Política, retórica e religião na Grécia Antiga

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; FUNARI, P. P. A. ; GRILLO, J.G.C. . POLÍTICA, RETÓRICA E RELIGIÃO NA GRÉCIA ANTIGA. IN: JOSÉ RENATO DE ARAÚJO SOUSA; JOSÉ LOURENÇO PEREIRA DA SILVA. (ORG.). EDUCAÇÃO, POLÍTICA E RELIGIÃO NO MUNDO ANTIGO. 1ED.TERESINA: EDUFPI, 2012, V. 1, P. 6188. POLÍTICA, RETÓRICA E RELIGIÃO NA GRÉCIA ARCAICA

Pedro Paulo A. Funari1 José Geraldo Costa Grillo2

Introdução

O tema da política nas póleis (cidades) gregas oferece inúmeras possibilidades quanto aos recortes temporais e espaciais. Em nosso caso, preferíamos nos ater aos tempos primordiais da cidade grega, analisando o episódio da assembléia dos Aqueus na Ilíada de Homero (II.207-428); um caso particular e, no entanto, a nosso juízo, revelador das relações entre a política, a retórica e a religião.

Evidentemente que devido ao tempo remoto ao qual nos dedicamos e à natureza imprecisa do lugar geográfico do poeta e de seu público, não trataremos de uma cidade em específico e, ao mesmo tempo, falaremos das cidades gregas em geral, considerando a recepção e o forte impacto dos poemas homéricos no mundo grego antigo. Homero seria, nesse sentido, uma espécie de “cosmopolita”, isto é, um cidadão desse mundo (cf. Carlier, 1999).

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Professor Titular do Departamento de História, pesquisador do NEPAM e Coordenador do Centro de

Estudos Avançados da Universidade Estadual de Campinas, www.gr.unicamp.br/ceav. 2

Professor Adjunto do Departamento de História da Arte da Universidade Federal de São Paulo. Pós-

doutorando na Universidade Estadual de Campinas sob a supervisão do Prof. Dr. Pedro Paulo A. Funari.

1. A cidade na Grécia arcaica

O aprendizado da retórica coroava o sistema educacional de boa parte das cidades da Grécia antiga e seu domínio pelos cidadãos era a condição prévia para o pleno exercício de sua cidadania.

Há mais de meio, assim se expressava Henri-Irénée Marrou (1948). Apesar da contundência da afirmação, sua validade estava circunscrita a uma determinada época e a um lugar específico; pois, ainda que sua obra tenha um escopo mais amplo no tempo e no espaço, centrou-se, sobre este ponto, no século V a.C., especialmente em Atenas, onde amadureceu uma idéia de cidade fundada sobre o sistema democrático, caracterizado por instituições coletivas, como o Conselho e a Assembléia, nas quais o uso da palavra é um fato dado e necessário. Assim o fez, porque, como todos de seu tempo, pressupõe que a origem da cidade remonta ao século VII a.C., no qual se inicia um processo evolutivo da cidade, indo de seu estado primitivo até sua maturidade, isto é, a passagem do período “arcaico” (séculos VII-VI a.C.) para o “clássico” (século V a.C.). A retórica teria surgido, então, no contexto da cidade clássica ao longo do século V a.C.

A relação entre retórica e cidade permanece, mas o tema das origens é, desde algumas décadas, matéria de debates e de novas concepções. Por época arcaica entendese, agora, o período que se estende do começo do século VIII ao final do VII a.C., e origens mais remotas foram propostas de tanto para cidade quanto para a retórica, remontando a meados do século VIII a.C. e envolvendo, portanto, a época de Homero (800-750 a.C.).

Moses Immanuel Finley (1954, 1999) foi um dos primeiros a questionar que os poemas homéricos, a Ilíada e a Odisséia, não refletem a sociedade micênica na qual a história se passa, mas sim aquela do “mundo de Odisseu”, algo entre os séculos X e IX a.C. Os poemas, que passaram por um longo de transmissão oral até chegarem à forma final por volta de 750 a.C., não são mera ficção poética; preservam, pelo contrário, um

núcleo micênico genuíno, ainda que dele reste muito pouco e em geral de forma distorcida, e a sociedade retratada e seu sistema de valores é coerente e histórica.

No que tange à cidade (pólis), em Homero significa apenas um lugar fortificado, uma cidadela, não havendo nenhum vestígio de cidade como organização política, com suas instituições e espaços, como a Ágora, cuja presença é anacrônica em relação à época narrada. Finley é levado a essa conclusão por entender que, do início ao fim de seus poemas, Homero reflete a visão e os valores de uma aristocracia representante de um sistema monárquico que antecede ao da cidade-estado, o qual pode ser constatado somente a partir de Hesíodo (cerca de 700 a.C.), e, assim mesmo, em forma embrionária.

Até, então, não se havia concluído ainda que pólis referia-se ao concreto dos cidadãos, às pessoas, e não ao Estado como entidade jurídica abstrata (cf. Ferreira, 2004). Por isso, décadas mais tarde, Pierre Vidal-Naquet (2000) pôde afirmar que a Ilíada é inconcebível sem certa presença da cidade. Se, por um lado, os Aqueus não constituem uma cidade no sentido clássico; por outro, eles possuem duas de suas instituições essenciais, a Assembléia e o Conselho. Tinham, portanto, a experiência de viver em uma cidade com seus órgãos de deliberação e de decisão, conhecendo, inclusive, a noção de maioria, uma vez que, no canto IX, uma embaixada procura convencer Aquiles a voltar para a guerra, alegando ser essa a opinião da maioria dos Dânaos. Além disso, a Ágora como um espaço cívico já existia na época do autor, como é ocaso de Mégara Hibléia, colônia fundada na Sicília pela cidade de Mégara em meados do século VIII a.C.

Fruto de uma revisão historiográfica (cf. Mossé, 1984) que não identifica mais a identidade da civilização grega com o período clássico de Atenas, nem o período arcaico como simples pré-história, mas antes uma época na qual se iniciam os elementos que presidiram o nascimento desta civilização. Nesse sentido, o que mais interessa na Grécia arcaica é justamente essa organização política que subsistiu até o fim da antiguidade, isto é, a cidade nascente, com suas instituições, o conselho e a assembléia, reunindo em um espaço específico, a Ágora, o conjunto da comunidade.

Feitas essas ressalvas, entendemos que o surgimento da pólis foi um acontecimento fundamental para os gregos (cf. Vernant, 1962). A idéia de cidade, tanto no plano intelectual como domínio das instituições, passou por várias e diferentes formas; mas, que, desde o começo, transformou a sociedade e as relações interpessoais. Isso porque esse sistema implicou a preeminência da palavra (lógos) acima de todos os outros mecanismos do poder, uma vez que se tornara o instrumento político por excelência, a base da autoridade, do governo e, por extensão, do domínio. Supunha, quanto a isso, um público, que devia, conforme o debate, a discussão e a argumentação, tomar partido nos assuntos tratados. Daí a importância da retórica, pois, sendo a arte da persuasão, investiu o discurso (lógos) de poder. O discurso encontrou, então, seu lugar na política, estabelecendo uma estreita relação com a política, a vida em cidade. A pólis era, portanto, uma entidade ativa e formativa, que exercitava o espírito e formava o caráter do cidadão (cf. Ferreira, 2004).

2. Homero e a retórica

A retórica clássica (cf. Kennedy, 1994), tal como pode ser apreendida dos tratados Greco-Romanos que sobreviveram – sobretudo os de Aristóteles, Cícero e Quintiliano, distinguia três gêneros de discurso: judicial, deliberativo e laudatório. Pressupondo um auditório que deve julgar e tomar uma decisão, o primeiro refere-se a uma ação ocorrida no passado, o segundo a uma ação específica no futuro e o terceiro a uma ação indefinida no presente. Em sua forma mais desenvolvida, a retórica apresenta cinco partes: invenção, arranjo, estilo, memória e entrega.

Dessas partes, nos interessam as duas primeiras. A invenção concernia ao assunto a ser tratado, identificando a questão e os meios de persuadir ao auditório, ou seja, as provas, que podiam derivar do caráter o orador, da emoção despertada pelo orador nos ouvintes e da lógica do assunto. O arranjo instituía que o discurso deveria se organizar em partes: o proêmio, com a finalidade ganhar a atenção dos ouvintes, a narração, onde se apresenta o assunto, a argumentação, na qual o orador apresentar as

provas que sustentam sua posição e refuta os argumentos contrários a ela, e, por fim, o epílogo, que, geralmente, subdividia-se em uma recapitulação e num apelo emocional ao auditório.

Mais da metade dos poemas homéricos consiste de discursos proferidos pelos personagens; os quais, por seu apelo e vivacidade, imprimem uma forte característica aos mesmos (cf. Griffin, 2004). Entretanto, a pesar de este dado ser amplamente reconhecido, o caráter retórico dos discursos é matéria debatida. Até época recente, era comum negar esta característica aos discursos homéricos porque os mesmos não teriam sido estruturados a partir de um modelo claramente definido e a retórica não fora ainda inventada. Em contrapartida (cf. Toohey, 1994), há nos discursos vestígios suficientes de aspectos retóricos para atribuir-lhes este caráter; pois, não carecem de uma forma, sendo um bom número deles deliberadamente estruturados, e percebe-se uma continuidade entre a prática de Homero e a da retórica posterior.

A análise dos quatro maiores discursos de Nestor na Ilíada (I.254-284; VII.124160; XI.656-803 e XXIII.626-650), demonstram, segundo Peter Toohey (1994), um arranjo comum, composto de proêmio, próthesis (exposição), parádeigma (exemplo), que corresponde às provas, retomada da próthesis e epílogo. No mesmo sentido, Hanna M. Roisman (2007) analisa os discursos de Tersites e de Odisseu na Ilíada (II.225-242; 284-332) e percebe que têm estrutura paralela: ambos começam com uma alocução retórica dirigida a Agamêmnon, cujo propósito é preparar o auditório para aceitar a proposta do orador, e, então, voltam-se ao auditório com um discurso direto, que apresenta e justifica a proposta. Mesmo George Alexandrer Kennedy (1994), que é bastante reticente quanto a essa questão, admite estar o discurso de Odisseu (IX.225306) estruturado retoricamente, contendo proêmio, narração, provas (com três argumentos) e epílogo de caráter emocional.

3. A assembléia dos Aqueus

O canto I da Ilíada principia por invocar a deusa a cantar a ira (mêniv áeide, theá, v. 1) de Aquiles. Aquiles encontra-se nessa situação devido ao fato de Agamêmnon o ter desonrado (etímesen, v. 356) tomando-lhe o prêmio (géras, v. 356) dado a ele pelos Aqueus após sua vitória sobre a cidade de Tebe aliada de Tróia, a saber, a jovem Briseida. Humilhação que o leva a pensar em abandonar a guerra e voltar para sua casa em Ftia. Todavia, ele apela a sua mãe, a deusa Tétis, para interceda junto a Zeus para que sua triste sorte seja mudada, solicitando-lhe que o proteja e dê a vitória aos Troianos de modo que Agamêmnon seja tomado por pouco e ele honrado como o melhor dos Aqueus; pedido que Tétis fez logo a seguir, sendo atendida por Zeus.

No canto seguinte (cf. II.1-206), Zeus reflete em como poderia realizar o pedido de Aquiles e decide enviar um sonho a Agamêmnon o qual lhe daria como certa a conquista de Tróia. Tendo acordado, Agamêmnon envia arautos aos Aqueus para que reúnam em assembléia (agorèn, v. 51); porém, primeiro assentou o conselho (boulèn, v. 53) para contar-lhes e o sonho e a deliberação que chegou a esse respeito, ou seja, a estratégia de por os Aqueus à prova propondo, ele próprio, o regresso para seus conselheiros interviessem na assembléia persuadindo-os do contrário; os quais obedecem dirigindo-se à assembléia. Agamêmnon discursou, então, para a assembléia, que acatou a proposta, e todos começaram o os preparativos para a volta. Hera, descontente com isso, mandou Atena a instigar os Aqueus a não partirem; esta, encontrando Odisseu, ordenou-lhe que retivesse cada homem com palavras suaves (aganoîs, v. 180). Este vai até Agamêmnon e dele recebeu seu cetro (skêptron, v. 186), o bastão de comando, e, se encontrava um rei ou herói falava com palavras suaves, mas, se encontrava alguém do povo (démou, v. 198) metido numa rixa ou falando aos brados, batia-lhe com o cetro, proferindo palavras ásperas (omoklésaské te mýtho, v. 199).

Assim, a assembléia reúne-se novamente (cf. II.207-428). Quatro são os oradores a discursar: Tersites (v. 225-242), Odisseu, que primeiro rebate o de Tersites (v. 246-264) e, depois, dirige-se à assembléia (v. 284-332), Nestor (v. 337-368) e Agamêmnon (v. 370-393).

Esses discursos de natureza deliberativa, pois visam convencer seus ouvintes a adotarem uma ação no futuro. Do ponto de vista da estratégia retórica, o discurso deliberativo pode visar à persuasão ou à dissuasão. O objetivo de Tersites encaixa-se no primeiro caso, pois simplesmente reforça a decisão dos Aqueus de regressarem a suas casas, enquanto que os de Odisseu à assembléia, Nestor e Agamêmnon querem justamente dissuadi-los dela.

O discurso de Tersites apresenta: o proêmio (v. 225-234): através de uma série de perguntas retóricas, expõe a arrogância de Agamêmnon; a narração (v. 235-238): apresenta formalmente a proposta do regresso; a argumentação (v. 239-240), composta da prova de que Agamêmnon roubou o prêmio de Aquiles, devido a sua arrogância; e o epílogo (v. 241-242), no qual ironiza que ainda está vivo porque Aquiles resolveu nada fazer.

Por mais verdadeiro que seja esse discurso, ele é desqualificado pelo caráter de seu orador. Primeiro, o narrador apresenta Tersites como sendo de “fala desmedida” (ametroepès, v. 212) e tendo “em seu espírito muitos pensamentos inconvenientes, ilógicos e desordenados” (v. 213-214); depois, Odisseu em sua refutação, dizendo: “Tersites, por mais que tu possas ser um orador (agoretés) eloquente, tu és um falador de palavras confusas (akritómythe)” (v. 246) e “falas na assembléia (agoreúeis) com injúrias” (v. 256). Mesmo o povo chega a isso, pois “embora acabrunhados riam com prazer” (v. 270) da situação de Tersites, um dos seus. Essa é uma situação crítica quando aos direitos do “cidadão” Tersites. Como notou Roisman (2007), esses dois discursos são emoldurados por uma introdução e um balanço final providos pelo narrador para indicar ao auditório como avaliar, respectivamente, quem vai discursar e o que disse em seu discurso. Do mesmo modo, enfatiza que as respostas do auditório a cada um deles demonstram a susceptibilidade humana face ao discurso retórico.

Essa situação fica ainda mais ressaltada quando contrastada com a apresentação que o narrador faz de Odisseu antes de seu discurso à assembléia como “bem

intencionado” (eù phrovéon, v. 283) e com a reação dos Aqueus “que aplaudiam (epainésantes) a palavra de Odisseu, o divino” (v. 335).

O discurso de Odisseu apresenta: o proêmio (v. 284-288): uma alocução direta a Agamêmnon, tecendo-lhe inúmeros elogios; a narração (v. 289-300): após algumas considerações sobre os motivos do regresso, apresenta proposta da permanência para se saber se é verdadeira a profecia de Calcas; a argumentação (v. 301-330), composta de três provas: a) evocação do passado: as divindades assentiram a vinda e foram feitos juramentos (v. 301-307); b) houve um “grande sinal” (méga sêma, v. 308-321); e c) quanto à profecia de Calcas (v. 322-330): “agora, tudo se cumpre” (nûn pánta teleîtai, v. 330); o epílogo (v. 331-332): recapitulação da proposta de permanecer.

O discurso de Nestor começa de modo abrupto com a narração (v. 337-338): uma alocução direta a Agamêmnon afirmando que seus líderes não sabem conduzir a assembléia e nada entendem da guerra; a argumentação (v. 339-359), composta de duas provas: a) evocação do passado (v. 339-353): os acordos e juramentos, os conselhos e os planos, as libações, os apertos de mãos que foram realizados e o assentimento de Zeus por ocasião da partida; e b) a necessidade de vingar o rapto de Helena, deitando-se cada aqueu com uma troiana (v. 354-359); o epílogo (v. 360-368): apelo para que Agamêmnon se deixe convencer e alguns conselhos.

O discurso de Agamêmnon apresenta: o proêmio (v. 370), no qual admite estar convencido por Nestor; a narração (v. 371-380), na qual propõe que se o conflito for resolvido – e ele está disposto a isso, a vitória sobre Tróia será certa; a argumentação (381-390): uma exortação para que todos comam para se fortalecer para a batalha; o epílogo (v. 391-393): uma ameaça contra aqueles que não o obedecerem.

Assim é encerrada a assembléia com a vitória de Agamêmnon, que realiza um sacrifício a Zeus acompanhado dos anciãos e dos chefes dos Aqueus, a saber, Nestor, Idomeneu, os dois Ajantes, Diomedes e Odisseu.

Considerações finais

O caráter retórico dos discursos nos parece, portanto, justificado; bem como as relações entre a política, a retórica e a religião. A estratégia de Agamêmnon funcionou a contento. A decisão pela permanência na guerra foi aceita e aclamada pelo povo, que se mostrou maleável ao discurso retórico. Os opositores foram silenciados tanto por “pancadas” quanto por ataques à sua capacidade oratória. O papel do conselho, composto pelo rei, anciãos e chefes guerreiros, foi determinante, uma vez que seus três oradores indicaram o rumo a seguir, e a argumentação baseada, sobretudo, na evocação de ritos e fatores religiosos, sublinhou a necessidade de obediência.

Agradecimentos

Os autores agradecem à FAPESP e ao CNPq pelo financiamento de suas pesquisas, ao Núcleo de Estudos Ambientais da Universidade Estadual de Campinas e ao Departamento de História da Arte da Universidade Federal de São Paulo pelo apoio institucional. As idéias são de nossa inteira responsabilidade.

Referências bibliográficas

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