Por que estas paisagens são culturais?

July 4, 2017 | Autor: Kelly Cristina Melo | Categoria: Patrimonio Cultural, Paisagem, Paisagem Cultural
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POR QUE ESTAS PAISAGENS SÃO CULTURAIS? Why these landscapes are cultural?

Kelly Cristina de Melo - [email protected] Geógrafa, Doutoranda em Geografia Física. Universidade de São Paulo, SP

RESUMO Se todas as paisagens são culturais, o que motiva a eleição de algumas como mais representativas da relação homem e ambiente ? O conceito paisagem existe desde a Idade Média para designar uma região de dimensões médias na qual se desenvolviam pequenas unidades de ocupação humana. Na Geografia a paisagem é analisada como produto de interações entre elementos naturais e sociais que, por ocupar um espaço, pode ser cartografada em diferentes escalas e classificada de acordo com um método ou elemento que a compõe. Ao incorporar as relações do homem com o meio sugere-se que os modos de vida do ser humano produzem paisagens que são amplas em aspectos culturais e também patrimoniais. O trabalho aqui apresentado faz parte de uma pesquisa de doutoramento em que as paisagens culturais são analisadas em seus aspectos conceituais, metodológicos e legais. A chamada paisagem cultural passa a ser reconhecida a partir de uma avaliação institucional e enquadramento em determinadas categorias, a partir de 1992, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), entretanto, muito pode ser questionado em relação aos critérios utilizados e, ao observar quais são e aonde estão estas paisagens observase certa disparidade em termos de representatividade e consideração de elementos reconhecidos localmente como herança e identidade de uma comunidade ou grupo social. Os procedimentos da pesquisa baseiam-se em levantamento de cartas e recomendações institucionais que foram, ao longo das últimas décadas, abordando a paisagem nas discussões sobre patrimônio e conservação, além de uma análise das 88 paisagens culturais reconhecidas pela UNESCO, de 1993 até 2014, em todo o mundo, a partir dos critérios de escolha e localização. Os resultados, parciais, alcançados permitem compreender as nuances envolvidas com os critérios de elegibilidade de uma paisagem como cultural. Entende-se que a aplicação do conceito a partir do reconhecimento da sua complexidade pode funcionar como recomendação fundamental para uso e gestão do território, além da simples manutenção de um símbolo construído desvinculado de seu contexto identitário e social. Palavras-chave: paisagem, paisagem cultural, patrimônio, cultural. 1   

ABSTRACT If all landscapes are cultural, what motivates the election of some of them as more representative of the man and environmentrelationship?The concept of landscape exists since the Middle Ages to designate a region of medium size in which human occupation were developed in small units.In Geography the landscape is analyzed as a product of interactions between natural and social elements that, because it occupies a space, landscapes can be cartographied at different scales and classified according to a method or element that composes it.By incorporating the man's relationship with the environment, it is suggested that the human being ways of life produces landscapes that are broad in cultural and also in heritage aspects.The study presented here is part of a doctoral research where cultural landscapes are analyzed in its conceptual, methodological and legal aspects. What is known as cultural landscape becomes recognized from an institutional assessment and framework in certain categories, in 1992 by the United Nations Organization for Education, Science and Culture (UNESCO). However, much can be questioned about the usedcriteria and,by observing what and where are these landscapes, certain disparity could be observed in terms of representation and considerationof locally recognized elements, such as heritage and identity of a community or social group.The research procedures are based on gathering information on letters and institutional recommendations over the last decades, which have been addressing the landscape in discussions about heritage and conservation, as well as an analysis of the 88 cultural landscapes recognized worldwideby UNESCO, from 1993 to 2014, from the choice and location criteria.The partial results obtained allow the researches of the present study to understand the nuances involved with the eligibility criteria of a landscape as cultural.It is understood that the concept application from the recognition of their complexity can work as a key recommendation for use and management of the territory,besides simply maintaining a constructed symbol detached from their identity and social context. Keywords: Landscape. Cultural landscape, Cultural heritage.

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Introdução Na Geografia, a paisagem é analisada, de modo geral, como produto de interações entre elementos naturais e sociais que, por ocupar um espaço, pode ser cartografada em diferentes escalas e classificada de acordo com um método ou elemento que a compõe. A categoria institucional Paisagem Cultural, cada vez mais discutida nos traz uma pergunta central sobre a qual propomos reflexões, pois, se todas as paisagens são culturais, o que motiva a eleição de algumas como mais representativas da relação homem e ambiente? A incorporação das relações do homem com o meio sugere que os modos de vida do ser humano produzem paisagens que são amplas em aspectos culturais e também patrimoniais e a questão relacionada ao método é o que define como estas relações serão mais ou menos consideradas. A chamada paisagem cultural passa a ser reconhecida institucionalmentea partir de uma avaliação e enquadramento em determinados critérios, a partir de 1992, pela UNESCO, entretanto, muito pode ser questionado em relação a esses critérios utilizados e, ao observar quais são e onde estão estas paisagens observa-se certa disparidade em termos de representatividade e consideração de elementos reconhecidos localmente como herança e identidade de uma comunidade ou grupo social. A trabalho aqui apresentado, faz parte de uma pesquisa de doutoramento sobre o tema e traz uma breve abordagem sobre as paisagens culturais reconhecidas pela UNESCO e os critérios de elegibilidade, a partir do panorama das 88paisagens culturais reconhecidas de 1993 até 2014, em todo o mundo. Entende-se que a aplicação do conceito a partir do reconhecimento da sua complexidade pode funcionar como recomendação fundamental para uso e gestão do território, além da simples manutenção de um símbolo construído e desvinculado de seu contexto identitário e social. De qualquer forma, a pergunta que antecede qualquer eleição ou definição de criação desta categoria patrimonial é: o que é paisagem? Esta pergunta poderia sugerir a possibilidade de alguma resposta plena (SANDEVILLE Jr, etall, 2010), entretanto o que o percurso em busca desta resposta nos traz é a indicação da impossibilidade de uma definição única e absoluta, a paisagem é um espaço de realização simbólica e sobreposição dos tempos, representando as transformações do mundo. Na Geografia, esta abordagem da paisagem adjetivada de cultural foi evidenciada pelos adeptos da Geografia Cultural Tradicional e no final do século XIX diversas foram asconcepções teórico-metodológicas, passando pela identificação, descrição e interpretação da paisagem através dos artefatos materiais produzidos pelo homem, até a interpretação do seu 3   

caráter simbólico, defendida posteriormente pelos geógrafos que criaram a Nova Geografia Cultural. A partir da década de 1980, este conceito vem sendo estudado não apenas no campo disciplinar geográfico, mas também das artes, da arqueologia, da ecologia, do paisagismo e do urbanismo (MELO, 2010), sendo mais recentemente institucionalizada pelas convenções e recomendações internacionais, visando a identificação e preservação dos bens naturais e culturais dos povos, atribuindo a ela não somente o valor da cultura, mas também do patrimônio, ela pode apresentar-se como uma quebra importante de paradigma, pois no pensamento moderno ocidental o meio natural e o artefato cultural sempre foram considerados como dois campos pertencentes a domínios distintos e as paisagens por sua crescente complexidade não pode mais ser considerada sob esta dualidade. As perguntas em torno desta questão são muitas, aqui são colocadas algumas e as reflexões são muito bem vindas.

Objetivos O trabalho ora apresentado busca apresentar uma breve abordagem sobre as paisagens culturais reconhecidas pela UNESCO e os critérios de elegibilidade utilizados, a partir do panorama das 88paisagens culturais reconhecidasde 1993 até 2014, em todo o mundo.

Metodologia A pesquisa de doutoramento, da qual faz parte o trabalho aqui apresentado, desenvolve-se a partir da investigação dos significados da categoria paisagem cultural, em âmbito institucional, avaliando as concepções da UNESCO e sua abordagem apoiada na necessidade da preservação do patrimônio cultural. As avaliações se deram principalmente por meio de revisão bibliográfica sobre a categoria de análise paisagem, sob o olhar da Geografia; posteriormente os conceitos de patrimônio e cultural e as formas utilizadas para sua proteção também foram verificados, buscando identificar as relações que podem ser estabelecidas entre a paisagem e o patrimônio. Em seguida foi construída uma abordagem a partir da discussão multidisciplinar da paisagem cultural, buscando encontrar os pontos consonantes, ou não, na visão da arquitetura, arqueologia, paisagismo, arte, entre outras áreas. Posteriormentefoi elaborada uma avaliação das paisagens culturais reconhecidas pela UNESCO, no período de 1993 a 2014, buscando a compreensão de sua distribuição pelos continentes, sua representatividade, frequência dos critérios atendidos.

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As paisagens, a cultura e o patrimônio Desde 1972 a UNESCO trabalha impulsionada pela Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural, que reconhece que alguns lugares na superfície terrestre são de "valor universal excepcional", e devem, portanto, fazer parte do patrimônio comum da humanidade.Essa Convenção combinou os conceitos de conservação natural e de preservação de bens culturais, enfatizando o papel das comunidades locais. Segundo a própria UNESCO ela funcionou como uma “ferramenta eficaz para o monitoramento da mudança climática, da urbanização acelerada, do turismo em massa,do desenvolvimento socioeconômico e dos desastres naturais, além de outros desafios contemporâneos”1.A Lista do Patrimônio Mundial atualmente inclui 1.007 sítios2, sendo 779 culturais, 197 naturais e 31 mistos – distribuídos em 161 estados-parte. Uma vez que as relações entre o patrimônio, cultura, paisagem e também questões relacionadas a proteção deste patrimônio possam ser estabelecidas e lidas indissociadamente, de acordo com os pressupostos da Convenção de 1972, ressalta-se o interesse de bens do patrimônio cultural e natural e a necessidade de sua preservação enquanto componentes do patrimônio mundial da humanidade3. A Comissão Mundial de Cultura e Desenvolvimento da instituição, em relatório de 1996, ao distinguir a importância da cultura como instrumento do processo de desenvolvimento, privilegia a relação intrínseca cultura-natureza4, a paisagem, após longo percurso dentro dos seus instrumentos. A interação ente o cultural e o natural apresenta importância prática e significativa na construção da valorização do patrimônio, seja da humanidade, da comunidade, seja natural, cultural ou combinado, atribuindo-lhe novo papel no cenário atual. A inserção da paisagem na discussão do patrimônio pode ser lida por meio das cartas, resoluções, recomendações, conferências e convenções promovidas por órgãos como UNESCO e ICOMOS, além da Comunidade Europeia e permitiram que as discussões evoluíssem em relação ao reconhecimento da paisagem, de extensões territoriais não apenas como um ambiente de fundo para determinado patrimônio isolado, mas como parte dele indissociável dele.                                                              1

  Consulta  ao  site  da  UNESCO  (http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world‐heritage/cultural‐ heritage/) acesso em 15.04.2015.   2  Idem 1.  3

UNESCO.La dimension culturelle du développement. Paris, Ed. UNESCO, 1994. Nossa diversidade criadora: relatório da Comissão Mundial da Cultura e Desenvolvimento. Javier Perez de Cuéllar (org.). Campinas (SP). Papirus, Brasília, UNESCO, 1997. 

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Em 1992 a paisagem se insere em definitivo na discussão preservacionista patrimonial quando a UNESCO instituiu a categoria Paisagem Cultural, um posicionamento dos instrumentos de preservação diante da complexidade dos ambientes atuais. Uma tentativa de manter a diversidade cultural e ambiental, apresentando a interação entre humanidade e meio ambiente (BISSOLI, 2010). A distinção do significado da paisagem pode resultar em uma classificação, de acordo com o modo de vê-la e vivenciá-la, Cosgrove (apud Corrêa, 2011) propõe esta classificação em: paisagem da classe dominante, paisagem emergente, paisagem residual, paisagem excluída, paisagem do consumo, entre outras. Importante destacar esta classificação para auxiliar-nos a compreender o arranjo de significações contido nas diversas paisagens. Esta é apreendida como um produto cultural, permeada de significados em torno da relação sociedade e natureza atuando num determinado período de tempo. O conceito de paisagem cultural apresenta-se como uma categoria a ser explorada visando a preservação das paisagens, pois sua base teórico-metodológica oferece como possibilidade a identificação, descrição e interpretação das paisagens a partir de sua dimensão natural e cultural, a partir do valor que lhe é atribuído pelos grupos sociais que com elas vivenciam (MELO, 2010). A definição adotada para a categoria paisagemcultural, de acordo com os órgãos voltados ao patrimônio, teria como característica fundamental a ocorrência em uma fração territorial do convívio singular entre a natureza, espaços construídos e ocupados pelos grupos humanos, os modos de produção e as atividades culturais e sociais, numa relação complementar entre si, capaz de estabelecer uma identidade que não possa ser conferida por qualquer um deles de forma isolada (RIBEIRO, 2007), seria a mesma paisagem analisada por Monteiro, Ab’Saber, Troll, Bertrand, Cosgrove, entre outros, só que a adjetivação fortalece os aspectos relacionados ao homem e sua influência, em diversas escalas, na compreensão das paisagens. Outro elemento a ser considerado como fundamental na abordagem das paisagens culturais, é o tempo, como elemento unificador, devendo ser consideradas as temporalidades na investigação da evolução das paisagens, no sentido de que os usos vão se alterando de acordo com as modificações de organização social. A paisagem responde, portanto, ao imperativo da territorialidade e do pertencimento, às necessidades de inserção de nossa trajetória biográfica não apenas num eixo temporal, mas também espacial (BERQUE, 1995), mais do que em relação a aspectos cênicos.

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Para sua consideração como um fato cultural (MENESES, 1996.) não basta a suposição de um objeto e a ação que o transforma e a interação (material ou simbólica) que se estabelece, é preciso tratar a paisagem como um processo cultural, entendê-la como resultado de intervenções historicamente desenvolvidas. Para Berque (1995) compreender a paisagem como prática cultural, passa pela busca em identificar seus efeitos e o alcance dessa prática no interior da organização dos grupos humanos, uma vez que a paisagem tem historia, sendo, portanto, objeto de conhecimento histórico e que essa historia pode ser narrada a partir de seus processos evolutivos e culturalmente construídos. A paisagem oferece pistas materiais que permitem perceber seu caráter cultural e histórico, são esses traços que permitem a compreensão das feições físicas e sociais da paisagem contemporânea e a composição a partir de suas sucessivas fisionomias anteriores, ao longo do tempo construídas e modificadas.

Paisagens que são culturais Embora se tenha avançado no campo de tornar a paisagem cultural ferramenta de cognição importante, ainda não há segurança sobre sua eficácia operacional no sentido de produzir metodologias que possam ser aplicadas ao planejamento territorial, sem incorrer em generalizações. Neste sentido tornando as reflexões sobre as paisagens culturais no contexto da patrimonialização cabe-nos perguntar qual o papel da classificação de paisagens culturais? A valorização contemporânea de paisagens e o processo de patrimonialização ganharam um papel privilegiado nas práticas sociais, políticas e econômicas de apropriação do espaço, exigindo interpretações e esforço teórico que supere sua compreensão operacional, pois trata-se de ações políticas que revelam conflitos de representação simbólica e contradições sócio espaciais no uso do território (PAES, 2010, p. 2). A natureza passa a ser vista como patrimônio, sobretudo diante das rápidas transformações ligadas a sociedade urbano-industrial, e patrimonializada ganha materialidade na paisagem e pelas paisagens se classifica a superfície terrestre. Sandeville Jr (2010) nos diz que a paisagem torna-se subjetividade não do ponto de vista individual do cada um enxerga o que quer, é mais complexa, decorre da experiência, da existência, torna-se interatividade ou conforme Berque (2000) trajetividade, tornando-se experiência de vida: experiência partilhada, mesmo que ainda seja tratada como um simples corte momentâneo da experiência. De acordo com Castrogiovanni (2001, p. 132) a paisagem pode ser entendida como um conceito que traduz o aspecto global entre o visível e o invisível, envolvendo elementos físicos e naturais, suas interações [...] portanto, fazem parte da paisagem os elementos 7   

históricos e culturais que sinalizam o processo organizacional dos diversos grupos sociais, resultado do acúmulo de ações temporárias. Todas as paisagens são espaços alterados, humanizados, mas nem todas recebem a adjetivação de culturais, mas ao considerar o próprio conceito de cultura, evidencia-se seu valor cultural, mesmo que este não seja institucionalizado. Os conceitos mais habitualmente empregados com a denominação de bens culturais para incorporar a Lista do Patrimônio Mundial são: núcleos, parques, centros históricos e, de modo mais amplo, surge a paisagem cultural como elemento fundamental, resultado de uma revisão de critérios. Esta nova orientação revela uma evolução conceitual de grande alcance. A paisagem pressupõe a mediação do homemcom seus processos culturais que transitam desde a simples observação até a intervenção de fato, transformando suas características, assim, Almeida e Teixeira (2010) afirmam que a denominação paisagem cultural mesmo soando redundante é oportuna, uma vez que reforça o sentido do bem coletivo. Em 1992, iniciou-se o processo de candidatura dos estados-parte e do reconhecimento por parte da UNESCO. Decorridos 23 anos, a lista conta com o reconhecimento de 885 bens definidos como paisagem cultural, distribuídos em 56 países, conforme Quadro 1, apresentado a seguir: Quadro 1- Paisagens Culturais declaradas pelo UNESCO (1992-2014) País

Paisagem Cultural

Afeganistão

Cultural Landscape and Archaeological Remains of the Bamiyan Valley

África do Sul

Mapungubwe Cultural Landscape Richtersveld Cultural and Botanical Landscape Garden Kingdom of Dessau-Wörlitz

Alemanha

UpperMiddleRhine Valley BergparkWilhelmshöhe

Alemanha/Polônia

Park Muzakowski

Andorra

Madriu-Perafita-Claror Valley

Argentina

Quebrada de Humahuaca

Austrália

Uluru-KataTjutaNational Park

Áustria

Cultural Landscape of Dachstein/Salzkammergut Wachau Cultural Landscape

Áustria/Hungria

Fertö/Neusiedlersee Cultural Landscape

Azerbaijão

Gobustan Rock Art Cultural Landscape

Brasil

Rio de Janeiro: Carioca Landscapes between the Mountain and the Sea

Canadá

Landscapeof Grand Pré Petroglyphs within the Archaeological Landscape of Tamgaly

Cazaquistão

continua 

                                                             5

  O  quadro  apresenta  87  bens,  pois  em  2009,  a  paisagem  cultural  alemã  Dresden  Elbe  Valley,  foi  retiradado  Patrimônio Mundial.  

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LushanNational Park China

MountWutai West Lake Cultural Landscape of Hangzhou Cultural Landscape of Honghe Hani Rice Terraces

Colombia

Coffee Cultural Landscape of Colombia Viñales Valley

Cuba

Espanha

Archaeological Landscape of the First Coffee Plantations in the SouthEast of Cuba Aranjuez Cultural Landscape Cultural Landscapeofthe Serra de Tramuntana

Estados Unidos da Papahānaumokuākea América Etiopia

Konso Cultural Landscape

Filipinas

Rice Terraces of the Philippine Cordilleras Jurisdictionof Saint-Emillon The Loire Valley between Sully-sur-Loire and Chalonnes

França

The Causses and the Cévennes, Mediterranean agro-pastoral Cultural Landscape Nord-Pas de Calais Mining Basin

França/Espanha

Pyrénées-MontPerdu

Gabão

Ecosystem and Relict Cultural Landscape of Lopé-Okanda

Hungria

Hortobágy National Park- the Puszta Tokaj Wine Region Historic Cultural Landscape

Ilhas Mauricio

Le Morne Cultural Landscape

Índia

Rock SheltersofBhimbetka

Indonésia

Cultural Landscape of Bali Province: the Subak System Manifestation of the Tri Hita Karana Philosophy

Irã

as

a

Bam and its Cultural Landscape The Persian Garden

Islândia

Þingvellir (Thingvellir) National Park

Israel

Incense Route - Desert Cities in the Negev Portovenere, Cinque Terre, andtheIslands (Palmaria, Tino andTinetto) Costiera Amalfitana Cilento and Vallo di Diano National Park with the Archeological sites of

Itália

Sacri Monti of Piedmont and Lombardy Val d'Orcia Medici Villas and Gardens in Tuscany Vineyard Landscape of Piedmont: Langhe-Roero and Monferrato

Japão

Sacred Sites and Pilgrimage Routes in the Kii Mountain Range IwamiGinzan Silver Mine and its Cultural Landscape

Kenia

SacredMijikendaKayaForests

Kirguistão

Sulaiman-TooSacred Mountain Vat Phou and Associated Ancient Settlements within the Champasak

Laos

continua 

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Líbano

OuadiQadisha (the Holy Valley) and the Forest of the Cedars of God (HorshArz el-Rab)

Lituânia

KernaveArchaeological Site

Lituania/Rússia

CuronianSpit

Madagascar

Royal Hill ofAmbohimanga

México Mongolia Nigéria

Agave Landscape and Ancient Industrial Facilities of Tequila-Volcano Prehistoric Caves of Yagul and Mitla in the Central Valley of Oaxaca Orkhon Valley Cultural Landscape Sukur cultural landscape Osun-OsogboSacred Grove

Noruega

Vegaøyan -- The Vega Archipelago

Nova Zelândia

TongariroNational Park

Palestina

Palestine: Land of olives and vines - Cultural landscape of southern Jerusalem, Battir

Papua Nova Guiné

EarlyAgricultural Site

Polônia

KalwariaZebrzydowska: the Mannerist Architectural and Park Landscape Complex and Pilgrimage Park Cultural Landscapeof Sintra

Portugal

Alto Douro WineRegion Landscape of the Pico Island Vineyard Culture Blaenavon Industrial Landscape

Reino Unido

Royal BotanicGardens, Kew St. Kilda Cornwall and West Devon Mining Landscape

República Árabe Ancient Villages of Northern Syria Síria República Tcheca Lednice-Valtice Cultural Landscape

Suécia

Saloum Delta Bassari Country: Bassari, Fula and Bedik Cultural Landscapes Agricultural Landscape of Southern Öland

Suiça

Lavaux, VineyardTerraces

Togo

Koutammakou, the Land of the Batammariba

Ucrânia

Ancient City of Tauric Chersonese and its Chora

Vanuatu

ChiefRoiMata’s Domain

Vietnã

Tranganlandscapecomplex

Senegal

Zimbabue Matobo Hills Fonte: http://whc.unesco.org/en/culturallandscape/ acesso em 27.05.15

Um dos aspectos mais marcantes destas paisagens seriam as associações, pois além dos atributos físicos ou das modificações humanas, os valores mais significativos e ressaltados estão ligados às associações que puderam transformar o ambiente. A inclusão de tais paisagens na Lista do Património Mundial se justificaria devido a fortes associações

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religiosas, artísticas ou culturais do elemento natural e, de acordo com a UNESCO, se dividem em três categorias6 (IPHAN, 2008), a saber: 1. paisagem claramente definida projetada e criado intencionalmente pelo homem. 2. paisagem organicamente evoluída. Divide-se em duas subcategorias: a. uma paisagem relíquia (ou fóssil). b. paisagem contínua. 3. paisagem cultural associativa. Em relação a distribuição dessas paisagens por continentes, observa-se, de acordo com os Quadro 2, a seguinte organização: Quadro 2 – Distribuição das paisagens culturais por continente CONTINENTE

Nº DE BENS

ÁFRICA AMÉRICA ÁSIA EUROPA OCEANIA

13 9 22 40 3

Em relação aos critérios7, ao verificar o atendimento a eles, observa-se que alguns são mais frequentes, enquanto outros mais raros. O máximo de critérios atendidos por uma paisagem cultural, nesta lista, é de 05, com quatro bens atendendo a 05 critérios concomitantemente. Em seguido, o atendimento é a 04 critérios é cumprido por 12 bens. O atendimento a 03 critérios é o mais frequente, somando 39 bens. O atendimento a 02 critérios é cumprido por 34 bens e o atendimento a 01 critério apenas é cumprido por 09 bens. O gráfico 1permite uma melhor observação desta distribuição. Os bens foram divididos em cinco grupos, de acordo com o cumprimento dos critérios. Em relação a cada um dos dez critérios organizados pelo Comitê da UNESCO, podese visualizar a frequência de cada um deles em relação aos bens presentes na lista. O critério iii, que trata de um testemunho único ou excepcional sobre uma tradição cultural ou uma civilização viva ou desaparecida se destaca, junto com o critério iv que nos diz sobre um exemplo excepcional de um tipo de construção ou de conjunto arquitetônico ou tecnológico ou de paisagem ilustrando um ou vários períodos significativos da história humana, com 23% e 22%, respectivamente.                                                              6

A descrição detalhada das três categorias pode ser consultada em http://portal.iphan.gov.br/files/Cartilha_do_Patrimonio_Mundial.pdf 7 A lista com descrição dos dez critérios pode ser consultada em http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/worldheritage/heritage-legacy-from-past-to-the-future/, acesso em 10.04.15. 

11   

Critério os atendido os por bens ‐ Paisagenss Culturais 4

Nº de Critérios atendidos t did

Grupo 5

12

Grupo 4

39

Grupo 3 34

Grupo 2 9

Grupo 1  0

10

20

30

40

Gráfico 1 – Criterios atendiddos por bens.. Organ. Kellly C Melo, 22015. Fontte: http://whcc.unesco.org//en/culturallaandscape/ accesso em 27.005.15

E seguidaa, abrangenndo 20% doos bens, tem-se o crittério v quee trata da bens Em b que sirvam de d exemplo excepcionaal de fixaçãão humana ou o de ocupaação do terrritório trad dicionais represenntativos de uma culturra (ou de váárias culturras), sobretuudo quandoo o mesmo se torna vulnerável sob o effeito de muutações irreeversíveis. Os O critérioss ii e vi, vem m logo em seguida, com 144 e 12%, respecitivam mente. O gráfico 2 permite um ma melhorr observaçãão desta distribuuição, apreseentando o núúmero absooluto seguid do da porcenntagem. O critério menos m atenddido é o x, que q trata dee habitats naturais n mais representativos e mais im mportantes para p a connservação in situ da diversidadee biológica,, incluindo aqueles onde soobrevivem espécies e am meaçadas quue tenham um u valor unniversal exccepcional do d ponto de vistaa da ciência ou da consservação, prresente em apenas a 03 paisagens p cuulturais da liista. S Sobre as daatas de recconhecimentto das paissagens cultuurais que compõem a lista da UNESC CO, da-se deestaque ao ano a de 20044, quando 13 1 bens foraam inseridoss, seguidos de 1999 e 2011,, com 09 e 08, respeectivamentee. O gráficco 3apresennta de moddo mais cllaro esta distribuuição das paisagens cultturais reconnhecidas noss últimos 222 anos.

12   

Gráfico 2 – Distribuição D do os criterios de classificação das paisagens culturais. Orrgan. Kelly C Melo. Fonte: http://w whc.unesco.o org/en/culturallandscape/ accesso em 27.0 05.15 

Ano de recconhecimento das paisa agens culturais - UNESC CO 15

13

10

9

5 0

1

0

1

2

5

6 1

4

7 4

2

2

5

4

8 2

2

5 3

2

Ano

Gráfico 3 – ano de reconhecimeento das paissagens culturrais, UNESC CO. Organ. K Kelly C Mello. Fonte: o em 27.05.15 Fonte: htttp://whc.uneesco.org/en/cculturallandsscape/ acesso

S Sobre os crritérios atenndidos pelaas paisagenss culturais reconhecida r as no ano de d 2004, não se observa um m padrão, indo de 1 a 4 critérrios. Sendo os criterioosiii e iv, os mais frequenntes, vinculaados a 7 e 6 paisagens, respectivaamente, entrretanto, estees dois são os mais atendidoos por toda a lista. D Diante do exposto, de d forma breve, buscaando suscittar o debatte diante do d tema, observaa-se que os limites entrre a paisagem natural e a paisageem resultannte da ação humana tornam--se cada veez menos evvidentes, paaisagens tid das como produto p da natureza deepois de 13   

determinados estudos revelam-se consequência de ações de grupos humanos remotos, ela atua como testemunho e também preserva dados de épocas passadas, sob os pontos de vista geográficos, geológicos, paleontológicos e arqueológicos. Pensar na gestão e preservação das paisagens, na sua patrimonialização envolve saberes, interesses e valores advindos das esferas politicas, econômicas e socioculturais dos diversos grupos humanos que habitam o planeta. De acordo com Berque: “a paisagem é uma marca, pois expressa uma civilização, mas é também uma matriz porque participa dos esquemas de percepção, de concepção e de ação – ou seja, da cultura (...)”. (Berque, 1998, p.84).

A introdução de variáveis como a cultura e, posteriormente, o tempo, representa avanço na compreensão da paisagem, na medida em que toda mudança reflete o momento vivenciado por um determinado grupo social, é possível investigar a composição da paisagem a partir dos marcos históricos, reconhecer a importância dos processos que a consolidaram e fazer a ligação entre o espaço e o tempo (Cosgrove, 2004). A paisagem, como patrimônio comum da humanidade deveser legitimada por um estatuto jurídico, fundamentado pela necessidade de preservação não só dos fatores físicos e biológicos, mas, sobretudo das diversas maneiras pelas quais estes fatores foram utilizados e modificados durante anos e anos. A explicação cultural da paisagem busca sua substância na relação entre objetividade e subjetividade, materialidade e representação, paisagem e imaginário coletivo e o melhor modo de gestão deve basear-se justamente nesta ampla soma de fatores e sobretudo em seus significados diante das comunidades e grupos sociais.

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dialetcs

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cultural

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