Por uma agenda feminista para internet e as comunicações digitais-II.pdf

May 31, 2017 | Autor: Graciela Natansohn | Categoria: Gender Studies, Communication, Internet Studies, Feminism
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Por uma agenda feminista para internet e as comunicações digitais Graciela Natansohn1 “As pessoas de bem deveriam começar a aprender como ver fielmente apartir do ponto de vista do outro, mesmo quando ese outro é a nossa própria máquina” Donna Haraway2

Quando falamos em tecnologias digitais (daqui em diante, Tecnologias da Informação e da Comunicação -TIC, em referência às redes de computadores e outros aparatos técnicos interligados à internet) e dos aspectos que interesam às mulheres, emergem como temas prioritários as exclusões, as faltas, as diferenças que colocam as mulheres, crianças e outros sujeitos em lugares subordinados em relação ao desenvolvimento da sociedade da informação e do conhecimento. No entanto, as divisórias digitais são apenas uma pequena parte de um problema maior, o da cultura digital contemporânea, cujo desenvolvimento se dá através de uma complexa rede de atores marcados por um viés androcêntrico – característico da internet e dos ambientes tecnológicos em geral. Mostraremos a ação política dos grupos feministas preocupados com a internet e discutiremos os limites do conceito de brecha digital. Argumentaremos sobre os limites das políticas de inclusão digital no Brasil, apesar das recomendações de organismos supranacionais e regionais em relação à inclusão de políticas de gênero e TIC específicas, e concluímos arguindo sobre a importância do desenvolvimento de competências digitais que impliquem no domínio da robótica e programação por parte das mulheres, para se integrarem à esfera de criação colectiva, à imaginação tecnológica e à reapropiação cultural. A brecha tecnológica de gênero atravessa todas as classes, raças e nações; de todas as divisões, é a mais evidente, ainda que não seja universal, pois não se dá de forma idêntica em todas as partes, é, entretanto, a mais fácil de comprovar. Por isso se discute o ―teto de vidro‖ nas empresas tecnológicas que impede as mulheres de chegar a cargos mais altos; se debate a falta de mulheres em cursos técnicos; brigamos com quem acha que nós mulheres somos tecnofóbicas por natureza. A historiografia da ciência informática também está sendo reescrita e, assim, aparecem nomes como Ada Byron 1

Professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da Universidade Federal da Bahia, coordena o Grupo de Pesquisa Gênero, Tecnologias Digitais e Cultura/GIG@, http://gigaufba.net/ email: [email protected] 2 HARAWAY, Donna. Conocimientos situados: la cuestión científica en el feminismo y el privilegio de la perspectiva parcial. In: HARAWAY, D. Ciencia, Cyborgs y mujeres. La reinvención de la naturaleza. Madrid: Cátedra, 1995.

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(Lady Lovelace), Henrietta Swan Leavitt, Grace Murray Hopper, Adele Goldberg, Heidi Lamarr e tantas outras, reconhecendo-se o lugar que tiveram muitas mulheres no desenvolvimento da computação. Assim como sucede em outras áreas tecnológicas, existem poucas mulheres em cargos de decisão sobre governança na internet, nas decisões estatais sobre infraestructura das telecomunicações, no gerenciamiento de empresas tecnológicas de ponta. Alguns dos mais importantes organismos internacionais, como a ONU, se manifestaram sobre o direito das mulheres a uma participação igualitária na sociedade da informação. Ainda que estes pronunciamentos nem rocem as questões de fundo (o que seria uma participação igualitária? Em que âmbitos e en quais condições?) e fiquem apenas apontando as necessidades educacionais das mujeres para o trabalho nas TIC (para sua incorporação a um mercado de trabalho que torna as descriminá-las com salários mais baixos), nem se quer estes enunciados são levados a sério pelos governos nacionais. Táticas feministas em rede Pioneira no tema, a seção de Mujeres da Asociação para o Progreso das Comunicações, conhecida como Rede PARM/APC, rede não governamental internacional fundada en 1990, se destaca no cenário internacional desde 1993, pela promoção, uso e desenvolvimento da internet para a justicia social e o desenvolvimento sustentável, que trabalha com o objetivo de empoderar as mulheres no âmbito das TIC. Esta rede vem participando ativamente em todos os forúns de discusão sobre internet. Desde os anos noventa vêm ocorrendo reuniões sectoriais internacionais nas quais as questões de gênero são debatidas3. Algumas pesquisas deram suporte empírico ao problema e ofreceram dados para a ação, apesar de existirem poucas estatísticas que tragam a discriminação por sexo de cada país. Desde 2002, a CEPAL e o programa Aliança para a Sociedade da Informação 2 (@LIS2), vêm mapeando as agendas digitais existentes na África, Ásia e América 3

Na IV Conferência Mundial sobre a Mulher (em Beijing, 1995), na IX Conferência Regional sobre a Mulher da América Latina e Caribe, realizada na Cidade do México (Consenso do México, 2004), no Grupo de Trabalho Gênero - criado durante a II Conferência Ministerial sobre a Sociedade da informação (El Salvador, 2008) - cujos esforços foram refrendados na III Conferência Ministerial (em Lima, 2010); na XI Conferência Regional sobre a Mulher da América Latina e Caribe, ocorrida em Brasília, em 2010 (cujo documento final ficou conhecido como ―Consenso de Brasilia‖) e na XII Conferência Regional sobre a Mulher da América Latina e o Caribe, en Santo Domingo, República Dominicana, en Outubro de 2013 - convocada com o tema ―Igualdad de gênero, empoderamento das mulheres e as tecnologias da informação e as comunicações‖ (CEPAL, 2013), o movimento de mulheres esta discutindo os desafios das comunicações digitais.

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Latina, para obter um diagnóstico sobre quanto os governos incorporam as questões de gênero em seus planejamentos (HAFKIN, 2002; CEPAL, 2013). Foram analizadas as agendas digitais, planos para a inclusão digital e políticas públicas sobre o tema, com parcos resultados. Em 2005 APC começou a observar os usos da internet nas situações de violência4 e a analizar experiências sobre sexualidade na internet5 em cinco países (Brasil, Líbano, Índia, África do Sul e Estados Unidos). Desde 2011, a campanha ―Dominemos a tecnologia‖6, que se acontece durante os 16 dias de ativismo contra a violência de gênero – entre 25 de novembro e 10 de dezembro todos os anos – organiza em um mapa virtual casos com denúncias sobre violência contra as mulheres nos espaços digitais ou apartir do uso TIC, em todo el mundo. Em 2010, em Brasília, foi aprovada a resolução n.5 que estabelece a necessidade de ―facilitar o acesso das mulheres às novas tecnologias e promover meios de comunicação igualitários, democráticos e não discriminatórios‖ com o objetivo de transversalizar a perspectiva de gênero nos debates e ações da Sociedade da Informação e da Comunicação na América Latina e Caribe. O documento destaca a necesidade de ações educativas para estimular as mulheres a inserirem-se na educação tecnológica e de seu empregro especializado nas atividades econômicas; a observação e monitoramento de conteúdos sexistas e racistas nos meios de comunicação e de internet, a formação e sensibilização dos e das jornalistas nas questões de gênero, raça, orientação sexual e geração. Além disso, foi recomendada a promoção do acesso às mídias a povos indígenas e afrodescendentes, mediante programas que incorporem as línguas nativas e reconheçam as identidades locais (CEPAL, 2011). A XII Conferência Regional sobre a Mulher da América Latina e Caribe, (República Dominicana, 2013), foi convocada com o tema ―Igualdade de gênero, empoderamento das mulheres e as tecnologias de informação e as comunicações‖ (CEPAL, 2013). Os temas tratados versaram sobre políticas de acceso às TIC, mulheres nas empresas, desafios e riscos das TIC para a igualdade e um aspecto fundamental, o da necessidade de estatísticas e indicadores de TIC por gênero. No Brasil, durante a Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), em dezembro de 2009, foi discutida a formação, controle e 4

Os informes são Cultivando a violência a través das tecnologias, disponível em: http://bit.ly/T9HHHl e Perigos digitais: as tecnologias da informação e comunicação e o tráfico de mulheres, em: http://bit.ly/VqxdBY. 5 http://www.genderit.org/sites/default/upload/erotics_sintesis_espanol.pdf 6 https://www.takebackthetech.net/es

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acompanhamento das políticas públicas relacionadas com as telecomunicações, onde as mulheres tiveram um grande protagonismo. O Plano Nacional de Políticas para as Mulheres 2013-2015, elaborado pela Secretaria de Políticas para as Mulheres (Brasil, 2013) é enfático: Cap. 8 VI. Contribuir para o debate do marco regulatório do sistema de comunicação brasileiro e formular propostas que contribuam para veiculação não discriminatória e não estereotipada da imagem da mulher nos meios de comunicação e em mensagens de utilidade pública, promovendo a participação social.(...) 8.4. Promoção do acesso das mulheres aos bens culturais e tecnologias da informação e apoio às mídias livres e alternativas. 8.4.1. Estimular o debate sobre o marco regulatório para o sistema de comunicações do país. 8.4.2. Contribuir para o acesso das mulheres aos benefícios da Banda Larga, com destaque para os equipamentos especializados de atendimento às mulheres. 8.4.3. Promover a capacitação para inclusão digital das mulheres, ampliação ao acesso às TICs, considerando as dimensões étnicas, raciais, de orientação sexual, de identidade de gênero, geracionais e das mulheres com deficiência (...) 8.5.2. Estimular e fomentar os talentos criativos das mulheres nas diversas esferas de atividades (música, filme e vídeo, TV e rádio, mercado editorial, designer e moda, artes visuais, artes cênicas e dança, cultura popular, publicidade, arquitetura, jogos e animação, gastronomia, turismo, tecnologia digital, etc.) (BRASIL, 2013)(destaques nuestros).

Observamos que, em diferentes graus, e com efeitos ainda pouco visíveis, se identificou a necessidade de transversalizar o olhar sobre o gênero para o tratamento sobre governança da internet, sobre o acesso aberto e livre, a liberdade de expressão, a privacidade, a segurança, os direitos humanos de mulheres e homens7. Acontece que os verbos utilizados nestes documentos (estimular, promover, contribuir, fomentar) não 7

O Serviço Federal de Processamento de Dados-SERPRO – empresa pública brasileira vinculada ao Ministério da Fazenda, que desenvolve tecnologias em software livre para projetos e programas públicos do Brasil – instituiu em 2013 um comitê gestor do ―Programa Serpro de Equidade de Gênero e Raça-PSEG‖, ―para elaboração, estruturação, implementação e gerenciamento das ações a serem executadas pelo Comitê Gestor Central e Comitê Regional. Até o momento (setembro de 2014) não temos informações sobre seu desenvolvimento (https://www.serpro.gov.br/conteudo-oserpro/equidade-de-genero/decisao-de-diretoria-programa-de-equidade2013/view)

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serão suficientemente performativos sem uma reglamentação específica em cada setor de aplicação, que transformem essas declarações de intenções em medidas concretas, com benefícios para quem as cumpre e sanções para quem não o faz. Resultados da pesquisa que finalizamos em 2013 no Brasil, para avaliar o lugar das mulheres e da dimesão de gênero em projetos de inclusão digital, nos ofereceram dados nada estimulantes. Ainda que o trabalho tenha avaliado (NATANSOHN e colaboradores, 2013) apenas um estado brasileiro (Bahia), serve para oferecer indicadores sobre un panorama que parece estar cheio de declarações e boas intenções, mas de fato, conseguiu avançar muito pouco.

Olhando com lente de gênero se vê melhor A pesquisa desenvolvida pela nossa equipe (NATANSOHN, G. e outros, 2013) aplicou a ―Metodologia de Avaliação com perspectiva de Gênero para Projetos de Tecnologia da Informação e da Comunicação‖ elaborada pelo APCWomen (2005, p.22). A análise de gênero na avaliação implica uma referência sistemática aos diferentes impactos das atividades do projeto em homens e mulheres. A análise de gênero no contexto das TIC afirma que as relações de poder que envolvem clase, raça, etnia, idade e localização geográfica interagem com o gênero e produzem desigualdades complexas e ocultas que incidem na mudança social de uma forma geral. O referente que parte de uma análise de gênero também considera de que maneira se utilizam as TIC em particular para sustentar ou provocar essas mudanças. Assim, uma abordagem de gênero na avaliação dos projetos e iniciativas de TIC analisará os dados, por exemplo, por sexo, analizará a divisão sexual do trabajo e comprenderá as desigualdades de gênero no acesso e controle dos recursos.

Foram mapeadas iniciativas governamentais e de ONG para a promoção e capacitação digital nos estados da Bahia, Brasil, observando-se o lugar das mulheres e a existência ou não de estratégias de inclusão das mesmas, de acordo com o que vem sendo recomendado pelas entidades nacionais e internacionais já comentadas aqui. O trabalho se propôs a aplicar uma ―lente de gênero‖ (HAFKIN, 2002) sobre os programas de inclusão digital baianos, ―para observar se articulam, em algum nível,

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questões relativas à identidade de gênero de seus participantes (gestores, usuários) em seus documentos. Essa ―lente de gênero‖ permite reconher dimensões pouco ou nada estudadas nos projetos e iniciativas de intervenção social, porque se considera que a universalidade

das

políticas

chegam

igualmente

a

mulheres

e

homens,

independentemente do gênero, a raça e de outros determinantes (NATANSOHN, G. e outros, 2013). Um projeto ―para todos‖ supõe – equivocadamente - que homens e mulheres, de qualquer raça, cor, idade, obterão os mesmos benefícios da intervenção. Por isso, aplicar a ―lente de gênero‖ sobre eles implica preguntar sobre: Foi considerada a perspectiva de gênero na concepção e desenvolvimento do projeto? O projeto teria um impacto igual sobre homens e mulheres? Há diferença no fato ser homem ou mulher em relação ao acesso a os recursos do projeto ou na possibilidade de se beneficiar com ele? (HAFKIN, 2002, online).

Para isso, procuramos projetos dirigidos a mulheres como grupo específico; projetos que, intencionalmente ou não, parecian transformar os papéis tradicionais de gênero e projetos que intencionalmente pretendiam beneficiar ambos, homens e mulheres através de estratégias diferenciadas e/ou conjuntas. Os indicadores utilizados mediram (mediante o acesso a documentos e entrevistas a gestores) a participação de mulheres em lugares de coordenação destas iniciativas, ou em espaços com poder de decisão nos documentos disponivéis online. Também se analisou se, de alguma forma, estavam explicitadas relações de gênero nos conteúdos, resultados, usos, nas estratégias de desenvolvimento e na implementação prática da proposta. O objetivo foi comprovar algum grau de sensibilidade destes projetos, em relação à igualdade de oportunidades entre homens e mulheres para acessar os espaços de capacitação oferecidos. As variáveis analisadas incluiram, além da presença de homens e mulheres em todos os níveis de decisão, os horários das capacitações, que sempre precisa ser diferente para que as mulheres possam driblar a dupla jornada de trabalho; a presença de monitoras mulheres, para evitar constrangimentos; a disponibilidade de espaços para a assistência às crianças, pois as mulheres nem sempre podem abandonar seu papel de cuidadora da família; o uso didático de conteúdos apropriados aos seus interesses, entre outras variáveis.

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Dos 14 programas de incluso digital analizados, – sete de orgãos públicos e sete do terceiro setor – nenhum apresentou algum indício de sensibilidade relativo às questões de gênero. Nem mesmo aqueles cujo público era predominantemente feminino, como o ―Programa Maré‖ (Programa ―Telecentros de Pesca - Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca/ Presidência da República‖) onde, quantitativamente, a presença feminina na Bahia é similar à masculina, considerando o trabalho das marisqueras e pescadoras8. Não há menção a elas, nem dados sobre eventuais impactos diferenciais para pescadores e pescadoras no que se refere ao aproveitamento dos recursos oferecidos. O mesmo acontece com os projetos da Secretaria da Educação. Dirigidos a docentes, onde a imensa maioria é composta por mulheres, continuam se referindo a elas no masculino (―professores‖) e mais, continuam representado-as visualmente como homens (o projeto se chama ―Profesor Web‖). Somenete o programa ―Cidadania Digital‖, da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado da Bahia registra suas/seus usuarixs por sexo, mostrando que as mulheres são as que mais acessam o serviço em relação aos homens (7% a mais), o que acontece de forma espontânea, nem planejada ou induzida. A maioria dos programas não oferecem dados por sexo, nem de usuarixs nem de monitores ou responsáveis. Usuários e usuariás são sempre chamados na forma masculina (―usuários‖, ―cidadãos‖, ―empreendedores‖, etc.), mesmo se sabendo que em alguns setores, como a docência e a pesca, a maioria é de mulheres. Não são previstas, em suas acções de capcacitação, distinções por sexo, supondo-se que homens e mulheres teêm possibilidades e condições idênticas de aprendizado, expectativas, interesses, contextos, formas de lidar com a tecnologia, tempo. Nenhum dos programas de inclusão digital analisados aborda a discussão em suas ações educativas de conteúdos ligados aos direitos humanos das mulheres, à igualdade de gênero ou à violência de gênero. A metodologia utilizada permitiu evidenciar a contradição entre as posições das políticas setoriais – de mulheres – sobre as TIC, e a política nacional e estadual (da Bahia) de fomento à cultura digital, que não desenvolve estratégias específicas para a inserção das mulheres, nem demostra vontade política para superar essa realidade. 8

O estado de Bahia, Brasil, possui, segundo os dados disponíveis, 105.455 pescadores registrados, sendo 54,9% homens e 45,1% mulheres, ocupando o primeiro lugar na Região Nordeste em quantidade de pescadorxs registrados (BRASIL, 2011). Supõe-se que o subregistro é muito grande, pois a maioria das pescadoras e marisqueiras trabalha informalmente.

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Se no Brasil atual há, por um lado, o reconhecimento explícito da necessidade de políticas públicas de TIC orientadas para as mulheres, não se tem feito nada de efetivo neste sentido, assim como nada tem sido feito de estratégico em relação ao ―Plano Nacional de Banda Larga‖; entretanto, os debates sobre o marco legal regulador da internet continuam sendo pressionados pelos agentes econômicos hegemônicos (empresas de telecomunicações, provedores de internet), com a mínima intervenção do movimento feminista e de mulheres, que têm enorme dificuldades para pautar o debate em sua agenda e efetivar suas demandas.

Infectando a ciência con vírus feministas O que menos se entende é com as próprias máquinas têm um habitus e encarnam formas particulares de capital cultural. Judy Wajcman9

Descrevemos até aqui algumas das muitas intervenções políticas que os governos, o movimento de mulheres e o feminista têm realizado. No entanto, o olhar de gênero não se esgota na questão das ausencias femininas nas TIC e as brechas de gênero. Porque abordar as questões de gênero somente a partir do ponto de vista da exclusão das mulheres significa deixar de fora da problematização o caráter androcêntrico da ciencia e da tecnologia10 , onde as exclusões são apenas um sintoma. Da mesma forma, o conceito de brecha digital não dá conta da dimensão do problema que esta em jogo. A presença de mulheres, muitas vezes minimizada e subestimada, nas questões técnicas, é um porduto de um sistema cultural e de produção científica e tecnológica androcêntrico que reproduz as exclusões que muitas vezes diz combater (inclusive sob a bandeira da inclusão digital). Ao invés de entender estes escotomas como um problema das mulheres, as teorias feministas entendem a divisão digital como mais uma das manifestações de algo estrutural e estruturante: o duplo movimento de expulsão das

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Judy Wacjman. El tecnofeminismo. Madrid: Cátedra, 2006, p. 174.

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―Os discursos e as práticas androcéntricas não são empre fáceis de identificar, já que se mantêm à base de comissões e omissões. Não basta dizer que o androcentrismo existe quando o homem, o masculino ou a masculinidade são considerados a medida de todas as coisas; quando as ações individuais refeltem perspectivas, interesses ou valores masculinos; quando o homem, o masculino e a masculinidade são consideradas fontes únicas ou primordiais de sabedoria e autoridade, ou quando as experiências masculinas são as preeminentes, as normativas, as imitáveis, as desejáveis etc. É necessário, também, sublinhar o reforço que outros fatores oferecem androcentrismo: representações e estereotipos, misoginia, sexismo, machismo, marginação, represão, violência física e simbólica etc.‖. Gonzalez Vázquez, 2013, p.493.

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mulheres do campo da ciência e da tecnologia, o que lhes impede de participar dos processos de construção e legitimação de conhecimento, ao mesmo tempo em que se elimina qualquer traço considerado feminino de tal construção (MAFFÍA, 2007). Se a tecnología é neutra, objetiva e imparcial, assexuada, os ―problemas‖ para se incorporar a ela estariam nas próprias mulheres, na sua cultura, educação e valores, cheios de subjetividade, emoções e irracionalidade. O que os feminismos vêm questionar é o próprio funcionamiento do sistema tecnológico e científico, a construção do campo sociotécnico a partir de una perspectiva que não só exclui as mulheres como todos os grupos que estão fora das formas androcêntricas dominantes, suas formas de conhecimento, experiências, saberes, valores e ideologias11, isto é, os já discriminados por raça, nacionalidade, cor da pele, classe social, etnia. Além disso, ler os problemas gênero a partir da crítica ao androcentrismo contribui para fugirmos de registros dicotômicos, binários ou essencialistas – que reduzem e coisificam a categoria teórica gênero a uma categoria empírica (mulheres/homens) - e coloca em evidência outras diferenças, muitas delas internas às multiplicidades heterogêneas entre os sujeitos (HARAWAY, 1995). Entender o jogo das diferenças em vários planos e interseccionalmente significa incluir na análise outros sujeitos subalternizados (homens pobres, mulheres negras, indígenas, por exemplo). O que não tira o valor das análises centradas na categoria mulher, pois se as diferenças de gênero podem, se usadas a priori, excluir ou obscurecer outras diferenças, também é certo que no campo da ciência e da tecnologia essa diferença não é deprezível nem secundaria no que se refere à construção social dos sujeitos. No entanto, a pergunta sobre como o gênero constitui a ciência e o conhecimento, elaborada por Fox Keller, Harding, Haraway, Wacjman e outras feministas, é mais produtiva em termos explicativos que a pergunta sobre ao que acontece ou deixa de acontecer às mulheres na e com as ciências. Neste marco, Castaño (2008) ao caracterizar o que chama de ―segunda brecha digital de gênero‖, revela em um extenso estudo qualitativo as dificuldades que as mulheres enfrentam para se apropriarem da cultura tecnológica por causa da hegemonia masculina nas áreas estratégicas da formação, da pesquisa e do trabalho em TIC e por uma trama de desigualdades, intrínsecas ao sistema de gênero e a ao sistema tecnológico. 11

Experiências e saberes que, para Haraway, são o fundamento da política e epistemologia das perspectivas parciais, dos conhecimentos situados, encarnados, os únicos que têm a posibilidade de serem objetivos e racionais, mas assumindo a provisoriedade e parcialidade do sujeito de conhecimento que diz falar em nome da ciência (HARAWAY, 1995).

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Metodologicamente, sugiro que o caminho que indaga as diferenças culturais entre homens e mulheres, ou ainda entre as próprias mulheres, nos procesos de produção, circulação e apropriação tecnológica, pode ser mais elucidativo se estas diferenças são contrastadas com o modelo androcêntrico da tecnologia, sem essencializar as diferenças em termos de opisições binárias nem situando-as nos indivíduos como meros portadores de cultura. Ao entender que a ciência marginaliza muitas mulheres, mas também a muitxs outrxs (o ―outro digital‖, segundo Gordano, 2009),12 cabe pensar no lugar dos conhecimentos situados destes sujeitos, ao compartilharem o mesmo espaço subalternizado. E isso, justamente, é o que fazem os estudos sobre masculinidades: enfatizam as muitas formas da masculinidade, constrantando-a com o sujeito idealizado pelo androcentrismo (branco, heterossexual), perspectiva que não se opõe ao feminismo, mas o completa.

O software tem sexo? “Tecnologias são criadas e utilizadas para divertir e para oprimir, mas também para salvar e para libertar. Por isso, exploramos sua ambivalência e toda a dimensão ideológica dos plugins, dos protocolos e dos softwares” Manifiesto Actantes13

Quem constrói os softwares que fazem a internet funcionar, controla a internet, afirmavam as ativistas pelo direito das mulheres Jacira Melo e Vera Vieira en 2010 (MELO, VIEIRA, 2010). Quem decide sobre a infraestructura por onde se distribuem as redes, quem define os princípios, normas e procedimentos que as governam, que permitem sua evolução e seus usos, também controla internet. Que sujeitos sociais as constrõem? Com quais propósitos e ideologias? A quem estão excluíndo? Que valores trazem implicitos em seu desenvolvimento? Usar as redes digitais para empoderar às mulheres é uma parte pequena – ainda que estratégica – de uma tarefa maior, mas complexa, que consiste em inclui-las nas criações tecnológicas, na criação de códigos e softwares, nas decisões macro e micropolíticas. 12

Gordano, a partir del concepto de Haraway de outredade inapropiada/vel, afirma que ―podemos emplear el término otro digital para referirnos a grupos y personas subordinados en relaciones de poder cuya otredad encarnada reverbera en el acceso y la apropiación de las TIC. Esta otredad encarnada se manifiesta en aquellos cuerpos que no responden al modelo universal humanista del hombre-blanco-joven-occidental-de clase media o alta, y que no gozan de los recursos materiales ni simbólicos para ocupar el espacio digital con esa lógica dominante‖(2009, p.151-152). 13

http://actantes.org.br/manifesto-actantes

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―Quando você vai aos grupos de mulheres e aos grupos feministas, a Internet não é um tema importante do ponto de vista político, não se tem conhecimento na área‖ avalia a brasielira Magaly Pazzelo. Ela observa que a internet é vista como um meio, um veículo, não há conhecimento elaborado sobre seu significado e impacto: ... uma coisa é você usar o Facebook para a sua atuação política, outra coisa é você debater a privacidade no Facebook, como a forma como o Facebook foi construído tecnicamente vai impactar o próprio uso da ferramenta e outras coisas, questões mais amplas de privacidade, liberdade de expressão, que são para além da Internet. Então, você não pode mais fazer um debate sobre privacidade que não contemple o que está acontecendo hoje com a Internet ou um debate sobre sexualidade, ou outros direitos, sem contemplar o que acontece hoje na Internet, na camada da Internet onde se dá a interação dos usuários e na camada da Internet onde acontece o transporte (BANDEIRA, 2012, p.349).

Talvez a falta de um ciberfeminismo realista, desencantado, comprometido politicamente seja uma das piores consequências das brechas digitais de gênero mencionadas. Ainda que questões tais como a governança da internet, crimes cibernéticos, direitos de propiedade intelectual de bem digitais e políticas de TIC neoliberais tenham uma influencia crucial e decisiva sobre os temas feministas mais comuns (saúde, trabalho, violências) isso não é algo imediatamente aparente para os grupos de mulheres (JENSEN, 2013). De fato, estas discussões provêm sobretudo de mulheres jovens envolvidas no movimento de software livre e da computação, do âmbito do direito da informática e do jornalismo. Os temas que mais mobilizam as mulheres são aqueles que se referem aos conteúdos da web e às formas de violencia sexista oriundas do mundo digital, como o ciberassédio, a violência simbólica e midiática na internet, a invasõa de privacidade, a divulgação da intimidade, a vigilância eletrônica sobre as mulheres, entre outras mais. No entanto, é insuficiente discutir conteúdos e formas de controle se não se discute a natureza, direcionamento e funcionamento dos sistemas técnicos que posibilitam o establecimiento de relações sociais na e através da tecnologia digital. Argumenta-se a favor da alfabetização digital diante do que alguns caracterizam como uma discontinuidade epistemológica essencial que se da a partir da digitalização da cultura (PISCITELLI, 2009). A alfabetização digital inclui prácticas relacionadas com as TIC que são hoje indispensáveis para a vida diária, tanto para usar as máquinas como para o desenvolvimento do pensamento abstrato. No entanto, as pesquisas e

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prácticas sobre alfabetização e competências digitais focalizam sobre os usos das TIC e pouco sobre o desenvolvimento e criação. A igualdade de gênero em TIC significa usar, mas também programar, manipular, inventar com a tecnologia de maneira proativa. Estas habilidades deixaram de ser exclusivas do ámbito da Ciência da Computação ou das Engenharias e hoje são objeto de estudo e desenvolvimento também das Ciências Sociais e das Humanidades (As ―humanidades digitais‖14) nas quais os estudos sobre o software são centrais. As formas de criação, desenvolvimento e difusão das inovações tecnológicas e culturais têm hoje a forma de software. Softwares take command, afirma Lev Manovich, metaforicamente, mas nem tanto. Search engines, recommendation systems, mapping applications, blog tools, auction tools, instant messaging clients and, of course, platforms which allow others to write new software – Facebook, Windows, Unix, Android – are in the center of the global economy, culture, social life, and, increasingly, politics. And this ―cultural software‖ – cultural in a sense that it is directly used by hundreds of millions of people and that it carries ―atoms‖ of culture (media and information, as well as human interactions around these media and information) – is only the visible part of a much larger software universe. (Manovich , 2008, online, s/n)

Para se comunicar por meios digitais, os softwares são o meio e a mensagem; temos que aceitar seus procedimentos, suas arquiteturas comunicacionais, suas regras. E mesmo que nem todas as pessoas queiram ou possam programar, é essencial entender sua lógica. Toda e qualquer situação de comunicação tem regras, seja online ou face a face. No entanto, no espaço digital, elas são invisivéis para xs usuárixs e, assim, impossíveis de serem negociadas. Somente no plano das intereções, dos usos, do design, vemos o que o software nos permite (e, no caso dos softwares de redes sociais de amplo alcance, como o Facebook, na maioria das vezes nem imaginamos o que não nos permite, de tão naturalizado e incorporado que se tornou o seu uso). Sem alguma perícia técnica é inimaginável, para a maioria dxs usuárias e usuários, saber o que (e quem) ―faz‖, literalmente, o código fonte, os cookies, firewalls, trojans, os algoritmos, a criptografía... Paradoxalmente, o que faz a internet funcionar com agilidade é a lógica oculta do software (GALLOWAY, 2010): o software se esconde exatamente no momento em que se expressa mais plenamente, o momento do seu uso. Os softwares são criados mediante a escrita de códigos, conjunto de instruções que controlam a

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https://es.wikipedia.org/wiki/Humanidades_digitales

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operação de uma máquina. Por isso, mulheres feministas que desenvolvem códigos têm um papel fundamental, como assegura Graciela Selaimen, para quem escrever código é: parte essencial de uma estratégia de resistência biopolítica capaz de reescrever e resignificar históirias reafirmando o papel da mulher como desenvolvedora de tecnologias – não apenas para contrapor uma cultura misógina em muitos dos ambientes onde as tecnologias da informação e comunicação são concebidas, desenvolvidas e negociadas, mas também para expandir o alcance de linguagens que tragam em si outras intencionalidades, que não reflitam e reproduzam visões de mundo nas quais a opressão de uma parte da humanidade sobre a outra seja naturalizada. (SELAIMEN, 2013, p. 134),

Concluindo: por um ciberfeminismo 3.0 ―A partir de estudos de mídia, passamos para algo que pode ser chamado de estudos de software; da teoria da mídia à teoria software‖15, sugere Manovich (2008, online). Qual será o lugar do feminismo frente a este novo paradigma teórico? O que seria, então, uma aposta nas TIC com sensibilidade de gênero, uma política TIC feminista, uma teoria social feminista da tecnologia digital? Não existem respostas prontas, acabadas. Como vimos, é necessário demonstrar com dados robustos as brechas digitais de gênero e, ainda assim, não podemos supor que uma política de inclusão digital por si só contribua para a superação das desigualdades digitais de gênero. Expusemos alguns exemplos das ações políticas feministas e discutimos as fronteiras do conceito de brecha digital. Discorremos sobre a importância da promoção de compentências digitais que avancem para além da alfabetização e dos usos das TIC e apostamos no diálogo transdisciplinar entre feminismo, as humanidades digitales e os estudos tecnológicos, com uma perspectiva ampla e interseccional de gênero. A tarefa de descriptografar a sociotécnica androcêntrica caberá, seguramente, às novas gerações de ciberfeministas, que deverãm abrir o caminho – como o fizeram sempre as feministas – em um território hóstil, masculinista, campo minado por forças estatais, corporativas e políticas. Tarefa difícil, interseccional e, mesmo assim, necessária e possível.

Referências 15

No original:‖ From media studies, we move to something which can be called software studies; from media theory — to software theory‖(MANOVICH, 2008, online, s/n)

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