Política, Ópio e a Não Politização

May 24, 2017 | Autor: E. Dos Santos Rocha | Categoria: Political Science, Modernity, Direito, Filosofía
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Política, Ópio e a Não Politização


No século XIX, existiam as chamadas "casas do ópio". Casas onde só os ricos tinham acesso muito em virtude das condições sociais da época. Uma época de ascensão industrial onde surgia a modernidade da qual Marx tanto falou. O estilo de vida acelerado predominou. Cidades cada vez mais cheias, carros, negócios de todo tipo a todo vapor. As casas do ópio eram um lugar onde aqueles que viviam esse estilo de vida moderno iam para "desestressar" ou ter um pequeno momento de "alívio" provocado não só pelo ópio, mas pelo próprio ambiente. Interessante notar que os pobres como não tinham bens nem empresas não frequentavam tal ambiente, estavam destinados ao trabalho nas fábricas e demais atividades braçais e de longo esforço. O mundo moderno industrial os estava dando mais trabalho, ao mesmo tempo em que a necessidade da liberação do "estresse" aumentava e a alienação tinha de vir por um outro tipo de ópio que fosse mais barato que o do seus patrões. Para Marx esse ópio era a religião, frase célebre sua. A religião era a forma e o ópio do homem industrial pobre encontrar quase que um momento fora da sua extensa jornada de trabalho um "momento de entretenimento", um lugar próprio, assim como a casa do ópio, de fugir do mundo.
Aliás, muitos interpretam a frase "a religião é o ópio do povo" como sendo algo que deixa as pessoas "burras", "cegas", "entorpecidas", mas, o sentido é outro. Muito pelo contrário, a religião engaja as pessoas para um plano ativo desde os jesuítas e também com a ética protestante que segundo Max Weber teria transformado o homem por influência da cosmovisão protestante sobre a cultura ocidental, com a sua ética de caráter prático (a ascese) e sua orientação do mundo através do trabalho metódico e racional. O sentido na verdade, é o de ter um lugar para fuga do mundo. De sair do trabalho, da jornada extensa em pleno século XIX para algo no âmbito do "não penso, logo, existo". Portanto, enquanto os ricos tinham a "casa do ópio" os pobres tinham a religião. Digo que no século XX o ópio é a política. Esse foi o século onde a política se virou contra ditaduras (talvez o século que mais as teve) e também no contexto de democracias liberais. Surge no século XX mais consistentemente, jornais, mídias, militantes políticos, palestrantes e agora os "Youtubers teens". Paradoxalmente, a falta de politização de certas pessoas gera o autodidata. Ele foge disso tudo e passa a conviver com o livro, querendo ser o senhor da atividade de deletar, fechar, parar, não argumentar. O autodidata não cresce autônomo, cresce meio que estúpido e infantil exatamente na proporção de seu frescura, de seu bater pezinho. Isso porque o livro só lhe da uma única resposta, não há conversação nem algum tipo de dialética ou mesmo o que Sócrates fazia. Muitos deles possuem um "sentimento de impotência", são os que acreditam em conspirações absurdas. E não raro, surgem onde há baixa participação popular na vida política do país.
Vi em um vídeo um palestrante, guru, midiagogo, professor, psicólogo, o Leandro Kanal dizer que não se deve criticar a democracia, que ela não deve ser questionada a não ser para melhorá-la. É contra esse tipo de pseudo-pensamento que não se deve acreditar. Se for necessário por ressalvas nas críticas, então as críticas não valem. Platão criticou a democracia do seu tempo. Tocquevile criticou a democracia da América. Nenhum dos dois falou coisa como: "olha, vou criticar, mas é levinho", "não vou pegar pesado", é uma "crítica construtiva'". Nunca antes, pelo menos no Brasil, se questionou tanto a Democracia, partidos políticos, os políticos, a República e o Estado. A Política passou a ser um assunto tão discutido e em "alta" muito em virtude da comunicação fácil e rápida virtuais. Além é claro, de cada dia estar estampados escândalos e mais escândalos, crimes e mais crimes nas mais diversas mídias.

Eduardo Rocha. São Luís. 16/02/2017.






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