelidade partidária; (c) redução da participação política vinculada a atividades partidárias em contraposição ao aumento do engajamento por vias não institucionais; (c) crescente enfraquecimento da identificação partidária e emergência dos “eleitores flutuantes”, que a cada eleição votam em um partido diferente. Na mesma linha de pensamento, Urbinati (2013a; 2013b) reitera que as redefinições e crises do sistema político partidário surgem em decorrência da consolidação da democracia do público e do plebiscito da audiência. Além dos media convencionais, a autora destaca o papel da internet nesse processo, tornando-se um “suporte sem precedentes para a democracia de audiência” (2013a, p.10), o que reforça a lógica da democracia plebiscitária: O novo plebiscitarismo é o da audience, o aglomerado indistinto de indivíduos que compõe o público, um ator não coletivo que vive no espaço privado da domesticidade e, quando é agente sondado de opinião, atua como receptor ou espectador de um espetáculo encenado por técnicos de comunicação midiática e recitado por personagens políticos” (URBINATI, 2013b, p.86). 4

Apesar disso, os dois autores citados são enfáticos ao afirmar que os partidos continuam a exercer funções relevantes nos regimes democráticos. Tal concepção é resumida da seguinte forma: Mas a erosão das fidelidades partidárias duradouras não implica a obsolescência dos partidos políticos. Como observação preliminar, devemos notar um fato bastante óbvio, mas importante. Os fiéis a um partido não estão à beira da extinção. Eles podem ser menores em número do que eram no passado, mas ainda formam uma massa significativa que deve ser levada em consideração. Além disso, um exame mais detido revela duas áreas em que os partidos não perderam força e continuam a ser atores centrais: política parlamentar e campanhas eleitorais (MANIN, 2013, p.117).

A tendência dominante em ambos os casos (política parlamentar e campanhas eleitorais) é de reforço nos instrumentos e suportes eletrônicos típicos da democracia do público. A internet, portanto, constitui uma ferramenta indispensável para a atuação dos parlamentares. A internet renovou o campo político, com um novo tipo de copresença, por meio da atuação online dos atores. Ressalta-se nesse aspecto, a capacidade de agência do usuário de internet, com sua múltipla atuação (espectador, ator e operador). No regime de visibilidade da democracia de público, a política informacional (CASTELLS, 2003) torna-se cada vez mais imperativa. Afinal, a geração, o processamento e a transmissão de informações e imagens tornaram-se as fontes fundamentais de produtividade de poder. Por isso, os agentes políticos tendem cada vez mais a recorrer a estratégias de sedução política pela internet. Os suportes digitais utilizados pelos parlamentares devem ser analisados à luz das transformações políticas mais amplas apontadas por Urbinati (2013a). Nesse contexto, pesquisadores de vários países percebem o incremento nas estratégias de comunicação e interação com a sociedade por parte dos representantes públicos nos últimos anos. Para autores como Leston-Bandeira (2012) ou Ward e Lusoli (2005), o desenvolvimento dessa relação por meio das novas mídias é uma tentativa de reação ao descrédito e à apatia política das atuais sociedades, preocupantes não só pela sua importância para as eleições, do ponto de vista parlamentar, mas ainda mais para a democracia. Ward e Lusoli destacam que os políticos veriam ainda a internet como uma ferramenta de modernização administrativa, capaz de estimular e facilitar um novo estilo político mais interativo, pessoal e individualizado (2005, p.58), ou seja, dialógico e estimulador de engajamento. 5

Em outro artigo, Ward et al. destacam que as mudanças trazidas pela internet afetam, principalmente, o relacionamento dos representantes com os eleitores e com os partidos, modificando o próprio papel político ocupado pelo parlamentar (WARD et al., 2007). A tendência é que os parlamentares utilizem a internet como forma de suprir lacunas de accountability e de, com isso, favorecer maiores vínculos para conexão eleitoral. Uma forma diferente da accountability formal (prestação de contas e responsabilização) por parte de instituições e políticos, realizada de forma integrada, interativa e participativa, adaptada ao atual ambiente da cibercomunicação. A accountability é uma das funções estratégicas da comunicação interativa (KARLSSON, 2013), ao lado da prospecção das opiniões dos eleitores (inquiry) e do contato político com os cidadãos (connectivity). Isso significa que as mídias digitais, incluindo as redes sociais online, podem ser usadas para prover informações políticas; para sondar e auscultar as tendências de opinião do eleitorado; e para manter contato e fortalecer o vínculo eleitoral entre representantes e representados. A partir do estudo dos blogs de políticos suecos, Karlsson afirma que a primeira função é a predominante quando se trata do campo parlamentar, ao mesmo tempo em que Castells (2003) já havia diagnosticado que o uso das ferramentas digitais se dá predominantemente como meio informativo, na forma de mural eletrônico. Em suma, os atores políticos usam a internet segundo a lógica de informação segmentada (WOLTON, 2006) e de mídias táticas, ou seja, como um meio alternativo aos veículos convencionais, capaz de produzir agendamentos e enquadramentos diferenciados (JURIS, 2005). Stanley e Weare (2004) citam vários estudos que mostram que o uso predominante das TICs na primeira década do século XXI foi feito por indivíduos e organizações que já participavam do processo político antes da internet. Isto é, a tão propalada diversidade de vozes não se confirmou nos veículos digitais, assim como é uma realidade ainda distante da mídia convencional, pelo menos no Brasil3. Entretanto, como afiança a própria pesquisa de Stanley e Weare, a internet pode, em certos contextos, expandir o alcance de vozes no processo e mobilizar alguns indivíduos inativos politicamente a participarem (2004, p.505). Gomes também enfatiza as críticas apresentadas por muitos estudos ao uso que ainda é feito da internet. Desqualificação da informação política, com falta de seleção, 3

Estudos recentes comprovaram que a mídia brasileira, seja comercial ou de caráter estatal, não promove a diversidade de fontes na cobertura política. Para mais detalhes, ver Rodrigues, 2011; Bernardes, 2011.

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relevância efetiva e confiabilidade é um ponto importante para aquilo que circula na rede, muitas vezes anonimamente (2005, p.70). A desigualdade de acesso e a questão da inclusão digital são pontos essenciais na discussão corrente no Brasil, mas não restritos aos países em desenvolvimento. O predomínio da participação de atores que já acumularam capital político em processos tradicionais de participação é outro aspecto a ser considerado (STANLEY E WEARE, 2004, p.505). Pipa Norris, por exemplo, observa no início do século XXI as dificuldades de expansão do potencial democratizante da internet, ao concluir que o veículo digital reforçava os padrões de participação dos atores políticos já consolidados, sem necessariamente ampliar a participação de novos grupos (NORRIS, 2001, p.236). Apesar de seu uso ainda ser preferencialmente com fins de visibilidade, a internet também é uma ferramenta de (re)construção e de manutenção de vínculos políticos, pois permite o desenvolvimento do capital social4 e das redes de compartilhamento político e cultural nas sociedades contemporâneas. Por isso, como afirma Gomes (2005), ela coopera para a representação de vozes minoritárias (e, logo, para reflexos na representatividade no Parlamento); o fortalecimento da capacidade concorrencial da cidadania, com o aumento da transparência do Estado e formas de responsabilização de agentes políticos e maior participação e influência civis; a consolidação da sociedade de direitos, ou uma comunidade política organizada como Estado de Direito; ampliação da diversidade de agentes, agências e agendas na esfera pública, com obtenção do pluralismo político (GOMES, 2011, p.29-30). Mesmo com as limitações no seu uso, os benefícios das novas tecnologias de informação e comunicação (TICs) para os agentes políticos são inegáveis, conforme estudos de Leston-Bandeira (2007), Braga (2008) e Faria (2012), entre outros. A internet traz novas ferramentas de comunicação multilateral, novos meios de disseminação de informações e oportunidade de incremento na gestão das informações (LESTONBANDEIRA, 2007, p.657). Além disso, as ferramentas digitais podem auxiliar e permitir a participação qualificada da esfera civil no processo de discussão e elaboração das leis (FARIA, 2012). Margetts et al. (2012) destacam também as vantagens dos meios digitais para mobilização política e compartilhamento de informações.

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Entendemos aqui capital social, segundo o conceito de Putnam (2000), como a realização de atividades deliberativas e de colaboração coletiva de forma horizontal, como associações e cooperativas, que geram confiança interpessoal.

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O que as análises mostram é que a utilização da internet transformou os regimes de ação política de vários atores, como já havia sido identificado em relação aos meios de comunicação massivos no século XX. Entretanto, como ressalvam Stanley e Weare (2004), a tecnologia, por si só, não é capaz de alterar completamente o panorama das lutas concorrenciais pelo poder entre os atores políticos. Para isso, é preciso que as práticas e a própria cultura política se modifiquem, a partir das facilidades geradas pela internet. Neste contexto, como a internet tem sido usada por parlamentares no Brasil, especialmente deputados e senadores? A intenção é perceber como são utilizados os recursos de comunicação digital disponíveis aos parlamentares, a fim de avaliar empiricamente as estratégias de usabilidade desses dispositivos.

3 ANÁLISE DOS DADOS A pesquisa da Medialogue foi realizada com os 513 deputados federais e os 81 senadores que compõem o Congresso Brasileiro, e analisou tanto sites quanto redes sociais, mostrando o desempenho e a potencial influência de parlamentares (tanto deputados, quanto senadores) por meio de dispositivos digitais, como sites, uso de recursos multimídia e uso de redes sociais. A pesquisa foi realizada entre os dias 31 de agosto e 7 de outubro de 2013 e os dados tabulados até o dia 25 de novembro de 2013. Foram identificados e classificados mais de 70.000 dados. Segundo informações constantes no site da Medialogue, os dados de partidos políticos foram atualizados no dia 7 de outubro, primeiro dia útil depois da última data (5 de outubro) para a troca de partidos antes da eleição de 20145.

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Segundo informações constantes no relatório final da Medialogue: “A pesquisa Medialogue Político 2.0 atribuiu notas de um a 7. O máximo possível é de 10 pontos. A pontuação é obtida a partir da combinação de vários fatores que levam em conta o tamanho e a audiência das redes sociais de cada parlamentar, os canais digitais usados por cada um, o tipo de interação com os eleitores e a transparência na divulgação de informações de interesse público. (...) O ponto de partida da pesquisa foram os sites oficiais dos deputados e seus blogs. Também foram analisadas informações nos seguintes canais sociais: Facebook (perfil e fan page), Flickr, Twitter, Youtube e na Wikipédia, que não é uma rede social, mas foi considerada um canal social para efeito desta pesquisa por ser o resultado de informações de um trabalho coletivo e aberto para a participação na internet. A pesquisa usou ferramentas para analisar as informações e produzir rankings. Entre as principais: Google Page Rank e TwitterCounter. A pesquisa também adotou a seguinte diferenciação entre site e blog: considerou-se site um canal de informações institucionais do parlamentar, podendo ou não ter recursos de vídeo, foto entre outros; considerou-se blog um canal informativo atualizado constantemente”. Disponível em: http://www.medialogue.com.br/metodologia/ .

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Para esta análise, foram selecionados os parlamentares mais influentes6 ou o que combinam um maior grau de uso das ferramentas7, totalizando 81 parlamentares do Congresso (54 deputados federais e 27 senadores) que alcançaram as notas 6 e 7 a partir dos critérios de avaliação, que incluíram os índices de resposta a e-mail, o nível de transparência, interatividade e a média de seguidores no Twitter e Facebook. Como visto, os deputados influentes correspondem a somente 10,53%8 do total da Câmara dos Deputados, enquanto os senadores totalizam um terço da Câmara Alta. Juntos, os parlamentares mais influentes têm 59% dos seguidores no Twitter e 44% dos fãs no Facebook entre os 594 congressistas. (...) Podemos dizer que são a elite digital do Congresso. Na outra ponta, 80 parlamentares, 9% do Congresso receberam a nota mais baixa. A distância que separa a média dos parlamentares dos mais influentes é relativamente grande. Entre os mais influentes, 83% mantêm seus blogs atualizados, contra 53% da média. Os influentes têm em média quatro vezes mais fãs no Facebook e três vezes mais seguidores no Twitter. Também são mais cuidadosos com mensagens enviadas por eleitores: mais da metade responde a e-mails, contra apenas 20% na média dos parlamentares. Além disso, são mais transparentes, pois 84% usam seus canais digitais para divulgar informações sobre seu mandato, contra 57% na média (POLÍTICO 2.0, 2014, p. 5).

Interessante ainda destacar, considerando o grupo de parlamentares mais influentes, que as mulheres são um pouco mais influentes (17% contra 13%) que os homens. Embora os homens sejam um pouco mais interativos (16% contra 11%). A idade predominante é de até 40 anos (18%), mas percebe-se que entre 41 e 59 anos o percentual é quase igual (15%), ou seja, a imagem de que apenas os mais jovens têm apreço pelo uso da tecnologia parece estar mudando. Quanto à posição política em 6

Mais influentes não são aqueles que possuem mais seguidores no Twitter ou fãs no Facebook, mas sim aqueles que receberam as maiores notas no uso que fazem dos recursos digitais a partir do alcance dos critérios de presença, influência, interatividade, multimídia e audiência. Para essa definição, a equipe da Medialogue selecionou cinco blocos de informações coletadas no estudo sobre os parlamentares em seus sites, blogs e redes sociais. Cada bloco classificou três informações com pontuação de zero a dez. As médias de pontos de cada bloco foram somadas e divididas por cinco, resultando na pontuação final do deputado. Considerou-se influente o parlamentar que: está presente na internet; sua presença, seja em sites, blogs ou nas redes sociais tem audiência; suas informações são republicadas em outros endereços; usa recursos básicos de multimídia; incentiva e publica opinião de seus visitantes; e responde quando é acionado na internet pelos eleitores. O critério da pesquisa é que os parlamentares considerados Influentes tenham a nota final maior que 6; os parlamentares com nota final entre 3 e 5 foram considerados Presentes na internet; e os com nota abaixo de 2, considerados Ausentes. Para mais detalhes, ver http://www.medialogue.com.br/metodologia/ . 7 A pesquisa, que está disponível em http://www.medialogue.com.br/wpcontent/uploads/downloads/2014/03/P20_conclusoes.pdf. 8 Para detalhes sobre a pesquisa, consultar http://www.medialogue.com.br/wpcontent/uploads/downloads/2014/03/P20_conclusoes.pdf, sendo necessário inscrever-se para ter acesso aos dados completos.

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relação ao governo, a oposição aparece com um pouco mais de influência (17%) em relação à situação (12%), talvez pela necessidade de se aproveitar mais de mecanismos de penetração na sociedade do que o governo, que conta a máquina pública de certa forma a seu favor. Mas os grupos são semelhantes quanto ao grau de interatividade (15% para a oposição e 16% para o governo).

Quadro 1 – Perfil dos parlamentares mais influentes na Web Fatores Gênero Idade

Votação Legislatura Deputado x senador Governo x oposição Estados

Desdobramentos Masculino Feminino Até 40 anos Entre 41 e 60 anos Mais de 61 anos Mais votados Menos votados Primeiro mandato Veteranos Senadores Deputados Governistas Oposição São Paulo Minas Gerais Rio de Janeiro Bahia Paraná Ceará Rio Grande do Sul Outros estados

% 90% 10% 12% 62% 26% 15% 11% 53% 47% 67% 33% 67% 33% 16% 12% 10% 7% 7% 6% 6% 49%

N = 81 parlamentares (54 deputados e 27 senadores) Fonte: Medialogue, 2014.

Especificamente para este artigo, os dados cedidos pela Medialogue serão analisados à luz dos principais prismas apontados teoricamente: visibilidade, audibilidade e discutibilidade (entendida como interação e diálogo/debate); accountability e capital social, aspectos ligados ao funcionamento da democracia de públicos, tal como descrita no item anterior. Desta forma, a análise será dividida em dois grandes itens: 1Estratégias de visibilidade e accountability; e 2 estratégias de interação e debate. O primeiro tipo de estratégia será detalhado a partir de sua presença nos websites, uma vez que não há informações na pesquisa sobre o uso informativo das redes sociais, o que demandaria uma análise de conteúdo das postagens de cada um dos atores políticos. Já as estratégias de interação e debate foram analisada tanto nos websites, quanto especificamente nas redes sociais, onde se espera que sejam predominantes.

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Em relação à distribuição partidária dos deputados mais influentes, os quadros 2 e 3 mostram a nota média de cada uma das bancadas, com mais de cinco parlamentares, mais influentes na Web, tanto na Câmara dos Deputados, quanto no Senado

Quadro 2 – Nota média de influência das bancadas partidárias na Câmara dos Deputados Partido PCdoB PT PSDB PV PSC PRB PSB PPS SDD PMDB DEM PP PROS PSD PR PDT PTB Nota média

4,9

4,1

4

3,9 3,8 3,7 3,7 3,4 3,2

3

2,9 2,9 2,9

2,8 2,7 2,4 2,2

Fonte: Elaboração dos autores, com dados da Medialogue, 2014.

Quadro 3 - Nota média de influência das bancadas partidárias no Senado Partido

PT PP PSDB PDT PTB PMDB PR

Nota média 5,3 5,2

5,1

5

4,7

4,3

4,2

Fonte: Elaboração dos autores, com dados da Medialogue, 2014.

É interessante perceber que não há muita coerência no uso das novas tecnologias de comunicação e informação a partir do espectro político partidário, ainda que o PT seja o partido com maior nota média, tanto na Câmara quanto no Senado. Partidos tradicionais como PTB e PMDB, este último com bancadas numerosas nas duas Casas, não estão entre os primeiros nesse item. Ao mesmo tempo, PT e PCdoB, tradicionalmente alinhados à esquerda (ou centro-esquerda) do espectro, aparecem com destaque, assim como o PSDB, que tem uma trajetória historicamente relacionada ao centro-esquerda (ainda que alguns analistas o posicionem mais à direita, nos últimos anos). A dissonância, nesse ponto, fica por conta do PP no Senado, tradicionalmente identificado como um partido conservador, com quadros oriundos da Arena, o partido de apoio do Regime Militar. Contudo, uma hipótese para essa proeminência pode ser o fato de que três senadores9 da agremiação têm um desempenho muito acima da média de seus companheiros de partido. As diferenças partidárias entre deputados e senadores podem indicar ainda que fatores individuais e conectados à dinâmica política também encontram espaço nas lógicas de usabilidade das ferramentas digitais de comunicação. Como ressaltam Williamson (2009) e Lilleker e Jackson (2009), as pressões organizacionais, o engajamento dos parlamentares em causas, a necessidade de ampliar os instrumentos de 9

Ana Amélia Lemos (RS), Benedito de Lira (AL) e Ciro Nogueira (PI).

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campanha, a necessidade da presença em um ambiente cada vez mais popular, a oferta de serviços aos eleitores e a vontade de mostrar um lado mais “humano” aos cidadãos podem servir como estímulo para o uso das redes sociais digitais pelos parlamentares. Afinal, a força da internet está em seu potencial de individualização do uso, como é típico das formas simbólicas da modernidade reflexiva (BAUMAN, 2000). Ressalta-se nesse aspecto, a capacidade de agência do usuário de internet, com sua múltipla atuação, como espectador, ator e operador. No Brasil, o estudo de Marques et al. (2014) mostra que, além dos fatores individuais, também interferem no uso do Twitter alguns indicadores do sistema político, tais como partido, volume de financiamento, votação obtida bruta e ponderada, perfil do eleitorado, tempo de Câmara. 3.1 Estratégias de visibilidade e accountability Entre as principais estratégias de visibilidade está a publicação de notícias nos websites. Diferente da propaganda, técnica mais óbvia de divulgação do mandato, a notícia pode ter mais eficácia na visibilidade, visto que incorpora a credibilidade das técnicas jornalísticas. Por isso, também não deixa de ser uma forma de prestação de contas, ou accountability, já que informa sobre o mandato parlamentar para possível fiscalização do eleitor (ainda que sem o viés negativo, obviamente deixado de lado já que os personagens das notícias são, em geral, os donos dos sites). A divulgação de produção legislativa, por sua vez, constitui-se em claro instrumento de accountability, mas também se insere nas estratégias de visibilidade, já que pretende divulgar o mandato. As duas estratégias, de veiculação de notícias e divulgação da produção legislativa, têm peso similar nos sites parlamentares, com mais de 55% dos parlamentares fazendo uso delas. No entanto, quando analisados separadamente, percebe-se que os senadores investem proporcionalmente bem mais nas duas estratégias do que os deputados, com mais de 80% deles utilizando-as em seus websites, como mostram os quadros 4 e 5.

Quadro 4 – Veiculação de notícias nos websites parlamentares

Pelo menos uma notícia por semana

Média Dep + Sen

Dep

Sen

56,9%

52,8%

82,7%

12

Fonte: Elaboração dos autores, com dados da Medialogue, 2014.

Quadro 5 – Divulgação de produção legislativa nos websites parlamentares Média Dep + Sen

Dep

Sen

57,7%

53,8%

82,7%

Divulgam sua produção legislativa

Fonte: Elaboração dos autores, com dados da Medialogue, 2014.

Os dados estão de acordo com os diagnósticos de Castells (2003) e Karlsson (2013) acerca da primazia do caráter informativo que os parlamentares imprimem às ferramentas digitais, especialmente nos websites, veículos tradicionalmente usados para disseminação de informações. Por essa razão, predominam as estratégias de accountability e de visibilidade. 3.1.1 Divulgação do mandato Apresentamos abaixo um ranqueamento dos partidos cujos parlamentares mais publicam notícias relacionadas ao mandato em seus websites. O cálculo leva em conta a média de notícias publicadas pelo deputado ou senador no mês anterior à realização da pesquisa, entre as bancadas com mais de cinco parlamentares. Avaliando-se o ranking de veiculação de notícias por partidos, verifica-se, no caso da Câmara dos Deputados, que o partido que menos publica é o PTB. PT e PSDB, entre as maiores bancadas, também estão entre os que menos publicam. O mesmo vale para o Senado, com exceção do PP e PR, que lá nada publicam, diferentemente de suas bancadas na Câmara (Quadros 6 e 7). Cabe questionar se esse diagnóstico poderia ser generalizado ou se o levantamento revela apenas retratos circunstancias.

Quadro 6 – Deputados – % de divulgação de notícias nos websites, por partido Partido Public a-% Não public a

PCdo P PSD PS P PD P PS B T B B P T R D

DE PS P PMD SD PR PP PRO PT M C V B D B S S B

100 76

70 64 58

53 50

49

44 40 40

39

35

33 22

21

18

0 24

30 36 42

47 50

51

56 60 60

61

65

67 78

79

82

Fonte: Elaboração dos autores, com dados da Medialogue, 2014.

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Quadro 7 – Senadores – % de divulgação de notícias nos websites, por partido Partido PP PR PT PSDB PDT PMDB PTB Publica - % 100 100 92 82 80 80 50 Não publica 0 0 8 18 20 20 50 Fonte: Elaboração dos autores, com dados da Medialogue, 2014.

3.1.2 Tipo de material divulgado e transparência Na esfera da visibilidade, algumas áreas são priorizadas nos websites dos parlamentares. No Gráfico 1, observamos claramente que eles dão mais visibilidade à sua produção legislativa bruta e às notícias ligadas à sua atuação legislativa de forma geral, já que quase 60% dos websites publicam esse tipo de material informativo. Paralelamente, somente 5% e 3%, respectivamente, informam seus gastos de gabinete ou sua agenda de compromissos no site. Percebe-se que a transparência de gastos, algo bastante aberto a polêmicas, não é priorizada, provavelmente para evitar problemas de questionamento dessas despesas. Uma estratégia de accountability e visibilidade visa buscar confiança e aumentar as chances de conexão eleitoral. A informação sobre os gastos parlamentares, portanto, constitui uma das marcas nos processos de transparência e seria um passo nesta direção. Ao mesmo tempo, contudo, o conhecimento dos cidadãos sobre as despesas do parlamentar pode prejudicar sua imagem pública caso haja problemas em relação ao tema. Ainda, a não publicação dessas informações pode simplesmente ser uma tentativa de evitar polêmicas. Gráfico 1

Fonte: Medialogue, 2014.

Cabe ressaltar ainda que os dois primeiros itens do gráfico se complementam e se reforçam mutuamente. Projetos, discursos e iniciativas legislativas geram notícias e, assim, aumentam a visibilidade positiva do mandato. A informação sobre os gastos, ao 14

contrário, apresenta grande potencial para a visibilidade negativa, apesar de ser em um modo tradicional e essencial de accountability em todos os regimes democráticos. 3.1.3 As bancadas mais transparentes Em relação ao tema da transparência, os quadros 8, 9 e 10 apresentam uma síntese dos dados relativos à divulgação de gastos no site, um relevante indicativo de accountability. Ao serem detalhados os dados relativos à transparência por casa legislativa, observamos que os dados do Quadro 9 mostram que a média de divulgação dos parlamentares é de 5,1%. Porém, separando-se as Casas Legislativas, percebemos que os senadores, ainda que também divulguem pouco, o fazem em número duas vezes maior em relação aos deputados.

Quadro 8 – % de divulgação de gastos nos websites % Informa gastos em site

Média dep + sen

dep

sen

5,1

4,3

9,9

Fonte: Elaboração dos autores, com dados da Medialogue, 2014.

Ao analisarmos os dados por partido (Quadros 9 e 10), temos que, no caso dos deputados, somente as bancadas do PV (10%), PPS (11%) e PDT (16%) apresentam um percentual maior ou igual a 10% dos websites parlamentares divulgando essas informações. Por sua vez, os parlamentares do PCdoB, do PP, do SDD, do PTB e do PRN nada divulgam sobre isso em seus sites. No restante das legendas, a variação fica entre 3% e 9% dos deputados interessados em publicizar esses dados. No caso dos senadores, o PDT (40%) também é o partido com maior índice de divulgação.. O PR divulga bem mais no Senado (20%) do que na Câmara (3%). O restante das legendas não difere grandemente das bancadas na Câmara. Quadro 9 – Deputados - % de divulgação dos gastos de gabinete nos websites dos parlamentares, nas bancadas com mais de cinco parlamentares) PDT PPS PV PMDB PSB PSDB DEM PROS PSC PT PSD PR PCdoB PP PRB PTB SDD Partido Divulga gastos 16 11 10 9 9 9 8 7 7 6 5 3 0 0 0 0 0 Não divulga 84 89 90 91 91 91 92 93 93 94 95 97 100 100 100 100 100 Fonte: Elaboração dos autores, com dados da Medialogue, 2014.

15

Quadro 10 – Senadores - % de divulgação dos gastos de gabinete nos websites dos parlamentares, nas bancadas com mais de cinco parlamentares: Partido Divulga gastos Não divulga

PDT PR PMDB PSDB PP PT PTB 40 20 10 9 0 0 0 60 80 90 91 100 100 100

Fonte: Elaboração dos autores, com dados da Medialogue, 2014.

3.1.4 Uso de recursos multimídia e visibilidade O uso de recursos multimídia pode ser uma forma de avaliar o investimento em visibilidade em um determinado site, já que essas ferramentas podem facilitar ou tornar a navegação mais didática e amigável e aumentar o potencial de visualização do material fornecido. Sendo assim, vê-se que há razoável investimento dos parlamentares nesta área, já que 61% investem em vídeos e 53% deles em fotos, recursos visuais importantes (Gráfico 2). Entretanto, somente 36% oferecem recursos de áudio, já que este tipo de material tende a ser mais usado por profissionais que precisem de informações brutas (como jornalistas e radialistas). Ou seja, os recursos multimídia mais usados visam mais os cidadãos de forma geral, ainda que também possam ser utilizados por profissionais da informação.

Gráfico 2 – Uso de recursos de multimídia

Fonte: Medialogue, 2014.

O uso de vídeos e fotos reforça a lógica de personalização, típica do regime de visibilidade política da democracia de públicos (MANIN, 1997; 2013), que centraliza na imagem a força discursiva das personagens do jogo político. A personalização é associada aos padrões comuns estabelecidos pela própria internet, uma vez que são os indivíduos os principais usuários das novas tecnologias de comunicação e informação. O 16

uso comum de certos padrões e formatos, entre eles a individualização e a personalização do discurso político, reitera a importância social da web na atualidade, mostrando ainda como ela impõe suas lógicas de produção e usabilidade aos produtores de conteúdos virtuais, incluindo os agentes políticos (CASTELLS, 2003). 3.2 Estratégias de interação e debate Primeiramente,

observamos

as

principais

estratégias

de

interação

dos

parlamentares em seus websites, considerando a interação com um primeiro passo de contato. Nesse sentido, qualquer instrumento que possibilite o acesso do cidadão ao personagem político do site é uma ferramenta de interação. O nível mais básico de interação, portanto, é o e-mail. De acordo com o Quadro 11, vemos que menos da metade dos parlamentares divulga seu e-mail diretamente no site (o restante ou não divulga ou pede o preenchimento de formulário para enviar questões). Quando consideramos só os senadores, o percentual sobe para 58%. Quando observamos a taxa de resposta, no Quadro 12, vemos que o grau de importância do instrumento é ainda menor, já que cerca de 80% das mensagens eletrônicas enviadas aos parlamentares simplesmente fica sem resposta, considerando-se as cinco maiores bancadas do Congresso Nacional10.

Quadro 11 – % de divulgação de e-mail nos websites parlamentares % Divulga e-mail

Média Dep + Sen

Dep

Sen

43,6

41,33

58

Fonte: Elaboração dos autores, com dados da Medialogue, 2014.

Quadro 12 – % de de não resposta aos e-mails

Sem resposta

Média Dep + Sen

Dep

Sen

80,3

81,29

74,1

Fonte: Elaboração dos autores, com dados da Medialogue, 2014.

Se observarmos o grau de resposta de e-mails por partido (Quadros 13 e 14), no caso da Câmara dos Deputados, vemos que o partido que mais responde é o PV (40%),

10

Para a verificação desse índice de resposta, a equipe da Medialogue enviou mensagens eletrônicas a todos os parlamentares. Para mais informações, ver: http://www.medialogue.com.br/metodologia/.

17

mesmo assim com alto grau de não resposta (60%). PPS, PSB e PCdoB têm taxa um pouco mais alta de não resposta, mas ainda na faixa dos 60%. Todos os demais têm taxa de não resposta acima de 70%. Os maiores partidos, PT e PSDB, têm mais de 80% de taxa de não resposta entre seus deputados. Partidos recentes, como PSD e SDD, respondem ainda menos (88% e 94%, de taxa de não resposta). O PTB não respondeu a nenhum e-mail durante a realização da pesquisa. No caso do Senado, o partido que não responde aos e-mails é o PR, que tem taxa de não resposta de 83% na Câmara. Interessante notar que PT e PSDB, dois dos principais partidos, têm taxas bem menores no Senado, 58% e 45%, contra 85% e 80%, respectivamente, na Câmara. Em ambas as casas, não há observação de comportamento diferenciado por ideologia partidária. De maneira geral, quando perguntados de forma aleatória, os assessores de gabinete respondem que não há tempo para responder de forma individual aos e-mails, deixando clara, portanto, que essa não é uma prioridade do parlamentar. Não se pode aferir, entretanto, que seja uma deliberada opção por não interação, mas talvez uma avaliação de custo-benefício em suas estratégias de atuação. Como lembra Karlsson, analisando os blogs políticos na Suécia, o uso das ferramentas é feito de acordo com as estratégias de interação escolhidas pelo político. Assim como o uso de blogs pode ser mais ou menos informativo, os parlamentares brasileiros podem calcular o risco de não responder individualmente aos e-mails dos eleitores. Além disso, o problema do tempo e dos recursos humanos que precisam ser despendidos para a comunicação via e-mail é constante para políticos do mundo todo, como comprovam estudos realizados anteriormente nos Estados Unidos (GOLDSCHMIT, 2001) ou no Reino Unido, mais recentemente (WILLIAMSON, 2009). Nos últimos anos, contudo, pesquisas apontam que os e-mails estão sendo substituídos pela comunicação via redes sociais digitais, que permitem a comunicação em tempo real e, ao mesmo tempo em que realizam a comunicação individualizada, servem como um espaço para o debate coletivo, uma vez que as respostas podem ser públicas (de um para muitos) ou privadas (de um para outro). O levantamento do World E-Parliament Report, por exemplo, mostra que 41% dos parlamentares, no mundo todo, respondem aos e-mails dos cidadãos, enquanto 37% respondem apenas a algumas mensagens dos eleitores (2012, p.27). Na época do levantamento, em 2012, 29% dos

18

parlamentares já usavam o Twitter e 33% planejavam usá-lo (WORLD EPARLIAMENT REPORT, 2012, p.30)11.

Quadro 13 - % de Deputados que não respondem e-mails, por partido Partido

P PP PS PCdo P V S B B P

Respondera 40 33 32 m Não 60 67 68 responderam

DE M

PS PSD PMD P PD P PRO PS PR SD PT C B B R T T S D B D B

31 26

24 20

20

18 17 16 15

14 12

8

69 74

76 80

80

82 83 84 85

86 88 92

6

0

94 100

Fonte: Elaboração dos autores, com dados da Medialogue, 2014.

Quadro 14 – % de Senadores que não respondem e-mails, por partido Partido PSDB PT PDT PMDB PP PTB PR Responderam 20 20 17 0 55 42 40 Não responderam 45 58 60 80 80 83 100 Fonte: Elaboração dos autores, com dados da Medialogue, 2014.

3.2.1 Panorama geral de interação Considerando o e-mail como instrumento de primeiro nível de interação, partimos agora para as demais instâncias que possibilitam uma interação, tanto de forma dialógica, quanto não dialógica. Neste caso, não são diferenciadas as casas legislativas. Vê-se que a grande maioria usa o site para cadastrar o eleitor, ou seja, para ter um banco de dados de cidadãos que podem ser acessados para definir possíveis formas de comunicação dirigida, tais como o envio de newsletters, por exemplo. A coleta dos dados pelos parlamentares, nesse caso, insere-se na estratégia de inquiry, analisada por Karlsson (2013), ou seja, um mecanismo estratégico para os agentes políticos conseguirem informações sobre os cidadãos e, assim, definirem outras formas de uso da internet e dos demais veículos de mídia, seja para accountability direcionada, seja para campanhas ou contato com vistas ao fortalecimento do vínculo eleitoral.

Gráfico 3 – Uso das ferramentais digitais para interação

11

Em estudo conduzido entre fevereiro de 2012 e fevereiro de 2013, Marques et al. (2014) analisaram os 457 perfis de deputados federais brasileiros que utilizavam o Twitter. O número de seguidores desses perfis totalizava 3.175.782 usuários e, no período, os parlamentares twittaram mais de 1,6 milhão de vezes.

19

Fonte: Medialogue, 2014.

O gráfico acima revela uma variedade de lógicas de usabilidade das ferramentas dos websites pelos parlamentares, como interação pelo Twitter (76%), divulgação do mandato em blogs (60%), estímulo ao contato por e-mail (44%), respostas a perguntas feitas pelos cidadãos via Twitter (37%), respostas a e-mails (20%), publicação de comentários dos eleitores no website (16%) e uso de enquetes (12%). Observa-se uma preferência pela interação via Twitter, em consonância com pesquisa de Marques et al. (2014). O mapa das estratégias de usabilidade das ferramentas digitais pelos parlamentares brasileiros se enquadra ainda na perspectiva adotada pelo estudo de Karlsson (2013), no que se refere às três funções estratégias predominantes identificadas pelo autor: accountability, inquiry e connectivity. As estratégias de interação e debate aquelas que propiciam não só o contato, mas a possibilidade de diálogo entre as partes, são utilizadas em menor escala do que os instrumentos de divulgação e visibilidade, como mostram os dados. Algumas ferramentas de interação podem ser os depoimentos nos sites, os murais opinativos ou mesmo um fórum para discussão. Pouco menos da metade dos parlamentares (Quadro 15) oferece algum desses dispositivos em seus websites. Quando analisados separadamente, os senadores o fazem em percentual um pouco maior (58%), como mostram os Quadros 15 e 16. 20

Embora a interação e debate ainda não seja uma estratégia muito utilizada, acaba revelando-se maior do que a transparência, conforme vimos no item anterior. No caso das enquetes (Quadro 16), outro item considerado dentro das possibilidades de interação com os eleitores, a situação não varia muito. Quadro 15 – Oferta de espaço para os visitantes registrarem opinião %

Média Dep + Sen

Dep

Sen

43,6

41,33

58

Depoimento, fórum ou mural

Fonte: Elaboração dos autores, com dados da Medialogue, 2014.

Quadro 16 – Uso de enquetes pelos websites dos parlamentares

% Enquetes

Média Dep + Sen

dep

sen

43,6

41,33

58

Fonte: Elaboração dos autores, com dados da Medialogue, 2014.

No caso dos partidos, na Câmara (Quadro 17), as bancadas que mais oferecem os recursos de depoimento como fórum ou mural são o PCdoB (85%) e o PSDB (70%). O restante tem índices abaixo de 60%, sendo que as bancadas que menos oferecem são PROS (29%) e DEM (36%). No caso do Senado (Quadro 15), a bancada que mais oferece é o PMDB (75%), a mais numerosa, seguida pela do PDT (60%). O PSDB, que é uma das bancadas que mais apresenta recursos de interação na Câmara, não repete sua estratégia com a mesma intensidade no Senado (55%). Já o PCdoB não aparece nos dados do Senado porque apresenta menos de cinco parlamentares naquela Casa legislativa. Quadro 17 – Deputados - % de oferta de espaço para os visitantes registrarem opinião, nas bancadas com mais de cinco parlamentares: Partido

DEM PCdoB PDT PMDB PP PPS PR PRB PROS PSB PSC PSD PSDB PT PTB PV SDD

Publica opinião - %

Não publica -%

36

85

42

42 42

33 42

33

29

50

40

46

70 56

47 50

59

64

15

58

58 58

67 58

67

71

50

60

54

30 44

53 50

41

Fonte: Elaboração dos autores, com dados da Medialogue, 2014. Quadro 15 – Senadores - % de oferta de espaço para seus visitantes registrarem opinião, nas bancadas com mais de cinco parlamentares: Partido Publica opinião - %

PDT PMDB 60

75

PP

PR 0

PSDB 0

PT 55

PTB 50

33

21

Não publica - %

40

25

100

100

45

50

67

Fonte: Elaboração dos autores, com dados da Medialogue, 2014.

Depoimentos e enquetes funcionam como provas da presença e da participação cidadã nos websites, ou seja, um espaço testemunhal para as falas cidadãs (BLANCHARD, 2006). Em alguns casos, as opiniões divergentes são ressaltadas estrategicamente, a fim de acentuar politicamente a defesa da liberdade de expressão e da diversidade de pensamento. Quanto às enquetes, predominam as perspectivas plebiscitárias ou questões que reforçam os discursos defendidos pelos próprios parlamentares e seus partidos (RODRIGUES, BERNARDES, BARROS, 2014).

3.2.2 Redes sociais digitais O uso de redes sociais digitais é o espaço em que potencialmente são aplicadas com maior intensidade as estratégias de interação e diálogo, com vistas ao aproveitamento do potencial de discutibilidade, audibilidade e capital social. Portanto, seu uso tende a revelar como os parlamentares atuam em meios em que o diálogo é a principal característica, já que pode viabilizar a formação de capital social a ser transformado em capital político. Como cada uma das novas redes têm características e às vezes públicos diferentes, quanto mais variada a participação do parlamentar nelas, maior se revela a sua tentativa de alcançar público por essa via relacional. Obviamente, as redes sociais também podem ser usadas primordialmente com fins de visibilidade e disseminação de informações. É comum, por exemplo, que conteúdos informativos de grandes veículos de comunicação privados sejam compartilhados por usuários. Da mesma forma, parlamentares também compartilham com os usuários que interagem com eles discursos, íntegras de projetos e outras atividades legislativas, com vídeos e áudios. Para uma análise mais detalhada dessas estratégias nas mídias sociais, seria necessária a realização de uma análise de conteúdo dos posts e mensagens, o que não é possível a partir dos dados coletados para esta pesquisa. Por esse motivo, a utilização das redes sociais foi enquadrada dentro das estratégias de interação e debate, uma vez que a tônica desses veículos é abrir a possibilidade tecnológica de comentários, respostas e, especialmente, o apoiamento público às opiniões e atuação dos parlamentares por aqueles que os seguem nas redes.

22

Observa-se a partir do Quadro 19 que menos de 2% dos parlamentares têm de 7 a 10 redes. Entre os parlamentares que têm de 7 a 10 redes, só um é senador (Jader Barbalho, PMDB-PA, com 8). Apenas um parlamentar, o deputado Alessandro Molon (PT-RJ), possui participação em 10 redes diferentes. A maioria (cerca de 50%, sendo que os senadores chegam a quase 60%) tem entre 3 e 6 redes de que participa, o que não é pouco. No Gráfico 4, observamos que a rede mais usada é o Twitter (83%), seguido pelo Facebook (63%) e Youtube (53%). Na época do levantamento, alguns parlamentares ainda possuíam perfis no Orkut, atualmente extinto. Entretanto, o uso quantitativo da rede não nos permite afirmar como os parlamentares a utilizam em termos de conteúdo, como mencionamos acima.

Quadro 19 - % de uso de redes sociais variadas pelos parlamentares % 7 a 10 redes 3 a 6 redes 1 a 2 redes 0

Média Dep + Sen 1,5 49,5 17 32

Dep 1,6 48 17,2 33,3

Sen 1,2 59,3 16 23,5

Fonte: Elaboração dos autores, com dados da Medialogue, 2014.

Gráfico 4 – Redes sociais digitais mais utilizadas12

Fonte: Medialogue, 2014.

É oportuno ressaltar que o uso de redes sociais digitais tornou-se quase um imperativo político, além de se tratar de uma influente mídia tática (JURIS, 2005), conforme já mencionamos, por meio da qual os parlamentares conseguem reproduzir 12

A Wikipedia não é uma rede social, mas foi considerada na pesquisa da Medialogue, como atuação em canal social por haver alimentação e manutenção das informações ali contidas por parte dos próprios parlamentares.

23

informações de seu interesse. O potencial dialógico é substituído pelo poder de vitrine, com a possibilidade de controle da visibilidade pelos próprios agentes políticos. Como mídias táticas, as redes sociais online permitem que os parlamentares selecionem os enfoques e os enquadramentos dos conteúdos que são repassados a seus seguidores, priorizando assuntos e questões que considerem estratégicas em seu mandato. A primazia do Twitter e do Facebook se explica pela popularidade dessas mídias, além de se tratarem de duas estratégias complementares. Enquanto o Twitter funciona como um microblog que prioriza informação atualizada em formato sintético, as estilo das manchetes dos jornais, o Facebook permite a associação de texto e imagens, inclusive textos mais longos, de caráter opinativo ou não, e vídeos. A possibilidade de “curtir” as postagens de terceiros cria, também, uma rede informal de apoiamentos ao parlamentar, servindo como forma de prospecção das opiniões de seus eleitores e/ou seguidores. De qualquer forma, pelas possibilidades tecnológicas de compartilhamento de conteúdos, o Facebook serve como forma de comunicação direta com segmentos sociais e nichos de opinião dentro da sociedade, caracterizando um instrumento bastante útil para o direcionamento das mensagens políticas. 3.2.3 A atuação partidária Os Quadros 20 e 21 mostram um detalhamento da presença de deputados e senadores das bancadas com mais de cinco parlamentares nas principais redes sociais digitais. O Twitter é a rede social preferida dos deputados, enquanto o Facebook recebe mais atenção dos senadores. Também é possível observar os partidos cujos deputados mais investem nas redes sociais. Na Câmara dos Deputados (Quadro 20), os destaques ficam por conta da bancada do PCdoB, com altíssimo percentual de participação da bancada no Twitter (100%), no Facebook (100%) e ainda na Wikipedia (85%). Além de uma alta presença no Flickr (69%) e no Youtube (69%). O PPS também tem uma presença alta no Twitter (100%) e no Facebook (100%), onde estão a totalidade de seus deputados, mas não investe tanto nas outras redes sociais. Outras siglas com alta presença no Twitter e no Facebook são: PSDB (98% e 93%), PSC (93% nas duas), PT (92% e 90%) e DEM (92% e 88%). Por sua vez, o PV investe muito no Twitter (100%), enquanto os deputados do SDD têm uma alta presença no Youtube (94%). Outros estudos de caráter quantitativo já 24

revelaram que há uma tendência dos parlamentares dos partidos de esquerda ter mais seguidores e tuítarem mais do que seus colegas de partidos alinhados à direita (MARQUES et al., 2014).

Quadro 20 – % de uso de redes sociais digitais pelos Deputados, nas bancadas com mais de cinco parlamentares Partido Twitter Facebook Flickr Youtube Wikipedia DEM

92

88

32

48

60

PCdoB

100

100

69

69

85

PDT PMDB

84 78

74 76

5 17

47 46

32 54

PP

79

79

11

47

50

PPS

100

100

22

33

67

PR

69

64

14

44

39

PRB

67

75

17

50

42

PROS PSB

79 86

71 95

14 41

36 59

29 64

PSC

93

93

20

47

40

PSD

71

78

22

46

63

PSDB

98

93

37

70

50

PT

92

90

38

58

63

PTB PV

59 100

71 80

24 30

29 70

47 50

SDD

88

82

24

94

65

Fonte: Elaboração dos autores, com dados da Medialogue, 2014.

No Senado, a configuração das bancadas é ligeiramente diferente. O investimento nas redes pelos senadores é pouco menor do que o dos deputados, como mostram os índices, apesar de mostrar um padrão mais similar entre as bancadas. PT e PSDB são os partidos cujos senadores mais se dedicam ao uso das redes sociais, especialmente Twitter, com 92% de participação dos petistas e 91% dos tucanos, e Facebook, 100% nas duas legendas, mas também Wikipedia e Youtube. Um dado interessante é o fato de que o PMDB, maior bancada do Senado e segunda maior da Câmara não tenha uma presença tão expressiva em nenhuma das redes sociais, o que pode indicar a falta de uma orientação partidária nesse sentido.

Quadro 21 – % de uso de redes sociais digitais pelos Senadores, nas bancadas com mais de cinco parlamentares Partido Twitter Facebook Flickr Youtube Wikipedia PDT PMDB

80 75

80 75

20 35

60 60

60 80

25

PP

60

80

20

60

60

PR

60

40

20

40

60

PSDB

91

100

64

82

91

PT PTB

92 83

100 83

50 17

67 67

67 67

Fonte: Elaboração dos autores, com dados da Medialogue, 2014.

Em relação aos partidos, os Quadros 22 e 23 exibem os percentuais dos perfis parlamentares atualizados no Twitter, nas bancadas com mais de cinco parlamentares em cada uma das casas legislativas. Nesse caso, não é analisada apenas a presença na rede, mas seu uso efetivo na época de realização da pesquisa. O que os dados revelam é que boa parte dos deputados têm perfis nas redes, mas não fazem uso cotidiano deles como ferramentas do mandato. Um caso exemplar é a bancada do PTB na Câmara. Apesar de 59% dos deputados terem um perfil no Twitter, os dados revelam que somente 18% deles estavam atualizados na época do levantamento. Entre os senadores, como mostra o Quadro 21, a discrepância é um pouco menor. Uma explicação possível para essa diferença entre o número dos que possuem perfil e daqueles que o mantêm atualizado pode ser a necessidade de abertura dos perfis durante as campanhas eleitorais, sem, contudo, a utilização das redes durante o exercício do mandato. De qualquer modo, um estudo aprofundado sobre os perfis não atualizados somente seria possível numa dimensão qualitativa, realizável fora das redes, o que não é objeto desta pesquisa. Quadro 22 – % de Deputados com perfis atualizados no Twitter, por partido Partido

PCdoB

Atualizado Desatualizado

PSDB PT PPS SDD DEM PSB PV PDT

PMDB

PSC PP PROS

PRB PR PSD PTB

92

76 70

67

65

56

50

50

47

47

47 45

43

42 39

29

18

8

24 30

33

35

44

50

50

53

53

53 55

57

58 61

71

82

Fonte: Elaboração dos autores, com dados da Medialogue, 2014.

Quadro 23 – % de Senadores com perfis atualizados no Twitter, por partido Partido Atualizado Desatualizado

PT PSDB PTB PDT PP PMDB PR 92

73

67

60 60

50 40

8

27

33

40 40

50 60

Fonte: Elaboração dos autores, com dados da Medialogue, 2014.

Os Quadros 24 e 25 ilustram o uso do Facebook pelos parlamentares, conforme o partido, em percentuais, nas bancadas com mais de cinco parlamentares. Novamente, a exemplo do que ocorre com o Twitter, os parlamentares estão presentes nas redes, mas muitas vezes não fazem a utilização delas de forma regular. Os recursos humanos, 26

materiais e cognitivos envolvidos na atividade podem justificar essa diferença, ainda que o resultado possa acabar sendo contrário ao objetivo inicial dos políticos. A questão que se coloca é a validade estratégica, do ponto de vista da visibilidade e da imagem pública, de manter um perfil desatualizado em uma rede social, cuja dinâmica imediata de interação obriga seus usuários a dispenderem um tempo considerável em seu uso. Quadro 24 – % de Deputados com perfis Facebook, por partido Partido

Atualizado Desatualizado

PCdoB PRB PSC PSB PDT DEM PV PTB PMDB PSD PPS SDD PP PROS PT PSDB PR

69 31

67 67 64 33 33 36

63 37

60 60 59 40 40 41

58 56 56 42 44 44

53 50 47 50

50 45 50 55

41 39 59 61

Fonte: Elaboração dos autores, com dados da Medialogue, 2014.

Quadro 25 - % de Senadores com perfis Facebook, por partido Partido PMDB PT PSDB PDT PP PR PTB Atualizado 55 50 45 40 20 20 17 Desatualizado 45 50 55 60 80 80 83 Fonte: Elaboração dos autores, com dados da Medialogue, 2014.

Em relação ao Youtube, apesar do uso percentual feito pelas bancadas, tanto na Câmara quanto no Senado, ser menor em relação ao Twitter ou ao Facebook, é interessante perceber o alto número de postagens e, mais do que isso, o alto número de visualizações pelos usuários das redes dos vídeos postados. Esses números, quando agregados, dão uma dimensão da importância dessas ferramentas para o mandato parlamentar e para a atividade política no Brasil contemporâneo, fenômeno que nos parece irreversível. Os Quadros 26 e 27 mostram os o percentual de parlamentares que mantêm perfis atualizados no Youtube nas bancadas com mais de cinco deputados, na Câmara e no Senado, respectivamente. Na maioria dos partidos, o percentual de parlamentares da legenda que não atualizava seus perfis à época do levantamento era maior do que aqueles que mantinham seus perfis atualizados. No caso do PT, por exemplo, a quase totalidade dos deputados estava sem usar o Youtube (97% desatualizado, contra apenas 3% de atualizado). Quadro 26 – % de Deputados com canais no Youtube, por partido Partido

Atualizado Desatualizado

PSD PSC PSDB PDT PCdoB PSB PPS PR PV PMDB DEM SDD PP PTB PRB PROS PT

73 67 27 33

61 39

53 47

46 41 33 33 30 54 59 67 67 70

25 75

20 80

18 16 12 82 84 88

8 92

7 3 93 97

Fonte: Elaboração dos autores, com dados da Medialogue, 2014.

27

Quadro 27 – % de Senadores com canais no Youtube, por partido Partido PSDB PDT PT PTB PMDB PR PP Atualizado 82 60 58 50 45 40 20 Desatualizado 18 40 42 50 55 60 80 Fonte: Elaboração dos autores, com dados da Medialogue, 2014.

Quadro 29 - Vídeos parlamentares do Youtube com mais visualizações Assunto

Vídeo

Campanha Notícias Parlamento Total

Visualização 97

300.922

121

2.763.951

95

837.529

313

3.902.937

Fonte: Elaboração dos autores, com dados da Medialogue, 2014.

Observando a presença na rede dos partidos (Quadro 29), avaliamos como as bancadas com os senadores e deputados mais presentes nas redes sociais se comportam (bancadas com mais de 5 parlamentares em cada Casa). O quadro mostra o ranking das bancadas cujos deputados federais e senadores têm mais presença nos canais sociais. O número total de canais sociais (Facebook, Flickr, Twitter, Youtube e Wikipedia) foi dividido pelo número de parlamentares da bancada para se obter a média de presença. As bancadas de deputados que têm os maiores índices de presença são as do PCdoB (4,4%), PT e PSDB (3.1%), conforme o Quadro 30. No caso dos senadores, o PT lidera com 3,1%, seguido pelo PTB (2,8%), PMDB (2,7%) e PSDB (2,6%). Neste caso, os maiores partidos parecem ter estratégia comum de uso de redes. Assim como nos itens anteriores, é difícil verificar uma estratégia vinculada à ideologia partidária, ainda que, à primeira vista, os partidos de centro-esquerda e esquerda pareçam mais preocupados e investir nas redes sociais, a exemplo de dados obtidos por outros estudos (MARQUES et al., 2014). Quadro 30 – Deputados – Média de presença nas redes sociais nasbancadas com mais de cinco deputados Partido Deputados Canais Média de presença- % 1 PCdoB

13

57

4,4

2

88

277

3,1

3 PSDB 4 PRB

46 12

140 33

3 2,8

5 SDD

17

45

2,6

6 PPS

9

21

2,3

7 PSB

22

49

2,2

PT

28

8 DEM

25

53

2,1

8 PMDB

76

156

2,1

10 PSD

41

78

1,9

10 PP 12 PROS

38 14

71 25

1,9 1,8

12

36

63

1,8

14 PDT

PR

19

33

1,7

15

PV

10

16

1,6

15 PSC

15

24

1,6

17 PTB

17

19

1,1

Fonte: Elaboração dos autores, com dados da Medialogue, 2014.

Quadro 31 – Senadores - Média de presença nas redes sociais nas bancadas com mais de cinco senadores Partido Senadores Canais % 1 PT 2 PTB

12 6

37 3,1 17 2,8

3 PMDB

20

54 2,7

4 PSDB

11

29 2,6

5 PDT

5

12 2,4

5

PP

5

12 2,4

7

PR

5

9 1,8

Fonte: Elaboração dos autores, com dados da Medialogue, 2014.

CONCLUSÕES Este artigo analisou como os deputados federais e senadores brasileiros utilizam as ferramentas da internet para sua comunicação e ação políticas, combinando o uso de sites e especialmente as mídias sociais. Ele utiliza dados de uma pesquisa realizada com os 513 deputados federais e 81 senadores, analisando-se tanto sites quanto redes sociais. O foco é a aferição do desempenho e a potencial influência de parlamentares (tanto deputados quanto senadores) por meio de dispositivos digitais, como sites, uso de recursos multimídia e uso de redes sociais. Para a análise aqui proposta recorremos a um recorte, a partir da seleção dos parlamentares mais influentes ou o que combinam um maior grau de uso das ferramentas. Para tanto, foram considerados aspectos como os índices de resposta a e-mail, transparência, interatividade e a média de seguidores no Twitter e Facebook. Quanto aos resultados, interessante destacar, considerando o grupo de parlamentares mais influentes, que as mulheres são um pouco mais influentes (17% contra 13%) que os homens. Embora os homens sejam um pouco mais interativos (16% contra 11%). A idade é de até 40 (18%), mas percebe-se que entre 41 e 59 anos o percentual é quase igual (15%), o seja, a imagem de que só jovens têm apreço pelo uso 29

da tecnologia parece estar mudando, já que o tempo tem se encarregado de inserir outras gerações. Quanto à posição política em relação ao governo, a oposição aparece com um pouco mais de influência (17%) em relação à situação (12%), talvez pela necessidade de se aproveitar mais de mecanismos de penetração na sociedade do que o governo, que conta a máquina pública de certa forma a seu favor. Mas os grupos são semelhantes quanto ao grau de interatividade (15% para a oposição e 16% para o governo). Especificamente para este artigo, os dados foram analisados à luz dos seguintes aspectos: visibilidade, audibilidade e discutibilidade (entendida como interação e diálogo/debate); accountability e capital social, aspectos ligados ao funcionamento da democracia de públicos. Desta forma, a análise será dividida em dois grandes itens: estratégias de visibilidade e accountability; e estratégias de interação e debate. Entre as principais estratégias de visibilidade está a publicação de notícias nos sites. Diferente da propaganda, técnica mais óbvia de divulgação do mandato, a notícia pode ter mais eficácia na visibilidade visto que incorpora a credibilidade das técnicas jornalísticas. Por isso, também não deixa de ser uma forma de prestação de contas, ou accountability, já que informa sobre o mandato parlamentar para possível fiscalização do eleitor (ainda que sem o viés negativo, obviamente deixado de lado já que os personagens das notícias são, em geral, os donos dos sites). Já a divulgação de produção legislativa constitui-se em claro instrumento de accountability, mas também se insere nas estratégias de visibilidade, já que pretende divulgar o mandato. As duas estratégias, de veiculação de notícias e divulgação da produção legislativa, têm o mesmo peso nos sites parlamentares, com mais de 50%, mas menos de 60%. No entanto, quando analisados separadamente, percebe-se que os senadores investem proporcionalmente bem mais nas duas do que os deputados, com mais de 80%, contra pouco mais de 50% dos deputados. Na esfera da visibilidade, algumas áreas são priorizadas, como informações relacionadas à divulgação do mandato parlamentar, especialmente propostas legislativas, que aumentam a visibilidade positiva do mandato. O tópico com menor percentual de divulgação são os gastos dos gabinetes (5,1%), que apresentam grande potencial para a visibilidade negativa, apesar de se constituir em um modo de accountability, uma das funções da comunicação interativa,

e numa forma de funcionamento segundo a

democracia de público. O uso de vídeos e fotos também é predominante, o que reforça a lógica de 30

personalização, típica do regime de visibilidade política da democracia de públicos. A personalização é associada aos padrões comuns estabelecidos pela apropria internet. O uso comum de certos padrões e formatos reitera a importância da web na atualidade e de como ela se impõe aos produtores de conteúdos virtuais, incluindo os agentes políticos. Em relação às estratégias de interação e debate, menos da metade dos parlamentares divulga seu e- mail diretamente no site. O restante ou não divulga ou pede o preenchimento de formulário para enviar questões. Quando consideramos só os senadores, o percentual sobe para 58%. O percentual de respostas de e-mail é de apenas 20%. Além do e-mail, o estudo revela uma variedade de lógicas de usabilidade das ferramentas dos websites pelos parlamentares, como interação pelo Twitter (76%), divulgação do mandato em blogs (60%), estímulo ao contato por e-mail (44%), respostas a perguntas feitas pelos cidadãos via Twitter (37%), respostas a e-mails (20%), publicação de comentários dos eleitores no website (16%) e uso de enquetes (12%). Ou seja, há certo aproveitamento de algumas ferramentas para conexão, outra função estratégica da comunicação interativa. Depoimentos e enquetes funcionam como provas da presença e da participação cidadã nos websites, ou seja, um espaço testemunhal para as falas cidadãs. Em alguns casos, as opiniões divergentes são ressaltadas estrategicamente, a fim de acentuar politicamente a defesa da liberdade de expressão e da diversidade de pensamento. Quanto às enquetes, predominam as perspectivas plebiscitárias ou questões que reforçam os discursos defendidos pelos próprios parlamentares e seus, que não deixam de ser uma forma de auscultar a sociedade, dentro da função de prospecção nas estratégias de comunicação interativas. Há uma tentativa, em várias das estratégias apontadas, para a construção e manutenção de vínculos políticos. O uso de redes sociais digitais é o espaço em que potencialmente são aplicadas as estratégias de interação e diálogo, com vistas ao aproveitamento do potencial de discutibilidade, audibilidade e capital social. Os dados mostram que menos de 2% dos parlamentares utilizam de 7 a 10 redes. A maioria (cerca de 50%, sendo que os senadores chegam a quase 60%) usam entre 3 e 6 redes digitais de interação. A rede mais usada é o Twitter (83%), seguida pelo Facebook (63%) e Youtube (53%). O Twitter é a rede social preferida dos deputados e Facebook a dos senadores. Como mídias táticas, as redes sociais

online permitem que os parlamentares selecionem os enfoques e os enquadramentos dos conteúdos que são repassados a seus seguidores. A primazia do Twitter e do Facebook se 31

explica pela popularidade dessas mídias, além de se tratar de duas estratégias complementares. Enquanto o Twitter funciona como um microblog que prioriza informação atualizada em formato sintético, as estilo de manchetes, o Facebook associa texto e imagens, inclusive textos mais longos e vídeos. Mas para verificarmos o real potencial para uma democracia de público – e potencial para capital social - no sentido interativo seria necessário avaliar qualitativamente as próprias redes. REFERÊNCIAS BAUMAN, Z. Em busca da política. Rio de Janeiro: Zahar, 2000. BERNARDES, C. B. As Fontes de Informação nas Mídias Legislativas: oficialismo e diversidade na produção noticiosa sobre a Câmara dos Deputados. Brazilian Journalism Research (Impresso), v. 7, p. 32-49, 2011. BLANCHARD, G. O uso da internet a serviço da comunicação do partido. Líbero, v.9, n. 18, dez., 2006. BOURDIEU, P. O poder simbólico. Lisboa, Portugal: Difel, 1989. BRAGA, S. Podem as TICs auxiliar na institucionalização das Democracias? Um estudo sobre a informatização dos Órgãos legislativos na América do Sul e no Brasil. Brasília: EditoraPlenarium, 2008. CASTELLS, M. A galáxia da internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2003. FARIA, Cristiano Ferri Soares de. O parlamento aberto na era da internet: pode o povo colaborar com o Legislativo na elaboração das leis? Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2012. GOLDSCHMIT, K. E-mail Overload in Congress. Managing a Communication Crisis. Congress Online Project. Washington/DC: Congressional Management Foundation, 2001. GOMES, W. Transformações da política na era da comunicação de massa. São Paulo: Paulus, 2004. ________ Internet e participação política em sociedades democráticas. Revista Famecos, n.27, Agosto 2005. P.58-78. ________. Capital social, democracia e televisão em Robert Putnam. In: GOMES, W.; MAIA, R.C.M. (Orgs.). Comunicação e democracia: problemas e perspectivas. São Paulo: Paulus, 2008, p.221-273. ________. Participação Política e internet: conceitos fundamentais. IN: MAIA, R. C. M.; GOMES, W.; MARQUES, F. P. J. A. (org.) Internet e Participação Política no Brasil. Porto Alegre: Sulina, 2011. P.19-45. JURIS, J.S. The new media and activist networking within anticorporate globalization movements. The Annals of the American Academy of Political and Social Science, v.597, p.189-208, 2005. KARLSSON, M. Representation as Interactive Communication. Information, Communication & Society, v. 16, n.8, p.1201-1222, 2013. LESTON-BANDEIRA, C.The impact of the internet on parliaments: a Legislative Studies framework. Parliamentary Affairs, v.60, n.4, 2007, p.655-674. ______, C. Studying the relationship between Parliament and citizens. The Journal of Legislative Studies, v.18, n.3-4, Sep-Dec. 2012, p.265-274. LILLEKER, D. G.; JACKSON, N.A. Interacting, representing or just informing: Web 2.0 and UK MP. Trabalho apresentado na 5a. ECPR General Conference, Potsdam, 10 a 12 de setembro, 2009. LYCARIÃO, D. Internet e movimento ambientalista: estratégias do Greenpeace para a sustentação de debates na Esfera Pública. B. S. In: MAIA, R. C. M.; GOMES, W.; MARQUES, F. P. J. A. Participação política e internet no Brasil. Porto Alegre: Sulina, 2011, p.257-292. MARQUES, F. P. J. A.; AQUINO, J. A.; MIOLA, E. Deputados brasileiros no Twitter: um estudo quantitativo dos padrões de adoção e uso da ferramenta. Revista Brasileira de Ciência Política, Brasília, n. 14, maio/agosto 2014, p201-225. ________. Parlamentares, representação política e redes sociais digitais: perfis de uso do Twitter na Câmara dos Deputados. Opinião Publica, Campinas, vol.20, n.2, p. 178-203, 2014a. MANIN, Bernard. As metamorfoses do governo representativo. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol.10, n.29, out.1995, p.5-34. _____. A democracia do público reconsiderada. Novos Estudos CEBRAP. São Paulo, n.97, pp. 115-127, 2013.

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