Políticas de equidade para a população LGBT: relato de experiências sobre capacitações dos(as) profissionais das políticas públicas do estado de Santa Catarina.

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Descrição do Produto

[Série] Gênero, sexualidade e direitos humanos |no 4

Organizadores Tacinara Nogueira de Queiroz Maria Betânia Lins Cinthia Oliveira Luís Felipe Rios

Crescimento Econômico Cidadania, Saúde

Contextos, desafios e possibilidades da pesquisa-intervenção-pesquisa em direitos sexuais e reprodutivos

[Série] Gênero, sexualidade e direitos humanos | no 4

Contextos, desafios e possibilidades da pesquisa-intervenção-pesquisa em direitos sexuais e reprodutivos

Tacinara Nogueira de Queiroz Maria Betânia Lins Cinthia Oliveira Luís Felipe Rios

Recife/PE 2015

Crescimento Econômico, Cidadania, Saúde

Organizadores

Copyrigth @ Universidade Federal de Pernambuco, 2015 Publicações Especiais do Laboratório de Estudos da Sexualidade Humana (LabESHU) Série “Gênero, sexualidade e direitos humanos” Editores responsáveis: Luís Felipe Rios (UFPE) e Luciana Vieira (UFPE) Conselho editorial: Cristina Amazonas (UNICAP), Fátima Lima (UFRJ), Ivia Maksud (IFF/Fiocruz), Jaileila de Araújo Menezes (UFPE), Karla Galvão Adrião (UFPE), Lady Selma Albernaz (UFPE), Marion Teodósio de Quadros (UFPE), Paula Sandrine Machado (UFRGS) e Viviane Mendonça (UFSCAR) O conteúdo desta obra é de inteira responsabilidade dos autores e não representa a posição oficial dos apoiadores do Programa Diálogos Suape. Laboratório de Estudos da Sexualidade Humana (LabESHU) Coordenadores: Luís Felipe Rios e Karla Galvão Adrião Av. Arquitetura, s/n, CFCH, 7o andar, Cidade Universitária, Recife/PE – CEP: 50740–550 – Tel./ Fax: (81) 2126-8273 – Site: www.dialogos.org.br Créditos Projeto gráfico: Wilma Ferraz Revisão de textos: Débora de Castro Barros Tiragem: 400 exemplares (2015) Rua Acadêmico Hélio Ramos, 20| Varzea – Recife/PE CEP: 50.740-530 Fone: (81) 21268397 | (81) 2126-8930 | Fax: (81) 2126-8395 www.ufpe.br/edufpe | [email protected] | [email protected]

Montagem e impressão:

Editora associada à ABEU

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS EDITORAS UNIVERSITÁRIAS

Catalogação na fonte: Bibliotecária Joselly de Barros Gonçalves, CRB4-1748 C919 Crescimento econômico, cidadania, saúde : contextos, desafios e possibilidades da pesquisa-intervenção-pesquisa em direitos sexuais e reprodutivos / organizadores : Tacinara Nogueira de Queiroz... [et al.]. – Recife : Editora UFPE, 2015. 292 p. : il. – (Série Gênero, Sexualidade e Direitos humanos, n. 4). Inclui referências. ISBN 978-85-415-0678-6

(broch.)

1. Pesquisa-ação – Suape (PE : Microrregião). 2. Direitos sexuais. 3. Direitos reprodutivos – Aspectos sociais. 4. Desenvolvimento econômico – Aspectos sociais. 5. Cidadania. 6. Saúde. I. Queiroz, Tacinara Nogueira de (Org.). II. Título da Série. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

É permitida a reprodução total ou parcial do texto desta publicação, desde que citados a fonte e os respectivos autores.

Sumário Apresentação.................................................... Luís Felipe Rios, Tacinara N. de Queiroz, Maria Betânia Lins e Cinthia Oliveira

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Contextos: grandes obras e relações de gênero Desenvolvimento e reprodução: um estudo comparativo em três polos pernambucanos.................................................. 16 Dayse A. dos Santos, Russell P. Scott, Rosangela S. de Souza e Rafael de F. D. Acioly

Dialogando com homens trabalhadores de Suape: demandas, necessidades, atitudes e práticas em saúde.......................... 43 Benedito Medrado, Jorge Lyra, Túlio Quirino, Ana Luísa Cataldo, Andréa Paula da Silva, Claudemir Silva Filho, Felipe Alves e Anna de Cássia P. de Lima

Trabalho e risco na composição da identidade do “pião trecheiro”........................................................................ 67 Sirley Vieira da Silva

Promoção da saúde sexual e reprodutiva em contextos de grandes obras de infraestrutura e trabalho temporário masculino....................................................................... 91 Regina Figueiredo, Alessandro de Oliveira dos Santos e Marcelo Peixoto

Desafios para pesquisa-intervenção-pesquisa Diálogos sobre sexualidades com as(os) jovens de Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca: inícios, afetos, normas e prazeres...

116

Políticas de equidade para a população LGBT: relato de experiências sobre capacitações dos(as) profissionais das políticas públicas do estado de Santa Catarina.....................

139

Rocio del Pilar Bravo Shuña e Karla Galvão Adrião

Daniel K. dos Santos, Gabriela A. Diaz, Marília dos S. Amaral e Maria Juracy F. Toneli

Chá de Damas: desafios e estratégias para a inserção no campo-tema prostituição........................................................ Jaileila Menezes, Karla G. Adrião, Amanda K. C. Guedes, Ana Letícia Veras, Cristiano C. Ferreira, Douglas B. de Oliveira e Sarana M. de S. Santos

164

Portas entreabertas à produção de cuidados: o acesso dos homens à atenção básica em saúde........................................ 190 Túlio Quirino, Benedito Medrado, Jorge Lyra e Michael Machado

Possibilidades Monitoramento de projeto social: uma metodologia de pesquisa-ação participativa.................................................... 214 Telma Low, Danielly Spósito, Flávia Lucena, Nivete Azevedo, Maria Aparecida Araujo Santos, Jorge Lyra, Benedito Medrado, Talita Rodrigues, Ana Carolina Cordeiro e Gabriela Cordeiro

Análise da prática do aconselhamento em HIV/Aids..................

237

Caravana da Cidadania: a psicologia comunitária mobilizando as comunidades para a promoção à saúde e direitos humanos....

257

Wedna C. M. Galindo

Camila Santos, Verônica Carrazzone, Renata E. de S. Nunes e Luís Felipe Rios

Sobre os autores.................................................................. 283

Apresentação Luís Felipe Rios, Tacinara N. de Queiroz, Maria Betânia Lins e Cinthia Oliveira

Este é o quarto livro da série Gênero, Sexualidade e Direitos Humanos, publicada pelo Laboratório de Estudos da Sexualidade Humana (LabESHU) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ele apresenta textos resultantes de reflexões sobre as atividades do Programa Diálogos para o Desenvolvimento Social de Suape (Diálogos Suape), executado entre maio de 2012 e janeiro de 2015 nos municípios de Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca, que juntos formam a microrregião de Suape, em Pernambuco. A peculiaridade dessa região é a de abrigar e de sofrer impactos das grandes obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal, que envolve a construção do Complexo Industrial e Portuário de Suape (porto, estaleiros, refinaria de petróleo, petroquímica e outros empreendimentos). Em 2007, com o início das obras, houve aumento da oferta de postos de trabalho na construção civil, o que provocou a migração de milhares de homens para essa região, incrementando um conjunto de relações sociais de desigualdade já historicamente presentes naquele contexto (Rios et al., 2015). Em 2009, a UFPE foi convidada pela Refinaria Abreu e Lima da Petrobras a tomar parte nessa dinâmica, elaborando um programa de pesquisa-intervenção, Diálogos Suape, sobre os impactos da dinâmica instituída com as obras do PAC nas condições de vida da população dos dois municípios, focando os seguintes temas: gravidez na adolescência, doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), exploração sexual de crianças e adolescentes, violência masculina e violência contra as mulheres, e uso abusivo de álcool e outras drogas (Rios et al., 2015).

6 • Contextos, desafios e possibilidades da pesquisa-intervenção-pesquisa

O plano de trabalho do Diálogos Suape foi constituído de sete projetos (ou grandes ações) que, em sinergia, mobilizaram jovens, mulheres, trabalhadores do complexo Suape, profissionais do sexo, profissionais em geral, ativistas em direitos humanos e, mais amplamente, a população dos municípios para o enfrentamento das condições que fazem os agentes sociais da região mais suscetíveis a um conjunto de agravos à saúde e violações de direitos, grosso modo marcados, em suas emergências, por gênero, sexualidade, classe e idade/geração (Rios et al., 2015). Vale, ainda que brevemente, caracterizar o conjunto de projetos que formam o Programa Diálogos Suape, considerando seus objetivos. Para mais informações sobre o desenvolvimento e principais resultados de cada projeto/ação, remetemos o leitor a Rios, Queiroz, Lins e Teófilo (2015): 1. Conhecer o Território: Identificar as políticas, os programas e os equipamentos sociais existentes nos municípios, os indicadores sociais e as concepções da população sobre os agravos que são objeto da intervenção. Ação Juvenil: Instrumentalizar jovens, de 16 a 19 anos, de ambos os sexos, como lideranças capazes de atuar na produção e na disseminação de informações qualificadas nos campos dos direitos da criança e do adolescente, da saúde sexual e reprodutiva, do uso abusivo de álcool e de outras drogas, e no enfrentamento a agravos de saúde e violações de direitos. 2. Caravana da Cidadania: Mobilizar as comunidades locais e instrumentalizar profissionais dos campos da saúde, da educação e da responsabilização para a promoção da saúde sexual e reprodutiva, o combate à violação dos direitos sexuais e o enfrentamento do uso abusivo do álcool e de outras drogas.

Apresentação – Luís Felipe Rios et al. • 7

3. Chá de Damas: Engajar e capacitar profissionais do sexo adultos dos municípios no enfrentamento das DSTs/ Aids e da exploração sexual de crianças e adolescentes. 4. Mulheres e Educação para a Cidadania: Contribuir para o empoderamento de mulheres e jovens dos dois municípios, com ações formativas e informativas, para o enfrentamento da violência doméstica e sexual na microrregião de Suape. 5. Homens, Gênero e Práticas de Saúde: Diálogos com os Trabalhadores das Terceirizadas: Sensibilizar e informar os trabalhadores das empresas terceirizadas para a promoção da saúde sexual e reprodutiva, da prevenção da violência e do uso abusivo de álcool e de outras drogas; 6. Observatório Suape: Disseminar informações e recursos desenvolvidos no âmbito do projeto Diálogos para o Desenvolvimento Social em Suape. Para ampliar os debates sobre as contribuições teóricas e práticas do Programa, sua equipe executiva, formada por professores-pesquisadores do Laboratório de Estudos da Sexualidade Humana (LabESHU), do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Poder, Cultura e Práticas Coletivas (Gepcol) e do Grupo de Estudos sobre Masculinidades (Gema), ligados ao Programa de Pós-graduação em Psicologia da UFPE (PPG-PSI/UFPE), convidou parceiros de outros núcleos de pesquisa do país para apresentarem propostas de textos, resultantes de trabalhos de pesquisa e extensão em variados contextos socioculturais de atuação, mas afins, em termos de marcos ético-políticos, à postura assumida pelo Programa: dialógica e afinada ao quadro de garantia dos direitos humanos. Várias dos textos submetidos foram aceitos, e esta coletânea conta com importantes contribuições de nossos(as) parceiros(as) do Margens/UFSC, Nepaids/USP e Fages/UFPE.

8 • Contextos, desafios e possibilidades da pesquisa-intervenção-pesquisa

1. Gênero e sexualidade/direitos sexuais e reprodutivos Não parece ser por acaso que a maior parte dos agravos à saúde e violações de direitos apresentados como carecendo de “mitigação” pelo relatório disponibilizado pela Petrobras à UFPE (Rebouças e Associados, 2009), e que serviu de subsídio inicial para elaborar o plano de trabalho do Diálogos Suape, remetia diretamente às relações de gênero e de sexualidade: DSTs/Aids, gravidez na adolescência, violência sexual e de gênero. Mesmo o entendimento do uso abusivo de álcool e outras drogas, ou mais amplamente o acesso à saúde, é socialmente marcado pelas relações de gênero. Assim, um eixo que atravessa todos os trabalhos aqui publicados é o de apresentarem discussões consistentes sobre gênero e/ou sexualidade como sistemas e/ou marcadores sociais, organizadores da vida social e subjetiva e, por conseguinte, dos contextos que criam as condições para os agravos e violações ocorrerem. Todos os textos buscam, de diferentes modos, desvelar a operação dessas marcas, socialmente constituídas, na emergência de desigualdades e situações opressivas. Outro compromisso dos pesquisadores e de seus textos é o de empenharem esforços para fazer dialogar os conceitos e leituras acadêmicos de gênero e/ou de sexualidade com os marcos normativos dos direitos sexuais e reprodutivos – uma nova legalidade em processo de legitimação social mais ampla, que busca se oferecer como alternativa para reorganizar as práticas sociais de modo a dirimir as opressões e desigualdades. A partir desse eixo comum, os textos vão ler e problematizar crescimento econômico, cidadania, saúde. Destacamos ainda que, em diferentes níveis, todos os trabalhos desta coletânea atualizam a perspectiva da pesquisa-intervençãopesquisa como situada por Adrião (2014, p. 70):

Apresentação – Luís Felipe Rios et al. • 9

O termo “pesquisa-intervenção-pesquisa” é uma tentativa de construção de um significante que marque discursivamente a busca de um fazer contínuo e que trate de um continuum que sela a coalizão entre pesquisa e intervenção. Nestes termos, não há um início nem um final pré-demarcados, ou seja, a pesquisa não é o início, assim como tampouco a intervenção é a conclusão de um processo. Antes, pesquisa e intervenção atuam reflexivamente e coparticipativamente como dispositivos que possuem especificidades, mas que necessitam um do outro no cotidiano dos fazeres, saberes e poderes.

2. Eixos transversais Para organizar a coletânea, optamos por categorizar os textos produzidos a partir de três eixos: contextos, desafios e possibilidades. Vale de início dizer que nem sempre essa classificação se mostrou muito profícua, afinal muitos dos textos aqui apresentados caberiam nas três rubricas. De todo modo, é o produto final, o diálogo entre os 11 textos, que realmente contribui para a discussão que queremos propor com esta coletânea: contribuir para melhor qualificar propostas acadêmicas que investem em metodologias participativas de pesquisa-intervenção-pesquisa como estratégias científicas para compreender melhor a realidade social em permanente transformação e, ao mesmo tempo, fomentar a promoção dos direitos sexuais e reprodutivos.

2.1. Contextos: grandes obras e relações de gênero Os quatro primeiros capítulos desta coletânea se propõem analisar e discutir o próprio contexto das grandes obras de desenvolvimento econômico e seus impactos para “nativos” e migrantes, focando temáticas concernentes à garantia dos direitos sexuais e reprodutivos e, mais amplamente, para a promoção da saúde.

10 • Contextos, desafios e possibilidades da pesquisa-intervenção-pesquisa

O primeiro capítulo, intitulado “Desenvolvimento e reprodução: um estudo comparativo em três polos pernambucanos”, de Dayse Amâncio dos Santos, Russell Parry Scott, Rosangela Silva de Souza e Rafael de Freitas Dias Acioly foca as mulheres jovens de três polos de desenvolvimento em Pernambuco, o Complexo Portuário e Industrial de Suape, o Complexo Turístico de Porto de Galinhas e a Agricultura Irrigada de Petrolina, buscando repercussões do dinamismo econômico sobre suas vidas sexuais e reprodutivas. O segundo capítulo, “Dialogando com homens trabalhadores de Suape: demandas, necessidades, atitudes e práticas em saúde”, de Benedito Medrado, Jorge Lyra, Túlio Quirino, Ana Luísa Cataldo, Andréa Paula da Silva, Claudemir Silva Filho, Felipe Alves e Anna de Cássia Pessôa de Lima, apresenta os resultados de um estudo quantitativo sobre os conhecimentos, atitudes e práticas dos trabalhadores da construção civil, atuantes em Suape, em relação a saúde, sexualidade e violência. O terceiro capítulo, “Trabalho e risco na composição da identidade do ‘pião trecheiro’”, de Sirley Vieira da Silva, também foca os homens trabalhadores de Suape e adensa as discussões sobre saúde e sexualidade, aprofundando os significados sobre risco e saúde com uma abordagem etnográfica com homens migrantes. O quarto capítulo, “Promoção da saúde sexual e reprodutiva em contextos de grandes obras de infraestrutura e trabalho temporário masculino”, de Regina Figueiredo, Alessandro de Oliveira dos Santos e Marcelo Peixoto, discute a migração de trabalhadores para execução de obras de infraestrutura em municípios do interior e do litoral brasileiro, focalizando os efeitos negativos desse fluxo migratório em suas relações com questões de saúde e dos direitos sexuais e reprodutivos. Com base na experiência em projetos de intervenção com essa população, os(as) autores(as) finalizam o texto estabelecendo recomendações para mitigação de vul-

Apresentação – Luís Felipe Rios et al. • 11

nerabilidades, promoção da saúde sexual e reprodutiva, e proteção de direitos em contextos de migração temporária de trabalho masculino.

2.2. Desafios para pesquisa-intervenção-pesquisa O segundo eixo do livro discute alguns desafios e entraves para a realização de atividades de pesquisa-intervenção sobre direitos sexuais e/ou saúde sexual e reprodutiva com vários públicos (homens e mulheres jovens, profissionais dos serviços, trabalhadoras do sexo, homens adultos etc.). O quinto capítulo, “Diálogos sobre sexualidades com as(os) jovens de Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca: Inícios, afetos, normas e prazeres”, de Rocio del Pilar Bravo Shuña e Karla Galvão Adrião, tece reflexões sobre o modo como jovens residentes em Suape significam o início da vida sexual e dos prazeres, o namoro e outros vínculos afetivo-sexuais na interface com o campo dos direitos sexuais e reprodutivos. Na linha de discutir a disseminação dos novos marcos normativos (direitos sexuais) entre profissionais dos serviços públicos, o sexto capítulo, “Políticas de equidade para a população LGBT: relato de experiências sobre capacitações dos(as) profissionais das políticas públicas do estado de Santa Catarina”, de Daniel Kerry dos Santos, Gabriela Andrea Diaz, Marília dos Santos Amaral e Maria Juracy Filgueiras Toneli, reflete sobre as dificuldades e os desafios para a realização de capacitações sobre políticas de equidade para a população LGBT, oferecidas aos(às) servidores(as) públicos(as) de Santa Catarina. O sétimo capítulo, “Chá de Damas: desafios e estratégias para a inserção no campo-tema prostituição”, de Jaileila de Araújo Menezes, Karla Galvão Adrião, Amanda Kamylle Cavalcanti Guedes, Ana Letícia Veras, Cristiano Cavalcante Ferreira, Douglas Batista de Oliveira e Sarana Maria de Sousa

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Santos, reflete sobre os processos para entrada no campo da prostituição de Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca vivenciados por jovens universitários(as) executores(as) das atividades de pesquisa e intervenção. O oitavo capítulo, “Portas entreabertas à produção de cuidados: o acesso dos homens à atenção básica em saúde”, de Túlio Quirino, Benedito Medrado, Jorge Lyra e Michael Machado, discute os desafios para a promoção de cuidado de saúde para homens a partir de uma leitura psicossocial sobre os modos como usuários (homens) e trabalhadores de saúde produzem o cuidado à saúde do homem no cotidiano da atenção básica.

2.3. Possibilidades No terceiro eixo, temos três textos que discutem importantes elementos potencializadores de boas práticas de pesquisa-intervenção-pesquisa: o monitoramento participativo e sistemático das atividades e a abertura para a alteridade como condições de acolhimento e diálogo, seja no aconselhamento em HIV/Aids, seja em intervenções populacionais mais ampliadas, como o caso da Caravana da Cidadania. Assim, o nono capítulo, “Monitoramento de projeto social: uma metodologia de pesquisa-ação participativa, de Telma Low, Danielly Spósito, Flávia Lucena, Nivete Azevedo, Maria Aparecida Araujo Santos, Jorge Lyra, Benedito Medrado, Talita Rodrigues, Ana Carolina Cordeiro e Gabriela Cordeiro, discute metodologias de monitoramento participativo a partir das lições aprendidas durante a implementação da “Ação Mulheres e Educação para Cidadania”, executada pelo Centro das Mulheres do Cabo no âmbito do Diálogos Suape. No décimo capítulo, “Análise da prática do aconselhamento em HIV/Aids”, Wedna Cristina Marinho Galindo discute as modalidades de aconselhamento em HIV/Aids, focalizando

Apresentação – Luís Felipe Rios et al. • 13

o encontro aconselhador-usuário e as possíveis implicações, ressonâncias e impactos que tal encontro pode ter na própria prática do aconselhamento e no que dela resulta. Finalmente, no décimo primeiro capítulo, “Caravana da Cidadania: a psicologia comunitária mobilizando as comunidades para a promoção à saúde e direitos humanos”, Camila Santos, Verônica Carrazzone, Renata Evangelista de Sena Nunes e Luís Felipe Rios discutem a experiência da Caravana da Cidadania, uma das ações de mobilização comunitária do Diálogos Suape, apontando para a necessidade de respeito às dinâmicas socioculturais locais como condição para o sucesso de intervenções de promoção de cidadania e saúde. Sublinhando mais uma vez, os textos aqui reunidos apresentam as possibilidades, desafios e limites da pesquisa-intervenção-pesquisa no campo da promoção da saúde e cidadania por meio de um uso consistente de gênero e sexualidade como conceitos capazes de, ao mesmo tempo, analisar a realidade social e melhor qualificar o marco normativo dos direitos sexuais e reprodutivos. Nossa expectativa é a de que divulgar as reflexões tecidas nesta coletânea possa fomentar outras iniciativas de promoção de uma sociedade que prese pela equidade e cidadania. Desejamos uma boa leitura!

Referências ADRIÃO, K. Perspectivas feministas na interface com o processo de pesquisa-intervenção-pesquisa com grupos no campo psi. Labrys, edição em português, on-line, v. 26, p. 70-85, 2014. Disponível em: . REBOUÇAS E ASSOCIADOS. Estudos técnicos: Refinaria Abreu e Lima. 2009. mimeo.

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RIOS, L. F.; MEDRADO, B.; AMARAL, A.; PERUZZO, J. Diálogos Suape: pesquisa-intervenção-pesquisa sobre saúde e cidadania de populações afetadas pelas grandes obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em Pernambuco. In: RIOS, L.F.; QUEIROZ, T.; LINS, M.B.; TEÓFILO, I. (Org.). Diálogos para o desenvolvimento social em contextos de grandes obras: a experiência do Programa Diálogos Suape. Recife: EdUFPE, 2015. RIOS, L.F.; QUEIROZ, T.; LINS, M.B.; TEÓFILO, I. (Org.). Diálogos para o desenvolvimento social em contextos de grandes obras: a experiência do Programa Diálogos Suape. Recife: EdUFPE, 2015.

Contextos: grandes obras e relações de gênero

Desenvolvimento e reprodução: um estudo comparativo em três polos pernambucanos1 Dayse A. dos Santos, Russell P. Scott, Rosangela S. de Souza e Rafael de F. D. Acioly

1. Introdução Este trabalho busca compreender as repercussões do dinamismo econômico sobre a vida sexual e reprodutiva de mulheres jovens em polos de desenvolvimento. A análise é parte da pesquisa “Três polos de desenvolvimento e a vida sexual e reprodutiva de mulheres jovens”, apoiada pela Facepe, em realização desde novembro de 2010 pelo Fages da UFPE.2 A adolescência tem despertado forte interesse da mídia e das políticas públicas. Uma das razões para tal interesse é a mudança que ocorreu quanto às expectativas sociais diante dessa etapa da vida, no sentido de reservá-la prioritariamente aos estudos, com vistas a capacitar os jovens sujeitos para o ingresso em melhores condições no mercado de trabalho. Frequentemente, incorre-se em uma naturalização do processo de transição da infância à vida adulta e, ao mesmo tempo, reitera-se o caráter “imaturo” e “irresponsável” dos jovens. Um dos “riscos” dessa etapa é a possibilidade de uma gravidez. Entretanto, a gravidez na adolescência não é um fenômeno recente. Historicamente, as mulheres vêm tendo filhos nesse momento da vida, e, mesmo em um contexto de intensa 1 Trabalho inicialmente apresentado no XVIII Encontro Nacional de Estudos Populacionais, Abep, realizado em Águas de Lindoia/SP, de 19 a 23 de novembro de 2012.

Pesquisa APQ0149-7.03/10 financiada pelo Edital Facepe 03/2010, Estudos e Pesquisas para Políticas Públicas Estaduais, Gravidez na Adolescência, Facepe/SecMulher. 2

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redução da fecundidade, não se constatou no Brasil um deslocamento correspondente da reprodução para faixas etárias mais velhas, tal como ocorreu em países industrializados centrais (Aquino et al., 2003). Estudos recentes trazem críticas ao enfoque de risco presente na literatura sobre sexualidade e reprodução na adolescência. Essas perspectivas destacam a complexidade do fenômeno e os desafios colocados para sua adequada investigação. No que concerne às implicações sobre as trajetórias escolares e profissionais das jovens mulheres, os autores argumentam que grande proporção de gestações na adolescência não pode ser considerada determinante da pobreza, mas possivelmente por ela condicionada (Aquino et al., 2003). No presente estudo, buscamos refletir sobre a vida sexual e reprodutiva de mulheres jovens e a gravidez na adolescência em contextos de grande desenvolvimento econômico. O estudo está sendo realizado no estado de Pernambuco, que tem se destacado pelo desenvolvimento expressivo nas últimas décadas. Na página oficial do governo desse estado,3 um dos destaques é a liderança nacional na geração de empregos com carteira assinada. A reportagem destaca que, de acordo com dados divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Pernambuco é o terceiro estado no país que mais criou emprego formal em agosto de 2011, com 18.613 empregos celetistas, sendo superado apenas por São Paulo (53.033) e pelo Rio de Janeiro (19.865). Entretanto, a ênfase é que, considerados o tamanho da economia de São Paulo e a proximidade dos valores absolutos do Rio de Janeiro, Pernambuco está gerando proporcionalmente mais empregos que os grandes estados do Sudeste.4 3

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18 • Contextos: grandes obras e relações de gênero

O desenvolvimento do estado tem sido decorrência dos polos de desenvolvimento da região. Este estudo enfoca três dessas áreas que têm tido destaque: o Complexo Portuárioindustrial de Suape, o Complexo Turístico de Porto de Galinhas e a Agricultura Irrigada de Petrolina. Tais áreas estão situadas em três municípios do estado. O complexo turístico de Porto de Galinhas localiza-se na cidade de Ipojuca; o Complexo de Suape, embora tenha influência nos municípios próximos, localiza-se nas cidades de Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca; e a agricultura irrigada está situada em Petrolina. Os três municípios tiveram, na última década, um crescimento populacional acima da média do estado, como demonstram os dados do Censo 2010. Todos estão na faixa mais populosa definida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), acima de 45.180 habitantes. Tabela 1. Crescimento populacional dos municípios estudados Município Cabo de Santo Agostinho Ipojuca Petrolina

População em 2000

População em 20105

Aumento %

152.977

185.025

20,95%

59.281

80.637

36,02%

218.538

293.962

34,51%

Fonte: IBGE.

Esse aumento populacional deve-se em parte à chegada de trabalhadores em busca de oportunidades nesses locais. A 5

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vinda de migrantes com um número expressivo de homens traz repercussões para a vida das comunidades locais. Assim, o trabalho busca compreender o dinamismo econômico sobre a vida sexual e reprodutiva de mulheres jovens nesses polos de desenvolvimento.

2. Metodologia Para compreender as especificidades e inter-relações dos locais pesquisados, faz-se necessário destacar alguns aspectos caracterizadores de cada um dos polos. O Complexo Turístico de Porto de Galinhas tem como centro a praia de mesmo nome, que se localiza em Ipojuca. O Complexo Portuário do Suape localiza-se fisicamente nos municípios de Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca, mas tem grande influência nas cidades vizinhas e na capital do estado, Recife. Diariamente, circulam centenas de ônibus que transportam trabalhadores dessas cidades para o Complexo. Assim, esses dois complexos vizinhos localizados no litoral sul do estado constituem duas forças de criação de vocações, ora convergentes, ora divergentes, que se somam de maneira interligada, proporcionando um ambiente de possibilidades de vida entre as quais as jovens populações locais transitam. Petrolina apresenta um contexto mais particular. Distante geograficamente, área de sertão que se desenvolveu com o uso da tecnologia da irrigação no plantio, insere-se na rede de desenvolvimento do estado e liga sua atividade à zona litorânea por meio da exportação de seus produtos pelo novo porto instalado. A pesquisa, realizada pelo Núcleo de Pesquisa Fages-UFPE, teve uma equipe composta por um professor coordenador, uma pesquisadora doutora e dois pesquisadores estudantes do mestrado em antropologia.

20 • Contextos: grandes obras e relações de gênero

No início da pesquisa de campo, orientados pelos órgãos promotores de atividades que são da “vocação” dos polos e por uma pesquisa prévia sobre atividades econômicas desenvolvidas no local, foram escolhidos dois locais em cada polo para entender de forma mais aprofundada como se dão as relações de trabalho nos locais, com atenção especial para as relações de gênero e de geração que ocorrem em função deles, e, em todos os locais, com atenção especial para as percepções sobre a inserção de mulheres jovens nesses espaços. Em cada um desses locais, trabalhamos em cooperação com duas equipes da Estratégia de Saúde da Família (ESF), ouvindo os profissionais da equipe multidisciplinar, com destaque para os agentes comunitários, sobre a vida sexual e reprodutiva das jovens e, também, solicitando sua ajuda para assegurar contatos para a pesquisa. Assim, em cada município foram elencados dois locais, e nestes trabalhamos com o apoio de duas equipes de ESF, totalizando seis áreas cobertas pelo ESF, que foram espaços mais intensos da realização da pesquisa. Em Ipojuca, os locais foram Porto de Galinhas/Maracaípe e Nossa Senhora do Ó; no Cabo de Santo Agostinho, Ponte dos Carvalhos e Gaibu; e em Petrolina, as comunidades de São Gonçalo e João de Deus. Nesses locais, foram realizadas entrevistas aprofundadas com meninas/jovens que passaram pela experiência de gravidez na adolescência e com mulheres, avós, cujas filhas engravidaram na adolescência. Os dados coletados pela equipe abrangem: a) pesquisa documental, documentos oficiais e recortes de jornais e de sites; b) pesquisa de campo que resultou em centenas de páginas de diários de campo ao longo de mais de um ano de pesquisa de observação e convivência intermitente; c) 68 entrevistas abertas com roteiros sobre a experiência de gravidez com mães jovens (44, entre 16 e 24 anos de idade) e avós (24,

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entre 32 e 65 anos de idade) que foram gravadas, transcritas e analisadas tematicamente; e d) 418 questionários sobre namoros, gravidez, mobilidade e avaliações de oportunidades de trabalho e efeitos dos projetos de desenvolvimento nos locais, totalizando 418 questionários com mulheres jovens, entre 16 e 24 anos, independentemente de terem passado pela experiência da gravidez. Houve uma ênfase na pesquisa nos dois polos litorâneos, de Suape e da Indústria Turística em Porto de Galinhas. Ao polo da agricultura irrigada de Petrolina foi reservado um papel de contraponto comparativo para alertar contra possíveis generalizações incabíveis. Em decorrência de tal ênfase, os questionários foram aplicados apenas nas áreas dos polos litorâneos.

3. Discussão e resultados 3.1. Os cenários A praia de Porto de Galinhas há décadas recebe forte investimento para a indústria turística. Os dados da prefeitura destacam a grandiosidade do turismo, enfatizando que esse trecho do litoral sul de Pernambuco já dispõe de 13 grandes hotéis e resorts de luxo, mais de 250 pousadas de várias classificações, formando um conjunto de 10 mil leitos, tendo recebido um fluxo superior a 700 mil turistas ao longo do ano 2010.6 A página oficial da praia7 traz em destaque que ela é a única escolhida 10 vezes consecutivas a melhor praia do Brasil. Porto de Galinhas tem papel importante no fluxo de turismo do estado. 6

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22 • Contextos: grandes obras e relações de gênero

Tabela 2. Fluxo de turistas em Pernambuco Ano

Chegada de turistas

% sobre o ano anterior

% sobre o ano-base (2005)

2005

3.498.219

2006

3.530.046

0,90

0,90

2007

3.643.038

3,20

4,13

2008

3.775.588

3,63

7,92

2009

3.944.895

4,48

12,76

Fonte: Empetur.

Os moradores locais, que tradicionalmente se ocupavam de atividades como a pesca no mar e no mangue e o trabalho rural, vêm se transformando em jangadeiros, caseiros, assalariados, prestadores de serviço ou autônomos. Uma única unidade da ESF opera entre as áreas de Maracaípe e Porto de Galinhas. O outro local no qual atuamos junto com a equipe do ESF foi o bairro de Nossa Senhora do Ó. O antigo distrito de Nossa Senhora do Ó fica a 9 km da vila de turismo de Porto de Galinhas, no caminho de acesso à praia. Em razão da proximidade e do menor custo de sobrevivência, é o local que agrega grande parte dos trabalhadores de Porto, tendo tido crescimento expressivo nos últimos anos. Por causa da proximidade dessa área com o Complexo de Suape, Nossa Senhora do Ó também é local de moraria de muitos funcionários do Complexo. Embora haja uma política estadual de desestímulo à criação de alojamentos de funcionários, as casas e pousadas têm sido utilizadas como local de moradia dessa população. É a junção dessas duas vocações que deixa o município de Ipojuca em uma situação econômica favorável. Segundo dados da prefeitura,

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Ipojuca cresce a taxas astronômicas. […] Abrigando dois dos principais polos da moderna economia de Pernambuco, o território ipojucano foi contemplado nas três ultimas décadas com investimentos da ordem de R$ 35 bilhões e 400 milhões resultantes do processo de industrialização no complexo industrial e portuário de Suape e na expansão do Turismo em seu litoral, notadamente em Porto de Galinhas.8

O Cabo de Santo Agostinho teve seu desenvolvimento impulsionado com o Complexo Industrial e Portuário de Suape, que, diferentemente de Porto de Galinhas, é um projeto com mais de três décadas de planejamento no estado de Pernambuco. A fase de implantação intensiva do complexo foi iniciada em 2007. O site do Complexo9 veicula informações sobre a vocação e a dinamicidade do projeto. Informa que Suape abarca, além do porto em si, o “maior estaleiro do hemisfério Sul”, uma refinaria de petróleo, três plantas petroquímicas, mais de 100 empresas já instaladas e ainda tem previsão de instalação de pelo menos 50 novas indústrias. Os promotores do Complexo ressaltam que Suape se insere em uma vocação histórica de comércio estabelecida desde a descoberta do Brasil, remontando à criação de um mito de origem nacional de comércio internacional. No Cabo de Santo Agostinho, a pesquisa se desenvolveu mais intensamente junto às áreas atendidas pela unidade da ESF: uma no bairro de Ponte dos Carvalhos e outra em Gaibu. Ponte dos Carvalhos fica como entreposto a pleno caminho de toda a Zona da Mata Sul para os municípios de Jaboatão e Recife. Cresceu mais intensivamente a partir dos anos 1950 e 1960, com o êxodo da zona canavieira da Zona da Mata Sul. Muitos se estabeleceram firmemente em serviços 8

Disponível em: .

9

Disponível em: .

24 • Contextos: grandes obras e relações de gênero

comerciais, de reparo de veículos e de recreação ao longo da estrada. Hoje, o bairro se expandiu muito, ocupando grande extensão em ambos os lados da estrada, com múltiplas residências individuais de variadas qualidades e uma base econômica mais variada. É um dos distritos de referência do município do Cabo e já tem um colégio com ensino muito qualificado em período integral e a maternidade de referência do município. Gaibu é um aglomerado urbano situado na estrada que leva à vila de Suape (Motta, 1979), uma vila de antigos pescadores que fica colada à beira norte do Complexo de Suape, separada por um braço de mar. Em Gaibu-Suape, residem antigos e atuais pescadores e marisqueiros, junto com surfistas, e, sobretudo, outros trabalhadores do comércio e de serviços que trabalhavam e trabalham no comércio local ou, cada vez menos, em residências de veranistas. É a área com acesso mais direto a Jaboatão e ao Recife por uma estrada litorânea com pedágio que passa por um empreendimento imobiliário de alto luxo implantado em função do desenvolvimento esperado por causa do Complexo. A unidade da ESF que opera em Gaibu está com sua equipe reduzida e precisando de ampliação com muitas áreas de novas residências descobertas em decorrência do aumento expressivo de moradores. Gaibu, por ser uma praia e ter muitas casas da população do Cabo que ia veranear, tornou-se um lugar com oferta de imóveis disponíveis para os migrantes. As casas de veraneio e as pousadas passaram a ser residência permanente dos trabalhadores vindos de outros locais. Situação distinta de Porto de Galinhas, onde as pousadas e hotéis destinam-se a um público turista de poder aquisitivo mais elevado. No Cabo também estão situados muitos alojamentos de homens trabalhadores do Complexo. Petrolina é um município que tem tido destaque no crescimento econômico. De acordo com os últimos dados dos

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produtos internos brutos (PIBs) municipais de Pernambuco coletados pelo IBGE, o município de Petrolina se situa em sexto lugar em ordem de grandeza de seu PIB, cerca de R$ 2,62 bilhões a preços de 2010. Fica abaixo de Recife, Jaboatão, Ipojuca, Cabo e bem próximo a Olinda (R$ 2,63 bilhões). Merece destaque o fato de Petrolina ser sertão e interior, e todos os demais situarem-se na região metropolitana. À exceção de Ipojuca, importante sede dos investimentos estruturadores que atualmente se implantam no estado, a taxa de crescimento anual de Petrolina no período 1999-2008, da ordem de 4,5% ao ano, ultrapassa a dos demais municípios citados. Em 2010, Petrolina foi matéria na revista Veja10 como destaque nacional na geração de empregos. Com o chamativo título “O milagre do São Francisco”, a reportagem destacava a produção da agricultura irrigada, que produz 1 milhão de toneladas de frutas avaliadas em 1,3 bilhão de dólares. Tabela 3. Área, produção e valor da produção das principais culturas de Petrolina, safra 2009

Área (ha)

Produção (t)

Valor da produção (R$)

Manga

7.500

150.000

60.000.000

Uva

3.800

106.000

276.000.000

Goiaba

2.300

71.400

64.240.000

Coco (mil frutos)

1.500

45.000

12.600.000

Banana

2.700

45.900

22.900.000

Cultura

Fonte: IBGE, 2010. Preços de 2009.

10

Veja, edição 2180, 1o set. 2010.

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Em Petrolina, a pesquisa se desenvolveu mais intensamente nas comunidades de João de Deus e São Gonçalo. Essas comunidades foram formadas há pouco mais de duas décadas em áreas doadas pela Companhia de Desenvolvimento do Vale de São Francisco (Codevasf) para construir residências. Formadas por “favelados” vindos de outros lugares, já foram conhecidas pela violência e perigo, mas hoje são consideradas áreas de trabalhadores, um lugar bom para viver.

3.2. Os atores e suas estratégias 3.2.1. Vida sexual e reprodutiva das jovens como objeto de preocupação estratégica O desenvolvimento do estado tem sido objeto de preocupação pela possibilidade de influenciar a vida sexual e reprodutiva das mulheres de maneira não desejada. Isto é, a presença de muitos homens trabalhadores migrantes, que vêm sozinhos, pode resultar também em aumento de gravidezes na adolescência. Como destaca Ribeiro (1992), os trabalhadores estão expostos a um cotidiano bastante típico de uma força de trabalho imobilizada pela moradia. A vida no acampamento de um grande projeto é penetrada, em todas as suas esferas, pelos interesses e necessidades da obra, monitorados por uma administração central, à maneira de uma “instituição total”. Os trabalhadores não especializados estão sujeitos a um controle muito maior; a presença de suas famílias é, inclusive, impossível, pois só há, em termos de moradia, a alternativa de ocupar os alojamentos coletivos, para “solteiros”. Esse tipo de preocupação ganhou espaço na mídia. Em 2011, o jornal Diário de Pernambuco, um dos principais jornais locais, publicou uma série jornalística intitulada “Os filhos

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de Suape”,11 que denunciava o abandono paterno de crianças nascidas de relações entre as adolescentes locais, moças entre 11 e 19 anos, e os trabalhadores migrantes. Ao longo da semana em que a série foi publicada, saíram reportagens que abordavam o fato de vir uma massa de trabalhadores homens, separados de suas famílias e agrupados em grandes alojamentos. A reportagem destacava a “cegueira” dos governos para os casos de exploração sexual, estupro e gravidez na adolescência. Os textos enfatizavam a vulnerabilidade das mulheres locais, especialmente as mais jovens, que sonhavam em encontrar um parceiro e construir uma família, mas que eram abandonadas pelos homens, que já tinham famílias em seus locais de origem. Essas relações, chamadas de “A sedução da farda”, “Sonho de Cinderela” e “Hora extra dos prazeres”, destacam a relação assimétrica entre os homens, que têm emprego e renda, e as mulheres, que estão à procura de um parceiro também provedor em um contexto em que as oportunidades de emprego não são para elas. Apesar do tom denunciativo da reportagem, os dados do Cabo de Santo Agostinho e de Ipojuca não permitem dizer que o problema da gravidez na adolescência se agravou com a chegada de Suape. Isso se deve em parte às estratégias das próprias envolvidas, como veremos a seguir. Entretanto, a série chamou a atenção do poder público para o possível aumento das taxas de gravidez e exploração sexual. No mês posterior à série veiculada, a Assembleia Legislativa estadual realizou uma audiência pública para discutir a exploração sexual na área do Complexo de Suape. Nesse evento, discutiu-se a necessidade de verbas públicas para tratar o problema e de ações concretas para implementar os planos 11

Série de reportagens publicadas pelo Diário de Pernambuco de 8 a 13 de maio de 2011.

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elaborados de combate à exploração sexual contra crianças e adolescentes. Uma das participantes da sociedade civil destaca que esse problema deve-se também à falta do poder público. A falta de estado refere-se a um modelo de desenvolvimento focado no setor empresarial em detrimento das condições da população. E também o não desenvolvimento de muitas ações no plano social. A preocupação com a vida sexual das jovens e com o risco de uma gravidez na adolescência tem sido presente também nas empresas privadas. Com toda a crítica à presença massiva de homens em alojamentos, que chegam a concentrar mais de 3.500 trabalhadores, ter ações “preventivas” se configura como atuação de “responsabilidade social” das empresas. È o caso da Camargo Correa. Esse grupo é um dos maiores grupos empresariais privados do Brasil. Tem atuado fortemente no Complexo de Suape no setor de engenharia e construção civil, ramo que abarca o maior número de trabalhadores pouco qualificados que vêm para trabalhar no período da duração da obra. A Camargo Correia tem promovido no Cabo de Santo Agostinho um curso de formação dos profissionais da rede pública de saúde e educação para a redução da gravidez na adolescência. Na etapa inicial, foram escolhidas quatro unidades de saúde da família, considerando os critérios de índices de gravidez na adolescência, baixo poder aquisitivo da população local e local de atração dos migrantes (como é o caso de Gaibu). Em razão do crescimento expressivo do Complexo nesta última década, Suape tem atraído mais olhares para a sexualidade das adolescentes, buscando evitar a exploração sexual e a gravidez na adolescência. Em Porto de Galinhas, essa é também uma inquietude presente.

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Há uma preocupação em evidenciar que o turismo de Porto de Galinhas é um turismo familiar. Difere de outros locais no Nordeste, marcados pelo turismo sexual. A prefeitura destaca que tem medidas administrativas junto aos hotéis e operadoras de turismo, que vão atuar na região para verificar o perfil de turistas. Há uma vigilância dos empreendedores em preservar a noção que o turismo de Porto de Galinhas tem para as famílias, e que empresários que querem aproveitar as oportunidades de turismo sexual não são bem-vindos. Um hotel que escolheu proibir a hospedagem de crianças para aproveitar o mercado de casais em lua de mel, que estariam buscando sossego para suas núpcias, sofreu pressão de outros hoteleiros, que perceberam que tal caminho poderia levar a uma suspeita de também estarem promovendo encontros para experiências sexuais, o que desvirtuaria a imagem “familiar” da praia. Em pouco tempo, o hotel reverteu sua estratégia, alegando que os casais, muito satisfeitos com o atendimento durante a lua de mel, haviam pressionado para que seus familiares (e eles mesmos, no futuro, com filhos) pudessem se hospedar em um lugar tão bom. Os mesmos empresários comemoraram o fim de voos fretados de países europeus, conhecidos como bate e volta, que traziam turistas propensos a encarar as praias do Nordeste como destino privilegiado para encontros sexuais. Um dos voos fretados, promovidos por um ex-piloto de Fórmula Um, que trazia italianos, sucumbiu diante das pressões contra a prostituição infantil, segundo o relato de um oficial de segurança. Ainda no espírito de promoção de turismo familiar e alternativo individual, houve fechamento de mais de uma dezena de pousadas que hospedaram trabalhadores de Suape sem tomar as devidas precauções de definição de estada curta, que rege o princípio da Associação. Já as pessoas que vêm pas-

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sar períodos variados de tempo em suas casas na praia, e que eventualmente as alugam, particularmente ou por meio de corretores, também fazem muito mais parte dos que almejam manter a qualidade familiar e de distinção do local. Petrolina, por sua vez, tem uma maior inserção das mulheres como mão de obra, inclusive as menores de 18 anos, seguindo as regras do Ministério do Trabalho. A gravidez na adolescência não é um problema preocupante. As jovens trabalhadoras da agricultura irrigada são percebidas como muito mais cuidadosas com relação a uma gravidez vista como precoce que as mulheres de gerações anteriores. O foco de lutas são direitos e condições adequadas de trabalho. 3.2.2. Escolhas sexuais e reprodutivas das jovens 3.2.2.1. Complexo de Suape e região turística de Porto de Galinhas A parte do Complexo e a região de Porto de Galinhas realçada pela pesquisa incluem os locais habitados mais diretamente impactados. Abrangem as sedes dos municípios do Cabo e de Ipojuca. A maior parte da pesquisa de campo se realizou em quatro locais urbanos nos distritos desses municípios Porto de Galinhas/Maracaípe e Nossa Senhora do Ó, em Ipojuca; Ponte dos Carvalhos e Gaibu, no Cabo). Esses locais, como já destacado, têm sofrido o aumento expressivo de migrantes. A população local interage de muitas formas com esses migrantes, outsiders cuja chegada afeta a vida dos estabelecidos, sobre os quais se costuma elaborar imagens que refletem tanto desconfiança quanto expectativas positivas. Sua presença nesses locais pode ser entendida a partir das formulações de Ribeiro (1992) e Oliveira (2000). Ribeiro destaca a construção das identidades fragmentadas e utiliza

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a expressão “bichos de obras” para se referir a um contexto no qual há um segmento de uma população estruturada a partir de processos migratórios vinculados à formação do mercado de trabalho de um grande projeto em construção. Os bichos de obra são pessoas desterritorializadas no sentido da perda da possibilidade de realizar uma identificação unívoca entre território/cultura/identidade, fato que se expressa nos rótulos usados por eles mesmos, ou por outros, para descrevê-los: desenraizados, expatriados, ciganos, cidadãos do mundo. Sua desterritorialização “cultural” é preenchida por uma territorialização definida pela esfera do trabalho. Em nosso contexto, essa desterritorialização é demonstrada a partir da generalização dos migrantes identificados na categoria de “baianos”. Essa definição engloba os trabalhadores em um grupo identificado como propenso a brigas e confusões e por se envolver com mulheres locais, mesmo as casadas. Embora possuam emprego e uma potencial condição de provedores, não são vistos como homens preferenciais para relacionamentos afetivos e conjugais, como veremos nos dados quantitativos e também transparece no trecho a seguir: É porque eles são muito exibidos, eles não querem namorar, e elas [as moças do local] sabem que eles é só um… uma temporada. O pessoal daqui é diferente, é pescador, mas tem família, namora e é pra casar! E eles [os migrantes] é tudo sem futuro! (Entrevista com mãe jovem de Gaibu)

As informações do Quadro 1 são dados dos questionários aplicados nos quatro locais com jovens mulheres, buscando compreender aspectos do contexto, como suas escolhas de parceiros, trajetórias sexuais e reprodutivas e a influência de trabalho e estudo nesses locais de desenvolvimento. Apresentamos dados de mobilidade e educação e, a seguir, aprofundamos a discussão de reprodução e sexualidade.

32 • Contextos: grandes obras e relações de gênero

Quadro 1. Mobilidade, educação e trabalho das jovens e suas famílias nos quatro locais

Gaibu

Ponte dos Carvalhos

Nossa Senhora do Ó

Porto de Galinhas e Maracaípe

a jovem

26,0

42,3

44,3

15,7

Mãe

24,2

31,3

38,8

9,7

Pai

23,6

34,5

46,9

11,8

a jovem

61,0

32,7

42,0

59,8

Mãe

58,6

43,7

48,0

64,5

Pai

60,6

45,3

40,8

58,8

47,1

28,8

33,3

39,2

Estuda atualmente

41,3

34,6

42,5

24,5

Segundo grau completo

49,0

51,0

19,8

33,3

72,1

79,8

71,4

66,7

Nascimento no local

Nascimento em outro município ou estado

Moradia no local 10 anos ou menos Educação

Não trabalha

Fonte: Questionário da pesquisa Três Polos de Desenvolvimento, Fages/UFPE.

Os dados demonstram que muitas das jovens e seus pais são naturais de Ponte dos Carvalhos e de Nossa Senhora do Ó, sugerindo a importância de seus padrões históricos de aglomerados de populações emigradas principalmente de engenhos ao longo de mais de meio século. Dois terços das jo-

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vens moram há mais de 10 anos em Ponte dos Carvalhos e em Nossa Senhora do Ó. Ponte dos Carvalhos, mesmo estando no caminho da BR que conecta a Zona da Mata Sul e o Recife, abriga proporcionalmente mais emigrantes expulsos dos engenhos do próprio município (Cabo) do que Ó em Ipojuca, que soma mais migrantes de origens de fora do município, provavelmente em função da atração da proximidade a Porto de Galinhas. Em comparação, os locais situados nas praias, Porto de Galinhas/Maracaípe e Gaibu, tiveram incrementos proporcionalmente muito mais pesados em suas populações, a diferença sendo que em Porto de Galinhas a maior acentuação é em décadas recentes, quando há poucos naturais do local na geração dos pais das jovens, enquanto em Gaibu a imigração é muito mais concentrada nos últimos 10 anos. A baixa qualificação da população em torno do complexo turístico se destaca tanto por ter poucas jovens com segundo grau completo, mais notável em Ó que em Porto de Galinhas, quanto por revelar um menor número de jovens atualmente estudando, pois quem quer completar o segundo grau em Porto de Galinhas se queixa da precariedade da escola local e da distância que precisa percorrer para chegar a Ó, onde há melhores opções. Trabalhar em Suape não se configura como opção significativa para mulheres em nenhum dos locais pesquisados, havendo apenas 1% delas que responderam ao questionário reportando trabalhar no complexo portuário e industrial. Enquanto um pouco mais das jovens de Porto de Galinhas consegue encontrar trabalho nos outros locais, há constantes reclamações de baixa remuneração e de precariedade sazonal. O primeiro namoro começa antes de 14 anos para mais da metade das meninas. Os parceiros são mais residentes do próprio local. Em Gaibu e em Porto de Galinhas, a busca de parceiros de fora é muito mais intensa que nos outros dois locais.

34 • Contextos: grandes obras e relações de gênero

Quadro 2. Escolhas de parceiros Gaibu

Ponte dos Carvalhos

Nossa Senhora do Ó

Porto de Galinhas e Maracaípe

61,0

44,3

51,0

54,3

44,1

14,4

26,2

44,8

20,0

25,8

16,7

20,0

37,0

25,8

31,4

41,0

na igreja

3,0

14,4

4,9

4,2

em bar ou festa

8,0

11,3

19,6

16,8

Primeiro namoro < 14 anos Sobre o primeiro namorado De outro município ou estado Conheceu: na escola na vizinhança

Com relações sexuais:

47,1

49,5

55,3

66,3

Usou prevenção na primeira vez

81,3

63,3

80,4

61,9

Primeira preocupação gravidez

39,5

46,9

40,0

26,9

Engravidou dele

33,3

40,8

46,4

50,8

Gaibu

Ponte dos Carvalhos

Nossa Senhora do Ó

Porto de Galinhas e Maracaípe

é do local

44,2

77,5

75,3

58,3

de outro município/estado

45,5

17,6

18,5

25,0

11,8

8,8

11,1

8,5

28,9

22,5

27,2

49,3

Sobre o parceiro atual

Conheceu: na escola na vizinhança na Igreja

7,9

17,5

4,9

5,6

15,8

26,3

23,5

14,1

Ele não trabalha Trabalha no local

21,1 10,5

22,5 28,8

24,4 17,9

9,9 21,1

Trabalha em Suape

40,8

22,5

26,9

12,7

3,9

1,3

21,8

47,9

em bar ou festa

Trabalha em Porto

Fonte: Questionário da pesquisa Três Polos de Desenvolvimento, Fages/UFPE.

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A vizinhança é mais importante que a escola como local para conhecer o primeiro namorado, embora em Ponte dos Carvalhos a escola e a igreja sejam ainda mais importantes espaços institucionais para identificar quem se quer namorar. Ainda no que tange a conhecer os primeiros namorados, os ambientes de festa ou de bar, embora não predominantes, são identificados mais pelas que residem próximo ao complexo turístico de Porto de Galinhas. A proteção na primeira relação sexual foi usada mais pelas jovens de Gaibu e de Nossa Senhora do Ó, que tomaram precaução em 80% dos casos. Em Porto, usou-se menos proteção (61,9%) e se ao usar se preocupou muito mais com doenças que com gravidez. E foram justamente essas jovens que mais frequentemente ficaram grávidas do primeiro namorado (50,3%).12 Pode ter havido mais confiança nas relações sexuais com os primeiros namorados em Ponte dos Carvalhos, pois, além de boa parte não usar proteção na primeira relação, as que a usaram estavam mais preocupadas com gravidez, e não com doenças, do que as jovens em outros locais. Em função da migração massiva recente de trabalhadores em Suape para Gaibu, a origem desses parceiros é bem mais acentuadamente de fora do local do que nos outros três lugares pesquisados. Em Nossa Senhora do Ó e em Ponte dos Carvalhos, os parceiros são predominantemente locais, e, sem desprezar a importância da escola e da vizinhança, as jovens mudaram os espaços de sociabilidade para encontrar esses parceiros, recorrendo mais frequentemente a bares e festas em ambos os locais, e a igrejas em Ponte dos Carvalhos. Para esses parceiros, mais uma vez encontrar trabalho é mais fácil em Porto, mas, igualmente ao que ocorre com as jovens, é um trabalho mal remunerado, precário e sazonal. 12

Excluindo as que reportaram não ter relações sexuais com seus primeiros namorados.

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Como a pesquisa foi feita no mês de janeiro, havia muita influência da alta estação de turismo na declaração de estar trabalhando. Suape revela ser um crescente polo empregador, não somente em Gaibu, mas também em Ponte dos Carvalhos e em Nossa Senhora do Ó. Entre todos os locais, Gaibu oferece menores oportunidades locais para trabalhar. Quadro 3. Vida sexual e reprodutiva Nossa Senhora do Ó

Porto de Galinhas e Maracaípe

Gaibu

Ponte dos Carvalhos

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