Por que é que os homens se preocupam (muito) mais com o prestígio, o poder e o dinheiro do que as mulheres?

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Article on website Academia.edu Primatas Culturais Por que é que os homens se preocupam (muito) mais com o statu e o poder do que as mulheres?

Acredita-se que a liderança masculina tenha sido a regra natural nos ambientes ancestrais embora tenham também existido nichos para as mulheres liderarem desempenhando um papel sobretudo em períodos de manutenção da paz (Van Vugt, 2008). De qualquer forma, como legado do nosso passado evolutivo, ainda hoje, continua a prevalecer o seguinte perfil de liderança: que sejam homens, altos, mais velhos, de boa saúde e com riqueza! No fundo, o «arquétipo» do líder deriva da velha imagem do «Grande Homem» («Big Man») provavelmente porque era muito mais inteligente na Savana seguir quem era mais alto e que por via disso podia detetar primeiro que os outros os vários perigos do ambiente. Alguns estudos mostram que os candidatos presidenciais que são mais altos sistematicamente ganham mais vezes eleições e sabe-se bem que os indivíduos mais altos são considerados mais atrativos pelas mulheres, copulam mais vezes, têm melhores vencimentos e cargos e em média ganham mais do que os homens mais baixos. É claro que existem exceções a esta verificação empírica mas não anula a tendência descrita. Além da «altura» as duas outras características que até hoje comprovadamente têm uma correlação com a liderança são a inteligência e a assertividade. Mais uma vez se denota aqui também a inteligência dos liderados pois ninguém quer seguir alguém menos inteligente ou incapaz de se afirmar. Será que é só por isto que a maioria dos cargos de liderança, nas empresas e em geral são dominantemente ocupados por homens? Apesar das muitas semelhanças entre si, os homens e as mulheres são biologicamente diferentes devido aos problemas e às pressões adaptativas no tempo ancestral dos nossos antepassados o que fez com que ambos os géneros divergissem também nas estratégias e comportamentos associados à escolha de parceiro (sobretudo nas estratégias de acasalamento para reprodução), aos cuidados e ao investimento parental, à procura de abrigo, à caça e à recolha de alimentos, entre outros, pelo que também desenvolveram psicologias diferentes. Ao contrário do que muitos possam (ainda) pensar e daquilo que o padrão dos meus colegas sociólogos e psicólogos defendem, as diferenças fundamentais entre os géneros não se devem à socialização ou ao ambiente. Algumas diferenças fundamentais e estruturantes no comportamento social ao nível do género estão já inscritas no hardware e no software mental e não são o simples produto

Por que é que os homens se preocupam (muito) mais com o poder e o statu do que as mulheres?

da socialização como o mito da «tábua rasa» pretende fazer acreditar. (S. Pinker, 2002). Não é porque se dá «bonecas» às meninas e «carros» aos rapazes que eles se tornam meninas ou meninos. É porque as meninas são meninas e os rapazes são rapazes que preferem «bonecas» e «carros», respetivamente. Sabemos que em média, as mulheres em relação aos homens, têm, por exemplo, uma melhor memória verbal, melhor capacidade de empatia e de comunicação, resultantes presumivelmente das pressões de seleção evolutiva nas fêmeas humanas para conseguirem conservar um controlo mais apertado das redes sociais e para a proteção e educação dos seus filhos (Van Vugt, 2008). As mulheres líderes também são mais democráticas, o que é consistente com a «hipótese de manutenção da paz» e vários estudos sugerem que a rentabilidade dos negócios e a boa governação aumenta quando as mulheres fazem parte das administrações e do governo das empresas e de outras instituições (Eaglya & Carlib, 2003). Mesmo para a natureza o valor dos óvulos (pela sua raridade) é esmagadoramente superior ao valor dos espermatozoides (pela sua abundância). Já os líderes masculinos, em média, são mais autoritários e belicistas porque os machos humanos desenvolveram uma psicologia guerreira específica para lidar com os antigos desafios dos conflitos intergrupais. É por isso que ainda hoje a guerra é essencialmente um assunto masculino! Mas os machos humanos são também, em média, muito mais orientados para a procura do statu, do poder e de recursos e como tal, candidatam-se mais rápida e facilmente para postos de liderança e procuram ativamente a acumulação de recursos vários. Porquê? Devido às diferenças dos «custos de reprodução» associadas ao investimento parental, que são muito mais altos para a mulher do que para o homem, cabe às mulheres o «prémio» de «escolher» e aos homens cabe competirem para serem «escolhidos». Dado que a disponibilidade dos homens para investirem na sua descendência é também invulgar e quase uma singularidade enquanto primatas e mamíferos, as mulheres, sempre que possível, preferiram selecionar no «mercado de acasalamento para reprodução», homens que sejam real ou potencialmente fornecedores de melhores recursos para a sua descendência. E estes, em resposta, desenvolveram uma orientação mais forte para alcançar statu, recursos e poder, pois estes fatores permitiam e criavam (e continuam a permitir e a criar) mais e melhores possibilidades e oportunidades de conseguir também mais e melhores parceiras para reprodução. Assim, dado que normalmente a qualquer cargo de liderança estão associados o statu e o prestígio, os homens mostram-se mais rapidamente interessados em tais posições. Há estudos que sugerem que quando homens e mulheres trabalham juntos em atividades de grupo, os homens são mais rápidos a reivindicar cargos de liderança, mesmo que as mulheres estejam melhor qualificadas para eles (Mezulis, Abramson, Hyde, & Hankin, 2004). Além disso, e independentemente dos seus talentos, os homens também são mais propensos e rápidos a assumir papéis de liderança, sobretudo quando se sentem observados por mulheres porque, precisamente, as Paulo Finuras, Ph.D. –Academia.edu

Por que é que os homens se preocupam (muito) mais com o poder e o statu do que as mulheres?

mulheres valorizam o statu e os recursos reais ou possíveis dos potenciais parceiros. Isto gerou um efeito de competição intra sexual masculina com efeitos de retroalimentação e amplificação da procura de recursos, poder e statu por parte dos homens e explica por que motivo os homens arriscam mais e competem entre si para serem selecionados. É isto que explica também porque mais de 90% dos crimes, em todo o mundo, são cometidos por homens (Brown, 1991; Kanazawa & Still, 2000.). E é por isso também que os homens sempre se preocuparam muito mais do que as mulheres em ganharem estatuto, serem reconhecidos e ganharem mais dinheiro do que as mulheres (Kanazawa, 2005). É que as mulheres, ao longo da história, precisaram menos disso e como tal nunca se preocuparam tanto com isso. Basicamente, encarregaram os homens de o fazer!

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Paulo Finuras, Ph.D. –Academia.edu

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