Por uma edição de livros sem preconceitos

July 3, 2017 | Autor: Cristina Yamazaki | Categoria: Editoração, Revisão De Textos, Edição De Texto
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Por uma edição de livros sem preconceitos Cristina YAMAZAKI Mestranda em Ciências da Comunicação Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP)

Resumo Uma língua idealizada e a gramática normativa costumam ser as referências dos profissionais de texto que trabalham para as editoras de livros. No entanto, esse código lingüístico normativo está distante dos leitores brasileiros. O editor, como profissional que tem o compromisso de publicar textos claros e acessíveis, deve saber adaptar os textos a seu público e reconhecer a diversidade lingüística do país. A reflexão sobre alguns elementos da sociolingüística pode contribuir para uma edição sem preconceitos, que leve em conta a realidade lingüística dos leitores em dois aspectos: o uso de uma língua real nos textos impressos e o panorama de letramento dos brasileiros. Palavras-chave: editoração; edição de texto; revisão de texto; preconceito lingüístico

Muito além da correção gramatical O autor pôs o ponto final no texto e vai entregar o arquivo à editora. Nesse momento, em que a concepção da obra parece ter chegado ao fim, inicia-se um longo processo editorial até que o texto vá para uma estante e faça companhia a outros livros. As diversas etapas, que envolvem tanto procedimentos artesanais como técnicos e industriais, costumam ser invisíveis aos leitores e até aos autores. Como explicou o filólogo Antônio Houaiss em um simpósio sobre editoração promovido pela Fundação Getulio Vargas em 1970, o processo editorial é necessário porque em 90% dos casos, os autores não apresentam os originais nas condições desejadas para a editoração. [...] Mesmo quando lingüisticamente o texto esteja em situação ideal, um preparo prévio, rápido que seja, tem de ser feito: a normalização da editora. Entretanto, em 90% dos casos, o texto entregue pelo autor não corresponde àqueles requisitos mínimos exigidos para que possa ser submetido imediatamente à fase compositora e impressora, porque apresenta uma série de defeitos orgânicos. (1981, p. 51)

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Houaiss expôs essas idéias há mais de três décadas e a produção editorial passou por grandes transformações técnicas ao longo desse período, porém a afirmação continua atual. Ousaríamos dizer que a porcentagem é até maior do que a citada pelo filólogo e atinge os cem por cento. Todos os textos entregues às editoras continuam exigindo um trabalho prévio antes de serem publicados como livros. E não apresentam apenas defeitos orgânicos, mas também problemas lingüísticos. É por isso que nas editoras todos os originais passam por algumas etapas de edição de texto, que variam conforme a empresa, o livro, o autor, o prazo de publicação e outros fatores, mas que em geral (ou idealmente) são constituídas de preparação de texto e três revisões de prova. É complexo expor o que se faz em cada uma dessas etapas, porque existe uma confusão de denominações para as tarefas, além de indefinição do que elas envolvem: por mais que alguns autores pensem que a revisão seja apenas uma correção ortográfica, a revisão e a preparação exigem intervenções em muitos outros níveis. No senso comum, a revisão é considerada uma atividade profissional que visa corrigir erros dos textos e oferecer uma obra sem erros. Trata-se de uma visão puramente normativa, decorrente de uma concepção também normativa que domina o discurso sobre língua nos grandes meios de comunicação (com as colunas de dúvidas gramaticais, por exemplo). Qualquer um “com bom português” e/ou “que saiba bem a gramática” acaba, dessa forma, sendo visto como potencial candidato a revisor. A competência gramatical, contudo  e mesmo o saber enciclopédico e cultural , é apenas uma das muitas que o profissional deve adquirir para realizar a tarefa. Pois eliminar os erros de um texto é um dos vários subobjetivos da revisão e da preparação, as quais também implicam garantir um texto mais claro e acessível, que atinja seu público leitor de modo eficaz. É com base nessas idéias, portanto, que afirmamos ser tarefa primordial do editor de texto1 criar condições o mais favoráveis possível para uma comunicação. Sem a atuação desse profissional, a compreensão de uma mensagem pode ficar comprometida. É por isso que o compromisso do editor com a precisão, o rigor e a legibilidade está na essência da ação de editar um texto. Fica evidente, ao destacar essa função 1

Neste artigo, adotamos a expressão “editor de texto” para denominar todos esses profissionais que atuam nas etapas que sucedem à primeira redação de um texto alheio. São revisores de provas, preparadores, copidesques, editores, editores-assistentes, assistentes editoriais  profissionais que intervêm em um texto-base que se destina à publicação (em livro, revista, site ou outros produtos editoriais). Sabemos que o debate sobre os nomes ainda está longe de se elucidar, sobretudo na prática cotidiana. No entanto, optamos por usar essa expressão para integrar os diversos profissionais do texto ou interventores textuais, na medida em que trata-se de uma nomenclatura que não se distancia da atividade empírica.

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comunicativa, que o propósito dos editores de texto não é corrigir erros num texto, mas sim divulgar uma obra clara, que seja acessível a um público vasto. É claro que a supressão dos erros, a busca por um texto sem lapsos de nenhum tipo, também faz parte da atividade de edição, mas na medida em que o erro pode prejudicar a legibilidade textual ou visual. Acreditamos que essa idéia é fundamental para avaliar e propor uma concepção de edição sem preconceitos, pois muda o foco, que deixa de ser a obsessão pelo erro para se assumir como obsessão pela legibilidade. Se o compromisso do editor é com o leitor, com a comunicação clara e eficaz, ao receber um original esse profissional procura conhecer o texto, tendo em mente o tipo de obra que será impressa. Assim, pensando no volume que vai ser publicado, ele faz um reconhecimento de campo. Depois, avalia o material e parte para as intervenções. Mas como avaliar se o texto está bem escrito? Como definir o que deve ser alterado? Ressaltemos que um texto pode estar correto do ponto de vista da gramática tradicional, porém isso de forma alguma descarta o trabalho de edição de texto. Emanuel Araújo lembra que discutir se uma composição ou um texto são bons implica adentrar no debate espinhoso sobre o estilo. Espinhoso porque não se define um estilo bom e um estilo mau, tampouco um correto e outro errado. Trata-se de uma expressão individual,

que

deve

ser

respeitada,

mas

não

reverenciada

nem

acatada

indiscriminadamente. Araújo chega a afirmar que “o trabalho sobre o original não pode alterar muito esse comportamento básico do autor a que se chama estilo”. Chama a atenção o advérbio muito, porque ele abre um espaço — que pode ser grande — para o editor alterar o estilo do autor com liberdade. Embora o limite de ação seja exíguo, afirma, “essa liberdade existe e deve ser usada”. Antes, porém, é preciso avaliar os elementos intrínsecos da forma como o texto se apresenta, ou seja, a estrutura das orações, a concatenação, o ritmo, a fluência, o efeito, a correção. E deve-se considerar a finalidade do texto, pois a “margem de atuação do editor, no sentido mais amplo, é proporcional à finalidade intrínseca do texto, de qualquer texto: a comunicação escrita, a mensagem visual de cada frase, de cada linha, de cada página”. É com base nesse reconhecimento do estilo e da finalidade do texto que o editor de texto parte para a tarefa de “veicular esse tipo de comunicação da maneira mais clara possível para o leitor” (ARAÚJO, 2006, p. 61).

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O editor de texto entre a norma e a língua real Mesmo autores que não abordam a língua sob a concepção sociolingüística concordam que “o preparador de originais [...] não pode prender o texto numa camisade-força dos critérios gramaticais excessivamente rígidos, sob pena de desautorizar grande parte dele, dando-o como ‘impublicável’” (ARAÚJO, 2006, p. 70). No entanto, apesar do conselho de não se limitar a obedecer de forma cega à norma-padrão, os profissionais do texto continuam adotando como fontes de referência e consulta apenas obras que se fundamentam na gramática tradicional. Basicamente, o editor consulta e usa como referência dicionários de vários tipos (monolíngües e bilíngües, técnicos, de regência, de expressões idiomáticas, de dificuldades da língua, de citações etc.), gramáticas, o Vocabulário ortográfico da língua portuguesa (Volp), os manuais de estilo das empresas jornalísticas (Grupo Estado, Grupo Folha e Abril) e também alguns sites da internet, hoje fonte essencial de pesquisa. Porém esses materiais se restringem a recomendações e regras do que é gramaticalmente certo e errado. Além de regras ultrapassadas e não usuais no dia-a-dia, há tantos pontos de discórdia e tantas lacunas entre os gramáticos e os comandos paragramaticais2, que é comum o editor de texto ficar desorientado. Ele não tem onde procurar fundamentação para questões ignoradas pelas gramáticas, tampouco encontra explicações para compreender as razões por trás das recomendações. Todo o seu aprendizado é prático. Diante desse cenário, como tomar a decisão mais sábia? Na prática, os profissionais acabam por seguir a intuição e o “bom senso”, muitas vezes adotando uma escolha com base em critérios pessoais, baseados na experiência pessoal. Se os gramáticos e filólogos não oferecem respostas, onde os editores devem buscar respostas? Como fundamentar suas decisões? Para refletir sobre as escolhas do editor de texto, trazemos as idéias do sociolingüista Marcos Bagno, que defende um ensino crítico da norma-padrão da língua portuguesa brasileira. [...] é necessário despejar sobre o pano de fundo homogêneo da norma-padrão clássica a 2

Expressão usada pelo sociolingüista Marcos Bagno para designar a pluralidade de expressões que envolvem a mídia, um dos quatro elementos que alimentam o ciclo vicioso do preconceito lingüístico. O autor inspirou-se numa tira do cartunista Quino, na qual a personagem Mafalda se sente reprimida pelos “comandos paramaternais”.

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heterogeneidade da língua realmente usada. Para isso, a escola deve dar espaço ao maior número possível de manifestações lingüísticas, concretizadas no maior número possível de gêneros textuais e de variedades de língua: rurais, urbanas, orais, escritas, formais, informais, cultas, nãocultas etc. (2004, p. 59)

De posse do conhecimento dos muitos usos possíveis das estruturas da língua, é que o indivíduo poderá se posicionar diante da norma padrão, criticá-la, aceitá-la ou recusá-la e lutar por sua transformação. (2001, p. 293)

O lingüista propõe uma mudança de atitude dos professores de língua portuguesa em relação a seu objeto de trabalho: a norma-padrão. Consideramos importante sugerir a mesma mudança entre os profissionais que trabalham com edição de textos. Afinal, o editor lida diariamente com a língua e é um dos responsáveis pela língua portuguesa brasileira escrita legitimada nas obras literárias, didáticas ou informativas e em quaisquer produtos editoriais (folhetos, manuais, relatórios, sites etc.). Ele precisa reconhecer que a língua portuguesa não se reduz àquela consagrada pela gramática normativa tradicional e por quase todas as fontes de referência e consulta usadas nas editoras. Existe um painel rico e complexo da língua real falada e escrita no Brasil, que deve ser conhecido e reconhecido pelos profissionais de texto. Não é uma tarefa fácil, entretanto, em especial num meio em que se prestigiam e promovem tanto a gramática conservadora como os que sabem empregar com perfeição o código normativo, sem incorrer em “ignorância e desleixo”, “à deriva dos invencioneiros de modismos e dos derrotistas do belo literário, dos acomodatícios da incúria oficial e do desmazelo didático, dos propagandistas de desordem lingüística e dos que não enfrentam a incapacidade de educação”, segundo palavras de Napoleão Mendes de Almeida, um dos mais severos defensores de nosso vernáculo (ALMEIDA, 1996). Para aceitar todas as variedades lingüísticas como opções legítimas a serem adotadas nas obras que publicam, o editor precisa desconstruir o preconceito que envolve o idioma – iniciando por seu próprio preconceito. É importante que os editores reconheçam o repertório de usos lingüísticos possíveis, assim como os estigmas que acompanham esses usos, para que decidam, de modo consciente, o que adotar. É essencial compreender e aceitar a pluralidade lingüística para então eleger suas próprias normas e aplicar suas opções. O uso dessas regras mais conservadoras tem que ser encarado como uma opção dentre as várias

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que o falante pode fazer no momento de falar-escrever. [...] Temos de reivindicar, isso sim, o direito pleno e democrático de também podermos usar as regras não admitidas nas gramáticas normativas, mas já plenamente documentadas na fala e até na escrita da maioria dos brasileiros cultos. (BAGNO, 2004, p. 67)

Não se trata, portanto, de uma proposta reducionista de negar as normas gramaticais, ou seja, de um “prescritivismo às avessas”, como denomina Bagno. Só quem conhece profundamente as regras da gramática tradicional e tem experiência com edição de texto é capaz de questionar as regras gramaticais da variedade-padrão e optar por outras variedades. Decidir por um uso não aceito pelas regras normativas está longe de ser uma solução simples, a opção mais fácil do editor ou do autor. Antes de tomar uma decisão, o profissional deve avaliar, por exemplo, o gênero textual e o público leitor, entre vários outros elementos implicados na edição de um texto. A gramática normativa, no entanto, domina o ambiente profissional dos editores de texto, que costumam se formar na prática cotidiana, em ambientes que enaltecem o escrever corretamente e que reforçam o preconceito lingüístico ao liderar movimentos pela “defesa da língua”, valorizando a tensão entre o certo e o errado. As pesquisas lingüísticas são completamente ignoradas pelos meios de comunicação em geral, não só pelas editoras. Assim, saber as normas gramaticais e ter uma boa “formação humana”  esse costuma ser o requisito de quem deseja trabalhar com textos nas editoras de livros. Entretanto, como apresentamos neste artigo, é fundamental o editor de texto conhecer a realidade lingüística do leitor de seu país. Apenas assim quem edita textos se despirá de ingenuidade em relação a seu instrumento de trabalho, a língua portuguesa brasileira, e contribuirá para, talvez, acabar com os mitos que compõem o preconceito lingüístico.

O editor de texto entre o público idealizado e o público real Os profissionais do texto não podem mais ignorar que os leitores brasileiros não conseguem ler nem compreender grande parte das publicações que circulam por aí. A língua idealizada pela gramática tradicional está muito distante da língua usada no diaa-dia, tanto na fala como na escrita. Num país em que apenas 28% da população entre

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15 e 64 anos é considerada plenamente alfabetizada3, ou seja, “tem capacidade de ler textos longos, localizar informações, relacionar partes do texto, comparar textos, realizar inferências e sínteses”, as empresas devem ter ciência de que público desejam atingir (ou vão limitar-se a apenas um quarto dos brasileiros?) e que tipo de texto deveriam publicar para que suas obras sejam acessíveis e possam ser lidas por muito mais pessoas. Para tornar mais concreta essa pesquisa sobre habilidades de leitura e escrita, apresentamos abaixo um dos exercícios propostos na pesquisa do Inaf 2001. O indicador visava identificar o alfabetismo funcional mediante testes semelhantes às tarefas e demandas que os brasileiros de várias classes sociais vivenciam no cotidiano. No exemplo abaixo, os entrevistados foram expostos a um formulário, ao lado de uma cópia de RG e o endereço de uma pessoa. Eles deveriam preencher a ficha com os dados pessoais de um amigo, como se o estivessem indicando para uma promoção.

Menos da metade dos entrevistados (45%) conseguiu preencher corretamente o formulário. Esse dado fornece uma dimensão da variedade do público leitor que o editor de texto deve considerar ao trabalhar numa publicação. Não se pode editar um folheto informativo, um manual de instruções ou um livro didático para um leitor idealizado, que domina de forma plena o código lingüístico prestigiado. Uma pesquisa aplicada de Stefan Martins e Lucia Filgueiras, ambos pesquisadores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, também nos oferece informações impressionantes sobre a adequação dos textos à realidade das habilidades lingüísticas 3

Segundo o balanço dos resultados de 2007 do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) sobre as habilidades de leitura e escrita, divulgado pelo Instituto Paulo Montenegro, braço social do grupo Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística).

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dos brasileiros. Martins e Filgueiras empregaram um índice4 para medir a legibilidade dos textos do portal do governo federal e do governo do estado de São Paulo. Na amostra da esfera federal, eles verificaram que 94% dos textos exigem no mínimo 15 anos de escolaridade para serem apreendidos; os outros 6% do material requerem entre 11 e 14 anos de escolaridade. Considerando o Censo Demográfico 2005, (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE), os pesquisadores ressaltam que 82% da população brasileira “não alcança o entendimento de nenhum dos textos da amostra” por ter menos de 11 anos de escolaridade formal. Quase todos os textos (94%) seriam apreensíveis por apenas 4% dos brasileiros, que possuem escolaridade de 15 anos ou mais. Nos textos do portal estadual os resultados são semelhantes: 92% dos textos se destinam a 6% dos cidadãos. É essa realidade lingüística que o editor deve ter como base para suas intervenções nos textos a serem publicados – seja como produtos impressos ou eletrônicos. De que adianta divulgar obras que não poderão ser compreendidas pelo público? A não ser, claro, que esta seja a intenção: impedir que os brasileiros tenham acesso independente à informação.

A língua real no prelo O editor pode atuar contra o preconceito lingüístico em dois momentos, portanto: na hora de fazer suas escolhas para as intervenções no texto, quando pode optar por soluções não registradas pelas normas tradicionais; e ao pensar no leitor dos textos que dá à luz, quando deve lembrar das habilidades de letramento de seu público. Publicar textos acessíveis e claros ao público pouco proficiente não significa, contudo, oferecer a realidade lingüística em textos fáceis, que tentam reproduzir as variedades orais, informais, rurais  e outras do estereótipo do leitor das classes populares, que não dominam plenamente as habilidades de leitura e escrita. Afinal, as variedades não são exclusivas aos analfabetos funcionais; os leitores cultos também as adotam quando o 4

Os autores adaptaram o índice Flesch-Kincaid, criado para a língua inglesa na década de 1970 com o objetivo de avaliar o nível de escolaridade exigido dos leitores para que um texto fosse compreendido. O Flesch-Kincaid é considerado ainda hoje o índice-padrão para determinar o grau de dificuldade de leitura dos documentos oficiais divulgados pelo governo norte-americano, em especial pelo Departamento de Defesa (GOLDIM, 2006, p. 119). Todos os textos devem ser redigidos para o nível de compreensão de um leitor com 6 a 10 anos de estudo formal (RESSLER, Perspectives on electronic publishing. Citado por GOLDIM, 2006, p. 119). Destacamos que o interesse do governo em realizar essa pesquisa evidencia a importância de um instrumento que meça a legibilidade textual. A escala Flesch-Kincaid foi criada por iniciativa do poder público com o propósito nada ingênuo de transmitir suas mensagens de forma inequívoca e clara.

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contexto o permite. É imprescindível, desse modo, que o editor aborde os textos avaliando diversos aspectos que lhe são fundamentais, como o gênero, o contexto, o público, a finalidade, as condições de produção, entre outros. Parece uma observação óbvia, mas não é raro constatar que muitos tendem a padronizar o tratamento dos textos e tratá-los como elementos isolados, plenamente independentes inclusive do público. Não é de espantar, pois qual é o instrumento básico de todos os profissionais que intervêm no texto a ser publicado? A gramática e o dicionário, que concebem um padrão ideal e irreal. No entanto, quem fala conforme todas as normas estabelecidas pela gramática tradicional? E por que devemos tratar todos os textos segundo essas normas? Não estamos defendendo que se devam ignorar as regras da gramática normativa, mas sim um cuidado ao fazer alterações e reescrever os textos dos livros. Um romance não pode ser abordado pelo editor de texto como se fosse um ensaio. Uma crônica não deve ter o mesmo tratamento lingüístico que um livro didático. E o livro infantil? E uma tese? Existem muitas variedades de língua, tanto escritas como faladas, e esse repertório múltiplo não pode ser ignorado pelo editor em prol de uma língua idealizada, adotada como padrão em todos os textos, independentemente de fatores como gênero de conteúdo, público leitor e veículo de comunicação, entre outros. Nos exemplos abaixo, alguns enunciados buscam se aproximar de situações orais informais. Poderiam ser falas reproduzidas em um livro ficcional ou enunciados usados como exemplos num livro didático, por exemplo: — Olha, doutor, tô sentindo uma coisa aqui perto do coração. — Olhe, doutor, estou sentindo uma coisa aqui perto do coração. — Fiquei com medo de dizer isso pra ele... Por isso fui embora e não quis mais ver ele na minha frente. — Fiquei com medo de lhe dizer isso... Por isso fui embora e não quis mais vê-lo na minha frente. — Tu lá sabe o preço do leite! — Tu lá sabes o preço do leite!

Em cada dupla, o que distingue os enunciados é a obediência à gramática normativa da língua portuguesa. Os gramáticos tradicionais consideram que a conjugação correta do verbo olhar na terceira pessoa do singular, no imperativo afirmativo, é olhe, embora seja bastante comum escapar da boca (e da mão) dos brasileiros a forma olha. No segundo caso, o uso do pronome pessoal reto ele no lugar do pronome oblíquo lhe provavelmente fere os ouvidos dos defensores da última flor do Lácio, afinal um

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pronome reto deve ser empregado como sujeito e não pode aparecer na função de objeto. E a conjugação verbal com o pronome tu na língua oral nem sempre obedece à forma prescrita pela gramática tradicional: é comum que o pronome tu, muito mais usado do que o você em vários estados brasileiros, acompanhe uma forma verbal não aceita pela norma-padrão. E será que os editores de texto podem publicar livros com formas consideradas erradas? Reproduzir num texto escrito uma forma tolerada apenas na língua oral pode causar estranhamento aos leitores e a pais e professores. Não é habitual escrever como se fala. Por isso, ver impresso algo como Eu vi ela na praça e apresentei ela pro meu irmão, por exemplo, pode causar reações indignadas de um professor que leia o texto num livro didático. Como a editora deixou que a obra fosse impressa dessa forma? Já presenciamos debates como esse no momento da produção de livros infantis. As pessoas responsáveis pela edição de texto ficaram em dúvida sobre a melhor forma a adotar. Se a fala for reproduzida para deixar o texto mais natural, os pais e professores podem não gostar e ainda achar que foi um lapso da empresa... Regências verbais erradas, mas perfeitamente admitidas na linguagem cotidiana, são então “corrigidas” para a norma-padrão da língua portuguesa. Assistir tevê deve ser substituído por assistir à tevê ou ver tevê porque podem ferir as regras da gramática normativa e os brios dos que zelam pelo idioma. Nos livros infantis e juvenis esse debate sobre as variedades não padrão apresenta mais um fator complicador, além da provável resistência dos próprios profissionais a uma gramática que não seja a tradicional: como já citamos, as normas prescritivas da gramática dominam também a concepção de língua entre professores e pais, que podem recriminar a opção lingüística dos editores e autores. As opções lingüísticas “heterodoxas” são consentidas quando são produzidas por um grande escritor ou um autor prestigiado. Mas no processo editorial esses textos também passam pelas etapas de edição de texto. E na versão que sai publicada em livro não há como o leitor saber o que foi “corrigido” pelos revisores, preparadores e editores da obra. Esses profissionais deparam com a seguinte dúvida: o que fazer, por exemplo, quando um grande autor da literatura “erra” na regência ou na pontuação e tenta reproduzir a linguagem oral? Ao acompanhar a recente reedição de todas as obras de Erico Verissimo pela Companhia das Letras, constatamos a dificuldade em definir que o deve ser alterado e o que deve ser respeitado. Fomos formados por uma cultura escrita que ignora as

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diferenças e as particularidades da linguagem oral e que estabeleceu uma gramática universal que ignorou o oral. Assim, os revisores e editores de texto, diante de casos que “transgridem” as normas do que “português correto” (como uma conjugação estranha, o pronome oblíquo como sujeito, uma vírgula separando o sujeito do predicado etc.), não estão imunes a um impulso de adequá-los à gramática normativa, que esses profissionais conhecem na ponta da língua. Apresentamos abaixo alguns exemplos extraídos de obras de Erico Verissimo e Jorge Amado. Os revisores de provas, ao ler esses trechos, estranharam o uso não padrão da língua e questionaram se deveriam “corrigir os erros”. — Por que é que tu veio? Eu não te quero... Enjoada! (Erico Verissimo, Clarissa) — Papai! Não vai! Não vai!” (Erico Verissimo, Clarissa) — Quero ver se vou a Buenos Aires nas próximas férias... — Imediatamente, sem transição, no mesmo tom de voz: — Sabes que vou montar uma garçonnière! Estou dando em cima duma pequena e fica sem jeito eu levar ela para um desses rendez-vous vagabundos, tu não achas? (Erico Verissimo, Olhai os lírios do campo) Muitas vezes, olhando os campos do Angico de cima do seu cavalo ou da porta da casa da estância, e pensando em que eram suas aquelas terras que iam muito além do ponto até onde a vista alcançava, Licurgo sentia inflar-se-lhe o peito numa sensação de orgulhoso contentamento. (Erico Verissimo, O tempo e o vento — O Continente 2) Os que tinham má vontade para com a gente do “solar”, inventavam pormenores ridículos: os Barreiros falavam francês durante o almoço e inglês à hora do jantar. (Erico Verissimo, O resto é silêncio) A sensação de bem-estar que Juca experimentava ao ver o herói temporariamente livre de perigo, foi trespassada por uma preocupação. (idem) O Gato ainda esperou, porém, mesmo depois do velho ter saído muito apressado, procurando não ser visto, ela não voltou à janela. (Jorge Amado, Capitães da areia) A chuva entrava pelos buracos do teto, a maior parte dos meninos se amontoavam nos cantos onde ainda havia telhado. (idem)

Manter a opção do autor, mesmo contrariando os normativistas, é uma escolha do editor ou do tradutor (no caso de obras estrangeiras), que não devem automatizar uma “correção” e aplicar as normas gramaticais sem refletir sobre sua adequação no contexto. No entanto, nossa experiência profissional nos leva a afirmar que muitos profissionais em editoras de livros atuam sem considerar essas nuances do texto. A gramática prescritiva se torna seu instrumento único e impera sobre todos os gêneros textuais, padronizando e elitizando o tratamento editorial. Ela é usada “como uma régua para medir todo e qualquer uso oral ou escrito de uma língua” (BAGNO, 2004, p. 17). Desmistificar o preconceito lingüístico entre os profissionais de texto e integrar as

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variedades lingüísticas na edição de textos não é uma proposta fácil. Cremos que uma das aplicações que podem encontrar menos resistência consiste na reprodução da língua falada em diálogos e textos ficcionais. Afinal, os personagens são tão variados quanto devem ser suas falas  como fazer isso na edição do texto? E um diálogo que siga estritamente a norma-padrão soa artificial e pode prejudicar a coerência da obra. Mesmo assim, não é raro deparar com enunciados afetados, que nunca seriam ditos numa situação real. Esses casos denunciam de forma clara um dos problemas lingüísticos no Brasil: o abismo entre a norma-padrão e a língua usada no cotidiano. É por isso que alguns lingüistas afirmam haver uma situação de diglossia no país, e não só nas classes populares. A diglossia fica bastante clara na relação entre língua escrita e língua falada. A norma-padrão sempre esteve muito associada à língua escrita literária clássica, a um conjunto de regras gramaticais fixadas a partir do século XVI. [...] Falamos o português do Brasil, com suas múltiplas variedades, mas não reconhecemos valor à nossa língua materna, consideramos ela inferior à língua dos portugueses. Por isso na hora de escrever tentamos [...] obedecer regras que não têm correspondência em nossa gramática intuitiva, de falantes nativos do português do Brasil. (BAGNO, 2004, p. 164)

Desprover as variedades lingüísticas orais de preconceito e ter consciência da influência da oralidade sobre a escrita nos diferentes contextos é fundamental para um trabalho consistente de edição. Esse é um dos aspectos que o profissional do texto deve conhecer para fazer escolhas conscientes em sua prática. Dessa forma se pode evitar a tendência de mecanizar as regras gramaticais normativas e de tratar todos os textos de forma única, ignorando as especificidades de cada gênero. Mas no Brasil o mercado editorial parece publicar livros apenas para o público letrado rico. Qual é a concepção de língua dentro das editoras? Qual é o leitor que o editor tem em mente quando faz o seu trabalho? Se o papel do editor é atuar como facilitador e mediador entre a intenção original do autor e a mensagem a ser recebida pelo público leitor, ele deve criar condições favoráveis para o esquema comunicativo. Ao fazer isso, o editor tem em mente o mesmo receptor que o autor do texto, com a vantagem de conhecê-lo melhor  ressalva feita por Arthur Plotnik, editor de livros e autor de The elements of editing, obra de referência para os editores de língua inglesa. Conclui-se portanto que é indispensável o editor trabalhar pensando sempre no leitor, assim como é imprescindível conhecer a realidade de seu público. As maiores empresas editoras do Brasil são as que produzem obras didáticas e os livros mais vendidos são os didáticos, comprados e distribuídos principalmente pelo governo

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federal — responsável pelo faturamento de mais de um quinto da produção livreira no país5. Ou seja, o que mais movimenta o mercado editorial brasileiro é o livro que forma milhões de crianças, adolescentes e adultos por todo o país. Não se pode produzir um livro didático exclusivamente para o público urbano, de classe média ou alta, branco, masculino... Onde ficam as diversidades lingüísticas, regionais, de gênero, de classe e de raça? O Brasil, por causa da extensão geográfica e da heterogeneidade social, econômica e educacional, apresenta diversos quadros de desenvolvimento da escrita: há desde grupos que desenvolveram habilidades de uma sociedade oral (nas zonas rurais analfabetas, por exemplo) até grupos com condição de nações altamente letradas. Entretanto, parece que alguns editores só consideram essa última situação ao trabalhar em seus livros. Infelizmente, muitos profissionais acabam reproduzindo um preconceito que domina o discurso dominante – e não apenas no nível lingüístico.

Considerações finais Com base em nossa experiência pessoal de editora de textos há mais de dez anos, afirmamos que os profissionais de texto parecem desconhecer os estudos sociolingüísticos sobre a língua portuguesa brasileira. Alguns ouviram falar de teorias lingüísticas, mas em geral esse conhecimento é bem superficial e muitas vezes reduzido à seguinte proposição: segundo os lingüistas, não existe erro. Infelizmente, essa idéia de que os lingüistas defendem o vale-tudo parece bastante disseminada entre os profissionais do setor editorial. Já ouvimos afirmações como essa várias vezes, sempre de bocas de pessoas que torciam a cara ao declarar: “Para os lingüistas, tudo é certo”. Revisores, preparadores de texto, editores, professores, jornalistas  há muito preconceito contra a língua e os lingüistas no ambiente de trabalho de quem lida dia a dia com a língua escrita. Talvez por isso os comandos paragramaticais sejam tão bem acolhidos nos veículos de comunicação: os próprios profissionais alimentam o preconceito, sem se dar conta de que reproduzem uma visão autoritária e repressiva que só contribui para agravar a exclusão social no Brasil. Lembrando que a gramática normativa decorre do uso da língua, e não o contrário, 5

Segundo dados do Ministério da Educação (MEC) apresentados por OLIVEIRA (2007), em 2006, por exemplo, 21,45% do faturamento editorial brasileiro foi provido pelo governo federal por meio dos programas de compras de livros, como o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) e Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE). Em número de exemplares, a participação do governo federal é maior ainda.

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os editores de texto devem aceitar o preconceito lingüístico que domina na cultura brasileira — e que provavelmente é mais forte ainda entre as empresas de comunicação, que costumam apoiar “quixotescamente” o coro de defesa da língua contra “seus inumeráveis agressores”, conforme palavras da Apresentação do Manual de redação e estilo do Estado de S. Paulo (MARTINS, 1990, p. 7). E como um dos agentes que ajudam a perpetuar o círculo vicioso do preconceito lingüístico, os editores deveriam reconhecer esse fenômeno e ajudar a desconstruí-lo. Para isso, podem recusar em sua prática ações que contribuem para consolidar o preconceito lingüístico. Marcos Bagno propõe que a gramática normativa seja o ponto de chegada da prática pedagógica, e não o ponto de partida. Cremos que o mesmo deve ser aplicado na prática editorial, “privilegiando a gramática internalizada, em seguida, a descritiva e, por último, a normativa”, conforme sugere Sirio Possenti para o ensino escolar do português, em Por que (não) ensinar gramática na escola (citado por BAGNO, 2001, p. 83). O editor deve construir o conhecimento lingüístico e abandonar como únicas fontes autorizadas as gramáticas e os “empreendimentos normativos” (expressão usada por Bagno). Na área editorial, gostaríamos que houvesse a mesma mudança de atitude que Bagno propõe para os professores de língua portuguesa em relação ao seu objeto de trabalho, a norma-padrão. É necessário que se incorporem — sem preconceito — os usos lingüísticos já comprovadamente consagrados na fala e na escrita da maioria dos falantes — tanto os da classe popular como os considerados cultos. Além disso, uma edição sem preconceitos exige que todos os brasileiros sejam considerados cidadãos com direito a acesso independente à informação. Isso implica que o editor não pode publicar textos que levem em conta apenas o código lingüístico de prestígio — sob pena de não cumprir sua função original de dar à luz um texto claro e acessível. É insuficiente, no entanto, aceitar que existe uma língua brasileira com variedades orais e escritas e fazer concessões a algumas variedades nos textos impressos. Para desconstruir o preconceito lingüístico deve-se antes de tudo aceitá-lo: reconhecer a realidade do fenômeno e compreender seus mecanismos. Dessa forma, os editores — que trabalham diariamente com a língua e podem intervir na versão final de um texto (com a anuência do autor) — podem frear a reprodução dos mitos lingüísticos e romper o ciclo de preconceito.

Referências bibliográficas

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