Políticas públicas: uma abordagem teórico-metodológica nos campos da ciência política e da antropologia

June 14, 2017 | Autor: Hildon Carade | Categoria: Anthropology, Political Science, Public policies
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POLÍTICAS PÚBLICAS: UMA ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA NOS CAMPOS DA CIÊNCIA POLÍTICA E DA ANTROPOLOGIA P á g i n a | 150

POLÍTICAS PÚBLICAS: UMA ABORDAGEM TEÓRICOMETODOLÓGICA NOS CAMPOS DA CIÊNCIA POLÍTICA E DA ANTROPOLOGIA

Hildon Oliveira Santiago Carade Universidade Federal Da Bahia Mestrando Em Antropologia [email protected]

Resumo Apesar de não existir um consenso entre os cientistas políticos no que se refere a uma melhor ou mais aceitável definição de política pública, todas elas, mesmo as mais minimalistas, guiam o nosso olhar para o locus onde acontecem os embates, qual seja, o governo. Assim, pode-se dizer que hegemonicamente a ciência política partiu da perspectiva do Príncipe para melhor entender as ações do Estado. Os antropólogos, por sua vez, ao se depararem com as políticas governamentais, tenderam a analisar as políticas sociais, concentrando-se sobremaneira nos desvios, nos subterfúgios e nos “mecanismos de defesa” usados pelos setores das camadas menos favorecidas para enfrentar os poderes estatais. Desta forma, pode-se falar em uma clivagem em torno da hierarquia social dos objetos: enquanto a ciência política esteve preocupada com o “studying up”, a antropologia orientou os seus esforços para o “studying down”. A presente comunicação pretende ensejar uma discussão teórico-metodológica em torno do tema políticas públicas, sublinhando os modelos de análise forjados tanto pela ciência política quanto pela antropologia. O objetivo é aproximar as duas matrizes disciplinares que apenas artificialmente podem ser consideradas distintas. Assim, utilizarei dois textos – um de caráter antropológico; outro, pertencente ao campo da ciência política – que versam sobre o mesmo assunto, qual seja, o Orçamento Participativo. Em um primeiro momento apontarei para como as perspectivas podem ser complementares, para em seguida demonstrar a grande distinção entre as duas, qual seja: enquanto a ciência política está interessada na moralidade das instituições, a antropologia preocupa-se com a moralidade dos atores. Palavras-chave: políticas públicas; ciência política; antropologia; Orçamento Participativo.

INTRODUÇÃO

CSOnline – Revista Eletrônica de Ciências Sociais, ano 3, ed. 8, set./dez. 2009

POLÍTICAS PÚBLICAS: UMA ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA NOS CAMPOS DA CIÊNCIA POLÍTICA E DA ANTROPOLOGIA P á g i n a | 151 Quero começar este artigo narrando um episódio acadêmico. Em outubro de 2008, no âmbito de mais uma reunião da

Associação

Pós-

creio que a sub-área da análise de

Graduação e Pesquisa em Ciências

políticas públicas, no bojo da Ciência

i

Sociais ,

foi

Nacional

realizada

de

Mencionei este episódio, pois

mesa-

Política, padece do mesmo dilema. Na

redonda com o sugestivo título “Teoria

tentativa de compreender as ações do

política:

Estado, as políticas públicas tornaram-

entre

uma

empiria

e

normatividade”, onde os convidados

se

partiram do pressuposto de estar a teoria

cientificamente, dentro de uma agenda

política contemporânea encerrada em

propositiva de pesquisa que assumiu

um excesso de normativismo.

para si a tarefa de instrumentalizar os

Segundo a coordenadora da mesa-redonda,

cientista

de

serem

estudadas

gestores públicos (policymakers) na

política

produção de políticas mais eficazes,

Thami Pogrebinschi, este normativismo

mais afeitas à democracia, concebida

exacerbado

como

se

a

passíveis

refletiria

nas

duas

um

arranjo

institucional

principais vertentes de atuação da teoria

engendrado pelo povo para a produção

política contemporânea, quais sejam, a

de

teoria democrática e a teoria da justiça.

(Lasswell,

A esse propósito, por exemplo, a teoria

normativa de uma política pública é a

democrática de cunho participacionista

melhora das condições sociais, quando

não conseguiria dar conta dos dilemas e

a policy analysis aponta fragilidades,

problemas reais apontados pela própria

desvios de rota, precariedades e erros

experiência democrática. Pogrebinschi

que conduzem a uma não proficuidade

conclamou os pesquisadores convidados

destas

– os professores Cícero Araújo, Fabiano

horizonte justamente a melhoria dos

Guilherme Mendes Melo e Leonardo

indicadores sociais.

um

maior 1971).

políticas,

bem-estar Se

elas

a

têm

social questão

como

Avritzer – a vencerem o desafio de

Assim, em uma democracia

sustentar uma teoria política na qual

tanto os gestores públicos quanto os

empiria e normatividade encontrassem

cidadãos precisam saber o que está em

um termo de confluência. Voltarei a

jogo em um processo político. Todavia,

alguns pontos desta mesa-redonda mais

no afã de mobilizar um determinado

adiante.

conhecimento, a análise em políticas

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POLÍTICAS PÚBLICAS: UMA ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA NOS CAMPOS DA CIÊNCIA POLÍTICA E DA ANTROPOLOGIA P á g i n a | 152 públicas incorre no perigo de esvaziar o

políticas

públicas,

terreno da explicação em prol do

modelos de análise forjados tanto pela

delineamento de cursos normativos de

ciência

ação, tendo em vista que desde os

antropologia. O objetivo é aproximar as

tempos imemoriais a preocupação em

duas matrizes disciplinares que apenas

torno do que seja um bom governo e

artificialmente podem ser consideradas

qual seria o melhor Estado para garantir

distintas. Logo, não é minha intenção

e proteger a felicidade dos cidadãos se

estipular uma espécie de revisão de

constitui em uma abordagem da ciência

literatura sobre o tema de políticas

política, como testemunham os escritos

públicas, na tentativa de criar um olhar

clássicos de Aristóteles e Platão.

panorâmico sobre esta sub-área de

política

sublinhando

os

quanto

pela

A antropologia, por seu turno,

pesquisa. O enfoque será os textos mais

seria mais maquiaveliana, pois estaria

teóricos, um certa literatura, nos campos

interessada na política como ela é, não

da ciência política e da antropologia, à

como ela deveria ser. Concebendo-a

procura de identificar um paradigma. A

como uma categoria nativa, os estudos

esse propósito, na segunda parte deste

antropológicos questionaram certa visão

texto, com o intuito de articular as

instrumentalista da governança. Esta, ao

ferramentas teóricas criadas pelas duas

conceitualizar a política nos termos de

tradições disciplinares, será mobilizado

uma

da

um contexto empírico específico, qual

população de cima para baixo, através

seja, o Orçamento Participativo. Em um

de recompensas e sanções, terminou por

primeiro momento darei destaque à

reduzi-la

possibilidade

ferramenta

ao

de

seu

regulação

aspecto

técnico,

de

estas

racional, como se ela fosse tão somente

perspectivas

uma ação orientada para resolver certos

para em seguida demonstrar a grande

problemas. Mas a política também cria

distinção entre as duas, qual seja:

a socialidade, pensada em termos de um

enquanto certa literatura da ciência

acionamento das relações de poder

política está interessada na moralidade

(Clastres, 2003).

das

A

presente

comunicação

pretende ensejar uma discussão teóricometodológica

em

torno

do

como

pensar

instituições,

antropológica

complementares,

a

preocupa-se

literatura com

moralidade dos atores.

tema

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a

POLÍTICAS PÚBLICAS: UMA ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA NOS CAMPOS DA CIÊNCIA POLÍTICA E DA ANTROPOLOGIA P á g i n a | 153 AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO

social e econômica”. Nesse sentido, os

QUADRO DA CIÊNCIA POLÍTICA

estudiosos deste campo não estariam interessados na produção normativa do

Historicamente, o campo da análise

em

políticas

se

capacidade concreta e dos mecanismos

constituiu enquanto sub-produto da

de regulação reais nas áreas em que as

ciência política norte-americana. Desde

organizações

a década de 30, autores como H.

institucionais chanceladas pelo Estado

Laswell, H. Simon, C. Lindblom e D.

pretendem regular ou mesmo aparecer



Easton

públicas

Estado, mas nas suas ações – da

considerados

os

e

configurações

pais

como sendo o Estado real (Duebel,

fundadores deste vertente na ciência

2002) –, enfatizando muitas vezes a

política –, têm tomado as ações do

grande distância entre as intenções dos

Estado como campo de análise e

legisladores e as realizações concretas

conhecimento

(Souza,

do Estado. Neste quadro explicativo, as

2007). Apesar de não existir um

políticas públicas seriam “boas para

consenso entre os cientistas políticos no

pensar” o Estado, num quadro onde

que se refere a uma melhor ou mais

Estado e sociedade são concebidos a

aceitável definição de política pública,

partir de uma relação diádica.

acadêmico

todas elas, mesmo as mais minimalistas,

Se a política pública toma como

guiam o nosso olhar para o locus onde

ponto de partida para a sua análise o

acontecem os embates, qual seja, o

governo em ação, torna-se necessário

governo.

saber qual é a parte que lhe cabe na

De acordo com Arretche (2003,

definição e implementação de uma

p. 08), “há poucas dúvidas quanto ao

política pública. Curioso que tanto as

objeto de análise da subdisciplina de

teorias centradas na sociedade quanto

políticas públicas. A análise do 'Estado

aquelas centradas no Estado terminam

em

por orientar os seus esforços em torno

ação'

(...)

tem

como

objeto

específico o estudo de programas governamentais, particularmente suas condições mecanismos

de de

da gênese das ações do Príncipe. Entre as teorias que têm a

emergência,

seus

sociedade como pólo independente

operação

seus

(society-centered)

e

prováveis impactos sobre a ordem

destacam-se

as

teorias marxistas, as pluralistas e a

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POLÍTICAS PÚBLICAS: UMA ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA NOS CAMPOS DA CIÊNCIA POLÍTICA E DA ANTROPOLOGIA P á g i n a | 154 teoria das elites (Duebel, 2002). A

(Duebel, 2002). Neste quadro, não

classe política seria descrita pela três

causa estranheza o fato de a grande

literaturas sempre em uma posição de

maioria dos estudos deste campo terem

sobredeterminação. É assim que o

se centrado no processo decisório, na

Estado, para os marxistas, estaria a

gênese de uma política pública. A esse

serviço

propósito,

dos

interesses

do

capital,

por

exemplo,

temos

o

a

“incrementalismo”, o qual afirma que

reprodução do capitalismo; para os

nenhuma política parte do zero, mas

pluralistas, levando-se em consideração

cumulativamente a partir de decisões

a inexistência de um grupo societário

periféricas e fortuitas. Desta forma, as

que isoladamente consiga determinar

decisões tomadas no passado sempre

todos os rumos de um processo político

importam no presente, pois elas limitam

por um período prolongado de tempo,

e constrangem as ações futuras (Souza,

as políticas públicas seriam resultados

2003). Esta orientação refletiu-se nos

das lutas políticas entre os grupos que

modelos chamados de policy arena,

objetivam controlar o governo e as suas

pois estes partem do pressuposto de as

instituições (Dahl, 1961); por fim, para

reações e as expectativas das pessoas

os teóricos das elites, a conformação do

afetadas pelas políticas públicas terem

jogo do poder nas mãos de uma elite

um efeito antecipativo no que tange ao

governante teria como resultado a

processo

implementação de políticas que sempre

implementação de uma política (Frey,

seguem os interesses dos atores ali

2000).

viabilizando

a

dominação

e

político

de

decisão

e

representados, tornando completamente

Aos poucos, no bojo desta

enviesadas as ações governamentais sob

literatura, vai se consolidando um

a égide da democracia representativa

caráter processualístico nas análises em

(Hunter, 1953).

torno das políticas públicas, tendo em

Por outro lado, as teorias que

vista serem de fundamental importância

asseveram o Estado enquanto uma

a temporalidade, o jogo político, os

variável independente (state-centered),

atores, as facções a conformarem os

terminam

processos

por

concebê-lo

político-administrativos.

eminentemente como um seletor de

Comum a todas as propostas de

demandas e provedor de serviços

políticas são as fases de formulação, de

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POLÍTICAS PÚBLICAS: UMA ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA NOS CAMPOS DA CIÊNCIA POLÍTICA E DA ANTROPOLOGIA P á g i n a | 155 implementação

e

de

controle

dos

partiu do próprio campo da ciência

impactos. Este modelo teórico foi

política,

denominado de policy cycle, que tem

negligenciada pelos antropólogos que,

por mérito o amalgamento de distintas

talvez, por uma necessidade de marcar

abordagens avaliativas, quais sejam, a

as fronteiras disciplinares ou, digamos,

avaliação política, a análise de políticas

de sustentar as possíveis contribuições

públicas e a avaliação de políticas

da antropologia à ciência política,

públicas (Frey, 2000). Entretanto, este

terminam

modelo foi muito criticado, pois não

antropologia um poder de reflexividade,

necessariamente a gênese de uma

como se a ciência política fosse incapaz

política pública corresponde fielmente a

de refletir sobre a sua própria produção.

todas estas etapas, podendo haver saltos

Tal parece ser, por exemplo, o caminho

nestas

a

trilhado por Lima & Macedo e Castro

existência de outras variáveis empíricas

(2008) em um ensaio sobre o tema

(Souza, 2007).

políticas públicas.

fases

e/ou

inversões

e

Mesmo criticado, este modelo

constatação

por

Apenas

muitas

creditar

para

vezes

apenas

citar

à

alguns

teórico consolidou certa orientação

exemplos, as abordagens centradas nas

instrumentalista do Estado, cujo fim

ideias e nos conhecimentos em políticas

último é a anulação da própria política.

públicas tais como a advocacy coalition

A esse respeito é ilustrativo como Frey

e a policy learning, descentraram a

(2000) define a fase de avaliação. De

ênfase nas ações entendidas como

acordo com ele, a avaliação centra-se

racionais, movidas pelo interesse e

nos

guiadas

impactos

programa,

de um

determinado

constituindo-se

em

uma

pela

maximização

dos

benefícios, tão comuns às análises

etapa de aprendizagem política. Se o

clássicas

projeto foi bem-sucedido, suspende-se

políticos. “Mais do que atores racionais

ou anula-se o ciclo político; caso

perseguindo os seus interesses, é a

contrário, ele será renovado com o fito

interação

de corrigir o que havia saído errado.

diferentes formas de conhecimento que

Contudo, quero enfatizar que a crítica

à

visão

instrumentalista

do

racionalista aparato

e

estatal

em

de

torno

dos

valores,

processos

normas

e

caracteriza o processo das políticas [policy process]” (John apud Faria, 2003, p. 23).

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POLÍTICAS PÚBLICAS: UMA ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA NOS CAMPOS DA CIÊNCIA POLÍTICA E DA ANTROPOLOGIA P á g i n a | 156 Assim,

com

os

um paradigma, qual seja, o de esta

cientistas políticos que atuam nessa área

literatura estar preocupada com o

de análise de políticas públicas foram

chamado studying up, o estudo do

percebendo que a implementação não é

Estado, suas instituições e os atores que

um processo neutro. De acordo com

têm o privilégio de circular em seu

Yanow (1987), em vez de perguntarmos

tecido corporativo. Farei isso a partir da

que tipo de implementação existe, seria

análise da parte teórica do livro Redes

mais profícuo indagarmos sobre como

sociais, instituições e atores políticos

os executores e os destinatários das

no governo da cidade de São Paulo, do

políticas interpretam a norma, para logo

cientista político Eduardo Marques,

após analisar a implementação em

pois,

função

suas

institucionalista mostra-se tão mais

compatibilidades e discrepâncias para

evidente em análises que mobilizam a

com a norma.

categoria das redes sociais para melhor

destas

o

tempo,

interpretações,

Esta interação entre executores e

o

triunfo

desta

perspectiva

compreender a arquitetura do Estado.

destinatários de políticas, entre Estado e

Nesta obra, Marques (2003)

sociedade, será o enfoque das chamadas

enfoca a política pública de infra-

teorias mistas (Duebel, 2002), que

estrutura urbana na cidade de São

rechaçam, de um lado, o racionalismo

Paulo, centrando-se na Secretaria de

economicista ou social predominante

Vias Públicas (SVP) entre 1975 e 2000.

nas análises society-centered e, por

A SVP é um órgão da administração

outro, se nega a considerar a sociedade

direta, dependente da transferência de

como cativa de um Estado dominado

recursos

por um grupo minoritário (as análises

Prefeitura,

state-centered). Estão neste rol as

migrações

teorias

administração pública, cuja rede social

neocorporativistas,

neo-

por

parte

apresentando para

setores

do

da

sociais (policy networks), a teoria da

hegemonizada por um único grupo

ação, entre outras.

ligado a um número restrito da elite

Apenas quero destacar a existência de

parte

intensas

foi,

genealogia desta produção teóricaii.

maior

outros

da

institucionalistas, as análises de redes

Não é meu intuito fazer uma

na

financeiros

tempo,

política. Poder-se-ia

pensar

que,

ao

mobilizar a variável redes sociais, o

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POLÍTICAS PÚBLICAS: UMA ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA NOS CAMPOS DA CIÊNCIA POLÍTICA E DA ANTROPOLOGIA P á g i n a | 157 autor estaria considerando as políticas

programas específicos. Centrar-se no

públicas como uma porta de entrada

conjunto de relações entre os atores

para a compreensão da sociedade.

estatais e os atores externos a ele, mas

Todavia, as perguntas que Marques

que possuem ligações de diversas

(2003) objetiva responder não deixam

naturezas, é uma forma de criar uma

dúvidas acerca dos seus interesses. Eis

ponte entre os dois pólos.

os questionamentos: Quais são os

Assim, a melhor forma de se

elementos mais relevantes a influenciar

compreender o Estado consiste na

as ações do Estado? Se as suas ações

investigação dos atores que circulam em

não

por

suas malhas (o tecido relacional do

macroprocessos externos à política,

Estado). Os três atores principais a

quais

questões

figurar no estudo são: os membros da

de

uma

classe política; os capitais envolvidos

política pública, assim como em quais

com a produção concreta de obras e

situações cada um deles consegue

serviços contratados pelo Prefeitura; e

transformar seus interesses em políticas

os membros da burocracia estatal

e ações?

envolvidos direta ou indiretamente com

são

sobredeterminadas

são

os

envolvidas

no

Seu

atores

e

desenrolar

interesse

é,

pois,

o

a política.

funcionamento do Estado. Segundo ele

No que tange ao padrão de

(Marques, 2000), apesar de o Estado ter

interação entre estes atores e o Estado,

sido bastante estudado, ainda sabemos

Marques desconsidera as três vertentes

pouco a respeito de seu funcionamento.

teóricas mais acima sumariadas, quais

Tal carência de conhecimento se deve

sejam, a teoria das elites, o pluralismo e

eminentemente

caráter

o marxismo. O autor utiliza-se, pois, de

ensaístico das

uma abordagem neo-institucionalistaiii.

análises, cuja preocupação girava em

Para autores como Skocpol (1985) e

torno

no

Evans (2004), o Estado e o seu aparato

desenvolvimento, na industrialização e

burocrático não seriam subordináveis

na construção da ideia de nação. Isso

aos interesses de grupos e de agentes

terminou por criar uma clivagem entre

localizados na sociedadeiv. As agências

as grandes interpretações sobre o Estado

estatais e a burocracia seriam os

e as pesquisas microssociológicas sobre

elementos

macrossociológico e

do

papel

ao

do

Estado

chave

no

processo

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de

POLÍTICAS PÚBLICAS: UMA ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA NOS CAMPOS DA CIÊNCIA POLÍTICA E DA ANTROPOLOGIA P á g i n a | 158 decisão, elaboração e implementação de

que vem assim a solapar as bases da

uma

política

Uma

outra

teoria da escolha racional, na medida

respeito

ao

em que as instituições aparecem como

enquadramento da política efetuado

forças motrizes para o decurso de uma

pelas instituições políticas, entendida

dada política, não sendo associadas,

como as regras que governam o jogo. A

como frequentemente faz o senso

isso Skocpol (1985) chamou de “caráter

comum, à inérciav (Souza, 2007).

dimensão

pública. diz

tocquevilleano”

das

instituições

Para concluir esta parte, convém

políticas, ou seja, a “modelagem” do

lembrar que, em relação à literatura

campo da política perpetrada pelas

brasileira sobre o Estado e as políticas

regras do desenrolar do jogo político.

públicas,

Não cabe neste espaço discutir

a

grande

parcela

desta

produção filia-se mais diretamente com

as descobertas feitas por Marques

a

acerca da burocracia paulistana. Quero

política, qual seja, aquela que tem

apenas destacar que o arcabouço neo-

justamente como objeto o sistema

institucionalista utilizado pelo autor

político, as suas instituições e, em

guia

menor escala, o Estado brasileiro em

o

nosso

olhar

para

o

tradição

mainstream

suas

regras do jogo no processo decisório.

clientelismo, o patrimonialismo ou o

Neste

perspectiva

autoritarismo (Melo, 1999). Mesmo os

encontra um termo de confluência com

outros dois subconjuntos de trabalhos

os postulados da teoria da escolha

apontados por Melo (1999) não tiveram

racional, quando esta afirma que nem

por interesse o desvelamento

sempre interesses individuais agregados

padrões que regem as ações dos atores,

geram uma ação coletiva, e tampouco a

muito embora estes estudos pouco

ação

coletiva

coletivos.

No

institucionalismo

esta

tais

ciência

constrangimento proporcionado pelas

sentindo,

peculiaridades,

da

como

o

dos

proporciona

bens

explorassem as questões de natureza

entanto,

o

neo-

mais institucional ou mais estritamente

mostra

que

nem

política. Assim, as análises centradas

sempre um gestor pode seguir seu auto-

nas

políticas

setoriais

interesse, pois o seu cálculo estratégico

subconjunto) procuraram identificar as

está confinado na arena mais ampla das

especificidades

regras, papéis, identidades e ideias; o

brasileiro; enquanto que o terceiro

do

(segundo

welfare

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state

POLÍTICAS PÚBLICAS: UMA ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA NOS CAMPOS DA CIÊNCIA POLÍTICA E DA ANTROPOLOGIA P á g i n a | 159 campo de trabalhos buscou avaliar a

problemas políticos são identificados,

implementação

como são habilitadas as classificações

políticas

de

públicas,

determinadas notadamente

as

particulares de grupos-alvo e como são

políticas de caráter redistributivo, com o

legitimadas certas soluções políticas em

intuito de sublinhar as virtudes e as

detrimento de outras (Wedel et al.,

deficiências das formulações presentes

2005).

nos desenhos institucionais de uma

Assim,

numa

política (Melo, 1999). Logo, eram as

antropológica,

ações governamentais o enfoque destes

simultaneamente no mais amplo (wider)

três grandes campos de pesquisa em

e no restrito (narrow): o primeiro

políticas públicas no Brasil.

explora como o Estado (ou as personas

o

perspectiva

enfoque

está

Enfim, sobre tudo o que foi dito

que estão autorizadas a falar em seu

até agora ressalta-se o estudo das

nome) se referem às populações locais;

políticas

o segundo, sendo uma abordagem

públicas

a

partir

das

instituições estatais. Destino diverso

exemplarmente

tiveram

como

as

pesquisas

de

cunho

as

etnográfica, políticas

explora

estatais

e

antropológico. Este será o assunto do

governamentais são experienciadas e

próximo bloco.

interpretadas pelas pessoas, mantendo em mente que os antropólogos estão redistribuindo (recasting) o local e a

A MIRADA ANTROPOLÓGICA

comunidade O ponto de partida de uma abordagem antropológica da política pública é examinar os pressupostos e os

a

fim

de

capturar

realidades mutáveis (Wedel et al., 2005). Neste

sentido,

o

olhar

por

certo

quadros de debates políticos. Mesmo

antropológico

prima

aquelas políticas que se arrogam como

descentramento

dos

neutras são eminentemente políticas. De

antropologia das políticas públicas, ou,

fato, o ocultamento da política sob o

digamos, do “Estado em ação”, para me

véu

utilizar da definição cara aos cientistas

da

neutralidade

característica

da

é

a

grande

modernidade.

objetos.

Uma

A

políticos, não está centrada na análise

antropologia se incumbiu de mostrar as

do Estado, do governo, tampouco do

maneiras dominantes pelas quais os

poder; ela volta-se para o estudo das

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POLÍTICAS PÚBLICAS: UMA ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA NOS CAMPOS DA CIÊNCIA POLÍTICA E DA ANTROPOLOGIA P á g i n a | 160 relações entre as diversas instâncias

Desta forma, a antropologia não

estatais, com o fito de compreender os

se serve de um conceito imutável de

princípios

política; pelo contrário, concebendo-a

que

regem

o

seu

funcionamento, bem como para as

enquanto

relações entre Estado e sociedade que

questão passa a ser como a política

tornam possíveis a implementação de

funciona na formatação da sociedade.

programas governamentais (Miranda et

Em outras palavras, a pergunta é: o que

al., 2007).

as pessoas fazem em nome da política?

De fato, a análise das relações

A

uma

própria

categoria

etimologia

nativa,

da

a

palavra

sociais em detrimento das instituições

“política” revela as díspares funções por

que compõem o tecido estatal remete à

ela atendidas, cobrindo um vasto campo

vertente clássica da disciplina, que se

de atividades. A França medieval nos

incumbiu do estudo das chamadas

oferece um destes sentidos, qual seja,

sociedades

organizar e regular a ordem interna, na

sem

Estado.

Uma

das

principais contribuições destes estudos

qual

antropológicos, baseados na etnografia

autoritárias

dos sistemas políticos africanos em

exemplo,

meados dos anos 40, foi retirar a

homogeneização da heterogeneidade

questão

esfera

social. Por seu turno, a Inglaterra dos

comumente relegada a ele pela filosofia

séculos XV e XVI nos oferece dois

política, qual seja: o Estado. Desta

significados distintos para o termo: de

forma, tornou-se possível pensar a

um lado, pode significar sagacidade,

existência de um poder político sem a

prudência; por outro, pode denotar a

presença de um aparato coercitivo, mas

dissimulação e a astúcia (Wedel et al.,

como que disseminado, ou melhor,

2005).

como

do

um

“político”

produto

do

as

Estado

a

intenções como,

tentativa

por de

socialidade

O leitor mais precavido pode

humana, em processos de identificação

objetar que também a policy analysis,

e de diferenciação em torno das

no bojo da ciência política, não

relações

parentesco

negligenciou a pluralidade do termo

(Beviláqua & Leirner, 2000). O grande

“política”. Levando em consideração a

marco desta tradição teórica foi Os

semântica

Nuer de Evans-Pritchard (1978 [1940]).

confere

clânicas

e

da

da

vislumbramos

de

da

língua

significados

inglesa,

que

distintos

aos

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POLÍTICAS PÚBLICAS: UMA ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA NOS CAMPOS DA CIÊNCIA POLÍTICA E DA ANTROPOLOGIA P á g i n a | 161 termos

polity

instituições

(em

referência

políticas),

Estado neste sentido não existe no mundo fenomênico; ele é uma ficção dos filósofos. O que existe é uma organização, isto é, uma coleção de indivíduos ligados por um complexo sistema de relações... Não há tal coisa como o poder do Estado (Radciffe-Brown, 1955 [1940], p. xxiii, tradução minha)vi.

às

politics

(denotando os processos políticos) e policy (significando os conteúdos da política), esta literatura integraria as distintas esferas cobertas pelo conceito. Todavia, notem que a todas estas definições escapam algumas que são caras à antropologia, quais sejam: a

Segundo os antropólogos da

política enquanto estratégia (Vincent,

Universidade de Oslo, Krohn-Hansen &

1978) e como ação simbólica (Cohen,

Nustad (2002), Radcliffe-Brown estava

1969), para ficar em apenas dois

parcialmente correto. Muito embora ele

exemplos.

tenha

Uma das consequências desta

prestado

um

antropologia

desserviço

ao

à

desacreditar

opção teórica de considerar a política

completamento o Estado enquanto um

como uma categoria êmica foi a

possível

relutância dos antropólogos em ofertar

corretamente insistiu em não tratá-lo

alguma definição ao termo “Estado”.

como um objeto concreto, evitando o

Aliás, houve mesmo certa rejeição do

perigo do fetichismo. Ora, na medida

Estado enquanto um objeto de estudo.

em que a política passou a ser

Assim,

African

considerada como estando disseminada

political systems, escrito por Meyer

no socius, os antropólogos, ao se

Fortes e Evans-Pritchard, texto que

depararem

definiu a antropologia política por

governamentais, tenderam a analisar as

muitos anos, Radcliffe-Brown escreveu:

políticas

na

introdução

ao

objeto

pesquisa,

com

sociais,

sobremaneira O Estado (...) representado como sendo uma entidade acima dos seres humanos que edificam a sociedade, tendo como um de seus atributos algo chamado de “soberania”, e às vezes considerado como tendo uma vontade... ou comandos de emissão. O

de

as

ele

políticas

concentrando-se

nos

desvios,

nos

subterfúgios e nos “mecanismos de defesa” camadas

usados menos

pelos

setores

favorecidas

das para

enfrentar os poderes estatais (Lima & Macedo e Castro, 2008). No quadro mais amplo dos estudos sobre as

CSOnline – Revista Eletrônica de Ciências Sociais, ano 3, ed. 8, set./dez. 2009

POLÍTICAS PÚBLICAS: UMA ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA NOS CAMPOS DA CIÊNCIA POLÍTICA E DA ANTROPOLOGIA P á g i n a | 162 consequências da política colonialista, há

um

problema

na

antropologia

Todavia, são de natureza distinta as

motivações

que

orientam

política dos anos 70 e 80 que diz

antropólogos e cientistas políticos. Se,

respeito a como articular o local com o

no campo da ciência política, as

global. Os estudos sobre a resistência

políticas públicas são uma porta de

são um caso emblemático, tendo em

entrada ao Estado, cujo fim último da

vista eles terem mergulhado em duas

análise é a compreensão das ações

aporias: por um lado, romantizaram a

estatais, para a antropologia, ainda que

criatividade do espírito humano em

concorde com o mesmo postulado, as

recusar a dominação perpetrada pelos

políticas públicas são um modo de

grandes sistemas de poder; por outro,

articular as relações entre Estado e

trataram o poder como algo exterior à

sociedade,

englobadas

política local, esta sendo vista como um

podemos

chamar

dos últimos focos da resistência, fonte

culturais” (Shore & Wright, 1997). Em

residual da liberdade (Shore & Wright,

outras palavras, o método antropológico

1997).

não estaria confinado ao que Nader

naquilo de

que

“sistemas

Desta forma, posso falar em uma

(1972) chamou de “studying up”,

clivagem em torno da hierarquia social

significando o enfoque nas corporações,

dos objetos: enquanto os estudos no

nas elites e nos centros de poder como

campo da ciência política estiveram

um antídoto à tradicional ênfase no

preocupados com o “studying up”, os

“studying down”. Em verdade, trata-se

estudos

antropológico

do que Reinhold (apud Shore & Wright,

orientaram os seus esforços para o

1997) chamou de “studying through”:

“studying down”. Neste quadro, é

traçar os caminhos pelos quais o poder

curioso perceber que os antropólogos

cria conjuntos e relações entre atores,

concordam com os cientistas políticos

instituições e discursos através do

quanto ao malogro das pesquisas sobre

espaço e do tempo.

de

caráter

políticas públicas que não vislumbrem a

Ainda

que

orientadas

possibilidade de encontrar nelas uma

preocupações

via de acesso ao Estado (Lima &

disciplinas podem ser proveitosamente

Macedo e Castro, 2008; Beviláqua &

articuladas,

Leirner, 2000).

diferenciações

distintas,

ainda

que

as

por duas

algumas

permaneçam.

CSOnline – Revista Eletrônica de Ciências Sociais, ano 3, ed. 8, set./dez. 2009

Tal

POLÍTICAS PÚBLICAS: UMA ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA NOS CAMPOS DA CIÊNCIA POLÍTICA E DA ANTROPOLOGIA P á g i n a | 163 articulação é o objetivo do próximo

perspectiva institucional centrada no

bloco. Para tanto, utilizarei dois textos –

sistema

um de caráter antropológico; outro,

instituições nacionais), ou enxergavam

pertencente

ciência

os movimentos sociais no âmbito da

política – que versam sobre o mesmo

sociedade civil como única chave

assunto,

explicativa para o supracitado período

ao

campo

qual

seja,

da

o

Orçamento

Participativo.

político

formal

e

nas

(as teorias da sociedade civil centradas na ação coletiva). Ora, dizem os

O ORÇAMENTO PARTICIPATIVO EM DOIS TEMPOS Começarei

pelo

texto

dos

cientistas políticos Brian Wrampler e Leonardo

Avritzer,

Públicos

participativos: sociedade civil e novas instituições

no

Brasil

democrático

(2004). O pano de fundo macrossocial deste

artigo

é

o

redemocratização consequente

do

contexto país

proliferação

e

de a de

experiências participativas em torno dos governos

locais,

libertados

dos

que,

uma

vez

constrangimentos

autores, ambos os pontos de vista negligenciam as relações entre Estado e sociedade. Em outras palavras, não há como responder à questão de como as organizações da sociedade civil podem alterar as instituições nacionais. Tal é o objetivo deste artigo. Para tanto, os autores se utilizam da experiência do Orçamento

Segundo os autores, as correntes teóricas que tentaram explicar esse período de transição se utilizaram de modelos mutuamente excludentes: ou sobremaneira

três

cidade pioneira), Belo Horizonte e Recife –, a partir de dados obtidos por surveys e utilizando-se do conceito teórico de “públicos participativos”. Por “públicos Participativos” os autores

compreendem:

“cidadãos

organizados que buscam superar a

sua plena efetivação.

enfatizavam

em

capitais brasileiras – Porto Alegre (a

suscitados por um regime político autoritário, encontraram terreno para a

Participativo

a

desmobilização da sociedade civil (a

exclusão social e política por meio da deliberação pública, da promoção de transparência

e

responsabilização

(accountability) e da implementação de suas preferências políticas” (Wrampler & Avritzer, 2004, p. 212). Com o conceito, os autores pretendem encurtar

CSOnline – Revista Eletrônica de Ciências Sociais, ano 3, ed. 8, set./dez. 2009

POLÍTICAS PÚBLICAS: UMA ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA NOS CAMPOS DA CIÊNCIA POLÍTICA E DA ANTROPOLOGIA P á g i n a | 164 a

distância

entre

a

perspectiva

A partir dos surveys, os autores

institucional e as teorias da sociedade

verificaram o aumento gradual da

civil.

participação cidadã nos municípios de A emergência dos “públicos

Porto Alegre e Belo Horizonte; Recife

participativos” se deu, afirmam os

foi a exceção. De acordo com os

autores, a partir de três estágios. O

autores, o incremento das taxas de

primeiro

à

participação nas duas cidades pode ser

renovação da vida política nos grandes

creditado à mobilização dos cidadãos

centros

do

filiados ao Partido dos Trabalhadores

desmantelamento do regime militar. O

(Porto Alegre) e ao Partido Socialista

segundo corresponde à percepção de

Brasileiro

(Belo

serem as associações civis um espaço

segunda

explicação

alternativo

para

da

possibilidade de o OP ter incorporado

democracia.

As

civis

de forma bem sucedida os cidadãos que

tomaram para si a tarefa de enfrentar a

já tinham uma carreira pregressa de

tradição clientelista e hierárquica que

engajamento. No entanto, tanto em

caracteriza o país. O terceiro estágio

Porto Alegre, como em Belo Horizonte,

corresponde

com o passar do tempo, as taxas de

estágio

corresponde

urbanos,

à

a

o

partir

exercício

organizações

implementação

de

Horizonte). aventa

participação

política por parte dos cidadãos.

maneira mais vertiginosa nas regiões

concentram

de

com baixa tradição de participação

Orçamento

política. Isso se explica, afirmam os

Participativo, devido ao fato de ser ele

autores, pelos chamados “efeitos de

um

inovador,

demonstração” (Wrampler & Avritzer,

incorporando os atores sociais em um

2004, p. 225). Na medida em que os

processo que, ao longo de um ano,

cidadãos

produz

vantagens da deliberação face a face,

formato

no

crescendo

a

instituições que permitam a deliberação

Nessa terceira fase, os autores se

foram

Uma

deliberativo

decisões

baseadas

em

foram

negociações e deliberações acerca de

eles

passaram

bens públicos. Como dito acima, as três

engajamento.

percebendo

a

ter

um

as

maior

experiências que serviram de substrato

Quando o OP não permite a

para o artigo foram as das cidades de

deliberação e a negociação, esses

Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife.

“efeitos de demonstração” tornam-se

CSOnline – Revista Eletrônica de Ciências Sociais, ano 3, ed. 8, set./dez. 2009

POLÍTICAS PÚBLICAS: UMA ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA NOS CAMPOS DA CIÊNCIA POLÍTICA E DA ANTROPOLOGIA P á g i n a | 165 mais rarefeitos. É o caso de Recife. Os

Por fim, os autores mostram que

autores apontam dois fatos para a baixa

Porto Alegre foi a cidade que mais

ênfase depositada nos procedimentos do

implementou as medidas sugeridas pelo

OP

OP.

na

capital

pernambucana:

o

O

malogro,

em

termos

“pelegismo” – para me utilizar de um

comparativos, de Belo Horizonte e

verbete

círculos

Recife pode ser creditado à breve

esquerdistas – dos líderes comunitários

duração desta experiência participativa,

que se aproveitaram do momento de

porém, sugerem os autores, os fatores

explosão dos movimentos sociais na

mais proeminentes seriam: a pouca

década de 80 para canalizar suas

determinação dos líderes comunitários

próprias demandas; e a falta de vontade

de promover deliberações públicas (em

política da coalização dos partidos

Recife

centristas e tradicionais em torno do

complicado) e a falta de habilidade para

OP.

a formação de coalizões com partidos

corrente

nos

Tanto em Porto Alegre quanto

o

quadro

é

ainda

mais

de esquerda.

em Belo Horizonte, os autores puderam constatar a mudança de atitude dos

***

cidadãos na maneira com que eles mobilizavam Anteriormente

as ao

suas OP,

demandas. era

mais

Como contraponto, apresentarei o texto do antropólogo Arley Santos

freqüente se adquirir bens públicos a

Damo,

Cultura

partir da mediação de políticos, nos

engajamento

termos de relações clientelistas. Após o

Participativo (2008).

OP, a maioria dos respondentes do

Neste

agência:

no

artigo,

o

Orçamento

Damo

elabora

acesso aos recursos através do novo

experiência do OP em Porto Alegre. No

formato

os

título, ao fazer uma referência à questão

mesmos dados para Recife, mas as

da agência, entrevemos qual é o

evidências empíricas sugerem não ter

interesse

havido resultados semelhantes, tendo-se

perspectiva dos atores que estão imersos

em vista ter sido o OP galvanizado por

nesse processo. Assim, ele afirma:

Não



do

etnografia

(2008)

questionário afirmou ser capaz de obter

institucional.

uma

e

ator,

qual

sobre

seja:

intenções de cunho patrimonial.

CSOnline – Revista Eletrônica de Ciências Sociais, ano 3, ed. 8, set./dez. 2009

a

a

POLÍTICAS PÚBLICAS: UMA ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA NOS CAMPOS DA CIÊNCIA POLÍTICA E DA ANTROPOLOGIA P á g i n a | 166 Interesso-me pela maneira como certos indivíduos se põem em ação, escapando ao destino da abstenção e da delegação ao qual estariam pretensamente condenados. Isso implica lançar um olhar sobre o itinerário de agentes que se engajaram no OP de maneira tal que esse processo altera o significado de termos como política, democracia, participação, cidadania e assim por diante (Damo, 2008, p. 52).

a quem eles supostamente representam

Logo, se Wrampler & Avritzer

participação no âmbito da sociedade

(2004) objetivaram entender como as

civil, a abordagem antropológica nos

organizações da sociedade civil operam

permite compreender os padrões desta

mudanças

estatais,

participação. É assim, por exemplo, que

Damo (2008) pretende compreender

Damo (2008) identifica haver uma

como o curso das políticas públicas

tensão entre os participantes filiados a

operam

partidos

nas

instituições

mudanças

nas

trajetórias

individuais.

e o Estado, os conselheiros, nas reuniões de deliberação, colocam em jogo a sua reputação, o seu capital simbólico, e nesse caso não há grande discrepância em relação à maneira como

os

políticos

profissionais

manejam o seu capital político. Ora, se por “públicos participativos” entendemos

a

políticos

emergência

e

aqueles

da

sem

nenhuma filiação; segundo a linguagem

A esse respeito, não existiria um único sentido para a atuação na democracia

participativa,

local, são definidos como “adesivados” e não “adesivados”.

como

Por outro lado, aquilo que aparece

implicitamente o conceito de “públicos

como uma evidência no texto de

participativos” deixa transparecer, como

Wrampler & Avritzer (2004), no que

se,

OP,

diz respeito à relação entre coalizões de

em

partidos de esquerda e maior efetividade

direção à eliminação das relações

do OP, é confirmado pelos dados

clientelísticas de poder. Damo (2008)

etnográficos. De acordo com Damo

explicita

dos

(2008), as mudanças suscitadas pela

conselheiros do OP pode ser melhor

dinâmica eleitoral – a substituição de

compreendida

termo

um governo petista por um governo do

“mediação”. Estando no centro da

PMDB – implicaram em uma perda

atividade de mediação entre os cidadãos

considerável da qualidade dos debates

com

o

advento

caminhássemos

do

inexoravelmente

que

a

a

atividade

partir

do

CSOnline – Revista Eletrônica de Ciências Sociais, ano 3, ed. 8, set./dez. 2009

POLÍTICAS PÚBLICAS: UMA ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA NOS CAMPOS DA CIÊNCIA POLÍTICA E DA ANTROPOLOGIA P á g i n a | 167 políticos. “A diferença entre as gestões

sempre se preocupar apenas com a sua

é determinada, em boa medida, pelo

comunidade, muito embora em seus

fato de que os petistas tinham convicção

discursos

ideológica acerca da pertinência do OP,

solidariedade entre as classes populares.

enquanto os partidários de Fogaça [o

Entre os seus críticos destacavam-se

prefeito

justamente aqueles para quem o OP

peemedebista]

preocupados

em

revelaram-se honrar

um

compromisso de campanha eleitoral (Damo, 2008, p. 77-78).

ele

clamasse

pela

seria mais que um dispositivo por meio do qual se conquistam bens materiais. Não



espaço

para

o

Todavia, a preocupação central do

descortinamento de todas as histórias de

autor é compreender a maneira como a

vida apresentadas pelo autor. Quero

democracia

vivida

apenas pontuar que com a leitura do

concretamente. A esse propósito, muitas

texto de Damo o OP aparece como um

vezes a orientação dos atores contradiz

campo de negociações e articulações,

o credo das instituições. Se o OP era

possibilitando, inclusive, a entrada em

considerado por muitos militantes como

cena de indivíduos representantes das

um

de

classes mais abastadas, tendo em vista

formação para a cidadania, isso por

que ele, em termos da democracia

vezes era motivo para o tensionamento

participativa,

prevê

não

das relações, pois se o OP seria o

participação

das

classes

terreno formidável para a superação da

favorecidas, mas também as mais

exclusão social, como corretamente

afortunadas da sociedade. Tal foi o caso

afirma

“públicos

de Seu Hervê, engenheiro aposentado

participativos”, muitas vezes a ascensão

da Petrobrás, e Pedro Zabaleta, próspero

social de alguns indivíduos acarretava a

empresário, que foram levados ao OP

própria negação dos princípios que

devido a questões pragmáticas, relativas

regem este formato institucional. Este

às associações que representavam (Seu

pode ser o caso de Chiquinho dos

Hervê lutava pela reforma da quadra de

Anjos, um dos líderes políticos que

esportes de seu bairro, enquanto Pedro

emergiram no OP a partir da luta pela

Zabaleta

moradia.

críticos,

pessoas em relação à importância da

Chiquinho seria uma pessoa egoísta, por

geração de empregos). Após certo

participativa

espaço

o

de

é

pedagogizaçao,

conceito

Segundo

de

seus

tentava

apenas

a

menos

conscientizar

CSOnline – Revista Eletrônica de Ciências Sociais, ano 3, ed. 8, set./dez. 2009

as

POLÍTICAS PÚBLICAS: UMA ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA NOS CAMPOS DA CIÊNCIA POLÍTICA E DA ANTROPOLOGIA P á g i n a | 168 período de estranhamento, no qual

estado de coisas é satisfatório ou não,

ambos não compreendiam o léxico

aceitável

empregado nas reuniões, tanto Seu

nenhuma explicação pode fazer. O juízo

Hervê quanto Pedro Zabaleta foram

providencia ao ator motivos para ele

demonstrando capacidade de interação

manter ou modificar este estado de

para

a

coisas. Mas qualquer teoria normativa

trajetória de líderes populares nos

bem elaborada levará em consideração

permite afiançar que eles não entraram

todas as explicações sobre o dado. De

na política por diletantismo; antes,

acordo com ele:

com

a

diferença.

Assim,

ou

não,

perguntas

que

foram galvanizados por ela (Damo, Há um sentido mais estrito para o termo normativo, e por sinal este é o mais utilizado. De fato normativo se refere a normas, princípios e princípios de regras. E normas, princípios e princípios de regras não remetem diretamente aos atores. Mas à mediação de atores, instituições políticas e sociais. Assim, a pedra de toque da teoria política normativa é que o normativo diz respeito à moralidade das instituições, e não a moralidade dos indivíduos. Assim, por exemplo, a justiça não é virtude de pessoas, mas uma virtude de ou das instituições (Anpocs, 2008).

2008). Guardadas

as

distinções

metodológicas entre os dois textos – o primeiro foi baseado em uma pesquisa quantitativa, enquanto o segundo foi alicerçado por um método qualitativo –, que, em termos rígidos, corresponde à clivagem entre explicação (método quantitativo)

e

compreensão

(abordagem qualitativa), quero pontuar que a grande diferença entre os dois escritos está no caráter normativo do olhar da ciência política. E aqui eu volto para o tema da mesa-redonda que abriu este artigo. Nesta mesa-redonda, o cientista político Cícero Araújo (Anpocs, 2008) afirmou que não podemos entender a teoria normativa como uma ficção política, pois ela pretende estar no campo

do

possível.

Uma

teoria

normativa questiona se determinado

Logo, em termos da análise em políticas públicas, posso afirmar que certa literatura no âmbito da ciência política mostra-se deveras normativa, nos termos de Araújo (Anpocs, 2008), não significando uma produção voltada para o dever-ser da política, mas preocupada

com

a

saúde

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das

POLÍTICAS PÚBLICAS: UMA ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA NOS CAMPOS DA CIÊNCIA POLÍTICA E DA ANTROPOLOGIA P á g i n a | 169 instituições, no quadro das democracias

políticos, sociólogos e antropólogos

modernas. Os estudos antropológicos,

caberia o empenho de analisar policies

por seu turno, interessaram-se pelo

como práticas políticas, práticas essas

ponto de vista do ator, que pode sim

onde

agir

valores

normativamente,

porém

suas

a

interação e

entre

normas quanto

interesses,

merece os

tanta

motivações não se constituem uma

consideração

critérios

norma.

técnicos e as restrições orçamentárias”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Abstract Esse texto representou um esforço em equilibrar as perspectivas da ciência política e da antropologia em relação ao tema das políticas públicas, procurando estabelecer um termo de diálogo entre as duas disciplinas que frequentemente se ignoram mutuamente. Penso que a compreensão do “Estado em ação” só pode ser efetivamente alcançada se pudermos

observar

os

aspectos

subjetivos que estão implícitos na implementação de uma política pública, bem como integrar a esses dados de caráter

mais

etnográfico

as

preocupações em torno das questões normativas das instituições. Nesse sentido, devemos evitar a ênfase apenas nos aspectos técnicos; tampouco,

devemos

mergulhar

no

perigo oposto de aderir acriticamente a valores ideológicos. Como diz Elisa P. Reis (2003, p. 13), “a nós cientistas

Although there is not a consensus among political scientists with regard to a better or more acceptable definition of public policy, all of them, even the most minimalist guide our attention to the locus where the conflicts occur, namely, government. Thus, one can say that hegemonic political science from the perspective of the Prince to better understand the actions of the state. Anthropologists, in turn, faced with government policies have tended to analyze social policies, focusing excessively on deviations in subterfuge and “defense mechanisms” used by sectors of the disadvantaged sections to address the state powers. Thus, one can speak of a gap around the social hierarchy of objects: as political science was concerned with “studying up”, anthropology has directed its efforts to “studying down”. This communication seeks to identify theoretical and methodological discussion around the topic of public policy, emphasizing the analysis models forged by both political science and anthropology. The goal is to bring the two matrixes disciplinary only artificially can be considered distinct. So, I will use two texts - an anthropological and another belonging to the field of political science - that

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POLÍTICAS PÚBLICAS: UMA ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA NOS CAMPOS DA CIÊNCIA POLÍTICA E DA ANTROPOLOGIA P á g i n a | 170 deal with the same subject, namely, the Participatory Budget. At first point it as the prospects may be complementary to then show the great distinction between the two, namely, while political science is interested in the morality of institutions, anthropology is concerned with the morality of the actors. Keywords: public policy; political science; anthropology; Participatory Budgeting.

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NOTAS i Este relato está baseado em vídeos que compõem a videoteca da ANPOCS. Ver referências na bibliografia. ii Para uma análise das diversas vertentes teóricas sobre a análise em políticas públicas, ver os já citados Frey (2000), Duebel (2002) e Souza (2007). iii Para uma análise das três vertentes do neo-institucionalismo, quais sejam, o institucionalismo histórico, o institucionalismo de escolha racional e o institucionalismo sociológico, ver Hall & Taylor (2003). Todas estas versões tratam, por ângulos distintos, do papel desempenhado pelas instituições na configuração dos resultados sociais e políticos. iv Neste sentido, o neoinstitucinalismo guarda certa afinidade com a produção marxista das décadas de 60 e 70 – o neomarxismo – quando esta assume a existência de uma “autonomia relativa do Estado”. Assim, o Estado, para desempenhar o papel regulatório que o capitalismo necessita para a sua reprodução, se voltaria contra os interesses dos próprios capitalistas, tendo em vista eles estarem sempre orientados para a maior acumulação de riquezas. Logo, esta literatura reconhece o papel desempenhado pelos capitais na produção das políticas, o que de certa forma contraria o postulado clássico dos marxistas do determinismo econômico. Ver sobre o assunto Poulantzas (1986). v A esse propósito, o neoinstitucionalismo se diferencia das abordagens institucionalistas tradicionais, na medida em que ele extrapola o conceito de “instituição”, passando a englobar não apenas a estrutura formal, mas também as crenças, paradigmas, culturas, tecnologias e saberes que muitas vezes contradizem as regras e as rotinas institucionais (Duebel, 2002). vi No original: “The State (…) represented as being an entity over and above the human individuals who make a society, having as one of its attributes something called „sovereignty,‟ and sometimes spoken of as

YANOW, D. Toward a policy culture approach to implementation, Policy Studies Review, London, v. 7, n. 1, p. 103-115, 1987. having a will … or as issuing commands. The State in this sense does not exist in the phenomenal world; it is a fiction of the philosophers. What does exist is an organization, i.e. a collection of individual human beings connected by a complex system of relations… There is no such thing as the power of the State”.

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